a nasal palatal

Upload: profo-guto

Post on 12-Oct-2015

39 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    DEPARTAMENTO DE LNGUA E LITERATURA

    VERNCULAS

    Pedro Augusto Gamba

    A CONSOANTE NASAL PALATAL NO PORTUGUS

    BRASILEIRO

    Trabalho de Concluso de Curso

    submetido ao Departamento de Lngua

    e Literatura Vernculas da

    Universidade Federal de Santa

    Catarina

    Orientadora: Profa. Dra. Izabel

    Christine Seara

    Florianpolis

    2011

  • Pedro Augusto Gamba

    A CONSOANTE NASAL PALATAL NO PORTUGUS

    BRASILEIRO

    Este Trabalho de Concluso de Curso foi julgado adequado e foi

    aprovado em sua forma final pelo Departamento de Lngua e Literatura

    Vernculas

    Florianpolis, x de julho de 2011.

    ________________________

    Profa. Dra. Izabel Christine Seara

    Coordenador do Curso de Letras-Portugus

    Banca Examinadora:

    ________________________

    Prof. Dr. Izabel Christine Seara,

    Orientadora

    Universidade Federal de Santa Catarina

    _______________________________________________

    Prof. Dr. Cristiane Lazzarotto-Volco

    Universidade Federal de Santa Catarina

    ________________________

    Prof. Dr. Renato Basso

    Universidade Federal de Santa Catarina

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo aos meus pais que me deram fora durante toda a graduao, sempre acreditando na minha vitria. Aos meus informantes, Luiz e Walter, que tantas vezes cederam suas vozes marcantes e horas preciosas para que esse trabalho pudesse comear. Gostaria de agradec-los tambm pela pacincia que tiveram em me ouvir falar repetidamente do meu trabalho. Agradeo Raquel, no s pelas tabelas e figuras formatadas ou ainda pelas suas constantes leituras e crticas a este trabalho, mas pela fora e companheirismo que me dedicou em todo este caminho. Agradeo tambm professora Izabel, que me guia pelos caminhos acadmicos, sempre me orientando e me acompanhando nas minhas buscas. Gostaria de agradecer pela pacincia e boa vontade que sempre teve em me orientar e pela oportunidade que tive de aprender mais sobre Fontica e Fonologia. Sou muito honrado por vocs terem me acompanhado durante essa fase e por estarem na minha vida. Muito obrigado.

  • RESUMO

    Este trabalho tem por foco a consoante nasal palatal

    no portugus brasileiro. Analisamos as caractersticas acsticas que constituem a nasal palatal e suas variantes em fala controlada em laboratrio.

    Fizemos uma breve retomada histrica e do possvel surgimento da nasal palatal no portugus. Em seguida observamos os diferentes comportamentos acsticos das realizaes da consoante palatal buscando seus padres acsticos para diferenciar as vrias realizaes ocorrentes no falar do brasileiro. Baseamo-nos, principalmente, na obra de Cagliari (1974), nos apontamentos de Crstfaro-Silva e em alguns estudos de vis sociolingusticos. Os dados coletados nos dois primeiros informantes serviram de base para estabelecer os padres acsticos de cada uma das variantes e foram comparados ao terceiro informantes, gravado em fala laboratorial. Aps anlise, constatamos que a nasal palatal se encontra em variao livre com suas variantes, concordando com os apontamentos de Crstfaro-Silva (2008) assim como tambm constatamos as afirmaes de Cagliari referentes nasal palatal. Pretendemos com essa pesquisa contribuir para os estudos acsticos e sociolingusticos do portugus brasileiro. Palavras-chave: Consoante nasal palatal. Portugus brasileiro. Estudo acstico.

  • ABSTRACT

    This work is focused on the palatal nasal consonant in Brazilian Portuguese. The acoustic characteristics that constitute the palatal nasal and its variants were analyzed in controlled speech in laboratory. A brief review of historical aspects and of the possible emergence of palatal nasal in Portuguese was made. After that, the different acoustic behaviors of the productions of the palatal consonant were observed, trying to identify its acoustic patterns in order to differentiate the several variations which happen in Brazilian speech. The researchers relied mainly on the work of Cagliari (1974), on the notes of Crstfaro-Silva, and on some studies of sociolinguistic biases. The data which were collected from the first two informants were the basis for establishing the acoustic patterns of each one of the variants. They were then compared to the third informant, whose speech was recorded in laboratory. After analysis, it was found that the palatal nasal is in free variation with its variants, which corroborates the notes of Crstfaro-Silva (2008). The results also confirmed the claims of Cagliari concerning the palatal nasal. This research was intended to contribute to the acoustic and sociolinguistic studies of Brazilian Portuguese. Keywords: Palatal nasal consonant. Brazilian Portuguese. Acoustic study.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Foto da palatografia da consoante nasal palatal realizada com a mistura de p de carvo e azeite de oliva ................................... 42

    Figura 2 Resultado do estudo eletropalatogrfico da nasal palatal..... 43

    Figura 3 Exemplo de etiquetagem em trs camadas: na primeira, etiquetou-se a variante relativa palatal; na segunda, as vogais

    adjacentes e, na terceira, a palavra produzida ....................................... 54

    Figura 4 Distribuio percentual das variantes encontradas nos dados dos trs informantes analisados ................................................... 56

    Figura 5 Ponto de onde o script coleta automaticamente os valores de frequncia das variantes etiquetadas .................................... 59

    Figura 6 Padro formntico apresentado pela variante nasal palatal propriamente dita ....................................................................... 62

    Figura 7 Padro formntico apresentado pela variante semivogal nasalizada ............................................................................. 63

    Figura 8 Forma de onda, espectrograma e camadas de etiquetagens, mostrando o padro formntico da variante [],

    sncope da nasal palatal, na palavra passarinho..................................... 63

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Casos e suas respectivas desinncias em latim

    nas cinco declinaes. ............................. Erro! Indicador no definido.

    Quadro 2 - Fatores lingusticos considerados favorecedores

    e suas variantes correspondentes. .......................................................... 46

    Quadro 3 - Fatores lingusticos considerados favorecedores

    e suas variantes correspondentes. .......................................................... 49

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1- Durao relativa das variantes apresentadas por

    dois dos informantes analisados ............................................................ 58

    Tabela 2- Valores dos parmetros intensidade e frequncias

    formnticas do Informante 1 ................................................................. 60

    Tabela 3- Valores dos parmetros intensidade e frequncias

    formnticas do Informante 2 ................................................................. 61

    Tabela 4- Parmetros relativos aos dados de fala do Informante 3 .. Erro!

    Indicador no definido.

  • SUMRIO

    1 INTRODUO .................................................................. 27

    2 UM POUCO DA HISTRIA DO NH .......................... 29

    3 REVISO DE LITERATURA .......................................... 35

    4 METODOLOGIA .............................................................. 53

    5 PARMETROS ACSTICOS DA

    NASAL PALATAL............................................................ 56

    5.1 Durao ........................................................................................ 57

    5.2 Frequncias dos formantes e intensidade ..................................... 59

    5.3 A influncia do tamanho dos vocbulos ...................................... 64

    5.4 Discusso com os demais textos .................................................. 66

    6 CONCLUSES .................................................................. 67

    REFERNCIAS .............................................................................. 69

    APNDICES ................................................................................... 71

  • 27

    1 INTRODUO

    O portugus, como qualquer lngua, est sujeito a variaes que

    ocorrem lentamente e que parecem, no entanto, imperceptveis aos

    falantes. A lngua um fato social, um contrato no qual dois falantes

    tm de partilhar conhecimentos para que haja inteligibilidade. A

    variao e a mudana podem ser reconhecidas a partir da histria das

    lnguas, pois sendo a ela um sistema vivo e usado em todos os ambientes

    de interao, mudanas vo ocorrer. As mudanas das quais a lngua

    alvo, com o tempo, podem se legitimar ou serem esquecidas; podem

    sofrer estigmatizao ou tornarem-se formas partilhadas apenas por

    certas estratificaes. Isso evidencia a heterogeneidade da lngua dentro

    de si mesma.

    Normalmente, percebemos que falantes de diferentes regies

    apresentam variaes de pronncia entre si, mas temos dificuldade de

    explicitar onde estaria tal variao. Foi justamente buscando identificar

    esse tipo de variao que nos vimos frente ao estudo aqui descrito que

    tem por foco segmentos de fala e suas variantes. Buscamos ento

    pesquisar sobre as consoantes nasais palatais no portugus brasileiro.

    Tais consoantes apresentam variao em suas produes, conforme

    colocam Cristfaro-Silva (2008) e Cagliari (1974), porm essa variao

    no facilmente explicitada acusticamente.

    Articulatoriamente, o [] realizado na regio do palato duro, levando toda a lngua em direo a essa regio, bloqueando, dessa

    forma, o trato oral nesse ponto. Com isso, o ar sai pelo trato nasal, a

    partir do abaixamento do vu do palato. No portugus brasileiro, autores

    (CRISTFARO-SILVA, 2008; CAGLAIRI, 1974) tm observado

    diversas produes desse fonema, tais como: [ ou tambm [1. Vejamos a definio articulatria desses segmentos segundo Cristfaro-Silva (2008):

    [...] os segmentos nasais so produzidos com o

    vu do palato abaixado e a corrente de ar tem

    acesso s cavidades oral e nasal. A obstruo a

    que nos referimos aqui aquela que ocorre na

    regio palatal da cavidade oral. A obstruo na

    cavidade oral causada pela parte mdia da lngua

    1 Sncope da nasal palatal (neste trabalho, tanto [~] quanto referem-se a esse mesmo fenmeno).

  • 28

    tocando o palato duro (que uma articulao

    caracterstica de consoantes palatais). A obstruo

    da passagem da corrente de ar se d uma vez que

    as consoantes nasais so oclusivas. [...] Voc

    dever portanto sentir o contato da lngua tocando

    o cu da boca. (CRISTFARO-SILVA, 2008,

    p.61).

    As diferentes realizaes da nasal palatal no oferecem alterao semntica na palavra, conotando o carter alofnico da nasal frente s

    suas variantes. Assim, se pronunciarmos ou , o sentido ser o mesmo. Pretendemos ento, neste estudo, analisar as

    caractersticas acsticas que constituem a nasal palatal, bem como as de

    suas variantes, em fala controlada em laboratrio.

    Para descrevermos a pesquisa realizada, apresentaremos, no

    captulo a seguir, alguns detalhes, sobre a origem do portugus, suas

    diferenas em relao ao latim e as modificaes sofridas para o

    aparecimento do nh. Em seguida, no Captulo 3, faremos uma reviso de estudos sobre a nasal palatal, evidenciando o vis sociolingustico da

    maioria dos trabalhos aqui referenciados. Mostraremos tambm, no

    Captulo 4, o mtodo para a coleta e anlise dos dados com vias

    caracterizao acstica da nasal palatal e de suas variantes.

    Apresentaremos ainda, no Captulo 5, uma anlise qualitativa

    inspecional dos segmentos aqui tratados com apoio em alguns dos

    parmetros acsticos analisados nesta pesquisa. E, finalmente,

    apresentaremos as concluses.

