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SIMONE SONZA BASSO A METOLOGIA BASEADA EM COMPETÊNCIAS NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DO SENAI Dissertação apresentada para a banca examinadora do curso de pós-graduação Stricto Sensu do Mestrado em Educação do Centro Universitário La Salle UNILASALLE, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação. Orientador: Prof. Dr. Gilberto Luiz Kronbauer CANOAS, 2010

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Page 1: A METOLOGIA BASEADA EM COMPETÊNCIAS NA EDUCAÇÃO ...€¦ · PROFISSIONAL DO SENAI Dissertação apresentada para a banca examinadora do curso de pós-graduação Stricto Sensu

SIMONE SONZA BASSO

A METOLOGIA BASEADA EM COMPETÊNCIAS NA EDUCAÇÃO

PROFISSIONAL DO SENAI

Dissertação apresentada para a banca

examinadora do curso de pós-graduação

Stricto Sensu do Mestrado em Educação do

Centro Universitário La Salle –

UNILASALLE, como requisito parcial para

obtenção do título de Mestre em Educação.

Orientador: Prof. Dr. Gilberto Luiz Kronbauer

CANOAS, 2010

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SIMONE SONZA BASSO

A METOLOGIA BASEADA EM COMPETÊNCIAS NA EDUCAÇÃO

PROFISSIONAL DO SENAI

Dissertação de Mestrado submetida à Banca

Examinadora designada pela Coordenação do

Programa de Pós-Graduação em Educação do

Centro Universitário La Salle - Unisalle, como

parte dos requisitos necessários para a

obtenção do título de Mestre em Educação.

Aprovado pela banca examinadora em 17 de agosto de 2010.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________

Prof. Drª. Anna Maria Colling

Unilasalle

_________________________________________

Prof. Dr. Balduino Antonio Andreolla

Unilasalle

__________________________________________

Profª. Drª. Helena Copetti Callai

Unijuí

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Aos meus pais, João Luiz e Maria Irma,

que sempre confiaram em mim.

Às minhas irmãs Giovana e Cristiane,

que nos momentos de desânimo sempre me

incentivaram

Ao meu esposo Adriano,

que aceitou viver comigo mais este desafio e

muito contribuiu para a conclusão deste

trabalho.

A todos vocês, dedico este trabalho com meu

amor, carinho e gratidão.

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AGRADECIMENTOS

Meus sinceros agradecimentos...

A Deus, por estar comigo em todos os momentos da minha vida.

À minha família, por todo apoio, pelos ensinamentos que me deram ao longo da minha vida e

pelo amor incondicional.

Aos meus Amigos e Docentes do SENAI/CETEMO, pela ajuda ao colocar em prática minhas

idéias e incentivo constante em mais esta fase de minha vida profissional.

À Direção do SENAI/CETEMO, César e Renato, pelo apoio e oportunidade para meu

desenvolvimento.

Ao Prof. Dr. Gilberto Luiz Kronbauer, meu orientador, pelo auxilio, atenção e orientação na

construção desta dissertação.

Aos professores Drª. Ana Maria Colling e Dr. Balduino Antonio Andreola, pela ajuda, apoio,

incentivo, carinho, atenção e principalmente pela amizade.

Ao SENAI/CETEMO, por toda a colaboração e pela oportunidade de colocar em prática os

meus conhecimentos.

E, por fim, a todas as pessoas que, de alguma forma, contribuíram para a elaboração deste

trabalho.

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O valor das coisas não está no tempo em que

duram, mas na intensidade com que

acontecem. Por isso existem momentos

inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas

incomparáveis.

Fernando Pessoa

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RESUMO

A presente dissertação resulta da pesquisa sobre a educação profissional com a utilização da

metodologia baseada em competências na Escola de Educação Profissional SENAI do

Mobiliário, de Bento Gonçalves, e visa contribuir para a reflexão teórica sobre o assunto. O

crescente interesse pela noção de competência e sua importância para a educação em geral e,

de modo específico, para a educação profissional, serve de justificativa para o tema proposto.

O texto inicia retomando a formação para o trabalho no Brasil, com o intuito de contextualizar

historicamente o campo empírico e inseri-lo no contexto atual de significativas mudanças nas

relações de trabalho, que exigem cada vez mais tal metodologia, ainda que a definição de

competências ainda não esteja clara nas esferas educacionais e empresariais. No “estudo de

caso” utiliza-se uma abordagem qualitativa de investigação, aplicando as metodologias

correspondentes, de questionários semi-abertos e de entrevistas semi-estruturadas, com

docentes da Escola. Como forma de contribuir para a compreensão do conceito, a segunda

parte trata do entendimento dos principais autores que teorizaram sobre competência, para em

seguida falar do surgimento da metodologia baseada em competências no SENAI e a criação

de sua documentação própria. Os dados obtidos na pesquisa são apresentados, para fazer

aparecer a compreensão dos docentes dos cursos técnicos acerca da metodologia e de sua

aplicação, bem como a forma deles utilizarem a documentação própria no seu trabalho

cotidiano. Finalmente faz-se a uma interpretação dos resultados obtidos, que permitiram

reconhecer a atitude por parte dos envolvidos na pesquisa quanto a utilização correta da

metodologia baseada em competências, sua aplicabilidade no seu fazer pedagógico, e o uso

que os docentes fazem da documentação do SENAI.

Palavras-chave: Educação Profissional. Competência. Metodologia Baseada em

Competências.

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RESUMEN

La presente disertación resulta del trabajo de una investigación sobre la educación profesional

con el uso de la metodología basada en competencias en la Escola de Educação Profissional

SENAI do Mobiliário, de Bento Goncalves, y contribuir a la reflexión teórica sobre el asunto.

El creciente interés por el concepto de competencia y su importancia para la educación en

general y, específicamente, para la formación profesional, sirve como justificación para el

tema propuesto. El texto comienza reanudando la formación para el trabajo en Brasil, con el

objetivo de contextualizar históricamente el campo empírico e insertarlo en el contexto actual

de cambios significativos en las relaciones laborales, que requieren cada vez más esta

metodología, aunque la definición de las competencias todavía no esté clara en los ámbitos

educativos y empresariales. En el “estudio de caso” se utiliza un enfoque cualitativo de

investigación aplicando las metodologías pertinentes, de cuestionarios semi-abiertos y

entrevistas semi-estructuradas con los docentes de la escuela. Como contribución a la

comprensión del concepto, la segunda parte aborda la comprensión de los principales autores

que han teorizado acerca de la competencia, para, enseguida, hablar de la aparición de la

metodología basada en la competencia en el SENAI y la creación de su propia

documentación. Los datos obtenidos en la encuesta se presentan para hacer surgir la

comprensión de los profesores de cursos técnicos sobre la metodología y su aplicación, así

como la forma de utilizar la documentación en su trabajo diario. Por último, se hace una

interpretación de los resultados obtenidos, lo que permitieron reconocer la actitud por parte de

los involucrados en la investigación sobre el uso adecuado de la metodología basada en

competencias, su aplicabilidad en su hacer pedagógico, y el uso que los profesores hacen de la

documentación del SENAI.

Palabras-clave: Educación Profesional. Habilidad. Metodología basada en competencias.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 9

2 A FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL ............................................................ 17

2.1 Revolução Industrial Brasileira ...................................................................................... 25

2.2 A Educação Subordinada à Produção ............................................................................. 35

2.3 Um Novo Olhar para a Educação ................................................................................... 39

3 CURRÍCULO POR COMPETÊNCIAS ........................................................................... 46

3.1 A Noção de Competência ............................................................................................... 47

3.2 A Metodologia por Competências no SENAI ................................................................ 53

3.3 A Documentação Própria do SENAI .............................................................................. 56

3.4 Reflexões Iniciais Sobre a Prática da Metodologia ........................................................ 67

3.5 Sobre a Avaliação ........................................................................................................... 76

4 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA NA EEP SENAI DO MOBILIÁRIO ................. 79

4.1 Como os Docentes Compreendem e Aplicam a Metodologia? ...................................... 80

4.2 Entrevistas e a Relação Teoria-Prática no Fazer Pedagógico ......................................... 88

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 92

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 99

APÊNDICES ......................................................................................................................... 103

ANEXOS................................................................................................................................ 105

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1 INTRODUÇÃO

Apresento esta dissertação como um ponto de chegada de uma trajetória que teve

origem bem antes do início do Curso de Mestrado em Educação no UNILASALLE. Na

atividade profissional, dentro de um contexto histórico de transformações sociais profundas

em todos os aspectos da vida, foi se tornando exigência a atualização e o aprofundamento de

conhecimentos com os quais se trabalha no dia-a-dia.

A dinamicidade social invade todos os aspectos da vida e exige novas posturas em

todas as áreas do conhecimento, bem como, soluções nada convencionais para antigos

problemas. Já aqui, cabe lembrar a expressão do filósofo francês Pierre Lévy, que, ao se

referir especificamente à sociedade da informação, disse que é necessário “olhar o mundo de

hoje com os olhos do mundo de amanhã”.

Isso porque o ritmo das mudanças é tão acelerado que se olharmos o presente somente

com o olhar do presente não teremos condições de interpretá-lo adequadamente. E o futuro

nos acena com uma velocidade cada vez maior em termos de inovação tecnológica e de

reconfiguração das formas de trabalhar, além da competição em todas as atividades.

Mas com isso não se pretende deixar de rememorar o passado, a origem e o processo

histórico daquilo que nos cabe viver e fazer hoje, principalmente na atividade profissional.

Essa é a razão pela qual iniciei a pesquisa com o relato histórico da formação para o trabalho

no Brasil. Tomei esse conceito mais amplo de “formação” para poder falar, ainda que de

passagem, da época anterior à industrialização.

Poderia ter iniciado o primeiro capítulo referindo-me especificamente à primeira

metade do XX e as exigências da formação de mão-de-obra especializada, decorrentes das

grandes transformações nessa passagem de uma economia industrializada. Mas tinha mesmo a

necessidade de retroceder na história e, depois de um olhar panorâmico, ir aos poucos

centrando o foco na direção do surgimento de políticas específicas, tanto de iniciativa das

instituições empresariais quanto dos governos, de educação para o trabalho e/ou de ensino

profissionalizante.

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Tinha que conhecer melhor essa história para entender o surgimento de instituições

como o SENAI e assim situar melhor o objeto da pesquisa na cartografia geral do mundo do

trabalho.

Essa retomada foi feita sem deixar de considerar que as demandas da realidade atual se

colocam no contexto de uma sociedade globalizada, que impõe novos padrões de

competitividade e exige mudanças na forma de pensar e de agir das empresas, bem como na

maneira de administrar suas atividades.

A globalização da economia e as novas tendências produtivas promoveram

transformações significativas no mundo do trabalho, valorizando as competências dos

empregados em contraposição ao interesse apenas pela técnica, no exercício de uma única

função. Numa sociedade em constante transformação há exigências novas a cada momento e a

formação tradicional de trabalhadores, que prepara para uma função específica, se mostra

obsoleta.

Entretanto, parece que a educação não acompanhou as mudanças com a devida

urgência e isso acarretou a necessidade de iniciativas alternativas ao sistema oficial de ensino,

para dar conta das demandas emergentes do mundo do trabalho em rápida transformação.

Se durante muito tempo a humanidade não colocou criticamente em questão o

fenômeno do aprendizado e, por consequência não sentiu a necessidade de repensar as ações

educativas, não é possível agora, por geração espontânea e numa fração irrisória de tempo,

abandonar os velhos padrões construídos ao longo da historia. Ainda que o fenômeno do

conhecimento, quanto ao processo de sua construção, bem como a aprendizagem e a

educação, tenham sido temas de discussão desde a antiguidade, o que se modificou muito

rapidamente nos últimos anos foi a tecnologia, a tecnociência e o seu poder.

A mundialização da economia ajuda a acelerar cada vez mais esse processo devido à

competitividade global, responsável também pelas mudanças significativas na formação para

o trabalho. Uma vez que, aquilo que se aprende a fazer hoje, não servirá mais logo em

seguida. Daí a importância de competências como o “aprender a aprender”. Trata-se de uma

necessidade para que o trabalhador possa manter-se no mercado de trabalho mediante re-

educação contínua.

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Para acompanhar a nova ordem desenhada para o século XXI, faz-se necessário

renovar as estruturas e as práticas pedagógicas, a fim de atender às necessidades de

qualificação dos trabalhadores e às exigências das indústrias. Estas estão sempre buscando

profissionais capacitados e capazes de se adaptarem continuamente aos novos desafios a cada

momento e de contribuírem com criatividade, para a qualificação das empresas nesse mercado

globalizado e competitivo.

Pela primeira vez na história da humanidade temos de aprender a assumir a

responsabilidade de administrar a nós próprios. Devemos saber quais são nossos defeitos,

quais as aptidões que não temos, onde estamos, quais são os nossos valores. E,

provavelmente, essa mudança é muito maior do que a trazida por qualquer tecnologia – é uma

mudança na condição do ser humano.

Deste modo chegamos ao lugar onde apenas saber fazer já não basta, onde o saber

fazer deve ser substituído por ser competente. E este fato reforça o surgimento do conceito de

competência, como tentativa de atender às exigências específicas do mercado de trabalho e da

sociedade atual. É necessário, portanto, que o profissional de hoje desenvolva competências

técnicas e humanas, visando crescimento, aperfeiçoamento e eficácia nos resultados, tendo

como premissa que o ser humano tem um poderoso potencial, o que acaba sendo o diferencial

competitivo das organizações.

Neste sentido, Marins afirma que

Um funcionário competente, compromissado, que faz tudo detalhadamente bem-

feito e que termina o que começa, tem hoje um valor imensurável no mercado de

trabalho. Para ele nunca haverá desemprego por muito tempo e todo empresário

sonhará em tê-lo como colaborador (MARINS, 2007, p. 114).

Dentro desse quadro em processo de transformação, a própria reforma da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional, durante a década de 90, contemplou a formação

profissional com um capítulo independente, definindo-a como complementar ao ensino

médio.

Esta nova LDB, em seu artigo 39, dispôs ainda que “a educação profissional, integrada

às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao permanente

desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva” (Lei 9.394/96 Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, 1996, p. 21). Esta nova concepção passou então a representar, além da

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superação dos antigos enfoques assistencialista e economicista, que recaíam sobre a educação

profissional, também o preconceito social que a desvalorizava.

A nova LDB – Lei 9.394/96, regulamentada pelo Decreto 2.208/97, o Parecer 16/99 e

a Resolução 04/99, ambos da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação

(CEB/CNE), estabelece que a organização curricular da educação profissional deve orientar-

se para a formação baseada em competência. Tais posições foram definidas pelo Ministério da

Educação e Cultura – MEC como a capacidade de articular, mobilizar e colocar em ação

valores, conhecimentos e habilidades, necessárias para o desempenho eficiente e eficaz de

atividades requeridas pela natureza do trabalho.

É por essa razão que aprofundo o referencial teórico da metodologia por

competências, no Capítulo II desta dissertação, no qual apresento os principais autores e suas

contribuições para o entendimento e a difusão do conceito central.

Em seguida, ainda no mesmo capítulo, volto a atenção especificamente sobre o caso

de estudo em pauta. Procuro um entendimento de como o conceito de competências foi sendo

trabalhado e apropriado pelo SENAI, com a adoção da Metodologia Baseada em

Competências, principalmente mediante a elaboração de documentação própria.

O ponto de chegada é a verificação da aplicabilidade das mesmas, metodologia e

documentação, na Escola de Educação Profissional SENAI do Mobiliário de Bento

Gonçalves, bem como a questão das modificações decorrentes para o processo de avaliação. E

esse ponto, o da avaliação, é certamente de fundamental importância na aplicação dessa

metodologia, já que ela implica numa virada que substitui o modelo conteudista, cuja

avaliação se restringe a aquisição de conhecimentos, pela avaliação de habilidades e

competências adquiridas e desenvolvidas num determinado processo de aprendizagem.

Quanto ao significado do conceito central da metodologia, parto da definição de

Perrenoud (1999, p. 7), no momento em que ele afirma que competência significa “uma capa-

cidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos,

mas sem se limitar a eles.” Interpreta-se uma nova relação do ser e do objeto do

conhecimento. Experiências acumuladas ao longo da vida e saberes já adquiridos são

essenciais na construção de novas competências.

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Já para Fleury e Fleury (2000), o conceito de competência assume vários sentidos,

algumas vezes, focado nas características da pessoa – conhecimentos, habilidades e atitudes, e

em outros na tarefa, nos resultados. Esses mesmos autores definem competência como um

saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir

conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor

social ao indivíduo.

O conceito de competência é, pois, central na metodologia e funciona como elemento

orientador dos novos currículos que deixam de ser centrados no conteúdo para terem como

foco a construção de conhecimentos, habilidades e atitudes articuladas. A educação

profissional muda de foco, deixando simplesmente de ensinar para passar a formar indivíduos

capazes de aprender a aprender.

A educação profissional deve passar por mudanças de metodologias, estratégias,

recursos de ensino e de postura na relação professor x aluno para que haja a verdadeira

formação de competências. Conforme o pensamento que Jacques Delors desenvolveu em

“Educação, um tesouro a descobrir”, pode-se entender que o aprender a aprender é o

imperativo central desta perspectiva teórica. Ele inclui o aprendizado fundamental de

compreender as outras pessoas e o mundo ao seu redor, numa atitude de escuta atenta de suas

manifestações.

A proposta avança para além do aspecto teórico e se lança para o aprendizado do

convívio humano em sociedade, contemplando a questão dos valores ou do desenvolvimento

de habilidades do caráter moral. Assim, ser e conviver se complementam e, juntamente com o

“aprender a fazer”, mostram que esse aprendizado não se esgota no momento presente. Ao

contrário, como exigência inerente à historicidade humana, mostra que é necessário “aprender

ao longo da vida”. Assim a educação revela seu caráter de renovação constante e necessária

do indivíduo.

Ao considerar estas definições, a relação ensino-aprendizagem na educação para o

trabalho continua sendo repensada e discutida. Isso já mobilizou instituições, de formação

profissional de todo o mundo, a se reunirem em fóruns de discussão. No Brasil, entidades

como universidades, o Sistema S através dos Serviços Nacionais de Aprendizagem: Industrial

– SENAI e Comercial – SENAC, e os Centros Federais de Educação Tecnológica - CEFETS

estão mobilizadas na busca de soluções que orientem a formação com foco em competências.

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Segundo especialistas do mundo do trabalho e da educação, o valor fundamental da

sociedade, passa a ser o conhecimento, fruto da educação, da formação e da experiência.

Diante desse panorama, e buscando sempre atender às demandas do setor produtivo, o SENAI

desenvolveu, no período de 1999/2000, o Projeto Estratégico Nacional Certificação

Profissional Baseada em Competências.

Dentro deste contexto mais amplo, destaco a Escola de Educação Profissional SENAI

do Mobiliário, de Bento Gonçalves, que implantou a metodologia baseada em competências,

no Curso Técnico em Design de Móveis, em 2003, como projeto piloto no SENAI do Rio

Grande do Sul.

Deste modo, levada a acreditar na Metodologia baseada em Competências pela

Experiência, já desenvolvida na Escola de Educação Profissional SENAI do Mobiliário, e

percebendo, igualmente, algumas dificuldades de compreensão e de articulação entre a teoria

e a prática pedagógica do corpo docente no ensino técnico do SENAI, motivei-me a

desenvolver um estudo mais aprofundado sobre o tema. Inclusive em termos de referencial

teórico e quanto a sua viabilização prática num contexto bem específico. A Metodologia

baseada em Competências, aplicada no SENAI, tem seu referencial teórico/metodológico

orientado pelas idéias do pesquisador francês Philippe Perrenoud.

Inicio este trabalho pelo estudo mais aprofundado e sistemático de Perrenoud,

passando por outros autores, para, ao mesmo tempo, em constante relação entre teoria e

prática, deter-me em um estudo de caso bem específico, que é o lócus de minha experiência.

A prática, da qual emerge cotidianamente a necessidade de inovações, mudanças, e a quase

quebra de paradigmas.

Na condição de orientadora pedagógica dessa escola de formação profissional,

pretendo ampliar significativamente o domínio teórico acerca da metodologia baseada em

competências, para aplicá-la na valorização do docente, principalmente em seu papel de

provocador de situações de aprendizagem, de facilitador e de mediador desse processo.

Acredito que esse objetivo só será atingido quando, no lugar da centralidade do

ensinar, e consequentemente do docente, estiver a centralidade do aprender, isto é, da

atividade do educando. Para tanto, a metodologia remete à reconstrução do trabalho diário,

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desenvolvido pelos docentes. Isso implica num planejamento interdisciplinar e exige uma

constante comunicação entre eles.

Minha pesquisa pretende verificar como os docentes compreendem e aplicam esses

referenciais pedagógicos em suas atividades práticas. Observar se conseguem associar as

teorias educacionais e seus discursos à sua prática, e se respeitam sempre as transformações

sociais, econômicas e tecnológicas, as quais sinalizam as novas formas de ensinar e de

aprender.

Para alcançar esse fim, proponho construir um trabalho de natureza qualitativa,

aplicando as metodologias de estudo de caso, de questionários semi-abertos e entrevistas

semi-estruturadas. Realizo também uma apresentação da documentação própria do SENAI

utilizada na metodologia baseada em competências.

Optei pela perspectiva qualitativa que, segundo Cauduro (2004, p. 20), serve “para

poder explorar mais adequadamente os conceitos, opiniões, atitudes e comportamentos

vinculados ao tema pesquisado, avaliando o que está subentendido nos aspectos emocionais e

intencionais dos sujeitos participantes desta pesquisa”.

O pesquisador é a peça fundamental para a pesquisa qualitativa, se interessa muito

mais pelo processo do que pelo produto final, e é ele próprio quem terá um envolvimento

maior com o meio pesquisado. Segundo Minayo (1999), a abordagem qualitativa não pode

pretender o alcance da verdade, com o que é certo ou errado. Deve ter como preocupação

primeira a compreensão da lógica que permeia a prática que se dá na realidade.

Sendo a pesquisa qualitativa, fundamentalmente interpretativa, organizei os dados de

forma que os leitores possam tirar conclusões a partir deles, buscando sempre que possível

acrescentar algo do questionamento feito sobre o assunto. Por isso, esta dissertação está

organizada em três capítulos.

No capítulo final da dissertação, volto minha atenção mais especificamente sobre a

empiria ou o estudo de caso acima referido. A utilização do estudo de caso, conforme Yin

(2005, p. 20), “pode contribuir em muitas situações com o conhecimento que temos dos

fenômenos individuais, organizacionais, sociais, políticos e de grupo, além de outros

fenômenos relacionados”.

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Certamente, a minha própria experiência como pesquisadora dessa realidade cotidiana

influencia na condução da pesquisa, na leitura das falas dos interlocutores e dos documentos

que orientam as atividades da Escola.

Por esse motivo é que faço apenas uma apresentação dos documentos produzidos pelo

SENAI para a aplicação da referida metodologia de ensino e quando se trata da fala dos

interlocutores, que são também colegas professoras/as, optei pelos recursos mais dialógicos.

Isso, ao mesmo tempo, permite que se mantenha o assunto proposto, evitando a dispersão. O

questionário aberto e a entrevista semi-estruturada oportunizam falas não previstas pelo

pesquisador, mas apontam para um foco de interesse previamente definido.

Também apresento o levantamento das percepções de colegas mediante a aplicação de

questionário a oito docentes. De uma forma bem mais aberta e trabalhosa, entrevistei mais

quatro, totalizando onze docentes participantes da pesquisa, já que um deles contribuiu

conjuntamente com o questionário e a entrevista. Destaco, ao longo do texto, que a Escola de

Educação Profissional SENAI do Mobiliário conta, hoje, com vinte docentes. Destes, somente

onze, trabalham com a metodologia baseada em competências, aplicada nos Cursos Técnicos

de Design de Móveis e de Mecânica.

Concluo este trabalho com a apresentação de algumas considerações sobre o tema

desenvolvido e aponto algumas recomendações para trabalhos futuros. Posso afirmar que

constatei que, os docentes que trabalham com a metodologia baseada em competências,

demonstram no seu dia-a-dia a compreensão necessária para sua aplicabilidade e realizam a

correta utilização dos documentos que fazem parte do fazer pedagógico. Não deixo,

entretanto, de apontar as dificuldades que enfrentam. Nesse sentido, se abrem espaço para

novas discussões e ajustes no fazer pedagógico.

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2 A FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL

No presente capítulo pretende-se contextualizar historicamente a temática da educação

profissional no Brasil para entender a evolução histórica da indústria e da formação

profissional. A formação para o trabalho tem tudo a ver com o surgimento da indústria, e isso

nos remete a um passado no qual a atividade agrícola e a troca de mercadorias, bem como a

exportação de produtos primários, foi gradativamente substituída pela manufatura e a

indústria, que demandaram a aprendizagem de ofícios e a preparação de mão-de-obra mais

qualificada.

Para a economia brasileira isso aconteceu tardiamente, uma vez que a época colonial

se caracterizou pelas atividades de extração dos produtos naturais da terra, inicialmente a

custa do trabalho indígena em regime de escambo. Três décadas após o descobrimento, como

resposta a necessidade de defesa do imenso território, iniciou-se a sua divisão em capitanias e

sesmarias, dando início ao processo de colonização, com a ocupação e o cultivo na faixa

litorânea, substituindo as paisagens naturais pelas plantações de cana-de-açúcar.

Mas foi somente no final do século XVI, com o tráfico de escravos, que a cultura

canavieira teve um desenvolvimento vertiginoso. Os incentivos ao cultivo e a isenção de

impostos fizeram com que o Brasil se tornasse, à época, o maior produtor de açúcar do

mundo. Claro que essa prosperidade deveu-se também aos progressos técnicos que foram

sendo introduzidos no processo produtivo do assim denominado “ouro branco”. Um deles foi

o da instalação da casa da moenda, na qual se reuniam as diversas fases do processo de

moagem da cana, permitindo um controle mais rigoroso e centralizado da produção.

