a morte de um artista como motivação para o consumo
DESCRIPTION
O presente artigo estuda o consumo de produtos relacionados ao cantor Chorão,vocalista da banda Charlie Brown Jr, após sua morte, em março de 2013. O objetivo principal é analisar o consumo de produtos relacionados a Chorão e à banda Charlie Brown Jr. e os objetivos específicos são verificar os produtos mais consumidos, as motivações de consumo e a valorização ou não dos produtos após o falecimento do cantor. Como referência teórica para conceituar morte, foram utilizados Maranhão (1985) e Fausto Neto (1991); para consumo, Costa (2009), Barbosa (2004) e Corrêa (1989); as informações sobre Chorão e sua banda foi apresentada tendo por base reportagens em revistas e sites. Para alcançar os objetivos do artigo, foi realizada pesquisa explicativa, com delineamento em parte documental, por meio de análise de conteúdos de posts de internet na rede social Facebook, e em parte levantamento, através de entrevistas estruturadas com 333 pessoas. Os principais resultados indicam que quase metade (48%) dos respondentes consumiu algo relacionado a Chorão, sendo os produtos mais consumidos antes e após sua morte, arquivos em mp3. Embora 52% dos respondentes tenham declarado não adquirir produtos relacionados a Chorão após sua morte, reportagens contrariam este resultado. Assim, deve-se levar em consideração o fato do tempo decorrido entre a morte de Chorão e a realização da pesquisa, que pode ter levado as pessoas a esquecerem da aquisição de algo e não saber se foi antes ou depois da morte do cantor.TRANSCRIPT
A MORTE DE UM ARTISTA COMO MOTIVAÇÃO PARA O CONSUMO1
Manuella Rivarola e Silva2
RESUMO
O presente artigo estuda o consumo de produtos relacionados ao cantor Chorão, vocalista da banda Charlie Brown Jr, após sua morte, em março de 2013. O objetivo principal é analisar o consumo de produtos relacionados a Chorão e à banda Charlie Brown Jr. e os objetivos específicos são verificar os produtos mais consumidos, as motivações de consumo e a valorização ou não dos produtos após o falecimento do cantor. Como referência teórica para conceituar morte, foram utilizados Maranhão (1985) e Fausto Neto (1991); para consumo, Costa (2009), Barbosa (2004) e Corrêa (1989); as informações sobre Chorão e sua banda foi apresentada tendo por base reportagens em revistas e sites. Para alcançar os objetivos do artigo, foi realizada pesquisa explicativa, com delineamento em parte documental, por meio de análise de conteúdos de posts de internet na rede social Facebook, e em parte levantamento, através de entrevistas estruturadas com 333 pessoas. Os principais resultados indicam que quase metade (48%) dos respondentes consumiu algo relacionado a Chorão, sendo os produtos mais consumidos antes e após sua morte, arquivos em mp3. Embora 52% dos respondentes tenham declarado não adquirir produtos relacionados a Chorão após sua morte, reportagens contrariam este resultado. Assim, deve-se levar em consideração o fato do tempo decorrido entre a morte de Chorão e a realização da pesquisa, que pode ter levado as pessoas a esquecerem da aquisição de algo e não saber se foi antes ou depois da morte do cantor. PALAVRAS-CHAVE: Consumo. Morte. Chorão.
ABSTRACT
The present article studies the consumption of products related to the singer Chorão, Charlie Brown Jr.’s band vocalist, after his death in March 2013. The main goal is to analyze the consumption of products related to Chorão and Charlie Brown Jr. band and the specific goals are to verify the most consumed products, the motivations of consumption and the valorization or not of the products after the singer’s death. As a theoretical reference to the concept of death, it were used Maranhão (1985) and Fausto Neto (1991); as for consumption, Costa (2009), Barbosa (2004) and Corrêa (1989); information about Chorão and Charlie Brown Jr. band had as support in articles from websites and magazines. To reach the goals of the article, it was realized an explicative survey, delineating through documentaries, by means of analyses of internet posts’ contents on Facebook social network, and through mapping, by structured interviews with three-hundred and three persons. The main results indicate that almost half (48%) of respondents consumed something related to Chorão. The most consumed products,
1 Artigo realizado em 2013/2, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Comunicação Social – habilitação em Publicidade e Propaganda, pela Universidade Luterana do Brasil, sob orientação da professora Mirian Engel Gehrke ([email protected]) 2 Graduando. E-mail: [email protected]
2
before and after his death, are mp3 files. Although 52% of respondents have declared not to purchase products related to Chorão after his death, journalistic reports contradict this result. Thus, one should take into account the time elapsed between the death of Chorão and the research, which may have led people to forget purchasing something and don’t know if was befor or after the singer’s death.
KEYWORDS: Consumption. Death. Chorão.
3
1 INTRODUÇÃO
Embora não seja percebido, muitas vezes, personalidades famosas, como
cantores e atores, fazem parte do dia-a-dia das pessoas. Eles se fazem presentes através
de uma música ouvida, de um acessório/roupas usadas ou de algum produto/serviço
consumido que possui relação com tal artista. Mais do que isso, para os fãs, o artista
torna-se uma espécie de modelo; em alguns casos, ter um ídolo se torna um antídoto
para a dor, como afirma John Frusciante3, ex-guitarrista da banda americana Red Hot
Chili Peppers: Se você estiver com uma certa quantidade de dor ou confuso quando você está crescendo, é bom ter alguém que sempre te faz rir ou sorrir. Quando você não tem alguém assim, você é deixado com a sua própria tristeza ou dor. Eu sempre tive pessoas assim. Alguns anos atrás era Martin Gore e Dave Gahan. Agora, ele é Peter Hammill do Van Der Graaff Generator. Muitas vezes, penso sobre o que o mundo seria se não tivéssemos essas imagens que correspondem à nossa própria dor subconsciente e assim anulá-las. Essas imagens têm me mantido feliz nos tempos que poderiam ter sido muito desanimadores para mim.
A partir dessa ligação, os laços de afetividade crescem cada vez mais e, a cada
dificuldade passada pelo artista, o fã também a sente. Segundo Corrêa (1989, p. 94),
“nenhuma linguagem está mais próxima do jovem do que a música. Com ela,
independente da nacionalidade, consegue-se dizer tudo aquilo que ele pode facilmente
entender”. O autor também afirma (p. 99): Quando um cantor de rock, lançado ao sucesso, passa a ser encarado como um símbolo de identidade pelos seguidores ou adeptos de seu estilo, transforma-se de igual modo em veículo de difusão não apenas das músicas que interpreta, como também da maneira com que se veste e se apresenta.
Em muitos casos, a morte do artista faz com que o fã que adquire produtos a ele
relacionados os consuma ainda mais. Michael Jackson e Elvis Presley são dois
exemplos de celebridades que, mesmo após a morte, geram rendimentos de milhares de
dólares pela venda de produtos associados a eles.
Será o caso do cantor Chorão? Em 6 de março de 2013, o corpo do cantor,
skatista, compositor e empresário Alexandre Magno Abrão, conhecido como Chorão, foi
encontrado em seu apartamento, na cidade de São Paulo. Segundo o site O Estadão4,
instantes após ser noticiada sua morte, palavras relacionadas a ele ocuparam todos os
dez assuntos mais falados no Twitter Brasil. Na rede social Facebook, centenas de fan
3 Disponível em: <http://www.universofrusciante.com/p/biografia.html> Acesso em: 07 out. 2013. 4 <http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,morte-de-chorao-domina-assuntos-mais-comentados-no-twitter-brasil,1005158,0.htm> Acesso em: 15 set. 2013
4
pages − tais como "Chorão eterno", "Luto Chorão", "Chorão eterno poeta" − foram
criadas e, em pouco tempo, já possuíam milhares de curtidas.
Considerando tal contexto, o artigo tem como objeto de estudo o consumo de
produtos relacionados a Chorão e sua banda após a morte do músico. O objetivo geral
da presente pesquisa é analisar o consumo de produtos relacionados a Chorão e à banda
Charlie Brown Jr. após sua morte. Os objetivos específicos são verificar os produtos
mais consumidos, as motivações de consumo e a valorização ou não dos produtos após
o falecimento do cantor.
Este tipo de consumo, de produtos relacionados a um artista após sua morte,
movimenta cifras consideráveis. Entre outubro de 2010 e novembro de 2011, por
exemplo, os herdeiros do cantor Michael Jackson faturam cerca de 170 milhões de
dólares5. Assim sendo, devido à importância desse tipo de consumo, hoje, e à falta de
pesquisas relacionadas ao tema, o presente artigo se justifica.
