1
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
A MULHER PESQUISADORA E SUA INVISIBILIDADE NOS CAMPOS DA
MATEMÁTICA E DA FÍSICA
Maria Gabriela Evangelista Soares da Silva/a1
Resumo: No Brasil, as mulheres tiveram muitas conquistas na educação formal e no mercado de trabalho no
decorrer do século XX. Contudo, hoje, apesar delas já representarem a maioria em matrícula e conclusão nos
cursos de graduação; há uma forte desigualdade entre homens e mulheres evidenciada principalmente no campo
das ciências exatas. Consequentemente, esse cenário se reflete no mercado de trabalho ao observar a atuação das
mulheres como pesquisadoras. O presente artigo tem por objetivo verificar com que intensidade essa
desigualdade está presente na área das ciências exatas, focando no campo da matemática e da física, através da
investigação da participação feminina no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e no Centro
Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). A metodologia baseou-se na análise quantitativa atual de pesquisadores,
por gênero, em suas diferentes categorias e na estrutura administrativa dessas instituições. A pesquisa
identificou a presença dominantemente masculina, especialmente nos cargos mais elevados. Diante disso,
percebe-se que na divisão sexual do trabalho, as mulheres estão sujeitas ao chamado “teto de vidro”, que são as
barreiras invisíveis que as impedem de ascender na área da pesquisa nesses campos. Assim, constata-se a
necessidade de políticas que contribuam para mudanças nesse cenário, visando ampliar o campo de atuação
profissional das mulheres na pesquisa científica e, permitindo que os temas de estudo contemplem cada vez mais
os interesses femininos.
Palavras-chave: Pesquisa, mulheres, matemática, física
Mulher nas Ciências
No Brasil, as mulheres tiveram muitas conquistas no campo da educação formal e no
mercado de trabalho no decorrer do século XX. Contudo, ao analisar tanto a trajetória
acadêmica quanto a profissional, percebe-se que esse processo não se deu de maneira
igualitária ao dos homens.
Atualmente, as mulheres já representam a maioria em conclusão nos cursos de nível
superior, como pode ser observado através dos dados do senso de 2015, disponibilizados pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em que o
número de mulheres concluintes, nas universidades públicas equivale a 59%, enquanto o de
homens é de 41%; E nas universidades particulares, os valores são de 62% e de 38%,
respectivamente.
Contudo, ao analisar a presença feminina nos diversos cursos da universidade,
percebe-se que em algumas áreas, ela tem pouca representatividade, como no campo das
ciências exatas, especificamente na física e na matemática, que são os objetos dessa pesquisa.
1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
2
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Esse cenário, consequentemente, se reflete no mercado de trabalho ao observar a
atuação das mulheres como pesquisadoras nessas mesmas áreas. Além disso, a disparidade
aumenta a medida que se elevam os cargos dentro das instituições.
O entendimento dessa disparidade exige a compreensão de alguns conceitos que estão
interligados como gênero, divisão sexual do trabalho, segregação horizontal e vertical.
O gênero, segundo Bullock (p.1, 1994), é o termo utilizado na compreensão da relação
entre homens e mulheres, que apesar de se basear em aspectos biológicos, também é
influenciado pelos aspectos sociais e culturais. Nesse sentido, tanto ao gênero feminino
quanto ao masculino são atribuídos comportamentos e atividades que são culturalmente
aceitos em determinado lugar e época.
Diante dessa perspectiva, pode-se compreender o acesso das mulheres às
universidades que só passou a ser legalmente aceito em 1879; enquanto aos homens era
permitido desde a criação da primeira instituição. Já aceitação cultural demorou mais algumas
décadas para ocorrer, até chegar ao atual momento, em que essa questão está totalmente
ultrapassada.
A questão de gênero contribuiu fortemente para a divisão sexual do trabalho, na qual
cabia às mulheres o cuidado do filho, do marido e da casa; e ao homem, a atividade
econômica que garantisse recursos financeiros para o sustento da família. Fator que excluiu,
por décadas, a mulher do mercado de trabalho.
