a mulher pesquisadora e sua invisibilidade nos … · 2018-01-17 · ... uma diretoria, um conselho...

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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X A MULHER PESQUISADORA E SUA INVISIBILIDADE NOS CAMPOS DA MATEMÁTICA E DA FÍSICA Maria Gabriela Evangelista Soares da Silva/a 1 Resumo: No Brasil, as mulheres tiveram muitas conquistas na educação formal e no mercado de trabalho no decorrer do século XX. Contudo, hoje, apesar delas já representarem a maioria em matrícula e conclusão nos cursos de graduação; há uma forte desigualdade entre homens e mulheres evidenciada principalmente no campo das ciências exatas. Consequentemente, esse cenário se reflete no mercado de trabalho ao observar a atuação das mulheres como pesquisadoras. O presente artigo tem por objetivo verificar com que intensidade essa desigualdade está presente na área das ciências exatas, focando no campo da matemática e da física, através da investigação da participação feminina no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). A metodologia baseou-se na análise quantitativa atual de pesquisadores, por gênero, em suas diferentes categorias e na estrutura administrativa dessas instituições. A pesquisa identificou a presença dominantemente masculina, especialmente nos cargos mais elevados. Diante disso, percebe-se que na divisão sexual do trabalho, as mulheres estão sujeitas ao chamado “teto de vidro”, que são as barreiras invisíveis que as impedem de ascender na área da pesquisa nesses campos. Assim, constata-se a necessidade de políticas que contribuam para mudanças nesse cenário, visando ampliar o campo de atuação profissional das mulheres na pesquisa científica e, permitindo que os temas de estudo contemplem cada vez mais os interesses femininos. Palavras-chave: Pesquisa, mulheres, matemática, física Mulher nas Ciências No Brasil, as mulheres tiveram muitas conquistas no campo da educação formal e no mercado de trabalho no decorrer do século XX. Contudo, ao analisar tanto a trajetória acadêmica quanto a profissional, percebe-se que esse processo não se deu de maneira igualitária ao dos homens. Atualmente, as mulheres já representam a maioria em conclusão nos cursos de nível superior, como pode ser observado através dos dados do senso de 2015, disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em que o número de mulheres concluintes, nas universidades públicas equivale a 59%, enquanto o de homens é de 41%; E nas universidades particulares, os valores são de 62% e de 38%, respectivamente. Contudo, ao analisar a presença feminina nos diversos cursos da universidade, percebe-se que em algumas áreas, ela tem pouca representatividade, como no campo das ciências exatas, especificamente na física e na matemática, que são os objetos dessa pesquisa. 1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

A MULHER PESQUISADORA E SUA INVISIBILIDADE NOS CAMPOS DA

MATEMÁTICA E DA FÍSICA

Maria Gabriela Evangelista Soares da Silva/a1

Resumo: No Brasil, as mulheres tiveram muitas conquistas na educação formal e no mercado de trabalho no

decorrer do século XX. Contudo, hoje, apesar delas já representarem a maioria em matrícula e conclusão nos

cursos de graduação; há uma forte desigualdade entre homens e mulheres evidenciada principalmente no campo

das ciências exatas. Consequentemente, esse cenário se reflete no mercado de trabalho ao observar a atuação das

mulheres como pesquisadoras. O presente artigo tem por objetivo verificar com que intensidade essa

desigualdade está presente na área das ciências exatas, focando no campo da matemática e da física, através da

investigação da participação feminina no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e no Centro

Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). A metodologia baseou-se na análise quantitativa atual de pesquisadores,

por gênero, em suas diferentes categorias e na estrutura administrativa dessas instituições. A pesquisa

identificou a presença dominantemente masculina, especialmente nos cargos mais elevados. Diante disso,

percebe-se que na divisão sexual do trabalho, as mulheres estão sujeitas ao chamado “teto de vidro”, que são as

barreiras invisíveis que as impedem de ascender na área da pesquisa nesses campos. Assim, constata-se a

necessidade de políticas que contribuam para mudanças nesse cenário, visando ampliar o campo de atuação

profissional das mulheres na pesquisa científica e, permitindo que os temas de estudo contemplem cada vez mais

os interesses femininos.

