a música em ribeirão preto - coleção identidades culturais

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    AmsicaemRibeiroPretoManifestaes do comeo do sculo XX

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    Fundao Instituto do Livro de Ribeiro Preto - 2011

    .

    AmsicaemRibeiroPretoManifestaes do comeo do sculo XX

    Thaty Mariana Fernandes

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    Prefeita MunicipalDrcy VeraSecretria da Cultura

    Adriana SilvaPresidente da Fundao Instituto do LivroEdwaldo ArantesDiretora de Patrimnio CulturalLilian Rodrigues de Oliveira RosaConselho EditorialAdriana Silvarica Amndola

    Lilian Rodrigues de Oliveira RosaMichelle Cartolano de Castro SilvaTnia Cristina RegistroRevisorica Amndola

    I195b - A msica em Ribeiro Preto - manifestaes do comeo dosculo XX. Thathy Mariana Fernandes (pesquisa e texto) RibeiroPreto: Fundao Instituto do Livro, 2011.

    94 pg.; (Coleo Identidades Culturais, n.6)ISBN - 978-85-62852-13-8

    1. Histria de Ribeiro Preto 2. Histria da MsicaCDD: 981.612 rpb

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    Sobre a pesquisadora

    Thaty Mariana Fernandes

    Graduada em Histria na Universidade Federal de

    Ouro Preto e mestre em Histria e Cultura Socialpela UNESP. Trabalhou como professora de Hist-ria na Rede Municipal de Ensino de Ribeiro Pretode 2003 a 2008, alm de escolas estaduais e parti-culares. Atua como pesquisadora na FormArteProjetos, Produo e Assessoria (So Paulo-SP),empresa que elabora e administra projetos culturaisna rea de patrimnio histrico.

    Capa - Orquestra do cinema Bilac. Da esquerda para

    direita, em p: Antenor Ribeiro, Amadeu[Mugnahaia], Joaquim Rangel, Joaquim [Cunha],Pacoal. Da esquerda para direita, sentados: RaphaelLeite, Barilari, Helena, Eduh Rangel, Luiz Span,Sebastio Soma, Caetano (?). Data: 1924. Fotgra-fo: Photographia Artstica CM ou MC. (APHRP, F568).

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    Grupo de msicos (adultos e crianas) portando instrumentos musicais.Com o trombone nas mos Sebastio Soma. Data: 1930. Fotgrafo: Noidentificado. (APHRP. Foto n. 576)

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    Apresentao

    A msica uma expresso artstica presentena histria cultural de Ribeiro Preto desdesua fundao. Bandas, grupos, maestros,comprositores, instrumentistas e cantores,homens e mulheres, brancos e negros, aolongo do tempo, garantiram a representativi-dade da msica como uma atividadefrequente nas praas, festas e datas espe-

    ciais.Thaty Mariana Fenandes pesquisou estahistria, com foco nas manifestaes docomeo do sculo XX e este livro, o sextovolume da Coleo Identidades Culturais,relata como a msica seguiu intrnseca a

    histria de Ribeiro Preto.Tendo como fonte o arquivo do Jornal ACidade, estudos anteriores (dissertaes eteses), documentos do Arquivo Pblico eHistrico de Ribeiro Preto, esta obra

    presenteia a todos com referncias quepermitem um melhor reconhecimento dacultura imaterial do municpio.Viva Homero Barreto, Max Barth, PousaGodinho e tantos outros.

    Adriana Silva

    Secretria da Cultura

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    Sumrio

    Introduo

    Captulo 1: A modernizao na msica e nos entretenimentos

    Captulo 2: Msica e entretenimento como negcio

    2.1 Teatros e empresas de entretenimento

    2.2 Frequncia dos espetculos e controle social

    2.3. CircosCaptulo 3: Profissionais da msica

    3.1. Bandas e msicos locais

    Captulo 4: Comrcio de instrumentos, partituras, discos e gramofones

    4.1. Comrcio de pianos

    Captulo 5: Msica e entretenimento como meios de culto e educao5.1. A msica nas escolas

    5.2. Comemoraes cvicas

    5.3. Comemoraes religiosas

    Captulo 6. O carnaval

    Captulo 7: Outras formas de socializao pela msica: bailes e saraus, festas

    e serenatas

    Consideraes Finais

    Apndice

    Referncias Bibliogrficas

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    Este livro resultante da reviso e edio da pesquisa desenvolvida no

    mestrado em Histria e Cultura Social. O trabalho original teve como obje-

    tivo abordar o universo do entretenimento e das atividades musicais, no

    propriamente como uma histria da msica, mas como uma sondagem

    dos ambientes pelos quais a msica circulava, como era produzida e consu-mida pela sociedade da poca. A pujana econmica derivada do caf

    permitiu investimentos expressivos no ramo do entretenimento, estimu-

    lando o surgimento de empresrios do setor, capitalizando o lazer e os

    circuitos que envolviam a msica.

    A urbanizao e a consequente tentativa de construo da Ribeiro Pretohiginica, organizada e bela, foi um processo que se iniciou na segunda

    metade do sculo XIX e at a dcada de 1920 j havia criado servios e

    obras essenciais como a rede de gua e esgoto, o calamento das ruas, o

    ajardinamento do antigo Largo da Matriz, regras para o embelezamento

    arquitetnico, instalao da linha ferroviria, construo de prdios pbli-

    cos como os da Cmara e Cadeia e o Pao Municipal. A ideologia do urba-

    nismo sanitarista, legitimado pelo discurso das autoridades polticas e

    cientficas da cidade, e o desejo das camadas mais abastadas de construir a

    sua Belle poque local moveram a modernizao da cidade e transforma-

    Introduo

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    ram o povoado rural em Capital dOeste.

    Dentre a produo historiogrfica a respeito de Ribeiro Preto focada nas

    primeiras dcadas do sculo XX predominam trabalhos sobre economia,

    poltica, questes urbansticas e arquitetnicas. Os trabalhos que se dedica-ram histria local ajudam a conhecer o espao urbano e a realidade scio-

    econmica da poca. Auxiliam, ainda, na compreenso da penetrao da

    ideologia do moderno no municpio e como ela se manifestou no circuito do

    entretenimento e de outras atividades ligadas msica. As obras dos memo-

    rialistas locais tambm so teis ao fornecerem informaes adicionais que,

    embora muitas vezes no sejam embasadas em fontes documentais, nos

    indicam como certos fatos foram tratados pela memria coletiva, da qual

    representam um testemunho, ou so teis no dilogo com as fontes aqui

    utilizadas.Entre as obras de memorialistas utilizadas neste trabalho destacam-se as

    de Jos Pedro Miranda (1971), Prisco da Cruz Prates (1956) e Rubem

    Cione (1985). Esse ltimo o mais conhecido e o seu trabalho se constitui

    como a mais popular referncia para o estudo da histria da cidade. Esta

    obra foi, em parte, baseada na obra de Plnio Travassos dos Santos (1923).A esta pesquisa interessa tambm o trabalho indito da professora Myriam

    Strambi, sobre o msico Belmcio Pousa Godinho (1983), os seus manus-

    critos e o livro 50 anos da Orquestra Sinfnica em Ribeiro Preto (1938-

    1988), publicado em 1989 .1

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    Rodrigo S. Faria (2003) analisa o desenvolvimento da cidade nas trs

    primeiras dcadas do sculo XX, demonstrando quais eram as prioridades,

    embates e opinies das autoridades polticas e cientficas e dos muncipes

    sobre as obras de infraestrutura necessrias, utilizando-se das Atas daCmara Municipal e as correspondncias enviadas aos jornais locais. O autor

    revela as direes da expanso da cidade, o anseio pelo belo e o moderno, e

    quais medidas foram tomadas atravs do tempo para sanar os diversos

    problemas e deficincias inclusive estticas do municpio, desde a sua

    emancipao. As medidas ordenadas pela Cmara Municipal revelam que as

    obras consideradas urgentes, tais como os servios de coleta de esgoto e a

    canalizao da gua, entre outros, muitas vezes eram discutidos com morosi-

    dade e falta de objetividade. As obras pblicas ou particulares de interesse

    pblico no priorizavam o saneamento bsico e a higienizao, haja vista ainaugurao do Theatro Carlos Gomes, em 1897, quando ainda faltavam

    servios essenciais. A Cmara sofria com a falta de verbas para a realizao

    de todas as obras necessrias, tendo que recorrer constantemente a empreen-

    dedores particulares e emprstimos, tal como no caso do Theatro Carlos

    Gomes, construdo por um consrcio de empreendedores particulares. Issoevidencia um esforo considervel para a constituio de um ambiente prop-

    cio para as atividades culturais. Essa informao muito interessante porque

    vai ao encontro do trabalho de Veruschka de Sales Azevedo (2001), no qual

    a autora acompanha a metamorfose dos espetculos e, ao mesmo tempo, da

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    cidade, comparando-a a um grande palco onde a elite representa os atores e o

    restante da populao, a plateia. Nesse cenrio, onde a modernidade era o

    espetculo, era preciso que os seus signos estivessem presentes. Era necess-

    rio formar uma imagem de cidade "moderna", higinica" e "civilizada", e,para isso, a presena de um teatro era fundamental - no caso, o Theatro Santa

    Clara, fundado em 1874, e construdo pelo Coronel e Baro de Franca, Jos

    Garcia Duarte. Um teatro suntuoso era o lugar apropriado para as maiores e

    as mais prestigiadas companhias teatrais e espetculos. Era tambm o cenrio

    onde a elite podia desfilar os seus figurinos e trejeitos para a assistncia da

    "plateia", ou seja, aqueles que estavam excludos desses lugares. Essa segre-

    gao espacial dos pobres se repetia constantemente, com reas destinadas

    moradia e frequncia de uns e de outros.

    Adriana Capretz B. Silva (2006) analisou a criao e o desenvolvimento doNcleo Colonial Antnio Prado, sua ocupao e posterior incorporao

    malha urbana, tornando-se o bairro conhecido como Barraco. O Barraco,

    que deu nome ao bairro, consistia no galpo que abrigava provisoriamente os

    imigrantes vindos de trem em busca de trabalho, e ao seu lado havia uma

    estao de mesmo nome, a exemplo da Hospedaria do Imigrante, em SoPaulo. Ali os imigrantes eram registrados e aguardavam por trabalho. Os que

    tinham algum peclio podiam comprar um lote no Ncleo Colonial. Esse

    estudo propiciou uma referncia sobre quem eram e como viviam as pessoas

    fora do centro, concentrando-se no eixo de expanso sul, e que no perten-

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    ciam elite.