Antes de iniciar a produção do artigo, foi realizada pesquisa em sites de
universidades como ULBRA, PUCRS, Unisinos, IPA, UFRGS, ESPM6 e nos arquivos
do Google Acadêmico7, não sendo encontrados trabalhos com o mesmo objetivo.
Porém, foi encontrada uma monografia da Universidade de São Paulo (USP) que pode
contribuir para a fundamentação teórica do presente artigo: Os Fãs e a Morte do Cantor
Chorão: Circulação de Discursos na Internet (GROHMANN, 2013).
O problema que guia este artigo é: como a morte do cantor Chorão estimulou ou
estimula o consumo de produtos associados ao cantor? Para atingi-lo, foi realizada
pesquisa explicativa, com delineamento em parte documental, por meio de análise de
conteúdos da rede social Facebook, e em parte levantamento, através de entrevistas
estruturadas. A amostra da pesquisa documental foi constituída por postagens de fãs em
páginas relacionados ao cantor – “Charlie Brown Jr. OFICIAL”, “Meme’s Brown Jr.”8 −
de julho a novembro de 2013. Para o levantamento, a amostra foi composta por fãs da
banda Charlie Brown Jr que fazem parte dos grupos de discussões: “La Família 013”,
“Charlie Brown Jr. #CBJR” e “Família Charlie Brown Jr.”9, todos ligados à banda. Para
esses, foi solicitado que respondessem ao questionário disponibilizado através do
5 <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/segundo-caderno/noticia/2011/11/quem-sao-os-artistas-mortos-que-ainda-faturam-muito-3552950.html> 6 <https:/www.ulbra.br>; <https://www3.pucrs.br>; <https://www.unisinos.br>; <https://www.ipametsita.edu.br>; <http://www.ufrgs.br/>; <http://www2.espm.br/ >; Acesso em : 15 set. 2013. 7 <http://scholar.google.com.br/> 8 <https://www.facebook.com/cbjroficial?ref=ts&fref=ts> ; < https://www.facebook.com/MemesBrownJr?fref=ts>; 9 <https://www.facebook.com/groups/387214814660730/>; < https://www.facebook.com/groups/charliebrownjunior/>; < https://www.facebook.com/groups/281133471967020/>
5
Google Docs10 que pode ser visto no Apêndice A. A coleta de dados pela análise de
conteúdos das postagens nas fã pages foi feita através de observação simples.
Os principais conceitos estudados são consumo e morte. Para embasar a
primeira, os autores utilizados são Costa (2009), Barbosa (2004), Carpena (2004) e
Corrêa (1989); para a segunda, Maranhão (1985) e Fausto Neto (1991). Após, a história
do cantor Chorão e sua banda foi apresentada tendo por base reportagens em revistas,
jornais e sites.
2 MORTE
A morte é um dos grandes enigmas da vida. Por ser algo inevitável e
incompreensível, para muitos, somente a palavra “morte” já desperta medo. Segundo
Maranhão (1985, p. 20): A morte é um fato natural, assim como o nascimento, a sexualidade, o riso, a fome ou a sede, e, como tal, é transclassista. Diante dela todos os homens se igualam: sua foice é desferida indiscriminadamente, sem levar em consideração o status daqueles a quem escolhe; todos devem morrer, jovens e velhos, ateus e crentes, homens e mulheres, brancos e negros – sejam ricos ou pobres. Relativizando todas as condições sociais, a morte nos mostra igualdade absoluta entre homens, nivelando-os ao mesmo destino.
Essa certeza da morte faz com que muitas pessoas busquem uma forma melhor
de compreensão do tema, através de religiões e estudo sobre ela. É comum àqueles que
possuem crenças espirituais vejam a morte como um ganho, e não como um fim. Por outro
lado, pessoas que não têm fé religiosa tendem a acreditar que a morte representa, de
fato, o fim.
Devido a mudanças em aspectos de cultura, religião e ciências, a morte adquiriu
diferentes concepções, com o passar do tempo. Desde a Idade Média, o fim da vida tem
provocado reações de diversos feitios, tendo crenças e rituais caracterizados de acordo
com o contexto social e temporal de cada época. Na Era Medieval, onde havia predomínio
da religião católica, os pecadores que desfrutavam dos prazeres mundanos em vida e não
obtinham o tempo necessário para que seus pecados fossem redimidos pediam auxílio à
Virgem através de cânticos de louvor e submissão11. Segundo Bickel e Jantz (2009), na
Idade Média (476-1453 d.C.)12, a preocupação do homem era saber o que viria após a
10 <https://docs.google.com/forms/d/18h2b05ei2hopzmaeaVqTdfoOqOZljxOC6XCl5XgMV6g/> 11 <http://anpuh.org/anais/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S23.0126.pdf>; Acesso em 07 set. 2013. 12 <http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/idade-media-idade-das-trevas-periodo-medieval-durou-dez-seculos.htm>; Acesso em 07 set. 2013.
6
morte. Quanto ao ritual, todos ao redor do moribundo, inclusive as crianças, deveriam
compartilhar o momento da morte dele.
Com a evolução da ciência que caracterizou o Iluminismo, movimento
intelectual baseado na luz da razão, a morte passou a ser vista como um processo
natural, porém, poderia ser prorrogada. Avessos ao cristianismo, os iluministas não
acreditavam na vida após a morte. O óbito representou o fim absoluto do funcionamento
neurofisiológico do corpo humano. Tendo essa visão antropocentrista, o Iluminismo
perdeu um pouco da sua razão, quando suas concepções foram moldadas pelos
existencialistas, que enxergavam a morte como um fracasso humano, irreversível e
irremediável13. No século XIX, o homem ocidental via a morte como algo presente,
doméstico. Maranhão (1985, p.7-8) afirma: A pessoa que pressentia a proximidade do seu fim, respeitando os atos cerimoniais estabelecidos, deitava-se no leito de seu quarto, donde presidia uma cerimônia pública aberta às pessoas da comunidade. Era importante a presença dos parentes, amigos e vizinhos e que os ritos da morte se realizassem com simplicidade, sem dramaticidade ou gestos de emoção excessivos [...] Imediatamente após a morte, os familiares – observando religiosamente os costumes – fechavam as janelas, acendiam as velas, aspergiam água benta pela casa, cobriam os espelhos, paralisavam os relógios.
Ou seja, havia um longo ritual de despedida do moribundo, que era seguido
rigorosamente, de acordo com os costumes da época. O velório, diferente dos dias
atuais, durava dias e uma espécie de protocolo de despedida era seguido.
A partir da metade do século XX, a morte deixou de ser vista como algo familiar.
As despedidas não são mais um longo ritual e se tornam um “rápido adeus”. O velório
não ocorre mais na própria casa do falecido, mas em cemitérios e capelas. O indivíduo
não morre mais em sua casa, junto a seus familiares, mas sim sozinho, em um hospital.
Maranhão (1985, p. 18-19) complementa: Depois dos funerais, o luto propriamente dito. O dilaceramento da separação e a dor da saudade podem existir no coração da esposa, do filho, do neto; porém, segundo os novos costumes, eles não os deverão manifestá-los publicamente. As expressões sociais, como o desfile de pêsames, as “cartas de condolências” e o trajar luto, por exemplo, desaparecem da cultura urbana. Causa espécie anunciar seu próprio sofrimento, ou mesmo demonstrar estar sentindo-o. A sociedade exige do indivíduo enlutado um autocontrole de suas emoções, a fim de não perturbar as outras pessoas com coisas tão desagradáveis. O luto é mais e mais um assunto privado, tolerado apenas na intimidade, às escondidas, de uma forma análoga à masturbação. O luto associa-se à ideia de doença. O prantear equivale às excreções de um vírus contagioso. O enlutado deve doravante ficar isolado, em quarentena.
Divergências culturais que envolvem a morte fazem com que cada religião tenha
suas peculiaridades em relação ao tema. Os budistas, por exemplo, acreditam que,
13 <http://super.abril.com.br/cotidiano/morte-442634.shtml>; Acesso em 07 set. 2013.