  • 29

    2 UM POUCO DA HISTRIA DO NH

    O portugus uma lngua de origem latina, proveniente do ramo

    indo-europeu. O caminho do indo-europeu para o portugus foi longo e

    marcado por sculos de mudanas e variaes. Ao longo desses sculos,

    o indo-europeu foi se transformando paulatinamente no que hoje se

    conhece como latim e este, mais tarde, em portugus. Com o passar do

    tempo, o latim tambm sofreu muitas alteraes e, com o decorrer dos

    anos e sua difuso por boa parte do mundo, deu origem a diversas

    lnguas, tais como: italiano, francs, espanhol, portugus e romeno. O

    indo-europeu era uma lngua regida por casos2 num total de oito:

    acusativo, nominativo, vocativo, ablativo genitivo, dativo, instrumental

    e locativo. O latim, mais tarde, perde os casos locativo e instrumental,

    restando seis. Essas mudanas no se do de uma hora para outra e

    tampouco so perceptveis enquanto ocorrem. Dessa forma, as funes

    sintticas eram identificadas pelos casos: o sujeito quase sempre possui

    o caso nominativo, enquanto o objeto direto regido pelo caso acusativo

    por no ter preposies e pela funo sinttica estar agregada

    morfologicamente ao termo por diversos sufixos:

    Quadro 1. Casos e suas respectivas desinncias em latim nas cinco declinaes

    2Caso (1) Uma categoria gramatical usada na anlise das classes de palavras para identificar

    relaes sintticas entre palavras de uma sentena, atravs de contrastes como nominativo,

    acusativo, etc. A classificao tradicional, conforme a gramtica do latim se baseia nas

    variaes das formas morfolgicas de uma palavra (um conjunto de formas constitui um paradigma, como no latim puella, puellam, puellae, puella, as formas da palavra menina no singular respectivamente, casos nominativo/vocativo, acusativo, genitivo/dativo e ablativo). Cada forma analisada em termos de extenso especfica de significao: o nominativo

    basicamente o caso do sujeito gramatical da sentena, o genitivo se refere a posse, origem, etc.

    Nas lnguas que no contm variaes morfolgicas deste tipo, o termo caso no muito apropriado. Em ingls, por exemplo, o nico caso marcado o genitivo (boys ou boys); todas as demais formas no apresentam sufixos, sendo que as noes dos diversos casos so expressas por preposies: with the boy (com o menino), to the boy (para o menino) ou pela

    ordem das palavras, como no contraste cat chases mouse/ mouse chases cat (o gato caa rato/ o rato caa gato). O portugus no apresenta sufixos designativos de caso, nem no genitivo. [...] (CRYSTAL, 1985, p. 42-43).

  • 30

    Assim, mudando o sufixo agregado ao termo, muda-se a funo sinttica

    da palavra. Por essa caracterstica, a posio das palavras indiferente e,

    nesse sentido, a sintaxe livre, diferentemente do que acontece no

    portugus. Na frase: (Pedro ama Rosa), podemos

    analisar da seguinte forma: Petrus o sujeito e possui o caso

    nominativo, enquanto Rosam o objeto direto e possui o caso acusativo. A frase podia se dispor da seguinte maneira sem alterao de sentido

    3 e ainda assim continuaria sendo Pedro ama

    Rosa. No portugus, essa alterao na ordem das palavras alteraria tambm o sentido da sentena. Ou seja, Pedro ama Rosa diferente de

    Rosa ama Pedro.

    O latim, apesar de hoje ser uma lngua morta, tambm se

    modificou interiormente quando lngua viva (falada pelo imprio

    romano). Como acontece com todas as lnguas, o latim no era uma

    lngua invarivel e possua pelo menos duas variedades: o latim clssico

    e o latim vulgar, essas duas datadas por volta do sculo I a.C. No auge

    do latim clssico e da literatura consagrada latina, coexistia muito

    fortemente o latim vulgar, falado por praticamente todos os romanos,

    sendo a variante difundida em todas as conquistas romanas por grande

    parte da Europa, parte da sia e o norte da frica; e o latim clssico que

    era falado apenas pelos eruditos, pela elite, polticos e escritores da

    poca. Com a difuso do latim pelos lugares mais distantes conhecidos

    na poca, houve lentamente uma transformao dessa lngua em dialetos

    incompreensveis entre si, que mais tarde formariam lnguas distintas

    graas ao processo de deriva lingustica e s diversas influncias de

    3 Observe que o sufixo us corresponde ao caso nominativo e am ao caso acusativo.

  • 31

    substratos4 e superestratos

    5. A diferena mais latente entre o latim

    erudito e o latim vulgar foi a reduo de casos. No latim clssico, a

    declinao era feita em seis casos como dito acima. No entanto, no latim

    vulgar, essa declinao acontecia apenas em dois casos, o nominativo e

    o acusativo. Em consequncia dessa considervel reduo de casos,

    surgiu necessidade de uso de preposies, a ordem das palavras

    comea a ter mais importncia na sintaxe, aproximando-se do portugus

    atual.

    E foi assim, como um dialeto do latim, que surgiu o portugus,

    com a invaso da pennsula ibrica pelos romanos. Com essa invaso e

    as posteriores invases brbaras, os substratos ibricos alterados pelo

    superestrato latino e mais tarde pelas lnguas brbaras e o rabe foram

    contribuindo para a formao das lnguas na Pennsula Ibrica como se

    conhece hoje em dia, o espanhol, o portugus, o galego, dentre outras de

    menor difuso. Por fim, as batalhas da Reconquista fizeram com que as

    lnguas na Pennsula Ibrica estivessem prximas, geograficamente,

    com uma distribuio muito semelhante a dos dias atuais. Muitas foram

    as mudanas que aconteceram nesses sculos que ficaram entre o latim e

    o portugus, e certo tambm que, de uma forma ou de outra, cada

    batalha, cada invaso e cada contato influenciou o portugus

    transformando-o no que falamos hoje.

    Muitas so as diferenas entre o latim e o portugus, tanto

    sintticas quanto morfolgicas e fonticas, e muitas delas foram e

    continuam sendo exploradas amplamente, como a perda dos casos -

    tanto do indo-europeu para o latim quanto do latim para o portugus - o

    desaparecimento do gnero neutro, existente no latim e sobrevivente no

    romeno, dentre muitas outras mudanas de l at o que temos hoje.

    certo que houve mudanas considerveis e severas que fizeram com que,

    de um lado, as lnguas paream distantes e, de outro, prximas.

    Nosso foco neste estudo so as diferenas que se estabeleceram

    no nvel fontico e refere-se nasal palatal do portugus brasileiro, ou

    4 Substrato um termo usado na SOCIOLINGUSTICA e na LIGUSTICA HISTRICA para indicar uma VARIEDADE LINGUSTICA ou conjunto de formas que influenciaram a

    ESTRUTURA ou uso de uma variante ou LNGUA dominante em uma comunidade. Um

    substrato fica evidente quando uma lngua imposta a uma comunidade como consequncia de

    superioridade econmica ou poltica; [...] (CRYSTAL, 1985, p. 247) 5 Superestrato um termo usado na SOCIOLINGUISTICA e na LINGUSTICA HISTRICA, com referncia a uma VARIANTE LINGUSTICA ou conjunto de formas que

    influenciou a ESTRUTURA ou uso de uma variante ou LNGUA menos dominante de uma comunidade. Um superestrato geralmente resultado de uma dominao poltica, econmica

    ou cultural [...] (CRYSTAL, 1985, p. 248)

  • 32

    melhor, ao som do grafema nh ([]) que no existia no latim. No entanto, existiam diversas palavras que continham o [ni] que mais tarde

    sofreram palatizao formando o [] no portugus. De acordo com Mattos e Silva (1996),

    As palatizaes romnicas (no s as portuguesas)

    resultam de complexas mudanas fonticas, na

    maioria dos casos, condicionadas pelo contexto

    fnico: presena de vogal ou semivogal palatal

    /i,e/, seguindo consoantes oclusivas. (MATTOS E

    SILVA, 1996, p.79)

    Na passagem do latim, houve a iotizao de vrias palavras,

    como: vnia venya. De acordo com Paul Teyssier (1977),

    Em vrias outras palavras um i ou um e no

    tnicos seguidos de uma vogal eram pronunciados

    yod em latim imperial; ex.: pretium, platea, hodie,

    video, facio, spongia, filium, seniorem, teneo.

    Resultaram da os grupos fonticos [ty], [dy], [ly]

    e [ny] que se palatalizaram em [tsy] e [dsy], [lh] e

    [nh]. (TEYSSIER, 1977, p. 12)

    Assim percebeu-se que as slabas -ny- passaram a ] e eram provenientes das palatizaes dessas slabas. Havia indcios da presena

    dessa nasal palatal originada no portugus arcaico com esse processo de

    palatizao. Alguns termos que acreditamos tenham sofrido esse

    processo foram: uenio > venho; aranea > aranha.

    No portugus arcaico, surgem ainda diversos hiatos por conta das

    quedas dos n-, -l-, -d- e g- intervoclicos, como nas palavras: uino ui~o vinho ou ainda de regina, resultando em rainha. Com uma srie de epnteses da nasal palatal, esses hiatos so resolvidos aproximando-se mais do sistema fontico que temos hoje. Assim,

    podemos dizer que a nasal palatal tenha surgido de diferentes formas no

    portugus, seja pela palatizao do ni- em palavras como uenio, seja, mais tarde, como uma epntese para resolver os hiatos surgidos no

    portugus arcaico. Teyssier (1977) argumenta, nesse sentido, que:

    finalmente, quando l ou n eram seguidos de um

    yod, originrio de i e e em hiato, estas consoantes

    passaram a [lh] e [nh] palatais ou molhados; ex.: filium > port. filho, seniorem > port. senhor, teneo

    > port. tenho. (TEYSSIER, 1977, p. 12)

  • 33

    Acreditamos que mudanas tenham se dado durante o latim

    vulgar e que processos semelhantes ao surgimento da nasal palatal

    tenham ocorrido em outras lnguas de origem latina, uma vez que, no

    latim, no h registros de sua representao. Vrias lnguas de origem

    latina, como: italiano, espanhol, portugus, apresentam tal fonema em

    seu quadro fontico.

    Aps essas observaes, perguntamos: existe ainda no quadro

    fontico do portugus brasileiro a nasal palatal []? E quais seriam as suas variantes de pronncia? Estudos acsticos tm observado mudanas

    nas consoantes nasais palatais que despalatizadas tornam-se , ou mesmo hiatos. Assim, temos aqui algumas das perguntas que

    pretendemos responder neste estudo.

