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Revista Communicare E m 2014, a presidente Dilma Rousseff foi reeleita com mais de 54 milhões de votos. Reeleição constituída por alianças e contendas políticas e midiáticas. Delação de réus envolvidos na operação Lava Jato, que investigava fraudes em contratos da Petrobras e en- volvia executivos da estatal e políticos, deixava em evidência o governo e a sua base aliada. O cenário fortalece o debate sobre o impeachment. O artigo tem por objetivo analisar o cenário da votação do impeachment na Câmara dos Deputados e a produção da narrativa de seus atores. Palavras-chave: política; narrativa; mídia; impeachment. Carla Montuori Fernandes Pós-doutora e Doutora em Ciências Sociais pela PUC-SP E-mail: [email protected] Isabel Cristina de Araújo Rodrigues Mestranda pela UNIP E-mail: [email protected] A mídia como palanque dos políticos brasileiros: uma análise dos depoimentos dos deputados federais na votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT)

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Revista Communicare

Em 2014, a presidente Dilma Rousseff foi reeleita com mais de 54 milhões de votos. Reeleição constituída por alianças e contendas políticas e midiáticas. Delação de réus envolvidos na operação Lava Jato, que investigava fraudes em contratos da Petrobras e en-

volvia executivos da estatal e políticos, deixava em evidência o governo e a sua base aliada. O cenário fortalece o debate sobre o impeachment. O artigo tem por objetivo analisar o cenário da votação do impeachment na Câmara dos Deputados e a produção da narrativa de seus atores. Palavras-chave: política; narrativa; mídia; impeachment.

Carla Montuori FernandesPós-doutora e Doutora em Ciências Sociais pela PUC-SP

E-mail: [email protected]

Isabel Cristina de Araújo RodriguesMestranda pela UNIP

E-mail: [email protected]

A mídia como palanque dos políticos brasileiros: uma análise dos depoimentos dos deputados federais na votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT)

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Volume 16 – Nº 2 – 2º Semestre de 2016

Artigos 97

The media as a platform of brazilian politicians: an analysis of the federal deputies statements of the impeachment vote of president Dilma Rousseff (PT)

The paper discusses the methodological approach of a broad research about the young black people, their communication practices and culture production modes, in particu-lar, the music, in the migrant condition in the Colombian urban contexts. Among the many elaborated questions during the research, our interesting here is to propose a me-thodological map that intends our quantitative date collect technics and our theoretical assumptions with the intention of discussing many study perspectives about the young people. With that, we could emphasize the value of the young voices and their music lyrics as a meaningful font of our object construction. That allows us to interpret the meaning of their practices and their translation of the world as a creative dynamic, con-nected to a demonstration of their collective capacity of express themselves in commu-nity or their politics potentially.

Keywords: young culture; music; discussion groups; narrative interviews; Colombia.

Los medios de comunicación como una plataforma de políticos brasileños: un análisis de las declaraciones de diputados federales en el voto destitución de la presidente Dilma Rousseff (PT)

En 2014, la presidente, Dilma Rousseff, fue reelegido con más de 54 millones de votos. Reelección compone de alianzas y conflictos políticos y medios de comunicación. La de-lación de acusados involucrados en la operación de la ‘Lava Jato’ investigación del fraude en los contratos de Petrobras y que participan los ejecutivos, estatales y políticos, que quedan en evidencia al gobierno y su base aliada. El escenario refuerza el debate sobre el juicio político. El artículo tiene como objetivo analizar el escenario de juicio político de la votación en la Cámara de Representantes y la producción narrativa de sus actores.

Palabras clave: la política; la narración; los medios de comunicación; el juicio político.

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Revista Communicare

Em 27 de outubro de 2014, a presidente Dilma Rousseff (PT) foi reeleita com mais de 54 milhões de votos. Uma campanha bastante acirrada. A ree-leição foi constituída por uma coligação1 com nove partidos e contendas nos campos político e midiático.