7
treinando a mente durante a vida, o indivíduo estará pronto para encarar a morte, tendo
como recompensa um renascimento; por isso, não há luto. Assim como os budistas, os
espíritas também creem na reencarnação. Mas, para eles, o corpo físico é instrumento de
aprimoramento na vida terrena. Já para os católicos, a morte é uma passagem. No
velório, as velas representam a luz de Cristo ressuscitado e as flores, a primavera
presente na eternidade14. Além dessas questões, os rituais de passagem de cada religião
variam de acordo com a localidade e o contexto histórico. No documentário A Morte, de
Gabeira (1985), foi feito um levantamento de como os brasileiros enfrentam a morte de
pessoas conhecidas na mídia e o que mudou na visão sobre o morrer. Analisando o
falecimento do presidente Tancredo Neves, o jornalista relata que este fato fez com que
houvesse um questionamento sobre como o povo brasileiro encara a morte. E a resposta
é que ela é vista como algo inaceitável. Na época, as pessoas falaram em congelamento
do corpo para que, após o avanço da ciência, o indivíduo revivesse.
Mesmo que cada pessoa tenha seu próprio credo, através de sua respectiva
religião e base dogmática, a morte de um artista impacta os fãs de acordo com as suas
próprias crenças.
Segundo Pimentel 15: A morte de alguém famoso tem, primeiro, algo igual a uma morte qualquer de alguém próximo: a possibilidade de reconhecermos nossa própria finitude através dá morte de outrem. Em segundo plano, a morte de alguém famoso envolve-se com uma carência de ídolos em nossa época e o fim de um modelo identificatório que poderíamos ter.
O impacto que a morte do artista causa é relativamente proporcional ao seu
patamar de relevância e reconhecimento no cenário artístico. Muitas vezes, o
consumidor admite o estado de luto , em respeito ao seu ídolo. Também existem outras
maneiras de prestar tributos e homenagens ao ídolo, estimulados pela mídia ou por
iniciativa própria do fã. No primeiro caso, através de álbuns de tributo e shows com
artistas consagrados interpretando os grandes sucessos do artista; no segundo,
realizando, reuniões de fãs e realizando tipos de eventos que tragam alguma lembrança
referente ao ídolo. Na indústria fonográfica, por exemplo, promover sua imagem é o
modo do artista garantir sua sobrevivência e ter prestígio no mercado musical. A
visibilidade que o artista tem na mídia leva a um alcance maior em diferentes tipos de
14 <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG65777-5856,00.html>; Acesso em 07 set. 2013. 15 Professor de história do Unificado Pré-Vestibular, Psicólogo do Hospital Psiquiátrio São Pedro e colunista da Revista Dicta&Contradicta. Graduado em história pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2006. Graduado em psicologia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2010. Pós graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do SUl. Entrevista cedida dia 06 nov. 2013.
8
espectadores, agregando valores sentimentais diversificados nas pessoas, futuros
consumidores, Pimentel também afirma:
A morte purifica a imagem que temos das pessoas. Primeiro porque gostaríamos
que fizessem o mesmo conosco, segundo porque é humano perdoar erros comezinhos
diante da dor maior, que é a da inexistência. Consumir algum produto ligado a alguém
morto está obviamente ligado ao anseio de guardar algo diante da dor de sua perda.
Quando vivos, artistas são lembrados por suas obras de maior reconhecimento.
Porém, na maioria das vezes, a morte eleva ainda mais a popularidade do artista e faz
com que suas obras em geral, e não apenas as mais reconhecidas, fiquem em evidência;
sua morte desperta um maior interesse por parte do consumidor, a fim de conhecer o
restante do trabalho produzido, seja como objeto de consumo próprio ou objeto de
estudo do artista, sua biografia e sua obra.
A morte de Michael Jackson foi vista como um espetáculo midiático. A partir do
anúncio de sua morte, centenas de veículos de comunicação iniciaram um “grande
show”, com imagem de arquivos do cantor16. Toda essa repercussão, a impressão era de
que todos esqueceram as polêmicas17 que envolvia o cantor, como supostas acusações
de pedofilia e a exposição de seu filho na sacada de um hotel, e a imagem de “bom-
menino” e “rei do pop” foram exaltadas.
Outro artista muito lembrado após sua morte é Elvis Presley. Elvis é considerado
o mito da cultura pop dos Estados Unidos. Sua imagem é tão lembrada que, na semana
de aniversário de morte, a cidade de Memphis, no Estado do Tennessee, é celebrada a
“Elvis Week,18 uma semana dedicada a eventos e homenagens ao cantor. Em média, a
cidade recebe cerca de 75 mil pessoas.
3 CONSUMO
A ação de adquirir algum produto para saciar necessidades e/ou desejos leva a
uma análise dos fatores que influenciam cada indivíduo ao consumo de determinado
produto. Para Costa (2009), o consumo é responsável pela organização da sociedade do
presente, em que cada cidadão acaba sendo educado para e por ele. Limeira (2008, p.68)
define o consumo como “o ato ou efeito de consumir, ou seja, o comportamento de
escolha, compra, uso e descarte de produtos e serviços para a satisfação de desejos 16 <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/a-morte-como-espetaculo> 17 <http://diversao.terra.com.br/gente/michaeljackson/interna/0,,OI3844348-EI14032,00.html> 18 < http://www.elvis.com/elvisweek/>
9
humanos”. Compreender as questões que influenciam o consumidor antes, durante e
depois da compra é ter uma visão mais abrangente do processo de consumo, é entender
o comportamento e fatores que levam o consumidor a tal compra. Para Samara e
Morsch (2005, p. 3), “o comportamento do consumidor se caracteriza como processo:
conjunto de estágios que envolvem a seleção, a compra, o uso ou a disposição de
produtos, ideias ou experiências para satisfazer necessidades e desejos”.
Já o consumidor, para Carpena (2004), é quem adquire produto ou serviço. O ato
de adquirir um produto ou serviço decorre de uma necessidade ou desejo do
consumidor, fazendo com que haja uma motivação para o consumidor agir. Sobre
necessidades, Samara e Morsch 2005, p. 102) afirmam: “surgem de estados de tensão e,
quando atingem determinado nível de intensidade, se transformam em uma
predisposição (motivo) que direciona o comportamento para certas metas.” Para Kotler
e Keller (2006, p. 182), o motivo é “uma necessidade que é suficientemente importante
para levar a pessoa a agir”.
Nos dias atuais, as necessidades se confundem com desejos. O desejo pode ser
conceituado como “as necessidades humanas moldadas pela cultura e pelas
características individuais.”19. A diferença entre necessidade e desejo pode ser
exemplificada na situação de compra de um casaco. Há uma necessidade da compra do
produto. Entretanto, se torna um desejo quando o consumidor exige um casaco da marca
x ou y.
Kotler (2000) afirma que os padrões de consumo são moldados de acordo com o
ciclo de vida da família, além da situação financeira e os interesses de cada um. A busca por
produto e/ou serviço varia de pessoa para pessoa. Por este motivo, é necessário o estudo
a respeito do comportamento do consumidor, para compreender melhor as motivações, os
fatores psicológicos, socioculturais e pessoais que levam as pessoas a consumir. Mesmo
que o indivíduo tenha um pensamento próprio, muitas vezes, o meio em que vive acaba
sendo um fator de influência e suas ideias, costumes e conceitos são modificados de
acordo com as pessoas que convivem com ele. Segundo Samara e Morsch (2005), os
fatores que colaboram para mudanças de pensamento e que exercem grande influência
para consumo são: cultura; subcultura; classe social; família; papéis desempenhados
pelo homem ou pela mulher; grupos de referência.
19 http://www.fredtavares.com.br/marketing_conceitos_tipos.htm
10
A cultura é vista como um conjunto de fatores tais como valores, crenças,
costumes, conhecimentos e preferências. Para Kotler e Keller (2006, p. 173), a cultura,
“é o principal determinante do comportamento e dos desejos de uma pessoa”. A cultura
também determina os valores morais de um indivíduo que, para viver em sociedade,
precisa segui-los. Segundo Pinheiro (2005, p. 37), a cultura tem “uma função normativa
e uma função avaliativa. [...] serve de padrão de orientação e de horizonte de
comparação dos comportamentos dos seus integrantes”.
O consumo e a cultura são dois fatores que estão ligados um ao outro, como
afirmam Barbosa e Campbell (2006, p.18): Cultura e consumo são interligados e indissociáveis, pois todo o processo de seleção, escolha, aquisição, uso, fruição e descarte de um bem ou serviço, ou ainda de uma “identidade”, só ocorre e faz sentido dentro de um sistema cultural específico [...] ou seja, materializa os sistemas de classificação e princípios culturais dentro de certos limites sociais, históricos e geográficos. Estes ganham tangibilidade através de comportamentos.