    Os trabalhos sobre a cidade de So Paulo sugerem um modelo de estrutura

    formal e analtica, alm de informaes sobre como era o universo musical

    na capital, no mesmo perodo. A obra de Jos Geraldo Vinci de Moraes(1995) refletiu sobre as tenses e as dinmicas scio-culturais na formao

    das sonoridades paulistanas. Nesse perodo, So Paulo passava por transfor-

    maes decisivas, de um centro rural, agropastoril e provinciano para uma

    cidade industrial e cosmopolita, habitada por pessoas vindas de diversas

    partes do mundo e do pas, trazendo cada grupo os seus costumes e a sua

    musicalidade. O trabalho utilizou depoimentos de artistas e de outras pessoas

    que traziam recordaes dessa poca, e relatos de memorialistas. Dentro

    dessa diversidade, sobressairam-se os intermedirios culturais, aqueles agen-

    tes que contriburam para a fuso e a difuso das culturas dos diversosgrupos, comunicando-se com vrios deles: os chores paulistanos. Ribeiro

    Preto, na fase estudada, tambm passava por mudanas decisivas no sentido

    da urbanizao e modernizao, da diversificao social e cultural, com a

    introduo dos imigrantes em grande escala, principalmente aps a criao

    do Ncleo Colonial Antnio Prado. Sua trajetria de mudanas e desenvolvi-mento se assemelhou em muitos aspectos com a cidade de So Paulo do

    incio do sculo XX. O autor Vicente de Paula Arajo (1981) evidenciou,

    atravs das notcias de jornais e anncios da poca (1897 a 1914), o cotidiano

    da nascente indstria do lazer de salo: empresas, espaos, filmes e artistas

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    que circulavam pela capital paulista. O seu livro (ARAJO, 1981), nas suas

    muitas transcries textuais e reprodues de imagens, exps a esttica e a

    linguagem dos anncios e notcias, alm de ter demonstrado os fatos e a din-

    mica das diverses na cidade durante o perodo.A pesquisa que resultou neste livro, delimitou-se entre os anos 1893 e 1917

    desde o jornal mais antigo encontrado at o ano da falncia da Empreza

    Cassoulet. Esta empresa foi a primeira a surgir no ramo de entretenimentos

    da cidade. Ela era a maior promotora de eventos no perodo, criando uma

    moderna dinmica comercial dos entretenimentos urbanos locais, adminis-

    trando teatros, trazendo espetculos do Rio de Janeiro, de So Paulo, de

    Buenos Aires e de Montevidu, enfim, de centros urbanos que gozavam de

    um status de modernidade e sofisticao. A empresa de Cassoulet difundiu

    padres estticos, fornecendo por meio dos seus artistas e de filmes, modelosde comportamento, modas de vesturio, um repertrio musical, etc. Seus

    espetculos serviram de referncia para as empresas concorrentes, que surgi-

    ram anos depois, e para a criao de um senso esttico identificado com o

    moderno na populao em geral. Embora esta pesquisa leve em considerao

    outros aspectos do chamado "universo musical", a capitalizao do lazer porintermdio destas empresas o que mais chama a ateno, constituindo-se na

    transformao mais marcante, e capaz de influenciar no ensino de msica, na

    sua comercializao atravs de partituras, instrumentos, discos, na sua

    execuo, etc.

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    Os jornais davam destaque aos eventos mais glamorosos e identificados

    com as elites, cujo local era o centro da cidade. Encontramos, tambm,

    formas mais tradicionais e populares de usos da msica, mas sem o mesmo

    destaque e o mesmo tratamento nos noticirios. Quase diariamente erampublicadas notcias de eventos significativos para o estudo do universo

    musical e do entretenimento, tais como a programao dos teatros, festas

    comunitrias, comemoraes cvicas, o repertrio a ser executado pelas

    bandas nas retretas do Jardim Pblico (atual Praa XV), carnaval, anncios

    de professores e outros. Os comentrios sobre tais eventos, a forma como

    eram noticiados, anunciados ou omitidos, so reveladoras de como a socie-

    dade os acolhia, qual era a sua finalidade, o seu pblico preferencial, o seu

    repertrio, o status e a origem de tais eventos e dos artistas. Os primeiros

    jornais do final do sculo XIX, so uma fonte de informao sobre os espe-tculos e demais atividades relacionadas msica. Havia uma grande quan-

    tidade de jornais publicados, a maioria de curta durao (TUON, 1997, p.

    99). Os jornais mais influentes e de circulao constante eram o Dirio da

    Manh (1899) e A Cidade (1905). Na Biblioteca Nacional do Rio de Janei-

    ro foram pesquisadas as colees do jornal A Cidade. No Arquivo Pblicodo Estado de So Paulo foram consultados os exemplares avulsos de jornais

    diversos, a partir de 1893. Em Ribeiro Preto foi possvel localizar na

    Biblioteca Padre Euclides algumas colees, entre essas duas datas, dos

    jornais A Cidade e Dirio da Manh. Os dois ltimos, considerados os

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    principais jornais, apresentavam divergncias polticas, mas, nos assuntos

    ligados cultura e ao entretenimento, costumavam apoiar os eventos

    locais. Poucas vezes os espetculos, festejos ou outras atividades estuda-

    das eram alvo de crticas. Havia sesses dirias que davam notcias sobre

    os entretenimentos na cidade, e esse assunto ocupava uma parte conside-

    rvel das quatro pginas dos jornais da poca. Os jornalistas tinham entra-

    da franca nos eventos e espetculos, por isso, nunca faltavam notciasdesse tipo. Havia tambm os anncios de casas comerciais de partituras,

    instrumentos, professores e outros profissionais ligados msica.

    Os Cdigos de Posturas Municipais, de 1889 e 1902, vigentes no pero-

    do delimitado para a pesquisa, demonstram as tentativas do poder pblico

    de disciplinar os espetculos e demais diverses e eventos pblicos, crian-do regras para o seu bom andamento. Os Cdigos so uma importante

    fonte para se avaliar o que era julgado prprio ou imprprio no universo

    estudado.

    1. Material cedido pela filha da autora, Luciane Strambi.

    Ao lado, recorte do Jornal A Cidade, edio de 04/03/1913

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    Theatro Carlos Gomes visto a partir da Praa XV de Novembro. Data:1930-1935 aprox. Fotgrafo: Antnio Zerbetto Photo Studio

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    Captulo 1: A modernizao na msica enos entretenimentos

    A modernidade na msica e nos entretenimentos musicais era representada

    pelas novidades em voga na virada do sculo XIX para o XX: os cafs-

    concertos, teatros de revista e a msica gravada. O cinema, embora no fossepropriamente um entretenimento musical, fazia uso da msica em suas

    sesses, ou nos intervalos entre elas, mesclando a exibio de pelculas com

    apresentaes ao vivo. Em termos de gneros musicais, destacavam-se os

    ritmos importados atravs de Paris, a emergente msica americana e a

    assimilao de ritmos brasileiros mais populares pela classe mdia.Desde o perodo Imperial a cultura francesa predominava no Brasil, desde

    o vocabulrio at as roupas, comportamentos, a msica e seus ambientes. No

    repertrio, predominavam valsas, polcas, schottishes, mazurkas, divulgados

    via Paris. A partir da Primeira Repblica, medida que cresce a influncia

    norte-americana no mundo, especialmente no Brasil e Amrica Latina,

    cresce tambm a sua influncia cultural e a importao dos gneros musicais

    ragtime, cake-walk, one step, two step e blackbottom. Desde a 1 Guerra

    Mundial, vieram o Fox-trot e o Charleston (TINHORO, 1998, P. 207) . A

    importao de produtos culturais estrangeiros era destinada, via de regra, s

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    classes altas e mdias, que as utilizavam como modo de distino diante

    das camadas mais baixas. Estas, porm, sua maneira tambm se apropria-

    vam de tais produtos.

    Nas metrpoles europias, em meados do sculo XIX, quando o processode industrializao e a dinmica capitalista j estavam bastante avanados,

    o seu rpido crescimento levou criao espontnea de locais pblicos de

    diverso para a massa urbana. Tais lugares eram chamados de tavern-music

    halls na Inglaterra e cafs-cantantes na Frana. Eram frequentados por

    pessoas da classe mdia ou das classes mais baixas e contavam com artistas

    para o entretenimento do pblico, que cantavam, danavam e faziam

    outros tipos de exibies. Dessa forma, muitos amadores foram incorpora-

    dos ao profissionalismo, alguns deles eram apenas frequentadores dos

    estabelecimentos, ou seus prprios donos. Devido s dimenses doambiente, as canes dirigiam versos ao pblico, em sua prpria lingua-

    gem, num tom informal e intimista. Havia diversos gneros de cano

    compostos para tais ambientes, mas o mais comum era a chansonette (ou,

    em portugus, canonetas), cujas letras se referiam a temas atuais, de

    forma coloquial, para serem cantadas apenas por uma temporada.No Brasil, os cafs-cantantes e as canonetas foram trazidos a partir da

    segunda metade do sculo XIX, ao Rio de Janeiro, So Paulo e outras

    cidades. A moda logo se espalhou pelo pas, nos primeiros anos do sculo

    XX. Aqui, a canoneta no chegou a constituir gnero musical determina-

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    do, mas tornou-se um rtulo para cantigas engraadas ou maliciosas, com

    duplo sentido. Dos cafs-cantantes, as canonetas chegaram aos circos e aos

    estabelecimentos de mesmo gnero, s casas de chope, dirigidos a um pblico

    mais modesto. Tais estabelecimentos tenderam a se popularizar para baixo,ao contrrio do que ocorreu em outros pases, como na Frana, onde os

    cafs-cantantes eram mais requintados.

    Os ritmos nacionais (lundus, maxixes, modinhas, tangos) foram se incorpo-

    rando s canonetas, conforme elas se difundiam, principalmente entre as

    camadas mais baixas, herdeiras de tradies rurais, alimentadas pelos

    migrantes do campo procura de trabalho nas cidades, para quem a cultura

    importada era menos acessvel. Ritmos de diversas nacionalidades tambm se

    incorporavam s canonetas. Nos cafs-cantantes costumava haver um

    pianista ou um pequeno conjunto de msicos a servio da casa, para acompa-nhar os artistas. A evoluo dos cafs-cantantes mais elegantes foram os

    cabarets, que se dirigiam a uma clientela mais seleta, onde havia apresenta-

    es de artistas estrangeiros, e de gneros considerados mais refinados, como

    o canto lrico e operetas.

    Segundo Tinhoro (1998, p. 226):

    A msica popular encarada como artigo criado com a finalidadeexpressa de atender s expectativas do pblico consumidor de produ-es culturais destinadas ao lazer urbano, e com isso possvel detransformar-se em objeto de comrcio atravs de venda sob a forma de

    partituras para piano e, depois, de discos de gramofone e rolos de

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    pianola, surgiu de fato com o chamado teatro de variedades, a partirda dcada de 1880.

    O gnero teatral das revistas surgiu na mesma poca dos cafs-cantantes.