Palavras-chave: Pesquisa, mulheres, matemática, física

Mulher nas Ciências

No Brasil, as mulheres tiveram muitas conquistas no campo da educação formal e no

mercado de trabalho no decorrer do século XX. Contudo, ao analisar tanto a trajetória

acadêmica quanto a profissional, percebe-se que esse processo não se deu de maneira

igualitária ao dos homens.

Atualmente, as mulheres já representam a maioria em conclusão nos cursos de nível

superior, como pode ser observado através dos dados do senso de 2015, disponibilizados pelo

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em que o

número de mulheres concluintes, nas universidades públicas equivale a 59%, enquanto o de

homens é de 41%; E nas universidades particulares, os valores são de 62% e de 38%,

respectivamente.

Contudo, ao analisar a presença feminina nos diversos cursos da universidade,

percebe-se que em algumas áreas, ela tem pouca representatividade, como no campo das

ciências exatas, especificamente na física e na matemática, que são os objetos dessa pesquisa.

1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.

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Esse cenário, consequentemente, se reflete no mercado de trabalho ao observar a

atuação das mulheres como pesquisadoras nessas mesmas áreas. Além disso, a disparidade

aumenta a medida que se elevam os cargos dentro das instituições.

O entendimento dessa disparidade exige a compreensão de alguns conceitos que estão

interligados como gênero, divisão sexual do trabalho, segregação horizontal e vertical.

O gênero, segundo Bullock (p.1, 1994), é o termo utilizado na compreensão da relação

entre homens e mulheres, que apesar de se basear em aspectos biológicos, também é

influenciado pelos aspectos sociais e culturais. Nesse sentido, tanto ao gênero feminino

quanto ao masculino são atribuídos comportamentos e atividades que são culturalmente

aceitos em determinado lugar e época.

Diante dessa perspectiva, pode-se compreender o acesso das mulheres às

universidades que só passou a ser legalmente aceito em 1879; enquanto aos homens era

permitido desde a criação da primeira instituição. Já aceitação cultural demorou mais algumas

décadas para ocorrer, até chegar ao atual momento, em que essa questão está totalmente

ultrapassada.

A questão de gênero contribuiu fortemente para a divisão sexual do trabalho, na qual

cabia às mulheres o cuidado do filho, do marido e da casa; e ao homem, a atividade

econômica que garantisse recursos financeiros para o sustento da família. Fator que excluiu,

por décadas, a mulher do mercado de trabalho.

Posteriormente, quando a mulher teve acesso a esse mercado, o gênero continuou

determinando a sua área de atuação, pois a elas eram atribuídos os empregos que se

relacionavam com as atividades culturalmente aceitas para as mulheres, refletindo em

empregos como, por exemplo, os de professoras, enfermeiras, faxineiras, cozinheiras, entre

outros similares.

Esses fatores, perpetuados por gerações, foram determinantes para centralizar a

escolha das mulheres em determinados cursos universitários; E essa é uma barreira que ainda

precisa ser ultrapassada.

Nesse sentido, pode-se abordar o conceito de segregação horizontal, que do ponto de

vista da escolha do curso acadêmico, segundo Olinto (2011) inclui mecanismos que fazem

com que as escolhas de carreiras sejam marcadamente segmentadas por gênero. E, do ponto

de vista do mercado de trabalho, determina que as mulheres se concentrem em setores que

oferecem menores remunerações e prestígio social.

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Com base nesse contexto, podemos analisar a exclusão das mulheres no campo das

ciências exatas, que perdurou por aproximadamente mais vinte anos, após o acesso das

mulheres à universidade. A primeira mulher a se formar nessa área foi Edwiges Maria Becker

Hom'meil, em 1917, pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, no curso de engenharia.

No campo da física, foi Yolande Anna Esther Monteux, em 1937, pela Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP).