Sendo assim, é consumido aquilo que traz algum tipo de identificação com os
valores, conhecimento e aquilo que para cada indivíduo é considerado cultural e
socialmente aceito. Logo, a cultura é determinante para as decisões de compra de cada
um.
A cultura é composta por subculturas que, para a compreensão do
comportamento e da motivação do consumo, são fatores que devem ser analisados.
Para Samara e Morsh (2005 p. 62), a subcultura é conceituada por como: Grupos, dentro de uma cultura, que exibem padrões de comportamento característico o bastante para distingui-los de outros, dentro da mesma cultura. Esses fatores incluem raça, origem étnica, a nacionalidade, a religião [...] exercem influências sobre as regras de comportamento individual.
Assim, um cantor de uma banda, por exemplo, pode influenciar seus fãs com
seu estilo. Segundo Corrêa (1989), a ascensão do punk na década de 1970, gerou um
grande processo de consumo. Os integrantes das bandas punks, como Sex Pistols,
utilizavam brincos, colares, pulseiras e broches. Na década de 70, a procura destes
adereços era tão grande entre os jovens, que a joalheria H. Stern lançou uma coleção
denominada New Wave, feita de adornos do estilo. Eram tantos admiradores buscando
imitar seu ídolo que até mesmo supermercados vendiam adereços punks. Sendo assim,
compreende que, em muitos casos, o consumo se dá por uma grande admiração a
alguém que segue algum estilo – uma subcultura específica.
Esses grupos subculturais possuem uma relação com aquilo que já foi vivido em
comum, ou seja, compartilham vivências e experiências de vida. As características deles
são: idade, religião, raça, níveis de renda, nacionalidade, sexo, tipo de família,
11
ocupação, região geográfica e comunidade. É de grande importância para o profissional
de marketing conhecer cada uma destas características, a fim de compreender o que leva
cada um destes grupos ao consumo de determinado produto.
Diferente do que parece, a classe social não é determinada pela renda do
indivíduo. Para Samara e Morsh (2005 p. 66), “as classes sociais são divisões ordenadas
e relativamente permanentes de uma sociedade cujos membros possuem valores,
interesses e comportamentos similares”, sendo estes identificados pelo grau de
escolaridade, ocupação, área que reside, tipo de moradia e fontes de riqueza. Este
conjunto de atributos proporciona uma maior visão das influências sociais sobre o
consumidor de determinada classe social.
Torna-se imprescindível compreender a família como grupo de referência, pois,
segundo Kotler e Keller (2006, p.177), “os membros da família constituem o grupo
primário de referência de maior influência” para o consumo. Concordando, Pinheiro
(2005, p. 35) afirma que a família é “um dos mais importantes influenciadores no
processo de tomada de decisão de compra”. Existem dois tipos de família: a de
orientação, que é a de origem, em que são instruídos valores morais e sociais, e a
família de procriação, que é aquela concebida através do casamento. A família se
caracteriza por residir no mesmo local, pela afetividade entre os membros, pelo apoio
mútuo e um senso comum de identidade, sendo os dois últimos de extrema importância
como fator de influência no momento da compra − devido ao apoio mútuo e ao senso
comum de identidade, cada membro da família tende a comprar de acordo com as
necessidades do grupo, além de haver uma preocupação com as opiniões dos demais.
Segundo Samara e Morsch (2005, p.77), “os papéis da família são os meios pelos quais
ela atende suas necessidades cotidianas, os membros se confrontam com várias decisões
que refletem as necessidades da unidade familiar”. Existem também novas formações de
família que, para Samara e Morsch, são compostas por divorciados, solteiros, famílias
com pais divorciados, famílias de homossexuais com filhos, dois pais casados com
pessoas diferentes e/ou com filhos de outro relacionamento. Ou seja, famílias com
constituições diferentes das tradicionais e que, consequentemente, têm um papel
diferente.
Com a mudança de padrões familiares, os valores individuais sofreram
alterações constantes. Homens e mulheres mudaram conceitos e quebraram paradigmas
na construção de suas vidas e carreiras. Quando se fala em homem e mulher
contemporâneos, alguns padrões antigos são deixados de lado e novas perspectivas
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surgem. Segundo Samara e Morsch (2005), o homem, por exemplo, passou a dar
atenção maior às atividades do lar. Desde o princípio da humanidade, o homem era
responsável por toda atividade em que fosse necessária força física, raciocínio lógico e
reflexo apurado. Atualmente, o homem cuida mais da própria alimentação, beleza, é
mais vaidoso, se responsabiliza pelas aquisições e por serviços do lar, passa um tempo
maior com os filhos. Consequentemente, se torna mais participativo nas compras,
precisa conhecer mais as necessidades e desejos da família. Já a mulher, que se
concentrava mais em atividades domésticas, passou a ter um papel muito mais efetivo
na sociedade, se colocando social, política e economicamente através do trabalho. A
mulher contemporânea adquiriu liberdade de escolha muito maior, em diversos aspectos
da vida, além de ser muito influente nas decisões de compra e dividir as contas com o
marido. Não que a maneira tradicional de viver em família tenha sido abolida pela
sociedade; mas, hoje, mulheres, por terem menos tempo em casa, tendem a consumir
mais produtos e serviços instantâneos, como comida congelada, lavanderia, restaurantes
e automóveis e produtos de tecnologia. Por outro lado, a vida do solteiro, atualmente, é
bem movimentada, gerando gastos maiores com programas, como shows e festas
noturnas.
Quanto aos grupos de referência, as decisões de compra são, por muitas vezes,
influenciadas pela vontade de obter aceitação de outros. Geralmente, o consumidor que
visa essa aceitação pertence ou deseja pertencer a algum grupo. Marchan (1997) traz
como exemplo um grupo de motociclistas e a importância do mesmo para a identidade
de seus participantes. Nesse caso, os motoqueiros buscam peças e acessórios para
fortalecer a identidade de seu grupo Sendo assim, os participantes estão unidos por
escolhas de consumo. Mas não há uma identificação com um acessório qualquer para
motocicletas, e sim, determinado acessório que possua a “essência”, a identidade do
grupo do qual participa. Sobre esta união devido ao consumo, o editor da revista
American Iron, comenta: “você não compra uma Harley porque é uma moto de
qualidade superior, você compra uma Harley para fazer parte de uma família”. Deste
modo, Marchan define grupo de referência como “um indivíduo ou grupo, real ou
imaginário, concebido como capaz de ter relevância significativa para as avaliações,
aspirações ou comportamento de um indivíduo.”
Os grupos de referência, segundo Solomon (2005 p. 409), são divididos em três
formas: referência informacional, utilitária e expressiva de valor. O grupo
informacional é caracterizado quando o consumidor procura informações sobre o
13
produto e as aceita. Vendedores ou pessoas que conhecem ou usufruíram do produto
desejado são os que aconselham o consumidor à compra, pois conhecem o desempenho
do produto. A influência utilitária ou normativa é a experiência na qual o consumidor
busca se enquadrar às expectativas de outras pessoas, tanto no ambiente de trabalho, em
seus respectivos nichos, ou conforme a família determina. Como o próprio nome diz, a
influência está relacionada a um conjunto de normas, para que o consumidor seja
recompensado pelo seu comportamento. Por fim, o grupo de referência que tem como
característica a influência expressiva de valor, é aquele em que as pessoas buscam a
autoafirmação através do consumo. Quando a pessoa adquire um produto que o torna
parte de um determinado nicho, ela se sente incluída e eleva sua autoestima.
Mas o consumo não se limita aos atos de escolha e compra de um produto, e sim
engloba três estágios: pré-compra, compra e pós-compra. Solomon (2001, p.34) traz a
perspectiva do consumidor na pré-compra buscando compreender o motivo dele
precisar de um produto, como constata isto, além de saber as melhores fontes de
informações para saber mais sobre escolhas e alternativas. Na questão de compras, na
perspectiva do consumidor, se deve analisar se a aquisição de um produto é uma
experiência interessante ou agradável e o que a compra diz sobre o consumidor. Já para
a análise de pós-compra é preciso entender se o produto traz satisfação ou desempenha a
função pretendida e como o consumidor descarta produto com o tempo e quais serão as
consequências ambientais desse ato.