    Esse tipo de espetculo era voltado para as famlias de classe mdia, pois,

    os cafs-cantantes e similares eram frequentados apenas por homens ou

    mulheres de m vida. A partir da primeira dcada do sculo XX, as revis-

    tas se tornaram muito populares. A sua produo tomou grande dinamicida-

    de comercial, e os seus autores e msicos tiveram que produzir numa escalabem maior, a fim de atender a demanda. Havia entre elas e a msica uma

    relao de duplo sentido: s vezes as revistas lanavam as msicas para o

    sucesso nacional, mas, inversamente, msicas de sucesso tambm eram

    aproveitadas para atrair o pblico para o teatro. Tais msicas, inclusive, s

    vezes eram adaptadas para o carnaval. A ampliao do pblico e dos artistasenvolvidos no teatro de revista teve como consequncia a nacionalizao

    dos tipos representados (matuto, coronel, mulata, funcionrio pblico, etc.)

    e dos seus ritmos. Os msicos de teatro dessa fase tentaram adaptar-se ao

    gosto das camadas mais amplas (como Chiquinha Gonzaga, Costa Jnior e

    outros), assimilando formas musicais populares.

    As operetas tambm representavam grande sucesso como A Viva

    Alegre, de Franz Lehar, entre outras. Suas msicas chegavam a ser aprovei-

    tadas com outras letras, e se tornavam at mesmo temas carnavalescos.

    O advento do cilindro e do disco, no final do sculo XIX, permitiu que

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    alguns gneros musicais, j em extino naquele perodo, pudessem ser

    registrados e mantidos. Assim tambm aconteceu com os gneros de danas

    de salo europeus, como as valsas, mazurcas, schottiches, polcas e quadri-

    lhas. No Brasil, esse novo invento permitiu a coleta de gneros musicaisligados cultura afro-brasileira, como o lundu e os batuques, entre outros,

    transmitidos apenas oralmente at ento (TINHORO, 1981, p. 14). Alm

    destes, puderam ser gravados tambm as modinhas seresteiras, as canonetas

    de teatro de revista e cafs-cantantes, marchas e ranchos carnavalescos,

    chulas, cantigas sertanejas. As novidades como a emergente moda damsica americana (ragtime, cake-walk, one step, two step, blackbottom)

    tambm passaram a chegar com mais rapidez a vrias partes do mundo.

    No Brasil, os pioneiros a explorar comercialmente o novo invento foram

    ambulantes que ofereciam a audio de fongrafos . O mais bem-sucedidoentre esses pioneiros foi Frederico Figner que, ainda no sculo XIX, come-

    ou a comercializar fongrafos e cilindros no Rio de Janeiro, depois se

    expandindo numa rede de revendedores e distribuidores em vrias partes do

    pas, inclusive produzindo suas prprias gravaes (Casa Edison). At o

    incio do sculo XX, utilizavam-se cilindros de celulide como base para asgravaes, logo suplantados pelos flat-discs, ou chapas discos de 78

    rotaes por minuto , reproduzidos pelos gramofones, que facilitaram a

    difuso da msica gravada, transformando-a em produto industrial massifi-

    cado. Alguns podiam compr-los e t-los em casa, mas a msica gravada

    4

    4

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    estava presente em locais pblicos, como bares e salas de espera de cinemas.

    Nos captulos XI e XII do livro Pequena Histria da Msica, de Mrio de

    Andrade (s.d.), o autor definiu e fez algumas consideraes sobre o que

    classificou como msica popular e erudita no Brasil. Sobre a msica noperodo republicano, Mrio de Andrade afirmou que houve uma decadncia

    do interesse, por parte do pblico, pela msica classificada como erudita,

    cujas platias se esvaziavam cada vez mais. Isso teria acontecido, de acordo

    com o autor, por causa da falta de educao artstica do povo, entre outros

    fatores. Andrade (s.d.) colocou Buenos Aires como um centro de desenvol-vimento social homogneo, e esse progresso uniformizado teria levado ao

    sucesso do comrcio musical, e das temporadas de virtuoses musicais e

    teatrais.

    De acordo com Ikeda (1988), naquele perodo Buenos Aires era a maiorcidade da Amrica do Sul, tinha grande intensidade de programaes cultu-

    rais e era considerada a capital cultural do hemisfrio ocidental sul

    (IKEDA, 1988, p. 36). Nessa cidade a criatividade artstica e as obras mais

    sofisticadas tinham espao, enquanto no Brasil s havia espao para obras

    mais tradicionais e com sucesso garantido, repetitivas e que no apresenta-vam novidade esttica. Como afirmou Andrade (1962, p. 159):

    No h luta, no h ideal, no h interesse artstico. O pblico no seeduca; a elite artstica do pas no se interessa; a outra elite vai svezes ao teatro por obrigao de moda ou para escutar um virtuose

    di i M b li d i l b j di d

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    prodigioso. Mas abalizadamente inculta e boceja diante da arte.

    A msica classificada como popular, segundo o autor, tomara corpo a partir

    do sculo XIX (ANDRADE, 1962). Andrade (1962) afirmou que as mani-

    festaes popularescas de maior desenvolvimento desde o sculo anterior

    foram as modinhas, os maxixes e sambas urbanos, comercializados impres-

    sos em grande quantidade. Como j foi observado nas consideraes de

    Tinhoro (1981), esses gneros se popularizaram, no incio do sculo XX,

    tambm por meio das canonetas de teatros de revista, dos cafs-cantantese das gravaes.

    Wisnik, em O Coro Dos Contrrios (1977), ao tratar da msica na Semana

    de Arte Moderna, afirmou que, durante o Imprio, o governo ofereceu

    muitas bolsas para os artistas se aperfeioarem na Europa. Na Primeira

    Repblica essas bolsas diminuram e os msicos perderam o contato com asvanguardas europias. Isso explicaria o conservadorismo tanto dos msicos

    como da plateia, muito ligados ainda ao romantismo, sinfonia e pera.

    Para Alberto T. Ikeda (1988, p. 18), a grande presena de estrangeiros e a

    cultura europeizada da elite local incentivavam as atividades musicais como

    a pera e a msica de concerto em geral. Entre a elite, desde o sculo

    anterior, j era comum a formao de agremiaes culturais, que promoviam

    concertos, saraus musicais, literrios e danantes. A msica instrumental se

    ligava a uma corrente mais progressista esteticamente, enquanto a pera era

    preferida pelos mais conservadores.

    O d S P l i h i d

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    Os teatros de So Paulo no tinham uma estrutura apropriada para

    abrigar espetculos mais refinados de grande porte, no incio do sculo

    XX, at a construo do Theatro Municipal, em 1912. Os teatros existen-

    tes at ento eram menores, mais rsticos, e abrigavam uma diversidadede espetculos, como as revistas, gneros circenses, msica, dana e

    tudo o que agradasse ao pblico de classe mdia (IKEDA, 1988, p. 26).

    Em mdia, apresentavam-se em So Paulo duas companhias por ano. As

    companhias lricas procuravam atrair um pblico mais amplo por inter-

    mdio de rcitas populares, com ingressos mais baratos, realizados aps atemporada oficial e que naturalmente j no primavam pela mesma

    qualidade da temporada oficial (IKEDA, 1988, p. 27). A identificao

    nacional do grande nmero de imigrantes italianos com a pera os atraa

    para esse tipo de espetculo, contribuindo para a massificao do gnero.

    2. As informaes sobre a msica urbana foram, em sua maioria, extradas destaobra.3. Gnero de teatro musicado caracterizado por passar em revista os principaisacontecimentos do ano, encenando-os numa sucesso de quadros em que os fatosso revividos com inteno de humor, em meio a danas, canes e outros nme-ros musicais. (Enciclopdia da Msica Brasileira, p. 767)4.Aparelhos que reproduziam sons gravados em cilindros de celulose e cera.

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    Interior do Theatro Carlos Gomes. Data: dcada de 1930. Fotgrafo: J. Gulla-ci (APHRP, F308).

    Captulo 2: Msica e entretenimentocomo negcio

    A di i i li d id d di

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    A dinamizao capitalista da cidade estava diretamente

    ligada criao de empresas de entretenimento, que

    exploravam o teatro, os espetculos de variedades e o

    cinema. Ao mesmo tempo, foram-se criando espaos eespetculos destinados aos diversos segmentos da socie-

    dade. A cultura, tendo se tornado uma mercadoria, era

    vendida a preos mais altos conforme o status que carre-

    gava. Outras formas de mercantilizao da msica, como

    os circos itinerantes, em constantes passagens pelacidade, o comrcio de instrumentos, de modinhas

    (canes populares em partituras), as atividades de

    professores de msica, consertadores/afinadores de

    instrumentos e das corporaes musicais dinamizaram-se conforme a cidade crescia e tomava forma. O comr-

    cio de discos e gramofones representava uma grande

    novidade para a poca, embora acolhido sem muito

    alarde pelo noticirio dos jornais, onde s se faziam

    presentes pelos anncios dos prprios vendedores. Ocomrcio de pianos, embora fosse um produto existente

    h mais tempo, ganha grande fora nesse momento, pois

    passava a ter representantes locais de grandes vendedo-

    res estabelecidos na capital, em Campinas ou no Rio de

    Janeiro.

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    2.1 Teatros e empresas de entretenimento

    A partir do final do sculo XIX j havia se configurado uma estrutura

    comercial permanente de entretenimento na cidade. No se tratava de espe-tculos ou diverses promovidos esporadicamente por iniciativa de um ou

    outro cidado, e sim da formao de empresas especializadas nesse ramo

    de prestao de servio. Esse perodo foi marcado pela fase de predomnio

    e da decadncia da Empreza Cassoulet. Alm desta, outras empresas surgi-

    ram, demonstrando que outros tambm tentaram investir nesse ramo de

    atividade, que se tornava lucrativo e atraente.

    O primeiro grande teatro construdo na cidade foi o Carlos Gomes, por

    iniciativa do poder pblico municipal e de um consrcio de particulares, no

    qual se destacou o cafeicultor Francisco Schmidt. Foi inaugurado em 1897,numa poca em que a rea central da cidade ainda no tinha alguns equipa-

    mentos bsicos de infra-estrutura. O fato de ter sido construdo por particu-

    lares, especialmente por um cafeicultor, torna-se significativo para esta

    anlise, pois demonstra simbolicamente que o entretenimento como neg-

    cio surgiu a partir da diversificao do capital investido primeiramente nalavoura, e o desejo das elites locais pela modernidade com padres euro-

    peus.