Já no início do segundo mandato, o resultado das urnas era discutido no Tribunal Superior Eleitoral. A oposição, encabeçada pelo derrotado no segundo turno da disputa eleitoral, Aécio Neves (PSDB), pedia a sua revisão por enten-der que o pleito fora fraudado. Auditoria realizada pela oposição, com a devida autorização do TSE, apenas confirmou a lisura da eleição. No entanto, delações de réus envolvidos na operação Lava Jato, conduzida pela Polícia Federal, Minis-tério Público Federal e Justiça Federal concentradas no Paraná, que investigava fraudes em contratos da Petrobras que envolvia nomes de executivos de emprei-teiras, executivos da própria estatal e políticos de diferentes partidos, acirram os ânimos políticos. Tais ocorrências colocavam em evidência o governo, a pre-sidente Dilma, seu partido político e, ainda, a sua base política de sustentação.

Nesse momento, mais uma vez, a possibilidade de cassação do manda-to da presidente Dilma ganha notoriedade, tanto entre os políticos quanto no noticiário da imprensa brasileira e internacional. Agora, por indícios de que contribuições financeiras feitas para sua campanha eleitoral foram oriundas de empresas investigadas na operação Lava Jato. A divulgação pela mídia dos de-poimentos dos investigados favorecidos pela delação premiada à Justiça Federal contribui para fortalecer a crise política e desgastar ainda mais a imagem públi-ca do governo, que já sofria com esse processo por causa da crise econômica.

Em meio a todo esse cenário já turbulento, o Tribunal de Contas da União (TCU) revela que a presidente petista usara dinheiro de bancos públicos para custear despesas do governo com programas sociais, prática denominada de “pedaladas fiscais”. Inicia-se a discussão na Câmara dos Deputados, agora so-bre uma base teoricamente mais consistente, o chamado crime de responsabi-lidade, a respeito do impedimento da continuidade do Governo Dilma.

A conjuntura econômica do país vivia o seu pior momento: inflação elevada, a alta excessiva do dólar, aumento das taxas de desemprego, fecha-mento de empresas, baixo consumo de bens e serviços, baixo nível de cre-dibilidade junto a investidores, alta desconfiança dos empresários etc. Além disso, a política vivia um colapso institucional: diversos membros do Senado e da Câmara são personagens centrais das denúncias de corrupção, entre os quais Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL), presi-dentes da Câmara dos Deputados e do Senado, respectivamente. Vê-se uma panaceia de fatos e atitudes, contrária aos discursos proferidos, que visam apenas à sustentação dos sujeitos envolvidos em seus postos. Um cenário cada vez mais turbulento.

1. A coligação de Dilma Rousseff era composta pelo PT, PMDB, PDT, PC do B, PP, PR, PSD, PROS e PRB.

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Fortalece-se o debate sobre o impeachment. Denúncia feita pelos juris-tas Miguel Reale Jr., Janaina Paschoal e Hélio Bicudo é entregue ao presiden-te da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, também alvo de processo da Comissão de Ética da Câmara, que avalia se o parlamentar mentira na Co-missão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras. Ele negou ter recebido propinas da estatal e também que possuía contas em bancos do exterior. Suas negativas foram comprovadamente desmentidas.

A denúncia contra a presidente Dilma é aceita pelo presidente da Câmara. A base governamental afirma que o procedimento do presidente da Casa era uma resposta à negativa do governo em ajudá-lo a impedir o avanço do processo instaurado na Comissão de Ética. Aceita a denúncia, a Câmara dos Deputados forma uma comissão que analisa o pedido de impeachment. Importante mencionar que esta comissão sofreu questio-namentos quanto à sua legitimidade, pelo fato de mais da metade de seus integrantes terem seus nomes citados nos depoimentos de delatores da operação Lava Jato. O processo seguiu, a comissão votou por seu cabi-mento e o encaminhou ao plenário da Câmara, que votou por sua admis-sibilidade e continuidade.