Já no campo da matemática, Maria Laura Mouzinho Leite Lopes foi a primeira a se

licenciar, pela Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, hoje Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1942.

A segregação vertical está relacionada com a ascensão hierárquica dentro da carreira

escolhida. Bullock (p. 27, 1994) afirma que: mesmo nos empregos que são de alguma maneira

misturados, as mulheres ocupam as posições com menos responsabilidades, menos seguras e

menos bem pagas; e até mesmo quando a profissão é majoritariamente feminina, os homens

ainda sim se encontram em posições de gerência2.

Nesse panorama, as mulheres que se dedicam à pesquisa, muitas vezes não conseguem

ocupar os cargos de pesquisadores mais conceituados ou os de liderança dentro das

instituições.

Diante dessa análise, o presente trabalho objetiva verificar com que intensidade essa

desigualdade está presente na área das ciências exatas, focando no campo da matemática e da

física, através da investigação da participação feminina na atual estrutura do Instituto

Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas

(CBPF).

A metodologia utilizada baseou-se na análise quantitativa de pesquisadores, por

gênero, em suas diferentes categorias e na estrutura administrativa dessas instituições. O

diagnóstico foi feito por meio dos dados disponibilizados no sítio eletrônico das duas

instituições.

Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)

O Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) foi fundado em 15 de janeiro de

1949, pelos físicos renomados Cesar Lattes; José Leite Lopes; e Jayme Tiomno.

2 “even where an occupation is to some extent mixed, women are usually in the less responsible, less

secure and less well-paid jobs; where an occupation is predominantly female, men are still often found in the

management positions”

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A instituição foi pioneira na pesquisa em física experimental e teórica, sendo

responsável pelo desenvolvimento da física no Brasil, com a formação dos primeiros físicos

brasileiros.

A partir de 1976, o CBPF passou a integrar o Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq), que, por ventura, assumiu seu custeio. E, em 2000, ele

passou a ser gerido pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCTI).

O CBPF tem por finalidade, segundo o artigo 4º, do seu Regimento Interno (RI),

“realizar pesquisa básica em física e desenvolver suas aplicações, atuando como instituto

nacional de física do MCTIC e polo de investigação científica e formação, treinamento e

aperfeiçoamento de pessoal científico”.

A estrutura organizacional da instituição tem, na composição de sua administração

geral, uma Diretoria, um Conselho Técnico-Científico e um Comitê Científico Assessor –

COCI, que caracteriza-se como um órgão consultivo.

Além de oito coordenações: Coordenação de Física de Altas Energias; Coordenação

de Materiais, Nanociências e Física Aplicada; Coordenação de Física Teórica; Coordenação

de Cosmologia, Astrofísica e Interações Fundamentais; Coordenação de Desenvolvimento

Tecnológico; Coordenação de Formação Científica; Coordenação de Ações Institucionais; e a

Coordenação de Administração.

Na área da formação educacional, o CBPF atua desde 1962. Atualmente, oferece

programas de pós-graduação a nível profissional e acadêmico. No primeiro tem o curso de

mestrado profissional em física, com ênfase em instrumentação científica; No segundo, os

cursos de mestrado e doutorado; e a instituição ainda oferece curso de pós-doutorado.

O CBPF completou 68 anos de atuação e continua sendo uma instituição de referência

no campo da física, tanto a nível de formação quanto a nível de pesquisa e produção

científica, no Brasil. Isso justifica a escolha do mesmo para a análise da representatividade da

mulher no campo da física.

A interpretação das tabelas abaixo permite uma melhor compreensão sobre a

participação da mulher como pesquisadora e nos demais cargos da estrutura administrativa da

instituição.

A tabela 1 representa a porcentagem de mulheres e homens nos cargos relacionados

com a área de pesquisa do CBPF.

Tabela 1: Porcentagem de homens e mulher por cargo no CBPF.