    A construo do Theatro Carlos Gomes obedecia estrutura clssica de

    um teatro de pera, com platia (400 poltronas), galeria (200 poltronas),

    camarotes, frisas e foyer. Seu interior era suntuoso, feito com materiais

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    camarotes, frisas e foyer. Seu interior era suntuoso, feito com materiais

    nobres. O Theatro localizava-se no corao da cidade, em frente ao Jardim

    Pblico. Sua inaugurao aconteceu em 7 de dezembro, com a apresentao

    da prestigiada companhia lrica italiana De Matta, que apresentou O Guara-ni, de Carlos Gomes (CIONE, 1997, p. 52). Construdo com o propsito de

    abrigar espetculos considerados de alto nvel, como grandes companhias

    lricas e dramticas estrangeiras, nem sempre cumpriu esse intuito, apresen-

    tando tambm espetculos mais populares, como cinema, revistas, canone-

    tistas e variedades (classificao genrica que inclua prestidigitadores,acrobatas, lutadores, etc.). Mesmo quando os espetculos populares ocupa-

    vam este espao, sua prpria estrutura suntuosa o diferenciava e o tornava o

    local prprio para ser frequentado pelas elites.

    Franois (ou Francisco) Cassoulet foi o mais notrio empresrio dos entre-

    tenimentos na cidade. Sua trajetria nesse ramo de atividade j foi estudada

    por Benedita Luiza da Silva, na dissertao O Rei da Noite na Eldorado

    Paulista (2000). Cassoulet abriu seu caf-cantante, o Eldorado Paulista,

    ainda no sculo XIX, na Rua So Sebastio, entre as ruas Amador Bueno e

    lvares Cabral (SILVA, 2000, p. 61). Silva (2000), em sua dissertao,afirmou que esse estabelecimento foi instalado no final da dcada de 1890,

    como um rstico barraco, que foi gradativamente ampliado e estruturado.

    O Eldorado Paulista contava com diversos tipos de atraes, inclusive

    exibio de filmes, mas predominavam os espetculos ao vivo. Costumava

    ter sempre a seu servio uma trupe, contratada para as apresentaes por

    longas temporadas que chegavam a durar meses. Funcionava quase diaria-

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    g p q g q

    mente, inclusive com bailes no final das sesses. Os espetculos musicais

    mais frequentes eram de canonetistas (solo ou em duplas duettistas,

    copias) e cantores classificados como lricos. Os primeiros interpretavam

    canes populares, que divertiam o pblico;os segundos interpretavam

    trechos de peras famosas, por isso seus espetculos eram mais prestigiados.

    Havia uma orquestra a servio do teatro, regida por Domingos Baccaro.

    Este teatro deve ter passado por uma reinaugurao em 1906. O nmero

    expressivo e a qualificao dos espetculos demonstram o quanto era presti-giado e ativo: [...] 3525 espetculos nos quaes trabalharam 574 artistas de

    ambos os sexos, sendo alguns de verdadeiro mrito e que depois de terem

    feito furor aqui, foram recebidos com frenticos applausos pelas platias

    da Europa e da America (A CIDADE, 10 out. 1908, p. 1).

    Em 2 de agosto de 1914 foi inaugurado o Casino Antarctica, construdopela empresa de mesmo nome, [...] passando a funcionar alli o Eldorado, da

    Empreza Cassoulet (A CIDADE, 2 ago. 1914, p. 1). Ao seu lado funcionava

    a Rotserrie Sportsman, que por vezes tambm apresentava algum tipo de

    espetculo musical ou filme, e funcionava como restaurante e buffet. A

    orquestra do Casino Antarctica ficou a cargo do maestro Giovanni Gemme.

    A partir de julho de 1916, o antigo Eldorado se encontrava em funcionamen-

    to novamente, sob a direo da Empreza Baccaro (do maestro da banda que

    se apresentava nesse estabelecimento) e a gerncia de A. Potenza, com o

    mesmo perfil de espetculos. Em 21 de abril de 1917, o Eldorado era geren-

    ciado por Hyppolito Costa.

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    Os anos que se seguiram a partir de 1908, foram de grande atividade no

    ramo do entretenimento. Em agosto de 1908, estava em atividade no Thea-

    tro Carlos Gomes o cinematgrafo Richebourg, fornecido pela Empreza

    Cassoulet, sendo esta a primeira notcia localizada sobre a atividade dos

    cinemas, e a primeira evidncia de que o Carlos Gomes era gerenciado por

    essa empresa, como seria por vrios anos. Existem informaes retiradas de

    outras fontes, de que as primeiras exibies cinematogrficas teriam sido

    anteriores, no entanto, no tinham ainda o propsito comercial e massifica-do. Em 1908, surgiu a empresa L. Junqueira, que inaugurou o Paris Theatre,

    em 19 de dezembro de 1908, e a empresa J. Penteado & Cia. que inaugurou

    o Bijou Theatre, em 24 de abril de 1909. As primeiras concorrentes

    dedicaram-se ao cinematgrafo, forma de divertimento barata e atraente a

    abertura desses novos espaos atraiu muitos espectadores. Em 15 de agostode 1912 a Empreza Cassoulet inaugurou um novo cinema, o Rio Branco, na

    Rua Duque de Caxias Situado em lugar commodo para os moradores da

    Villa Tiberio e Barraco (DIARIO DA MANH, 5 jul. 1913, p. 2), ou seja,

    o estabelecimento era voltado para o pblico desses bairros.

    Durante o ano de 1911 acirrou-se a concorrncia entre as empresas cinema-

    togrficas. Alm de exibir os filmes, estas empresas tambm atuavam como

    distribuidoras de fitas para outros cinemas, em outras cidades.

    A partir de 1911, passou a haver mais inauguraes de estabelecimentos de

    diverso, e uma rotatividade maior entre as empresas administradoras. Em

    29 de agosto de 1911, o Bijou Theatre j havia se tornado propriedade da

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    empresa L. Junqueira e, em 16 de novembro de 1911, a mesma se desfez do

    cinema, que foi transformado em confeitaria. Em 24 de novembro de 1911,

    o Paris Theatre, (na Rua lvares Cabral, onde funcionou a matriz provis-

    ria), construdo pela empresa L. Junqueira, tornou-se propriedade de Paladi-

    no Aguiar. Em 2 de dezembro de 1911, o Bijou estava sob a administrao

    da empresa F. Santos. Nesse ano, as empresas passaram a publicar grandes

    anncios nos jornais, informando as atraes dos teatros e cinemas, os

    preos dos ingressos e quem os administrava. Estes sales Bijou Theatre eParis Theatre , em 1911, so descritos pelos jornais como freqentados

    pela elite e com numerosa orquestra (A CIDADE, 29 ago. 1914, p. 1).

    Em 1. de maro de 1912, Manoel Teixeira aparece nos jornais como admi-

    nistrador do Bijou. Em 4 de maro de 1913, Paladino Aguiar vendeu sua

    empresa firma Castro & Comp., de Jos Magalhes de Castro. Em junhode 1914, o Paris Theatre pertencia Empreza Cassoulet e, em agosto,

    inaugurou-se o palco cnico para as apresentaes ao vivo.

    Em 12 de julho de 1914, foi inaugurado por Aristides Motta o Cinema

    Odeon, cinema de luxo e grande conforto (A CIDADE, 22 mar. 1914, p.

    1), na Rua Amador Bueno, 49A, com 400 lugares na platia mais galerias,

    salo de espera com cascata, bar, sala de entrada, e funcionamento dirio.

    Em setembro do mesmo ano foi inaugurado o palco cnico para os espetcu-

    los de variedades. No entanto, em novembro, os boatos circulantes sobre a

    venda ou fechamento do cinema se confirmaram, e foi comunicada publica-

    mente a falncia do Odeon (A CIDADE, 14 nov. 1914, p. 2). Depois de um

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    breve perodo funcionando pela Empreza Cassoulet, em maro de 1915,

    reabriu definitivamente, em 9 de abril de 1915, sob o nome de Cinema Fami-

    liar, cujo novo proprietrio era Antonio dos Santos. Apesar dessa primeira

    empreitada malsucedida, a Empreza Aristides Motta dirigiu a reforma do

    Theatro Carlos Gomes, autorizada por Francisco Schmidt e executada em

    1916 pintura externa e interna, pintura de um pano de boca, renovao do

    mobilirio, ampliao. A partir de ento, esta empresa passou a administrar

    o Theatro Carlos Gomes.A partir de 3 de maro de 1912, apareceram as primeiras notcias sobre os

    rinks de patinao. Havia o Pavilho Rink (Empreza Costa & Silva, depois

    Empreza Evaristo Silva & Comp., na Rua Amador Bueno, em frente ao

    palcio dos Correios), o Ribeiro Preto Rink (a partir de 1 de maio de 1912,

    propriedade da empresa Machado & Silveira, na Rua Amrico Brasiliense,33) e o Ideal Rink (1a notcia em 21 de junho de 1913, em atividade na Rua

    So Sebastio, 52A). Nesses estabelecimentos, alm do sport da moda,

    havia exibies de filmes e msica. Essa moda foi passageira,, e logo os

    rinks foram se extinguindo. Em 7 de julho de 1912 inaugurou-se o teatro

    Polytheama, no lugar do Pavilho Rink, cuja capacidade era de 800 lugares

    na platia, 33 camarotes e 500 lugares nas gerais. A partir de maio de 1913,

    foram retomadas por pouco tempo as sesses de patinao. O Ideal Rink

    reapareceu como restaurante em novembro de 1914, ainda com sesses de

    patinao. Enquanto isso, os anncios dos demais rinks desapareceram em

    dezembro de 1914. Nesse ano, a partir de janeiro, o teatro Polytheama

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    passou a ser administrado pela empresa R. de Seabra. Em maro de 1915,

    apareceu sob a administrao do ator Hyppolito Costa.

    A Empreza Cassoulet era a que mais contratava artistas para espetculos

    dramticos (companhias teatrais), lricos (companhias de peras e operetas)

    e de variedades (canonetistas, acrobatas, lutadores, cmicos, etc.). As com-

    panhias lricas e dramticas eram as mais prestigiadas, a ponto de, em 1910

    receber da Cmara Municipal uma subveno para a vinda de uma boa

    companhia (A CIDADE, 14 jan. 1910, p. 2). Porm, os espetculos devariedades eram os que mais chamavam a ateno do pblico, vido por

    espetculos humorsticos, curiosidades espantosas, disputas de bilhar ou luta

    romana. As grandes companhias costumavam fazer temporadas mais breves,

    com cerca de 4 apresentaes. Os artistas menos prestigiados costumavam

    permanecer na cidade por longas temporadas, apresentando-se junto aosoutros, em vrios estabelecimentos, s vezes de empresas diferentes.

    Em 6 de maro de 1917, Arthur Tescaro surgiu como administrador dos

    teatros da Empreza Cassoulet. Em 17 de junho de 1917, foi realizado, no

    Polytheama, um festival em benefcio das orquestras dos teatros da empresa.