É de se mencionar a grande colaboração holandesa na adoção de moendas metálicas e

tachos de ferro fundido, já que estes contribuíram para o surgimento das primeiras unidades

industriais em terras brasileiras, e que passaram a exigir uma forma de organização do

trabalho sem parâmetros na Europa. No canavial, o processo de trabalho era determinado

pelas condições do clima. No entanto, como afirma Schwartz, “no engenho, o ritmo de

trabalho não era o da natureza, mas do ritmo de um processamento regulado, elaborado. O

trabalho não era regulado por relógios, mas, pela capacidade da tecnologia” (2001, p. 9).

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Mais do que uma unidade fabril, o engenho do Brasil Colônia era um conjunto

completo e auto-suficiente. Ao lado da mandioca, do milho, do feijão e do gado, responsáveis

pela subsistência da população, o algodão despontava também como matéria-prima

fundamental para a fabricação dos panos grosseiros destinados a cobrir a nudez dos escravos.

Na época, a fiação e a tecelagem eram feitas com auxílio de instrumentos rústicos, como as

rocas e os primitivos fusos, sendo o trabalho executado no ambiente doméstico pelas senhoras

e escravas. Mais tarde, devido à demanda resultante da Revolução Industrial na Europa no

século XVIII, e da prosperidade alcançada pelo cultivo do algodão, ele se transformou no

terceiro produto brasileiro de exportação, ficando atrás apenas do açúcar e do tabaco.

A abundância da matéria-prima e a introdução da mecanização no processo de

produção constituíam uma rudimentar indústria têxtil. Dada a sua capacidade produtiva

acabou forçando a baixa do preço dos produtos, ampliando ainda mais o mercado consumidor.

Entretanto, um dos obstáculos à prosperidade da atividade industrial brasileira na época

decorria da baixa qualificação da mão-de-obra. Em geral a aprendizagem dos ofícios, tanto de

escravos quanto de homens livres, era desenvolvida no próprio ambiente de trabalho, sem

padrões ou regulamentações, sem atribuição de tarefas próprias para aprendizes.

Foi somente com a chegada da família real ao Brasil, em 1808, que a vida na colônia

sofreu transformações importantes, que apontaram para a produção industrial, principalmente

com as medidas governamentais que permitiram o livre estabelecimento de fábricas e

manufaturas no país, marcando uma nova fase da economia colonial. A transferência da Corte

para o Rio de Janeiro levou à criação de uma série de instituições, dentre as quais se

destacaram a Imprensa Régia – um passo decisivo para a difusão de idéias, informação e

cultura, o Banco do Brasil – que inaugurou o sistema financeiro, e a Escola Cirúrgica de

Salvador.

Certamente a criação da Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação

como órgão regulador da implementação das fábricas e manufaturas no Brasil foi um marco

importante no desenvolvimento da economia. Acrescente-se também o edital da Real Junta da

Fazenda para a vinda de trabalhadores estrangeiros como mão-de-obra mais qualificada. Estas

foram medidas igualmente fundamentais para o desenvolvimento do modo fabril de produção.

Em 1816 foi fundada a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, como parte da

política de valorização do ensino das ciências, da economia e da técnica, enfatizadas após a

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elevação do Brasil à categoria de Reino Unido de Portugal. Esta escola destinava-se ao ensino

das belas artes e das artes mecânicas, estas sendo destinadas exclusivamente aos filhos dos

pobres, a fim de se tornarem artífices. Desde então, já é possível perceber a dualidade

existente na sociedade e consequentemente na educação. Aos ricos uma educação elitizada,

mais humana e acadêmica, e aos pobres o simples aprendizado de técnicas que lhes permitiam

adentrar ao mundo do trabalho, como artífices.

Nessa época, o papel da educação na formação social e no trabalho demonstrou,

segundo Xavier (1992), a necessidade de uma produção de conhecimentos úteis ao

desenvolvimento do país. No entanto, a Proclamação da Independência, em 1822, não

produziu alterações significativas nas práticas de aprendizagem dos ofícios vigentes no Brasil,

porque a liderança que a proclamou não tinha nenhum interesse na reforma econômica e

social.

A Constituição de 1824 determinou a extinção das corporações até então responsáveis

pela prática e pelo ensino de alguns ofícios manufatureiros. As limitações da economia, o

pequeno mercado interno e a falta de incentivos, decorrentes da existência do trabalho

escravo, foram considerados fatores responsáveis pela decadência dessas corporações,

reduzidas então, a irmandades de caráter religioso e assistencial.

Não havia uma livre negociação entre empregadores e trabalhadores. As corporações

constituíam empecilhos à plena vigência das relações de trabalho próprias da sociedade

capitalista. Segundo Cunha, “as corporações fixavam os padrões de produção, o preço dos

produtos e os salários dos oficiais.” (2000, p. 54).

Em 1827, foi fundada a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (SAIN) que,

conforme Murasse (2006), continha em seus estatutos, aprovados em 1831, a meta de

promover, por todos os meios que estivessem ao seu alcance, o melhoramento e a

prosperidade da indústria no Império do Brasil. Em respeito à produção brasileira do período,

as primeiras ações da SAIN voltaram-se para a mecanização das atividades agrícolas, como

forma de aumentar a produtividade no campo, e criar estímulos para a aquisição das máquinas

necessárias a impulsionar as atividades industriais.

Tendo como filiados os políticos mais importantes da época, a SAIN, que tinha uma

preocupação explícita com a formação profissional, foi responsável, entre 1833 e 1892, pela

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edição ininterrupta da revista “O Auxiliador da Indústria Nacional”, cujo objetivo era de

convencer os seus associados a tomarem o caminho da civilização, segundo os modelos

europeus de industrialização, especialmente no que se referia à substituição do trabalho

escravo pelo livre. Murasse afirma que “os números iniciais da revista já indicam que a

Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional utilizou o Auxiliador para difundir os

conhecimentos que considerava úteis e introduzir novos costumes preparando, deste modo, a

população para a modernização do Estado brasileiro” (2006, p. 3 - 6).

Nessa mesma época, o mundo ocidental inspirava-se nas idéias de Adam Smith que,

em 1776, ressaltava a necessidade de uma transformação social contínua, e que considerava o

progresso técnico um elemento intrínseco do modo de produção capitalista. Segundo ele,

[...] o aumento de produção é resultante de três circunstâncias diferentes: primeiro

da destreza de cada produtor; segundo, da economia de tempo, que antes era perdido

ao passar de uma operação para outra; terceiro, da invenção de um grande número

de máquinas que facilitam o trabalho e reduzem o tempo indispensável para o

realizar, permitindo a um só homem fazer o trabalho de muitos (SMITH, 1976,

p.11).

De certa forma, essas idéias de progresso chegaram ao Brasil com algum atraso. Além

disso, os novos ventos sopravam em cenários marcadamente antagônicos. Enquanto no

Nordeste desenvolvia-se uma indústria movida pelo trabalho escravo, no Sul várias tentativas

de industrialização eram beneficiadas pelo favorecimento da chegada de colonos estrangeiros,

com doação de sesmarias aos que nelas quisessem trabalhar. Esta disparidade entre o trabalho

escravo e o trabalho livre, que dividia o país em dois, passou a aquecer as discussões entre os

intelectuais abolicionistas da época. Para estes, a escravidão contribuía para retardar o

desenvolvimento técnico no país. Esse tema não passou despercebido pela SAIN. José

Bonifácio de Andrade e Silva, em 1822, já afirmava que para provar

[...] que a escravatura deve obstar a nossa indústria, basta lembrar que os senhores

que possuem escravos vivem, em grandíssima parte, na inércia, pois não se vêem

precisados pela fome ou pobreza a aperfeiçoar sua indústria [...] as máquinas que

poupam braços pela abundância de escravos nas povoações grandes são

desprezadas. Causa raiva ou riso ver vinte escravos ocupados em transportar vinte

sacos de açúcar que podiam conduzir uma ou duas carretas bem construídas com

dois bois ou duas bestas muares (apud DOLHNIKOFF, 2000, p. 29).

Com o progresso da produção cafeeira o Brasil iria mudar, já que ela consolidou-se

como principal produto brasileiro de exportação. O café provocou uma onda de crescimento

econômico nunca visto antes no Brasil, onde cada vez mais a mão-de-obra escrava cedia

espaço para o trabalhador assalariado imigrante.

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Em 1874, a antiga Escola Central do Rio de Janeiro, antes voltada para as atividades

militares, passou a se chamar Escola Politécnica, voltada agora para o ensino da engenharia

civil. Um ano depois, foi criada a Escola de Minas de Ouro Preto, na província de Minas

Gerais. Desde então, o ensino superior no Brasil se desenvolveu com a multiplicação de

faculdades isoladas criadas por iniciativa estatal.

No Brasil, a transição de escravidão para trabalho livre, o deslocamento das plantações

do Rio de Janeiro para São Paulo, a construção de uma infra-estrutura para o escoamento da

produção e a recuperação da crise inflacionária levaram um bom tempo. A fase do capitalismo

que se iniciou no século XIX no Brasil encontrou setores da economia cafeeira capazes de

promover uma intensa incorporação do trabalho assalariado, em diversos âmbitos do sistema

produtivo. Entretanto, a luta pela industrialização dividia mais uma vez o país. De um lado

estavam os grandes proprietários de terras e de escravos e de outro, os que sonhavam com as

máquinas. O primeiro grupo repelia a idéia da industrialização, sob a alegação de que o Brasil

era incapaz de concorrer com a indústria estrangeira. Os progressistas, por sua vez,

combatiam a escravidão e exigiam a defesa de nossos interesses comerciais. Mas as

dificuldades com a mão-de-obra, agravadas pelo fato de o Brasil não contar com escolas

práticas de ensino industrial, eram imensas. O ensino e a educação, calcados no conteúdo

humanístico e com pronunciado teor religioso, não supriam as demandas apresentadas pelas

recém criadas indústrias e pela sua produção.

Data desta época a criação dos „Liceus de Ofícios‟, destinados principalmente a

amparar e treinar os órfãos para o trabalho industrial e artesanal. Os recursos para manter

essas entidades provinham dos membros de sociedades civis organizadas ou de doações de

benfeitores, geralmente membros da burocracia do Estado, nobres, fazendeiros e

comerciantes. Nos liceus, os cursos eram gratuitos, porém, em geral, vedados aos escravos.

O Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, precursor do ensino profissionalizante

no Brasil, foi criado em 09 de janeiro de 1858, pela Sociedade Propagadora das Belas Artes.

Era uma instituição de ensino voltada para a população economicamente desfavorecida. Em

1873, por iniciativa da SAIN que já mantinha uma Escola Noturna de Adultos, começou a

funcionar junto ao Liceu do Rio de Janeiro uma escola industrial, destinada a jovens maiores

de 14 anos, que apresentassem condições de acompanhar o programa de ensino, com ingresso

por meio de exame de admissão,

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Nesse mesmo contexto o país passava por mudanças sociais movidas principalmente

pela força do movimento abolicionista. Tornava-se cada vez mais difícil conter a fuga dos

escravos, e, além disso, o Exército se recusava a participar da captura e devolução dos

fugitivos. Também se mostrava inviável manter o trabalho escravo diante da concorrência

com a mão-de-obra imigrante, barata, abundante e educada.

Nem por isso o Brasil deixou de crescer. À medida que crescia o número de

estabelecimentos industriais, consolidavam-se as relações capitalistas de produção. O aspecto

filantrópico, presente nas iniciativas associadas ao ensino dos ofícios, foi sendo parcialmente

substituído por um discurso baseado na racionalidade da produção. Ou seja, no cálculo dos

custos e benefícios do ensino para a formação da força de trabalho. O ensino dos ofícios,

antes destinados aos menores menos favorecidos, foi sendo transferido para os filhos dos

trabalhadores, sem que, no entanto, ocorressem mudanças significativas no sistema

educacional vigente.

A proposta de um ensino profissional para as massas, de modo a moralizá-las e a

desenvolver a produção para transformar a sociedade sem “quebrar suas molas” foi,

talvez, o núcleo de todo o pensamento elaborado no Brasil Imperial sobre o assunto

(CUNHA, 2000, p. 157).

O mundo encontraria nas teorias de Karl Marx uma explicação para o necessário

desenvolvimento das forças produtivas. Publicado em 1867, “O Capital” alertava para o fato

da indústria capitalista somente poder subsistir com a condição de revolucionar

incessantemente os instrumentos e os modos de produção. Entretanto, isso acentuava as

diferenças sociais, já existentes na época, na qual já se iniciara um processo ininterrupto de

produção coletiva em massa, geração de lucro e acumulação de capital. O que aprofundavam

ainda mais as diferenças de renda e riqueza entre os detentores dos meios de produção e os

trabalhadores.

No início do século XX, o ensino profissional passou a ser responsabilidade do

Ministério da Agricultura, da Indústria e do Comércio. Este ministério, criado no governo

Afonso Pena (1906 - 1909), teve como finalidade o incentivo ao desenvolvimento industrial,

comercial e agrícola. Com o falecimento de Afonso Pena (1909) seu vice-presidente, Nilo

Peçanha, assumiu o governo. Em pouco tempo assinou o Decreto nº. 7.566, que criou um total

de 19 escolas de aprendizes e artífices, entre elas escolas comerciais em São Paulo, no Rio de

Janeiro e na Bahia. Elas tinham como objetivo oferecer aos filhos dos desafortunados, um

bom preparo técnico e intelectual, de modo a adquirir hábitos de trabalho produtivo,

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afastando-os do vício e do crime. Apesar de seu caráter predominantemente assistencialista,

essas escolas determinaram o início de uma presença mais explícita, embora moralizadora, do

governo com relação ao ensino profissional no país, até então sustentado por iniciativas

privadas.

O progresso estava chegando, refletindo mudanças na vida brasileira. São Paulo

tornou-se o principal centro econômico do país e o principal pólo de organização de

trabalhadores brasileiros, fazendo com que a sociedade brasileira entrasse efetivamente no

século XX.

Foi somente em 1920 que o governo reuniu as escolas profissionais existentes em sua

capital, sob o nome de Universidade do Rio de Janeiro. Assim o país passou a contar com

uma educação superior voltada para a formação para o exercício das profissões. Segundo

Anísio Teixeira (1989), julgava-se que o Brasil poderia importar cultura, mas não criá-la e

elaborá-la. Até então, as várias iniciativas no campo da educação profissional no Brasil

haviam sido esporádicas, descontínuas, e sem um planejamento nacional efetivo. Por isso, no

final do século XIX, a formação do trabalhador brasileiro ainda lembrava o processo de

aprendizagem das antigas corporações medievais. Como explica Cunha,

O aluno era admitido na oficina como aprendiz, passando a receber as noções gerais

sobre ofício escolhido, no próprio trabalho. O aprendiz era colocado ao lado de um

operário adulto a quem começava por auxiliar, terminando por se tornar um operário

efetivo como ele (2000, p. 124).

No Brasil, em seus primeiros passos, a indústria passou a assimilar as idéias

desenvolvidas pelo engenheiro norte-americano Frederick Winslow Taylor (1856-1915), que

propunha novas formas de gerenciamento e organização do trabalho. Por estar convencido da

ineficiência do trabalho dos operários fabris, Taylor empenhou-se em identificar os eventuais

problemas que atrasavam os tempos de produção. Ele também instituiu a remuneração por

produção, princípio baseado na idéia de que a atividade humana é influenciada pelas

recompensas salariais ou materiais.

A par dessas idéias, em 1924 o engenheiro Roberto Mange implantou em São Paulo

uma Escola Mecânica, com o objetivo de formar profissionais através das chamadas “séries

metódicas”, estas constituídas de desenhos a partir dos quais os alunos deveriam executar

trabalhos. Conforme o próprio Mange, as séries representavam “o 'esqueleto do

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desenvolvimento racional na profissão' e permitiam, também, observar o 'processo evolutivo'

de cada indivíduo” (1932, p. 18),

Estava então lançado o embrião dos Centros Ferroviários de Ensino e Seleção

Profissional (CFESPs), criados por companhias férreas do estado de São Paulo, como, por

exemplo, a Sorocabana, e oficializados pelo Decreto Estadual nº. 6.537, de 1934. Nestes

centros, os cursos eram guiados por projetos de uma geração de engenheiros da Escola

Politécnica, fortemente influenciados pelos princípios de tayloristas introduzidos no país por

Roberto Simonsen, em 1919. Por esse motivo, eles apostavam na organização do trabalho

através da preparação racional e metódica da mão-de-obra.

Apesar de caminhar para a sua revolução industrial, na década de 20, o país ainda se

via diante da baixa qualificação de sua mão-de-obra e do dilema do analfabetismo. Por esse

motivo, já haviam debates entre educadores, influenciados também pelas idéias inovadoras

propostas durante a Semana de Arte Moderna, de 1922.

Ainda nesta década a Câmara dos Deputados propôs uma série de debates referentes à

expansão do ensino profissional, estendendo-o a pobres e ricos, e não apenas aos

desafortunados. Como resultado das discussões, foi criada uma comissão especial que ficou

conhecida como Serviço de Remodelagem do Ensino Profissional Técnico, que concluiu seus

trabalhos na década de 30, quando da criação dos Ministérios da Educação e Saúde Pública e

do Trabalho, Indústria e Comércio.

Em 1926, Fernando Azevedo, redator e crítico literário de “O Estado de São Paulo”,

dirigiu um amplo inquérito, com objetivo de conhecer a situação educacional no Brasil. Neste

documento, Fernando abordou os problemas do ensino primário, do secundário, do normal e

do superior, enfatizando o ensino técnico-profissional e o papel da administração pública

nesse campo.

Ainda, em 1928, o amadurecimento da indústria paulista ficou demonstrado com a

criação do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP). Na época, sob a

presidência de Francisco Matarazzo, originou-se de uma mobilização histórica que

constituiria um passo importante em direção à primeira revolução industrial brasileira.

Desta forma, encerrava-se a segunda década do século XX, deixando as bases para o

desenvolvimento econômico, que seria experimentado nos anos seguintes. O trabalho passou

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a ser depositário da educação e da pesquisa científica, que, por sua vez, adaptou-se às

necessidades da produção, promovendo um encontro que favorecia a racionalidade, necessária

à construção de uma moderna sociedade industrial.

2.1 Revolução Industrial Brasileira

O período conhecido como revolução industrial brasileira representou a transição

definitiva da manufatura para uma economia predominantemente industrial.

Depois do final da I Guerra Mundial (1917), a década de 20 iniciou como um período

de grande prosperidade nos Estados Unidos, enquanto a Europa sofria ainda as consequências

do pós-guerra, inclusive com a ascensão do Nazismo. O governo brasileiro também se viu às

voltas com movimentos como o Tenentismo (1922) e a Coluna Prestes (1925-1927). Esta,

originada a partir da Revolta Paulista de 1924 – segunda revolta tenentista, e foi resultado da

insatisfação com a República Velha. Este movimento reivindicava entre outras coisas o voto

secreto, a defesa do ensino público e a obrigatoriedade do ensino primário para toda a

população.

Em meio a toda esta turbulência política, econômica e social, ocorreu, em 1922, a

Semana de Arte Moderna de São Paulo. Tal evento se deu no seio da República Velha,

controlada pelas oligarquias cafeeiras e pela política do café-com-leite, onde o capitalismo

crescia consolidando a República e a elite paulista. O objetivo da Semana de 1922 foi o de

romper com os padrões estéticos europeus mais tradicionalistas, demonstrando o total

descontentamento da intelectualidade com a ordem estética estabelecida, e objetivando

renovar o ambiente artístico e cultural do país. Vale destacar que este importante movimento

também influenciou o pensamento de diversos educadores brasileiros como Fernando de

Azevedo, Anísio Teixeira e Lourenço Filho, que já debatiam mudanças no ensino desde o

início dos anos 20.

No final da década de 20 o mundo passou a viver sob o efeito da crise deflagrada com

a quebra da bolsa de valores de Nova York, em 1929. Entre outras coisas, o desequilíbrio

econômico provocava a ausência de um mercado para a produção agrícola, a ruína dos

produtores rurais e o desemprego urbano. Um dos setores menos prejudicados pela conjuntura

mundial foi o da indústria.

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O movimento revolucionário de 1930, deflagrado depois de uma série de levantes

militares, representou uma reação contra o predomínio político do setor cafeeiro. Num

primeiro momento, a expansão do setor industrial valeu-se da capacidade já instalada no país.

A produção da indústria têxtil, por exemplo, aumentou substancialmente nos anos que se

seguiram a Grande Depressão (1929-1939).

O chamado governo provisório de Getúlio Vargas deu início a um período marcado

pelo aumento gradual da centralização do poder e pela intervenção estatal na economia e na

organização da sociedade. O aumento da industrialização acirrou a polêmica sobre a

participação do investimento estrangeiro na economia. Se, por um lado, esses capitais

poderiam contribuir para impulsionar o crescimento, por outro o discurso nacionalista via as

empresas estrangeiras como exploradoras e não como parceiras do Brasil. Com a ascensão de

Vargas ao poder, a exploração do ferro e do petróleo por indústrias nacionais passou a ser

bandeira de luta dos grupos que rechaçavam a participação estrangeira na gerência das

indústrias de base.

Nesta época, a visão da formação profissional, para o exercício de funções nos postos

de trabalho, segundo os padrões do regime industrial e do trabalho assalariado capitalista,

tornava-se hegemônica em função da crescente demanda por mão-de-obra qualificada e da

apropriação das novas teorias relativas à eficiência e à produtividade do trabalho. Assim, duas

medidas importantes vieram efetivar, em 1930, a política voltada para o fortalecimento do

setor industrial. Em 14 de novembro, o governo instituiu o Ministério dos Negócios da

Educação e Saúde Pública (MESP), que além de representar uma resposta tardia aos anseios

do movimento sanitarista da Primeira República, prenunciava uma reformulação do ensino

destinado à promoção da educação sobre novas bases. Poucos dias depois, foi criado o

Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (MTIC), marcando o início de uma efetiva

atuação estatal no processo de produção.

Nesse mesmo tempo, nos Estados Unidos, o desenvolvimento industrial ganhou

importante impulso a partir das propostas e ações de Henry Ford, o primeiro empresário a

aplicar a montagem em série e a produzir automóveis em massa, em menos tempo e com

menor custo. Inventor da linha de montagem, Ford foi o pioneiro do capitalismo do bem-

estar-social, concebido para melhorar a situação dos seus trabalhadores e reduzir a alta

rotatividade de mão-de-obra. As idéias presentes no modelo fordista, além de revolucionarem

o pensamento da época, contribuíram para desenvolver a mecanização do trabalho, a

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produção em série, a padronização do maquinário e do equipamento e, por consequência, o

design dos novos produtos. O resultado disso foi a divisão, ainda mais profunda, entre o

trabalho intelectual e o trabalho manual. Ao operário, era legada a condição de apenas

executar as tarefas planejadas em vista da garantia de maior produtividade.

Vale destacar que durante a Primeira República (1889 - 1930), a oportunidade de

acesso e a qualidade do ensino brasileiro era privilégio de uma pequena classe dominante, em

detrimento de grande parcela da população, formada apenas para trabalhar. A escola brasileira

daquele período contribuía para formação de uma casta intelectualizada.

O Brasil de 1930 não estava alheio a essa nova ordem. Segundo Vargas (1985, p. 182),

“o Taylorismo (fordismo) foi introduzido em nossas fábricas, sem o alarde e a propaganda das

décadas anteriores: a prática industrial substituiu o discurso”.

Não tardou para que a educação, que adquiria uma dimensão efetiva no novo contexto

histórico, fosse objeto dos vários instrumentos legais instituídos em 1931. Primeiramente foi

criado o Conselho Nacional de Educação (CNE). Três dias depois, surge o documento

conhecido como Estatuto das Universidades Brasileiras, que dispunha sobre o ensino

superior, determinando a investigação científica em todos os domínios do conhecimento

humano. Em seguida, a Reforma Francisco Campos passou a regulamentar o ensino

secundário.

No âmbito do ensino profissional surgiu a Inspetoria do Ensino Profissional e Técnico,

destinada a exercer um controle sobre as escolas de aprendizes artífices. Acabou sendo

transformada, em 1934, na Superintendência do Ensino Profissional, vinculada ao Ministério

da Educação.

No Brasil de então, o processo de inovação deveria estar a cargo de instituições

formadas por técnicos capacitados a desenvolver atividades que pudessem combinar o

aperfeiçoamento e racionalização das técnicas de produção com a distribuição eficiente dos

produtos no mercado interno. À medida que as relações capitalistas de produção iam se

consolidando, foram sendo implementados também os meios de conjugar os interesses dos

trabalhadores com as exigências da produção. As antigas associações, criadas nas primeiras

duas décadas do século XX, davam lugar às organizações sindicais patronais e operárias,

agora regulamentadas por decreto de Getúlio Vargas, em 1931.

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Foi durante a IV Conferência Nacional de Educação (1932) que vinte e seis

educadores brasileiros integrantes do movimento denominado Renovação Educacional, sob a

liderança de Fernando de Azevedo, apresentaram o Manifesto dos Pioneiros da Educação

Nova. Inspirados pelas teorias de John Dewey e Émile Durkhein, os intelectuais buscaram

diagnosticar e sugerir rumos às políticas públicas de educação. Este grupo, fortemente

influenciado pelos conturbados movimentos da década de 20, defendia uma escola gratuita,

pública, laica e obrigatória. Por isso, foi rotulado de comunista pelos educadores católicos,

que detinham a propriedade e a orientação de parcela expressiva das escolas da rede privada.

