a maturidade das missões pilartes

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O Ensino em Angola

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Page 1: A Maturidade Das Missões Pilartes
Page 2: A Maturidade Das Missões Pilartes

Capitulo I - A Maturidade das Missões: Colher No Terreno1.1 Expansão e relocalização

No início do crescimento das missões, entre os vários factores que influenciavam a

localização das estações estavam a existência de linhas de comunicação, população local que não

fosse hostil, um clima que não fosse demasiadamente rigoroso e, frequentemente, a proximidade

de uma grande população. Com o tempo e a experiência, as decisões anteriores foram consolidadas

ou revistas. A tomada de novas decisões significava a maturidade crescente das missões angolanas.

Nem todas as missões amadureciam ao mesmo ritmo. Por esta razão, é impossível

apresentar uma cronologia do seu estágio de desenvolvimento. Algumas missões atingiram um

estágio de expansão consciente. Outras não fizeram mudanças de vulto e não atingiram a

maturidade. Noutros casos, ainda novas organizações missionárias entraram de facto em Angola. A

abordagem que se segue tem em conta vários estágios posteriores do contínuo crescimento das

missões, ao mesmo tempo que identifica novas direcções da política após 1896.

A razão mais óbvia para a expansão das missões era o êxito anterior. Essa expansão era

tanto linear como centrífuga. A expansão linear reflectia o estabelecimento de novas estações por

missionários satisfeitos com a permanência das suas missões originais. Por exemplo, embora a

BMS se tivesse expandido muito mais no Congo Belga, em 1800 abriu novas missões entre os

Bazombo, a leste de São Salvador, em Kibokolo. A razão para a escolha desse local c digna de

menção. A área era mais populosa a norte de Makela, onde os comerciantes portugueses haviam

começado a reunir-se. A BMS optou por evitar esses comerciantes e respondeu aos chefes de

Kibokolo, que viam na presença da BMS unia protecção contra os assaltos desses comerciantes em

busca de carregadores e trabalhadores comutados (serviçais), para serem enviados para São Tomé.

Em 1904, a BMS estabeleceu uma outra estação com Mabaya, na orla sul dos Batango,

entre Bembe e a costa. Aqui, a hostilidade inicial desvaneceu-se e, em 1912, a missão estava

inundada de crianças.2 Contudo, no espaço de três anos, o restabelecimento da cobrança de

impostos por parte do governo deu origem a uma revolta local, que causou o abandono de Mibaya.

Os católicos também se explanaram a partir de São Salvador, tendo aberto estações em

Madimba, para o sul, em 1.897, e em Santo António do Zaire em várias ocasiões. No entanto, tal

como acontecera anteriormente, a incapacidade de Cernache preparar missionários impediu

qualquer êxito significativo essa área. Muito mais tarde, porém, um outro movimento ajudou a

revitalizar os esforços católicos nessa área. Em 1899, o governo consentiu no apelo contínuo dos

padres por assistência para ensinaras raparigas locais, para assim criar “o mais forte elemento de

resistência à propagaria protestante”.4Só em 1908 chegaram as primeiras freiras da Ordem

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Franciscana de Maria.

Outro bom exemplo da expansão linear eram as missões do Espirito Santo, sob a direcção

do padre Lecomte. Embora a missão mãe de Caconda fosse o local de uma colonia branca, estava

apenas na orla das áreas densamente povoadas do Planalto do Bié. É claro que Lecomte já havia

tentado convencer os portugueses da sua necessidade de expansão para leste, a fim de prevenir a

invasão estrangeira a partir das Terras de Barotse. Todavia, a orientação los seus esforços era no

sentido de consolidar a presença entre os Ngangela e os Ovimbundu, primeiro em Cachingues, de

1892 a 1910, e depois em Belmonte, no Bailundu (1896) e no Sambo (1912), Mais tarde surgiram

debates sobre uma nova estação no Huambo.