    Estes so indcios de que o antigo administrador j tinha se afastado de suas

    atividades e, talvez, o referido festival fora organizado para cobrir dvidas

    com os msicos. Em 20 de junho do mesmo ano, a empresa se desfez do

    Polytheama, que passou a ser administrado por Evaristo Silva. Em 21 de

    junho de 1917, o Casino Antarctica passou a ser chamado Cinema Casino,

    dedicando-se exibio de filmes, alm dos costumeiros espetculos de

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    variedades.

    As fontes e a bibliografia consultadas pouco revelaram sobre a origem

    dos empresrios citados acima. Franois, de acordo com Silva (2000), no

    possua nenhum familiar na cidade, e em sua pesquisa localizou apenas

    um documento pessoal pertencente a ele, o seu registro de bito que

    afirmava apenas que era vivo e tinha 60 anos, em 1919 (SILVA, 2000, p.

    49).

    Roiz e Santos (2006) apresentaram muitas informaes sobre a suabiografia, extradas do documento Massa Falida de Francisco Cassoulet.

    Seu nome verdadeiro era Franois Cassoulet, mas ficou conhecido por

    Francisco. Nascera em 1864, em Farbe, na Frana, onde estudou durante

    alguns anos e trabalhou com o pai. Desembarcou em Santos, no incio de

    1896, acompanhado de Marie Cassoulet, companheira com quem viviasem ser casado oficialmente. Depois de uma curta estada em So Paulo,

    foi para Ribeiro Preto, onde abriu, ainda em 1896, um caf-cantante, no

    qual aplicou seus poucos recursos. Prximo ao seu negcio estava instala-

    do um cabar dirigido por Fanny Blumenfeldt, austraca, residente h

    alguns anos em Ribeiro Preto e que havia acumulado pequeno capital

    como dama da noite. Ela teria se tornado amante de Cassoulet (Marie

    teria voltado para a Frana em 1898), e juntos administraram casas

    teatrais. Teriam vivido juntos at o falecimento de Fanny, em 1918. No

    entanto, as notcias de jornal e outras fontes no do conta dela, nem de

    Marie.

    20 d b d 191 f i d d f l i d C

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    Em 20 de novembro de 1917, foi decretada a falncia da Empreza Cassou-

    let. A morte do seu proprietrio, em 1919, causou grande comoo. O artigo

    transcrito a seguir demonstra a importncia atribuda a ele, alm de citar

    algumas companhias renomadas trazidas por sua empresa. Apesar de todo o

    seu prestgio e da sua marcante atividade, Francisco Cassoulet morreu

    pobre, talvez por causa da penosa enfermidade que o perseguiu durante

    longo tempo, como diz o texto a seguir, que no teria permitido que ele

    continuasse trabalhando com o mesmo vigor nos ltimos anos.Francisco Cassoulet

    Depois de penosa enfermidade que o perseguiu tenazmentedurante longo tempo, falleceu hontem, s 4 horas da madrugada,no hospital da Beneficencia Portugueza, o antigo e popularissi-

    mo empresario theatral Francisco Cassoulet, que residia ha cercade 30 annos nesta cidade.O finado, pela sua tenacidade e pelo seu extraordinario arrojo,conseguiu contractar para o seu centro de diverses as maioresnotabilidades artisticas, taes como Clara Della Guardia, GastoneMonaldi, Ermete Novelli, Zacconi, Nina Sanzi, Fatima Miris,etc.Aqui vieram trabalhar por sua conta importantes companhias

    lyricas italianas e hespanholas, afamados artistas de variedadesinglezes, francezes, italianos, norte-americanos, hespahoes e deoutras nacionalidades, alm de numeros excentricos de valor quevisitavam So Paulo e que o grande empresario, no olhandopara prejuizos, no hesitava em contractar para delicia do nossopublico.O arrojo de Francisco Cassoulet, contractando grandes compa-

    nhias para esta cidade era verdadeiramente extraordinrio.

    Numa curta epocha, Francisco Cassoulet, devido ao seu esforoe sua dedicao pela arte, conseguiu ser o empresario de todos

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    e sua dedicao pela arte, conseguiu ser o empresario de todosos theatros locaes, dando grande impulso aos mesmos.A arte theatral em Ribeiro Preto, muito deve a esse empresarioque sempre dedicou mesma toda a sua actividade, vencendo,s vezes, innumeros obstaculos.Francisco Cassoulet, no obstante a sua tenacidade e o seu devo-tamento aos negocios theatraes, morreu pobre.O seu sepultamento teve logar hontem, s 5 horas, com o acom-panhamento de numerosos amigos, que assim lhe tributaramessa ultima homenagem (A CIDADE, 18 fev. 1919, p. 2).

    Outros casos de investimento na rea de entreterimento podem ser citados. o caso de Aristides Motta que era fotgrafo e operador do cinematgrafo

    do Paris Theatre. Em 1910, ele montou o Laboratorio Brasileiro de Cinema-

    tographia, que produzia fitas sobre temas locais, para serem exibidas nos

    cinemas da cidade. Tornar-se empresrio de entretenimentos foi, de certa

    forma, uma expanso das atividades que j exercia anteriormente. Assimocorreu tambm com Domingos Baccaro, que de maestro da orquestra do

    Eldorado Paulista tornou-se seu gerente/proprietrio. Evaristo Silva era

    comerciante de gneros alimentcios, proprietrio da Casa Mineira, na Rua

    So Sebastio (A CIDADE, 11 mai. 1911, p. 2). Jos Magalhes de Castro,

    que provvel que tivesse algum parentesco com Jos da Silva Castro,

    proprietrio da Charutaria Castro, inaugurada em 9 de fevereiro de 1909,

    entre as ruas General Osrio e lvares Cabral (A CIDADE, 14 fev. 1909, p.

    1). Esse estabelecimento vendia assinaturas para os espetculos mais

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    Cassino Antarctica, frente para a Rua Amrico Brasiliense, e RotizzerieSportman, com frente para a rua Amador Bueno. O Cassino Antarctica foi

    inaugurado em 14 de novembro de 1914, este talvez tenha sido o empreen-dimento mais extravagante de Fraois Cassoulet, que o administrou entre1914 e 1917. No Cassino ocorriam espetculos, festas, bailes, jogatinas e aprostituio de mulheres estrangeiras. O ambiente era freqentado pelosgrandes coronis e polticos importantes, alm de estrangeiros e bomios.Data: 1920. Fotgrafo: no identificado (Carto Postal Casa Beschizza.

    requintados.

    C i l d d i di

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    Como mais um exemplo da destinao direta

    do capital acumulado pelo caf para o ramo dos

    entretenimentos, alm do caso da construo doTheatro Carlos Gomes, possvel citar Luiz

    Junqueira, proprietrio da Empreza L. Junquei-

    ra, que provavelmente pertencia famlia

    Junqueira, vinda do sul de Minas Gerais no

    sculo XIX, e uma das pioneiras da cafeiculturana cidade.

    2.2 Frequncia dos espetculos e controle

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    q psocial

    Os espetculos de alto nvel eram mais caros e tinham um pblico maisrestrito. Dentro do prprio teatro havia uma diviso entre as reas mais

    nobres e a mais pobres, onde os ingressos eram mais baratos: a galeria

    (ou galinheiro, como havia sido apelidada). O comportamento dos seus

    ocupantes, menos adequado imagem que se queria criar para aquele

    ambiente, por vezes causava protestos e indignao.

    Os teatros mantidos por essas empresas necessitavam de licenas especiais

    da polcia, que eram concedidas mensalmente para o seu funcionamento. A

    partir de 1909 foi criada uma regulamentao geral para os divertimentos

    pblicos, que vinham crescendo desde ento, com a criao de novosestabelecimentos:

    Os divertimentos publicos e a policia[...]

    Capitulo VIIDos espectadoresArt 45 os espectaores devero:Paragrapho 1 - Occupar as localidades indicadas pelos numeros dosseus bilhetes.Paragrapho 2 - Conservar-se descobertos, excepto nas representa-es de caf concerto, durante os espetaculos; [...].

    Paragrapho 4 - permanecer em attitude correcta, durante o especta-culo ou divertimento publico de qualquer natureza

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    culo ou divertimento publico de qualquer natureza.Paragrapho 5 - No praticar actos que incommodem aos outros.Paragrapho 6 - Abster-se de fumar nos logares onde isso for prohi-

    bido.Paragrapho 7 - No pedir a execuso de pea extrehida ao especta-culo que estiverem assistindo.Paragrapho 8 - No perturbar os artistas, durante a representao,salvo o direito de applaudir ou de reprovar, fasendo-o porem emtermos commedidos.Paragrapho 9 - No distribuir no recinto manuscriptos, impressosou gravuras, sem licena da autoridade que estiver presidindo aoespectaculo.Paragrapho 10 No recitar discursos nem fazer declaraes queperturbem a ordem e o socego publico.Paragrapho 11 No fazer motim ou assuada, nem praticar outrosquaesquer actos que interrompam a ordem e a segurana publica (A

    CIDADE, 23 mar. 1909, p. 1).

    Em maio de 1910 houve um desentendimento entre policiais que deseja-

    vam entrar no Paris Theatre a fim de vigiar o seu interior, e o seu empres-

    rio, Luiz Junqueira. Este assunto causou uma discusso entre os colunistas

    dos dois principais jornais da cidade sobre a real necessidade de tal medida,

    considerada at ofensiva contra os cidados de bem. O policiamento dos

    teatros era constante, com policiais destacados especialmente para essa

    funo.

    A censura aos cinemas foi outro assunto polmico numa poca em que o

    cinematgrafo se tornava a mais popular forma de diverso pblica. Havia

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    uma preocupao das autoridades e da sociedade em separar o joio do

    trigo, destinando s famlias os filmes que combinem com a sua moral e os

    seus costumes, e a preocupao em fazer do cinema um meio de educar apopulao, ao invs de servir degradao da sociedade".

    Publicao do Jornal A Cidade, 07/03/1905

    2.3. Circos A cidade era constantemente visitada por circos ehi i i T i

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    companhias equestres itinerantes. Tais empresas

    anunciavam suas atraes nos jornais, e consistiam

    basicamente em espetculos de variedades comcanonetistas, pantomimas com clowns, cantores e

    atores, animais adestrados, prestidigitadores, acroba-

    tas, etc. Tambm contavam com bandas prprias para

    acompanhar os espetculos. Estas companhias costu-

    mavam se instalar no Largo 13 de Maio, prximo aolocal onde a nova Catedral estava sendo construda.

    Apesar dos anncios por vezes serem grandes e suntu-

    osos, as atraes circenses no mereciam maiores

    comentrios nas pginas dos jornais. Os que visita-

    vam a cidade com maior frequncia eram o Circo

    Guarany, o Circo Chileno, o Circo Adelino, o Circo

    Americano e o Circo Clementino. No foi possvel

    confirmar atravs das fontes utilizadas as nacionalida-

    des indicadas pelos nomes ou, de modo geral, aorigem de tais circos. O mesmo se pode dizer em

    relao aos seus itinerrios apenas que, depois de

    passar por Ribeiro Preto, eles costumavam se dirigir

    a cidades menores da regio.