Posteriormente, quando a mulher teve acesso a esse mercado, o gênero continuou
determinando a sua área de atuação, pois a elas eram atribuídos os empregos que se
relacionavam com as atividades culturalmente aceitas para as mulheres, refletindo em
empregos como, por exemplo, os de professoras, enfermeiras, faxineiras, cozinheiras, entre
outros similares.
Esses fatores, perpetuados por gerações, foram determinantes para centralizar a
escolha das mulheres em determinados cursos universitários; E essa é uma barreira que ainda
precisa ser ultrapassada.
Nesse sentido, pode-se abordar o conceito de segregação horizontal, que do ponto de
vista da escolha do curso acadêmico, segundo Olinto (2011) inclui mecanismos que fazem
com que as escolhas de carreiras sejam marcadamente segmentadas por gênero. E, do ponto
de vista do mercado de trabalho, determina que as mulheres se concentrem em setores que
oferecem menores remunerações e prestígio social.
3
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Com base nesse contexto, podemos analisar a exclusão das mulheres no campo das
ciências exatas, que perdurou por aproximadamente mais vinte anos, após o acesso das
mulheres à universidade. A primeira mulher a se formar nessa área foi Edwiges Maria Becker
Hom'meil, em 1917, pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, no curso de engenharia.
No campo da física, foi Yolande Anna Esther Monteux, em 1937, pela Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP).
Já no campo da matemática, Maria Laura Mouzinho Leite Lopes foi a primeira a se
licenciar, pela Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, hoje Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1942.
A segregação vertical está relacionada com a ascensão hierárquica dentro da carreira
escolhida. Bullock (p. 27, 1994) afirma que: mesmo nos empregos que são de alguma maneira
misturados, as mulheres ocupam as posições com menos responsabilidades, menos seguras e
menos bem pagas; e até mesmo quando a profissão é majoritariamente feminina, os homens
ainda sim se encontram em posições de gerência2.
Nesse panorama, as mulheres que se dedicam à pesquisa, muitas vezes não conseguem
ocupar os cargos de pesquisadores mais conceituados ou os de liderança dentro das
instituições.
Diante dessa análise, o presente trabalho objetiva verificar com que intensidade essa
desigualdade está presente na área das ciências exatas, focando no campo da matemática e da
física, através da investigação da participação feminina na atual estrutura do Instituto
Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas
(CBPF).
A metodologia utilizada baseou-se na análise quantitativa de pesquisadores, por
gênero, em suas diferentes categorias e na estrutura administrativa dessas instituições. O
diagnóstico foi feito por meio dos dados disponibilizados no sítio eletrônico das duas
instituições.
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)
O Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) foi fundado em 15 de janeiro de
1949, pelos físicos renomados Cesar Lattes; José Leite Lopes; e Jayme Tiomno.
2 “even where an occupation is to some extent mixed, women are usually in the less responsible, less
secure and less well-paid jobs; where an occupation is predominantly female, men are still often found in the
management positions”
4
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
A instituição foi pioneira na pesquisa em física experimental e teórica, sendo
responsável pelo desenvolvimento da física no Brasil, com a formação dos primeiros físicos
brasileiros.
A partir de 1976, o CBPF passou a integrar o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), que, por ventura, assumiu seu custeio. E, em 2000, ele
passou a ser gerido pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCTI).
O CBPF tem por finalidade, segundo o artigo 4º, do seu Regimento Interno (RI),
“realizar pesquisa básica em física e desenvolver suas aplicações, atuando como instituto
nacional de física do MCTIC e polo de investigação científica e formação, treinamento e
aperfeiçoamento de pessoal científico”.
A estrutura organizacional da instituição tem, na composição de sua administração
geral, uma Diretoria, um Conselho Técnico-Científico e um Comitê Científico Assessor –
COCI, que caracteriza-se como um órgão consultivo.