Os membros da Congregação do Espírito Santo, que operavam a partir da Huíla, também

continuaram a sua expansão linear. Aqui, mais do que em qualquer outra parte de Angola, a

extensão missionária estabelecera os limites da presença portuguesa e precedera o controlo

administrativo. Apenas por esta razão o governo favoreceu a extensão. A partir da vizinhança

próxima da Huíla, as estações missionárias estenderam-se para sudeste, em Tipelongo (1900), e

para além do Rio Cunene, nas terras dos altamente apreciados Cuanhama, na orla norte da

expansão dos Luteranos alemães.

No leste, duas outras missões evidenciaram grande expansão linear. Apercebendo-se que a

sua estação em Nana Kandundu, pensada inicialmente para colmatar a lacuna na sua rede de

comunicação, não se encontrava na área mais populosa dos Lovale, em 1899, os Irmãos de

Plymouth construíram uma nova estação em Kazombo, mais a sul. Sete anos mais tarde, numa

tentativa de encontrar um local saudável para uni hospital em maior altitude, os Irmãos iniciaram

uma grande estação no Morro de Kalene, que por acaso não estava sob controlo português, mas

sim britânico, facto que não escapou aos missionários.

A outra expansão a leste foi protagonizada pela missão do Espírito Santo, em Malanje.

Ansiosos por responder à necessidade de uma presença na área da Lunda, como fora identificada

por Henrique de Carvalho, e para satisfazer o seu próprio desejo de alcançar a área do alto Rio

Cuango, em 1900 deram início àquilo que, em muitos aspectos, seria a estação mais isolaria de

Angola. Situada entre a extensão mais oeste dos descendentes lunda do grande Muatiânvua, em

terras declaradas como portuguesas havia menos de três anos, a estação ficava localizada a 322 km

de Malanje, em Mussuco, na margem leste do Rio Cuango, perto da fronteira com o Congo Belga.

A importância dessa missão foi marcada pelo facto de o chefe da missão de Malanje, Padre Vítor

Wendling, ter feito, ele próprio, o trabalho pioneiro."’

Embora aparentemente uma forma menos importante, porque não envolvia uma dispersão

geográfica tão grande, a expansão centrífuga terá, mais do que a sua parente linear, representado

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um verdadeiro êxito. A expansão centrífuga desenvolvia-se quando uma dada missionária tivesse

um efeito positivo crescente sobre as populações, vizinhas. Numa fase inicial, desenvolveram-se

para algumas missões estações satélite sob orientação de catequistas-professores. Porem, a

expansão nesta forma era principalmente um sinal inicial de maturidade. As três formas comuns,

através cias quais esta expansão se manifestava, eram a resposta à evangelização missionaria, a

reacçào espontânea à influência missionária em geral e os esforços conscientes dos catequistas ou

dos outros africanos.

Poderá parecer que esta forma de expansão era uni sinal natural de êxito. Contudo, nem

todas as missões praticavam uma política que permitisse esse tipo de expansão. O costume da

missão da Huíla e das suas filiadas, de limitar a sua influência a pessoas compradas como escravas,

significava que, uma vez convertidas ou de outro modo afectadas pela sua nova experiência, essas

pessoas iriam estabelecer a sua própria comunidade católica por perto, em vez de tentarem

alcançar os africanos vizinhos com os quais raramente tinham afinidades tribais e que poderiam até

mesmo ter tido um papel decisivo na sua anterior escravização. Mas em 1896, até mesmo essa

missão começou a seguir uma política de extensão centrífuga. Um exemplo do êxito inicial foi o

estabelecimento de uma estação em Munyino, em 1898.

No entanto, havia outras missões muito mais activas nesse tipo de expansão. Depois de

1895, a ABCFM testemunhou uma explosão virtual das actividades das estações satélite,

especialmente das escolas. Em 1903, só em Kuanjulula havia nove estações satélite filiadas," A

frequência às escolas das estações satélite duplicou rapidamente, e depois triplicou a da escola da

estação. De modo semelhante, a BMS reportava que, nos primeiros quatro meses de 1904,

iniciaram vinte e duas escolas de estações satélite, elevando para mais de setenta o total das escolas

a actuar, na altura, a partir de São Salvador. Todas as outras organizações missionárias seguiam

uma política que advogava expansão semelhante, ou pelo menos que não a desencorajava. No

entanto, nenhuma foi tão bem sucedida como a ABCFM ou a BMS.