4 CHORÃO
Nascido em 1970, na cidade de São Paulo, na década de 90, Alexandre Magno
Abrão ficou conhecido como Chorão. Foi skatista profissional, mas seu reconhecimento
veio através da música. Em 1992, juntou-se ao baixista Champignon, na época com 12
anos, ao baterista Renato Pelado e aos guitarristas Marcão e Thiago Castanho. No
mesmo ano, a banda gravou uma fita demo com músicas cantadas em inglês, em que era
muito perceptível a influência de bandas como Suicidal Tendencies e Biohazard20.
Surgia, então, a banda Charlie Brown Jr. Apenas em 1997 a banda assinou contrato com
a gravadora Virgin Records e lançou o primeiro CD, com o título Transpiração Contínua
Prolongada. Músicas como Coro Vai Comê, Proibida pra Mim e Quinta-Feira,
20 Rolling Stone (Edição 79),
14
propagaram o nome da banda por todo o Brasil. O CD foi disco de platina e rendeu o
prêmio de banda relação à banda no MTV Vídeo Music Brasil.21
Preço Curto...Prazo Longo..., segundo CD do Charlie Brown Jr, foi responsável
por músicas como Zoio de Lula e Te Levar – esta última, trilha sonora da abertura do
seriado Malhação (Rede Globo) durante sete temporadas, entre 1999 e 2006 –
posteriormente, entre 2007 e 2008, a música Lutar Pelo Que é Meu, também de Chorão,
se tornou a trilha de abertura do seriado. O terceiro CD da banda levou o título Nadando
com os Tubarões. As faixas tinham como temática fortes crítica ao governo e tratava da
desigualdade social vivida pelo país. Com este CD, a banda Charlie Brown Jr. venceu as
categorias “Melhor Videoclipe de Rock” e “Videoclipe do Ano (Escolha da Audiência)”
da premiação MTV Vídeo Music Brasil. Além disso, a banda foi indicada pela primeira
vez ao Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum de Rock Brasileiro”.
A partir de 2001, a banda passou a ser composta por quatro integrantes. Thiago
Castanho deixa a banda e Charlie Brown Jr seguiu sendo um quarteto. No mesmo ano,
houve uma mudança de gravadora, a Virgin Records – que até então trabalhava com o
Charlie Brown Jr. – foi comprada pela EMI Records. Então foi gravado o 100% Charlie
Brown Jr. abalando a sua fábrica, Chorão afirma que as músicas são mais rock and roll
e, com este CD, a banda recebeu cinco indicações à premiação da MTV e vendeu cerca
de 100 mil cópias.
Bocas Ordinárias, CD lançado em 2002, traz hits como Só por uma Noite e
Papo Reto, a última considerada uma das dez músicas mais executadas na Alemanha em
200322. Este CD atingiu marca superior a 500 mil cópias vendidas, além de cinco
indicações ao prêmio VMB, duas delas vencidas. Ainda em 2002, Chorão tornou-se
garoto-propaganda da campanha “No Estilo”, da Coca-Cola (Anexo A).
Posteriormente, em 2003, juntamente com a MTV Brasil, a banda gravou o
Acústico MTV, que rendeu um CD e um DVD. Foi o primeiro certificado com Disco de
Platina pela ABPD23, considerado o 9º CD24 mais vendido de 2013 e 3º DVD mais
vendido do ano25
Entre 2004 e 2005, Chorão fez uma parceria com a marca Qix, e lançou um tênis
com a sua assinatura (anexo B). Após a gravação do CD Tamo ai na Atividade, que
21 <http://g1.globo.com/musica/chorao/infografico/platb/> Acesso em 25 nov. 2013 22 <http://www.dicionariompb.com.br/charlie-brown-jr/dados-artisticos> Acesso em 25 nov. 2013 23 < http://abpd.org.br> 24 < http://abpd.org.br/estatisticas_mais_vendidos_cd_2003.asp> Acesso em 25 nov. 2013 25 <http://www.abpd.org.br/estatisticas_mais_vendidos_cd_2003.asp>
15
recebeu o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock Brasileiro em 2005, a banda teve
sua formação completamente modificada. Champignon, Marcão e Pelado; Baixista,
guitarrista e baterista respectivamente, deixaram a banda dando lugar a Heitor Gomes,
Thiago Castanho (que fez parte da primeira formação) e Pinguim. Chorão continuava
nos vocais da banda e, junto com os novos músicos, gravou o CDs Imunidade Musical
(2005) – que vendeu cerca de 250 mil cópias – e o CD Ritmo, Ritual e Responsa (2007),
com vendagem superior a 100 mil cópias.
Em 2007, no cinema, Chorão roteirizou e participou do filme O Magnata, que
foi assistido por cerca de 140 mil pessoas26. A partir de 2008, ocorreu mais uma
modificação na formação e Bruno Graveto tornou-se o novo baterista da banda e, em
2009, gravou o décimo CD da carreira da banda, que levou o nome de Camisa Dez Joga
Bola Até na Chuva. Com este álbum, a banda venceu mais um Grammy Latino na
categoria “Melhor Álbum de Rock Brasileiro” e vendeu cerca de 200 mil cópias. Ainda
em 2009, Chorão criou a marca de roupas Do.Ce (Dose Certa)
Para surpresa de muitos fãs, no ano de 2011, em períodos diferentes, o baixista
Champignon e o guitarrista Marcão retornou à banda, que quase voltou à formação
original do Charlie Brown Jr. (exceto pelo baterista Renato Pelado, que seguiu carreira
gospel). Juntos, Chorão, Champigon, Marcão, Bruno Graveto e Thiago Castanho, após
uma pausa de 3 anos sem material novo da banda, gravou o Música Popular Caiçara,
que rendeu DVD e CD ao vivo com onze faixas, sendo uma delas inédita. Para marcar a
volta dos integrantes, Chorão criou a marca “La Família 013” (ver Anexo C), composta
por bonés, moletons e camisetas para uso exclusivo dos integrantes, uma espécie de
uniforme, roupas para fixar a identidade visual do Charlie Brown Jr. Porém, por
exigência dos fãs, estes produtos serão lançados para vendas segundo a página oficial da
Charlie Brown Jr. no Facebook (ver anexo D).
No início de 2013, a banda entrou em um período de férias. Porém, em 6 de
março, na cidade de São Paulo, o corpo de Chorão foi encontrado em seu apartamento.
Segundo laudos do Instituto Médico Legal, o cantor morreu de overdose por cocaína27.
A comoção em torno da sua morte foi demonstrada em redes sociais e através de
veículos como a televisão. A MTV Brasil, por exemplo, dedicou 48 horas da sua
programação a reportagens, videoclipes e arquivos da banda Charlie Brown Jr./Chorão.
Além da MTV Brasil, o episódio do seriado Malhação daquele dia foi encerrado com a
26 <http://www.cineplayers.com/artigo.php?id=50> Acesso em 25 nov. 2013 27 <http://g1.globo.com/sao-paulo/musica/noticia/2013/09/relembre-morte-de-chorao.html> Acesso em 25 nov. 2013.
16
música Te Levar como forma de homenagem − tudo isto, por apelo feito pelos fãs no
Twitter utilizando a hashtag #CBJrAberturaDaMalhaçãoPorChorão28 (Anexo E).
Dezenas de programas televisivos, jornais, revistas e sites relembraram a trajetória do
músico. Segundo o site A Folha29, “fãs de todo o Brasil se dirigiram para a cidade de
Santos, litoral de São Paulo, para a despedida do cantor. Mais de quatro horas antes da
abertura do velório de Chorão ao público, algumas dezenas de fãs já esperam a chegada
do corpo à Arena Santos, litoral paulista”, para prestar uma última homenagem ao
músico. Sua morte também foi marcada por polêmicas em torno da divulgação das fotos
do corpo do cantor morto, caído no chão e com marcas de sangue no rosto, além de
imagens de seu apartamento com resquícios do que aparentava ser droga, bebidas
alcoólicas, remédios e objetos quebrados.
Cerca de um mês após a morte do cantor, os ex-integrantes do Charlie Brown Jr.
juntaram-se e formaram A Banca. Champigon, até então baixista da banda, se tornou
vocalista e Lena Papini assumiu o baixo. Alvo de muitos fãs do Charlie Brown Jr.,
Champignon sofreu muitas críticas na internet. Chamado de “Judas” e acusado de
“roubar” o lugar de Chorão, Champignon cometeu suicídio no dia 9 de setembro de
2013. Familiares e amigos atribuíram a motivação do suicídio às fortes críticas30.
Com a promessa de continuar o legado de seu pai, Alexandre Ferreira Lima,
filho de Chorão, assinou contrato com a gravadora Som Livre e lançou um CD inédito,
o La Família 013, álbum que estava sendo gravado pela banda antes da morte dos
integrantes. Muito esperado pelos fãs, não apenas pelo fato de ser um CD póstumo mas
também pelo fato da banda não ter lançado algo inédito há 3 anos, o La Família 013
atingiu o primeiro lugar no iTunes (ver anexo F). Também ocorreu o lançamento de dois
clipes de músicas deste álbum que são: Meu Novo Mundo e Um Dia a Gente se
Encontra, o último ultrapassando quinhentas mil de visualizações em menos de 24
horas após ser postado no canal YouTube (Anexo G).