Além de oito coordenações: Coordenação de Física de Altas Energias; Coordenação
de Materiais, Nanociências e Física Aplicada; Coordenação de Física Teórica; Coordenação
de Cosmologia, Astrofísica e Interações Fundamentais; Coordenação de Desenvolvimento
Tecnológico; Coordenação de Formação Científica; Coordenação de Ações Institucionais; e a
Coordenação de Administração.
Na área da formação educacional, o CBPF atua desde 1962. Atualmente, oferece
programas de pós-graduação a nível profissional e acadêmico. No primeiro tem o curso de
mestrado profissional em física, com ênfase em instrumentação científica; No segundo, os
cursos de mestrado e doutorado; e a instituição ainda oferece curso de pós-doutorado.
O CBPF completou 68 anos de atuação e continua sendo uma instituição de referência
no campo da física, tanto a nível de formação quanto a nível de pesquisa e produção
científica, no Brasil. Isso justifica a escolha do mesmo para a análise da representatividade da
mulher no campo da física.
A interpretação das tabelas abaixo permite uma melhor compreensão sobre a
participação da mulher como pesquisadora e nos demais cargos da estrutura administrativa da
instituição.
A tabela 1 representa a porcentagem de mulheres e homens nos cargos relacionados
com a área de pesquisa do CBPF.
Tabela 1: Porcentagem de homens e mulher por cargo no CBPF.
5
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Cargos Homem Mulher
Pesquisadores 91% 9%
Pesquisadores Eméritos 100% 0%
Tecnologistas 87,5% 12,5%
Analistas 13% 87%
Assistentes 38% 62%
Técnicos 76% 24%
Apoio Operacional 57% 43%
Fonte: Elaboração da autora com dados do CBPF. Disponível
em:<http://portal.cbpf.br/servidores/pesquisadores> Acesso em: 10 de maio de 2017.
Os pré-requisitos e as competências dos cargos listados na tabela são definidos pela
Lei n°8.691, de 28 de julho de 1993.
Com base nela pode-se identificar que as exigências mínimas para os cargos
analisados são as que seguem: Pesquisador - doutorado; Tecnologista e Analista - nível
superior ou mestrado e doutorado, dependendo da subdivisão da categoria; Técnico e
Assistente - ensino médio completo e conhecimentos específicos ao cargo; e o cargo de Apoio
Operacional - ensino médio.
A análise da tabela também permite observar que as categorias mais excludentes para
as mulheres são as de Pesquisador, Pesquisador Emérito, Tecnologista e Técnico. Os dois
primeiros tem a exigência mínima do doutorado. O terceiro exige somente o ensino superior,
mas em sua subdivisão, passa a exigir uma maior qualificação. O cargo de técnico apesar de
ter como pré-requisito o nível médio, ele também exige curso técnico em áreas específicas das
ciências exatas, o que contribui para a menor participação feminina.
As mulheres se destacam no cargo de Analista, que exige uma formação de nível
superior ao doutorado. Elas também se destacam como Assistentes, que tem uma exigência
menor a nível de formação.
A única categoria – Apoio Operacional – é a que traz um equilíbrio, podendo ser
atribuído à exigência de formação a nível médio.
6
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Uma observação mais apurada dos dados permite perceber que para os cargos com
exigência mínima de ensino superior, as mulheres representam 17% do total, enquanto os
homens são 83%. Já nos cargos de nível médio, elas são 43% e eles 57%. Apesar de não
serem maioria em nenhuma categoria, a de menor qualificação profissional, permite uma
aproximação no quantitativo de representatividade.
A tabela 2 apresenta a representatividade feminina na estrutura administrativa do
CBPF.
Tabela 2: Porcentagem de homens e mulher nos cargos da estrutura administrativa do CBPF.
Cargo Homem Mulher
Diretoria 100% 0%
Conselho técnico-científico 100% 0%
Conselho Científico Assessor 86% 14%
Coordenador Titular/ Substituto 94% 6%
Fonte: Elaboração da autora com dados do CBPF. Disponível em:<http://portal.cbpf.br/sobre-o-cbpfres> Acesso
em: 10 de maio de 2017.