Apesar disso, o Manifesto dos Pioneiros serviu de base para os decretos de 1932 e

1934, que minimizaram as diferenças curriculares entre as escolas pós-primárias, dirigidas aos

futuros operários, e as escolas secundárias destinadas aos futuros administradores e

profissionais liberais. Foram também instituídas escolas técnicas que ofereciam cursos

industriais e comerciais. Data desta época o surgimento das Federações das Indústrias de São

Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, que juntas criaram, em 25 de

janeiro de 1933, a Confederação Industrial do Brasil (CIB), cuja finalidade foi a de congregar

os sindicatos e associações industriais existentes na época.

Um marco importante na política nacional de educação foi a Constituição de 1934,

redigida pela Assembléia Nacional Constituinte de 1933, que foi sensível as propostas da IV

Conferência Nacional de Educação, de 1932. Pela primeira vez na história do país, a educação

mereceu destaque. O governo tomou para si a responsabilidade pelo estabelecimento das

Diretrizes da Educação Nacional e fixação do Plano Nacional de Educação.

O governo Vargas não andava bem. Enfrentava oposições de direita e de esquerda, tais

como movimentos grevistas, choques entre integralistas e antifascistas. As elites e a classe

média, temerosos com a possibilidade de uma contra-revolução, apoiaram Getúlio Vargas no

golpe que implantou o Estado Novo em 1937.

A Constituição de 1937, em seu artigo 129, enfatizou a educação básica, ao afirmar

que o ensino pré-vocacional profissional, destinado às classes menos favorecidas, se tornava o

primeiro dever do Estado. Assim, ao Governo Federal coube dar execução a esse dever,

fundando institutos de ensino profissional, em substituição aos de iniciativa dos Estados, dos

Municípios e dos indivíduos ou associações particulares e profissionais.

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Frente às demandas do processo de industrialização desencadeado no início da década,

que exigia profissionais especializados para os setores primário, secundário e terciário da

economia, surgiram as escolas profissionalizantes. Junto a elas, também o apelo ao

comprometimento do setor empresarial e dos sindicatos econômicos na criação de escolas de

aprendizes, destinadas aos filhos de seus operários ou de seus associados. Data desta época a

fundação dos primeiros Círculos Operários, que tinham por objetivo ampliar os direitos

trabalhistas e oferecer diversificada assistência aos seus associados.

Como fundador do Conselho Nacional da Indústria (CNI – 1938), o empresário,

engenheiro e político brasileiro Euvaldo Lodi compartilhava da visão de que a educação era

uma das chaves para o desenvolvimento do país, devendo, portanto, estar no centro da agenda

da indústria brasileira. Por sua vez, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

(FIESP), então sob presidência de Roberto Simonsen, também teve papel destacado na

implantação do ensino profissionalizante. Assim como os sindicatos de trabalhadores,

responsáveis pela criação e administração de escolas de aprendizes, para atender

principalmente os filhos de operários.

Em 1938 o CNI e a FIESP receberam um documento do Ministério da Educação e

Saúde relativo à aprendizagem industrial de adolescentes trabalhadores. Mesmo sem as

entidades manifestarem sua opinião, em maio de 1939, o mesmo documento originou o

Decreto-lei nº. 1.238. Neste, o governo de Vargas determinava que as empresas com mais de

quinhentos operários mantivessem um refeitório para atender o seu pessoal e instalassem

cursos de aperfeiçoamento para jovens e adultos. Com isso, adiantava-se, de certa forma, às

decisões da XXV Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT),

realizada na Suíça em junho do mesmo ano, que teve a aprendizagem como principal tema em

sua pauta. Vale lembrar que Getúlio Vargas apoiava essas idéias, pois já havia se pronunciado

em 1933, afirmando que a instrução profissional e técnica deveria ser desenvolvida até o

limite extremo de suas possibilidades.

As indústrias, por meio de Simonsen, presidente da FIESP, reivindicavam a

participação dos empregados e do Estado no custeio dos cursos profissionais, alegando que

para elas, o Decreto-lei nº. 1.238 era muito oneroso. Por outro lado, os operários defendiam a

extensão dos cursos aos trabalhadores de empresas pequenas e médias, que empregavam a

maior parte da força de trabalho.

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O impasse sobre o tipo de educação a que os trabalhadores deveriam ter acesso

revelava os princípios que estavam orientando a formulação da política educacional para o

ensino profissionalizante. Com base na conclusão dos trabalhos da comissão interministerial,

criada para regulamentar o Decreto-lei nº. 1.238, e de posse também de um projeto oriundo do

Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (MTIC), Getúlio Vargas acabou por promulgar

em 1940 o Decreto-lei nº. 6.029. Baseado no projeto do MTIC, ele regulamentava a instalação

e o funcionamento de cursos profissionais em empresas com mais de quinhentos

trabalhadores, sendo que os jovens aprendizes deveriam receber salários, e os empregadores

teriam que arcar com o ônus da formação profissional.

Seguindo as recomendações da XXV Conferência da OIT, o presidente Vargas

convidou Euvaldo Lodi (CNI) e Roberto Simonsen (FIESP), mais o empresário paulista

Valentim Rebouças para, junto ao ministro da educação Gustavo Capanema, apresentarem

propostas para a criação de um organismo coordenador do ensino industrial no país.

Em 1941, o ministro Capanema apresentou o relatório preliminar dos industriais, que

indicava o Centro Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional (CFESP), como um modelo

administrativo e pedagógico a ser seguido. O documento propunha a criação do Serviço

Nacional de Seleção, Aperfeiçoamento e Formação de Industriários (SENAFI), como uma

entidade autônoma e coordenada pela CNI, e sugeriu que a mesma estrutura de ensino fosse

estendida aos demais setores da economia, como comércio e agricultura.

Um ano depois, em 22 de janeiro de 1942, foi criado o Serviço Nacional de

Aprendizagem Industrial (SENAI). Em 30 de janeiro do mesmo ano, foi promulgada a Lei

Orgânica do Ensino Industrial, que dispunha sobre a Organização da Rede Federal de

Estabelecimentos de Ensino Industrial, e, em 28 de dezembro de 1943, estabelecia-se a Lei

Orgânica do Ensino Comercial.

Ainda em 1942, foram promulgados dois decretos que tratavam da organização do

ensino industrial e do ensino secundário. O ensino secundário tinha o objetivo de formar

“indivíduos condutores”, pelo próprio ensino nele ministrado e pela preparação para o ensino

superior. Os demais ramos tinham a finalidade de formar a força de trabalho para os

principais setores da produção: o ensino industrial, o ensino comercial, o ensino agrícola, e o

ensino normal, que era voltado para a formação de professores para o ensino primário.

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Aqui se nota uma contradição essencial do capitalismo onde o trabalhador não pode

ter meio de produção, não pode deter o saber, mas sem saber, ele também não pode produzir.

É a partir desta contradição, que os modelos de produção e de acumulação do capital, seja o

fordismo ou mesmo o toyotismo, vão estabelecer a fragmentação social e técnica do trabalho

(KUENZER, 2005).

Nesse mesmo ano de 1942, foi aprovado por decreto o regimento do SENAI,

explicitando sua principal finalidade: organizar e administrar as escolas de aprendizagem para

qualificar a mão-de-obra para as atividades demandadas pela indústria e para aumentar a

produtividade no trabalho.

A criação do SENAI e do SENAC impuseram uma verdadeira revolução no sistema

educacional brasileiro. Abriu-se as portas do ensino profissional para milhões de jovens que

dariam suporte às novas indústrias e às cadeias comerciais que se multiplicavam. À medida

que se expandiam as indústrias nacionais, a importância da formação e do treinamento

profissional tornava-se mais evidente. Por outro lado, as tensões sociais aumentavam em

função de carências dos trabalhadores, como excesso da jornada de trabalho e exploração

salarial, condições precárias de moradia, entre outros. A conjuntura mundial, por sua vez,

estava conduzindo-se para o conflito da II Guerra Mundial.

A despeito das conquistas voltadas especificamente para o setor produtivo, impunha-

se a necessidade de um plano de ação social para o Brasil. Na época, a preocupação já era

manifestada por alguns industriais, como Lodi (1952), que acreditava que era insuficiente

qualificar tecnicamente o trabalhador, pois sua produtividade depende também da assistência

que lhe seja dedicada para melhorar-lhe, de maneira indireta, as condições de vida.

Passado o final da II Guerra Mundial (1945), apareceram as preocupações dos

empresários brasileiros, expressas na Carta Econômica de Teresópolis, durante a 1ª

Conferência das Classes Produtoras. A mesma referia-se ao combate ao pauperismo, ao

aumento da renda nacional, ao desenvolvimento das forças econômicas, à democracia

econômica e à justiça social. Segundo Lodi (1951), das novas condições de vida geradas pela

revolução industrial surgiram problemas sociais até então desconhecidos. Entre eles, o

desemprego e os salários de baixo nível; os acidentes de trabalho, o esgotamento físico e

psicológico dos trabalhadores; a desnutrição, as habitações impróprias e congestionadas.

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Todos estes riscos sociais estavam diretamente vinculados aos grandes contingentes da

população, precisamente os que mais diretamente interessavam a economia social.

Por essa razão foi elaborada, em 1946, a Carta da Paz Social, após uma reunião de

sindicatos patronais e de trabalhadores de Minas Gerais, amparada nos princípios de

solidariedade e harmonia entre capital e trabalho. Este foi o primeiro passo para humanizar

esta relação, propondo a criação dos serviços sociais, tanto da indústria, quanto do comércio.

Em 25 de junho de 1946, o então Presidente da República, general Eurico Gaspar

Dutra, assinou o Decreto-lei 9.403, que criou o Serviço Social da Indústria (SESI), entidade

que seria então organizada e dirigida pela CNI. Seu objetivo era o de melhorar a qualidade de

vida dos industriários e de seus dependentes. Entre suas atividades, incluíam-se a prestação de

serviços de saúde, educação, lazer, cultura, nutrição e promoção da cidadania, vindo a

originar o hoje conhecido Sistema S.

Com um ambicioso plano de governo, prometendo superar os obstáculos e,

principalmente, transferir a capital do país para o Planalto Central, iniciou-se o governo de

Juscelino Kubitschek de Oliveira. Graças à sua ousadia, JK conseguiu implantar as empresas

criadas por Vargas e implementar um novo modelo de desenvolvimento sobre a base

industrial estatal instalada. Seu Plano de Metas teve como base uma série de estudos iniciados

ainda no governo de Getúlio Vargas. Para os analistas da época, o Brasil vinha passando por

um processo de substituição de importações não planejado, sendo esta a causa dos constantes

desequilíbrios no balanço de pagamentos.

Com o slogan “50 Anos de Progresso em 5 Anos de Governo”, JK desejava

impulsionar o desenvolvimento do país mediante o incremento de cinco áreas que considerava

estratégicas – energia, transporte, alimentação, indústria de bens e educação. Além disso,

primou pela construção de Brasília.

Nesse ambiente foi inaugurada, em setembro de 1956, em São Bernardo do Campo, a

primeira fábrica de caminhões com motor nacional da Mercedes-Benz. E no mesmo ano foi

lançado, pela Máquinas Agrícolas Romi, em Santa Bárbara do Oeste - São Paulo, o primeiro

veículo produzido no Brasil: um minicarro popular, a Romiseta.

Notadamente, a indústria automobilística desempenhou um papel central nas políticas

do governo. Embora as primeiras empresas estrangeiras a se instalar no Brasil tenham sido a

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Ford (1919) e a General Motors (1925), suas unidades de produção restringiam-se a

montadoras de peças vindas do exterior. Com o início da II Guerra, e a consequente

dificuldade de importação, surgiu a necessidade de improvisar peças de reposição. Isso fez

surgir pequenas oficinas, que contribuíam para manter a frota brasileira em circulação.

O governo JK também incentivou o ensino técnico-profissionalizante e a educação

para o trabalho, na busca de modernizar o país. Essa valorização da educação

profissionalizante se justificava pela intensidade das mudanças ocorridas no mundo do

trabalho, resultado do crescimento do setor secundário e terciário, com a consequente

validação de saberes do mundo das experiências.

O ensino tecnológico mereceu uma atenção especial do governo, com a lei que

instituiu as escolas técnicas federais e autarquias educacionais, vinculadas ao MEC. Em 1960,

o ensino tecnológico foi contemplado com a criação da Comissão Supervisora do Plano dos

Institutos (COSUPI), com a finalidade de elaborar e executar, sob a coordenação do

Ministério da Educação e Cultura, os planos de aplicação das verbas concedidas para a

instalação de institutos de tecnologia e ciências básicas. A COSUPI deveria contribuir para

aumentar a eficiência do ensino nas escolas de nível superior.

Ao encerrar seu mandato em 1961, JK havia levado o país a um forte progresso e

crescimento econômico que mudou a imagem externa e a vida cotidiana do país.

Valorizavam-se as conquistas da vida urbana, os novos produtos da indústria, as diferenças da

vida social, o maior acesso à educação e à cultura de massa (CALDEIRA, 1997, p.297).

Entretanto, também houve um significativo aumento da dívida pública interna e da dívida

externa, fazendo com que os governos seguintes herdassem uma grande inflação.

Em dezembro de 1961, o então presidente João Goulart, assinou a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional (LDB - Lei 4.024/61), que reconhecia a articulação entre ensino

profissional e ensino regular e produzia a equivalência entre os cursos profissionalizantes e os

propedêuticos, em função da continuidade dos estudos. O projeto previa que o ensino estava

aberto à iniciativa privada, embora devesse ser também garantido pelo poder público. Deste

modo, caberia a família a escolha sobre o tipo de educação que queria para seus filhos.

Para o ensino profissional, a grande inovação da lei foi estender ao SENAI a

possibilidade de instituir a mesma organização que estava prevista no sistema público de

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ensino. Assim a entidade poderia oferecer o curso ginasial em quatro anos e o curso técnico

industrial em três anos equivalentes ao curso secundário, o que facultava aos alunos

concluintes ingressarem em qualquer curso de nível superior. Puderam assim, o SENAI e o

SENAC, organizarem seus cursos em condições de equiparação legal aos níveis de ensino

fundamental e médio (KUENZER, 1999).

Por outro lado, essa lei que poderia alicerçar a reconstrução do ensino não obteve

êxito, já que foi o resultado de um pacto entre diversos interesses dominantes. Assim, o

sistema de ensino permaneceu altamente elitista e anti-democrático, à semelhança dos

governos antecessores, Dutra e Vargas.

Em consequência da LDB de 1961, foi criado o Conselho Federal de Educação (CFE),

cuja composição teve um mínimo de ingerência política, sendo que a indicação dos

conselheiros foi feita, em parte, por Anísio Teixeira. O Ministério da Educação apresentou,

em 07 de março de 1962, a portaria que fixava as disciplinas obrigatórias para o curso técnico,

tornando obrigatório o estágio. Até então, o estágio era só recomendado, textualmente, na

forma de exercício satisfatório da profissão, por período não inferior a um ano, com

assistência e orientação da escola.

Dando sequência à educação para o trabalho, foi instituído, em 1963, o Programa

Intensivo de Preparação de Mão-de-Obra Industrial, destinado a treinar os operários novos e

os já empregados, para que pudessem se adequar às novas tecnologias importadas, e, com

isso, aumentar o número de trabalhadores qualificados à disposição do mercado.

Esse programa justificava a criação das indústrias de base que, durante os anos 30,

preparou o sustentáculo para o aparecimento da indústria de bens de consumo duráveis

(automóveis, eletrodomésticos, etc.). Tais processos demandavam conhecimento tecnológico

e uso de equipamentos sofisticados. Mas, como obtê-los num país que não investiu em

educação, que ainda no final da década de 1950 tentava combater o analfabetismo? É sabido

que, desde antes do governo JK, mas mais fortemente a partir dele, ao invés de se investir em

tecnologia de ponta a partir da elevação de quadros técnicos no país, pelo oferecimento de

uma educação de qualidade para toda a população, optou-se pela importação de tecnologia.

De 1955 a 1960, com o apoio do governo JK e, posteriormente através de uma política

desenvolvida pelos governos militares, de 1964 em diante, incentivou-se a entrada de

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multinacionais no país. Assim os norte-americanos e europeus passaram a ter liderança nos

setores de maior investimento tecnológico.

Ainda na gestão de João Goulart o poder executivo apresentou, com insucesso, o

Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico Social para o período de 1963-1965. O plano

intencionava superar a estagnação econômica e amenizar a insatisfação das camadas sociais,

priorizando a melhoria das condições sociais do país, e abrindo espaço para as manifestações

em defesa das reformas agrária, tributária e educacional. O então presidente, Jango, era tido

como um aliado dos trabalhadores e contra a classe patronal, um governante populista que

procurou incorporar as massas urbanas como base de apoio político, sem que houvesse

concessões exageradas, do ponto de vista patronal, e sem estender estas concessões para o

campo, nem alterar a estrutura agrária do país. Por isso, teve que conviver com inúmeras

greves, motivadas não apenas por reivindicações salariais, mas também pela aprovação das

reformas de base.

Diante de tal situação, de um lado os empresários estrangeiros, preocupados com a

possibilidade de verem reduzidos seus movimentos financeiros, fizeram pressão sobre o

governo; de outro, os fazendeiros, assustados com a possibilidade de uma reforma agrária,

colocavam-se na oposição. Somava-se, a essa crise geradora de tensões entre assalariados e as

classes detentoras dos meios de produção, os grupos e partidos de esquerda e de movimentos

produzidos pelas entidades estudantis. Estes uniram suas forças, visando uma política de

ampliação das bases populares de sustentação dos grupos no poder. Esse quadro de

instabilidade política contribuiu para a eclosão do golpe militar, em 1964.

2.2 A Educação Subordinada à Produção

Sob a presidência do general Humberto de Alencar Castelo Branco, em 1964, o país

passou a ter um novo estilo de liderança, respaldada por uma nova estrutura de poder, no qual

um Estado ditatorial e policial reafirmava a existência de uma sociedade dual, desigual e

excludente. A política educacional deste período pautou-se, do ponto de vista teórico, na

educação de cunho liberal, que estabelecia uma relação direta, imediata e mesmo de

subordinação da educação à produção.

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O governo militar deu continuidade ao processo de internacionalização da economia,

iniciado durante o governo JK, em favor da hegemonia do capital financeiro. Como resultado

o Brasil experimentou sua primeira crise industrial, devido à insuficiência de mercado para a

indústria, setor mais dinâmico da economia. Como as exportações haviam sido reduzidas a

produtos cuja disponibilidade de matérias-primas era pequena, o desenvolvimento do Brasil

passou a depender quase que exclusivamente do mercado interno, este era muito pequeno para

suprir as demandas impostas para as suas unidades produtivas, inviabilizando novos

investimentos.

Com todas as condições econômicas e políticas facilitando o funcionamento e a

expansão das grandes empresas, o sistema educacional encontrava-se defasado. A

implantação das indústrias de base e o crescimento acelerado dos anos 50 haviam contribuído

para ampliar e diversificar o mercado de trabalho e, cada vez mais, os novos postos de

trabalho exigiam qualificação, gerando uma forte demanda de mão-de-obra técnica.

Naquele momento, convivendo com desemprego e inflação alta, as camadas populares

se voltaram para o sistema educacional. A educação passou a ser vista como o único caminho

possível para a conquista de empregos, para o preenchimento das vagas disponíveis no

mercado e para a ascensão social. Serviu, entretanto, como freio amortecedor de

reivindicações grupais e sucessivas das demandas salariais.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, aprovada em 1961, além de responder a

interesses conflitantes, estava obsoleta e inadequada para satisfazer o novo estágio do

desenvolvimento capitalista. Segundo Romanelli, a lei não havia sido estruturada para o

desenvolvimento capitalista.

A lei não havia criado a estrutura aberta de que carecia o desenvolvimento da nação

e a inelasticidade da oferta era acompanhada de uma estrutura escolar que não

respondia, nem de longe, à demanda de recursos humanos criada pela expansão

econômica (1984, p. 206).

Era de consenso que o Brasil precisava fazer uma reforma na estrutura educacional e

estimular a produção de ciência e tecnologia. Embora o país possuísse um sistema industrial

diversificado ainda apresentava ineficiência na utilização dos recursos disponíveis, além de

enfrentar obstáculos para inovações tecnológicas e formação de mão-de-obra.

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Percebia-se que, cada vez, mais havia uma estreita relação entre educação e trabalho,

caracterizada pela predominância do modelo fordista, baseado na produção, na especialização

do trabalho, na padronização da produção e nas linhas de montagem. A produção industrial,

deste modo, estava sujeita a constantes processos de modernização.

O governo tentou dividir o ônus da educação com o setor empresarial. Em 1964, foi

instituído o salário-educação, que representava uma fonte de recursos para a educação

primária, proveniente da contribuição das empresas, que passaram a recolher, aos institutos de

previdência social correspondentes, uma cota para cada um de seus empregados. No ano

seguinte, o governo estendeu a obrigação dessa contribuição a todos os empregadores

públicos e privados, aumentando, com isso, essa fonte de recursos. Como forma de contribuir

para o desenvolvimento, a educação passou a ser vinculada ao planejamento econômico e

político global.

Em 24 de janeiro de 1967, entrou e vigor a sexta Constituição Brasileira. A nova

Carta permitiu a reforma administrativa e a formalização legislativa, pretendidas pelo regime

militar. Para efeito dessa lei,

A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola; assegurada a igualdade

de oportunidade, deve inspirar-se no princípio da unidade nacional e nos ideais de

liberdade e de solidariedade humana. (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL DE 1967, TÍTULO IV, ART. 168)

Além disso,

As empresas comerciais, industriais e agrícolas são obrigadas a manter, pela forma

que a lei estabelecer o ensino primário gratuito de seus empregados e dos filhos

destes (...) e são ainda obrigadas a ministrar, em cooperação, aprendizagem aos seus

trabalhadores menores. (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO

BRASIL DE 1967, TÍTULO IV, ART. 170 E PARÁGRAFO ÚNICO)

Segundo o Plano Econômico de Desenvolvimento, o gerenciamento de recursos

humanos constituía o instrumento principal para a capacitação de mão-de-obra especializada,

para o mercado de trabalho industrial. O ensino superior teve como meta principal a

ampliação das oportunidades educacionais, traduzidas na construção de novas instituições e

na reestruturação das já existentes. Também foi direcionado para ampliação das carreiras

técnicas e tecnológicas, vistas como principal fator de desenvolvimento.

Entretanto, o Brasil passou por outras turbulências devido às reivindicações estudantis

por mais vagas no ensino superior e melhores condições de ensino. Os protestos dos

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estudantes foram seguidos pelo corpo docente, que, em face da superlotação das classes e da

falta de verbas, exigiu melhores condições de trabalho.

O Congresso Nacional, então, aprovou a Lei nº. 5.540, de 28 de novembro de 1968,

que dispunha sobre a Reforma Universitária. Essa reforma não conduziu a uma verdadeira

modernização da estrutura universitária, no que diz respeito à preparação de quadros

qualificados para enfrentar os desafios profissionais impostos pela globalização, que já se

pronunciava. Serviu somente para aumentar a produtividade dos recursos materiais e humanos

já existentes, modificando as normas de organização e funcionamento do ensino superior e

sua articulação com a escola média.

Ao mesmo tempo em que a Reforma Universitária foi discutida e aprovada pelo

Congresso, os determinantes políticos e estratégicos, para a iniciativa de articulação do ensino

com o mercado de trabalho, estavam sendo estabelecidos por empresários brasileiros. Eles se

reuniram no fórum “A educação que nos convém”, realizado em outubro e novembro de 1968

no Rio de Janeiro, onde concluiu-se que a educação deveria se subordinar às reais

possibilidades do país e de sua época. De acordo com o Instituto de Pesquisa e Estudos

Sociais,

Cada país e cada época histórica podem produzir um tipo de educação, tipo de

educação que é moldado pelas exigências da Sociedade, mas também pelos limites

de seus recursos materiais e recursos humanos. [...] Assim uma sociedade

industrializada, pode fornecer à educação recursos gerais, sejam financeiros,

humanos ou propriamente sociais, muito mais extensos do que os de uma sociedade

agrária (IPES, 1968, p. 160).

O conferencista Luiz Gonzaga do Nascimento Silva, ministro do Trabalho na época,

argumentou que era “preciso educar as massas”, e também, “dar atenção a um tipo de

educação que mantenha a preparação das elites dirigentes, dos empresários, dos técnicos de

nível superior”. Sobre a educação para o mercado de trabalho, ele considerou que “à medida

que a sociedade se industrializa [...] a educação deve servir às necessidades da sociedade,

entre as quais se destacam as da indústria, e esta deve absorver os homens preparados por

aquela” (IPES, 1968, p. 162).

Percebe-se que o fórum se propôs a planejar a educação de forma a refletir o programa

econômico-social vigente, determinando que a nível médio, o aluno estivesse mais qualificado

para o trabalho. Atenderiam-se assim as necessidades do país, resultado da industrialização

crescente, proporcionando cursos de formação mais ligados ao exercício de determinadas

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atividades. Buscava-se também a reordenação do processo educativo de modo a torná-lo

objetivo e operacional, minimizando as interferências subjetivas. Semelhante ao ocorrido com

o trabalho fabril, pretendia-se a objetivação no trabalho pedagógico.

O descontentamento estudantil e acadêmico continuou, enquanto 1968 passava para a

história como o ano da juventude, ou o ano que os jovens quiseram mudar o mundo de

maneira radical. Tinham como lema: “É proibido proibir”. Entretanto, no final de 1968, o

governo militar decretou o Ato Institucional nº 5, calando, pelo uso da repressão, esse

movimento estudantil.

2.3 Um Novo Olhar para a Educação

O objetivo primordial do governo militar, de Costa e Silva, foi o de conciliar uma

desinflação progressiva com a retomada do desenvolvimento econômico.