Com a morte de Chorão, algumas pessoas se mobilizaram e criaram camiseta em
homenagem ao cantor. Além disto, a prefeitura de Santos batizou uma pista de skate
pública com o nome de Chorão (ver Anexo H). Em contrapartida, a pista construída por
Chorão (Anexo I) foi fechada por conta de dívidas, mesmo havendo uma mobilização
28<http://jovempan.uol.com.br/arquivo/chorao/fas-de-malhacao-pedem-antigo-tema-de-abertura-em-homenagem-a-chorao.html> Acesso em: 25 nov. 2013 29 <http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1241698-eu-morri-junto-com-ele-diz-fa-de-chorao-a-espera-do-velorio.shtml> Acesso em: 15 set. 2013 30 <http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2013/10/poder-do-mal-agiu-sobre-ele-posta-viuva-de-champignon.html> Acesso em 25 nov. 2013
17
de fãs e admiradores do cantor para que houvesse apoio da prefeitura da cidade. A
petição (ver Anexo J) atingiu um número superior a 20 mil assinaturas online.
Chorão, além de vocalista da banda Charlie Brown Jr., em que gravou doze CDs
– que, juntos, venderam mais de cinco milhões de cópias - e seis DVDS, possuía duas
marcas próprias de roupas: Do.Ce (Dose Certa) e Plata (ver Anexo L). Além da marca, a
La Família 013. Chorão também era proprietário de uma pista de skate na cidade de
Santos (ver Anexo I), que se tornou ponto turístico da cidade antes mesmo de sua morte.
5 A MORTE DE UM ARTISTA COMO MOTIVAÇÃO PARA O CONSUMO
A pesquisa apresentada nesta seção foi realizada para cumprir os objetivos do
presente artigo: analisar o consumo de produtos relacionados a Chorão e à banda
Charlie Brown Jr., verificando os produtos mais consumidos, as motivações de consumo
e a valorização ou não dos produtos após o falecimento do vocalista da banda.
Trata-se de uma pesquisa quantitativa e descritiva/explicativa com delineamento
em parte documental, em parte levantamento. Na primeira, foram pesquisados posts na
rede social Facebook e em páginas que divulgassem ou até mesmo vendessem produtos
relacionados ao cantor. A pesquisa foi realizada no período de 16 julho a 20 de
novembro de 2013, buscando os posts na página oficial do Facebook da banda Charlie
Brown Jr31 e dados em páginas que comercializam roupas e acessórios relacionados ao
Charlie Brown Jr, tais como Camisas CBJr.32 e Sheik Skateboard33. Também foram
monitoradas postagens no grupo fechado CHARLIE BROWN JR. #CBJR34, que possui
8.883 membros.
Quanto aos resultados da análise documental, observando a página oficial do
Facebook do Charlie Brown Jr no período pesquisado, foi obtido apenas um post que
houvesse menção a produtos relacionados a Chorão. O comunicado alegava a venda de
produtos oficiais La Família 013, tais como moletons, camisas e bonés. A postagem
obteve centenas de comentários positivos.
Na página oficial do Facebook, por exemplo, no dia 12 de setembro de 2013, foi
feita uma postagem35 anunciando a venda de produtos oficiais da marca La Família 013
31 < https://www.facebook.com/cbjroficial?fref=ts> 32 < https://www.facebook.com/camisas.cbjr?fref=ts> 33 < https://www.facebook.com/SHEIKSkateboard?fref=ts> 34 < https://www.facebook.com/groups/charliebrownjunior/?fref=ts> 35 < https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10152188181543275&set=pb.273785043274.-2207520000.1385610310.&type=3&theater>
18
(ver anexo D). Tal postagem gerou cerca de 2.360 curtidas, 852 compartilhamentos e
209 comentários, na sua maioria, com demonstrações de ansiedade e alegria por obter
um produto oficial da banda.
Já no grupo de discussão sobre a banda, ocorreu uma espécie de teaser em
relação ao último CD. Alexandre Ferreira Lima, filho de Chorão e responsável por
administrar a marca Charlie Brown Jr., realizou postagens (Anexo M) aguçando a
curiosidade dos fãs sobre o CD. Com isso, curiosidade e uma grande ansiedade em
muitos daqueles que interagiram com a postagem.
Em relação às páginas com vendas de produtos não autorizados, foram
questionados Bruno Lima e Diego Sheik, administradores, respectivamente, da Camisas
CBJr. e Sheik Skateboard, ambas lojas virtuais que buscam vender produtos
relacionados à Chorão e Charlie Brown. Ao questionar ambos, os respondentes
afirmaram um aumento tanto de vendas, quanto de curtidas nas páginas. Entretanto,
ambos não souberam informar porcentagens deste aumento.
Em relação ao levantamento, foram pesquisados fãs e não fãs de Chorão e da
banda Charlie Brown Jr. através de questionário (Apêndice A), postado no Google.docs
entre os dias 19 e 21 de novembro de 2013. O questionário foi formulado com oito
perguntas, sendo cinco delas de múltipla escolha. Para obter a participação das pessoas,
foram postados pedidos na rede social Facebook de grupos de fãs da banda Charlie
Brown Jr. e no perfil particular da pesquisadora (ver Apêndice B), em 19 de novembro.
Em dois dias, foram obtidas 333 respostas, todas elas sem identificação pessoal dos
respondentes.
Passando aos resultados do levantamento, na sequência, é preciso esclarecer que,
aqui, eles são apresentados de forma sintética; os gráficos com os números detalhados
das respostas podem ser vistos no Apêndice C.
Para a primeira questão, que perguntava “desde quando você acompanha a
banda Charlie Brown Jr.?”, 32% dos respondentes (108 entrevistados) acompanham a
banda Charlie Brown Jr. a partir de 2001, quando a formação era constituída por
Chorão, Champignon, Marcão e Pelado – o guitarrista Thiago Castanho havia se
afastado da banda. Deste número, 77% (84) dos entrevistados que assinalaram esta
alternativa, se consideravam fãs da banda. Houve, naquele período, uma mudança de
gravadora, o que pode ter influenciado a grande adesão à banda neste período, além de
uma série de prêmios que a banda vinha ganhando, o que os evidenciou na mídia. A
segunda resposta mais assinalada mostra que 21% dos respondentes acompanham a
19
banda desde o início, 1997, com a formação Chorão, Champignon, Thiago, Marcão e
Pelado. A terceira e quarta alternativas mais assinaladas são, respectivamente 2005, com
17%, e 2008, com 15%. A partir de 2011, com a volta da formação quase original,
encontram-se como respostas 8% após a volta de Marcão e Champignon e 4% com a
volta de Marcão. Em contrapartida, dentre as pessoas entrevistadas, um menor número
– 3% – passou a acompanhar a banda após a morte de Chorão e Champignon, no ano de
2013. Analisando o público pesquisado, compreende-se que a morte do artista não se
mostrou um estímulo para que a banda obtivesse novos fãs.
Buscando compreender a diferenciação do consumo de uma pessoa que se
considera fã e de outra que não se considera, foi feito o seguinte questionamento: “você
se considera fã da banda Charlie Brown Jr?”. Foram obtidas 72% respostas assinalando
“sim” e 28% não. O conceito de fã varia de pessoa para pessoa. Não foi sugerido
nenhum critério ao questionar e sim, apenas, a pergunta se o respondente se considerava
ou não.
Sobre a maneira como os entrevistados conheceram a banda Charlie Brown Jr.,
27% a conheceu através de amigos. Este comportamento é explicado por Solomon
(2005), por meio dos grupos de referência na influência expressiva de valor, ou seja,
quando o indivíduo busca a autoafirmação por meio do consumo, quando
adquire/consume tal produto – no caso, a banda – para ser parte de determino nicho e,
sendo assim, ela se sente incluída e eleva sua autoestima. A segunda forma mais
apontada como meio de conhecer a banda Charlie Brown Jr. foi através da família.