O crescimento de uma outra linha férrea também influenciou a relocalização missionária.

Iniciada em 1903 com capital britânico, Os Caminhos-de-ferro de Benguela visavam estender-se

até às terras de Katanga, ricas em cobre. Quando o trabalho foi temporariamente suspenso devido à

I Guerra Mundial, a linha já se estendera além do Huambo (mais tarde Nova Lisboa), até ao

Chinguar. Dentro em pouco, quer os Padres do Espírito Santo, quer a ABCFM, haviam construído

uma importante estação missionária ao longo da linha férrea. Em 1911, essa localizava-se no

Huambo, com o intuito de alojar a sede e reparar as instalações dos caminhos-de-ferro.

A ABCFM, após ter debatido as vantagens de se localizar perlo dos novos sinais de

modernização e crescimento do controlo português, percebeu finalmente que os caminhos-de-ferro

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estavam a área num virtual “laboratório do cristianismo”. Não existem dúvidas de que os

caminhos-de-ferro, tanto como a depressão do comércio de borracha após 1902, reduziram a

necessidade dos Ovimbundu, especialmente dos rapazes, viajarem para longe de casa como

carregadores ou comerciantes. Com a nova permanência destes, veio um grande aumento pela

procura de educação. Simbolizando esta mudança estava a localização da primeira escola pós-

primária da ABCFM, em Dondi, em 1914.

Enquanto as primeiras sociedades missionárias avançavam em direcção à maturidade, dois

novos grupos tentavam estabelecer a sua presença em Angola. Ambos eram protestantes e ambos

representavam tentativas de cidadãos individuais de estabelecer uma organização missionária sem

ligação directa com uma organização eclesiástica estabelecida. Como linguista do primeiro grupo

de missionários do Bispo Taylor, Héli Chatelain fora responsável por produzir os primeiros

materiais literários dessa missão em Kimbundu. Mais tarde, tentou em vão obter o apoio do

governo português e da ABCFM para dar início a uma escola secundária integrada em

Moçâmedes. De regresso aos Estados Unidos, Chatelain organizou a Philafrican Liberators

League, que tinha por objectivo “pôr fim à escravatura e servir a Deus”.'8Após ter angariado

dinheiro através das universidades e grupos eclesiásticos nos Estados Unidos e na Europa, em

1897, chegou a Benguela com outros cinco missionários. Tentou comprar escravos, treiná-los e

formá-los numa comunidade auto-suficiente de artesãos, na herança cio Bispo Taylor. A sua

estação em Caluquembe foi renomeada “Lincoln”, em homenagem ao libertador americano.

Durante os primeiros anos, que foram passados a construir a estação e a fazer viagens

ocasionais pelas redondezas, chegaram mais seis missionários, incluindo três médicos. Porém,

Chatelain era autocrático e paternalista e existia um constante conflito de autoridade entre ele e os

seus colaboradores.19 Ern Janeiro de 1901, todos os outros haviam partido, alguns deles haviam-se

juntado à ABCFM mais para o interior.

Em breve Chatelain encontraria apoio no seu país de origem, a Suíça, onde o nome mudou

para Mission Philafricaine. Vários novos missionários, todos eles artesãos, especialistas em

agricultura ou

mecânicos, juntaram-se a Chatelain, mas o progresso era lento. Em 1907, regressava à Europa um Chatelain doente. Um ano mais tarde, um incêndio tornou necessária a reconstrução total da estação, uma tarefa esgotante para uma missão auto-suficiente. O progresso era muito lento; o primeiro livro em umbumdu foi publicado em 1910 e só em 1912 foi baptizado o primeiro africano. No início da I Guerra Mundial existia urna escola, dois missionários, não existiam estações satélite e as comunicações com a Suíça eram difíceis.