  • 34

  • 35

    3 REVISO DE LITERATURA

    Muitas so as variedades fonticas do portugus. Cada uma delas

    apresenta sua pronncia, seu sotaque, apesar disso h entendimento, e a

    interlocuo possvel entre os falantes de diferentes regies. Os

    desentendimentos se do normalmente devido a expresses regionais ou

    grias, mas ainda assim ocorre o dilogo. Essas diferenas podem ser de

    vrias ordens, fonticas, lexicais ou mesmo sintticas. As variaes

    fonticas que ocorrem nas diferentes regies do pas, muitas vezes, so

    bastante marcantes e por essa razo geralmente identificam uma

    determinada regio. O objeto de nosso estudo tambm apresenta

    variao muitas vezes relacionadas regio. Nosso interesse ser ento

    de verificar as variantes referentes consoante nasal palatal produzidas

    por dois informantes brasileiros. No portugus brasileiro, a nasal palatal

    apresenta as variantes: , , (conforme CMARA JR., 1953 e CRISTFARO-SILVA, 2008). Uma variao semelhante a que ocorre com

    a nasal palatal, j tratada pela literatura da rea, mas que sofre maior

    preconceito a da iotizao da palatal lateral . Vemos essa produo, por exemplo, em: trabalho trabalio, trabalho trabaio. Vejamos o que diz Cmara Jr. (1953) sobre tais consoantes e suas variantes:

    (...) so igualmente relaxadas a ausncia de /r/ em

    posio ps-voclica final e a neutralizao do

    contraste /l/ - /lh/ e /n/ - /nh/ diante de /i/ com a

    realizao, apenas do primeiro membro

    (/folinha/, /compania/), ou diante de /y/ a anulao da distino /lh/ / /ly/, e /nh/ - /ny/ como

    nos casos de venha e vnia (/venha/ - /venya/) ou de olhos e leos (/lhus/ - /lyus/). (CMARA JR., 1953, p. 45)

    Voltando nasal palatal, Pinheiros (2009) observa que, em certas

    regies do pas, como em Belo Horizonte, so frequentes as ocorrncias

    de reduo em diminutivos, como no caso de para

    . Outra ocorrncia interessante com relao s nasais

    palatais a sncope no falar paraibano, sendo realizada independentemente do grau de escolaridade do sujeito e da situao de

    fala que possam se encontrar (formal ou informal). (SANTOS, 1997, p. 17)

  • 36

    Esses casos trazem tona a discusso sobre a teoria da moleza das palatais que estabelece que as articulaes palatais so

    historicamente mais fracas.

    comum usar-se a respeito das palatais os termos

    moles ou molhados em contraposio a duras. Desde Rousselot, costuma-se usar essa terminologia, referindo-se, sobretudo, aos

    aspectos auditivos que as consoantes palatais

    provocam. Mais especificamente, Rousselot

    empregava molhado referindo-se percepo das palatais; moles, atribuindo um carter de fraqueza ao mecanismo de produo de

    palatalizao. Duras significava, ento, o contrrio de palatal. Com relao ao nvel

    diacrnico, a caracterstica fundamental das

    palatais era a instabilidade, como consequncia do carter fraco articulatrio. (CAGLIARI, 1974, p, 61)

    Cmara Jr. (2007), adepto da teoria da moleza das articulaes,

    argumenta que, em posio no intervoclica, h uma neutralizao

    entre o [n] e o [], afirmando que h proveito sempre para a consoante de articulao mais forte.

    As consoantes intervoclicas, em portugus,

    apresentam uma articulao enfraquecida pelo

    ambiente voclico em cujo meio se acham. So

    por isso alofones posicionais das no

    intervoclicas correspondentes, de articulao

    muito mais firme. (...) Podemos dizer que, em

    posio no intervoclica, h uma neutralizao

    das oposies de /r/ forte e /r/ brando, entre a

    lquida dental /l/ e a lquida palatal ou molhada,

    /l,/, e entre a nasal dental /n/ e a nasal palatal ou

    molhada, /n,/, em proveito do primeiro membro de

    cada par. (CMARA JR, 2007, p.48).

    Contudo, mais adiante, Cmara Jr. (2007) descreve os fonemas

    palatais de acordo com sua articulao, dividindo o trato oral em

    diversas cmaras. Com base na disposio dessas cmaras, classifica as

    consoantes palatais como posteriores.

    Por outro lado, considerando o ponto extremo

    da cmara de ressonncia como indo desde o

  • 37

    palato mdio at a parte mais funda da boca,

    classificaremos como posteriores a nasal e a

    lateral palatal, /n,/, /l,/, respectivamente.

    (CMARA JR, 2007, p. 50).

    Outros pesquisadores, tambm adeptos da teoria da moleza das

    palatais, afirmam:

    A palatizao outra articulao secundria bem

    conhecida. Consiste numa articulao anterior,

    alta, de tipo voclico que comumente ocorre

    muito levemente depois da consoante e que se

    caracteriza pela durao mais curta do que aquela

    associada a uma vogal normal (LADEFOGED

    (1972) apud CAGLIARI, 1974, p. 42).

    Delattre (1965 apud CAGLIARI, 1974) tambm afirma que:

    Palatizao a tendncia a combinar uma

    consoante com o iode que segue imediatamente,

    antes de mant-lo separado. O resultado da

    palatalizao uma consoante simples cujo modo

    de articulao o da primeira consoante e cujo

    lugar de articulao o do iode, ou prximo dele.

    (DELATTRE, 1965 apud CAGLIARI, 1974, p.

    42).

    Palatizao definida por Crystal (1985) como:

    Um termo geral que se refere a qualquer

    articulao que envolva um movimento da lngua

    em direo ao palato duro. Pode ser usado para

    descrever a articulao alterada ilustrada pelo k,

    acima, mas seu uso mais comum se refere s

    articulaes secundrias. Neste caso, o primeiro

    ponto de articulao se d em algum outro lugar

    da boca; por exemplo, um som de [t] normalmente

    produzido como alveolar, mas pode ser

    palatalizado se, durante sua articulao, a parte anterior da lngua se levantar em direo ao palato

    duro. (CRYSTAL, 1985, p. 192)

    J, Crstfaro-Silva (2008) define palatizao como:

    levantamento da lngua em direo parte

    posterior do palato duro, ou seja, a lngua

    direciona-se para uma posio anterior (mais pra

    frente na cavidade bucal) do que normalmente

  • 38

    ocorre, quando se articula um determinado

    segmento consonantal. A consoante que apresenta

    a propriedade secundria de palatalizao

    apresenta um efeito auditivo de sequncia de

    consoante seguida de vogal i. (CRISTFARO-

    SILVA, 2008, p.35)

    Ainda com relao nasal palatal, Cristfaro-Silva (2008)

    estabelece o glide nasal [] 6, tambm palatal, como variante da nasal palatal, incluindo-o na apresentao da tabela fontica dos sons do PB.

    Acerca dessa variao, a autora afirma que.

    A consoante nasal palatal [] ocorre na fala de poucos falantes do portugus brasileiro.

    Geralmente um glide palatal nasalizado que

    transcrito como [] ocorre no lugar da consoante nasal palatal para a maioria dos falantes do

    portugus brasileiro. (CRISTFARO-SILVA,

    2008, p. 39)

    Nesse sentido, a moleza das palatais faria com que as articulaes

    fossem enfraquecidas, podendo ser realizadas como articulaes

    duplas ou palatizadas, [+], como afirma Cmara Jr. (1953) ou ainda, como afirma Cristfaro-Silva (2008), como um glide, ou tambm como

    coloca Santos (1997), com uma sncope.

    Cagliari (1974) argumenta contrariamente teoria de moleza das

    palatais. De acordo com seus estudos, equivocado classificar as

    palatais como articulaes moles ou ainda instveis ou mesmo fracas. Para ele, as palatais so diferentes das consoantes palatizadas:

    Delattre (1965) e Ladefoged (1972) no

    distinguem, nas suas classificaes, uma

    articulao dupla, por exemplo, [n+j] ou [l+j] das

    articulaes simples [] ou [], cujas diferenas aparecem claramente nos palatogramas. A

    consoante palatal no uma consoante mais iode.

    (Cagliari, 1974, p.46 grifos meus).

    Cagliari (1974) defende ento uma teoria oposta da moleza,

    afirmando que, para a realizao das palatais, h a necessidade de maior

    esforo articulatrio e grande reforo na articulao. Tal reforo

    6 Alguns autores usam semivogal como [] e outros, como Cristfaro-Silva (2008) e Cagliari (1974), usam [].

  • 39

    importante, pois, mesmo quando h a queda, ainda existe a necessidade

    de reforo uma vez que, em portugus, tais consoantes s se realizam

    em posies intervoclicas, j que, nas raras ocorrncias, graficamente o

    nh7 inicia vocbulos, foneticamente h a epntese de uma vogal. Para tal

    constatao, afirma que, em diversas lnguas ao redor do mundo, as

    palatais so estveis como no tcheco, esloveno, polons e mesmo no

    portugus.

    Quem aceita essa teoria da moleza explica de

    certo modo o desaparecimento das palatais, mas a

    origem e a preservao delas em muitas lnguas,

    no podem ser explicadas em termos de moleza articulatria. Os fatos indicam justamente a direo inversa. (CAGLIARI, 1974, p. 63-64)

    Cagliari (1974) refora tambm que:

    Se o ambiente favorece o enfraquecimento das

    palatais, deveramos, h muito tempo no ter mais

    as consoantes palatais, se de fato fossem

    articulaes fracas e instveis. Ora, a sua

    preservao nesse ambiente, deve-se ao fato de

    elas serem articulaes fortes e firmes, e

    normalmente percebidas como tais pelos falantes.

    Esse esforo a causa principal da preservao

    das palatais em portugus, ocorrendo

    exclusivamente em posio fontica tida como

    fraca, isto , intervoclica, onde estariam facilmente sujeitas a desaparecer, desde o

    nascimento, ou a se transformarem, como ocorreu

    no princpio com as demais consoantes nessa

    posio. (CAGLIARI, 1974, p. 64)

    Afirma ainda que:

    Com relao energia articulatria das palatais,

    comparada a das no palatais, observa-se que, ao

    se articular uma palatal, por exemplo, sente-se a ponta da lngua forando para baixo o

    maxilar inferior: quanto mais energicamente se

    articula o som, maior o esforo se percebe no

    sentido de se abaixar o maxilar inferior. Isso

    comprova a relao direta que existe entre o

    7 Assim, nhoque normalmente pronunciado como [].

  • 40

    ngulo dos maxilares e a energia articulatria.

    (CAGLIARI, 1974, p.73)

    As consoantes palatais so articulaes simples, tendo grande

    contato linguopalatal, maior elevao da lngua, pice da lngua

    abaixada alm de grande esforo muscular. De acordo com Cagliari

    (1974), a palatal diferente das no palatais mais iode como argumenta

    Cmara Jr. (2007). Para Cagliari (1974), a palatal uma consoante

    simples, diferente das palatizadas, que so complexas uma vez que

    envolvem mais de um articulador ativo ou passivo. As consoantes palatais so constitudas de duas articulaes sucessivas e a zona de

    contato no palato mais extensa do que na palatizada.

    As consoantes palatais localizam-se na regio

    palatal (prepalatal ou central), apresentam os

    maiores contatos linguo-palatais, exigem maior

    esforo articulatrio. [...] O comportamento da

    lngua decisivo: sempre temos a ponta da lngua

    abaixada atrs dos incisivos inferiores.

    (CAGLIARI, 1974, p.160)

    Outra discrepncia entre as palatais e palatizadas apontada no

    estudo de Cagliari (1974) diz respeito ocluso das consoantes em

    questo. Enquanto as palatais possuem total ocluso como j dito, as

    palatizadas no apresentam ocluso completa no palato. Observamos um

    corredor no qual a lngua no encosta no palato.