Pode-se compreender estes números concordando com Pinheiro (2005), que traz uma
perspectiva de que a família é um grande ponto de influência para a decisão de
consumo. Além disto, a família é aquela que instrui os valores morais e sociais e cria
um senso comum de identidade, o que, por muitas vezes, faz com que as decisões de
consumo sejam feitas por meio de senso comum a todos.
Como já foi referido, a morte de Chorão gerou uma grande mobilização de
pessoas em redes sociais. No dia 6 de março – data de sua morte – o cantor ficou entre
os 10 assuntos mais falados da rede social (Anexo N). Nos Trending Topics, todas as
palavras relacionadas a seu nome estavam ligadas a tristeza e luto, sendo algumas delas:
#LutoChorão, #ChorãoPraSempreEmNossosCoraçoes, #Chorões. Estes sentimentos de
lástimas se confirmaram nos resultados da questão 3, que perguntava o que a morte de
Chorão provocou. Para 42% dos respondentes foi “tristeza”; para 21%, “luto”. Em
muitos casos, este luto se dá em respeito ao ídolo. Outra forma de prestar tributos, pois,
20
muitas vezes, o fã vê como forma de gratidão a seu ídolo mostrar publicamente sua
admiração. Há respondentes que complementaram a resposta relatando “o fim de um
sonho”, com a morte do cantor, além de “solidão, desânimo e saudade”.
Maranhão (1985) afirma que a morte nivela e mostra a igualdade entre os
homens e que, a partir da metade do século XX, a morte torna-se um “rápido adeus”,
porque a sociedade exige que o indivíduo tenha autocontrole de suas emoções e o
enlutado deve ficar isolado, a fim de não ser desagradável para os demais. Entretanto,
esta afirmativa não se confirma na percepção dos fãs, pois, a relevância de um artista é
relativamente proporcional ao impacto de sua morte, não há autocontrole das emoções e
as demonstrações de luto e tristeza se fazem presentes. Assim, mesmo após 8 meses da
morte de Chorão, seus fãs e admiradores ainda relatam luto lastimam sua morte.
Ainda nesta questão, as terceira e quarta opções mais assinaladas possuem
relação direta com o desejo de mostrar aos outros sua admiração por Chorão e Charlie
Brown Jr. São elas, respectivamente, “vontade de mostrar publicamente que gosta da
banda”, assinalada por 42% dos respondentes, e “mostrar publicamente a admiração
pelo cantor Chorão”, selecionada por 11% dos respondentes. Somadas, essas respostas
chegam a 53% do total, podendo ser analisadas como manifestações àqueles que
esperam algo do fã como traz Solomon (2005) sobre a influência utilitária, o indivíduo
busca atender às expectativas de outras pessoas e consumir aquilo que é esperado por
outros.
Totalizando 8% das respostas, a alternativa “vontade de conhecer mais o
trabalho de Chorão” pode ser explicada por Pimentel, quando refere que a morte faz
com que a imagem que temos das pessoas se purifique e que é humano perdoar os erros
cometidos em vida. Considerado um artista polêmico, muitos que eram contra Chorão
ou nem buscavam saber sobre ele passaram a recapitular sua carreira e, por
consequência, a admirá-lo.
Já a alternativa menos assinalada nesta questão foi que a morte do cantor
motivou a buscar produtos relacionados a Chorão, o que gera um desencontro com a
terceira resposta mais assinalada – mostrar publicamente a admiração por meio de posts
e camisetas. Este “desencontro” de respostas pode ter acontecido pelo fato do conceito
de consumo estar ligado ao ato da compra em si, e não ao consumo da imagem do
cantor, através de posts em redes sociais, por exemplo. Outro ponto que pode ser
considerado é o fato do esquecimento devido ao tempo, afinal, desde a morte do cantor
21
até o momento em que foi aplicado o questionário passaram-se aproximadamente oito
meses.
Ainda na questão 3, quando assinalada a alternativa “outros”, duas pessoas
alegaram dissertativamente que consideravam o cantor um mau exemplo para os fãs.
Talvez pela grande proporção que as demonstrações de luto e tristeza tiveram, um dos
entrevistados faz a seguinte afirmação: Mostra que devemos repensar que são os exemplos de ídolos que temos a seguir... Perder um filho é muito mais triste e muitos ficam chorando a morte de um cantor que muitas vezes nem sabe que você existe... e com certeza nem se importa com o seu sofrimento...
Analisando o respondente como consumidor, é possível retomar o conceito de
consumo por meio dos grupos de referência, mais especificamente a cultura. A cultura,
como Kotler e Keller (2006) afirmam, é o principal determinante de desejo e
comportamento. É um conjunto de fatores como valores e crenças. portanto, analisando
a resposta obtida, percebe-se que exaltar o cantor Chorão e/ou adquirir algo relacionado
a ele não seria o caso do respondente assinalado, afinal, dentro do conceito de cultura,
apenas consome-se aquilo que traz algum tipo de identificação com valores e do que se
é considerado social e culturalmente aceito.
A análise de respostas dadas por pessoas que se consideravam fãs e assinalaram
a alternativa “outros” revelam sentimentos de saudosismo, solidão e dor. Frusciante
(2012) traz uma perspectiva de que o fã vê o ídolo sendo uma fonte de conforto, quando
há dor ou confusão. O artista se torna uma imagem que corresponde à própria dor
subconsciente e assim a anula. Uma das respostas traz uma idéia de gratidão ao cantor:
“celebrar ainda mais as coisas boas que Chorão nos proporcionou: amizades, boas
lembranças”.
Em relação à procura/compra de produtos referentes a Chorão e/ou à banda
Charlie Brown Jr. listados no questionário, 52% dos respondentes afirmam não ter
adquirido algum produto que possui relação com Chorão após sua morte. Este resultado
pode estar relacionado com o lapso de tempo, afinal, com o passar dos meses, as
pessoas podem esquecer daquilo que consomem, pois, segundo reportagens analisadas
nas pesquisas, os CDs do Charlie Brown Jr. venderam 20 vezes mais.
Entre os itens comprados após Chorão ter falecido, foram obtidas respostas bem
distribuídas: 13% compartilharam links relacionados ao cantor em redes sociais. Em
uma análise com o que já foi estudado, podemos relacionar a morte de Chorão, na
perspectiva de um fã, sendo como o fim de um modelo de identificação. A partir disto, o
22
fã ou aquele que admira, pode ser parte da influência utilitária e busca enquadrar às
expectativas de outras pessoas, busca fazer parte de um conjunto de normas.
Expectativas estas que são demonstradas através de compartilhamentos, de
demonstrações públicas do sentimento de luto por seu ídolo.
Outro produto que obteve 11% da busca por parte dos respondentes, é o CD La
Família 013, álbum que, na semana de lançamento, atingiu primeiro lugar no iTunes
(Anexo P). Fatores que estimularam tal consumo podem estar relacionados com o produto
ter sido lançado após a morte de Chorão e Champignon, o que aguça ainda mais a
curiosidade e o anseio de guardar algo de um cantor morto. Afinal, aquela é a última obra.
Fazendo um comparativo entre os produtos vendidos antes e depois da morte de
Chorão, é encontrado o mesmo resultado em ambas as questões. Assim, 23% dos
respondentes adquiriram arquivos em MP3 antes da morte de Chorão e 14% após.
Outro fato percebido é que o segundo e terceiro produtos mais consumidos após a morte
de Chorão foram produzidos e lançados após a morte do cantor: 13% dos respondentes
relatam ter compartilhado algum link com a intenção de homenageá-lo; 11% adquiriu o
CD póstumo, La Família 013 e outros 5% alegam ter comprado camisetas em
homenagem a Chorão. Um dos respondentes que acrescentou comentário à sua resposta
trouxe a seguinte perspectiva: “Eu sempre comprei coisas da banda. A morte de Chorão
fez com que muitas coisas aparecessem, portanto, comprei outras coisas da banda
devido à maior variedade de oferta”.
Quando estudada a procura por produtos que envolvem o cantor e a banda,
aqueles que buscaram algo relacionado a Chorão, na sua maioria o fizeram com o
intuito de homenagear o cantor após sua morte e ficaram ansiosos para guardar algo
relacionado ao artista. Essas atitudes podem ser explicadas como uma forma de manter
o ídolo vivo. Além disto, a morte de um artista causa um envolvimento geral por conta
da repercussão da imprensa, como afirma Pimentel.