Mais para norte, iniciou-se, em 1903, uma nova missão protestante das terras falantes de

inglês. Sob a orientação de M. Z. Stober, um indiano ocidental com uma esposa escocesa, a Missão

Evangélica de Angola dedicava-se especialmente ao evangelismo através da cura pela fé. Stober

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estabeleceu várias missões ao longo da costa, no Ambriz, Ambrizete e Musserra. As doações da

Grã Bretanha eram escassas e Stober usava uma grande percentagem dos recursos para as suas

necessidades pessoais. Por essa razão, embora a missão não fosse auto-sustentada, os missionários

eram tão pobres que tinham de praticar um ofício ou agricultura para a sua própria subsistência.

Como resultado, existia uma elevada taxa de rotatividade entre os missionários. Nos seus métodos,

optavam por destacar o português nas suas escolas e o kikongo para evangelizar. Em resultado,

desenvolveram boas relações com os portugueses e com alguns convertidos entre os africanos

evangelizados. Todavia, por mais de uma década, o seu impacto foi mínimo.

1.2 O empenho na educação: evolução e crescimento

A expansão da actividade missionária levou a uma mais ampla disponibilização de escolas

e a um ensino melhor. Após um início improdutivo, a actividade escolar começou a colher

resultados crescentes. Embora as novas missões e estações, que se iniciaram através da expansão

linear das missões existente, tenham experimentado frequentemente dificuldades semelhantes às

descritas no IV, o quadro geral era claro. A frequência o quadro geral era claro. A frequência à

escola estava a tornar-se uni factor muito importante na vida dos africanos em Angola.

Mais alunos iam à escola. A regularidade da frequência aumentou. As estatísticas, por si só,

dizem muito da história (ver tabela 2).

Tabela 2. Crescimento da Frequência nas Escolas dos Missões, 1901-1914

Missões Protestantes

BMS líMS MIC FM

(SÃO

Sm.VADOI!)

(Kjrokou >) (Totai)An

o

Alunos Ai.unos Ai.unos

19

01

7.1« 1146

19

03

1 118 4! 2 20419

05

« 755 95 1 74519 3 039 130 4 Pi"119

14

.1 ,V>I 15 5 002

Dois factores importantes contribuíram para este crescimento espectacular. O primeiro foi a

rapidez com que os africanos mostravam interesse em se tornarem professores-catequistas. Embora

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isso significasse baixar os padrões à medida que as escolas se espalhavam por toda a área rural,

também significava uma elevação dos padrões, uma vez que as escolas das estações atraiam os

melhores alunos das escolas rurais.

Todas as missões davam cursos informais para professores, muitos dos quais tinham, eles

próprios, pouca escolaridade. Tratava-se frequentemente de cursos em exercícios, ministrado

durante as férias escolares. Á medida que as escolas pós-primarias se desenvolviam, a formação de

professores estava entre os cursos mais destacados.

Durante esse período, havia duas questões que recebiam» mais atenção do que qualquer

outra. A primeira delas era a preocupação com o ensino profissional, que sempre esteve no centro

do pensamento educativo missionário. Simbólica da atenção renovada foi, em 1896,a eleição pela

IME de Joseph CraneHartzell para substituir William Taylor como Bispo de África. Hartzell era

um administrador e educador, que passara a maior parte dos seus anos anteriores na América do

Sul. Apoiava calorosamente o conceito de um ensino especial, prático, para os negros americanos,

tal como se reflectia em escolas como o Hampton Institute, e insistia na sua relevância para

Angola:

Temos de enfatizar a fase profissional do nosso trabalho escolar. Em todas as escolas das

estações, durante metade do dia, rapazes e raparigas têm de se dedicar a qualquer tipo de ofício na

horta, na oficina ou em casa. Educar esta população nativa fora dos métodos práticos de

subsistência comuns entre eles, é causar-lhes danos irreparáveis.

A professora mais eficaz da IME, Louise Raven Shields, resumiu- -o instando a missão a

“dar a Angola escolas como as que os Estados Unidos têm no Sul”.