Em tempos de impeachment, observam-se disputas e formações de pactos estabelecidos em palanques políticos e midiáticos. O político, representado pelo Congresso Nacional. A Câmara dos Deputados, ce-nário do primeiro ato – o segundo seria realizado no Senado –, dedi-cou-se inteiramente, em um domingo, 17 de abril de 2016, às discussões e votação para dar ou não seguimento ao pedido de impedimento da presidente da República.

Durante todo o processo, desde a aceitação da denúncia às argu-mentações da comissão analisadora, das conclusões do relator até a vo-tação da admissibilidade do pedido de impeachment, percebe-se como se constrói a pretensa imagem pública dos atores políticos envolvidos, que se empenharam em obter visibilidade aproveitando-se da dimensão e im-portância do fato e a consequente e ampla cobertura dos mais expressivos meios de comunicação do país.

Esse trabalho tem por intuito analisar os depoimentos dos deputados federais durante a votação do impeachment, em 17 de abril de 2016, com o objetivo de responder como a narrativa dos atores políticos foi elaborada em descompasso com o tema do processo, mas em total conformidade com a imagem representada pelo político no campo. Pretende-se identificar, com base na metodologia da análise de conteúdo, o desvio temático dos discursos que antecederam o momento do voto dos deputados federais pela admissão do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).

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Os atores políticos e o espetáculo midiático

Todo o ambiente preparado pelo campo político e pelo campo midiá-tico para a votação dos deputados federais pela admissão do processo de impeachment evidenciou, até o dia da votação, o aspecto fisiologista entre os diversos partidos políticos, marcado pelos acordos que poderiam garantir a permanência e o poder dos atores.

Vê-se nas narrativas desses atores políticos a busca pela imagem que se quer construída a partir de manifestações dos políticos que buscam a con-quista ou a manutenção do poder e que são absorvidas pela mídia. Como se vê na fala do deputado Adail Carneiro, do Partido Progressista do Ceará, publicada na Folha de S.Paulo:

reconheço o trabalho belíssimo que o ex-presidente Lula fez pelo nosso Brasil, dando oportunidade aos mais pobres, que nada tinham até os governos anteriores. Quero pedir desculpas a ele e também ao Cid Gomes. Mas não posso deixar de atender aos pedidos das redes sociais para que tenhamos nova oportunidade ao povo brasileiro. Meu voto é sim (a favor do impeachment).

No jogo político, fica evidente a busca pelos anseios das massas e pelo espaço midiático:

disputa-se audiência, atenção, interesse e predileção do público, disputa-se o tempo livre do cidadão, disputa-se a memória e a preferência do consumidor, disputa-se o apoio da opinião pública e a eleição das próprias pretensões políticas pelo eleitorado (Gomes, 2004, p. 243-244).

O desafio é entender a opinião pública, a qual surge do debate dos públi-cos que tentam resolver as controvérsias. Portanto, a opinião pública, dentre outros critérios, pode ser formada por meio de discussões – sobre as “causas” da TV, por exemplo – mas a qualidade dessa opinião depende da eficácia da discussão, a qual depende do nível de influência dos meios de comunicação.

A maioria das sociedades contemporâneas pode ser considerada como centrada na mídia, uma vez que a construção do conhecimento público que possibilita, a cada um de seus membros, a tomada de decisões nas diferentes esferas da atividade humana não seria possível sem ela (Lima, 2004, p. 51).

Como aborda Lima, “a política nos regimes democráticos é (ou deveria

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ser) uma atividade eminentemente pública e visível. E é a mídia – e somente ela – que define o que é público (diferente do privado) no mundo contem-porâneo” (2004, p. 51). A mídia se transformou em importante ator político.

Embora sejam incontestáveis a importância e o papel dos meios de co-municação na composição da formação de opiniões sobre política e a estrei-ta relação entre a mídia e a política, cabe ressaltar que cientistas políticos não consideram os meios de comunicação como parte dos estudos políticos. “Os meios de comunicação de massa ficam (quase) invariavelmente de fora. Ou então, são vistos como meros transmissores dos discursos dos agentes e das informações sobre a realidade, neutros e, portanto, negligenciáveis” (Miguel, 2002). Por outro lado, os estudiosos da comunicação costumam julgar que a política, totalmente dominada pela lógica dos meios, tornou-se um mero espetáculo (ibid.).