    [...] o enfraquecimento articulatrio se produz ao

    longo da linha mdia da lngua, originando um

    canal de constrio, em vez de ocluso. As bordas

    da lngua, agora, continuam com a sua presso

    forte para os lados, comprimindo-se contra os

    dentes pr-molares e molares, na posio tpica do

    iode. Observando-se alguns palatogramas das

    consoantes palatais, nota-se, s vezes, uma maior

    tendncia ao iode, pela diminuio da ocluso da

    linha mdia. No ponto em que essa diminuio

    acabar com a ocluso sobre a linha mdia,

    gerando, portanto, um canal constritivo, estamos

    diante de um iode. (CAGLIARI, 1974, p. 115)

    Com relao s palatizadas, percebemos que, na sua articulao,

    conservamos o pice da lngua elevado, enquanto as palatais foram o

    maxilar para baixo com a ponta da lngua.

  • 41

    Quanto s nasais palatal e palatizada -, Cagliari (1974) afirma que a palatal mais se assemelha consoante nasal velar do que alveolar seguida de iode por ter maior contato da lngua na regio mais posterior do palato, beirando o vu palatino. As consoantes palatizadas so realizadas na rea alvolo-palatal ou alveolar.

    Em portugus, o se aproxima mais do do que do : por isso ser classificado como central e no como pr-palatal (CAGLIARI, 1974, p.77).

    Em um estudo palatogrfico, Reis e Antunes (2002) constatam a

    hiptese de Cagliari (1974), mostrando uma semelhana entre as

    oclusivas velares e a nasal palatal. Nesse estudo, a lngua foi pintada

    com uma mistura de p de carvo e azeite de oliva. Depois de pintada a

    lngua, o locutor pronuncia a palavra solicitada. Os dentes eram

    numerados de acordo com uma diviso no centro, conforme imagem

    apresentada na Figura 1. Para marcar os contatos laterais e medir os

    contatos longitudinais, os dentes foram numerados de 11 a 17 e de 21 a

    27. importante frisar que, da mesma forma que um estudo

    eletropalatogrfico, cada fone foi produzido entre vogais, sendo esse

    contexto voclico anterior e posterior a vogal baixa central . No caso da nasal palatal, acreditamos que tal vogal no exera influncia na

    palatizao ou no do fone. De acordo com Reis e Antunes (2002),

    O CLL (Contato longitudinal lateral) inicia-se em

    [...] 14/24 para . Para esse ltimo, o CLL prolonga-se no arco que precede o contato

    completo, de lado a lado, como nas oclusivas

    velares. A diferena que esse contato lateral do

    prolongamento mais extenso e mais largo na

    nasal palatal. (REIS E ANTUNES, 2002, p.236).

  • 42

    Figura 1. Foto da palatografia da consoante nasal palatal realizada com a

    mistura de p de carvo e azeite de oliva.

    Fonte: Extrado de Reis e Antunes (2002, p. 236)

    Posteriormente, Reis e Espenser (2006) realizaram um estudo

    eletropalatogrfico8, corroborando mais uma vez os estudos de Cagliari

    (1974). O estudo eletropalatogrfico consistiu em fazer um palato

    artificial com 62 eletrodos que apontam com clareza o ponto exato em

    que a lngua encosta para produzir determinado fone. Havia oito colunas

    que atravessavam o palato artificial horizontalmente. O aparato

    dividido em linhas da seguinte maneira: as duas primeiras se referem

    linha alveolar LA (1,2); as duas seguintes correspondem linha ps alveolar LPA (1,2); a linha palatal so as duas seguintes LP (1,2); as duas ltimas linhas so as velares LV (1,2). Podemos dizer que os resultados do estudo palatogrfico de Reis e Espesser (2006) para a

    nasal palatal mostra o contato de C1 a C8 na ltima linha de LV, como

    mostra a parte vermelha da Figura 2. No havia contato em LA, parte

    em branco, mas somente contato em LPA1 nos eixos longitudinais, ou

    seja, nas laterais do aparato, indo ao encontro da afirmao de Cagliari

    (1974).

    8 Cujo subttulo Questes de fontica e fonologia: Uma homenagem a Luiz Carlos Cagliari.

  • 43

    Figura 2. Resultado do estudo eletropalatogrfico da nasal palatal

    Fonte: Extrado de Reis e Espenser (2006, p.194).

    Outros estudos relacionados nasal palatal foram realizados no

    mbito da sociolingustica, considerando os estratos sociais como

    condicionantes para a realizao ou no desse segmento de fala.

    Soares (2008) trabalha com as variantes das laterais e nasais

    palatais no falar paraense. E da mesma forma como pretendemos fazer

    em nosso estudo, trata de trs variantes da nasal palatal, so elas: a nasal

    palatal propriamente dita [], a variante palatizada [n], e a variante semivocalizada [j]

    9. O trabalho consiste em analisar alguns fatores

    lingusticos tonicidade, classe morfolgica, extenso do vocbulo, altura do segmento antecedente e subsequente, anterioridade da vogal antecedente e subsequente, e estrutura da palavra. As variveis sociais consideradas foram as seguintes: sexo, faixa etria, anos de escolaridade

    e origem geogrfica.

    Soares (2008) afirma que, em contexto tnico, a variante

    favorecida a [n]. A nasal palatal foi favorecida pelos contextos tonos, contudo esse contexto tambm se mostrou levemente favorvel

    9 Apresentamos notaes diferentes para algumas das variantes estudadas, so elas: a nasal

    palatal [], a variante palatizada [nj], variante semivocalizada []. Alm disso, trabalhamos com a hiptese de sncope [ ], apresentada por Santos (1997).

  • 44

    variante [n]. A variante [j] foi favorecida pelo contexto ps-tnico. Esse contexto se d em finais de palavras e pelo sufixo derivacional (inha/o)

    Com relao altura das vogais, o resultado foi surpreendente,

    pois se esperaria que as vogais altas favorecessem o uso da variante

    semivocalizada [j] e no foi o que os resultados apresentaram. Esse

    contexto antecedente, aparentemente, favoreceu a realizao das

    variantes palatal e palatizadas e as vogais no altas favoreceram a

    variante semivocalizada.

    Esperava-se um processo assimilatrio em que a altura das

    vogais tivesse, em termos probabilsticos, maior condicionamento para

    as ocorrncias [n] e [j], tendo em vista a acomodao/facilitao articulatria, promovendo com isso a perda parcial ou total do trao

    palatal.

    Agora, em se tratando de altura da vogal subsequente, a variedade

    semivocalizada foi favorecida pelas vogais altas, graas semelhana de

    ponto de articulao; entretanto a variedade palatizada [n] no foi favorecida pelas vogais altas. As vogais no altas favorecem, alm da

    variante semivocalizada, tambm a nasal palatal. Quanto ao fator altura

    da vogal subsequente, Soares (2008) afirma que o: que se conclui, portanto, que esse fator, no geral, no fixa condicionamentos claros

    para a variao. A significncia desse grupo no foi comprovada. (SOARES, 2008, p. 117).

    A nasal palatal foi condicionada tambm pelas vogais anteriores.

    Tal constatao levou ao questionamento de que esse contexto fosse de

    fato relevante para a realizao de uma ou de outra variante. Aps

    alguns testes, esse fator no se mostrou relevante para a pesquisa.

    Assim pelos ndices, a nica hiptese que se

    confirma quanto variante semivocalizada que,

    como supnhamos, favorecida depois de vogais

    anteriores. [...] O que se nota aqui a atuao

    ambgua desse parmetro: variante palatal e

    semivocalizada so ambas favorecidas em

    contexto de vogais anteriores. Talvez isso aponte

    para a no relevncia desse fator para o

    condicionamento das variantes. (SOARES, 2008,

    p.119).

    Os resultados para os contextos do fator quanto anterioridade da

    vogal subsequente se mostrou diferente do contexto anterior. As vogais

  • 45

    anteriores favorecem a produo das variantes palatais e palatizadas,

    enquanto o contexto de vogal posterior favorece a produo da variante

    semivocalizada [j].

    Como j dissemos para o grupo antes analisado,

    espervamos resultados mais aproximados para as

    variantes em relao ao aspecto fontico do

    contexto da vogal anterior devido terem em

    comum o trao de anterioridade, especialmente

    em se tratando das variantes palatizadas e

    semivocalizada, para as quais era de se contar com

    pesos favorecedores. No o que se constata

    pelos ndices numricos. (SOARES, 2008, p.

    120).

    Como j aconteceu antes, esse contexto tambm no se mostrou

    muito eficaz para a anlise das variantes.

    A varivel sexo mostrou que as mulheres preferem a variante

    padro [] enquanto os homens produzem mais a variante semivocalizada. A variante palatizada [nj] se mostrou neutra tanto para

    homens quanto para mulheres. A tendncia das mulheres produzirem

    mais as variantes padro. Soares (2008) argumenta nesse sentido a maior presso atribuda s mulheres, exigindo um comportamento mais

    polido, o que se reflete inclusive na linguagem. Labov (2001) j afirmou

    essa tendncia. Quanto s variantes lingusticas estveis, as mulheres apresentam uma taxa mais baixa de variantes estigmatizadas e uma taxa

    mais elevada de variantes de prestgio do que os homens (LABOV, 2001 apud SOARES, 2008, p. 123).

    A varivel faixa etria apresenta dados de rivalidade na fala dos mais jovens. Os jovens tm uma grande preferncia por [j], mas tambm

    produzem amplamente o [].

    Vemos que a faixa etria dos mais jovens

    implementa o uso tanto da variante palatal [] (.356) quanto da semivocalizada [j] (.348). Isto

    indica que as duas variantes rivalizam-se podendo

    gozar do mesmo prestgio no falar em estudo.

    (SOARES, 2008, p.125).

    Os demais resultados quanto varivel faixa etria mostram que

    os mais velhos preferem o uso mais conservador [] s outras variantes, mas admitem a inovao em favor da variante palatizada

  • 46

    [nj]; a faixa etria intermediria entre os jovens e os velhos usa tanto a

    variante palatizada quanto a semivocalizada (levemente favorecida).

    Para a varivel escolaridade, Soares (2008) mostra que aqueles

    com maior nvel de escolaridade preferem as variantes com trao

    palatal, ou seja, [nj] e [] ao passo que os com menor escolaridade preferem o uso de [j].

    Por fim, quanto varivel origem geogrfica, os dados mostram

    que h uma forte tendncia a se manter o trao palatal na capital (Belm

    do Par) e em cidades com histrico de colonizao semelhante.

    Contudo, em cidades que no apresentam essa condio, o uso palatal

    no favorecido. Os resultados dos fatores lingusticos de Soares (2008)

    podem ser resumidos no Quadro 2 abaixo.

    Quadro 2. Fatores lingusticos considerados favorecedores e suas variantes

    correspondentes

    Tonicidade Vogal antecedente Vogal seguinte

    Contexto tnico: [] Vogal alta anterior: [], []

    Esse contexto

    no se mostrou

    relevante para a

    anlise

    Contexto tono: [], [] Vogais no altas: []

    Contexto ps-tnico: []

    Fonte: Dados extrados de Soares (2008)

    Em outro estudo sociolingustico, realizado por Pinheiro (2009), a

    autora afirma que a distribuio da nasal palatal e suas variedades no

    falar belo-horizontino mais frequente o uso da variante [~] 10

    seguida

    por [] e por fim []. A pesquisa feita por ela levou em considerao, como fatores lingusticos: contexto seguinte, contexto precedente,

    tonicidade, slaba na qual ocorre o fonema analisado, nmero de slabas

    do vocbulo, morfema e o item lexical.