Embora essas ideias não fossem novas para o trabalho missionário em Angola, pelo menos

significavam alguma actividade. Após 1896, começaram a funcionar escolas profissionais em

Quiongua e Quessua. A missão assinava um acordo de aprendizagem de quatro ou cinco anos com

um dos pais. No fim desse período, o rapaz recebia algumas ferramentas de lenhador e era um

serrador qualificado. Se tivesse habilidade para carpintaria ou alvenaria, recebia mais ferramentas,

mas, entretanto, recebia “tanto ensino quanto o que nós podemos dar”, o que incluía cursos básicos

de alfabetização ministrados durante parte da tarde, dia sim, dia não. Em alvenaria, por exemplo, o

aprendiz aprendia a usar o esquadro, o nível e o prumo; em carpintaria era enfatizada a fabricação

de móveis e a reparação de edifícios.

A IME encontrara uma turma de institucionalizar os requisitos do trabalho que

anteriormente eram satisfeitos numa base ad hoc. O trabalho físico e a pouca relevância da

alfabetização eram os mesmos que descrevemos anteriormente relativamente às missões da Huila.

Todavia, os pais devem ter sentido que havia de facto alguma aprendizagem, como se pode ver

Page 8: A Maturidade Das Missões Pilartes

pelas cifras da frequência (ver Tabela 3).

Tabela 3. Frequência das Escolas da IME

Ano Quessua Quioscos

1911 54 75

1913 73 H i

I9I5 105 15

Fonte: WCAMC,

A direcção da ABCFM no seu país de origem viu finalmente a necessidade de um trabalho

semelhante. Uma delegação chamou, a Africa um terreno adequado “por excelência para missões

profissionais”. Ainda assim, recusou-se a sancionar uma escola especial de ensino profissionali-

zante. Deu-se por satisfeita com um departamento profissional para construção e reparações,

desligado do trabalho escolar, em cada estação. Essa decisão perturbou alguns dos seus

missionários, que, tal como os metodistas, tinham previsto especialmente uma transferência das

experiências do Sul da América, neste caso do Tuskegee InstituteA Afinal, escrevera um mis-

sionário, no beneficio da educação, o ensino formal de ofícios não é nem de importância primária

nem secundária, “caracter é o primeiro requisito num ensino profissionalizante”.

A BMS absteve-se do ensino formal de habilidades práticas num programa formal como o

das escolas profissionais. Embora os Irmãos de Ply-mouth treinassem os indivíduos “para

seguirem profusões honestas”, havia um cuidado especial em evitar “treinar os rapazes, para que

estes competissem com os brancos, nas cidades dos brancos”.

Nessa altura, a segunda questão a merecer uma grande atenção era a educação das

raparigas. Tradicionalmente, as raparigas não respondiam tão prontamente às escolas das missões.

Uma razão básica para isso era que, dada a responsabilidade económica da mulher na sociedade

africana, eram colocadas mais exigências ao tempo das raparigas do que dos rapazes.

Outras razões culturais e sociais eram igualmente importantes, Mas todos percebiam que

eram necessárias raparigas cristãs para consolidara educarão dos rapazes, pois ocorria

frequentemente que, quando os rapazes “tivessem idade suficiente para casar, voltavam aos

caminhos pagãos, porque não havia raparigas cristãs”.

Várias missões empreenderam acções positivas para responder a esse problema. Nas

missões protestantes, as mulheres acompanhavam sempre os seus maridos e a presença delas

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ajudou a atrair e a educar as raparigas. Contudo, o fornecimento de esposas missionárias era

impróprio. Os missionários católicos, exclusivamente masculinos, não tinham uma atracção

semelhante.

Por fim, muitas missões recrutaram mulheres solteiras para professoras. Os Padres do

Espírito Santo pediram o apoio da ordem de São José do Cluny, 45 das quais, em 1910, ensinavam

em missões centrais.32 O braço feminino da IME, a Woman s Foreign Missionary Society

(WEMS), começara a interessar-se muito por Angola. Em 1914, mais de metade de todos os

professores da IME em Angola haviam sido enviados pela WFMS. Outras missões tomaram

medidas semelhantes, senão tão extensivas.