Os meios de comunicação podem ser uma esfera da representação polí-tica, afinal são o principal instrumento de difusão das visões de mundo e de projetos políticos. Muito embora, segundo Bourdieu (ibid.), “o campo polí-tico é independente da mídia, na medida em que retém sua própria lógica, mas interferem um no outro”.

Fica claro, segundo Miguel (2002), que em um ambiente de acirrado conflito de interesses é inimaginável que os meios de comunicação sejam porta-vozes imparciais do debate político, mas também devemos conside-rar que nas sociedades democráticas em que vivemos há uma divisão da política entre bastidores e palco. Como bastidores devemos entender “as salas secretas em que se fazem os acordos e se tomam as grandes decisões”, e palco seria “o jogo de cena representado para os não iniciados, isto é, para o povo em geral” (ibid.). Assim, o que ocorre no palco serve apenas para distrair a plateia e manter a estabilidade do sistema. Na análise do autor, a mídia pertenceria ao palco, sendo assim, os fatos políticos mais relevantes ocorreriam nos bastidores.

Aqui valem algumas reflexões: seriam as vozes presentes na mídia a representação da sociedade? Seriam os meios de comunicação um espaço para as diferentes vozes da sociedade? Pois parece que tanto a mídia quanto a política buscam impor sua visão legítima do mundo social.

Para os atores políticos, a presença na mídia passa a ser essencial e o peso econômico dos meios de comunicação em um mundo de capital glo-balizado permite que possam formular as preocupações políticas. A pauta de questões relevantes postas para a deliberação pública é, em grande parte, condicionada pela visibilidade de cada questão nos meios de comunicação. Como afirma Miguel, (2002, p. 168) “a influência mais evidente dos meios de comunicação sobre o campo político está na formação do capital político”.

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Pode-se dizer que esse capital político depende do processo de cons-trução da imagem pública, o limiar entre a imagem desejada e a percebida pela audiência. Esse capital vinculado à reputação e confiança, tal qual eluci-dou Bourdieu (1998, p. 188-9): “só pode ser conservado mediante o trabalho constante que é necessário não só para acumular o crédito como também para evitar o descrédito”.

O estatuto da imagem determina e qualifica o estabelecimento de re-lações e negociações de todas as ordens (Weber, 2004). E como afirma Joly (apud Weber, 2004, p. 264):

(...) parece que a imagem pode ser tudo e o seu contrário – visual e imaterial, fabricada e natural, real e virtual, móvel e imóvel, sagrada e profana, antiga e contemporânea, vinculada à vida e à morte, analógica, comparativa, convencional, expressiva, comunicativa, construtora e destrutiva, benéfica e ameaçadora (Joly, 2000, p.27).

Interessa salientar que a influência constante das redes midiáticas no processo de escolha dos espectadores, expostos aos discursos políticos, é contínua e predomina o teor publicitário sobre as formas de encenação dos atores políticos. A dimensão espetacular do campo midiático tem sido cada vez mais utilizada pela política (Weber, 2004).

O exercício do poder na globalização

Diante dos acontecimentos políticos relatados, os quais parecem co-locar o governo na contramão das tendências econômicas mundiais, cujo movimento do mercado leva ao Estado Neoliberal demonstrando que não há mais espaço para as políticas desenvolvimentistas, podemos reconhecer que os meios de comunicação são instrumentos que fomentam o debate em torno de mudanças socioculturais, políticas e econômicas.