    No contexto precedente, levaram em considerao todas as sete

    vogais orais e mais as cinco vogais nasais. A autora chegou concluso

    de que as vogais frontais favorecem a realizao de , enquanto as vogas centrais favorecem a realizao do [y]. Alm disso, a nasal palatal

    [] favorecida pelas consoantes posteriores. Acrescenta que o [] 10 Em nossa pesquisa, tanto o uso de [~] quanto o de referem-se ao mesmo fenmeno, ou

    seja, sncope da nasal palatal e nasalizao da vogal anterior.

  • 47

    condicionado pelas vogais que apresentam o trao [+ arredondado]. O

    trao [- arredondado] favorece a realizao da variante . J, com relao altura das vogais, afirma que vogais altas favorecem a

    ocorrncia de ao passo que vogais mdias altas e baixas favorecem a realizao de [y].

    [...] as vogais altas favorecem a variante [~],

    apresentando poucos casos relacionados s vogais

    mdias-altas e baixa, sendo, por exemplo,

    representados por itens como engenheiro

    ([]) e banheiro ([]), respectivamente. J as vogais mdias-altas e baixa

    favorecem a realizao da variante [y].

    (PINHEIRO, 2009, p.101)

    Os contextos seguintes considerados foram todas as vogais orais e

    nasais, alm de suas relativas tonas [] / [] e os ditongos correspondentes. Assim como na anlise anterior, foi levado em conta a

    posio da lngua anterior/central/posterior altura alta/mdias/baixas e o arredondamento dos lbios [+/- arredondado]. As vogais anteriores favoreceram de maneira muito semelhante as

    variantes e a [] perto de 40%. A vogal central favoreceu a realizao de . As vogais posteriores favoreceram as variantes [] e tambm [i].

    [...] nota-se que as vogais frontais apresentam

    percentuais de favorecimento prximos em

    relao s variantes [] e [~]. J a vogal central aparece como favorecedora da variante [~].

    Analisando o comportamento de [y] e [i], observa-

    se que as duas variantes so favorecidas pelas

    vogais posteriores, sendo que [i] apresenta

    comportamento categrico em relao a esse

    trao. (PINHEIRO, 2009, p.104).

    Com relao ao arredondamento dos lbios, as vogais que

    possuem o trao [- arredondado] so favorecedoras das variantes , enquanto a variedade [y] favorecida pelo trao [+ arredondado].

    No trao [+/- alto], os resultados de Pinheiro (2009) mostraram

    que as vogais altas favoreciam a variante [i], seguida da variante [y]. As

    variantes [] e apresentaram resultados muito semelhantes para as mdias altas. A variante condicionada por mdias baixas como contexto

  • 48

    seguinte foi a nasal palatal []. A baixa condicionou a realizao da variante .

    Pinheiro (2009) tambm analisou a nasal palatal e suas variantes

    com relao tonicidade. Os resultados mostraram que a posio em

    que mais aparece a realizao da [] a pretnica, enquanto a posio ps-tnica favorece a realizao da . Na posio tnica, houve um percentual muito prximo de [y], e [].

    Os estratos sociais analisados foram: faixa etria, gnero e classe

    social. A verificao dos estratos sociais feita para analisar quais so

    os contextos sociais em que a mudana est acontecendo.

    Os informantes foram divididos em: jovens, medianos e velhos.

    Os resultados mostraram que faixa etria dos jovens favorece a variante

    , realizando-a em 53,2% dos dados. J os informantes velhos favorecem a variantes [~i].

    A variante [] est presente nos dados dos medianos e velhos. Alm de todas essas observaes, Pinheiro (2009) coloca que:

    [...] percebe-se que a atuao do contexto

    precedente favorecedor da variante [~] forte em

    todas as faixas etrias, o que leva a concluir que,

    mesmo apresentando maior favorecimento pelos

    jovens, o processo de variao de [] para [~] est fortemente relacionado ao contexto fontico

    precedente. Mesmo que os resultados referentes a

    essas variantes exibam favorecimento dos jovens,

    percebe-se que as demais faixas etrias analisadas

    apresentaram pesos prximos neutralidade, o

    que leva a dizer que, por serem variantes que

    sofrem influncia do contexto fontico

    precedente, h uma tendncia de as mesmas

    estarem atingindo, cada vez mais, as demais faixas

    etrias. (PINHEIRO, 2009, p.124)

    Por fim, Pinheiro (2009) conclui que os jovens esto priorizando

    as variantes e [y], enquanto os velhos tendem a manter o padro. Contudo, afirma que a tendncia de produzir se d mais pelo fato dessa variante ser fortemente condicionada pelo contexto anterior as vogais anteriores. Ainda assim a varivel contexto anterior um

    condicionador mais forte do que faixa etria.

  • 49

    Em se tratando de gnero, Pinheiro (2009) afirma que as

    mulheres preservam mais o padro [], enquanto os homens produzem mais a variante . Contudo, o peso do contexto anterior maior do que o peso do gnero. J a variante [y] no se mostrou relevante em se

    tratando de gnero.

    Os resultados expressos sobre a utilizao das

    variantes [~] e [y] pelos diferentes gneros

    indicam que, mesmo que haja um pequeno

    favorecimento dessas variantes pelos informantes

    do sexo masculino, no h como concluir que o

    sexo do informante seja decisivo na utilizao de

    uma ou outra variante (PINHEIRO, 2009, p.130).

    Na anlise do contexto social, os grupos foram divididos em dois,

    o primeiro que apresenta renda maior acima de trs salrios mnimos, e que possui emprego que exija maior qualificao; e o segundo grupo

    com menor renda abaixo de trs salrios mnimos com emprego que exige pouca qualificao.

    [...] aps a anlise dos dados, constatou-se que o

    fator grupo social no exerce influncia sobre a

    utilizao das variantes [~] e [y], uma vez que as

    mesmas apresentaram pesos relativos prximos

    neutralidade. Somente a variante [i] apresentou

    diferenas significativas entre os dois grupos,

    sendo favorecida pelo grupo social mais baixo, o

    que foi confirmado pela anlise da terminao -

    inho (morfema ou no). Porm, como se esperava

    que esse resultado se mantivesse neutro, destacou-

    se a possvel influncia dos traos [+morfema] e

    [+ familiaridade], que ocorreram em maior

    proporo no grupo social mais baixo.

    .([PINHEIRO, 2009, p.133].).

    No Quadro 3, abaixo, compilamos os resultados dos fatores

    lingusticos relevantes encontrados nos estudos de Pinheiro (2009).

  • 50

    Quadro 3. Fatores lingusticos considerados favorecedores e suas variantes

    correspondentes

    Tonicidade Vogal antecedente Altura das vogais

    Contexto tnico: [], [], []

    Vogais frontais: [] Vogais altas: []

    Contexto pretnico: [] Vogais centrais: []

    Vogais mdias altas e

    baixas- e baixas: []

    Contexto ps-tnico: [] Vogais posteriores: [] Fonte: Dados extrados de Pinheiro (2009)

    Arago (2009) analisa se as variaes que se percebe no nordeste

    nos dias atuais se do mais pelo fator regional - diatpica ou se se do mais pelo fator social diastrtica e, dessa forma, se a variao seria mais de ordem social do que de ordem regional. Teyssier (1977) afirma:

    [...] na realidade as divises dialetais so no Brasil menos geogrficas do que socioculturais.

    As diferenas nos modos de falar so maiores,

    num determinado lugar, entre um homem

    cultivado e seus vizinhos analfabetos que entre

    dois brasileiros do mesmo nvel cultural

    originrios de duas regies distantes uma da outra.

    A dialetologia deve ser menos horizontal que

    vertical. (TEYSSIER, 1977 apud ARAGO,

    2009, p.164)

    Foram utilizados, no estudo de Arago (2009), inquritos

    experimentais com Questionrios fontico-fonolgico e semntico lexical usados no Atlas lingusticos do Brasil, nas cidades de Joo

    Pessoa e Fortaleza, com quatro informantes dos dois sexos. Os informantes foram divididos em duas faixas etrias: 18 a 30 anos; 45 a

    60 anos. A escolaridade dos informantes era de, no mximo, 8 srie,

    nascidos nos locais citados acima.

    Arago (2009) conta ainda que, por facilidade e relaxamento da

    articulao, o [] pode perder o trao palatal passando a ser articulado como [n], pode apresentar-se como iode /y/, ou ainda sofrer

    apagamento/sncope, desaparecendo. De acordo com a autora, a

    palatizao pode ter surgido como influncia africana, ou como uma

    mudana fontica do latim para o portugus. H quem considere um

  • 51

    fenmeno fonolgico, gerando um novo fonema e no apenas uma

    articulao diferente para os fonemas palatais.

    Os resultados apresentados por Arago (2009) mostram que, nas

    regies estudadas, h uma predominncia, quase absoluta, do

    apagamento da nasal palatal, se tornando [] antecedido da vogal alta [i], em slaba nasal, restando apenas a nasalizao.

    11 So os casos em

    que isso ocorre: minha [], caminho [], dentre outros casos.

    H permanncia da nasal palatal em slabas mdias e finais como,

    por exemplo: conheo []; escolinha []. A variante [] sofre iotizao em slabas mdias e finais, como por exemplo:

    banho [], maconha [].12 Por fim, a pesquisadora chega s seguintes concluses acerca da despalatizao, iotizao e

    apagamento da nasal palatal:

    a. Apagamento do // em slaba posterior vogal fechada /i/ e de final de palavra;

    b. No caso do apagamento do //, permanece a nasalizao final; c. Uma permanncia considervel [...] do // seguido de quaisquer tipos

    de vogal;

    d. Iotizao [...] do // em slabas medial e final de palavra. (ARAGO, 2009, p. 178)

    Ainda, segundo a Arago (2009), no h um condicionamento

    fontico para casos de despalatizao simples, despalatizao seguida de

    iotizao, apagamento ou mesmo permanncia do //, uma vez que esses fatores acontecem em diferentes posies, qualquer que seja o ambiente

    posterior.

    11 Anotamos essa ocorrncia como []. 12 Exemplos extrados do prprio trabalho de ARAGO (2009).

  • 52

  • 53

    4 METODOLOGIA

    Este estudo ser desenvolvido em duas etapas. Na primeira,

    analisamos dados em que foramos o aparecimento de palavras cujas

    produes se assemelhavam s das variantes que esperamos encontrar

    para as nasais palatais, ou seja, [nj], [~j], [] ou ainda a prpria palatal. O objetivo era comparar esses dados aos coletados e analisados na

    segunda etapa desta pesquisa. Nela, observamos acusticamente

    produes dos segmentos em foco, a fim de verificar que variantes

    foram produzidas.

    Na primeira etapa, dois universitrios do sexo masculino com

    idades entre 23 e 25 anos leram frases-veculo do tipo: Digo ___ pra ele,

    contendo nasais palatais, tnicas (manh), e tonas (manha), alveolares

    seguidas de vogais altas (mania), somente a alveolar (mana), vogais nasais anteriores (mainha) e, por fim, nasal alveolar seguida de vogais

    altas tonas (romnia). Cada frase-veculo foi repetida trs vezes com

    uma velocidade normal de fala. As nasais palatais aparecem nas palavras

    inseridas nas frases-veculo em posio tona e tnica.