O CBPF possui oito coordenações e cada uma delas possui um coordenador titular e
um substituto. A análise dos dados da tabela acima expõe que nenhum coordenador titular é
mulher e dos coordenadores substitutos, apenas uma é mulher.
Além disso, na administração geral, a Diretoria é composta por um diretor homem e
por um substituto também do sexo masculino; O Conselho Técnico-Científico é coordenado
por um homem e possui mais 8 homens em sua equipe e o Comitê Científico Assessor, que é
composto por membros de todas as categorias, tem um homem como diretor e mais dezoito
como membros, ao passo que as mulheres só possuem três representantes.
Assim, pode-se verificar que que a representatividade feminina é pequena tanto no
nível de pesquisadores, quanto na atual estrutura administrativa da instituição.
Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA)
7
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
O IMPA foi criado em 1952 pelo Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), tendo
como objetivo o incentivo à pesquisa científica em matemática, à formação de novos
pesquisadores, e à difusão e aprimoramento da cultura matemática, valorizando o caráter
nacional.
A fundação da instituição é associada a Lélio Gama, engenheiro (astrônomo e
matemático) formado pela Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ); Leopoldo Nachbin, engenheiro civil pela Escola Nacional de engenharia da UFRJ e
Maurício Peixoto, engenheiro civil pela Escola Nacional de Engenharia da Universidade do
Brasil, que também formaram o quadro inicial de pesquisadores, sendo Lélio, o primeiro
diretor.
O instituto não possuía sede própria no ano de sua criação e ficou localizado dentro do
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) até 1957, quando transferiu-se para um prédio
em Botafogo, onde permaneceu por 10 (dez) anos. Posteriormente, a nova sede foi um prédio
histórico no centro do Rio de Janeiro, onde ficou instalado até 1981 quando se mudou para a
sede atual, no bairro do Jardim Botânico.
Em 1957, o instituto passou a realizar o Colóquio Brasileiro de Matemática e isso lhe
garantiu a consolidação de um prestígio acadêmico, aumentando cada vez mais o número de
participantes.
Em 1962, por meio de uma parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), o IMPA passou a oferecer cursos de mestrado e doutorado; mas somente a partir de
1971, passou a outorgar, por conta própria, os graus de mestre e doutor.
No quadro de diretores pode-se destacar Lindolpho de Carvalho Dias, no período de
1966 a 1969, de 1971 a 1979, e também de 1980 a 1989; Elon Lages Lima ocupou o cargo de
1969 a 1971, de 1979 a 1980 e de 1989 a 1993; Jacob Palms foi diretor de 1993 a 2003; e
César Camacho ocupou o cargo de 2003 até 2015; e, atualmente, a direção está sob
responsabilidade de Marcelo Viana.
A década de 70 foi um período importante para o IMPA, pois devido aos recursos
financeiros oriundos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), da
Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e do próprio CNPq, a instituição passou a ter a
possibilidade de formar seu quadro permanente de pesquisadores; estabeleceu programas
regulares de mestrado e doutorado e ampliou a sua área de atuação.
A partir desse período, a instituição continuou a se desenvolver, acrescentando novas
atividades como os cursos de reciclagem para professores do ensino básico; cursos de pós-
8
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
doutorado; publicação de material didático; além de apoio aos programas da Sociedade
Brasileira de Matemática como a Olimpíada de Matemática.