Octávio Ianni, em sua obra O Príncipe Eletrônico, aborda os impactos, as consequências da globalização e da mídia a serviço dos interesses do mer-cado e do novo “palco” da política nesse cenário globalizado. Dessa forma, podemos entender que o mercado, em certas ocasiões, interpreta o príncipe eletrônico de que trata Ianni (1999), transvestido em meios de comunicação. Quando analisamos as obras que tratam dos príncipes, ou seja, dos líderes políticos, vemos, segundo o autor, que O Príncipe de Maquiavel necessitava possuir qualidades para o exercício da liderança (virtú) e de condições socio-políticas para atuar (fortuna). O príncipe para Gramsci é o partido político, cuja função seria articular as massas para formação de uma nova hegemonia.

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A partir dessas ideias, Ianni apresenta o príncipe eletrônico e o define como:

(...) uma entidade nebulosa e ativa, presente e invisível, predominante e ubíqua, permeando todos os níveis da sociedade. Transfigurando-se em meios de comunicação, marcando sua presença e expressando a visão de mundo que prevalece nos blocos de poder predominantes nas diversas esferas de poder (Ianni, 1999, p. 14).

Daí considerar os meios de comunicação, especialmente a TV, como uma poderosa técnica social, tal como afirma Ianni (1999, p. 15):

(...) Trata-se de um meio de comunicação, informação e propaganda presente e ativo no cotidiano de uns e outros, indivíduos e coletividades, em todo o mundo. Registra e interpreta, seleciona e enfatiza, esquece e sataniza o que poderia ser a realidade e o imaginário.

Ao entender que parte fundamental da virtú dos líderes políticos tem sido frequentemente construída pela mídia por meio de uma poderosa e abrangente coleção de técnicas sociais, Ianni (2000) utiliza a metáfora do príncipe eletrônico para caracterizar o papel da mídia na contemporanei-dade, em especial a televisão, da qual depende o sistema de construção do Estado e por onde todos são representados, refletidos e figurados.

O evento político do dia 17 de abril de 2016, ocorrido no palco da Câmara dos Deputados, em Brasília, filtrado pelas câmeras das tevês e diversos outros meios de comunicação de todo o país, foi acompanhado atentamente por milhões de brasileiros não somente pela sua importân-cia política indiscutível, mas também pelo colorido dramático que lhe foi conferido antes e durante a sua transmissão por seus atores principais. Os parlamentares que compõem o elenco, na verdade personagens de um espetáculo criado também para mexer com a emoção da audiência, apro-veitaram-se do momento para conquistar atenção e reforçar sua imagem junto à opinião pública.

As narrativas dos parlamentares

Após as considerações sobre o papel dos meios de comunicação na consolidação da imagem política, cabe analisar a narrativa produzida pe-los políticos, em especial as que foram veiculadas posteriormente na mídia impressa. Como metodologia para análise dos depoimentos dos deputados federais, foi utilizada a análise de conteúdo, de Laurence Bardin (2009).

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Para Bardin (2009), a análise de conteúdo enquanto método torna-se um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedi-mentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. Seguindo as referências da autora, para uma aplicação coerente do método, conforme pressupostos de interpretação das mensagens, a análise de con-teúdos necessita de uma organização. De acordo com Bardin, temos: 1. A pré-análise; 2. A exploração do material; e, por fim, 3. O tratamento dos resultados: a inferência e a interpretação (2009, p. 121).

Na fase de pré-análise, foram escolhidos artigos publicados na revis-ta Época e no jornal Folha de S.Paulo, os quais veicularam na íntegra as falas dos deputados federais no momento de suas votações. Optamos por escolher dois meios de comunicação, pois entendemos que ambos formam uma amostra representativa do universo que se pretende analisar. Nesse sentido, Bardin considera que:

nem todo o material de análise é susceptível de dar lugar a uma amostragem, e, nesse caso, mais vale abstermo-nos e reduzir o próprio universo (e, portanto, o alcance da análise) se este for demasiado importante (Bardin, 2009, p.123).