Com isso, em 1969, o setor industrial exibiu uma taxa de crescimento em torno de

14%, enquanto os empregos industriais revelaram um quadro promissor. O bom desempenho

do setor deveu-se à indústria automobilística, que iniciou, então, um ciclo sucessivo de

produção.

Na mesma época em que o Congresso Nacional finalizou as discussões sobre a

Reforma Universitária, o fórum “A Educação que nos Convém”, realizado entre outubro e

novembro de 1968, reuniu parte do empresariado brasileiro, no Rio de Janeiro. Desta forma,

se a Lei nº. 5.540 significou mudanças na estrutura universitária, atendendo, sobretudo, ao

princípio de eficiência administrativa das próprias instituições de ensino. Ela não conseguiu

satisfazer às expectativas, no que se referia tanto à preparação de profissionais capazes de

empreender o desenvolvimento e alavancar a produção industrial, quanto à formação de

cidadãos aptos a responder às demandas sociais.

Durante os debates do tema “Educação e desenvolvimento econômico”, criticando o

conhecimento puramente acadêmico, Simonsen defendia que o universitário, “um privilegiado

na esfera social”, deveria ser equipado para o trabalho, evitando-se, dessa forma, o “fenômeno

do letrado ou do universitário desocupado” (IPES, 1968, p. 77).

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Quanto ao tema “Estrutura da universidade”, no fórum de 1968, defendeu-se que a

pesquisa e o ensino, vistos como uma unidade, deveriam produzir quadros conscientes de suas

atribuições e competências. Nesse sentido se a firma que,

O ensino ilustrativo e meramente erudito tem que ser superado, para que se possa

relegar a formação literária e „bacharalesca‟, que impede o pensamento reflexivo e o

exercício da função universitária, centrada sobre o método científico, como

instrumento básico de preparação de quadros conscientes (IPES, 1968, p. 91).

Demonstrou-se claramente a necessidade de um vínculo funcional entre a universidade

e a empresa, colocando-se a primeira como instância depositária e processadora dos dados

colhidos pela segunda, no âmbito do processo de produção. Acreditava-se que este vínculo

traria para dentro das empresas pessoas comprometidas, que poderiam corresponder ao

movimento de idéias em favor das próprias empresas, já que estas abrem novos negócios e

alargam o mercado de trabalho.

Depois de proceder a elaboração de um diagnóstico da situação brasileira, o grupo

encarregado do tema “Fundamentos para uma política educacional brasileira” fez diversas

recomendações para a reforma do ensino superior. Entre elas, o planejamento da educação de

forma a entrosá-la no quadro de necessidade de recursos humanos do país; a alocação de

recursos possíveis, de origem estatal ou privada, para o campo educacional; a revisão dos

currículos para ajustá-los às necessidades do país; a transformação do nível médio, de mera

preparação para o curso superior, em uma escola de formação profissional qualificada; a

realização de um ensino de menor duração e o maior aproveitamento do corpo docente.

Foi consenso do pensamento dominante no encontro que, à medida que a sociedade

brasileira se industrializasse, não seria mais possível manter a educação e a sociedade em

campos distintos. A educação deveria servir às necessidades da sociedade, principalmente, da

indústria, que se encarregaria de absorver os quadros por ela preparados.

Em 1968, a Confederação Nacional da Indústria, CNI, encaminhou uma série de

sugestões ao Grupo de Trabalho da Reforma Universitária (GTRU), que demonstrou sua

intenção de atuar de forma mais efetiva em favor da integração universidade-indústria. Essa

integração possuía seu próprio interesse, que era o de promover estágio de estudantes em

empresas, colaborar em pesquisa de mão-de-obra, tanto com o objetivo de acompanhar a

demanda de pessoal de nível superior, como o de informar às universidades sobre as

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tendências, a curto e longo prazo. Essas atividades serviriam também de elo entre a demanda

das indústrias e a oferta das universidades.

No entanto, a despeito do caráter autoritário do processo que precedeu a reforma de

1968, as mudanças instituídas na universidade logo começaram a apresentar resultados. Ainda

assim, continuou frágil o vínculo universidade-empresa, pois “no Brasil dever-se-ia orientar a

criação e expansão de centros de informação em articulação com as universidades, úteis tanto

às empresas e aos governos quanto aos pesquisadores e educadores” (LOPES apud IPES,

1968, p. 126).

E foi assim que, em 29 de janeiro de 1969, surgiu, por iniciativa da CNI, o Instituto

Euvaldo Lodi (IEL). Idealizadora do SENAI e do SESI, voltados respectivamente para o

aperfeiçoamento da mão-de-obra e a melhoria das condições de vida dos trabalhadores da

indústria. A CNI enfrentava um desafio a mais, o de promover a integração universidade-

empresa.

O estrondoso crescimento da indústria nacional, durante os trinta anos que precederam

à criação do IEL, permitiu à CNI lançar-se, de forma autônoma, em mais um arrojado projeto.

O IEL, apesar de estar sem o respaldo da legislação federal, nasceu independente e livre do

poder estatal.

Tempos novos surgiram, marcados por novas tendências, entre as quais a ênfase na

livre iniciativa e do progressivo afastamento do controle do Estado sobre os setores

produtivos.

Empenhados em aliar a eficiência empresarial ao conhecimento acadêmico, os

industriais brasileiros, reunidos em torno de sua confederação, buscaram aproximar os

estudantes das unidades produtivas, na tentativa de promover o aprimoramento da indústria e

a formação da futura elite dirigente do país.

Com essa nova entidade, a CNI ganhou um espaço voltado para a formação dos novos

perfis profissionais requeridos pela indústria e pelo mercado. Percebeu-se que, entre os

empresários tradicionais e os trabalhadores que operavam as máquinas, surgia a demanda por

técnicos treinados para pensar o funcionamento das empresas e aptos para as funções de

direção e gerenciamento.

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Para o cumprimento de sua missão, o IEL deu início à implantação dos núcleos

regionais que, juntamente com o Núcleo Central sediado no Rio de Janeiro, passaram a

integrar a estrutura organizacional descentralizada da entidade. Em menos de um ano, já

haviam 17 núcleos regionais, distribuídos por todas as regiões do Brasil, que funcionavam

vinculados às federações das indústrias. O período compreendido entre 1969 e 1986 foi

entendido pelo próprio instituto como “período pioneiro”, ficando na prática, restrito às

atividades de estágio. O IEL, em seus primórdios, empreendeu dois programas de ação:

Treinamento Profissional e Promoção de Pesquisa e Intercâmbio.

Em 1971, foi aprovada a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que foi chamada

pelo então ministro da educação, Jarbas Passarinho, de “A revolução pela educação”. Ela

reformulou os ensinos de 1º e 2º graus e representou uma esperança para a solução do

problema do ensino profissionalizante, pois tornou obrigatória a oferta de habilitação

profissional no 2º grau, de acordo com as necessidades do mercado local e regional. Assim, a

educação profissional deixou de ser limitada às instituições especializadas. A

responsabilidade da oferta ficou difusa e recaiu também sobre os sistemas de ensino público

estaduais. Ficou evidente que a nova LDB possuía um objetivo único, o de absorver a força de

trabalho ociosa, contribuindo tanto para regular o mercado de trabalho como para conter a

demanda pelo acesso à educação de nível superior.

As habilitações profissionais poderão ser realizadas em regime de cooperação com

as empresas. [...] O estágio não acarreta para as empresas nenhum vínculo de

emprego, mesmo que se remunere o aluno estagiário, e suas obrigações serão apenas

as especificadas no convênio feito com o estabelecimento (artigo 6º da Lei

5.692/71).

Outro marco dessa nova LDB foi a desativação dos ginásios industriais, criados pela

lei n° 4.024/61, que deram lugar as Escolas Técnicas Federais. Nesse contexto, surgiram os

cursos integrados que, realizados em parceria com o Ministério da Educação, tinham como

objetivo o treinamento de estudantes dos últimos períodos letivos. Apesar desses esforços e

dos exemplos bem-sucedidos de outros países, a integração universidade-indústria no Brasil

ainda tardaria a se consolidar. Além de um desenvolvimento industrial mais tardio, outros

fatores contribuíram para dificultar essa relação no Brasil. Entre eles estão, o modelo de

industrialização brasileira, baseado na importação de tecnologia; e a instabilidade política que,

somada a inadequação dos mecanismos institucionais, não foi capaz de promover o estímulo e

a mediação das relações entre universidades e empresas.

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Somente em 1972, o Ministério do Trabalho estabeleceu o marco da integralização do

estágio supervisionado nos currículos escolares. Esta matéria foi regulamentada

posteriormente por lei federal:

Os estágios devem propiciar a complementação do ensino e da aprendizagem a

serem planejados, executados, acompanhados e avaliados em conformidade com os

currículos, programas e calendários escolares, a fim de se constituírem em

instrumentos de integração, em termos de treinamento prático, aperfeiçoamento

técnico, cultural, científico e relacionamento humano (artigo 1º da Lei 6.494, de 7 de

dezembro de 1977).

No Brasil de então, a política econômica chamava atenção, a inflação era baixa e o

crescimento econômico recorde. Houve uma significativa multiplicação do número de vagas

no ensino superior, distribuídas entre as instituições públicas e as faculdades privadas. O país

viveu os anos do chamado “milagre econômico”, pois o emprego estava em alta. Os operários

mais especializados conseguiam obter melhores ganhos e se beneficiar deste crescimento

econômico.

Em 1974, o IEL também passou por dificuldades financeiras, que o levaram a buscar

parcerias para a obtenção de recursos financeiros de órgãos públicos e privados. Passou a

oferecer cursos e a prestar serviços de pesquisa, realizando atividades conjuntas com SENAI,

SESI e Federações de Indústria, para sanar seus problemas de receita.

Os estágios continuavam dando excelentes resultados. Através deles abriam-se

oportunidades para os estudantes adquirirem especialização e contatos de trabalho, que

possibilitaram a renovação dos quadros técnicos das empresas. Desta forma, o estágio

supervisionado curricular adquiriu maior importância, uma vez que através dele o estudante-

estagiário teria melhores chances de adquirir formação teórica e prática mais sólida. Apesar

da longa espera de cinco anos, o Decreto nº. 87.497, de 18 de agosto de 1982, finalmente

complementou a Lei nº. 6.494 de 1977:

Considera-se estágio curricular, as atividades de aprendizagem social, profissional e

cultural, proporcionadas ao estudante pela participação em situações reais de vida e

trabalho [...] sendo realizada na comunidade em geral ou junto a pessoas jurídicas de

direito público ou privado, sob a responsabilidade e coordenação da instituição de

ensino.

No ano de 1988, foi entregue à nação brasileira a sua sétima Carta Magna, conhecida

como Constituição Cidadã, que restaurou a democracia no país. No fim deste mesmo ano,

como resultado dos intensos debates em torno das mudanças de rumos que deveriam ocorrer

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no ensino de 2º grau e na educação profissional no Brasil, foi apresentado ao Congresso

Nacional um novo projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação, e que teve como base o

artigo 205 da Constituição Federal:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e

incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da

pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

A década de 80 terminou com intensas transformações que prenunciavam uma nova

era. Sopravam ventos fortes da globalização, apresentando um panorama de novidades e

incertezas. A educação despontou como fator primordial para o desenvolvimento econômico.

O conhecimento passou a ser visto como possibilidade de adaptação às mudanças do mercado

e das tecnologias, tornando-se função direta da detenção dos saberes. Nesse momento, a

inovação implicava na produção de um novo tipo de conhecimento – o “conhecimento útil”,

que conduzisse a resultados concretos e que, uma vez aplicado, gerasse riquezas para o país.

O século XX, que viveu a segunda Revolução Industrial, e que havia passado pela

produção em série e pelo contínuo aperfeiçoamento dos processos produtivos, ia deixando

para trás a “revolução da produtividade” para caminhar em direção à “revolução gerencial”

(DRUCKER, 1999, p. 11).

Essa nova condição impunha grandes desafios para a articulação entre o saber e o

fazer, ou seja, entre a universidade e a indústria. Assim, em dezembro de 1996, foi aprovada a

nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº. 9.394, que fez referência à educação

profissional com um capítulo específico.

O ensino médio, antigo 2º grau, foi tratado pela LDB como uma etapa de consolidação

e aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental; de aprimoramento

do educando como pessoa humana; de preparação básica para o trabalho, a cidadania, o

contínuo aprender e o exercício de profissões. Já a educação profissional e tecnológica ficou

integrada “[...] aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho,

da ciência e da tecnologia” (Art. 39 da Lei nº. 11.741, de 16 de julho de 2008).

A regulamentação dos dispositivos da LDB definiu que a educação profissional de

nível tecnológico seria correspondente a cursos de nível superior na área tecnológica,

destinados aos egressos do ensino médio e técnico.

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A estrutura da educação profissional passou então a ser constituída pelos níveis: básico

- destinado à qualificação e reprofissionalização de trabalhadores; técnico - voltado para

habilitação profissional de alunos do ensino médio; e tecnológico - correspondente a cursos

superiores na área tecnológica, para alunos oriundos do ensino médio e técnico.

Na esfera federal, foi criado em 1997, pelo Ministério da Educação (MEC), em

parceria com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o Programa de Expansão da

Educação Profissional (PROEP), com o objetivo de desenvolver ações integradoras entre

ensino e trabalho, e entre ciência e tecnologia. Tratava-se de um novo modelo de educação

profissional que proporcionasse diversidade de oferta e definição de cursos, adequados às

exigências das novas tecnologias e do mundo do trabalho, ampliando assim, as vagas de

trabalho.

Nesse atual contexto, o trabalho em si pode e é continuamente redefinido. Não

existem mais pessoas amarradas a determinadas funções e/ou tarefas.

A sociedade, hoje, não é mais uma sociedade do trabalho. Isso quer dizer que o

trabalho não só deixou de ser o cimento social, o princípio fundante da

sociabilidade, como também a principal fonte de produção de riqueza social

(FURTADO, 2001, p. 41).

Deste ponto de vista, a sociedade atual não seria mais unicamente capitalista, não

viveríamos mais sob um sistema de produção de mercadorias, de valores de uso e troca, mas

sim como uma sociedade de serviços. Essa sociedade não é mais regida pela lógica do capital,

mas pela busca da alteridade dos sujeitos sociais, pela vigência de relações de civilidade, de

cidadania.

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3 CURRÍCULO POR COMPETÊNCIAS

Sob inspiração da Teoria do Capital Humano, a educação ainda procura atender aos

princípios da racionalidade e eficiência do mercado produtivo, com um currículo de viés

tecnicista, incapaz de revolucionar a educação de ensino médio no Brasil. A formação para o

trabalho em nível médio ainda está atrelada à lógica do posto de trabalho e da simples

qualificação do trabalhador.

Apesar disso, percebe-se a necessidade, cada vez maior, de romper com esse

paradigma. Precisamente, devido à explosão tecnológica e ao rápido avanço do conhecimento,

que geram um mercado de trabalho extremamente competitivo e exigente. Neste contexto,

surge a alternativa do modelo de ensino por competência, para superar as práticas tecnicistas

tradicionais e ampliar os eixos de formação profissional para além da centralidade dos

conteúdos.

Conforme a legislação vigente, é direito do cidadão o acesso à profissionalização.

Além disso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB – Lei nº. 9.394/96) reafirma esse

preceito constitucional situando a educação profissional na confluência de dois direitos

fundamentais do cidadão: o direito à educação e o direito ao trabalho.

Com o objetivo de conduzir ao desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva, a

LDB entende a educação profissional como “integrada às diferentes formas de educação, ao

trabalho, à ciência e à tecnologia” (LEI nº. 9.394/96, artigo 39).

Essas demandas, em relação à nova educação profissional, apresentam um certo grau

de complexidade, já que elas pressupõem pesquisa, planejamento, avaliação de métodos, de

processos, e de modalidades de programação para o desenvolvimento de competências

profissionais. É muito importante que as escolas de educação profissional preparem pessoas

que tenham aprendido a construir, autonomamente, novas competências para o trabalho e

sejam capazes de articular e incorporar as diferentes áreas do saber.

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3.1 A Noção de Competência

No que se refere ao mundo do trabalho, a noção de competência traz consigo a idéia

de um enriquecimento nesse sentido, justamente pelo fato de dar importância à autonomia, à

participação, à diminuição do trabalho repetitivo e à valorização do mesmo, em grupo.

A noção de competência tem sido colocada como a alternativa mais adequada à noção

de qualificação, mais sintonizada com as novas necessidades do mercado de trabalho. Ela não

se instalou, no entanto, apenas na lógica empresarial. Esse modelo chegou também a todos os

segmentos da cultura e aos modelos de educação de diferentes estados nacionais.

Convém ressaltar que, não existe consenso acerca do conceito de competência.

Embora ele tenha se tornado muito comum, principalmente nos debates sobre o ensino e a

formação profissional. Pretende-se, também, melhorar a qualidade da formação com o intuito

de torná-la mais relevante para o mercado de trabalho.

É nesse contexto geral que o conceito de competência foi introduzido em diversos

países, o que também explica a multiplicidade de significados atribuídos à

competência, dado que seu emprego depende diretamente da definição dos

principais problemas do sistema de formação e aprendizagem profissional de cada

país e também de quem define os problemas. 1

Em meio a essas transformações, estudos sociológicos e pedagógicos recuperam o

debate sobre a qualificação, ao mesmo tempo em que se testemunha a emergência da noção

de competência atendendo a, pelo menos, dois propósitos: o de reordenar conceitualmente a

compreensão da relação trabalho/educação, desviando o foco dos empregos, das ocupações e

das tarefas para o trabalhador, em suas implicações subjetivas com o trabalho; e o de

institucionalizar novas formas de educar/formar os trabalhadores e gerir internamente as

organizações e o mercado de trabalho em geral, sob novos códigos profissionais.

A noção de competência surgiu para designar os novos requisitos exigidos pelas

recentes transformações nos setores produtivos, uma vez que o valor fundamental da

sociedade passou a ser o conhecimento, intimamente relacionado com a experiência. E a

noção de competência, apesar de imprecisa e fluida, converge para o significado de

1 Vide “Formação Profissional. Revista Européia”, As competências: o conceito e a realidade, n.1, 1994, p.06.

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performance, de desempenho (verificável) em situação de trabalho, independentemente da

forma mediante a qual o trabalhador adquire conhecimentos.

Num sentido mais amplo, as mudanças econômicas levaram às mudanças

significativas do perfil do trabalhador. Transformações exigidas pela modernização

tecnológica e pelas novas formas de gestão esperam dos trabalhadores, um maior

desenvolvimento das habilidades intelectuais, em detrimento das habilidades manuais. Além

de novas competências, anteriormente negligenciadas nas relações de trabalho.

Isso ocasionou também a reavaliação do conceito de qualificação, incorporando a idéia

da constante mudança na forma de fluxo de conhecimentos e habilidades no lugar da idéia de

estoque, que obscurece o conceito enquanto uma relação social. Desta forma, fica sem sentido

a formação profissional pautada exclusivamente no ensino de tarefas a partir de disciplinas

fragmentadas.

Assimilando a idéia da mobilidade constante, tanto o conceito de competência quanto

o de qualificação, constituem um processo situado num contexto histórico, determinado sob a

vigência da correlação das forças sociais. Ao contrário da qualificação fundada no

conhecimento e em sua relação com a execução do trabalho, e na negociação entre patrões e

empregados, as competências, podem ser definidas muito mais em função de critérios ligados

ao posto de trabalho, do que em termos de conhecimentos.

Por isso mesmo, tendem a substituir os processos coletivos de negociação pela

crescente individualização na apreciação dos assalariados e pela flexibilização das relações de

trabalho. Vale destacar que o conceito de qualificação consolidou-se com o modelo da teoria

clássica ou científica de gestão da produção, em torno da qual se inscreveram tanto os padrões

de formação, quanto os de emprego, carreira e remuneração.

Isso significa que a qualificação está relacionada ao conteúdo real do trabalho em que

se inscrevem, não somente os conceitos, mas o conjunto de saberes postos em jogo quando da

realização do trabalho. Neste sentido, testemunhamos um movimento generalizado em

diversos países do mundo, de reformulação de seus sistemas de educação profissional. O

redimensionamento pelo qual passa o conceito de qualificação traz implicações sobre os

parâmetros de formação profissional, de acesso ao emprego, de classificação e de

remuneração.

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Espera-se, por um lado, proporcionar aos jovens passagens menos traumáticas para o

mundo do trabalho e, juntamente com os adultos, construir alternativas que supostamente

minimizariam o risco da exclusão social. Nesse sentido está a razão de a competência vir

associada às noções de empregabilidade e de laborabilidade.

Com a mudança no sistema de produção surgem, no universo do trabalho, novos

profissionais que geram a necessidade de reformulações no campo da educação e da formação

profissional. Já desde os anos setenta, desenvolvem-se esforços para identificar competências

que permitam aos trabalhadores se adaptarem às mudanças frequentes do contexto de

trabalho.

As mudanças ocorridas no cenário político-econômico a partir dos anos oitenta

acarretaram modificações na educação em geral e, também na formação profissional. Nesta

década difundiram-se críticas ao modelo de formação até então vigente, na medida em que foi

detectada a modernização do setor produtivo.

Para o novo modo de produção e acumulação flexível, com a organização e gestão das

empresas, era preciso um novo trabalhador. Não bastava mais aquele que desempenhava

funções repetitivas, mecânicas e sem iniciativa. Ou o que exercia a atividade mais simples.

Hoje, além de “fazer”, deve ser capaz de pensar, dominar conhecimentos gerais relacionados

ou não ao seu trabalho, ser capaz de interpretar gráficos e tabelas, ter conhecimentos na área

de informática, capacidade de decisão, iniciativa e ser capaz de trabalhar em equipe.

Conforme Kober (2004), além da educação formal, ou seja, da qualificação

profissional, é necessária toda uma gama de habilidades relacionadas a novas tecnologias,

bem como atitudes e comportamentos. É nessa nova lógica que surge a noção de competência.

A noção de competência tem sido colocada como uma alternativa mais adequada à

noção de qualificação, mais sintonizada com as novas necessidades do mercado de trabalho.

Estas, introduzidas pelo progresso técnico e pelas novas formas de gestão, ligadas não mais ao

modelo taylorista de produção, mas sim, ao modelo toyotista, baseado na organização

japonesa do trabalho.

Entretanto, a noção de competência não se instalou apenas na lógica empresarial. Esse

modelo chegou também a todos os segmentos da cultura e aos modelos de educação que,

conforme Delors (1998), não respondem mais às exigências expressas pelo avanço

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tecnológico, ao colocar novas demandas determinadas por processos de produção

automatizados, em que os “técnicos” agora têm de lidar com máquinas dotadas de

inteligência. Por este motivo o compromisso com a educação permanente é um fator que deve

acompanhar o indivíduo por toda vida.

Com a substituição da mão-de-obra pelas máquinas, o trabalho humano torna-se cada

vez mais imaterial, de caráter cognitivo, com ênfase em atividades de concepção,

planejamento, execução, controle e avaliação. Assim, o trabalho passa da solicitação do corpo

à solicitação do cérebro. E o desenvolvimento do trabalhador torna-se a chave para definir a

competência, visto que inclui os conhecimentos, as habilidades, as atitudes e os valores que

uma pessoa deve combinar e colocar em prática, em diferentes contextos profissionais.

Não basta o trabalhador saber algo e saber aplicar o que conhece, deve também saber

comportar-se, conhecer para transformar-se e aperfeiçoar a sua atividade. Vai além da

mobilização do conhecimento para a resolução prática, imediata de situações específicas no

processo de trabalho, diz respeito a um tipo de saber: o saber-ser – compreendido como a

implicação total do sujeito com o seu trabalho. Mais que isso, diz respeito à mobilização de

sua subjetividade.

Neste contexto, o termo competência é cada vez mais significativo e debatido nas

esferas educacionais e empresariais. Uma vez que seu entendimento ainda não está

suficientemente claro, é necessário voltar continuamente aos teóricos que o formularam e

verificar as possibilidades mais eficientes de sua aplicação prática. O termo competência está

diretamente relacionado aos quatro pilares da educação citados por Delors, que são: aprender

a conhecer; aprender a fazer; aprender a conviver e aprender a ser.

Machado (1998, p. 83) indica a centralidade que o saber-ser do indivíduo passa a ter

nesse momento: “O saber-ser do indivíduo – sua subjetividade – é a base sobre a qual se

apoiariam os demais saberes: o saber-aprender, o saber-fazer, o saber-conviver.” Demonstra-

se assim, que quando o que se busca é o desenvolvimento das potencialidades humanas. Na

construção da identidade pessoal e da cidadania é natural que se procurem instrumentos de

realização dessa busca.

A competência é a capacidade que as pessoas desenvolvem de articular e relacionar os

diferentes saberes, conhecimentos, atitudes e valores, construídos por intermédio de sua

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vivência e por meio dos conhecimentos construídos na escola. Ainda mais, se “competências

são formadas por habilidades, conhecimentos e atitudes, requer saber tomar decisão,

mobilizar recursos e ativar esquemas (revendo ou atualizando hábitos) em um complexo de

complexidade” (PERRENOUD, 1999, p. 8).

Para Kuenzer (2003), a noção de competência é enfatizada ao analisar uma

possibilidade de vínculo entre tal noção e o conceito de práxis. Em virtude da articulação do

conhecimento teórico desenvolvido pelo trabalhador e diante da complexidade do trabalho e

da sua capacidade de agir em situações previstas e não previstas. Vista sob esta ótica, a

competência implica na modificação consciente da natureza, por intervenção direta do

homem, em busca de resultados significativos dentro do mundo do trabalho.