O conjunto de todas essas atividades contribuíram para garantir o reconhecimento
nacional e internacional que a instituição possui. O que pode ser verificado na descrição de
sua história no sítio eletrônico do IMPA quando afirmam:
Seus alunos de doutorado são oriundos de mais de uma
dezena de países da América Latina e da Europa. Foi
designado como Centro de Excelência para o Pós-
Doutorado, em nível internacional, pela Third World
Academy of Sciences (TWAS). É sede permanente da
Sociedade Brasileira de Matemática, criada em 1969, e da
União Internacional de Matemática, de 1990 a 1998, o que
ocorre pela primeira vez fora dos países da Europa
Ocidental e América do Norte. (...) Os pesquisadores do IMPA têm merecido inúmeros
prêmios de âmbito nacional e internacional, (...). Muitos
deles são membros da Academia Brasileira de Ciências e
possuem graus honoríficos de universidades. Por outro
lado, mais de noventa por cento deles desfrutam de bolsas
de pesquisa do CNPq. Tudo isto faz com que o IMPA seja
considerado hoje o instituto de matemática de maior
prestígio na América Latina e de padrão científico
semelhante às melhores instituições dos países
desenvolvidos. (Disponível
em:<https://impa.br/sobre/historia/> Acesso em: 19 de
abril de 2017)
A estrutura organizacional principal do IMPA é composta pelo Conselho de
Administração, Diretoria e Conselho Técnico-Científico; sendo seguida pelas coordenações
de: Informática Científica; Atividades Científicas; Ensino; Administração; Informática;
Planejamento e Projetos; Projetos Especiais e Financeira.
A análise das tabelas abaixo permite dimensionar a participação feminina dentro dessa
estrututa.
Tabela 3: Porcentagem de homens e mulheres nos cargos da estrutura administrativa do IMPA.
Estrutura Administrativa Homem Mulher
Conselho de Administração 100% 0%
Diretoria 100% 0%
Conselho Técnico Científico 92% 8%
9
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Coordenações 88.5% 12,5%
Fonte: Elaboração da autora com dados do IMPA Disponível em:<https://impa.br/sobre/estrutura-
organizacional/> Acesso em: 17 de maio de 2017.
O Conselho de Administração, segundo o estatuto do IMPA, constitui-se como órgão
máximo, sendo responsável pelas deliberações sobre o planejamento estratégico,
coordenação, controle e avaliação globais. Ele é formado por dez (10) membros,
caracterizados como pessoas de notória capacidade e reconhecida idoneidade moral.
A Diretoria é composta por um diretor geral, um substituto, uma assessora e duas
secretárias. Ela tem por competência dirigir a associção, promovendo o bom desempenho das
ações necessárias ao alcance de sua missão, em conformidade com os princípios e diretrizes
que regem a instituição; e supervisionar, coordenar, controlar as unidades organizacionais
integrantes da estrutura.
O Conselho Técnico-Científico (CTC), segundo o regimento interno, é órgão de
assessoramento da Diretoria e do Conselho de Administração. Por delegação do Conselho de
Administração, possui caráter deliberativo em assuntos relativos ao ensino e à pesquisa da
Instituição.
A observação dos dados permite aferir que não há representatividade feminina no
Conselho de Administração e nem nos cargos mais elevados da Diretoria, estando as mulheres
representadas apenas nos cargos de assessora e secretária. O CTC, conta com a presença de
uma única mulher, dentro de um total de doze (12) membros; Já dentre as coordenações,
apenas uma é dirigida por uma mulher.
A tabela abaixo traz o resultado da análise da porcentagem de homens e mulheres nas
diferentes categorias de pesquisadores do IMPA.
Tabela 4: Porcentagem de homens e mulheres nos cargos de pesquisadores do IMPA.
Pesquisadores Homem Mulher
Corpo Científico 97,5% 2,5%
Emérito 100% 0%
Honorário 100% 0%
10
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Extraordinário 100% 0%
Visitante 88% 12%
Fonte: Elaboração da autora com dados do IMPA Disponível em:<https://impa.br/pessoas-do-impa/> Acesso em:
17 de maio de 2017.
Os dados mostram que não há mulheres entre os pesquisadores emérito, honorário e
extraordinário, enquanto os homens possuem 4, 3 e 2 representantes, respectivamente.
No Corpo Científico, do total de 40 membros, há apenas uma mulher; Já dentre os
pesquisadores visitantes, dos 85, 10 são do sexo feminino.