Desta forma, a análise das narrativas dos parlamentares no momento

do voto, extraídas da revista Época e no jornal Folha de S.Paulo, na sema-na posterior ao dia da votação, ilustram a teatralização e a tentativa dos deputados em fortalecer os atributos do discurso político, por meio da vitrine midiática. Vale ressaltar que dos 511 deputados federais votantes no Congresso, apenas 34 foram eleitos pelo próprio voto, sendo que 447 chegaram à Câmara graças ao voto do partido e, em parte, eram desco-nhecidos de grande parcela da população.

Como indicador da análise de conteúdo, será elencado como durante as suas narrativas os deputados federais desviam a temática da votação para realizarem discursos eleitoreiros levantando “bandeiras” ideológicas, poéti-cas e, até, de cunho pessoal familiar, conforme aponta tabela 1.

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Contra o impeachment

Deputadosfederais Pró-impeachment

Delegado Éder Mauro (PSD-PA)

Eu, junto com meus fi-lhos e minha esposa, que formamos a famí-lia no Brasil, que tanto esses bandidos querem destruir com propostas de que crianças troquem de sexo e aprendam sexo nas escolas com seis anos de idade, meu voto é sim! (revista Época)

Jair Bolsonaro (PSC-RJ) Nesse dia de glória para o povo brasileiro, tem um nome que entrará para a história nessa data, pela forma como conduziu os trabalhos da Casa: parabéns pre-sidente Eduardo Cunha. Perderam em 1964, per-deram agora em 2016. Pela família e pela ino-cência das crianças em salas de aula que o PT nunca teve. Contra o comunismo, pela nossa liberdade. Pela memória do Cel. Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pa-vor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias do Sul, pelas Forças Ar-madas, por um Brasil acima de tudo, por Deus acima de tudo, meu voto é sim! (revista Época)

Sérgio Moraes (PTB-RS) Feliz aniversário, Ana, minha neta (revista Época)

Tabela 1 – Depoimentos dos deputados federais durante a votação do impeachment

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Contra o impeachment

Deputadosfederais Pró-impeachment

Ronaldo Fonseca (PROS-DF)

Mandetta (DEM-MS)

Pela paz de Jerusalém, eu voto sim. (Folha de S.Paulo)

Por causa de Campo Grande, a morena mais linda do Brasil, o voto é sim. (revista Época)

Marco Feliciano (PSC--SP)

Dizendo ‘tchau’ para essa querida e dizendo ‘tchau’ para o PT, esse Partido das Trevas, eu voto sim. (Folha de S.Paulo).

Alceu Moreira (PMDB--RS)

Pelo fim da corrupção, pelo fim da vagabun-dização remunerada, voto sim. (revista Épo-ca)

Fernando Jordão (PM-DB-RJ)

Pelo Brasil, por todas as cidades do Rio de Ja-neiro, pelo eleitor que me colocou aqui, pelo trabalhador desempre-gado, pela minha famí-lia, eu digo ‘O verde do teu mar, oh, Angra dos Reis! A luz do teu luar, oh, Angra dos Reis! O brilho do teu sol, oh, Angra dos reis!’, eu voto sim pelo impeach-ment da Dilma! (revista Época)

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Contra o impeachment

Deputadosfederais Pró-impeachment

Jean Wyllys (PSOL-RJ) Em primeiro lugar, eu quero dizer que estou constrangido de parti-cipar dessa farsa, dessa eleição indireta, con-duzida por um ladrão, urgida por um traidor conspirador, apoiada por torturadores, co-vardes, analfabetos polí-ticos e vendidos [...] Eu voto não ao golpe, e dur-mam com essa! Cana-lhas! (Folha de S.Paulo).

Luiza Erundina (PSOL--SP)

Pelos que deram a vida pela democracia no Bra-sil e pelo empoderamen-to das mulheres, meu voto é não! (Folha de S.Paulo)

Marcelo Álvaro Antônio (PR-MG)

Só corrigir aqui uma situação: queria man-dar um abraço, eu não mencionei meu filho, Paulo Henrique. Paulo Henrique, é para você meu filho! Um beijo!