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Cargos Homem Mulher

Pesquisadores 91% 9%

Pesquisadores Eméritos 100% 0%

Tecnologistas 87,5% 12,5%

Analistas 13% 87%

Assistentes 38% 62%

Técnicos 76% 24%

Apoio Operacional 57% 43%

Fonte: Elaboração da autora com dados do CBPF. Disponível

em:<http://portal.cbpf.br/servidores/pesquisadores> Acesso em: 10 de maio de 2017.

Os pré-requisitos e as competências dos cargos listados na tabela são definidos pela

Lei n°8.691, de 28 de julho de 1993.

Com base nela pode-se identificar que as exigências mínimas para os cargos

analisados são as que seguem: Pesquisador - doutorado; Tecnologista e Analista - nível

superior ou mestrado e doutorado, dependendo da subdivisão da categoria; Técnico e

Assistente - ensino médio completo e conhecimentos específicos ao cargo; e o cargo de Apoio

Operacional - ensino médio.

A análise da tabela também permite observar que as categorias mais excludentes para

as mulheres são as de Pesquisador, Pesquisador Emérito, Tecnologista e Técnico. Os dois

primeiros tem a exigência mínima do doutorado. O terceiro exige somente o ensino superior,

mas em sua subdivisão, passa a exigir uma maior qualificação. O cargo de técnico apesar de

ter como pré-requisito o nível médio, ele também exige curso técnico em áreas específicas das

ciências exatas, o que contribui para a menor participação feminina.

As mulheres se destacam no cargo de Analista, que exige uma formação de nível

superior ao doutorado. Elas também se destacam como Assistentes, que tem uma exigência

menor a nível de formação.

A única categoria – Apoio Operacional – é a que traz um equilíbrio, podendo ser

atribuído à exigência de formação a nível médio.

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Uma observação mais apurada dos dados permite perceber que para os cargos com

exigência mínima de ensino superior, as mulheres representam 17% do total, enquanto os

homens são 83%. Já nos cargos de nível médio, elas são 43% e eles 57%. Apesar de não

serem maioria em nenhuma categoria, a de menor qualificação profissional, permite uma

aproximação no quantitativo de representatividade.

A tabela 2 apresenta a representatividade feminina na estrutura administrativa do

CBPF.

Tabela 2: Porcentagem de homens e mulher nos cargos da estrutura administrativa do CBPF.

Cargo Homem Mulher

Diretoria 100% 0%

Conselho técnico-científico 100% 0%

Conselho Científico Assessor 86% 14%

Coordenador Titular/ Substituto 94% 6%

Fonte: Elaboração da autora com dados do CBPF. Disponível em:<http://portal.cbpf.br/sobre-o-cbpfres> Acesso

em: 10 de maio de 2017.

O CBPF possui oito coordenações e cada uma delas possui um coordenador titular e

um substituto. A análise dos dados da tabela acima expõe que nenhum coordenador titular é

mulher e dos coordenadores substitutos, apenas uma é mulher.

Além disso, na administração geral, a Diretoria é composta por um diretor homem e

por um substituto também do sexo masculino; O Conselho Técnico-Científico é coordenado

por um homem e possui mais 8 homens em sua equipe e o Comitê Científico Assessor, que é

composto por membros de todas as categorias, tem um homem como diretor e mais dezoito

como membros, ao passo que as mulheres só possuem três representantes.

Assim, pode-se verificar que que a representatividade feminina é pequena tanto no

nível de pesquisadores, quanto na atual estrutura administrativa da instituição.

Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA)

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O IMPA foi criado em 1952 pelo Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), tendo

como objetivo o incentivo à pesquisa científica em matemática, à formação de novos

pesquisadores, e à difusão e aprimoramento da cultura matemática, valorizando o caráter

nacional.

A fundação da instituição é associada a Lélio Gama, engenheiro (astrônomo e

matemático) formado pela Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro

(UFRJ); Leopoldo Nachbin, engenheiro civil pela Escola Nacional de engenharia da UFRJ e

Maurício Peixoto, engenheiro civil pela Escola Nacional de Engenharia da Universidade do

Brasil, que também formaram o quadro inicial de pesquisadores, sendo Lélio, o primeiro

diretor.