Aranha, por sua vez, comenta que,

Se Gramsci [...] chamava a atenção para o fato de que uma educação mais

democrática, vinculada a uma escola unitária, deveria se pautar por um ensino e um

conhecimento desinteressados, no sentido de não se restringirem a uma

aplicabilidade imediata e açambarcam o patrimônio cultural e científico da

humanidade, o Modelo de Competências opera no sentido inverso. O conhecimento

a ser valorizado, nesse caso, é aquele imediatamente prático; é o pragmatismo

interessado elevado à quintessência (ARANHA, 2000, p. 47).

Nota-se aqui que a competência é vista como fator limitante do conhecimento,

utilizando-o unicamente para operacionalizar o homem para o trabalho.

O que se espera da competência hoje é algo muito mais abrangente. Pretende-se que

ela seja uma ação cognitiva, afetiva, social, que se torna visível em práticas e ações que se

exercem sobre o conhecimento, sobre o outro e sobre a realidade, operacionalizando

conhecimentos, habilidades, atitudes e valores.

As novas concepções demandadas pela moderna gestão empresarial, as necessidades

criadas pela explosão tecnológica, o novo enfoque dado ao conhecimento que hoje é

considerado um instrumento gerador de competitividades e produtividade organizacional, têm

alterado de forma significativa o contexto do processo de trabalho, repercutindo diretamente

no mundo da educação, especialmente na educação profissional.

Hoje, mais do que nunca, é preciso desenvolver a consciência de que a educação

profissional tem início nos primeiros anos escolares. Uma sólida base de conhecimentos

gerais, de valores e atitudes é a chave para a construção da identidade pessoal, para a

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formação profissional e para escolhas futuras, acertadas no complexo e dinâmico universo das

profissões.

Muitos autores têm abordado o conceito de competência relacionando-a a capacidade

do indivíduo para resolver situações-problema pela mobilização de conhecimentos,

habilidades e atitudes. Esse mesmo conceito também está relacionado ao comportamento

frente às pessoas, à sua concentração, seu respeito, sua disciplina, etc.

As competências parecem possibilitar, na atualidade, melhor articulação entre o

trabalho e a educação, principalmente porque as empresas também modificaram as formas de

definição e descrição de cargos na direção do enfoque de competências e no sentido de

centrarem a atenção nos resultados e não na descrição de tarefas.

Ao consultar o dicionário da Língua Espanhola da Academia Real, a primeira acepção

de competência se associa a disputa e oposição, mas nas citações posteriores está definida

como aptidão, idoneidade, correspondendo competente a proporcionado, oportuno, adequado.

O dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (século XXI) define a palavra competência

como qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, fazer determinada

coisa; capacidade, habilidade, aptidão, idoneidade.

Uma competência pode também receber diferentes nomes, tais como identificação,

definição ou construção de competências. A competência está relacionada com uma

combinação integrada de conhecimentos, habilidades e atitudes que conduzem a um

desempenho adequado e oportuno em diversos contextos.

A capacidade de adaptação do ser humano deve fazer parte do seu desenvolvimento

integral para que possibilite às pessoas a utilização do conhecimento adquirido. Representa

desta forma, a base para o novo tipo de resultado que buscam o trabalho e a educação.

Na educação profissional, o modelo de competências surge com o objetivo de preparar

profissionais para enfrentar as exigências e desafios do mundo do trabalho, com destaque para

a autonomia, a flexibilidade, a criatividade e a adaptabilidade do educando.

A Resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE/CED nº04/99) define, em seu

artigo 6º, competência como sendo “a capacidade de articular, mobilizar e colocar em ação

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valores, conhecimentos e habilidades necessários para o desempenho eficiente e eficaz de

atividades requeridas pela natureza do trabalho”.

A formação por competência pressupõe romper com os paradigmas vigentes e

deslocar o foco da transmissão e acumulação do conhecimento para a aprendizagem do aluno.

Do conhecimento fragmentado por disciplinas para uma visão interdisciplinar,

contextualizada e dinâmica.

O termo competência é definido por Perrenoud (1999, p. 07) como “uma capacidade

de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas

sem limitar-se a eles”.

O desenvolvimento da competência pode se realizar por meio da experiência no

trabalho ou de um processo sistematizado chamado educação baseada em competências, cuja

característica principal consiste na elaboração curricular baseada no referencial de

competências.

3.2 A Metodologia por Competências no SENAI

Sintonizado com as mudanças no contexto do trabalho e em consonância com a

Legislação Educacional vigente que estabelece, entre outras, uma nova organização curricular

com foco no modelo baseado em competências, o SENAI Departamento Nacional, em

parceria com os diversos Departamentos Regionais, vem implementando ações que

contribuem efetivamente para a construção das competências requisitadas, visando a uma

atuação profissional, coerente com as imposições da contemporaneidade, através de uma

educação profissional vinculada às demandas do mundo do trabalho. Dentro desse contexto,

as competências constituem as formas e padrões de mobilização do conhecimento, das

habilidades e das atitudes, para uma resposta mais adequada diante de cada novo desafio.

O processo de mudança tecnológica na indústria lança novos desafios para as

instituições de educação profissional. A difusão de novos processos e técnicas de organização

de produção provoca profundas transformações no perfil de qualificações e na mão-de-obra

requerida pelo mercado de trabalho. Para cumprir com eficiência sua missão de principal

formador de recursos humanos para a indústria, o SENAI precisou encontrar formas

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consistentes de antecipar as mudanças nas áreas em que oferece cursos e serviços técnicos

regulares.

Afinal, a formação de um novo profissional pode demandar vários anos, desde o

planejamento, capacitação do corpo docente até a efetiva incorporação dos discentes no

mercado de trabalho. Nesta perspectiva de mudanças no contexto de trabalho, na legislação

educacional e buscando assegurar sua vinculação com as demandas do mundo produtivo, a

instituição SENAI, desenvolveu um modelo próprio de educação profissional baseado em

competência.

Ciente da importância do desafio e buscando basear seu planejamento nas melhores

técnicas e em novas tecnologias de formação profissional e avaliação, o Departamento

Nacional do SENAI firmou convênio com a Espanha, no final da década de 90, visando

desenvolver estudos sobre a metodologia com base em competência, apropriada aos seus

objetivos.

Vale destacar que, durante a busca de informações, Alemanha, Espanha e Inglaterra

ofertaram parceria para estudo da metodologia. Entretanto, após minucioso estudo, o SENAI

fechou convênio com a Espanha motivado pela facilidade do idioma e pelas características

culturais daquele país. Foi firmado então um acordo de cooperação técnica com a Agência

Espanhola de Cooperação Internacional – AECI, o qual teve seu término previsto para o final

do ano de 2000. Além disso, o projeto contou, desde a sua origem, com o apoio de uma

consultora espanhola, a especialista Helena Martin.

O Departamento Nacional do SENAI selecionou nove estados para a capacitação e

disseminação da nova metodologia – Metodologia de Formação e Certificação Profissional

concebida no âmbito do Projeto Estratégico Nacional de Certificação Profissional baseada em

Competências. Os estados privilegiados num primeiro momento foram: Distrito Federal,

Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina

e São Paulo.

De cada um desses estados foram designados cinco representantes, pelos seus

departamentos regionais, para receberem a capacitação da nova metodologia e posteriormente

disseminá-la em seus estados. O Rio Grande do Sul ficou assim representado: Paulo Fernando

Presser (Diretor de Educação e Tecnologia), Mary Elisabet Alvarenga de Jesus (Gerente da

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Unidade de Educação e Desenvolvimento Estratégico), Claiton Oliveira da Costa (Técnico em

Educação, na época, hoje Gerente da Unidade de Educação e Desenvolvimento Estratégico),

Fernando Schirmbeck (Técnico em Educação do Departamento Regional, na Unidade de

Negócios em Educação) e Renato Bernardi (Supervisor de Educação e Tecnologia do Centro

Tecnológico do Mobiliário de Bento Gonçalves/RS).

A capacitação ocorreu no Rio de Janeiro, em 1999, com o apoio da consultora

espanhola Helena Martin, perfazendo um total de 160 horas de capacitação, dividido em cinco

encontros presenciais. Os demais encontros ocorreram diretamente nos estados e/ou unidades

operacionais, com o intuito de se iniciar a aplicação dos exercícios pedagógicos apreendidos.

O processo de capacitação consistiu da discussão de conceitos, de reflexões e debates

sobre a construção do conhecimento, e da forma de aplicar esta metodologia. Um dos

participantes da capacitação pelo Rio Grande do Sul enfatizou, por diversas vezes, que a

assessora Martin frisou com grande insistência que o conteúdo deveria ser compreendido

como meio e não fim, e que a metodologia baseada em competências desenvolve

conhecimentos, habilidades e atitudes, o conhecido CHA. Portanto, a habilidade a ser

mediada pelos docentes deveria ser a intelectual e não a motora.

Os participantes da capacitação se depararam também com dificuldades, pois os

exercícios pedagógicos não evoluíam, ficando presos à visão tradicional cujo objetivo é a

transmissão de conteúdos e no qual a avaliação é feita através de notas de zero a cem,

dificultando o entendimento da nova metodologia. Esta opera de forma diferenciada, pois

busca um planejamento flexível, a interdisciplinaridade, o uso de conceitos explicativos como

forma de avaliação, entre outros itens.

Na etapa seguinte a da capacitação veio o desafio maior: o de colocar em prática o que

os profissionais haviam aprendido, ou seja, o departamento regional de cada estado

participante solicitou a aplicação desta nova metodologia, em forma de projeto piloto.

No Rio Grande do Sul, foi escolhido para o projeto piloto, o Centro Tecnológico do

Mobiliário SENAI/CETEMO, na cidade de Bento Gonçalves. Este Centro foi inaugurado em

1983, com sede própria, e é uma unidade do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial –

SENAI do Rio Grande do Sul, pertencente ao Sistema da Federação de Indústrias do Estado

do Rio Grande do Sul - FIERGS.

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A nova metodologia foi implantada no Curso Técnico em Design de Móveis, tendo

sido, para isso, criada a Escola de Educação Profissional Senai do Mobiliário, que iniciou

suas atividades em 2003.

Antes do início, propriamente dito, do curso, e após terem ocorrido diversos encontros

com os profissionais da escola, foram iniciadas reuniões com os maiores interessados nos

profissionais formados pelo SENAI, os empresários. Percebeu-se que havia a necessidade de

maior participação da sociedade para auxiliar na decisão sobre o que se queria deste

profissional quando saísse para o mercado de trabalho, ou seja, qual o perfil profissional

destes futuros alunos.

Tendo as informações fornecidas pelo grupo participante das discussões, os técnicos

do SENAI se reuniram para desenvolver o desenho curricular do curso de design. Após tê-lo

previamente rascunhado, ele foi apresentado novamente ao grupo que definiu o perfil

profissional para seus alunos. Com o passar do tempo e com o desenvolvimento da

documentação própria do SENAI, este grupo de discussão passou a ser chamado de Comitê

Técnico Setorial.

Após a aprovação do desenho curricular do futuro curso pelo Comitê Técnico Setorial,

ele foi encaminhado ao Conselho Estadual de Educação para aprovação, juntamente com os

demais documentos exigidos para abertura do curso. Desta forma, o projeto piloto da

metodologia baseada em competências teve início em 05 de maio de 2003, no Curso Técnico

em Design de Móveis.

3.3 A documentação própria do SENAI

Mas as atividades não cessaram por aí. Os representantes do departamento nacional

que participaram da capacitação sobre a metodologia ficaram com o compromisso de

desenvolver a documentação própria do SENAI para uso desta metodologia.

Conforme transcorriam as atividades dos projetos pilotos de todos os estados

participantes o departamento nacional iniciava o desafio do desenvolvimento da

documentação, a qual recebeu a denominação de “Certificação Profissional Baseada em

Competências”.

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A consultoria espanhola elaborou as versões preliminares dos seguintes documentos

metodológicos:

- Constituição dos Comitês Técnicos Setoriais;

- Metodologia para o levantamento de Perfis Profissionais Baseados em Competências;

- Metodologia para Elaboração de Desenhos Curriculares; e

- Metodologia para Avaliação e Certificação de Competências.

Findo o acordo de cooperação técnica e dada a impossibilidade de continuar atuando

conjuntamente com o SENAI, a consultoria espanhola deixou pendente a revisão de dez perfis

profissionais, com respectivos Desenhos Curriculares. Sem o apoio da consultoria espanhola,

através da especialista, o SENAI necessitou buscar apoio institucional externo de outra

consultoria com reconhecida qualificação e competência para auxiliar na conclusão das etapas

seguintes do projeto.

Ao participar de um evento realizado pelo CINTERFOR/OIT (Centro Interamericano

para el Desarrollo del Conocimiento en la Formación Profesional (OIT/Cinterfor) no Distrito

Federal, o departamento nacional do SENAI foi convidado a apresentar a Metodologia de

Formação e Certificação Profissional concebida no âmbito do Projeto Estratégico Nacional de

Certificação Profissional baseada em Competências. Neste evento foram identificados

interesses comuns às ações voltadas para o aspecto de competências.

Sinalizou-se, a partir daí, a possibilidade de aproximação entre as partes. O

CINTERFOR/OIT disponibilizou seu consultor, Fernando Vargas, para apoiar no

desdobramento das ações práticas do referido projeto.

Os documentos que constituem a metodologia baseada em competências, concebidos

no âmbito daquele projeto e que foram disponibilizados em 2004, são os seguintes:

Elaboração dos Comitês Técnicos Setoriais; Elaboração de Perfis Profissionais; Elaboração de

Desenho Curricular; Avaliação e Certificação de Competências; Glossário para o

Desenvolvimento e Avaliação de Competências; Formação e Certificação Profissional. Em

2006 foi ainda acrescido o documento: Norteador da Prática Pedagógica - este totalmente

destinado à ação docente.

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Os documentos citados serão apresentados individualmente a seguir, identificando

seus objetivos, sua função e composição, quando houver.

Elaboração dos Comitês Técnicos Setoriais (Anexo A)

O Comitê Técnico Setorial é peça fundamental do modelo de educação profissional

com base em competências. Ele é um “fórum técnico-consultivo, destinado a contribuir para a

identificação e atualização permanente das competências profissionais dos trabalhadores,

responsabilizando-se particularmente pela elaboração dos perfis profissionais correspondentes

às qualificações demandadas pelo mercado de trabalho, dentro dos segmentos industriais

atendidos pelo SENAI” (SENAI/DN, 2004, p. 29).

Embasado na análise do mercado de trabalho e das demandas atuais a médio e longo

prazos, o Comitê Técnico Setorial estabelece uma aproximação sobre o que se espera que um

trabalhador realize no campo profissional da qualificação em estudo. Também obtém

informações relevantes sobre os conteúdos de trabalho e sobre os fatores de inovação que

tenham determinado mudanças substantivas nas atividades, processos, métodos e técnicas.

O Comitê deve ser composto de:

- Especialistas do SENAI:

O gestor da Unidade Operacional;

Um especialista da área tecnológica;

Dois especialistas em educação profissional, sendo um do Departamento Regional e

outro da Unidade Operacional,

- Especialistas da área tecnológica em estudo – das empresas, sindicatos e demais

instituições:

Três profissionais, no mínimo, da área técnica de empresas do setor tecnológico em

estudo (preferencialmente com perfil técnico de gestão da produção, compreendendo a

diversidade existente no mercado do trabalho, principalmente no que se refere ao porte

das referidas empresas – pequenas, médias e grandes);

Um técnico indicado pelo sindicato patronal;

Um técnico indicado pelo sindicato dos trabalhadores;

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Um técnico indicado por associação de referência técnica do segmento (quando

houver);

Um especialista (no setor tecnológico em estudo) do meio acadêmico; e

Um técnico indicado por órgão do poder público ligado às áreas de Trabalho,

Indústria, Educação ou Ciência e Tecnologia (quando houver).

O processo de constituição do comitê inicia-se com a realização de contatos com

representantes das empresas dos vários setores que dele farão parte, de acordo com os

critérios de representatividade, previamente definidos.

A coordenação do comitê deve ser exercida pelo gestor da Unidade Operacional (ou

por representante por ele designado) e terá como atribuições:

negociar com as instituições (empresas, entidades patronais e sindicais, universidades

etc.) sua participação no comitê e a indicação de participantes;

promover, convocar e coordenar as reuniões;

sugerir, em conjunto com os membros do comitê, dinâmicas adequadas às reuniões;

apoiar as equipes técnico-pedagógicas na construção do desenho curricular de ofertas

formativas de educação profissional, com base nos perfis profissionais elaborados

pelo comitê.

-Aos especialistas do SENAI cabe:

preparar as equipes do SENAI para a instalação do comitê;

assumir a coordenação metodológica do comitê;

assumir a coordenação pedagógica do comitê; e

acompanhar o trabalho do comitê, visando a construção do desenho curricular das

ofertas formativas de educação profissional, com base nos perfis profissionais

elaborados, em parceria, como especialistas da unidade operacional.

Elaboração de Perfis Profissionais (Anexo B)

Este documento refere-se à elaboração de perfis correspondentes a qualificações

profissionais. O perfil profissional é a descrição do que idealmente é necessário saber, no

campo profissional, correspondente a determinada qualificação. É o “marco de referência, o

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ideal para o desenvolvimento profissional que, confrontado ao desempenho real das pessoas,

indica se elas são ou não competentes, se estão ou não qualificadas para atuar no âmbito do

trabalho” (SENAI/DN, 2004, p. 11).

A qualificação profissional é “um conjunto estruturado de competências reconhecidas

no mercado de trabalho, as quais podem ter sido adquiridas mediante formação, experiência

profissional ou a combinação de ambas” (SENAI/DN, 2004, p. 11).

Toda qualificação profissional deve ajustar-se às seguintes características:

corresponder a uma construção extraída do mundo do trabalho;

ser nomeada com linguagem clara, com significado para o mundo do trabalho e

reconhecida pela maioria dos empregadores e trabalhadores do setor;

possuir um campo profissional de referência suficiente amplo para permitir adequadas

oportunidades de trabalho à pessoa; e

guardar equilíbrio entre polivalência e especialização, de forma que se possa

compatibilizar a mobilidade profissional, a adaptação a diferentes postos e a papéis

emergentes com uma atuação de qualidade do trabalhador nas situações de trabalho

Elaboração do Desenho Curricular (Anexo C)

A metodologia para elaboração do desenho curricular define-se a partir da necessidade

do desenvolvimento de competências, considerando a construção de uma visão ampla do

processo produtivo e dos princípios técnicos e científicos que o sustentam em cada área

profissional.

O desenho curricular consiste na concepção da oferta formativa que deve propiciar o

desenvolvimento das competências constitutivas do perfil profissional estabelecido pelo

comitê. Trata-se de uma “decodificação de informações do mundo do trabalho para o mundo

da educação, traduzindo-se pedagogicamente as competências do perfil profissional”

(SENAI/DN, 2004, p. 13).

O desenho curricular compreende:

a organização curricular, preferencialmente modularizada;

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a proposta de desenvolvimento metodológico para o curso;

as unidades curriculares que integrarão a oferta formativa, com seus respectivos

objetivo geral, conteúdos formativos e carga horária;

a caracterização dos ambientes pedagógicos: equipamentos, máquinas, ferramentas,

instrumentos e materiais a serem utilizados.

Ele deve ser elaborado pela equipe técnico-pedagógica do departamento regional,

juntamente com especialistas da unidade operacional. A organização modularizada está de

acordo com o Decreto Federal nº. 5.154/04, que regulamenta a educação profissional e indica

que os currículos podem ser estruturados e organizados em etapas com terminalidade, para

efeito de qualificação profissional. Além disso, nas etapas da educação profissional, ele

considera associadas ao grau de escolaridade, as seguintes possibilidades:

I – formação inicial e continuada de trabalhadores;

II – educação profissional técnica de nível médio; e

III – educação profissional tecnológica de graduação e de pós-graduação.

Avaliação e Certificação de Competências (Anexo D)

Nesta fase, tão importante quanto as demais, coloca-se a relevante tarefa de avaliar.

“Avaliação de competências é um processo de coleta de evidências sobre o

desempenho profissional de uma pessoa, com o propósito de formar um juízo sobre sua

competência” (SENAI/DN, 2004, p. 15).

Os pressupostos para os processos de avaliação, reconhecimento e certificação se

alicerçam na legislação educacional através da LDB nº. 9394/96, que estabelece as diretrizes e

bases da educação profissional no seu artigo 41. A avaliação de competências compreende o

aproveitamento de conhecimentos e de experiências anteriores, desde que diretamente

relacionados com o perfil profissional estabelecido para a qualificação desejada.

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Glossário para o Desenvolvimento e Avaliação de Competências: Formação e

Certificação Profissional (Anexo E)

Este documento “retrata os conhecimentos adquiridos com a utilização de bibliografias

didático-pedagógicas institucionais e externas, e experiências internacionais de formação e

certificação profissional na abordagem de competências” (SENAI/DN 2004, p. 07). Nele, são

destacadas, em ordem alfabética, cerca de 100 palavras ou expressões inseridas nos

documentos metodológicos.

Norteador da Prática Pedagógica – Formação com Base em Competências (Anexo F)

O Norteador da Prática Pedagógica é um dos documentos da série, utilizado pelo

SENAI, com base em competências. Ele assegura a aplicabilidade dos pressupostos teóricos, à

equipe pedagógica, levando-a a repensar o processo educacional diante dos novos desafios

impostos pela sociedade, pelas transformações tecnológicas e reforçando a autonomia

docente.

Apresentados os documentos, e para um melhor entendimento das fases em que as

informações acima mencionadas acontecem, segue abaixo um fluxograma da visão sistêmica:

Fig. 1 – Visão Sistêmica da Abordagem por Competência. Fonte: SENAI/RS (2004).

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A partir da ilustração acima, pode-se compreender melhor a proposta da metodologia

baseada em competências, numa visão sistêmica e abrangente, considerando ainda que elas

foram construídas sob o seguinte enfoque:

- Sociedade: obtêm-se informações com referência na sociedade, pois é através dela que

identificamos as mudanças tecnológicas e organizacionais (tendências do mercado de

trabalho);

- Comitê Técnico Setorial: esta participação é representativa; o Comitê Técnico Setorial –

CTS é responsável por estabelecer o perfil profissional;

- Perfil Profissional: é através do comitê que se estabelece o que é ideal/real saber no campo

profissional de determinada qualificação;

- Desenho Curricular: fase onde ocorre a organização curricular modularizada e sua proposta

metodológica para o curso;

- Processo de Ensino e Aprendizagem: fase onde acontece a aprendizagem e avaliação do

perfil profissional e do desenho curricular. Deste processo resulta o egresso do curso, que

retorna a sociedade.

Hoje, a prática docente do SENAI é norteada por documentação própria, para a

organização e desenvolvimento de cursos de educação profissional na metodologia baseada

em competências. Os cursos estão sintonizados com o contexto do mundo do trabalho e da

legislação educacional, e apoiados pedagogicamente e metodologicamente por Philippe

Perrenoud, em busca de capacitar pessoas para articular os saberes: saber aprender, saber ser,

saber fazer e saber conviver.

No contexto de cada plano de curso técnico, estão descritas as competências

profissionais e referenciados os fundamentos metodológicos a serem adotados na ação

pedagógica. Junto a isso, faz-se necessário conceber e adotar instrumentos que possibilitem os

registros pertinentes e atendam a esta proposta diferenciada. Eles devem assegurar a coerência

na transposição dos referenciais teóricos para a prática, contemplando o planejamento dos

docentes, o acompanhamento da aprendizagem do aluno e os registros de avaliação.

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Para tanto, os docentes devem utilizar o seguinte conjunto de instrumentos de registro

nos cursos estruturados pela metodologia baseada em competências:

Anexo I – Organização Interna das Unidades Curriculares (Anexo G);

Anexo IIA – Situação de Aprendizagem (Anexo H);

Anexo IIB – Ficha de Acompanhamento da Aprendizagem do Aluno (Anexo I);

Anexo IIC – Plano para Desenvolvimento de Competências (Anexo J);

Anexo III – Acompanhamento do Processo de Avaliação (Anexo K); e

Anexo IV – Avaliação Final no Módulo (Anexo L).

O conjunto de instrumentos de registro mencionados acima encontram-se nos

Apêndices, em tamanho real e possuem identificação própria conforme informações contidas

nos parênteses.

Segue abaixo o detalhamento de cada um dos instrumentos:

Anexo I – Organização interna da unidade curricular (Anexo G)

Este instrumento é preenchido durante o desenvolvimento das etapas da metodologia

para a elaboração do desenho curricular. É a partir dele que se inicia o planejamento dos

docentes. É referência para o desenvolvimento dos conteúdos formativos previstos no plano

de curso.

Anexo IIA – Situação de Aprendizagem (Anexo H)

A Situação de Aprendizagem descreve o desafio proposto, apresentando características

problematizadoras e atividades contextualizadas, através das quais o docente tem a

possibilidade de fazer circular o máximo de informações e explorar diferentes estratégias de

ensino.

Para a elaboração das situações de aprendizagem, o docente deve buscar os subsídios

para o planejamento na ficha “Organização Interna das Unidades Curriculares” (Anexo I),

considerando o objetivo geral, os objetivos específicos, os critérios de avaliação e os

conteúdos formativos correspondentes, visando integrar as unidades curriculares do módulo

para favorecer a mobilização de conhecimentos, habilidades e atitudes, além de definir, com

clareza, indicadores e critérios de avaliação.

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Para assegurar que haja o desenvolvimento da aprendizagem, dentro desta opção de

construção e participação, é necessário ter transparência. Ou seja, explicitar claramente, para

o aluno, as situações que serão desenvolvidas e o que se espera dele. Por esse motivo, tanto a

Situação de Aprendizagem como a Ficha de Acompanhamento da Aprendizagem do Aluno

devem ser de conhecimento do aluno.