    Captulo 3: Profissionais da msicad i l i

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    3.1. Bandas e msicos locais

    Filhos de Euterpe, corporao musical. Maestro Jos nomes Delphino, naesquerda, em p. Componentes da corporao musical Filhos de Euterpeuniformizados, no centro, estandarte da corporao. Data: 1899. Fotgrafo:

    Mattos. (APHRP. Foto n. 153)

    Num perodo em que as gravaes sonoras eram uma novidade pouco

    difundida no meio estudado os msicos tinham uma importncia funda-

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    difundida no meio estudado, os msicos tinham uma importncia funda

    mental na difuso da msica. Estavam presentes em muitas atividades

    festivas, como bailes, comemoraes cvicas, festas escolares, retretasdomingueiras, espetculos teatrais, exibies de filmes, recepes de

    autoridades, etc. Eram trabalhadores praticamente onipresentes. Havia

    um frtil campo de trabalho para eles, embora a profissionalizao ainda

    fosse incipiente. A abundncia de msica ao vivo, consequentemente,

    deve ter levado a um grande consumo de instrumentos musicais e partitu-ras, embora esse comrcio no merecesse muito espao nos jornais, nem

    por parte de seus vendedores, que publicavam apenas anncios modestos.

    As corporaes musicais se constituam em associaes de msicos que

    formavam uma banda, com estatuto e uniforme prprios. Tais formaes

    musicais tiveram seu incio a partir de instituies militares, em meadosdo sculo XIX, e se expandiram pelo meio civil, que, a exemplo dos

    militares, utilizavam uniformes semelhantes (TINHORO, 1998, p.

    177-180).

    Eram contratadas para as mais diversas ocasies, principalmente bailes,comemoraes cvicas, festas religiosas e a costumeira retreta dominical

    no Jardim Pblico. Sem dvida, constituam a forma mais comum de

    acesso audio musical, e procuravam compor repertrios com trechos

    de peras e sinfonias, hinos cvicos, msica danante europia (valsas,

    mazurkas, schottishes), marchas, dobrados, tangos, habaneras. As msi-

    cas que saam desse padro eram consideradas exticas, e eram executa-

    das eventualmente

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    das eventualmente.

    A primeira banda de msica, a Banda So Sebastio, teria surgido em 1887,

    organizada pelo negro alfaiate Pedro Xavier de Paula. Em 1893, em notciasobre a Festa do Divino realizada nesta cidade, A iluminao e a musica,

    quer sacra, quer profana, esto a cargo do sr. Pedro Xavier de Paula (O

    SETIMO DISTRICTO, 19 abr. 1893, p. 1). Essa banda, no entanto, no

    apareceu mais nos noticirios.

    Segundo Rubem Cione (1987, p. 127), a banda Filhos de Euterpe tocou nainaugurao do Jardim Pblico, em 14 de julho de 1901, executando o Hino

    Nacional e a Marselhesa. Essa banda foi citada pela primeira vez em um

    anncio de 1903. Em 1905, a banda apareceu nas retretas domingueiras do

    Jardim Pblico, atividade que se tornaria assdua, tocando todos os anos do

    perodo estudado, menos em 1908 e 1909. Esta era a banda mais prestigiada

    e presente nos eventos noticiados. Num concurso promovido pelo jornal A

    Cidade, em agosto de 1909, para eleger a melhor banda, a Filhos de Euterpe

    ficou em 2 lugar, com 372 votos, perdendo para a Giacomo Puccini, ento

    responsvel pelas retretas dominicais, com 590 votos. Em terceiro lugarficou a Progressista Mogiana, com 53 votos (A CIDADE, 1909).

    Em 5 de julho de 1910, foi fundada a Sociedade Danante Familiar Maestro

    Jos Delfino, a fim de promover bailes recreativos. Em 14 de agosto do

    mesmo ano foi realizado o sarau de inaugurao, no Theatro Carlos Gomes.

    A escolha do nome foi uma homenagem ao maestro, j muito querido entre

    os ribeiropretanos.

    Jos Delfino Machado comps vrias msicas, frequentemente executadas

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    Jos Delfino Machado comps vrias msicas, frequentemente executadas

    pela banda, desde os seus primeiros anos de atividade. Em 1916, classificou

    duas composies no concurso da revista carioca O Malho: O americano(one step, 1 lugar) e A tua trancinha (scottisch, 3 lugar). Suas msicas eram

    comercializadas em partituras. No h notcias se Jos Delfino chegou a

    gravar msicas em disco.

    A Banda Bersaglieri teria surgido em 1894, organizada por Jos Munhai e

    composta por membros da colnia italiana. At 1910, quatro bandas seconsolidado na cidade: Filhos de Euterpe, Bersaglieri, Banda Progressista

    (Unio Progressista da Companhia Mogyana), Giacomo Puccini e talo-

    Brasileira (TUON, 1997, p. 93).

    A banda Giacomo Puccini apareceu no jornal A Cidade a partir de 1908,

    ano em que esteve presente nas apresentaes do Jardim Pblico, at dezem-

    bro de 1909, quando seu representante, o maestro Domingos Baccaro dirigiu

    ao prefeito um ofcio pedindo exonerao desta atividade, dizendo:

    [...] devido s e exclusivamente o accordo reciproco e contracto verbal,

    tem continuado at a presente data com o servio do Jardim Publico, oqual s tem dado muito pouco resultado pecuniario at a presente data.[...] sendo ella actualmente composta em quasi na sua totalidade denegociantes estabelecidos, os quaes quasi sempre no fim do annoconcorrem com impostos aos cofres municipaes; os exforos emprega-dos so o sacrificio e o fructo do mesmo trabalho; [...] (A CIDADE, 15

    dez. 1909, p. 2).

    Seus componentes, portanto, eram msicos amadores, que tinham como

    principal meio de vida outras atividades, pelo menos nesse momento. O

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    principal meio de vida outras atividades, pelo menos nesse momento. O

    maestro Domingos Baccaro, mais tarde, alm de maestro da orquestra do

    Eldorado Paulista, tornar-se-ia empresrio de entretenimentos. GiovanniGemme e Cunegundes Rangel, outros regentes da banda Giacomo Puccini,

    tambm eram compositores.

    Outra corporao de atividade destacada foi a Progressista Mogiana,

    formada por funcionrios da E.F. Mogiana, em 1910. Sua estria pblica

    aconteceu nas comemoraes de 1o de maio daquele ano nos anos seguin-tes a banda tambm tocaria durante as comemoraes do Dia do Trabalho.

    O mesmo concurso promovido pelo jornal A Cidade, que elegeu a melhor

    banda pelos leitores, elegeu tambm os melhores valsistas da cidade pelo

    voto popular. No est claro se o valsista seria o compositor ou intrprete

    de valsas, ou se a palavra se referia a msico em geral, ou danarino. de se

    supor que, se tais valsistas fossem mesmo msicos, eram participantes de

    alguma orquestra de teatro ou banda, ou professores de msica.

    Teatros e outros estabelecimentos de lazer e diverso, como circos, rinks de

    patinao, confeitarias e outros, costumavam manter bandas prprias paraanimar as suas funces acompanhar filmes e espetculos, ou simples-

    mente alegrar o ambiente. No h praticamente nenhuma informao sobre

    os componentes dessas bandas, apenas sobre os seus regentes. A msica era

    fundamental nesse tipo de ambiente, e mesmo os estabelecimentos que no

    dispunham de banda prpria contratavam msicos temporariamente. Em

    ocasies especiais as corporaes musicais tambm prestavam servios para

    os teatros e outros locais de diverso.

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    O Eldorado Paulista, enquanto pertenceu Empreza Cassoulet, possua

    uma orquestra, dirigida pelo maestro Domingos Baccaro, que mais tarde setornaria seu diretor, ao mesmo tempo continuando a exercer a funo de

    maestro. Em 1916, o Eldorado foi reaberto, e Domingos Baccaro passou a

    trabalhar ali na dupla funo.

    Em 1915, Giovane Gemme, que fora regente da banda Giacomo Puccini,

    voltou a Ribeiro Preto para dirigir a orquestra do Casino Antarctica, e foirecebido festivamente.

    A banda do Paris Theatre era regida por Sebastio Pimentel, logo aps a sua

    inaugurao. Em fevereiro de 1912, divulgou-se a notcia de que a sua

    orquestra era regida pela exma. sra. D. Lilia Mello (DIRIO da Manh,

    1. mar. 1912, p. 2). Em abril de 1914, noticiou-se que Guaycur Rangel era

    o diretor dessa orquestra.

    A regncia da orquestra do Bijou Theatre ficou por conta de Ormeno

    Gomes, sobrinho de Carlos Gomes . No Polytheama o maestro era Carlos

    Nardelli. O diretor da orquestra do Cine Odeon, em sua breve existncia, foiJos Delfino, que comps a marcha Odeon em sua homenagem.

    Os professores particulares de msica se ofereciam atravs de anncios

    modestos, mas frequentes, repetidos s vezes por meses, de forma idntica,

    ou renovados ano a ano. As aulas eram, principalmente, de piano, canto,

    solfejo e teoria, e instrumentos de cordas. Havia muitos estrangeiros ou

    5

    5

    descendentes, pois se apresentavam como tal ou tinham sobrenomes que

    indicavam a sua origem, principalmente italianos. Alguns trabalhavam em

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    Corporao Musicalregida pelo MaestroPedro Xavier de Paula,conhecido como PedroTudo - sentado, quarto daesquerda para a direita, debarba. Esta bandaparticipou de Ato Cvicoocorrido em 16/11/1889,em frente a CmaraMunicipal, comemorandoa Proclamao da

    Repblica. Data: 1890.Fotgrafo: PhotoAristides. (APHRP. Foton. 283)

    5.Componentes da orquestra: Maestro Travet, Jos Cicala, C. Pagnotti e Fioretti (quatroprimeiros violinos); Victor Collo (primeira flauta); Antonio Monteiro da Costa e Cassio Nardi

    (contrabaixos); J. Gugliotti (clarineta). THEATROS E... (A CIDADE, 1909, p. 1).

    bandas de teatros ou nas escolas da cidade.

    Em 1911, alguns msicos tomaram a iniciativa de buscar apoio para a

    fundao de um conservatrio musical na cidade, a fim de profissionalizar a

    educao musical, mas essa idia no chegou a ser concretizada no perodo

    estudado. frente dessa empreitada estavam dois maestros de destaque na

    cidade, Provesi e Jos Delfino, sendo que o primeiro j tinha uma experin-

    cia na direo de um conservatrio em Buenos Aires.