O IMPA, assim como o CBPF, possui uma baixa representatividade feminina entre os
pesquisadores e na sua própria estrutura administrativa.
Considerações Finais
As mulheres já alcançaram igualdade de acesso ao nível superior de ensino e não
enfrentam nenhuma proibição legal quanto a sua entrada no mercado de trabalho. Contudo,
elas ainda encaram barreiras culturais para o ingresso em determinadas áreas do
conhecimento, como no campo da matemática e da física. Esse fator está estreitamente
relacionado com a questão de gênero e seus desdobramentos.
O gênero, como uma identidade definida culturalmente, determina os papéis que
homens e mulheres podem ocupar dentro de uma sociedade. Essa definição corrobora com a
divisão sexual do trabalho, que foi responsável por postergar a entrada das mulheres no
mercado de trabalho.
Posteriormente, os papéis de gênero influenciaram as escolhas profissionais,
centralizando as mulheres nas áreas ligadas à educação e à saúde, por exemplo; e excluindo-as
das ditas ciências exatas, que sempre foram áreas definidas como masculinas.
Atualmente, muitas mulheres já estão inseridas nesse campo profissional, mas quando
elas conseguem burlar a segregação horizontal, são barradas pela segregação vertical, que as
impedem de asceder na carreira escolhida.
A segregação vertical é representada pelo “teto de vidro” ou pelas chamadas barreiras
invisíveis que dificultam o acesso das mulheres aos cargos de maior relevância dentre de uma
instituição.
Com base nesses elementos, o presente trabalho verificou com que intensidade eles
estão atuantes dentro do campo da matemática e da física, através da análise quantitativa de
11
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
homens e mulheres nos cargos de pesquisadores, e nas demais ocupações dentro da estrutura
administrativa do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e do Intituto de Matemática Pura e
Aplicada.
A pesquisa identificou que na carreira de pesquisador, tanto o CBPF quanto o IMPA
possuem uma representatividade feminina de menos de 10% apesar dessa área profissional já
contar com uma participação de mulheres em torno de 49%, desconsiderando o campo da
pesquisa, segundo dados entre os anos de 2011 e 2015, do relatório da Elsevier’s Research
Intelligence (p.18, 2017).
Com relação à estrutura administrativa, as duas instituições também apresentam
resultados semelhantes. O CBPF conta com 92% de homens e somente 8% de mulheres; ao
passo que o IMPA possui 94% de presença masculina e apenas 6% de feminina, nos cargos de
maior importância na administração da instituição.
Nesse contexto, pode-se afirmar que os eventos da segregação horizontal e vertical
estão fortemente atuantes na área de pesquisa dentro dos dois institutos, fazendo com que as
mulheres tenham pouca ou nenhuma representatividade em algumas categorias.
Assim, apesar das mulheres já estarem em equivalência com os homens no que tange a
carreira de pesquisador, nos campos da matemática e da física, elas continuam sendo
excluídas.
Além disso, no que tange a segregação vertical, o trabalho identificou que as mulheres
estão excluídas dos cargos de maior importância dentro da instituição, estando pouco
representadas em cargos de coordenação e direção.
A análise desses dados é de relevância para constatar a existência da desigualdade de
gênero presente no campo da pesquisa na matemática e na física, bem como nos demais
cargos das instituições de representação de cada uma dessas áreas do conhecimento, mas
principalmente para se pensar em políticas que sejam capazes de reverter esse panorama.
Nesse sentido, é necessário analisar a formação educacional de homens e mulheres
para identificar a partir de que ponto essa desigualdade se inicia e se agrava para assim
construir políticas que favoreçam a igualdade de gênero nessas áreas.
Além disso, é fundamental identificar as barreiras inivisíveis, que impedem as
mulheres de ocupar os cargos de decisão dentro das instituições, para que elas possam ser
ultrapassadas, garantindo a igualdade de acesso a todos as funções.