Anexo IIB – Ficha de Acompanhamento da Aprendizagem do Aluno (Anexo I)

A ficha de acompanhamento da aprendizagem do aluno é o instrumento que explicita

as atividades e resultados parciais esperados, indicadores, critérios de avaliação e o conceito

parcial por resultado. Dá suporte para que a avaliação se efetive como um processo contínuo

de coleta de evidências e também possibilita avaliar o grau de domínio das competências de

cada aluno. Além disso, identifica as dificuldades do aluno, nas áreas que necessitam ser

fortalecidas para alcançar o nível de competência pretendida.

O acompanhamento e a avaliação do aluno são individuais, considerando os resultados

parciais esperados, e os indicadores e critérios de avaliação estabelecidos no planejamento da

situação de aprendizagem.

O aluno recebe um conceito (A, B, C ou D) por cada resultado alcançado, evidenciado

pelo atendimento dos indicadores e critérios de avaliação. Durante o desenvolvimento da

situação de aprendizagem, o docente deverá promover atividades de recuperação, caso o

aluno obtenha o conceito C ou D.

Descrição dos conceitos parciais:

A: O aluno apresentou evidências adequadas durante o desenvolvimento do trabalho,

obtendo os resultados esperados;

B: O aluno apresentou evidências parcialmente adequadas durante o desenvolvimento

do trabalho, sem comprometer os resultados obtidos;

C: O aluno não apresentou evidências adequadas durante o desenvolvimento do

trabalho, comprometendo parcialmente os resultados obtidos;

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D: O aluno não apresentou evidências adequadas durante o desenvolvimento do

trabalho, comprometendo muito ou totalmente os resultados obtidos.

Anexo IIC – Plano para Desenvolvimento de Competências – PDC (Anexo J)

O plano para desenvolvimento de competências – PDC é específico para cada situação

de aprendizagem. Esse instrumento é para uso do docente.

O PDC é construído através de planejamento integrado entre os docentes, em sintonia

com a organização e o sistema de avaliação do plano de curso, de modo a atender as

exigências de relacionamento, ordenação e integração entre as unidades curriculares.

Para o desenvolvimento da situação de aprendizagem, as atividades devem estar

articuladas, relacionando, para cada uma delas, os objetivos específicos, os critérios de

avaliação, os conteúdos formativos (conhecimentos/habilidades/atitudes), as estratégias

didáticas e a carga horária prevista.

Anexo III – Acompanhamento do Processo de Avaliação (Anexo K)

Esse instrumento é de uso particular do docente, cumprindo a função de mapear os

registros das avaliações de cada aluno, possibilitando um controle mais detalhado.

Para casos de registros que possam acarretar dúvidas quanto ao aproveitamento final

do aluno na situação de aprendizagem, é importante que os docentes realizem, de forma

conjunta, uma análise criteriosa e, se necessário, também, solicitem o apoio da orientação

pedagógica. Nas situações de aprendizagem de baixa complexidade, a avaliação final pode ser

realizada por um único docente.

Anexo IV – Avaliação Final no Módulo (Anexo L)

Este instrumento, de uso do docente, destina-se ao registro do conceito final dos

alunos no módulo. No verso da folha, deve ser registrada uma breve descrição de cada

situação de aprendizagem.

Em alguns planos de curso, estão previstos conceitos finais por unidade curricular.

Isso precisa ser respeitado. Nesses casos, cabe aos docentes, em comum acordo, a definição

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do conceito final a ser atribuído ao aluno em cada uma das situações de aprendizagem, uma

vez que elas podem envolver uma ou mais unidades curriculares.

As correções necessárias, nos instrumentos de registro devem ser feitas através de

registros manuais, não esquecendo, os docentes, de rubricarem ao final.

Nos casos mais complexos e contraditórios, que possam acarretar dúvidas quanto ao

aproveitamento final do aluno no módulo, cabe aos docentes, juntamente com a orientação

pedagógica, a realização de análise criteriosa das reais condições de progressão do aluno.

Importante destacar também que, ao final do curso, ou seja, ao final do módulo que

antecede o estágio supervisionado obrigatório, ou após o encerramento dele, o aluno receberá

um parecer descritivo de conclusão. Neste parecer descritivo constam os perfis de conclusão

de cada módulo já concluído pelo aluno, além de informações pertinentes sobre ele.

Após esse detalhamento pode-se perceber que a documentação utilizada pela

metodologia baseada em competências acaba por enfatizar a importância do planejamento

integrado das atividades pedagógicas pelos docentes, bem como o processo de avaliação.

Trabalhar com esta metodologia nos remete a adoção de uma prática pedagógica que

valoriza o docente no papel de facilitador e mediador do processo de aprendizagem, que visa

formar alunos com autonomia, iniciativa, pró-atividade, e capazes de solucionar problemas

sem o auxilio do docente.

3.4 Reflexões Iniciais Sobre a Prática da Metodologia

A prática pedagógica também nos remete à reflexão sobre a função do docente, que

acaba por agregar duas necessidades essenciais. A de conhecimentos específicos da profissão

na área que atua, e a de metodologia adequada para o desenvolvimento da referida prática

pedagógica.

Conclui-se assim, que uma prática pedagógica eficaz depende fundamentalmente do

docente e de toda a equipe envolvida no processo de aprendizagem. Sem essas estruturas de

apoio, é muito difícil pedir que se trabalhe na perspectiva das competências. De acordo com

Perrenoud,

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Não podemos esperar, no entanto, que tudo fique claro para agirmos. Toda prática

educacional tem por base certas apostas teóricas. Aceitas tais apostas, é importante

ganhar o maior número delas. A amplitude das incertezas e a complexidade das

noções implantadas não são os menores obstáculos, ao contrário, um dos maiores

desafios é conquistar o maior número de parceiros nesta luta e caminhar em

conjunto. É necessário coletivizar incerteza, reconhecer os próprios limites e os

limites da instituição e, dentro desses limites, avançar o máximo possível, e só

saberemos os limites do possível se tentarmos o impossível (1999, p. 20).

A prática pedagógica eficaz pressupõe rupturas com alguns conceitos e práticas

educacionais. Essa ruptura não significa anulação, mas evolução dos valores construídos

conforme um modelo educacional que se consolidou no SENAI ao longo do tempo.

Ela requer a aplicação de alguns princípios fundamentais para se alcançar o bom êxito

no fazer pedagógico do corpo docente, que são: a integração, a contextualização do que é

trabalhado, a flexibilidade, a auto-avaliação e o planejamento integrado, todos visando

alcançar as competências relacionadas aos conhecimentos, habilidades e atitudes – CHA.

Nesse quadro, o docente tem o papel fundamental de mudança, pois para uma prática

pedagógica eficaz, elegem-se alguns princípios facilitadores de uma aprendizagem

significativa, tais como: organização curricular flexível, reflexo da atenção ao contexto do

trabalho e às necessidades dos alunos, que requerem o tratamento interdisciplinar dos

conhecimentos e das práticas profissionais. Importante destacar que a interdisciplinaridade se

caracteriza pela abordagem integrada de campos de conhecimentos afins, possibilitando o

diálogo entre eles.

Assis (1999) cita que, para Perrenoud, o ato de ensinar está muito mais relacionado a

processos interativos com todos os sujeitos presentes no espaço pedagógico. Sendo o

professor uma pessoa que interage não só com os sujeitos de aprendizagem e seus familiares,

mas com colegas de trabalho e a instituição em todos os níveis.

Basta, portanto, um breve olhar, para perceber que as competências não são

construídas da noite para o dia. Demandam um longo período escolar e uma boa formação

docente. Somando-se a isso, de acordo com o Parecer 16/99 – CNE/CEB, “conhecimentos

interrelacionam-se, contrastam-se, complementam-se, ampliam-se, influem uns nos outros”.

A questão da competência demonstra também a vontade de alguns pensadores de

mudar os paradigmas atuais da educação, propondo uma nova forma de ensinar, apoiada no

saber-fazer do aluno. Sabe-se que tudo que é novo pode ou não ter aceitação e aplicabilidade,

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porém caberá às instituições de ensino adaptar-se às mudanças e aos desafios delas

decorrentes.

Perrenoud (1999) afirma que hoje, o aluno das instituições de ensino acumula saberes,

passa nos exames, mas não consegue usar o que aprendeu em situações reais. Melhor seria se

ele tivesse desenvolvido, em seu processo de formação, as capacidades de mobilizar o todo ou

parte de seus recursos cognitivos e afetivos. O que lhe permitiria enfrentar situações

complexas, diferentes de todas aquelas já vivenciadas.

A ação competente implica o não uso da repetição, ou seja, o uso parcial de

conhecimentos adquiridos e a adaptação para a nova situação. A perspectiva da educação

deve, pois, desenvolver os meios para uma aprendizagem permanente, que permita uma

formação continuada, tendo em vista também a construção da cidadania. Deste modo,

devolver à educação, dentro e fora da sala de aula, ao desafio do diálogo e criar métodos e

meios para que ela se realize sempre como uma relação, dentro de ritos proveitosos em que a

troca seja a norma, é a proposta dessa metodologia baseada em competências.

As mudanças atuais ocorridas no cenário educacional vêm requerendo a reestruturação

do processo de ensino-aprendizagem na sua forma didático-pedagógica, uma vez que há uma

dinâmica contemporânea fundada em novos conceitos de educação, de competência, de

habilidades e consequentemente, de formação profissional. Não há respostas prontas, já que se

vive numa realidade complexa, globalizada, informatizada, e predominantemente competitiva.

Lançam-se apenas ponderações que podem sinalizar indagações sobre o papel da escola e,

sobretudo, a dinâmica da sala de aula, a prática do professor.

Mesmo com um trabalho criterioso para a identificação de demanda, do levantamento

do perfil profissional e da consequente estruturação do desenho curricular baseado em

competências, não há garantias de que os docentes, ao trabalharem com seus alunos, saberão

traduzir o que se quer dizer quando se fala em educação profissional baseada em

competências.

Os resquícios de uma educação autoritária, centrada no docente, com foco no ensino

de conteúdos programáticos, mediante exposições verbais, não favorecem o desenvolvimento

de competências. Levar os alunos a imitarem e a reproduzirem o que dizem e fazem seus

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docentes não estimula – ao contrário, pode atrofiar – a capacidade de reflexão crítica do

aluno, tão requerida pelos perfis profissionais da atualidade.

A mudança adquire uma amplitude muito maior do que aquilo que se vê no desenho

curricular modulado, o qual prevê entradas e saídas intermediárias, com certificações parciais,

estruturado em unidades curriculares integradas.

Para que se desenvolvam competências profissionais, realmente significativas para o

perfil profissional que se está formando, é preciso ter como preocupação constante o exercício

da prática pedagógica reflexiva. Esta alteração é fundamental, pois faz com que a evolução da

lógica dos conteúdos para a lógica das competências, adquira contornos muito mais

desafiadores do que uma simples questão semântica.

Esta visão requer a transposição do enfoque didático baseado no ensino, que trata um

grupo de alunos de maneira uniforme, sem considerar seu desenvolvimento individual, para o

enfoque baseado na aprendizagem dos alunos.

Dessa forma, a prática pedagógica reflexiva visa ultrapassar sistematicamente as

fronteiras das salas de aula para contextualizar o conhecimento e aproximá-lo da realidade,

desenvolvendo a consciência crítica dos docentes e dos alunos. Significa extrapolar a

elementar memorização de eventos isolados e descontextualizados, propondo situações de

aprendizagem com a maior realidade possível.

As atividades desenvolvidas necessitam de forte contextualização e correlação com a

realidade onde são aplicadas, de forma que os conteúdos possam adquirir sentido e sejam

realmente significativos. Aos alunos é solicitada a resolução de atividades propostas por

diferentes metodologias e estratégias didáticas. Para construir estas soluções, os alunos

necessitam mobilizar seus conhecimentos, habilidades e atitudes, integrando conteúdos e

utilizando-se de sua criatividade, para tomar uma série de decisões que poderão levá-los ao

alcance dos objetivos estabelecidos.

Neste contexto, o docente atua como um provocador de situações de aprendizagem

desafiadoras e instigantes, que exijam intensas relações entre o aluno, o ambiente de

aprendizagem e os demais recursos disponibilizados para o desenvolvimento da atividade

educativa. Não se trata de negar a necessidade dos aspectos cognitivos referentes aos

conteúdos, mas de deslocar a ênfase dos conhecimentos para a sua aplicação em situações

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reais ou simuladas. Este deslocamento permite ao aluno, a partir de sua percepção da

realidade, construir ativa e conscientemente novos conhecimentos, habilidades e atitudes,

mais elaborados e específicos.

Assim, o papel do aluno passa a ser o de expor suas certezas e dúvidas, explicitar seus

raciocínios e tomar consciência de sua maneira de aprender de forma crítica e autônoma, no

exercício permanente da prática reflexiva.

A utilização da metodologia por competências gera questionamentos por parte de

alguns educadores. Entre eles estão Machado (1998) e Ferretti (1999), que enfatizam a

necessidade de conhecer como o professor está desenvolvendo as situações de aprendizagem

no contexto das competências.

Nesta perspectiva, para que o aluno tenha condições de assumir realmente o seu novo

papel, é necessário que o docente abdique da pretensão de querer organizar os conhecimentos

na mente do aluno de forma cartesiana e linear, como foi feito durante tantos anos pela escola

tradicional.

A organização sequencial dos conhecimentos na mente do docente, estruturada desde a

sua formação, tende a lhe parecer a mais racional e produtiva. Isto faz com que ele, de forma

consciente ou não, aposte na reprodução deste modelo quando da estruturação de suas aulas, o

que provoca uma massificação de suas ações educativas que não corresponde às necessidades

apresentadas pelo trabalho norteado por competências.

Na lógica das competências, o que organiza as atividades educativas são as situações

de aprendizagem apresentadas, e não o discurso. Grande parte da atuação docente em sala de

aula se reconfigura ou é ignorada. As cansativas leituras de textos, as longas exposições

verbais e a aprendizagem passiva devem ser substituídas por atividades estruturadas para

proporcionar a transferência, a integração e mobilização de conhecimentos, a estimulação da

ação reflexiva e o desenvolvimento do espírito crítico dos alunos. Como destaca Perrenoud,

[...] o docente deve renunciar tanto à felicidade da demonstração esplendorosa

quanto à palavra „ex cathedra‟, o que não impede que se desenvolva soberanamente,

disponha de seu tempo a aja livremente fora de qualquer contradição e até de

qualquer diálogo (PERRENOUD, 1999, p. 56).

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Estas mudanças na prática pedagógica permitem que se estimule nos alunos o

desenvolvimento de habilidades imprescindíveis aos profissionais que desejam se inserir ou

se manter no mundo do trabalho atual. A prática pedagógica reflexiva desenvolve nos alunos

a capacidade de gerar novas idéias, decidir o que deve ser feito e criar soluções eficazes,

aplicando os conhecimentos adquiridos.

Estimula também a compreensão das relações entre vários objetos, idéias e situações,

exigindo que os alunos utilizem as técnicas apropriadas e estratégias para aprender e aplicar

novos conceitos e habilidades. Em âmbito pessoal, incrementa, o senso de responsabilidade

pelo trabalho desenvolvido, estimulando à autogestão e fazendo com que o aluno acesse, de

forma a aprimorar seu próprio conhecimento, suas habilidades e aptidões para que programe

metas realísticas para si.

Na prática, observa-se que o exercício da reflexão tende a aumentar a auto-estima do

aluno, fazendo com que ele acredite mais em si mesmo e em seu valor como profissional e

como cidadão, estimulando o seu relacionamento com outras pessoas em variadas situações.

Com relação aos valores integridade e honestidade a prática pedagógica permite que o aluno

identifique e reconheça situações e condições que possam vir a se configurar como uma

quebra de valores sociais ou pessoais, levando-o à compreensão das consequências da

violação de crenças e códigos e, na maioria das vezes, à escolha de um caminho ético para

suas ações.

Para um fazer pedagógico mais eficiente, faz-se necessário traduzir a linguagem do

trabalho, para a educação, através da identificação de competências básicas, específicas e de

gestão. Tais competências representam o saber – conhecimento, o saber fazer – habilidades e

o saber ser – atitudes e valores que conduzem a um saber agir na profissão e, de forma mais

ampla, na própria vida.

Na perspectiva da formação com base em competências o saber fazer não subsiste

isoladamente. Ele compõe um todo harmônico juntamente com os demais saberes. Os

docentes, por sua vez, contemplando essa correlação dos saberes, utilizam em seu dia-a-dia a

abordagem da mediação pedagógica, tendo em vista a aprendizagem significativa.

A mediação da aprendizagem parte do pressuposto de que toda situação educativa

deve considerar a presença importante de três elementos: o docente, o aluno e a situação

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criada pela interação entre eles. Segundo Vygostsky, a mediação incide sobre o que ele

chamou de zona de desenvolvimento proximal.

Esse conceito se refere à distância entre o nível de desenvolvimento real, que pode ser

determinado pelo modo como o aluno resolve, sozinho, as situações apresentadas; e o nível de

desenvolvimento potencial, que se refere ao que o aluno é capaz de resolver, quando mediado

pelo docente ou mesmo por um colega. Pode-se dizer que a zona de desenvolvimento

proximal, por ser o espaço da aprendizagem, deve se constituir em objeto de reflexão dos

docentes.

Por outro lado, é muito produtiva a mediação focada na arte de fazer perguntas. Não

aquelas focadas nos conteúdos e nos resultados que o aluno alcança, pois dessa forma

estaríamos privilegiando a aprendizagem por conteúdos. Trata-se, pois de uma metodologia

que toma os conteúdos como mediações para desenvolver habilidades e, nesse caso, da arte de

perguntar. Trata-se de desenvolver a curiosidade e de qualificá-la. Faundez, referindo-se a

metodologia freireana, afirma:

Estou certo, porém, de que é preciso deixar claro, mais uma vez, que a nossa

preocupação pela pergunta não pode ficar apenas em nível da pergunta pela

pergunta. O importante, sobretudo, é ligar, sempre que possível, a pergunta e a

resposta a ações que foram praticadas ou a ações que podem vir a ser praticadas ou

refeitas (FREIRE e FAUNDEZ, 1985, p. 49).

Daí a importância fundamental do papel docente no desenvolvimento dessa

habilidade, bem como na re-construção dos conhecimentos e, principalmente, no estímulo

para que os alunos aprendam a aplicá-los a ações concretas do cotidiano e profissional.

Os docentes precisam se empenhar para ajudar os alunos a descobrir os meios de

colocar em ação os conhecimentos que eles possuem, puxando-os para conhecimentos novos

e mais elaborados. Além disso, lembramos que a mediação da aprendizagem depende da

qualidade da interação entre o docente e o discente. Nessa perspectiva, o docente é que deve

compreender o caminho da aprendizagem que o aluno está percorrendo e, em função disso,

identificar as informações e as atividades, que permitam ao aluno avançar do patamar em que

se encontra para outro mais evoluído.

Para promover a circulação de informações e a aprendizagem em vista de

competências, é preciso que o docente aceite que seu papel é o de planejador de intervenções

que favoreçam a ação do aluno. Portanto, o docente passa a trabalhar no sentido de planejar e

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também mediar as atividades dos alunos, e com este modo de atuar ele abre mão de ser o

único informante. Perrenoud enfatiza que “a tarefa dos professores não é, portanto, a de

improvisar aulas. Ele lida com a regulação do processo e, frequentemente, com a construção

de situações problemas de complexidade crescente” (PERRENOUD, 1999, p. 54).

O docente deve propor ao aluno situações que o motivem a alcançar uma meta, a

resolver problemas, a tomar decisões. Para um melhor entendimento, um jogador de tênis não

treina unicamente jogando partidas, ao mesmo tempo que um jogador de futebol não realiza

somente treinos com bola. No campo dos aprendizados gerais, um aluno será levado a

construir competências confrontando-se, regular e intensamente, com problemas complexos e

reais, que mobilizem diversos tipos de recursos.

A aprendizagem através da solução de problemas somente se transformará em

autônoma e espontânea se transportada para o âmbito do cotidiano. Se for gerada no aluno a

atitude de procurar respostas para suas próprias perguntas/problemas; se ele se habituar a

questionar-se, ao invés de receber somente respostas já elaboradas por outros, seja pelo livro-

texto, pelo professor ou pela mídia.

Assim, o desenvolvimento de competências está fundamentado em práticas

pedagógicas voltadas para a solução de problemas complexos que demandem uma abordagem

multidisciplinar (enfoques transversais). A partir da solução destes problemas ou situações é

possível exercitar a mobilização de conhecimentos técnicos, juntamente com as competências

acima citadas, que são fundamentais para o êxito de uma atividade profissional.

Perrenoud já alertava para o fato de que a educação ainda não resolveu a equação

saberes e transferência de conhecimentos, já que há um trabalho insuficiente de mobilização e

exercício para que o processo de aprendizagem seja refletido em relação a situações reais da

vida do aluno. Ao construir uma situação problema, ou situação de aprendizagem, o docente

consegue estimular/incentivar no aluno seus saberes já internalizados, e avaliar sempre se ela

reúne condições para promover a aquisição de técnicas, principalmente de estratégias de

aprendizagem, pois estas últimas é que promovem o aprender a aprender.

Ao planejar situações de aprendizagem os docentes devem, primeiramente, analisar

sua significância e contribuição para o desenvolvimento das competências, de modo que a

prática pedagógica esteja contextualizada com as demandas do perfil profissional em foco.

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Cabe ainda ao docente estar atento para a diversidade de aprendizagem de cada aluno e à sua

necessidade de autonomia. São condições que favorecem a construção do conhecimento pelos

alunos. Isso requer que os docentes tenham clareza que trabalhar com base em competências

significa sair de uma visão conteudista, ir além do desenvolvimento de fatos e conceitos e de

suas aplicações.

A ênfase desta competência está na capacidade do docente perceber as diferenças

individuais e administrar a heterogeneidade da sala de aula, principalmente oferecendo

atividades criativas e diversas. Ao descentralizar suas ações, o docente permite que a turma se

revele em sua multiplicidade e interações mútuas, numa rede de apoio integrado. Por parte de

alguns alunos, isto já é um desafio cotidiano. Além disso, a dificuldade de aprendizagem dos

alunos e a sensação de fracasso no ato de ensinar, do docente, mobilizam e colocam em cena

emoções profundas da história pessoal de cada um e da afetividade entre docente e aluno.

Por esta razão, o trabalho coletivo dos docentes, em conjunto com a orientação

pedagógica, é o caminho para a realização produtiva desta atividade. Além de adotar a

interdisciplinaridade como fio condutor para o desenvolvimento das competências do perfil

profissional e primar por uma organização curricular flexível, reflexo da atenção ao contexto

do trabalho e das empresas, bem como às demandas sociais e necessidades dos alunos.

Isso só será possível desde que se consiga uma prática interdisciplinar de

conhecimentos e também de práticas profissionais. Quando se constata que a ação docente

adota esse fio condutor da interdisciplinaridade, pode-se concluir que está acontecendo a

aplicação da metodologia por competência e a avaliação certamente será mais condizente com

tal metodologia.

Em sua concepção, os perfis profissionais são oriundos dos Comitês Técnicos

Setoriais que, por sua vez, originam os desenhos curriculares baseados em competências.

Estes Comitês têm a participação de representantes de diversos setores tecnológicos, entre

eles as indústrias. Reforçando, assim, a aproximação das exigências do mundo produtivo com

o mundo da escola, aspecto que torna evidente a subordinação da escola às demandas e às

tendências do mercado.

Isso demonstra que a instituição SENAI adota o modelo de educação profissional

afinado com as prerrogativas do mundo produtivo, segundo uma economia globalizada que se

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evidencia na organização dos cursos técnicos e na formação de seus profissionais. Neste

contexto, a avaliação da aprendizagem é realizada em consonância com as competências do

perfil profissional de conclusão, considerando os padrões de desempenho, através de

estratégias e instrumentos diversificados – trabalhos individuais e em grupo, testes

teórico/práticos, práticas, pesquisas, projetos.

3.5 Sobre a Avaliação

O universo da avaliação compreende o conjunto de competências básicas, específicas

e de gestão. É fundamental a interação delas, bem como sua mobilização em situações de

trabalho, simuladas ou reais, pois representam a interface entre educação e trabalho.

A avaliação de competências acontece tanto no decorrer do processo formativo quanto

independente deste. Há diferentes entendimentos por parte de alguns autores. Enquanto

Perrenoud (1999) compreende a avaliação como formadora quando auxilia o professor a

ensinar melhor e o aluno a aprender significativamente; Luckesi (1995, p.69) considera “a

avaliação como um juízo de valor sobre dados relevantes, objetivando uma tomada de

decisão”; Gadotti (1994), afirma que a avaliação é um ato de acolhimento do aluno e só

depois deve-se avaliar a relação dele com o conhecimento.

Cada autor, de acordo com sua metodologia de trabalho e objetivo, atribui uma

definição distinta de avaliação. Quando pensamos em avaliação, temos que considerar a

importância das suas diferentes funções: função diagnóstica, função formativa e função

somativa.

A função diagnóstica permite identificar a presença ou a ausência de conhecimentos

prévios. Identificar interesses, possibilidades e outras dificuldades específicas. Esta avaliação

tem uma perspectiva orientadora, exige que as informações obtidas sejam analisadas e

interpretadas pelo docente e alunos, de forma que ambos disponham de informações para

futuras atuações.

A função formativa fornece informações ao aluno e ao docente, durante o

desenvolvimento do processo de ensino e de aprendizagem, sendo fundamental para a

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qualidade do mesmo. Esta avaliação pode servir como meio de controle de qualidade,

permitindo que o professor atue na modificação do processo de ensino.