    Captulo 4: Comrcio de instrumentos,parturas, discos e gramofones

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    p , g

    Nos jornais era comum encontraranncios de venda e manuteno

    de instrumentos, partituras, gramo-

    fones e discos. Como j foi men-

    cionado, pelo fato de a msica aovivo ser a sua forma de difuso

    mais comum, a venda de instru-

    mentos e partituras, possivelmente,

    deve ter sido bastante expressiva,

    bem mais que a modesta presenados anncios dos vendedores nos

    jornais, e a quase completa ausn-

    cia de comentrios a esse respeito.

    Quanto aos gramofones e discos,

    os anncios eram fartos e detalha-dos. Os vendedores facilitavam a

    compra de gramofones dividindo

    em parcelas e formando clubes

    (consrcios).

    O que mais se destacava era o comrcio de pianos. Tais anncios eram

    repetidos diariamente por longos perodos que chegavam a meses, sem

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    reformulao, ou anos, de forma alternada e com algumas modificaes.

    Isso indica que o comrcio de pianos deveria ser bastante expressivo, e essesinstrumentos tinham a sua venda facilitada em diversas prestaes ou

    clubes. Tambm eram vendidas pianolas que tocavam sozinhas. Tantos

    pianos demandavam manuteno, que era realizada pelos afinadores e

    consertadores que passavam temporadas pela cidade, at se fixarem devido

    frequncia dos servios. Essa foi a maior evidncia encontrada sobre apianolatria detestvel mania por pianos que imperava no pas desde o

    sculo XIX, to criticada por Mrio de Andrade (s.d., p. 157). Ter um piano

    em casa representava status, e mesmo quem no sabia tocar poderia ter uma

    pianola em casa para animar as reunies e decorar a sala de estar. Algumas

    livrarias comercializavam partituras de modinhas (canes populares),

    como a Verissimo dos Santos, a Salles e a Internacional.

    Quanto ao comrcio de instrumentos na cidade, quase no havia anncios,

    mas, devido grande presena da msica ao vivo, a venda de instrumentos

    deveria ser numerosa. O primeiro anncio encontrado era de 1910, de umparticular vendendo um violino novo com caixa (A CIDADE, 21 abr.

    1910, p. 1). Depois desse, foram localizados outros anncios de particulares

    a fim de comercializar instrumentos usados (rgos, violinos, instrumentos

    para bandas, entre outros). O primeiro anncio de loja de instrumentos

    localizado foi publicado em 1911.

    A Casa Baruffi foi o nico estabelecimento comercial anunciante de instru-

    mentos. No Almanach Illustrado de Ribeiro Preto (1913-1914) apareceram

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    como fabricantes de instrumentos musicais Santiago G. Soares e Antonio

    Berlim.A Casa Bacarato, principal comerciante de discos e gramofones da cidade,

    tambm comercializava roupas, armarinhos e produtos de higiene pessoal.

    A partir de 1908 frequentemente anunciava seus produtos nos jornais as

    grandes novidades vindas de So Paulo e Rio de Janeiro, e os seus respec-

    tivos preos. Seus anncios traziam imagens de gramofones e tambmcostumavam ocupar uma grande parte das pginas (metade ou ). Alm

    destes, a partir de 1911, havia os anncios do Bazar Modelo, que tambm

    comercializava gramofones e discos, a Casa Brancato e a livraria Verissimo

    dos Santos. Os gramofones comercializados eram da Columbia, e sobre os

    discos h poucas informaes. Em um anncio de 1912 h o seguinte texto:

    Casa Bacarato

    Acaba de receber 50 gramophones e 5.000 discos: Columbia, Jumbo

    Record, Odeon e Victor cantados pelos artistas mais celebres do mundo.

    Escolhido repertorio para bailes, slos e rondolas, slos de accordeonexecutados pelos afamados Guido Doiro.

    Tendo de dar logar a outra remessa de discos, pedimos ao publico de apro-

    veitar o bello e grande sortimento (A CIDADE, 15 mai. 1912, p. 4).

    Apesar de relativamente recente, esse comrcio tornara-se bastante expres-

    sivo, como sugerem os nmeros desse e outros anncios semelhantes.

    4.1. Comrcio de pianos

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    Casas de So Paulo e Campinas anunciavam compra e venda de pianos,

    dando a entender que em Ribeiro Preto havia demanda para esse comrcio,mas no havia fornecimento local, ou este no era suficiente, abrindo uma

    brecha para a atividade dessas casas, que tambm trabalhavam com outros

    produtos. Os anncios tm o aspecto visual bem cuidado e ocupam um

    espao significativo na pgina do jornal. O primeiro anunciante foi a Casa

    Azul, de Campinas, em abril de 1905.A partir de outubro de 1908, surgiram os anncios da Casa Standard

    (atuava no Rio de Janeiro e em So Paulo, mas mantinha representantes na

    cidade) que se repetem por todo o perodo pesquisado, comercializando

    tambm armas e mquinas de escrever. Seus anncios se repetiam quase

    diariamente, at 1916. A partir de 1911 a Domingos Innechi & Filho, fabri-

    cante de mveis, tambm anunciva a venda e o aluguel de pianos novos e

    usados.

    Em 1913, aumentou a quantidade de vendedores de pianos, como a casa

    Abilio Murce & Cia., do Rio de Janeiro, com representante na cidade e aCasa Allem de Pianos, de So Paulo. J. Gonalves Lagosta, antes represen-

    tante da Casa Standard, esse ano revendia pianos direto da fbrica. Em

    novembro, anunciou-se a casa Pianos Bernardo Klauning. Em 1916, abriu-se

    uma nova casa, a primeira filial da fbrica nacional de pianos Isidoro

    Nardelli, de So Paulo. Seu gerente era o maestro Nardelli, que, devido

    coincidncia do sobrenome, possivelmente teria algum

    parentesco com o fundador da fbrica. Como era de costu-

    b di h d fi i

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    me, a casa tambm dispunha de uma oficina para conser-

    tos e reformas, e tambm comercializava partituras. Alm

    desses grandes vendedores, era comum que os particula-

    res anunciassem a venda de pianos usados, como tambm

    era comum a realizao de leiles, nos quais os pianos

    eram includos entre os bens.

    Anncios de consertadores e afinadores de pianos erammuito frequentes. Esses profissionais, na maioria das

    vezes, no residiam na cidade, apenas permaneciam por,

    no mximo, alguns meses. Os pianos necessitavam de

    apenas uma afinao por ano, por isso, os afinadores

    precisavam viajar de cidade em cidade em busca de traba-lho. Alguns desses profissionais tambm se diziam msi-

    cos e at maestros. Em 1915, j existia uma casa especiali-

    zada em conserto e afinao de pianos e outros instrumen-

    tos fixa na cidade: Afinadores e concertadores de pianos,

    pianolas, auto-pianos, violinos, orgams, etc. 112, Rua

    Duque de Caxias Telephone 239 Ribeiro Preto.

    Attendem a chamados para o interior e fazendas (A

    CIDADE, 15 ago. 1915, p. 2).

    Captulo 5: Msica e entretenimento comomeios de culto e educao

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    Muitos eventos cvicos e religiosos envolviam a msica. Tais eventostinham um papel edificante na vida dos cidados, de solidificar valores e

    prestar homenagens aos santos, aos heris da ptria e s instituies. As

    suas regras disciplinares j estavam implcitas no carter ritualstico desses

    eventos, embora quase sempre houvesse um certo carter profano ou de

    simples lazer.

    Capela Santo Antonio de Pdua ou Santo Antonio Po dos Pobres, localizada no incio da RuaSaldanha Marinho - atual Avenida da Saudade. Grupo de pessoas frente da capela, algumas

    com instrumentos musicais. Data: 1903. Fotgrafo:Joo Passig (APHRP. Foto n. 041)

    5.1. A msica nas escolas

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    A educao musical constitua parte importante da formao geral dos

    educandos. Disciplinas de msica e atividades musicais faziam parte doscurrculos, como matrias obrigatrias ou facultativas, da maioria das esco-

    las identificadas nas notcias e anncios.

    As escolas se mobilizavam para fazer festas em homenagem s datas

    cvicas e nos finais de ano letivo. Os eventos escolares, tanto as festas

    como outros mais corriqueiros como listas de alunos aprovados e reprova-

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    como outros mais corriqueiros, como listas de alunos aprovados e reprova

    dos, mudanas de professores, abertura de matrcula, mudana no horrio

    das aulas, etc., eram fartamente noticiados. Anncios de escolas particula-

    res tambm eram muito presentes.

    No Grupo Escolar as festas de encerramento do ano letivo eram suntuosas

    e mobilizavam empresas de entretenimento na sua organizao. Contavam

    com a presena da imprensa e de autoridades municipais. Os alunos apre-sentavam diversos nmeros como teatro, declamao de poemas, msica e

    dana, e um dia dedicado apenas aos esportes (festa gymnastica).

    Nos estabelecimentos particulares, o ano letivo tambm costumava ser

    encerrado com suntuosas festas e um longo programa de apresentaes de

    alunos e professores, alm da exposio de trabalhos manuais ali executa-dos, e outras atividades.

    Havia outras festas realizadas nas escolas, como a Festa das Aves (em

    abril, no Grupo Escolar) e a Festa das rvores (em setembro, no Grupo

    Escolar), e as comemoraes cvicas do calendrio. Tais festas cumpriam

    um ritual solene, com a participao dos diretores e do corpo docente,

    cantavam-se hinos ptrios e, em alguns casos, havia tambm oraes.

    5.2. Comemoraes cvicas

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    As comemoraes cvicas aconteciam nas ruas, principalmente no Jardim

    Pblico, nas escolas ou com a participao das mesmas, nas associaes,estabelecimentos pblicos e nos teatros. Havia, nesses locais, desfiles e

    carreatas, com a presena das corporaes musicais, sesses solenes com

    conferncias e discursos sobre a importncia de tais datas, espetculos,

    bailes, etc. As datas comemoradas anualmente eram os dias 21 de abril

    (feriado institudo em 1911), 3 de maio (antiga data estabelecida para achegada dos portugueses ao Brasil), 14 de julho (Revoluo Francesa), 7 de

    setembro (Independncia), 15 de novembro (Proclamao da Repblica) e

    19 de novembro (Dia da Bandeira).

    O Dia do Trabalho era comemorado de forma festiva pelas associaes de

    trabalhadores, que lideravam passeatas, promoviam solenidades, alvoradas,

    retretas e bailes. A banda Unio Progressista, dos operrios da Companhia

    Mogiana fez sua primeira apresentao no Jardim Pblico, em 1 de maio de

    1909. Por vezes tambm eram promovidos nos teatros espetculos de gala e

    sesses especiais de cinema em homenagem aos trabalhadores.A comemorao do dia 3 de maio era mais sbria e modesta, com o hastea-

    mento da Bandeira Nacional nos estabelecimentos e solenidades formais. A

    abolio da escravido, no dia 13 de maio, era comemorada de forma mais

    festiva. Havia bailes e espetculos nos teatros. Os ex-escravos e seus

    descendentes faziam suas prprias comemoraes, que por vezes apareciam

    nos jornais.