Acreditava-se que era mais seguro para as professoras solteiras permanecerem nas estações

centrais das missões, em vez de irem para as missões satélite mais pequenas. Como resultado, nas

escolas das estações satélite havia muito mais rapazes do que raparigas. No entanto, nas escolas

das estações acontecia o contrário. Por exemplo, em Quessua e Quiongua, em 1915, a

superioridade numérica das raparigas era de 150 para 70. Não obstante, apesar do destaque dado à

educação das raparigas, era comum uma proporção de mm rapariga para dois ou três rapazes.

1.3 Ensino pós-primário

A primeira missão a oferecer ensino pòs-primário tê-lo rapidamente. O Bispo José

Sebastião transferira o seminário diocesano de Luanda para a Huila, em 1882. Por conseguinte, os

Padres do Espirito Santo iniciaram o ensino secundário quase ao mesmo tempo que começaram os

cursos primários. Esse ensino tinha lugar numa combinação de Seminário-Colégio (i.e., num

internato privado), completamente diferenciado das outras actividades da missão.i3 A grande

maioria dos alunos não era africana, mas filhos dos colonos madeirenses perto do Lubango e

Humpata.

A vida do seminário da Huíla pode ser dividida em três períodos distintos. No início do

primeiro período, foram construídos os edifícios especiais para o seminário, compreendendo três

salas de estudo, uma capela, um dormitório e quatro salas mais pequenas para vários usos. O

número de estudantes aumentou lentamente de 10, em 1883, para 14, em 1886. Era difícil maior

expansão, devi cio ao magro subsídio anual do governo de 150 mil-réis por estudante, comparados

com os 400 mil-réis pagos pelos estudantes particulares, que viviam separados dos seus colegas

mais pobres, embora partilhassem as mesmas aulas e os períodos de recriação.

O início do segundo período data de 1886, quando o Bispo Leitão e Castro persuadiu o

governo a aumentar o seu subsídio anual para o seminário de 18 OOO para 31 600 mil-réis,

permitindo deste modo um aumento do número de estudantes de 15 para 40. Porém, os colonos

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madeirenses continuaram a ser o alvo principal, ainda que a vocação para a vida sacerdotal fosse

rara entre eles. Não obstante, quando o Bispo visitou a Huíla, em 1887, ficou tão satisfeito com a

capacidade dos estudantes do seminário de responderem a perguntas em latim, que começou a

enviar uni salário anual de 1 944 mil-réis para cada padre, o mesmo que o de um pároco secular.

Porém, em 1890, o tom de Luanda mudou. As matrículas no seminário aumentavam. Juntamente e

o bispo ameaçava enviar crianças africanas de Luanda, caso não houvesse 37 estudantes matricula-

dos em breve. O chefe da Huíla, Padre José Mana Antunes, receava “receber africanos de Luanda,

devido aos vícios que eles já haviam adquirido através do contacto com os europeus da cidade”.”

Em resultado, foram transferidos alguns dos melhores alunas africanos das escolas da missão, a

fim de elevar para 45 o número no seminário. Em 1891, havia 48, mais da metade dos quais eram

filhos dos colonos madeirenses.

É errado crer que todos os estudantes do seminário frequentavam o curso de nível

secundário. De facto, dos 51 em 1893, 3 estudavam teologia, 15 latim e outros cursos da escola

secundária, mas 32 permaneciam no curso primário. Para justificar um seminário separado do resto

da missão, os Padres do Espírito Santo insistiam na “formação de aspirantes à vida sacerdotal esse

nobre fim, o Estado Clerical”. Os resultados dessa política, no entanto, eram menos do que

esperados. A principal razão para este estado de coisas era que, embora os filhos dos colonos

madeirenses exibissem uma boa atitude e tivessem perseverado, os pais deles “arrancavam-nos à

força desse asilo de devoção em que tinham crescido”.’7 Ao verem isto, muitos estudantes

africanos começaram a desistir do seu compromisso e eram enviados do seminário de volta para o

orfanato.