A aplicação de políticas que favoreçam a diminuição ou eliminação da segregação
horizontal e vertical nessas áreas do conhecimento, contrubuirão para o próprio
12
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
enriquecimento do campo da matemática e da física, ao permitir uma ampliação do escopo da
pesquisa acadêmica através de novos questionamentos e objetos de estudo.
Referências
BARRETO, Andreia. A mulher no ensino superior: Distribuição e Representatividade.
Cadernos do GEA. – n.6 (jul./dez. 2014). – Rio de Janeiro: FLACSO, GEA; UERJ, LPP,
2012.
BULLOCK, Susan. Women and work. Nova Jersey, Zed Books Ltd., 1994. Disponível
em:<https://books.google.com.br/books?id=Z_mGPHb637sC&printsec=frontcover&source=g
bs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false> Acesso em: 16 de abril de 2017.
CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISAS FÍSICAS (CBPF). Disponível
em:<http://portal.cbpf.br/> Acesso em 17 de maio de 2017.
CHARLES, Maria; GRUSKY, David B. Occupational Ghettos: the worldwide segregation of
women and men. Stanford, California. Stanford University Press, 2004.
INSTITUTO DE MATEMÁTICA PURA E APLICADA (IMPA). Disponível
em:<https://impa.br/> Acesso em: 10 de maior de 2017.
JUNIOR, Modesto Pantaleo. A fundação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e o início
da Pós- Graduação em Física no Rio de Janeiro. São Paulo: Dissertação de mestrado.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2011.
BRASIL. Lei n°8.691, de 28 de julho de 1993. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8691.htm> Acesso em: 20 de abril de 2017.
OLINTO.Gilda. A inclusão das mulheres nas carreiras de ciência e tecnologia no Brasil. Inc.
Soc., Brasília, DF, v. 5 n. 1, p.68-77, jul./dez. 2011. Disponível em:
<http://revista.ibict.br/inclusao/index.php/inclusao/article/viewFile/240/208> Acesso em: 20
de maio de 2017.
REGIMENTO INTERNO DO CBPF. Disponível
em:<http://portal.cbpf.br/attachments/regimentoInterno/RegimentoInternoCBPF2016.pdf>
Acesso em: 26 de abril de 2017.
REGIMENTO INTERNO DO IMPA. Disponível em: <https://impa.br/wp-
content/uploads/2016/12/regimento_interno_2014.pdf> Acesso em: 10 de maio de 2017.
RELATÓRIO GENDER IN THE GLOBAL RESEARCH LANDSCAPE. Disponível
em:<https://www.elsevier.com/connect/gender-and-science-resource-center> Acesso em 20
de maio de 2017.
13
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
SINOPSES ESTATÍSTICAS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR 2014. Disponível
em:<http://portal.inep.gov.br/web/guest/sinopses-estatisticas-da-educacao-superior> Acesso
em: 15 de abril de 2017.
The woman researcher and her invisibility in the fields of mathematics and physics
Abstract: In Brazil, women had many achievements in formal education and in the labor
market during the twentieth century. However, today, although they already represent the
majority in undergraduate courses; There is a strong inequality between men and women
evidenced mainly in the field of exact sciences. Consequently, this scenario is reflected in the
labor market by observing the performance of women as researchers. This article aims at
verifying how intensely this inequality is present in the area of exact sciences, focusing on the
field of mathematics and physics, through the investigation of female participation in the
National Institute of Pure and Applied Mathematics (IMPA) and the Brazilian Center Of
Physical Research (CBPF). The methodology was based on the quantitative analysis of
researchers, by gender, in their different categories and in the administrative structure of these
institutions. The research identified the predominantly male presence, especially in the higher
positions. Given this, it can be seen that in the sexual division of labor, women are subject to
the so-called "glass celling", which are the invisible barriers that prevent them from ascending
in the career of researcher in mathematics and physics. Thus, there is a need for policies that
contribute to change this scenario, aiming to broaden the scope of women's professional
activities in scientific research, and allowing the objects of study to increasingly contemplate
women's interests.
Keywords: Research;Woman;Mathematics;Physics