    As comemoraes da Revoluo Francesa eram feitas com retretas, soleni-

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    ,

    dades em vrias instituies (escolas, associaes, etc.) e bailes. O maior

    entusiasta das comemoraes dessa data era FranoisEm 20 de setembro era comemorada a unificao da Itlia pela numerosa

    populao de italianos e descendentes. As associaes de imigrantes, como

    a Patria i Lavoro, tomavam a frente na organizao dos festejos, que se

    constituam de quermesses, retretas, alvoradas, passeatas, solenidades,bailes. Os cinemas tambm exibiam fitas especiais em comemorao data.

    Em 1914, as comemoraes foram suspensas devido conflagrao da

    Primeira Guerra Mundial. A partir de ento no h mais registro da come-

    morao de 20 de setembro at 1917.

    Nas comemoraes da Proclamao da Repblica e do Dia da Bandeirahavia os rituais de costume: alvorada, execuo dos hinos ptrios, retreta,

    sesses solenes, hasteamento da bandeira nacional, passeatas e bailes. As

    escolas, por vezes, organizavam festas de maiores propores, com discur-

    sos, declamao de poemas, msica e dana por parte dos alunos e professo-

    res.

    5.3. Comemoraes religiosas

    Os festejos religiosos consistiam de missas e procisses, que algumas

    d h d b d Al d i i

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    vezes eram cantadas ou acompanhadas por bandas. Alm dos rituais

    propriamente religiosos, havia a parte profana, constituda por quermesses,retretas, bailes, leiles de prendas para arrecadar fundos para as igrejas, e

    outros divertimentos. As principais datas comemoradas anualmente eram as

    festas de So Sebastio, de So Jos, a Semana Santa, as festas juninas e da

    Consolao.

    As festas dedicadas a So Sebastio aconteciam no dia 20 de janeiro, oupor volta dessa data, e as suas comemoraes envolviam sermo, missa,

    procisso e leilo de prendas. Em Villa Bonfim (atual Bonfim Paulista)

    aconteciam as maiores festas dedicadas ao santo.

    Na Semana Santa no havia festejos profanos, ou eram muito reduzidos. As

    solenidades religiosas eram promovidas pela igreja de So Jos, dos padres

    agostinianos, ou pela Catedral. Havia cerimnia de lava-ps, ofcio de trevas

    cantado, missa e procisso. Os teatros apresentavam programao diferen-

    ciada, com filmes inspirados em temas bblicos.

    A Festa da Consolao era comemorada entre agosto e setembro, comnovenas, solenidades e missa cantada, na Igreja So Jos. As ladainhas

    sero acompanhadas com canticos, ficando a parte musical confiada a

    orchestra daquelle templo (A CIDADE, 19 ago. 1911, p. 1).

    Na primeira pgina do jornal O setimo districto, de 19 de abril de 1893,

    temos a notcia de uma Festa do Divino, a nica

    encontrada nas fontes estudadas.

    O ms de maio era dedicado Virgem Maria, e

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    esse perodo era chamado de Ms Mariano,

    durante o qual havia vrios cultos, algumas vezesacompanhados por msica. Havia o coroamento

    da Virgem, missas e outros rituais sacros.

    As festas juninas, dedicadas a So Joo, So

    Pedro e Santo Antnio, constituem uma das mais

    fortes tradies religiosas nacionais, e costumam

    ser comemoradas com quermesses e divertimen-

    tos profanos, alm da parte religiosa. As festas

    juninas de maior destaque aconteciam na Villa

    Bonfim. interessante notar como a Villa Bonfim, um

    povoado menor e certamente mais ligado as

    tradies rurais, concentrava as festas mais

    expressivas de carter religioso. Ali, pelo que se

    pode notar pelas notcias e anncios dos jornais,a presena de espetculos e cinematgrafos itine-

    rantes era eventual, e a ausncia do lazer mercan-

    tilizado pode ser uma explicao para a impor-

    tncia das festas religiosas.

    Capitulo 6. O carnaval

    De acordo com a Enciclopdia da Msica Brasileira:

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    De acordo com a Enciclopdia da Msica Brasileira:

    [O Carnaval] Foi introduzido no Brasil pelos portugueses, com onome de entrudo (de introitus, comeo, entrada, nome com que aIgreja catlica designava as solenidades litrgicas da Quaresma,quando se exige retirada da carne, base mrfica admitida para carna-val e formas afins de vrias lnguas modernas). Brincadeira de ruasuja e violenta, muito praticada pelos negros escravos desde o sc.

    XVIII, o entrudo passou a coexistir com o Carnaval moderno, inspi-rado em modelo europeu, a partir dos bailes de mscaras, principal-mente em teatros (o primeiro foi realizado no Rio de Janeiro RJ em1840), e dos desfiles de carros alegricos, iniciados em 1854, aindano Rio de Janeiro, sob o patrocnio do escritor Jos de Alencar.Durante o entrudo dos negros e das camadas populares, e assim no

    Carnaval das novas camadas da classe mdia da segunda metade dosculo XIX, folies danavam cantavam nas ruas quadrinhas deautores annimos, ao ritmo de percusso, danando nos sales aosom geralmente de bandas, que tocavam os gneros europeus dapoca, principalmente a polca, o xtis [schottish], a valsa e a mazur-ca (ENCICLOPDIA da Msica Brasileira, 1998, p. 162).

    De acordo com a mesma Enciclopdia, msicas brasileiras compostas

    especialmente para o Carnaval surgiram a partir da dcada de 1880.

    As notcias colocam os comerciantes do centro da cidade como os maiores

    entusiastas na organizao do carnaval. Muitas lojas anunciavam nos

    jornais produtos de poca como fantasias, confetes, serpentinas e lana-

    perfume.

    Antes do carnaval, ainda no ms de janeiro, havia o desfile de Zs-Pereira

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    abrindo os festejos. Bandas percorriam as ruas tocando e acompanhando os

    desfiles e os corsos ao redor do Jardim Pblico, onde tambm aconteciam asbatalhas de confete e o entrudo brincadeira criminalizada pelos Cdigos

    de Posturas de 1889 e 1902, considerada ofensiva e de mau gosto. Nos

    teatros havia bailes, e os festejos costumavam ser promovidos por iniciativa

    de clubs carnavalescos, constitudos para essa finalidade, que muitas vezes

    tinham durao efmera.

    Os jornais reservavam um amplo espao para o carnaval. Alm da progra-

    mao e dos editais da polcia que saam por vrios dias, tambm eram

    publicados comentrios e crnicas sobre os festejos. A polcia publicava nos

    jornais e afixava em cartazes pela cidade uma srie de regras a fim demanter a ordem e evitar abusos.

    Em 1909, uma grande quermesse promovida pela Sociedade Unio dos

    Viajantes tomou o Jardim Pblico e o seu entorno, lugar onde habitualmente

    ocorria o carnaval de rua. Por esse motivo, e possivelmente devido aos

    excessos do entrudo em anos anteriores, o carnaval de rua suspenso, causan-do frustrao aos folies. Os bailes continuaram acontecendo. Em 1910, o

    carnaval de rua estava de volta, com a devida organizao.

    Ainda no ms de janeiro de 1910, o Club dos Lords (organizado e mantido

    principalmente por comerciantes da cidade) j saia pelas ruas em seu Z

    Pereira (A CIDADE, 15 jan. 1910, p. 2). Alm deste, o Club do 7o Ceu

    tambm desfilou seu Z Pereira em janeiro. Deste carnaval participou

    tambm o Club dos Criticos Luso-Brasileiros, fundado no final de janeiro

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    desse ano, formado tambm por comerciantes. Do cortejo carnavalesco

    fizeram parte 12 carros do Club dos Lords, mais 15 do Club dos Criticos.Em 1911, o Z Pereira do Club das Sapas abriu os festejos carnavalescos

    em 22 de janeiro. Nesse ano no houve a publicao de uma programao

    do carnaval, mas possvel saber que houve carnaval de rua, com batalha

    de confetes no Jardim Pblico. Nenhum clube se destacou na organizao

    do carnaval, como o Club dos Lords, no anterior.

    Em 1913, o Club dos Democraticos Carnavalescos organizou e abriu os

    festejos com bailes no teatro Polytheama, em 25 e 26 de janeiro. As

    notcias daquele ano relatavam os festejos dos dias de carnaval como nos

    anos anteriores, com prstitos, cortejos e bailes, centralizados no JardimPblico.

    No ano de 1915, houve os mesmos festejos dos anos anteriores, com

    prstitos, cortejos e bailes. Embora as notcias afirmem o contrrio, pelas

    informaes trazidas pelas mesmas podemos constatar que ano a ano os

    carnavais tm sido mais modestos. Neste, citado o Club Vae ou Racha,do bairro Santa Cruz de Jos Jacques, porm mais uma vez nenhum se

    destacou. Em 1916, houve bailes organizados pelo Club dos Casacas

    Vermelhas no teatro Carlos Gomes, cortejo e batalha de confetes no

    Jardim. Em 1917, as notcias sobre o carnaval foram ainda mais escassas,

    dando a entender que a data se passou sem grande destaque e com poucos

    festejos. Houve bailes no Polytheama, no Casino Antarctica e cortejo pelas

    ruas.

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    Como pudemos observar, apesar das tentativas de ordenao, os carnavais

    eram comemorados com alguma extravagncia devido s transgresses proibio do entrudo. O Carnaval comeava praticamente em janeiro, com

    a sada dos Zs-Pereira, e era comemorado com bastante entusiasmo, que

    com o passar dos anos foi se arrefecendo. Era uma oportunidade para as

    classes mais abastadas exibirem carros enfeitados, fantasias suntuosas e

    frequentar bailes que o povo certamente no tinha acesso mais uma vez

    vemos a dinmica palco-platia se manifestar, em que uns se exibem fazen-

    do o papel de atores do teatro urbano e outros fazendo o papel de

    platia, servindo de assistncia para tais exibies. Percebemos tambm

    que as referncias s msicas executadas no carnaval so escassas. Pelasfontes podemos saber apenas que a presena de bandas animando os bailes,

    prstitos e corsos era constante, e repertrio foi pouco mencionado, mas

    pelas poucas referncias pareciam repetir os gneros musicais de costume.

    Captulo 7: Outras formas de socializao pelamsica: bailes e saraus, festas e serenatas

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    Sociedade Musical Carlos Gomes, membros fundadores. No centro, sentado, de bigode, o

    maestro Joaquim Rangel.Data: 1938. Fotgrafo: Photo Aristides. (APHRP. Foto n.118)

    Os bailes (festas danantes realizadas em sales) eram uma forma de

    entretenimento muito comum entre toda a populao. Existiam associaes

    constitudas com a finalidade exclusiva de promove