    Fizemos primeiramente uma anlise visual e, em seguida, uma

    anlise dos valores dos formantes dos segmentos.

    O roteiro de gravao foi o seguinte:

    Digo manh pra ele. ( - tnico) Digo manha pra ele. ( - tono) Digo mania pra ele. ( - tnico) Digo mana pra ele. ( - tono) Digo mainha pra ele. ( - tono) Digo romnia pra ele. ([nj] tono)

    Aps a gravao, etiquetamos os dados, marcando, em uma

    primeira camada, o segmento alvo, as vogais adjacentes e, por fim, a

    palavra inteira, conforme exemplo mostrado na Figura 3.

  • 54

    Figura 3. Exemplo de etiquetagem em trs camadas: na primeira, etiquetou-se a

    variante relativa palatal; na segunda, as vogais adjacentes e, na terceira, a

    palavra produzida.

    A partir das etiquetagens, efetuamos uma coleta automtica com

    um script (roteiro em linguagem de programao referente ao PRAAT13

    )

    para obteno dos valores dos formantes dos segmentos etiquetados. O

    script coleta automaticamente os valores das trs primeiras ressonncias (F1, F2, F3) em pontos equidistantes na rea selecionada na primeira

    camada. O primeiro ponto referente ao onset da consoante e possivelmente bastante influenciado pela coarticulao das vogais

    adjacentes, geralmente as vogais baixas centrais [] - para minimizar os efeitos da vogal sobre o segmento em questo. O segundo ponto

    extrado do centro do segmento e sem influncia das adjacncias. E, por

    ltimo, o terceiro ponto no offset do segmento, ponto talvez influenciado

    pelas ressonncias voclicas14

    . Obtivemos tambm automaticamente a

    durao e a intensidade do segmento.

    A durao foi relativizada. Para isso, foram coletadas a durao

    da variante e a da palavra em que essa variante estava presente. Depois

    se dividiu o valor da durao da variante pela durao da palavra,

    obtendo-se um percentual em relao durao total da palavra. Dessa

    maneira, os valores percentuais das duraes das diferentes variantes

    puderam ser comparados.

    Na segunda etapa, foram consideradas 36 elocues, etiquetadas

    e analisadas de um locutor profissional, coletados em ambiente bastante

    13 Programa obtido livremente no endereo: www.praat.org. Foi desenvolvido por Paul

    Boersma e David Weenink da Universidade de Amsterdam na Holanda. Todas as etiquetagens e anlises de dados foram realizadas com o auxlio desse software. 14 Os dados referentes ao primeiro e segundo pontos encontram-se nos anexos.

  • 55

    controlado (como a distncia do microfone e ambiente isolado

    acusticamente). Esses dados foram utilizados principalmente nas

    anlises qualitativas do sinal de fala. Para todas as etiquetagens, o

    primeiro parmetro usado para determinar a variante produzida foi o

    perceptual. Os segmentos foram marcados de acordo com uma anlise

    de outiva. Depois de definirmos pela escuta cada uma das variantes,

    passamos etiquetagem do sinal para a coleta dos parmetros fsicos,

    como valores dos formantes, intensidade e durao relativa.

    Com esses ltimos dados, pudemos avaliar dados de palavras

    com tamanhos variados, comparando-os com os dados mostrados nos

    textos aqui discutidos na reviso de literatura.

  • 56

  • 57

    5 PARMETROS ACSTICOS DA NASAL PALATAL

    Iniciemos nossa anlise apresentando o total de dados de cada

    variante encontrado nos trs informantes analisados. Lembramos que

    nossa etiquetagem partiu de nossa anlise de outiva da variante

    produzida. Os dados acsticos comprovaro ou no as etiquetagens

    realizadas. Assim, dos 54 dados encontrados, foram etiquetados como

    nasal palatal 36 ocorrncias, correspondendo a 67% do total de dados

    analisados. Os segmentos etiquetados como a variante semivocalizada

    somam 7 e constituem 13% dos dados analisados. A variante relativa

    sncope ocorreu em 11 dados, correspondendo a 20% dos dados totais.

    Os dados referentes aos informantes 1 e 2 apresentavam, tanto

    com relao ao contexto anterior quanto ao seguinte, vogais baixas. No

    entanto, nos dados do Informante 3, obtivemos como contexto anterior

    tanto vogais baixas como em campanha, quanto vogais altas como em

    passarinho. Nos contextos precedidos pela vogal alta anterior [i], a

    sncope foi categrica. Em 100% dos dados em que a vogal alta era o

    contexto anterior, no se constatou a produo da nasal palatal. O

    grfico, apresentado na Figura 4, ilustra a distribuio das variantes

    encontradas nos dados. Nos demais dados, contextualizados entre vogais

    baixas centrais [], notamos a realizao das variantes [] e [].

    Figura 4. Distribuio percentual das variantes encontradas nos dados dos trs

    informantes analisados.

    Agora apresentaremos os dados relativos aos parmetros

    acsticos analisados, iniciando pela durao.

  • 58

    5.1 Durao

    Cagliari (1974) coloca que a nasal palatal tem maior durao do

    que as demais consoantes palatizadas ou no:

    A consoante palatal no uma consoante mais

    iode. A afirmao de que a palatal (constituda de

    consoante + iode) tem a distenso muito rpida

    falsa, pois o que ocorre justamente o contrrio.

    As palatais so consoantes mais longas, mesmo na

    distenso, como decorrncia natural da reteno

    mais longa que tm. Os falantes do portugus

    percebem muito bem o maior esforo e a maior

    durao que as consoantes palatais exigem.

    (CAGLIARI, 1974, p.46)`

    Na Tabela 1, podemos ver os resultados obtidos em relao

    durao relativa com respeito aos dados de fala dos dois informantes

    aqui estudados, que fizeram parte da primeira etapa da pesquisa

    (conforme apresentado no Captulo 4). Se observarmos a Tabela 1,

    veremos que, se no considerarmos as produes de [i] (em itlico), as

    consoantes nasais palatais, na maior parte dos dados (em negrito),

    mostram-se mais longas do que as demais variantes.

  • 59

    Tabela 1. Durao relativa das variantes apresentadas por dois dos informantes

    analisados.

    Varivel Informante 1 Informante 2

    [] 23,52% 18,18%

    [] 36,42% 25,16%

    [] 37,52% 28,66%

    [] 23,00% 21,72%

    [] 25,46% 19,38%

    [] 25,75% 15,19%

    [n] 20,77% 20,47%

    [n] 22,00% 21,37%

    [n] 18,00% 23,85%

    [i] 26,00% 19,59%

    [i] 31,32% 21,51%

    [i] 19,52% 23,68%

    [n] 19,50% 17,75%

    [n] 20,43% 16,58%

    [n] 14,96% 19,44%

    [i ] 35,36% 47,06%

    [i ] 42,31% 44,36%

    [i ] 41,16% 49,29%

    [nj] 15,50% 15,75%

    [nj] 13,60% 16,35%

    [nj] 17,70% 22,48%

    Se compararmos os dados das nasais palatais com os das

    palatizadas (ltimas trs variantes da Tabela 1), veremos que as nasais

    palatais possuem uma durao relativa bastante superior s palatizadas.

    Manh

    Manha

    Mania

    Mana

    Mainha

    Romnia

  • 60

    Os dados relativos variante [i] tambm mostram-se longos talvez pelo

    fato de, nesse caso, na palavra mainha ter-se uma vogal tnica e no uma semivogal. Esse dado necessita de mais comprovaes e uma

    anlise mais fundamentada.

    Agora passemos aos dados relativos s ressonncias formnticas.

    5.2 Frequncias dos formantes e intensidade

    Para analisar as ressonncias referentes s variantes produzidas

    por dois dos informantes, avaliaremos os resultados referentes

    primeiramente ao segundo ponto coletado automaticamente (mostrado

    nas setas da Figura 5), uma vez que esse segundo ponto encontra-se no

    centro da variante produzida.

    Figura 5. Ponto de onde o script coleta automaticamente os valores de

    frequncia das variantes etiquetadas.

    Se observarmos os valores apresentados pelos Informantes 1 e 2

    (Tabelas 2 e 3, respectivamente), veremos que todas as frequncias

    referentes variante nasal palatal tm os valores mais altos de F1 (com

    mdia de 481 Hz e de 285 Hz, respectivamente) e de F2 (com mdia de

    2039 Hz e 2273 Hz, respectivamente). Esses valores trazem, para essa

    variante, um desenho (padro acstico) bastante caracterstico, conforme

    podemos ver na Figura 6.

  • 61

    Tabela 2. Valores dos parmetros intensidade e frequncias formnticas do

    Informante 1.

    N_SEG Variante Intensidade

    (dB)

    F1(Hz) F2(Hz) F3(Hz)

    1 [] 73 404 2022 2882 2 [] 71 447 2144 2963 3 [] 74 404 1967 2877 4 [] 73 436 2006 2932 5 [] 73 446 2071 2925 6 [] 72 451 2025 2916 7 [n] 71 284 1435 2580

    8 [i] 73 346 2457 3177

    9 [n] 68 274 2030 2607

    10 [i] 71 340 1809 2995

    11 [n] 69 293 1250 2538

    12 [i] 71 338 2208 3167

    13 [n] 71 533 2247 3397

    14 [n] 70 327 2281 2745

    15 [n] 70 310 1560 2612

    16 [i] 70 321 1832 2999

    17 [i] 69 328 1717 2804

    18 [i] 70 320 1494 2431

    19 [nj] 77 325 1369 2473

    20 [nj] 78 288 1507 2621

    21 [nj] 78 305 1674 2460

  • 62

    Tabela 3. Valores dos parmetros intensidade e frequncias formnticas do

    Informante 2.

    N_SEG Variante Intensidade

    (dB)

    F1(Hz) F2(Hz) F3(Hz)

    1 [] 74 287 2540 3048 2 [] 75 294 2453 3073 3 [] 74 255 2344 3157 4 [] 74 322 2423 2868 5 [] 73 279 2054 2599 6 [] 73 271 1824 2423 7 [n] 74 242 1589 2636

    8 [i] 72 256 2447 2956

    9 [n] 74 239 1490 2603

    10 [i] 72 252 2398 2813

    11 [n] 74 247 1435 2617

    12 [i] 71 245 2316 2841

    13 [n] 74 231 1485 2628

    14 [n] 72 240 1586 2629

    15 [n] 71 206 1497 2719

    16 [i] 73 269 1967 2508

    17 [i] 74 245 2250 2554

    18 [i] 73 270 1186 2516

    19 [nj] 66 229 1605 2608

    20 [nj] 65 242 1700 3184

    21 [nj] 65 252 1716 2900

  • 63

    Figura 6. Padro formntico apresentado pela variante nasal palatal

    propriamente dita.

    Podemos dizer ento, corroborados pelos dados fsicos

    encontrados, que o padro acstico apresentado pela Figura 6

    corresponde ao da nasal palatal propriamente dita. Esse padro

    semelhante ao padro encontrado para vogais altas (conforme vai se

    comprovar pela Figura 7, a seguir), mas apresenta uma menor

    intensidade (regio clara marcada na Figura 6), que corresponde muito

    provavelmente ao bloqueio oral realizado na produo da nasal palatal.