É ela que fornece a ferramenta mais consistente ao docente, pois aponta os progressos

feitos pelo aluno e os desvios que estão ocorrendo. Tudo a tempo de ser corrigido para se

chegar a uma aprendizagem significativa e, neste caso, com base em competências. Também

é importante o feed-back que é fornecido ao aluno, contribuindo para o melhoramento da sua

motivação e auto-estima.

E a função somativa apresenta-se de forma classificatória, realiza-se ao final do curso.

Consiste em classificar os alunos de acordo com níveis de aproveitamento previamente

estabelecidos, e ocorre ao final de uma etapa do processo de ensino e aprendizagem. As

informações obtidas com esta avaliação ao final de um processo, podem se constituir ainda

em informações diagnósticas para a etapa seguinte do ensino. Portanto, a avaliação cumpre

funções que não se excluem e nem se esgotam em si mesmas. Excluir uma delas é empobrecer

o processo avaliativo, ou seja, empobrecer a possibilidade de se realizar um trabalho

avaliativo mais complexo e amplo.

Assim, realizar o trabalho pedagógico e a avaliação com base em competências

implica na necessidade de utilização ampliada e variada de estratégias de ensino. Deve-se

focar, mais especificamente, os trabalhos em grupo, de modo a permitir a troca de

informações, o diálogo, à cooperação, a liderança. Além de uma variada gama de estratégias

de avaliação que dêem condições, aos alunos, de ser avaliados. O docente deve exercer

sempre o papel de mediador da informação e da avaliação.

Além disso, uma das preocupações do docente durante os processos de ensino e

aprendizagem é criar oportunidades para o aluno incorporar atitudes de análise crítica do

trabalho realizado. Por isso, o diálogo e a negociação entre os sujeitos dos processos de

ensinar e aprender, deve ser uma constante, no sentido de solucionar dúvidas e estabelecer

uma atitude de confiança e de troca de experiências e informações no processo avaliativo.

Hoffmann coloca a “ação avaliativa como sendo uma das mediações a ser utilizada

para encorajar o aluno a reorganizar o seu saber. Isto significa ação, movimento, provocação,

na tentativa da reciprocidade entre docente e aluno, elementos estes construtivos da ação

educativa” (1988, p.23).

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Assim, o diálogo e a negociação favorecem o desenvolvimento da auto-análise e

propiciam a promoção de maior autonomia no processo de aprendizagem. A negociação

propicia uma avaliação qualitativa, amplamente discutida entre as partes envolvidas, isto é, as

pessoas que vão ser avaliadas participam do processo como colaboradores e não apenas como

objetos de estudo. O avaliador participa como facilitador enquanto mediador.

Esta avaliação passa por construções, seguidas de reconstruções, uma vez que é

moldada por ambas as partes envolvidas – avaliadores e avaliados. Não há uma distância entre

avaliados e avaliadores, todos interagem entre si, dão explicações, argumentam e interpretam

resultados.

Citado por Perrenoud, Tardif (1996) entende a avaliação das competências como tendo

características que toda avaliação autêntica deveria respeitar. Entende-se com isso, que a

avaliação deve determinar a força dos alunos, ou seja, que ela deve propiciar condições do

aluno demonstrar o domínio dos saberes desenvolvidos, seus conhecimentos, seu grau atual

de domínio das competências visadas.

Uma vez que consideramos a avaliação como parte inerente aos processos de ensinar e

de aprender, enfatizamos a avaliação de competências que acontece tanto no decorrer do

processo formativo quanto independente dele. Na EEP SENAI do Mobiliário a avaliação anda

lado a lado com o processo de ensino, visando melhor desenvolver as competências

requeridas pelo perfil profissional traçado para o aluno.

Finalizando todo esse ciclo, temos o efetivo desenvolvimento de competências no

perfil do aluno, resultado de uma aprendizagem significativa, por meio de situações

desafiadoras e de um processo de avaliação que lhe permite lidar com o novo e crescer em

autonomia.

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4 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA NA EEP SENAI DO MOBILIÁRIO

A educação profissional baseada em competências desenvolvida nas escolas do

SENAI deve ser a mais alinhada e sintonizada possível com as demandas do mundo do

trabalho, com as necessidades dos profissionais, e com as carências dos candidatos que nele

desejam ingressar. Diante desta realidade, constata-se que a mudança da lógica dos conteúdos

para a das competências não é uma tarefa fácil, pois implica a superação de muitos conceitos

extremamente enraizados nos modelos de educação tradicional.

A metodologia baseada em competências desenvolvida pelo SENAI responde aos

recentes desafios das empresas industriais. Com a instauração de um modelo de formação

contínua, que garante uma atualização frequente das competências requeridas pelo setor

produtivo, mediante novo desenho curricular utilizado nos cursos de formação profissional

aponta claramente para os resultados desejados. Utiliza um itinerário flexível que contempla

diferentes percursos, oferece múltiplas alternativas e oportunidades ao docente e aos alunos,

que podem também optar pela utilização de variadas estratégias pedagógicas, adequadas às

situações e as condições demandadas pelo mundo do trabalho.

A educação profissional precisa atender às demandas e exigências que emergem do

mercado de trabalho. A educação formal geralmente não está centrado nesse objetivo e, por

esse motivo, muitas empresas e entidades empresariais se interessaram pelas práticas que

adotam a metodologia de trabalho em termos de competências. Buscam estabelecer um

referencial de remuneração ligado aos saberes em geral e ao saber-fazer, especificamente

detido pelos indivíduos, e não somente àqueles requisitados pelo posto de trabalho.

A cada dia cresce o número de pessoas que tem um trabalho, mas não necessariamente

um emprego. Essa situação tem exigido das pessoas, respostas muito diferentes das que

aprenderam a dar com a bagagem adquirida ao longo de sua trajetória escolar e profissional.

Se trata de uma busca constante da dose certa, do bom senso, do trabalho em equipe, de tomar

decisões diante de problemas, entre outros. As exigências do mundo do trabalho em relação

aos profissionais, sejam eles trabalhadores com vínculo empregatício ou empreendedores, têm

crescido de forma muito mais radical e veloz do que têm sido incorporadas aos processos de

capacitação profissional.

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Por esse motivo, acreditando na metodologia baseada em competências, respaldada

pela experiência piloto desenvolvida na Escola de Educação Profissional SENAI do

Mobiliário, e na condição de orientadora pedagógica desta escola, pude observar algumas

dificuldades de compreensão e de articulação entre a teoria e a prática pedagógica do corpo

docente no ensino técnico do SENAI.

É importante ressaltar que na escola disponho cotidianamente do campo empírico e do

acompanhamento direto do fazer pedagógico do seu corpo docente. Por esse motivo, decidi

pelo estudo de caso, já que ele permite uma investigação empírica, que analisa um fato ou

fenômeno contemporâneo, dentro de seu contexto real, e usa para isso múltiplas fontes de

evidências. O resultado dessas observações motivou o desenvolvimento de um estudo mais

aprofundado deste caso

O capítulo que segue estabelecerá, portanto, a relação entre a concepção teórica e a

prática da metodologia baseada em competências, apresentando a percepção que os docentes

têm dela, o modo como a praticam e como fazem uso da documentação própria do SENAI.

4.1 Como os Docentes Compreendem e Aplicam a Metodologia?

Uma vez definida a linha da pesquisa, iniciei o estudo de caso na EEP SENAI do

Mobiliário, a qual conta com vinte docentes, dos quais somente onze trabalham diretamente

com a metodologia baseada em competências, aplicada aos Cursos Técnicos de Design de

Móveis e Mecânica. Tendo como referência o estudo dos limites e possibilidades dos

procedimentos e ferramentas para a coleta de informações, optei por utilizar nesta

investigação o questionário semi-aberto, e a entrevista semi-estruturada. Entendo que estas

ferramentas de coleta de informações combinadas fornecerão dados significativos para o

alcance de meu objetivo, além de oportunizarem a consideração de questões novas, colocadas

pelos interlocutores.

A primeira ferramenta de coleta de informações utilizada foi o questionário, que teve

como finalidade averiguar a opinião dos docentes sobre o tema específico: metodologia

baseada em competências. O questionário nada mais é do que uma lista de perguntas que

busca levantar informações de um sujeito ou grupo de sujeitos, por meio de respostas escritas.

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A estrutura do questionário semi-aberto contém perguntas abertas, determinando ao

participante que responda às indagações através de um relato escrito. De acordo com Negrine

(1999, p. 82), “os questionários podem ser utilizados como um meio para receber informações

generalizadas, de uma amostragem ampla, que permita, posteriormente, uma análise mais

profunda de caráter qualitativo”. Espera-se que a uso do questionário possibilite a obtenção de

um significativo número de informações, úteis a muitos docentes da EEP SENAI do

Mobiliário.

Os docentes participantes da pesquisa responderam às nove questões que lhes foram

apresentadas, que são:

- O que você entende por competência?

- Qual sua percepção e entendimento sobre a metodologia baseada em competências?

- Nos princípios pedagógicos fala-se em "planejar em conjunto". O que você pensa disso?

- Qual sua opinião sobre os formulários? Você sugere alguma modificação nos mesmos?

- Qual a importância de planejar situações de aprendizagem para o desenvolvimento de

competências?

- Que estratégias, instrumentos e técnicas você utiliza para ajudar o aluno a desenvolver

habilidades e competências?

- Quanto à avaliação baseada em competências, que aspectos você considera relevantes?

- Como você avalia? E o que pensa disso?

- Você considera possível acompanhar o desenvolvimento dos alunos dentro desta

metodologia? Comente.

Tendo em mãos as respostas dos professores, passa-se a interpretar cada uma delas,

dispensando atenção especial às informações relevantes para a pesquisa e às informações que

não estavam na intencionalidade das perguntas. Na sequencia do texto, apresento

considerações sobre as falas dos interlocutores, atribuindo um nome fictício a cada um deles.

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Proposta a pergunta “O que você entende por competência?”, obtive, do docente Luis,

a resposta de que competência é uma “metodologia que visa, por meio do estimulo em sala de

aula, um aprendizado que se enquadre ao perfil intelectual do aluno, visando sempre o melhor

desenvolvimento do mesmo, valendo-se de ferramentas que façam o aluno querer buscar mais

aprendizado dentro de cada tema proposto. A metodologia por competência vale-se de

algumas ferramentas como o estimulo, a curiosidade do aluno, a avaliação rotineira, a

correção instantânea dos problemas abordados e a relação do aluno com a pesquisa, tornando-

o mais crítico, pois apóia-se em uma base de conhecimentos na qual o mesmo aluno

desenvolveu”.

Destaca-se esta a respostas de Luis por perceber que o referido docente não respondeu

diretamente a questão “o que é competência”. Ele tentou explicar o que visa a metodologia

baseada em competências e como usa algumas ferramentas que desenvolve com os alunos. O

que ele expressou como a sua compreensão de “competência” não é um conceito, mas a

descrição da atividade que é desenvolvida durante o trabalho com a metodologia, e cujo

principal objetivo é aprimorar os conhecimentos, as habilidades e as atitudes dos alunos.

Desta forma, consegue-se alcançar a competência de fato.

Além disso, a definição adotada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) é

instrutiva nesse sentido: “entende-se por competência profissional a capacidade de articular,

mobilizar e colocar em ação valores, conhecimentos e habilidades necessários para o

desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho” (Resolução

CNE/CEB nº 04/1999). Já segundo Zarifian (1998), a competência é a inteligência prática

para situações que se apóiam sobre os conhecimentos adquiridos e os transformam com tanto

mais força, quanto mais aumenta a complexidade das situações. Daí se pode resumir que

competência é a capacidade de exercer determinada atividade, mobilizando o saber, o saber-

fazer e o saber-ser, capacitando o indivíduo para o enfrentamento de problemas reais.

Os demais docentes expressaram-se demonstrando entender que competência é uma

palavra do senso comum, utilizada para designar uma pessoa qualificada para realizar alguma

tarefa. Suas respostas se aproximam da Resolução nº. 04/99. Pela análise das respostas

percebe-se que a abrangência do conceito de competência ainda não foi plenamente alcançada

pelos docentes, demonstrando como é difícil a quebra de paradigma do modelo de ensino

conteudista.

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Num segundo momento perguntei: “Qual sua percepção e entendimento sobre a

metodologia baseada em competências?”

Após a leitura das respostas referente a esta questão foi possível constatar que todos os

docentes entendem que a metodologia baseada em competências é desafiadora, mas possível,

somente é preciso o entendimento e a aplicabilidade por parte do docente e por parte do aluno.

O docente Luis, quando coloca que “no momento está se confundindo muito com a

maneira convencional de ensinar”, acaba por reforçar a idéia de que se não houver um bom

entendimento por parte da escola, docentes e alunos esta metodologia somente estará trocando

de nomenclatura. Ela perderá seu real sentido que é o de mobilizar conhecimentos,

habilidades e atitudes, capazes de transformar o docente em facilitador do processo, e levar o

aluno a buscar mais informações, construir conhecimentos novos, ser mais responsável, pró-

ativo, autônomo, saber trabalhar em equipe, saber resolver e sair de situações problema.

Este fato demonstra também que só o conhecimento técnico, meramente focado em

conteúdos, não garante mais a empregabilidade e nem a possibilidade de uma melhor

qualidade de vida para as pessoas, tanto no plano individual quanto coletivo.

As respostas apontam que a metodologia é viável em sua aplicação desde que haja um

bom preparo técnico por parte dos docentes, para que possam motivar os seus alunos. Faz-se

necessário também um uso adequado das terminologias e nomenclaturas próprias da

metodologia, que facilitarão a sua aplicabilidade e a comunicação entre os docentes e os

alunos, já que todos utilizarão a mesma linguagem.

Em seguida analisei a seguinte questão: “Nos princípios pedagógicos fala-se em

"planejar em conjunto". O que você pensa disso?”

Percebe-se que o posicionamento dos docentes foi unânime quanto à importância do

planejamento em conjunto. Todos têm bem claro em seu trabalho que para uma prática

pedagógica eficaz é preciso uma organização curricular flexível, reflexo da atenção ao

contexto do trabalho e às necessidades dos alunos, requerendo assim a integração dos

conhecimentos afins, possibilitando o diálogo entre eles.

Diante disso, descortina-se a perspectiva da interdisciplinaridade, o caráter global do

estudo, rompendo-se a antiga visão fragmentada e estanque. De acordo com o Parecer 16/99 –

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CNE/CEB, “conhecimentos inter-relacionam-se, contrastam-se, complementam-se, ampliam-

se, influem uns nos outros”, reforçando a importância da interdisciplinaridade. A entendida

como a integração dos diferentes conhecimentos, de áreas que se correlacionam e se

complementam. Sua aplicação proporciona uma maior liberdade para os docentes criarem e

tornarem seu planejamento mais motivador para os alunos e para o seu próprio

desenvolvimento.

A questão seguinte tratou da documentação: “Qual sua opinião sobre os formulários?

Você sugere alguma modificação nos mesmos?”

Neste ponto convém esclarecer que os formulários mencionados fazem parte dos

instrumentos utilizados pelos docentes nos planejamentos relativos aos cursos técnicos. Esses

instrumentos devem assegurar a coerência na transposição dos referenciais teóricos para a

prática, contemplando o planejamento dos docentes, o acompanhamento da aprendizagem do

aluno e os registros de avaliação.

Nas colocações dos docentes todos concordam que os formulários são de grande

importância, pois são ferramentas que garantem a aplicação da metodologia e principalmente

uma memória do trabalho desenvolvido. Isso condiz com a resposta do docente Mario: “[...]

acredito que o que não é registrado não é acompanhado [...]”.

No entanto, as respostas evidenciaram também que os formulários necessitam de

tempo para seu preenchimento deixando transparecer o quanto são burocráticos. Houve

poucas sugestões para melhoria dos formulários, que se resumiram a pedir novas discussões

entre os docentes sobre o seu uso. Transparece assim a necessidade de revisão e melhorias

que poderão e deverão ser discutidas pelo grupo de trabalho.

Para a pergunta seguinte: “Qual a importância de planejar situações de aprendizagem

para o desenvolvimento de competências?”, os docentes enfatizaram a enorme importância

que há no planejamento das situações de aprendizagem.

Na leitura atenta das respostas, ficou evidente que planejar situações de aprendizagem

remete ao desenvolvimento de capacidades que levam ao domínio de competências. Ao

planejar, a ênfase dos processos de ensino e de aprendizagem, deve recair sobre situações

relacionadas com o mundo do trabalho e com o contexto sociocultural. A situação de

aprendizagem descreve o desafio proposto, apresentando características problematizadoras e

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atividades contextualizadas, através das quais o docente tem a possibilidade de fazer circular

o máximo de informações e explorar diferentes estratégias de ensino.

Planejar situações de aprendizagem exige do docente competência para estabelecer

para o aluno desafios adequados que fiquem na interseção entre o difícil e o possível. Quando

uma proposta é difícil demais e impossível de realizar com os saberes que o aluno domina, o

desafio não se instaura, pois o problema se torna algo sem solução para ele naquele momento.

Por outro lado, se a proposta é possível, mas fácil demais, não há sequer desafio posto.

Portanto, para o docente, o desafio é construir situações de aprendizagem, com

atividades que representem possibilidades difíceis de serem realizadas, mas com dificuldades

possíveis. O docente trabalha no sentido de planejar e também mediar as atividades dos

alunos, e, com este modo de atuar, ele abre mão de ser o único informante. Satisfaz-se

também a exigência pedagógica de garantir a máxima circulação de informação possível entre

os alunos.

Importante salientar que o processo de ensino é que deve se adaptar ao de

aprendizagem, devendo haver um diálogo entre os dois. Cabe lembrar que as situações de

aprendizagem, ao serem construídas, devem evocar no aluno seus saberes já internalizados.

Deste modo, conforme lembra Perrenoud (1999, p. 8), o aluno é levado a “saber tomar

decisão, mobilizar recursos e ativar esquemas (revendo ou atualizando hábitos) em um

complexo de complexidade”.

Prosseguindo o questionamento: “Que estratégias, instrumentos e técnicas você utiliza

para ajudar o aluno a desenvolver habilidades e competências?”

Percebe-se no entendimento dos docentes, através de suas respostas, que para o

desenvolvimento de competências é necessária a utilização de uma gama variada de

estratégias, instrumentos e técnicas de ensino. O docente, ao selecioná-las, deve

preferencialmente escolher aquelas que oportunizem o trabalho em equipe, que propiciem

uma atitude dialógica, a troca de informações entre os alunos e entre eles e os docentes.

Mecanismos que instiguem e estimulem a aprendizagem, despertando o interesse pela busca

dos saberes e fazendo analogia com seus saberes internalizados, tendo sempre em vista a

solução de situações desafiadoras.

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Outro ponto a destacar é que o docente não atua como simples condutor das

atividades, mas como um facilitador e instigador de situações. Em seu trabalho, o professor

deve interagir intensamente com seus alunos e motivá-los para que alcancem suas metas e,

consequentemente, desenvolvam suas competências.

Em seguida indagou-se: “Quanto à avaliação baseada em competências, que aspectos

você considera relevantes?”

Os docentes, de uma forma geral, destacaram como relevante na avaliação baseada em

competências, a participação do aluno, seu raciocínio lógico diante das situações propostas, a

pró-atividade diante dos assuntos desenvolvidos, o saber se posicionar diante das

adversidades criadas no dia-a-dia de sala de aula e desenvolver sua autonomia.

O docente Carlos retomou a questão da importância da avaliação ser contínua e

reforçou que “[...] o planejamento deve ser feito em conjunto e que todos os envolvidos no

processo de ensino/aprendizagem devem compartilhar do mesmo objetivo”.

No processo de avaliação também não pode ser esquecido que o acompanhamento

constante da caminhada do aluno é essencial para que ao longo do processo se corrijam os

rumos que se buscam alcançar e, quando necessário, se façam as correções no planejamento,

enfatizando a flexibilidade que o processo deve ter. Por outro lado, quando se trata do

processo formativo, a avaliação contínua em diferentes momentos é tida como fator

fundamental para o desenvolvimento das competências. Considerando, inclusive, a auto-

avaliação do aluno, que busca favorecer sua autonomia e sua participação efetiva neste

processo de negociação entre os envolvidos.

Concluída a análise das respostas da questão anterior, segue a próxima: “Como você

avalia? E o que pensa disso?”

Os docentes, em suas interpretações, reforçaram que a avaliação ocorre durante o

processo ensino/aprendizagem, enfatizando seu papel de mediador e provocador deste

processo. A tarefa de avaliar é bastante complexa. É importante destacar que, pelo próprio

desenvolvimento histórico da educação, ainda é mais fácil avaliar os conhecimentos de um

aluno do que suas competências, pois para apreendê-las deve-se observá-lo lidando com

tarefas complexas, o que exige tempo e abre o caminho à contestação.

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Na lógica da avaliação baseada em competências estes paradigmas sofrem alterações

significativas. A avaliação é centrada no sujeito e na qualidade de seu desempenho no

contexto de trabalho, adquirindo um caráter muito mais processual do que de produto.

Nas respostas de Janine e Alberto foram citados os documentos que fazem parte da

avaliação, apontando sua importância dentro do processo. Apesar de terem sido citadas

algumas dificuldades na sua utilização, ainda assim estes documentos não deixam de ser úteis

para acompanhamento e memória da trajetória dos alunos.

O questionário se encerrou com a seguinte pergunta: “Você considera possível

acompanhar o desenvolvimento dos alunos dentro desta metodologia? Comente.”

Houve unanimidade nas colocações dos docentes ao afirmar que é possível

acompanhar o desenvolvimento dos alunos dentro desta metodologia. Entretanto, todos

expressaram a falta de “tempo” como sua principal dificuldade para aplicá-la. Chegam a

considerar o “tempo” seu grande “inimigo”.

Como já mencionado no capítulo anterior, a metodologia baseada em competências

possui documentação própria. Essa documentação requer tempo para um bom planejamento,

preenchimento dos formulários de registro, ajustes necessários durante o módulo trabalhado e

retorno da avaliação aos alunos durante o processo de ensino.

Apesar das dificuldades encontradas pela falta de tempo, os docentes conseguem ver a

evolução dos alunos. Além disso, eles sabem que um trabalho mais produtivo será decorrente

da própria habilidade na aplicação da metodologia baseada em competências, já que ela

proporciona uma integração ainda maior entre eles.

Considerando também que, para a construção da situação de aprendizagem, faz-se

necessário o planejamento interdisciplinar e o acompanhamento das fases trabalhadas, o

diálogo entre os docentes se torna de grande importância. Se eles estiverem trabalhando

determinado assunto poderão trocar informações entre si, de modo que seus colegas possam

dar sequência ao assunto já iniciado.

Assim, é reforçado ao docente que, ao elaborar a situação de aprendizagem, ele deve

considerar a complexidade do que será desenvolvido. Essa situação exigirá dos alunos uma

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atitude ativa e um esforço ainda maior para buscar suas próprias respostas, seu próprio

conhecimento, suas próprias competências.

Ademais, ao planejar e construir as situações de aprendizagem, o docente deve

desenvolver capacidades que levem o aluno à constituição de competências ao longo do

processo formativo. Enfatizando, é no processo de formação do aluno que se fornece a

ferramenta mais consistente ao docente, que aponta os progressos feitos pelo aluno e os

desvios que estão ocorrendo, impedindo-o de chegar aos resultados esperados.

Por isso, a forma mais eficiente de acompanhar os progressos e desvios dos alunos

durante o processo de ensino é a avaliação, que ocorre simultaneamente com o próprio

processo.

Corrobora Perrenoud (1999) com tal posicionamento, afirmando que a avaliação é

formadora quando auxilia o docente a ensinar melhor e o aluno a aprender significativamente.

A avaliação anda lado a lado com esse processo, para verificar se o que se pretende ensinar

está sendo aprendido pelo aluno.

4.2 Entrevistas e a Relação Teoria-Prática no Fazer Pedagógico

Concluída a aplicação do questionário para os docentes, em um segundo momento, foi

realizada a entrevista, considerada uma das principais metodologias para a coleta de

informações no âmbito da pesquisa qualitativa. Através dela, busquei obter informações

contidas na fala dos docentes que vivenciam a realidade que está sendo focada na pesquisa.

Conforme Ferreira e Amado, destaca-se a especificidade da entrevista “distintamente

de outras formas de coleta de depoimentos, deve estar sempre inserida num projeto de

pesquisa e ser precedida de uma investigação aprofundada, baseando-se em um roteiro

cuidadosamente elaborado” (FERREIRA;AMADO, 2005, p. 24).

A entrevista pressupõe uma interação pessoal entre o pesquisador e o pesquisado, e

pode ser de vários tipos: entrevista estruturada, entrevista não estruturada e a entrevista semi-

estruturada.

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Neste estudo, optei por utilizar a entrevista semi-estruturada, com questões abertas que

se desenvolvem a partir de um roteiro previamente definido pelo pesquisador. Ao mesmo

tempo, tais questões procuram dar liberdade de manifestação aos pesquisados, criando uma

relação de confiança entre o pesquisador e o pesquisado.

De acordo com Triviños (1987), a entrevista semi-estruturada tem obtido melhores

resultados e é a mais indicada para as pesquisas educacionais, pelo seu caráter flexível. As

informações são obtidas a partir de um roteiro previamente elaborado, com questões

fundamentadas nas teorias e hipóteses que norteiam a pesquisa.

O objetivo destas entrevistas foi o de captar como os docentes entendem a

metodologia baseada em competências, na relação existente entre a teoria e a prática no seu

fazer pedagógico. Sendo assim, os docentes participantes da entrevista comentaram sobre:

“qual o seu entendimento sobre a metodologia baseada em competências, se os formulários

auxiliam na aplicação da metodologia, e se é possível acompanhar o desenvolvimento dos

alunos durante a aplicação da metodologia”.