O instituto não possuía sede própria no ano de sua criação e ficou localizado dentro do

Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) até 1957, quando transferiu-se para um prédio

em Botafogo, onde permaneceu por 10 (dez) anos. Posteriormente, a nova sede foi um prédio

histórico no centro do Rio de Janeiro, onde ficou instalado até 1981 quando se mudou para a

sede atual, no bairro do Jardim Botânico.

Em 1957, o instituto passou a realizar o Colóquio Brasileiro de Matemática e isso lhe

garantiu a consolidação de um prestígio acadêmico, aumentando cada vez mais o número de

participantes.

Em 1962, por meio de uma parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro

(UFRJ), o IMPA passou a oferecer cursos de mestrado e doutorado; mas somente a partir de

1971, passou a outorgar, por conta própria, os graus de mestre e doutor.

No quadro de diretores pode-se destacar Lindolpho de Carvalho Dias, no período de

1966 a 1969, de 1971 a 1979, e também de 1980 a 1989; Elon Lages Lima ocupou o cargo de

1969 a 1971, de 1979 a 1980 e de 1989 a 1993; Jacob Palms foi diretor de 1993 a 2003; e

César Camacho ocupou o cargo de 2003 até 2015; e, atualmente, a direção está sob

responsabilidade de Marcelo Viana.

A década de 70 foi um período importante para o IMPA, pois devido aos recursos

financeiros oriundos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), da

Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e do próprio CNPq, a instituição passou a ter a

possibilidade de formar seu quadro permanente de pesquisadores; estabeleceu programas

regulares de mestrado e doutorado e ampliou a sua área de atuação.

A partir desse período, a instituição continuou a se desenvolver, acrescentando novas

atividades como os cursos de reciclagem para professores do ensino básico; cursos de pós-

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doutorado; publicação de material didático; além de apoio aos programas da Sociedade

Brasileira de Matemática como a Olimpíada de Matemática.

O conjunto de todas essas atividades contribuíram para garantir o reconhecimento

nacional e internacional que a instituição possui. O que pode ser verificado na descrição de

sua história no sítio eletrônico do IMPA quando afirmam:

Seus alunos de doutorado são oriundos de mais de uma

dezena de países da América Latina e da Europa. Foi

designado como Centro de Excelência para o Pós-

Doutorado, em nível internacional, pela Third World

Academy of Sciences (TWAS). É sede permanente da

Sociedade Brasileira de Matemática, criada em 1969, e da

União Internacional de Matemática, de 1990 a 1998, o que

ocorre pela primeira vez fora dos países da Europa

Ocidental e América do Norte. (...) Os pesquisadores do IMPA têm merecido inúmeros

prêmios de âmbito nacional e internacional, (...). Muitos

deles são membros da Academia Brasileira de Ciências e

possuem graus honoríficos de universidades. Por outro

lado, mais de noventa por cento deles desfrutam de bolsas

de pesquisa do CNPq. Tudo isto faz com que o IMPA seja

considerado hoje o instituto de matemática de maior

prestígio na América Latina e de padrão científico

semelhante às melhores instituições dos países

desenvolvidos. (Disponível

em:<https://impa.br/sobre/historia/> Acesso em: 19 de

abril de 2017)

A estrutura organizacional principal do IMPA é composta pelo Conselho de

Administração, Diretoria e Conselho Técnico-Científico; sendo seguida pelas coordenações

de: Informática Científica; Atividades Científicas; Ensino; Administração; Informática;

Planejamento e Projetos; Projetos Especiais e Financeira.

A análise das tabelas abaixo permite dimensionar a participação feminina dentro dessa

estrututa.

Tabela 3: Porcentagem de homens e mulheres nos cargos da estrutura administrativa do IMPA.

Estrutura Administrativa Homem Mulher

Conselho de Administração 100% 0%

Diretoria 100% 0%

Conselho Técnico Científico 92% 8%

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Coordenações 88.5% 12,5%

Fonte: Elaboração da autora com dados do IMPA Disponível em:<https://impa.br/sobre/estrutura-

organizacional/> Acesso em: 17 de maio de 2017.