    Essa abboda formada no espectrograma uma caracterstica muito

    marcante dos formantes da nasal palatal.

    J outro padro percebido o relativo variante voclica

    nasalizada []. Nesse caso, vemos um comportamento diferente do anterior, apesar de estarem no mesmo ambiente, ou seja, entre vogais

    baixas centrais. Percebemos que o F2 no se mistura com o F3 como na

    imagem anterior. Diferentemente da nasal palatal, o F2 no forma uma

    abboda, mas, sim uma subida mais moderada. A mdia de valores de

    F1 para esse segmento de 332 Hz, 256 Hz e 277 Hz (respectivamente

    aos trs informantes), mais baixo do que a da nasal palatal. A mdia do

    F2 de 1932 Hz, 2094 Hz e 1892 Hz, em geral mais alto do que da

    nasal palatal. A diferena mais marcante, no entanto, parece ser relativa

  • 64

    maior intensidade, uma vez que, para a produo voclica, no h

    bloqueio da passagem do ar. Vejamos o padro mostrado na Figura 7.

    Figura 7. Padro formntico apresentado pela variante semivogal nasalizada.

    Encontramos uma terceira variante que ocorre em contextos em

    que a vogal precedente uma alta anterior e o contexto seguinte uma

    vogal baixa central. Nesse caso, recorrentemente tem-se a sncope da

    nasal, mantendo-se a vogal precedente ao segmento nasal palatal. Na

    Figura 8, v-se um exemplo de uma produo na palavra passarinho,

    transcrita como: [].

    Figura 8. Forma de onda, espectrograma e camadas de etiquetagens, mostrando

    o padro formntico da variante [], sncope da nasal palatal, na palavra passarinho.

    Podemos perceber, na Figura 8, que os formantes so mais

    irregulares nessa variante. H uma subida de F2 e permanece nessa

    altura at a vogal baixa central. A mdia dos formantes de F1 de

    306 Hz, enquanto para o F2 de 1383 Hz. Podemos perceber, entre F1 e

    F2, a presena de um formante nasal, em torno de 1000 Hz. Esse

    formante j foi encontrado em estudos como os de Seara (2000),

    indicando a nasalizao da vogal.

  • 65

    Com esses dados, podemos perceber os diferentes

    comportamentos das variantes analisadas. Classificamos, assim, as

    nasais palatais e suas variantes como alofones posicionais15

    , discordando das afirmaes de Cristfaro-Silva (2008). Essa autora afirma que: geralmente um glide palatal nasalizado que transcrito

    como [] ocorre no lugar da consoante nasal palatal para a maioria dos falantes do portugus brasileiro. (2008, p. 39). A autora mais tarde ainda afirma que a nasal palatal est em distribuio livre com as

    variantes: [], []. Contudo, para que ocorra sncope necessrio que haja como contexto precedente uma vogal alta anterior. Dessa forma,

    para os dados aqui analisados, essa variante depende do contexto

    anterior para que ocorra. As demais variantes encontradas podem variar

    nos demais ambientes. A partir dessas colocaes, nossos dados

    parecem tender possibilidade dessa variao ser condicionada pelo

    contexto, concluso contrria a de Cristfaro-Silva (2008). No entanto, o

    nmero de dados analisados neste estudo no suficiente para uma

    afirmao mais contundente.

    5.3 A influncia do tamanho dos vocbulos

    Considerando os apontamentos de Soares (2008), sobre a

    influncia do tamanho do vocbulo na realizao ou no da nasal

    palatal, fizemos uma rodada de testes com os dados coletados do

    Informante 3. Para realizar essa anlise, separamos as palavras

    analisadas em dois grupos:

    GRUPO 1: palavras com duas ou menos slabas

    GRUPO 2: palavras com mais de duas slabas.

    Como podemos reparar na Tabela 4, o tamanho do vocbulo

    no parece afetar a realizao ou no da nasal palatal, uma vez que tanto

    o iode quanto a nasal palatal apareceram em ambos os contextos. Dessa

    15 Alo: [...] Em princpio, muitos alofones so possvel para qualquer fonema, dada a vasta

    gama de pronncias idiossincrticas existentes em uma comunidade de fala. (Crystal, 1985,

    p.22) Variante: [...] Termo da LINGUSTICA com referncia a uma FORMA lingustica que faz

    parte de um conjunto de alternativas de um determinado CONTEXTO. O conceito

    fundamental noo de ALO. (alofone, alomorfe, etc), como ilustram as formas variantes do

    MORFEMA DE PLURAL em portugus (/-s/, /-z/, /-/, //). A escolha das variantes pode estar sujeita a restries de contexto variantes condicionadas ou no depender de quaisquer CONDIES variantes livres. (Crystal 1985, p. 264-265).

  • 66

    forma, nossos dados no permitem confirmar as colocaes de Soares

    (2008) de que a sncope e a nasal semivocalizada so favorecidas em

    contexto de vocbulos disslabos, pois temos a presena da nasal palatal

    e da variante palatizada nos dois grupos de palavras.

    Tabela 4. Parmetros relativos aos dados de fala do Informante 3

    Pal. Grupo 2 Dur. Grupo 1 Seg. Dur.

    1 [] campanha 15% 1 [] ganha 19%

    2 [] alemanha 14% 2 [] tinha 12%

    3 [] espanha 19% 3 [] unha 56%

    4 [] estranha 10% 4 [] minha 8%

    5 [] estranha 16% 5 [] ganham 24%

    6 [] rainha 14% 6 [] ganha 21%

    7 [] espanha 17% 7 [] ganha 22%

    8 [] acompanha 12%

    9 [] acompanha 13%

    10 [] espanha 21%

    11 [] alemanha 18%

    12 [] passarinho 13%

    13 [] arranha 20%

    14 [] caminhada 12%

    15 [] alemanha 16%

    16 [] espanha 17%

    17 [] castanha 12%

    18 [] alemanha 14%

    19 [] bretanha 23%

    20 [] montanhas 19%

    21 [] espanha 19%

    22 [] alemanha 23%

    23 [] castanho 15%

    24 [] estranha 18%

    25 [] castanho 17%

    26 [] alemanha 16%

    27 [] destranha 12%

  • 67

    28 [] bretanha 16%

    29 [] campanhas 14%

    5.4 Discusso com os demais textos

    Corroborando as afirmaes de Cagliari (1974), os dados nos

    mostram que a nasal palatal ocorre na fala, ainda que controlada, e

    constitui uma relao de variao livre com suas demais variantes como

    constatado por Cristfaro-Silva (2008), exceo da sncope que, em

    nossos dados, depende de o contexto precedente ser uma vogal alta

    anterior. Nos demais dados analisados, a tendncia de a nasal palatal

    ocorrer como nasal palatizada no se concretizou, uma vez que no

    encontramos contextos especficos para essa variante. Constatamos que,

    diferente do que afirma Soares (2008), o tamanho do vocbulo no

    influenciou a ocorrncia da nasal palatal. Soares (2008) constata

    tambm que as vogais altas favoreceram a realizao da nasal palatal.

    Nossos dados nos mostram uma evidncia contrria. Como pode ser

    observado, nas poucas ocorrncias em que a variante precedida de uma

    vogal alta, a variante que se mostrou categrica foi a sncope, que

    representamos como [ ], conforme Figura 8. Quando ambientada entre vogais no altas, nossos dados mostraram uma livre alternncia entre as variantes, com uma clara tendncia nasal palatal.

    Com relao ao contexto seguinte, nossos dados mostram que,

    para a vogal baixa, h tambm a evidncia de variao livre entre a nasal

    palatal [] e []. Pinheiro (2009) apresenta consideraes diferentes de Soares (2008), afirmando que as vogais frontais/anteriores favorecem a

    sncope, confirmando a nossa anlise, enquanto que precedido da vogal

    baixa central e as mdias altas favorecem a realizao da variante [y] 16

    .

    Soares (2008) ainda constata que a nasal palatal favorecida

    quando em slaba pretnica, ao passo que a ps-tnica favorece a

    realizao da sncope. Nas slabas tnicas, h a variao entre as

    variantes. Nossos dados mostram que, mesmo nas slabas pretnicas, h

    variao e podem ocorrer as variantes [] e []. A sncope aconteceu tanto em slabas tnicas quanto pretnicas, sempre em contexto

    precedido de vogal alta.

    16 Por diferenas de notao, consideram-se as variantes [y] e [j] como correspondentes.

  • 68

  • 69

    6 CONCLUSES

    Os resultados apresentados nesta pesquisa ainda no podem ter a

    pretenso de afirmar ou mesmo postular padres formnticos da nasal

    palatal ou de suas variantes, haja vista a necessidade de comprovao

    estatstica dos dados apresentados. Para isso, ser necessria uma

    quantidade maior de dados. No entanto, os achados foram

    consistentemente embasados nas anlises inspecionais dos padres

    acsticos e em alguns dados quantitativos criteriosamente levantados.

    Retomando a pergunta feita anteriormente: Existe ainda no

    quadro fontico do portugus brasileiro a nasal palatal []?

    Com base nos dados aqui apresentados, podemos perceber que de

    fato a variao entre os segmentos existe e h evidncias de que h a

    realizao de variantes no lugar da nasal palatal propriamente dita, ou

    seja, a nasal palatal [] est se realizando tambm como [] ou mesmo como [] nos mesmos contextos. Com isso, podemos perceber o processo de despalatizao da nasal palatal em favorecimento das

    palatizadas e da sncope. claro que para que seja possvel a

    comprovao dessas afirmaes seriam necessrios mais dados e mais

    informantes para que pudssemos analisar a variedade de diversos

    falantes e em diferentes contextos.

    Podemos afirmar, por enquanto, que as variedades e os padres

    acsticos aqui apresentados existem e coexistem na fala dos trs

    informantes pesquisados e acreditamos, por consequncia, que eles

    ocorram na fala de grande parte da populao brasileira. Observamos

    uma situao de variao que no futuro pode ou no se legitimar na fala

    do brasileiro.

    Um estudo que levasse em conta dados acsticos associados a

    dados sociolingusticos conseguiria clarear um pouco mais os indcios

    acsticos das produes aqui apresentadas em suas manifestaes

    referentes aos fatores sociais.

    Futuras anlises estatsticas com uma maior quantidade de dados

    devem ser realizadas para corroborar as diferenas de durao e

    frequncias aqui salientadas.

  • 70

  • 71

    REFERNCIAS

    ARAGO, M. do S. S. de. Estudos fontico-fonolgicos nos estados da

    Paraba e do Cear. In: Revista da ABRALIN. Vol. 8. n. 1. Curitiba: PR-

    UFPR, 2009.

    CAGLIARI, L. C. A palatizao em portugus: uma investigao

    palatogrfica. 1974. 177 f. Dissertao (Mestrado em Lingustica) Instituto de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade Estadual de

    Campinas, Campinas, 1974.

    CAMARA JNIOR, J. M. Estrutura da lngua portuguesa. 40. ed.

    Petrpolis: Vozes, 2007. 124 p.

    CAMARA JNIOR, J. M. Para o estudo da fonmica portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Padro, [1953] 1977.