As narrativas elencadas na tabela 1 trazem os depoimentos de onze deputados federais. Em nenhum trecho é possível constatar qualquer li-gação com o objeto das acusações, no caso, crime de responsabilidade. As narrativas ocorrem em ordem de importância, como por exemplo, a família dos deputados, como o delegado Éder Mauro (PSD-PA), que votou em nome dos filhos e da esposa; assim como o deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), que referenciou o aniversário da neta no plenário, e o deputado Marcelo Álvaro Antônio (PR-MG), que invadiu a votação de Mário Hen-ringer (PR-MG) para mandar um abraço e um beijo ao filho, que havia sido esquecido durante o seu pronunciamento.

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Deve-se destacar a fala do deputado do Partido Republicano de Minas Gerais, a qual corrobora a intenção desse artigo na demonstração do intuito de projeção de imagem política dos representantes da sociedade brasileira: “Só corrigir aqui uma situação: queria mandar um abraço, eu não mencionei meu filho, Paulo Henrique. Paulo Henrique é para você meu filho! Um beijo!”

Os deputados Mandetta (DEM-MS) e Fernando Jordão (PMDB-RJ) lembraram, em tom de poesia ufanista, os estados que os elegeram:

pelo Brasil, por todas as cidades do Rio de Janeiro, pelo eleitor que me colocou aqui, pelo trabalhador desempregado, pela minha família, eu digo ‘O verde do teu mar, oh, Angra dos Reis! A luz do teu luar, oh, Angra dos Reis! O brilho do teu sol, oh, Angra dos Reis!’, eu voto sim pelo impeachment da Dilma! (Fernando Jordão - PMDB-RJ).

A figura das crianças foi citada pela denominada ala conservadora do Congresso Nacional, em que o integrante de maior projeção, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), apontou: “Pela família e pela inocência das crianças em salas de aula que o PT nunca teve”. Outra menção de caráter tradicionalista esteve presente no depoimento do delegado Éder Mauro (PSD-PA), ao de-clarar voto favorável ao impeachment com a fala: “esses bandidos querem destruir com propostas de que crianças troquem de sexo e aprendam sexo nas escolas com seis anos de idade, meu voto é sim!”. A ala religiosa também se manifestou no depoimento de Ronaldo Fonseca (PROS-DF), que apontou: “Pela paz de Jerusalém, eu voto sim”.

Vale destacar que, como representantes da bancada evangélica e com propostas polêmicas que atentam contra os direitos dos homossexuais, os de-putados Bolsonaro e Éder Mauro buscam por meio do discurso reforçar uma posição política que solidifica sua imagem de defensores dos direitos da família.

O Partido dos Trabalhadores e a presidente Dilma também foram al-vos dos depoimentos mais exaltados da ala conservadora, proferida pelo deputado Marco Feliciano (PSC-SP) que finalizou o voto com a frase: “Di-zendo ‘tchau’ para essa querida e dizendo ‘tchau’ para o PT, esse Partido das Trevas, eu voto sim”, em referência a uma ligação grampeada pela Polícia Federal, em que o ex-presidente Lula (PT) se despedia da presidente Dilma, com a frase “tchau, querida”.

Na mesma linha performática, o deputado Alceu Moreira (PMDB-RS) associa seu voto ao fim da corrupção e à vagabundização remunerada. A tentativa de desmoralizar o Partido dos Trabalhadores e seus integrantes de maior visibilidade, como o ex-presidente Lula e a presidente Dilma, com discursos exaltados, que por vezes recorrem ao escracho, supostamente é

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utilizada como forma de demarcar um distanciamento de práticas ilícitas e reforçar a imagem de político honesto.

Ainda como forma de ganhar a simpatia de civis que saíram às ruas com faixas solicitando o retorno dos militares, nas manifestações que ocor-reram em diversos estados brasileiros, entre o período de 2013 a 2016, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) recorreu à imagem da presidente Dilma durante sua luta política contra a ditadura militar, em um depoimento que faz apologia ao seu torturador:

contra o comunismo, pela nossa liberdade. Pela memória do Cel. Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias do Sul, pelas Forças Armadas, por um Brasil acima de tudo, por Deus acima de tudo, meu voto é sim!