O Conselho de Administração, segundo o estatuto do IMPA, constitui-se como órgão

máximo, sendo responsável pelas deliberações sobre o planejamento estratégico,

coordenação, controle e avaliação globais. Ele é formado por dez (10) membros,

caracterizados como pessoas de notória capacidade e reconhecida idoneidade moral.

A Diretoria é composta por um diretor geral, um substituto, uma assessora e duas

secretárias. Ela tem por competência dirigir a associção, promovendo o bom desempenho das

ações necessárias ao alcance de sua missão, em conformidade com os princípios e diretrizes

que regem a instituição; e supervisionar, coordenar, controlar as unidades organizacionais

integrantes da estrutura.

O Conselho Técnico-Científico (CTC), segundo o regimento interno, é órgão de

assessoramento da Diretoria e do Conselho de Administração. Por delegação do Conselho de

Administração, possui caráter deliberativo em assuntos relativos ao ensino e à pesquisa da

Instituição.

A observação dos dados permite aferir que não há representatividade feminina no

Conselho de Administração e nem nos cargos mais elevados da Diretoria, estando as mulheres

representadas apenas nos cargos de assessora e secretária. O CTC, conta com a presença de

uma única mulher, dentro de um total de doze (12) membros; Já dentre as coordenações,

apenas uma é dirigida por uma mulher.

A tabela abaixo traz o resultado da análise da porcentagem de homens e mulheres nas

diferentes categorias de pesquisadores do IMPA.

Tabela 4: Porcentagem de homens e mulheres nos cargos de pesquisadores do IMPA.

Pesquisadores Homem Mulher

Corpo Científico 97,5% 2,5%

Emérito 100% 0%

Honorário 100% 0%

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Extraordinário 100% 0%

Visitante 88% 12%

Fonte: Elaboração da autora com dados do IMPA Disponível em:<https://impa.br/pessoas-do-impa/> Acesso em:

17 de maio de 2017.

Os dados mostram que não há mulheres entre os pesquisadores emérito, honorário e

extraordinário, enquanto os homens possuem 4, 3 e 2 representantes, respectivamente.

No Corpo Científico, do total de 40 membros, há apenas uma mulher; Já dentre os

pesquisadores visitantes, dos 85, 10 são do sexo feminino.

O IMPA, assim como o CBPF, possui uma baixa representatividade feminina entre os

pesquisadores e na sua própria estrutura administrativa.

Considerações Finais

As mulheres já alcançaram igualdade de acesso ao nível superior de ensino e não

enfrentam nenhuma proibição legal quanto a sua entrada no mercado de trabalho. Contudo,

elas ainda encaram barreiras culturais para o ingresso em determinadas áreas do

conhecimento, como no campo da matemática e da física. Esse fator está estreitamente

relacionado com a questão de gênero e seus desdobramentos.

O gênero, como uma identidade definida culturalmente, determina os papéis que

homens e mulheres podem ocupar dentro de uma sociedade. Essa definição corrobora com a

divisão sexual do trabalho, que foi responsável por postergar a entrada das mulheres no

mercado de trabalho.

Posteriormente, os papéis de gênero influenciaram as escolhas profissionais,

centralizando as mulheres nas áreas ligadas à educação e à saúde, por exemplo; e excluindo-as

das ditas ciências exatas, que sempre foram áreas definidas como masculinas.

Atualmente, muitas mulheres já estão inseridas nesse campo profissional, mas quando

elas conseguem burlar a segregação horizontal, são barradas pela segregação vertical, que as

impedem de asceder na carreira escolhida.

A segregação vertical é representada pelo “teto de vidro” ou pelas chamadas barreiras

invisíveis que dificultam o acesso das mulheres aos cargos de maior relevância dentre de uma

instituição.

Com base nesses elementos, o presente trabalho verificou com que intensidade eles

estão atuantes dentro do campo da matemática e da física, através da análise quantitativa de

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homens e mulheres nos cargos de pesquisadores, e nas demais ocupações dentro da estrutura

administrativa do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e do Intituto de Matemática Pura e

Aplicada.