    CRISTFARO-SILVA, T. Fontica e fonologia do portugus: roteiro de estudos e guia de exerccios. 9. ed. So Paulo: Contexto, 2008. 275 p.

    CRYSTAL, D. Dicionrio de lingustica e fontica. Rio de Janeiro:

    Zahar, 1985. 275p.

    DELATTRE, P. Comparing the phonetic features of English, French,

    German and Spanish. In: CAGLIARI, Luiz Carlos. A palatizao em

    portugus: uma investigao palatogrfica. 1974. 177 f. Dissertao (Mestrado em Lingustica) Instituto de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1974. p. 42.

    LADEFOGED, P. Preliminaries to linguistic phonetics. In: CAGLIARI,

    Luiz Carlos. A palatizao em portugus: uma investigao palatogrfica. 1974. 177 f. Dissertao (Mestrado em Lingustica) Instituto de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade Estadual de

    Campinas, Campinas, 1974. p. 42.

    MATTOS E SILVA, R.V. O portugus arcaico: fonologia. So Paulo:

    Contexto, 1996.

  • 72

    Pinheiro, N. L. de A. O processo de variao das palatais lateral e

    nasal no portugus de Belo Horizonte. 2009. 142 f. Dissertao

    (Mestrado em Lingustica) Programa de Ps-Graduao em Estudos Lingusticos, Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas

    Gerais, Belo Horizonte, 2009.

    REIS, C.; ANTUNES, L. B. Estudo palatogrfico de sons consonantais

    do portugus. In: REIS, C (org.). Estudos em fontica e fonologia do

    portugus. Belo Horizonte: FALE-UFMG, 2002.

    REIS, C.; ESPESSER, R. Estudo eletropalatogrfico de fones

    consonantais e voclicos do Portugus Brasileiro. Estudos da

    Lngua(gem), Vitria da Conquista, n. 3, p. 181-204, Junho. 2006.

    SANTOS, C. C. dos. Anlise identificao da sncope do // no falar

    paraibano. In: HORA, Demerval da (org.). I simpsio nacional de estudos lingusticos. Joo Pessoa: Ideia, 1997.

    SEARA, I.C. Estudo Acstico Perceptual da Nasalidade das Vogais do

    Portugus Brasileiro, 2000. 271 f. Tese (Doutorado em Lingustica) Ps-graduao em Lingustica, Universidade Federal de Santa Catarina,

    Florianpolis, 2000.

    TEYSSIER. P. Histria da lngua portuguesa. Traduo de Celso Cunha. So Paulo: Martins Fontes, 1977.

  • 73

    APNDICES

    Tabelas de valores do informante 1 no primeiro momento.

    N_SEG NOME DUR(s) INT

    (dB) F11(Hz) F21(Hz) F31(Hz) % Rel

    1 [] 0,090 73 439 2028 3020 23,52%

    2 [] 0,139 71 559 1969 3022 36,42%

    3 [] 0,123 73 487 1885 2380 37,52%

    4 [] 0,077 73 515 1755 2339 23,00%

    5 [] 0,091 74 512 1663 2346 25,46%

    6 [] 0,068 72 508 1889 2211 25,75%

    7 [n] 0,107 71 271 1611 2543 20,77%

    8 [i] 0,135 72 338 1331 2755 26,00%

    9 [n] 0,101 68 607 2032 3405 22,00%

    10 [i] 0,144 69 321 1858 2710 31,32%

    11 [n] 0,082 69 433 1604 2662 18,00%

    12 [i] 0,088 69 342 1451 2665 19,52%

    13 [n] 0,063 71 532 1594 2724 19,50%

    14 [n] 0,063 70 430 1485 2687 20,43%

    15 [n] 0,045 70 320 1467 2867 14,96%

    16 [i] 0,173 70 374 2285 2883 35,36%

    17 [i] 0,190 69 439 2567 3684 42,31%

    18 [i] 0,198 70 400 1929 2794 41,16%

    19 [nj] 0,080 77 398 1742 2645 15,50%

    20 [nj] 0,070 75 401 1575 2466 13,60%

    21 [nj] 0,078 76 402 1709 2487 17,70%

  • 74

    Tabela do informante 1, terceiro momento.

    N_SEG NOME INT (dB) F13(Hz) F23(Hz) F33(Hz)

    1 [] 73 451 1979 2922 2 [] 72 581 1826 2464 3 [] 74 510 1894 2876 4 [] 72 459 1943 3031 5 [] 72 465 1978 3059 6 [] 72 448 1993 3180 7 [n] 72 338 1331 2755

    8 [i] 74 384 2097 2811

    9 [n] 69 321 1858 2710

    10 [i] 72 474 2198 2943

    11 [n] 69 342 1451 2665

    12 [i] 73 357 2053 2933

    13 [n] 70 450 1297 2827

    14 [n] 71 475 1473 2926

    15 [n] 71 406 1487 2923

    16 [i] 73 407 2330 2911

    17 [i] 71 454 2327 2802

    18 [i] 72 399 2704 2932

    19 [nj] 77 438 1547 2589

    20 [nj] 77 390 1235 2175

    21 [nj] 77 538 1853 2455

  • 75

    Tabela de valores do informante 2, primeiro momento.

    N_SEG NOME DUR(s) INT

    (dB)

    F11(Hz) F21(Hz) F31(Hz) % Rel

    1 [] 0,065 74 331 2526 2811 18,18% 2 [] 0,086 74 345 2103 2522 25,16% 3 [] 0,113 74 299 1901 2527 28,66% 4 [] 0,083 75 408 2345 2697 21,72% 5 [] 0,066 73 408 1712 2789 19,38% 6 [] 0,062 73 315 2031 2454 15,19% 7 [n] 0,090 74 305 1738 2526 20,47%

    8 [i] 0,086 72 339 2505 3006 19,59%

    9 [n] 0,094 75 274 1823 2543 21,37%

    10 [i] 0,094 74 235 2059 2949 21,51%

    11 [n] 0,100 73 341 1815 2647 23,85%

    12 [i] 0,099 72 255 2622 2956 23,68%

    13 [n] 0,057 73 276 1424 2574 17,75%

    14 [n] 0,059 71 213 1436 2612 16,58%

    15 [n] 0,056 70 280 1507 2626 19,44%

    16 [i] 0,188 74 329 1834 2479 47,06%

    17 [i] 0,164 75 273 2478 2736 44,36%

    18 [i] 0,214 72 282 1964 2502 49,29%

    19 [nj] 0,092 66 253 1664 2636 15,75%

    20 [nj] 0,093 66 325 1909 2390 16,35%

    21 [nj] 0,128 65 356 1874 2632 22,48%

  • 76

    Tabela de valores do informante 2, terceiro momento.

    N_SEG NOME INT (dB) F13(Hz) F23(Hz) F33(Hz)

    1 [] 74 303 2452 2795 2 [] 75 304 2317 2726 3 [] 73 344 2229 2695 4 [] 74 391 2234 2789 5 [] 73 312 2510 2587 6 [] 73 315 2428 2915 7 [n] 72 339 2505 3006

    8 [i] 75 318 2209 2685

    9 [n] 74 235 2059 2949

    10 [i] 72 329 2113 2557

    11 [n] 72 255 2622 2956

    12 [i] 70 341 2099 2611

    13 [n] 74 381 1387 2581

    14 [n] 71 359 1439 2625

    15 [n] 70 420 1413 2623

    16 [i] 73 342 2465 2892

    17 [i] 73 342 2132 2682

    18 [i] 71 384 2428 2780

    19 [nj] 65 358 2057 2770

    20 [nj] 64 285 1819 2543

    21 [nj] 63 280 1823 2870

  • 77

    Tabela do informante 3 no primeiro momento.

    N_SEG NOME DUR(s) INT (dB) F1(Hz) F2(Hz) F3(Hz)

    1 [] 6,178 72 373 1996 2232

    2 [] 8,705 75 339 1991 2208

    3 [(j)] 10,206 66 270 1566 2214

    4 [] 8,512 67 294 1948 2278

    5 [] 9,883 74 354 1829 2344

    6 [(i)] 6,355 70 265 1552 2450

    7 [(j)] 9,455 73 317 1813 2359

    8 [] 9,262 71 343 1532 2179

    9 [] 6,425 72 391 1612 2102

    10 [] 6,740 72 327 1619 2133

    11 [] 12,120 68 306 1982 2231

    12 [(i)] 4,268 74 278 1544 2522

    13 [] 10,725 71 312 1764 2263

    14 [(j)] 16,523 72 268 1952 2480

    15 [(i)] 7,770 74 267 9611 2535

    16 [] 5,822 71 299 1640 2172

    17 [(i)] 7,440 74 283 7245 2567

    18 [(i)] 3,568 71 324 2382 2427

    19 [] 9,496 71 305 2046 2214

    20 [] 7,901 73 330 1893 2224

    21 [] 7,149 74 304 2272 2383

    22 [] 8,588 73 274 1880 2339

    23 [] 11,336 71 335 1719 2302

    24 [] 12,059 72 345 1936 2285

    25 [(j)] 11,146 64 317 2041 2251

    26 [] 12,010 69 304 1762 2192

  • 78

    27 [(j)] 8,158 70 316 2036 2137

    28 [] 7,760 71 434 1753 2312

    29 [] 11,023 74 290 1982 2240

    30 [] 8,816 75 460 1880 2739

    31 [] 10,524 71 377 1767 2183

    32 [(j)] 5,900 74 436 1948 2200

    33 [(j)] 5,640 73 427 2120 2388

    34 [] 9,884 68 311 2270 2352

    35 [] 9,340 71 273 1974 2269

    36 [] 8,527 70 307 1891 2264

  • 79

    Tabela do informante 3 no terceiro momento.

    N_SEG NOME INT (dB) F1(Hz) F2(Hz) F3(Hz)

    1 [] 71 390 1771 2252

    2 [] 75 331 2001 2262

    3 [(j)] 57 502 1666 2177

    4 [] 52 366 1879 2289

    5 [] 70 279 1577 2440

    6 [(i)] 72 265 2431 2856

    7 [(j)] 72 357 1965 2325

    8 [] 71 430 1960 2425

    9 [] 71 505 1761 2284

    10 [] 71 437 1734 2356

    11 [] 53 475 1869 2234

    12 [(i)] 74 416 1789 2693

    13 [] 73 309 1908 2313

    14 [(j)] 53 274 2107 2786

    15 [(i)] 72 341 1271 2169

    16 [] 70 395 1692 2277

    17 [(i)] 76 340 2283 2483

    18 [(i)] 73 401 1978 2532

    19 [] 71 375 1780 2209

    20 [] 69 440 1902 2354

    21 [] 70 348 2028 2336

    22 [] 72 402 1838 2245

    23 [] 63 266 1743 2493

    24 [] 72 406 1613 2345

    25 [(j)] 48 345 1893 2321

    26 [] 69 379 1703 20559

  • 80

    27 [(j)] 68 328 1959 2258

    28 [] 71 482 1559 2370

    29 [] 63 397 1857 2339

    30 [] 74 411 1738 2743

    31 [] 72 360 1950 2335

    32 [(j)] 74 459 1775 2362

    33 [(j)] 73 439 1945 2444

    34 [] 56 328 2194 2768

    35 [] 61 362 2054 2653

    36 [] 71 346 1726 2355