CONCLUSÃO
Na análise de produtos relacionados a Chorão, em pesquisa feita por meio de
questionário, quase metade (48%) dos respondentes consumiu algo relacionado a
Chorão, sendo os produtos mais consumidos antes e após sua morte, arquivos em mp3.
Embora 52% dos respondentes tenham declarado não adquirir produtos
relacionados a Chorão após a sua morte, reportagens contrariam este resultado. Assim,
23
deve-se levar em consideração o fato do tempo decorrido entre a morte de Chorão e a
realização da pesquisa, que pode ter levado as pessoas a esquecerem a aquisição de
algo. Também pode ser considerado o fato de que 72% dos respondentes se consideram
fãs da banda Charlie Brown Jr, o que pode fazer com que eles já tivessem alguns
produtos, como CDs, roupas e arquivos em MP3, antes da morte do cantor.
A morte de Chorão foi vista como algo inesperado. A imagem transmitida por
ele, que tinha 42 anos quando morreu, era de um jovem roqueiro-skatista, que servia de
reflexo para muitos jovens. Além disto, o CD La Família 013, último disco da banda,
deveria ter sido lançado há cerca de dois anos, fato que tornou o álbum um dos mais
esperados por quem acompanhava a carreira da banda. A morte, como citado na
pesquisa, valoriza ainda mais o artista. Sua ausência faz com que suas obras se tornem
supervalorizadas. Acredito que o fato de ser uma figura inspiradora aos jovens, tanto
com atitudes, quanto em estilo, fez com que muitos buscassem consumir as marcas de
roupas utilizadas pelo artista. Com vinte anos de carreira, a banda Charlie Brown Jr. foi
trilha sonora da vida de muitas pessoas; sendo assim, é comum aqueles que nasceram
entre 1990 e 2000 terem, no mínimo, um momento da vida marcado por músicas de
Chorão e quererem guardá-lo de alguma forma, por meio de consumo de uma música
ou qualquer outro produto relacionado a Chorão.
Ao longo da pesquisa, se tornou perceptível o fato do Charlie Brown Jr. ser uma
banda consolidada. Não apenas pelo fato de obter números altos das vendagens de CDs
e produtos, mas por ganhar novos admiradores a cada geração e manter um público fiel
os acompanhando. Há, também, uma questão em relação ao Chorão que pode ser
definida como “amor e ódio”. O cantor, por ter uma personalidade forte, era visto como
ídolo ou como mau exemplo, não sendo comum haver meio termo e o artista ser
frequentemente criticado por uso de droga ou algumas atitudes, o que não mudou após a
sua morte.
A respeito da produção do trabalho, pode-se afirmar que foi muito válida a
pesquisa. Além de agregar conhecimento, escrever sobre um tema de preferência
pessoal é algo que traz satisfação. Outro fator a ser considerado é que, como fã, me
encaixo no perfil daqueles que buscam homenagear e demonstrar a gratidão por tudo
aquilo que o Charlie Brown proporcionou.
A presente pesquisa pode servir como auxilio a futuros trabalhos que possuam
relação com a temática de morte de um artista e sua relação com produtos consumidos
por fãs.
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REFERÊNCIAS
BARBOSA, Lívia. Sociedade de Consumo. Rio de Janeiro/RJ: Jorge Zahar, 2004. CAMPBELL, Colin. O consumo nas ciências sociais contemporâneas. In: BARBOSA, Livia; CAMPBELL, Colin (orgs.). Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro/RJ: FGV, 2006. CARPENA. Heloisa. O direito de escolha: garantindo a soberania do consumidor no mercado. “Revista de Direito do Consumidor”, São Paulo/SP, n. 51, jul-set, 2004. CORRÊA, Tupã Gomes. Rock nos passos da moda: mídia consumo x mercado consumidor. Campinas/SP; Papirus,1989. COSTA, Marisa Vorraber. A educação na cultura da mídia e do consumo. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009 FAUSTO NETO, A. Mortes em derrapagem. Rio de Janeiro/RJ: Rio Fundo, 1991 KOTLER, Philip. Administração de marketing: a edição do novo milênio. São Paulo/SP: Prentice Hall, 2000. LIMEIRA, Tânia Maria Vidigal. Comportamento do Consumidor Brasileiro. São Paulo/SP: Saraiva, 2008. MARANHÃO, José Luíz de Souza. O que é morte. São Paulo/SP: Brasiliense, 1985. PINHEIRO, Roberto R. et al Comportamento do Consumidor e Pesquisa de Mercado. 2ª ed. Rio de Janeiro/RJ: FGV, 2005. SAMARA, Beatriz Santos; MORSCH Marco Aurélio. Comportamento do consumidor: conceitos e casos. São Paulo/SP: Prentice Hall, 2005. SOLOMON, Michael R. O comportamento do consumidor: comprando, possuindo e sendo. 5ª ed. Porto Alegre/RS: Bookman, 2002.
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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO
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Disponível em:
<https://docs.google.com/forms/d/18h2b05ei2hopzmaeaVqTdfoOqOZljxOC6XCl5Xg
M6g/edi>
APÊNDICE B – PÁGINA PESSOAL DA PESQUISADORA
Disponível em:
<https://www.facebook.com/manuella.rivarola/posts/10200352851782603> Acesso em
25 de nov. 2013.
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APÊNDICE C – GRÁFICO DE RESPOSTAS
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ANEXO A- CAMPANHA COCA-COLA
Disponível em: <http://kamaleao.com/mix/6927/fotos-chorao-charlie-brown-jr> Acesso em 25 nov.2013
ANEXO B – TÊNIS QIX
Disponível em: <http://www.paradaobrigatoriapva.com.br/conteudo-noticia/399/filho-unico-e-ex-mulher-vao-dividir-grana-de-chorao-veja-patrimonio.html> Acesso em 25 nov. 2013
ANEXO C – PRODUTOS LA FAMÍLIA 013
Disponível em: <http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-522133760-blusa-la-familia-013-charlie-brown-choro-moletom-canguru-_JM> Acesso em 25 nov. 2013
ANEXO D – COMUNICADO SOBRE PRODUTOS NA PÁGINA DA BANDA.
Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10152188181543275&set=pb.273785043274.-2207520000.1385647943.&type=3&theater> Acesso em 20 out. 2013.
ANEXO E – HOMENAGENS DE FÃS
Disponível em: <http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2013/03/jovens-fazem-homenagem-chorao-em-parque-de-porto-alegre.html> Acesso em 29 out. 2013
Disponível em: <http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2013/03/milhares-de-pessoas-participam-de-homenagem-chorao-em-santos.html> Acesso em 29 out. 2013
ANEXO F- LA FAMÍLIA 013 EM PRIMEIRO LUGAR NO ITUNES
Disponível em: <http://www.apple.com/itunes/?cid=OAS-US-DOMAINS-itunes.com> Acesso em 15 out. 2013.
ANEXO G –MAIS DE MEIO MILHÃO DE VISUALIZAÇÕES NO CLIPE
“UM DIA A GENTE SE ENCONTRA”
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=GzqBwUA3wJw> Acesso em 15 out. 2013.
ANEXO H – PISTA DE SKATE PÚBLICA EM HOMENAGEM A CHORÃO
Disponível em: <http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2013/07/pista-de-skate-de-santos-sera-batizada-com-o-nome-do-cantor-chorao.html> Acesso em 30 out. 2013
ANEXO I – CHORÃO SKATE PARK
Disponível em: <https://www.facebook.com/oficialchoraoskatepark?fref=ts> Acesso em 15 out. 2013
ANEXO J – PETIÇÃO PARA O NÃO FECHADO DO CHORÃO SKATE PARK
Disponível em: <https://secure.avaaz.org/po/petition/Verba_da_secretaria_de_esporte_da_prefeitura_de_Santos_para_manter_a_pista_Chorao_Skatepark_ativa/> Acesso em 12 nov. 2013
ANEXO L – ROUPAS DA MARCA DO.CE E PLATA
Disponível em: <https://msn.lilianpacce.com.br/moda/chorao-charlie-brown-jr-doce-marca/> Acesso em 14 out 2013
ANEXO M – TEASERS CD LA FAMÍLIA 013
Disponível em : <https://www.facebook.com/groups/charliebrownjunior/?fref=ts> Acesso em 23 out. 2013
ANEXO N – TRENDING TOPICS DO TWITTER
Disponível em: <http://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/noticias/morte-de-chorao-domina-todos-os-trending-topics-do-twitter-20130306.html> Acesso em 25 nov. 2013