As entrevistas foram realizadas com os docentes no período que abrange os meses

letivos de conclusão do ano, ou seja, entre os meses de novembro e dezembro de 2009. Elas

foram organizadas para servirem de encaminhamento e estímulo ao diálogo estabelecido entre

o entrevistador e o entrevistado, com uma duração média de 30 minutos cada. Participaram

das entrevistas quatro docentes, sendo que um deles participou do questionário e da entrevista.

Com o devido consentimento dos interlocutores, as entrevistas foram gravadas e

depois integralmente transcritas para análise. Vale salientar que para preservar a real

identidade dos docentes participantes, foram utilizados nomes fictícios para cada um deles.

A entrevista com os docentes inicia com a seguinte indagação: “Conhecendo a

metodologia baseada em competências e sua aplicação nos cursos técnicos da EEP Senai do

Mobiliário, como você define esta metodologia?”.

Os docentes, em suas interpretações, responderam que a metodologia baseada em

competências possui um diferencial, ou seja, um aprendizado constante por parte do docente e

do aluno, permitindo o resgate do aprendizado a qualquer momento do processo.

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Todos destacaram a importância do papel do docente na aplicabilidade da

metodologia, justificando que através da integração de conteúdos e do trabalho em conjunto

eles conseguem alcançar a interdisciplinaridade. Esta, por sua vez, leva o aluno a entender a

dinâmica do mundo do trabalho e desenvolver a capacidade de lidar com a diversidade, com

situações novas e desafiadoras, para as quais os conhecimentos exigidos não são estanques

nem fragmentados, mas resultado da contribuição de diferentes áreas do conhecimento.

O docente Eduardo reforçou dizendo que considera “uma metodologia bastante

eficiente, na verdade um grande avanço na prática pedagógica, principalmente por basear-se

na prática da interdisciplinaridade, a qual integra de forma bastante especial todos os

conceitos vistos no módulo”. A docente Karine complementou dizendo que “o professor

torna-se um mediador do conhecimento, fazendo que o aluno busque cada vez mais o

aprofundamento do assunto a ser tratado”. Assim, essa metodologia fortalece o papel docente

e ao mesmo tempo, a formação como um processo de preparação para o trabalho e a vida, no

qual o vínculo com o mundo produtivo passa a ser a questão central na educação. Nesse

momento, importa que o sujeito se prepare para viver em um mundo mais competitivo. Esse

processo de formação deve ser construído pelo próprio sujeito e deve ter caráter permanente,

de aprender a aprender. Em suma, capacidade de desenvolver competências.

Dando continuidade à entrevista, perguntou-se: “Nas atividades diárias os formulários

utilizados por vocês, auxiliam na aplicação da metodologia?”

Os docentes responderam que os formulários são de grande importância, pois auxiliam

no registro das atividades propostas, na apresentação e estruturação dessas atividades, como

também para o registro do desempenho do aluno. Novamente, os docentes Karine e Luis

reforçaram em suas falas, que os formulários são ferramentas ricas em informações, que

facilitam o trabalho, porque garantem sua a organização na prática da interdisciplinaridade,

visando a melhoria de suas aulas.

Já, Luisa afirmou que os formulários são importantes, porém “exigem tempo e atenção

do docente para que sejam feitos registros precisos.” Nesse momento, novamente surge

palavra “tempo”, que por diversas vezes foi mencionada pelos docentes como uma

dificuldade encontrada no decorrer de suas atividades.

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Os formulários são documentos importantes para a metodologia, pois devem assegurar

a coerência na transposição dos referenciais teóricos para a prática, contemplando o

planejamento dos docentes, o acompanhamento da aprendizagem do aluno e os registros de

avaliação (SENAI/DN, 2000). Os formulários, que fazem parte da documentação própria do

SENAI, permitem que o professor visualize o momento de flexibilizar seu planejamento,

levando-o ao diálogo com os demais colegas para verificar se há necessidade de também

alterarem seus planejamentos. Permitem ao aluno acompanhar seu próprio desenvolvimento e

desempenho, registrado durante o processo ensino/aprendizagem.

A entrevista finalizou com a seguinte questão: “Você considera possível acompanhar o

desenvolvimento dos alunos aplicando a metodologia baseada em competências?”

Os docentes entrevistados concordaram unanimemente afirmando que é possível

acompanhar o desenvolvimento dos alunos aplicando a metodologia, desde que sejam

respeitados os princípios fundamentais da própria metodologia: o diálogo, a integração, a

contextualização do que é ou será trabalhado, a interdisciplinaridade, flexibilidade no

planejamento e a auto-avaliação. Os princípios mencionados pelos entrevistados remetem à

documentação própria do SENAI, os formulários, que utilizados corretamente permitem o

natural acompanhamento do desenvolvimento do aluno ao longo do processo de

ensino/aprendizagem, alcançando-se assim o êxito almejado.

Eduardo em sua fala reforçou que: “o acompanhamento e desenvolvimento do aluno

são extremamente essenciais. Sem ter o acompanhamento, não tem o porquê você aplicar a

metodologia. Entretanto, não é possível fazer a aplicação dela sem ter tempo e

acompanhamento”. Ele enfatizou claramente em sua fala que se não houver o

acompanhamento do desenvolvimento do aluno em seu percurso, não haverá a efetiva

aplicabilidade da metodologia.

Outra questão que ficou evidente nas entrevistas, e que deverá ser retomada, é o uso

inadequado dos termos e da nomenclatura própria da metodologia, tanto por parte dos alunos

quanto dos professores. Acredito que haverá melhor comunicação e entendimento da

metodologia se os participantes do processo fizerem a utilização da linguagem apropriada.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados obtidos através das respostas dos questionários e entrevistas foi

possível observar que os docentes repetiram falas importantes e reveladoras. Pode-se destacar,

por exemplo, a dificuldade de tempo encontrada para, entre outras atividades, o

preenchimento dos diversos formulários que fazem parte da documentação própria da

metodologia.

Como já citado no capítulo II, são muitos os formulários que devem ser preenchidos

pelos docentes: a Organização Interna da Unidade Curricular (que é a parte inicial do

planejamento), a Situação de Aprendizagem, a Ficha de Acompanhamento do Aluno (o

docente precisa encaminhar a atividade de aula e, durante o seu desenvolvimento, ele deverá

dar o retorno individual aos alunos sobre as avaliações já realizadas; será também o momento

de auto-avaliação do aluno), o Plano de Desenvolvimento de Competências (planejamento

geral de todos os docentes que trabalharão no módulo) e o Acompanhamento do Processo de

Avaliação (planilha individual onde constam os registros avaliativos do docente).

A falta de tempo transparece também durante o processo já que, em diversas situações

e por diferentes fatores, o docente necessita modificar seu planejamento, de modo a retomar

as bases de conhecimento que estão sendo trabalhadas para auxiliar o aluno em sua

caminhada. Conforme é próprio da metodologia, há necessidade de flexibilizar o

planejamento pré-estabelecido.

A metodologia proporciona autonomia para criar, desafiar ou sentir-se desafiado pelos

alunos. Ela provoca uma sintonia na comunicação fazendo com que todos acompanhem o

processo que está sendo desenvolvido no módulo em andamento.

Percebe-se também que os diferentes entendimentos sobre a palavra competência

parecem ainda não traduzir a real amplitude do que deve significar o termo competência,

notadamente no campo profissional, pois este altera de forma significativa a lógica do

mercado de trabalho.

Conforme já foi afirmado anteriormente, o aumento da complexidade do trabalho e de

suas relações, bem como a crescente velocidade das mudanças tecnológicas e de gestão dos

recursos, provocaram a burocrática organização do trabalho. Essa organização do trabalho já é

prevista nos planos de curso.

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No contexto de cada plano de curso, estão descritas as competências profissionais e

referenciados os fundamentos metodológicos a serem adotados na ação pedagógica. Para isso,

utilizam-se instrumentos que possibilitem os registros pertinentes, que atendam a esta

proposta diferenciada. Dentro de cada plano de curso, nesse caso dos cursos técnicos, é

possível diferenciar o que é competência profissional de qualificação profissional.

Nessa nova realidade o SENAI adotou a seguinte definição de competência

profissional:

“Competência Profissional é a mobilização de conhecimentos, habilidades e atitudes

profissionais necessários ao desempenho de atividades ou funções típicas segundo

padrões de qualidade e produtividade requeridos pela natureza do trabalho” (SENAI.

DN, 2000, p. 15).

Esta definição está alinhada com a LDB - Lei nº. 9394/96, que a apresenta como um

conceito relacional que envolve a mobilização das capacidades das pessoas para as situações

reais de trabalho. Engloba, não somente as capacidades técnicas requeridas para o exercício

da tarefa, mas também um conjunto de comportamentos interativos. Entre eles, a tomada de

decisões, comunicação, organização do trabalho e outras situações necessárias ao pleno

desempenho no campo profissional.

Os docentes, em seu entendimento, compreendem que as competências profissionais

estão diretamente relacionadas à responsabilidade de resolver problemas, com conhecimentos

técnicos aprofundados, com flexibilidade, criatividade e iniciativa no desempenho eficiente e

eficaz de atividades requeridas em situações reais de trabalho.

Eles embasam seu entendimento, cientes das novas formas de organização do trabalho,

resultantes dos debates sobre as necessidades do mercado de trabalho, a reestruturação das

organizações e a consequente demanda por profissionais que atendam a essas exigências.

Zarifian (1998, p. 20) afirma que devemos entender por competência “o exercício

sistemático de uma reflexividade no trabalho”. Sob este ponto de vista, quanto mais complexa

e dinâmica for a situação de desempenho profissional, mais será necessária a reflexividade no

sentido de um frequente questionamento acerca da maneira de trabalhar e dos conhecimentos

que estas atividades mobilizam.

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Zarifian também resgata os quatro pilares da educação, apresentados por Delors, que

são: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a conviver e aprender a ser, para nos

mostrar o valor e a presença que eles tem em nossas atividades diárias.

Para entender do que se está falando ao tratar de competência profissional é

conveniente diferenciar seu significado de outro termo, mais antigo e amplamente utilizado:

qualificação profissional.

Um dos métodos utilizados para que se identificasse, de forma mais tradicional, a

qualificação requerida em determinada ocupação profissional, era a análise ocupacional, que

tinha por objetivo fazer um levantamento de todas as tarefas compreendidas por aquela

ocupação. A qualificação se traduzia em série de habilidades e conhecimentos para lidar com

uma tarefa específica.

As competências profissionais devem abranger as seguintes capacidades: Capacidades

Técnicas – que implicam o domínio de conteúdos no âmbito do trabalho, de conhecimentos e

habilidades pertinentes; Capacidades Organizativas – que levam o profissional a coordenar as

diversas atividades de trabalho, participar da organização do ambiente e administrar racional e

conjuntamente os aspectos técnicos, sociais e econômicos; Capacidades Sociais – que dão

condições para que o profissional possa responder às relações e aos procedimentos

estabelecidos na organização do trabalho; e Capacidades Metodológicas – que dão ao

profissional a possibilidade de responder a situações novas e imprevistas que se apresentam

no trabalho com relação a procedimentos.

Todas essas capacidades são transferíveis para situações e contextos de trabalho. Cabe

aqui ressaltar que as capacidades técnicas constituem as chamadas competências específicas,

e que as capacidades organizativas, sociais e metodológicas constituem as competências de

gestão. Necessárias para o desenvolvimento das competências específicas e das competências

de gestão, as competências básicas são essenciais para o desempenho profissional, e

envolvem os fundamentos técnico-científicos, de caráter geral e polivalente, em que se

baseiam as competências específicas e de gestão relativas à qualificação profissional.

Atualmente, o SENAI adota o seguinte conceito para isso:

“Qualificação Profissional é um conjunto estruturado de competências com

possibilidade de reconhecimento no mercado de trabalho, as quais podem ser

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adquiridas mediante formação, experiência profissional ou pela combinação de

ambas” (SENAI. DN, 2000, p. 11).

Dentro desta perspectiva, toda qualificação profissional deve ser definida em termos

de competências profissionais, que reúnem todas as capacidades - técnicas, metodológicas,

organizativas e sociais – necessárias para o desempenho profissional adequado às exigências

do mercado de trabalho.

A identificação da competência está baseada na análise funcional, que parte dos

resultados ou objetivos esperados, em função do sistema de trabalho. Os objetivos se

desdobram em atividades, e estas em conhecimentos, habilidades e atitudes requeridas.

Busca-se estabelecer um elo entre os resultados e a apresentação de conhecimentos e

habilidades.

É evidente que as mudanças verificadas no mercado de trabalho nos últimos tempos

impactam diretamente na educação profissional, que deve, em última análise, prover este

mercado de colaboradores com o perfil demandado e possibilitar a navegabilidade destes

profissionais num cenário tão dinâmico e volátil como o atual.

Diante dessas mudanças, tanto as instituições, quanto os profissionais da educação

profissional ficam com algumas questões a serem respondidas:

- Mas a escola, desde sua criação, não tem desenvolvido as competências de seus alunos?

- Mudar a lógica do ensino baseado em conteúdos para a lógica da educação baseada em

competências é apenas uma atualização da terminologia ou representa o repensar de práticas

pedagógicas, de organizações curriculares, de formas de avaliação e de postura dos docentes?

- Os conteúdos perderão sua relevância ao se adotar a educação baseada em competências?

Tais questionamentos têm atingido educadores, governantes, empresários e

profissionais que buscam ingresso ou permanência no mundo do trabalho. Por tudo o que já se

pode observar, existem, sobre o assunto, algumas manifestações radicais, que devem ser

analisadas com precaução.

De um lado, afirma-se que a escola sempre desenvolveu competências. A educação

profissional sempre capacitou para o trabalho e a nova visão nada mais é do que um modismo

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passageiro. De outro lado, há os que pregam o total desprezo aos conteúdos e às avaliações de

aspectos cognitivos, e somente consideram válidos os desempenhos aplicáveis ao trabalho.

Diante destas contradições, constata-se que a mudança da lógica dos conteúdos para a

lógica das competências não é tarefa fácil. Engloba conceitos extremamente enraizados nos

modelos tradicionais de educação, e não somente da educação profissional.

Na metodologia baseada em competências há uma alteração que tem se apresentado

como necessária para que se desenvolva uma educação profissional realmente baseada em

competências. É o incremento da participação dos mais diferentes atores sociais nas

atividades de prospecção de demanda, levantamento de perfis profissionais e planejamento

estratégico das ofertas formativas a serem implantadas.

A participação de representantes do poder público, de entidades educacionais, de

empresas privadas, de sindicatos patronais e de trabalhadores, e da comunidade em geral

através de Comitês Técnicos Setoriais, tende a produzir ricas discussões, a partir de diferentes

pontos de vista, sobre a questão da educação profissional e seus impactos na sociedade.

Os programas a serem oferecidos podem então ser definidos de forma descentralizada

e seus impactos dependem da capacidade de articulação e mobilização dos atores, em torno da

efetividade da oferta formativa e dos anseios dos profissionais.

Nesta perspectiva, extrapola-se a lógica da análise ocupacional – de adequação ao

posto de trabalho e às tarefas – para a lógica da análise funcional – que parte de funções mais

amplas e abrangentes, visando à descrição dos perfis profissionais segundo competências

básicas, específicas e de gestão.

Outro enfoque que se altera é a evolução do conceito de currículo. Ao longo da

história a palavra currículo tem sido considerada a listagem de conteúdos programáticos, nos

quais “[...] se ordena a cultura essencial, mais elaborada e elitizada [...] centrada nos

conteúdos como resumo do saber culto e elaborado sob formação das diferentes disciplinas”

(SACRISTÁN, 2000, p. 39).

Nesse contexto, muitas escolas tornam seu discurso contraditório em relação às atuais

exigências educacionais, pois seguem ligadas a tradições que induzem ao processo de

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padronização de comportamentos e conhecimentos, levando a crer que o currículo é nada

mais do que uma grade de conteúdos a serem ministrados.

A palavra currículo como construção cultural não é abstrata, já que equilibra os

interesses sobre o sistema educativo. Sacristán reforça tal ideia dizendo que “[...] o currículo

reflete o conflito entre interesses dentro de uma sociedade e nos valores dominantes que

regem os processos educativos” (2000, p. 17).

Na metodologia baseada em competências, utiliza-se um novo desenho curricular,

baseado em uma estruturação flexível e modular. O que aponta para a construção de

itinerários formativos, que partem do geral, da visão mais global (módulo básico), para o

enfoque específico no desenvolvimento das competências previstas (módulos específicos) no

percurso de capacitação. Isso permite que o aluno trace seu itinerário, segundo suas

necessidades, privilegiando a educação continuada.

Neste novo currículo, cai também a visão cartesiana e compartilhada da divisão dos

conteúdos programáticos em disciplinas estanques e isoladas entre si, que não estimulam o

aluno a estabelecer as correlações necessárias entre as diferentes áreas do conhecimento.

Substituindo estas disciplinas, surgem as unidades curriculares, estruturadas a partir de

unidades de competência definidas no perfil profissional, que lançam mão, de forma

integrada, de todos os conhecimentos necessários, independentemente da área, para que o

aluno desenvolva as competências em questão.

Na educação profissional baseada em competências, é fundamental o atendimento

individualizado ao aluno nos aspectos didático-pedagógicos, já que eles têm experiências de

vida diferentes, podem não ter os mesmos pré-requisitos e, por certo, não terão o mesmo

desempenho frente às diferentes situações apresentadas.

No deslocamento da lógica dos conteúdos para a lógica das competências, é preciso

entender que, como afirma Perrenoud (2001), “a trilogia das habilidades – ler, escrever e

contar – que fundou a escolaridade obrigatória, no século XIX, não está mais à altura das

exigências de nossa época”.

Essa afirmação Perrenoud reforça a importância que a metodologia baseada em

competências tem, quanto a sua aplicabilidade na mobilização de conhecimentos, habilidades

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e atitudes necessárias ao desempenho das atividades profissionais. Acredito que estamos no

caminho certo, apesar das dificuldades relatadas, e que os documentos próprios do SENAI,

utilizados na metodologia, devem ser constantemente enriquecidos por experiências

vivenciadas no dia-a-dia de nossa realidade educacional.

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103

APÊNDICES

APÊNDICE A – Questionário de pesquisa aplicado aos docentes dos Cursos Técnicos da

EEP SENAI do Mobiliário.

QUESTIONÁRIO (SEMI – ABERTO) DE PESQUISA

O presente questionário será parte integrante e fundamental da pesquisa de

Dissertação, que será apresentado à banca examinadora do Curso de Mestrado em Educação,

do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como exigência para obtenção do grau de

Mestre em Educação.

O questionário objetiva coletar informações sobre a compreensão e aplicabilidade da

Metodologia Baseada em Competências, nos Cursos Técnicos da Escola de Educação

Profissional SENAI do Mobiliário, de Bento Gonçalves.

Agradecemos sua contribuição e, desde já, ficamos à disposição para eventuais

esclarecimentos.

Nome: (Fictício)

- O que você entende por competência?

- Qual sua percepção e entendimento sobre a metodologia baseada em competências?

- Nos princípios pedagógicos fala-se em "planejar em conjunto". O que você pensa disso?

- Qual sua opinião sobre os formulários? Você sugere alguma modificação nos mesmos?

- Qual a importância de planejar situações de aprendizagem para o desenvolvimento de

competências?

- Que estratégias, instrumentos e técnicas você utiliza para ajudar o aluno a desenvolver

habilidades e competências?

- Quanto à avaliação baseada em competências, que aspectos você considera relevantes?

- Como você avalia? E o que pensa disso?

- Você considera possível acompanhar o desenvolvimento dos alunos dentro desta

metodologia? Comente.

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APÊNDICE B - Questionário de pesquisa aplicado aos docentes dos Cursos Técnicos da

EEP SENAI do Mobiliário.

ENTREVISTA SEMI - ESTRUTURADA DE PESQUISA

A presente entrevista será parte integrante e fundamental da pesquisa da dissertação,

que será apresentado à banca examinadora do Curso de Mestrado em Educação, do Centro

Universitário La Salle – Unilasalle, como exigência para obtenção do grau de Mestre em

Educação.

A entrevista objetiva coletar informações sobre a compreensão e aplicabilidade da

Metodologia Baseada em Competências, nos Cursos Técnicos da Escola de Educação

Profissional SENAI do Mobiliário, de Bento Gonçalves.

Agradecemos sua contribuição e, desde já, ficamos à disposição para eventuais

esclarecimentos.

Nome: (Fictício)

- Conhecendo a metodologia baseada em competências e sua aplicação nos cursos técnicos da

EEP Senai do Mobiliário, como você define esta metodologia?

- Nas atividades diárias os formulários utilizados por vocês, auxiliam na aplicação da

metodologia?

- Você considera possível acompanhar o desenvolvimento dos alunos aplicando a

metodologia baseada em competências?

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ANEXOS

ANEXO A - Documento que constitui a Metodologia Baseada em Competências

Elaboração dos Comitês Técnicos Setoriais (2004)

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ANEXO B - Documento que constitui a Metodologia Baseada em Competências

Elaboração do Desenho Curricular (2004)

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ANEXO C - Documento que constitui a Metodologia Baseada em Competências

Avaliação e Certificação de Competências (2004)

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ANEXO D - Documento que constitui a Metodologia Baseada em Competências

Elaboração de Perfis Profissionais (2004)

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109

ANEXO E - Documento que constitui a Metodologia Baseada em Competências

Glossário para o Desenvolvimento e Avaliação de Competências: Formação e

Certificação Profissional (2004)

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110

ANEXO F - Documento que constitui a Metodologia Baseada em Competências

Norteador da Prática Pedagógica: Formação com Base em Competências (2006)

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111

ANEXO G - CONJUNTO DE INSTRUMENTOS DE REGISTRO

Escola de Educação Profissional SENAI do Mobiliário

Anexo I – Organização Interna da Unidade Curricular

Curso:

Unidade de Competência:

UNIDADE CURRICULAR: Carga Horária: Módulo:

Objetivo Geral:

Objetivos Específicos Critérios de Avaliação Conteúdos Formativos

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ANEXO H - CONJUNTO DE INSTRUMENTOS DE REGISTRO

Anexo IIA – Situação de Aprendizagem

Escola de Educação Profissional SENAI do Mobiliário

Curso: ANEXO IIA

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM

Situação de Aprendizagem Nº. Módulo: Turma:

Unidade de Competência:

Unidade(s) Curricular (es):

Docente (s):

Duração: Data do Início: Data do Término: Apresentação da Situação de Aprendizagem: Resultado(s) final(is) esperados(s):

Bibliografia:

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ANEXO I - CONJUNTO DE INSTRUMENTOS DE REGISTRO

Anexo IIB – Ficha de Acompanhamento da Aprendizagem do Aluno

Escola de Educação Profissional SENAI do Mobiliário

ANEXO IIB - FICHA DE ACOMPANHAMENTO DA APRENDIZAGEM DO ALUNO

Curso: Situação de Aprendizagem N°:

Conceito Descrição

A O aluno apresentou evidências adequadas durante o desenvolvimento do trabalho, obtendo os resultados esperados.

B O aluno apresentou evidências parcialmente adequadas durante o desenvolvimento do trabalho, sem comprometer os resultados obtidos.

C O aluno não apresentou evidências adequadas durante o desenvolvimento do trabalho,

comprometendo parcialmente os resultados obtidos.

D O aluno não apresentou evidências adequadas durante o desenvolvimento do trabalho, comprometendo muito ou totalmente os resultados obtidos.

Nº. e Descrição da

Atividade

Resultado Parcial

Indicador Critérios de Avaliação

Atendido Conceito Observações

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ANEXO J - CONJUNTO DE INSTRUMENTOS DE REGISTRO

Anexo IIC – Plano para Desenvolvimento de Competências

Escola de Educação Profissional SENAI do Mobiliário

ANEXO IIC - PLANO PARA DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS – PDC

Curso: Módulo: Turma:

Situação de Aprendizagem Nº: CH:

Unidade(s) Curricular(es):

Docentes:

Descrição das Atividades

Objetivos Específicos

Critérios de Avaliação

Conteúdos Formativos

CH

1

2

3

4

5

Estratégias Didáticas Instrumentos/técnicas de

Avaliação Recursos Didáticos de

Apoio

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ANEXO K - CONJUNTO DE INSTRUMENTOS DE REGISTRO

Anexo III – Acompanhamento do Processo de Avaliação

Escola de Educação Profissional SENAI do Mobiliário

ANEXO IIII - ACOMPANHAMENTO DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO

Nº do Alu no

Nome do Aluno

Indicadores / Conceito do aluno Com ceito

Final

Resultado

Parcial 1

Resultado Parcial 2

Resultado Parcial 3

1 2 3 4 C 1 2 3 4 5 C 1 2 3 4 5 6 7 8 9 C

Curso Técnico: Módulo

:

Turma:

Unidade(s) Curricular (es):

Docentes: Situação de Aprendizagem Nº.

C/H:

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ANEXO L - CONJUNTO DE INSTRUMENTOS DE REGISTRO

Anexo IV – Avaliação Final no Módulo

Escola de Educação Profissional SENAI do

Mobiliário

Anexo IV - AVALIAÇÃO FINAL NO MÓDULO

Curso Técnico:

Módulo: Turma:

Unidade(s) Curricular(es):

Docentes:

Nº. do Aluno Nome do Aluno

Conceito Final na Situação de Aprendizagem Conceito

Final no Módulo

SAPZ Nº

SAPZ Nº

SAPZ Nº

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RESUMO DAS SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM:

Situação de Aprendizagem N.º:

Início: Término: Carga horária realizada:

Situação de Aprendizagem N.º :

Início: ____/____/____ Término: ____/____/____ Carga horária realizada: _______

Data: Docentes: ________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________