Ao fazer referência ao comunismo, Bolsonaro fortalece o imaginário maniqueísta em torno desse modelo político, que ainda persiste e está as-sociado ao Partido dos Trabalhadores e à esquerda brasileira. Trata-se de uma bandeira que liga-o à parcela da população brasileira que guarda um sentimento de ojeriza aos supostos integrantes da ideologia comunista. Tal sentimento é reforçado pela presença de Deus no trecho final de sua frase, momento em que o deputado demarca sua posição religiosa e se aproxima de parte do seu eleitorado.

Vozes dissonantes, que eram contrárias ao impeachment, também não dialogaram com o elemento central da votação: a suposta prática de crime de responsabilidade da presidente petista. O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), em um depoimento de intensa animosidade, apontou total constrangimento em participar daquilo que considerou uma farsa, uma eleição indireta, con-duzida por um ladrão, e urgida por um traidor conspirador, em referência ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e ao vice-presidente, Michel Temer (PMDB). Indicou que o processo de impeachment era conduzido por tortu-radores, analfabetos políticos e vendidos. Finalizou com a declaração: “Eu voto não ao golpe, e durmam com essa! Canalhas!”.

O tom visceral do depoimento de Jean Wyllys reforça a posição do de-putado no campo, reconhecido não somente pelos frequentes embates com membros da bancada evangélica conservadora, como também consolida a imagem que busca construir, de político crítico e honesto. Na mesma linha argumentativa, visando solidificar sua trajetória voltada às questões de gê-nero, em especial a batalha pelos direitos das mulheres, a deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP) relembrou os que lutaram e deram a vida pela democracia, durante os 21 anos de ditadura militar, e elencou o empodera-

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mento político das mulheres, ao declarar seu voto contrário ao impeachment. Nesse sentido, percebe-se que o evento construído para a votação da

admissibilidade do processo de impeachment da presidente, com base nas “pedaladas fiscais” e em crimes de responsabilidade, além de seguir o rito po-lítico, contou com nítido desvio temático, pois nota-se claramente nas falas dos membros da Casa que as justificativas da grande maioria de seus votos foram baseadas em discursos eleitoreiros, religiosos e pessoais. São irrisórias as citações a respeito do crime de responsabilidade da presidente Dilma.

Considerações finais

As manifestações dos deputados federais, no momento de exposição de seus votos, fortaleceram de maneira teatral e dramática a cobertura mi-diática do espetáculo político. A sociedade pôde assistir à espetacularização da política manifestada na personalização dos deputados vivendo suas re-presentações. Todavia, de acordo com Guy Debord (1997), o espetáculo não deseja chegar a nada que não seja ele mesmo.

O que o espetáculo oferece como perpétuo é fundado na mudança, e deve mudar com sua base. O espetáculo é absolutamente dogmático e, ao mesmo tempo, não pode chegar a nenhum dogma sólido. Para ele, nada pára: este é seu estado natural e, no entanto, o mais contrário à sua propen-são (Debord, 1997, p. 47).

A mídia construiu o ambiente na medida em que promoveu sistemati-camente o dia da votação da admissibilidade do impeachment da presidente Dilma. E como se viu, a imprensa cedeu o palanque para que os atores do espetáculo, os políticos, pudessem exercitar a estarrecedora vontade de se manterem no poder. Viu-se a qualidade de argumentos voltados para ques-tões de próprios interesses. Ressalta-se que para a maioria dos deputados, aquele dia tratava-se de um momento único, uma das poucas oportunidades de aparecer, ser visto, por meio de uma ampla visibilidade proporcionada pelos meios de comunicação.

De todo modo, como define Debord (1997), toda a vida das sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção se apresenta como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era vivido diretamente tornou-se uma representação.

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Volume 16 – Nº 2 – 2º Semestre de 2016

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