A pesquisa identificou que na carreira de pesquisador, tanto o CBPF quanto o IMPA

possuem uma representatividade feminina de menos de 10% apesar dessa área profissional já

contar com uma participação de mulheres em torno de 49%, desconsiderando o campo da

pesquisa, segundo dados entre os anos de 2011 e 2015, do relatório da Elsevier’s Research

Intelligence (p.18, 2017).

Com relação à estrutura administrativa, as duas instituições também apresentam

resultados semelhantes. O CBPF conta com 92% de homens e somente 8% de mulheres; ao

passo que o IMPA possui 94% de presença masculina e apenas 6% de feminina, nos cargos de

maior importância na administração da instituição.

Nesse contexto, pode-se afirmar que os eventos da segregação horizontal e vertical

estão fortemente atuantes na área de pesquisa dentro dos dois institutos, fazendo com que as

mulheres tenham pouca ou nenhuma representatividade em algumas categorias.

Assim, apesar das mulheres já estarem em equivalência com os homens no que tange a

carreira de pesquisador, nos campos da matemática e da física, elas continuam sendo

excluídas.

Além disso, no que tange a segregação vertical, o trabalho identificou que as mulheres

estão excluídas dos cargos de maior importância dentro da instituição, estando pouco

representadas em cargos de coordenação e direção.

A análise desses dados é de relevância para constatar a existência da desigualdade de

gênero presente no campo da pesquisa na matemática e na física, bem como nos demais

cargos das instituições de representação de cada uma dessas áreas do conhecimento, mas

principalmente para se pensar em políticas que sejam capazes de reverter esse panorama.

Nesse sentido, é necessário analisar a formação educacional de homens e mulheres

para identificar a partir de que ponto essa desigualdade se inicia e se agrava para assim

construir políticas que favoreçam a igualdade de gênero nessas áreas.

Além disso, é fundamental identificar as barreiras inivisíveis, que impedem as

mulheres de ocupar os cargos de decisão dentro das instituições, para que elas possam ser

ultrapassadas, garantindo a igualdade de acesso a todos as funções.

A aplicação de políticas que favoreçam a diminuição ou eliminação da segregação

horizontal e vertical nessas áreas do conhecimento, contrubuirão para o próprio

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enriquecimento do campo da matemática e da física, ao permitir uma ampliação do escopo da

pesquisa acadêmica através de novos questionamentos e objetos de estudo.

Referências

BARRETO, Andreia. A mulher no ensino superior: Distribuição e Representatividade.

Cadernos do GEA. – n.6 (jul./dez. 2014). – Rio de Janeiro: FLACSO, GEA; UERJ, LPP,

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em: 15 de abril de 2017.

The woman researcher and her invisibility in the fields of mathematics and physics

Abstract: In Brazil, women had many achievements in formal education and in the labor

market during the twentieth century. However, today, although they already represent the

majority in undergraduate courses; There is a strong inequality between men and women

evidenced mainly in the field of exact sciences. Consequently, this scenario is reflected in the

labor market by observing the performance of women as researchers. This article aims at

verifying how intensely this inequality is present in the area of exact sciences, focusing on the

field of mathematics and physics, through the investigation of female participation in the

National Institute of Pure and Applied Mathematics (IMPA) and the Brazilian Center Of

Physical Research (CBPF). The methodology was based on the quantitative analysis of

researchers, by gender, in their different categories and in the administrative structure of these

institutions. The research identified the predominantly male presence, especially in the higher

positions. Given this, it can be seen that in the sexual division of labor, women are subject to

the so-called "glass celling", which are the invisible barriers that prevent them from ascending

in the career of researcher in mathematics and physics. Thus, there is a need for policies that

contribute to change this scenario, aiming to broaden the scope of women's professional

activities in scientific research, and allowing the objects of study to increasingly contemplate

women's interests.

Keywords: Research;Woman;Mathematics;Physics