A redução do número foi evitada, porque o regresso em férias de um estudante fervoroso,

Manuel Ramos Ferreira, à sua casa em São Tomé, em 1893, incentivou várias pessoas dali a

enviarem os seus filhos para a Huíla.Em 1894, havia 80 alunos de São Tomé na Huíla. Em 1897,

os 81 matriculados no seminário induiam 43 de São Tomé, 30 de Angola, 3 da Madeira e 5 de

Portugal. Destes, só 24, incluindo apenas 5 de Angola, estudavam no nível secundário.18 Esse foi

o período de maior sucesso religioso. O primeiro sacerdote africano formado na Huíla foi ordenado

em 1889. Entre 1895 e 1897, foram ordenados mais 3.0 primeiro deles foi o Eadre Luís Barros da

Silva, nascido de pais cristãos africanos no Bié. Após 12 anos na Huíla, foi ordenado em 1895, aos

27 anos de idade; depois foi para Portugal para prosseguir os estudos. Quando regressou para

Angola, o bispo tentou alistá-lo como padre secular, mas o Ministério do Ultramar recusou a

solicitação, porque os padres nascidos em Angola não podiam receber nomeações reais.37 Em

1900, Barros da Silva regressou à Huíla, onde, em várias alturas, leccionou filosofia, dirigiu

escolas e evangelizou durante os 25 anos seguintes.40

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E difícil compreender por que razão o Ministro do Ultramar se recusou a dar uma

nomeação real a um padre angolano. Em 1891, um recém-órdenado padre angolano Joaquim

Benedicto da Palma, nascido cm Icolo e Bengo e Educado na Huíla, fora confirmado pelo

Ministério do Interior." A primeira nomeação de 1’alma (oi para pároco eiidv um novo e,nipo de

colonos ua ( 1 libia.1 ’ A una < n a < u< f n.c .n > (l.i I luil.i na ai Itll.l li >1 i I illíc] II la C1 n K

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ir, ii oi". i • | ia ui. il"iur. tu< >. ml< ■

Page 12: A Maturidade Das Missões Pilartes

A esperança desse período logo se desvaneceu. Em 1897, uma epidemia de peste bovina

avançando para norte matou a maior parte dos bois, tão necessários à missão para transporte e

cultivo. A provisão de mantimentos foi também gravemente afectada, uma vez cue o número de

vacas na vizinhança das virias estações da missão do Espirito Santo diminuiu de cerca de 25 000

para 1 000.TTristemente, começara o terceiro período.

Todos, excepto os 25 estudantes mais avançados, foram mandados para casa, tendo 43 ido a

pé até Moçâmedcs. Antunes suplicou ao Bispo António Dias Ferreira que transferisse o seminário

para a costa, para eliminar “a dificuldade de transporte”, “sendo a única fcrnia capaz de manter

este trabalho”."

Na altura em que Antunes regressou para Portugal, em 1904, como Provincial

(administrador chefe) da Congregação do Espírito Santo, o seminário da Huíla era pouco mais do

que unia escola piiinária conv 30 alunos. Na sequência da saída de Antunes, o declínio do

seminário foi ainda maior, de modo que, na altura em que regressou pura Luanda, em 1907, havia

poucos alunos no secundário. Nesse ano, dos deles, ambos angolanos, António Teixeira de

Carvalho Jr. e José LAreirada Costa Frota, foram ordenados, elevando para seis o número de

sacerdotes produzidos pelo seminário da Huíla.

A missão da Huíla foi responsável por uma outra, i acuos ambiciosa, escola secundária. Na

sua primeira estação satélite cm Munyino, os Padres do Espírito Santo iniciaram ura noviciado

para 4orinação de assistentes leigos. No início as vocações eram poucas, mas, sob a égide do Padre

Barros da Silva, em 1905, vários alunos torn.araui.-se catequistas e um foi aceite como irmão

leigo, após o que assumiu o reonie de João de I )cus. b Em 1907, nove irmãos haviam sido

enviados para dar assistência às missões e os outros progrediam favoravelmente. Porem, a retirada

do seminário pós fim às Iunções formativas de Munyino.

As im\xi!<\ pmiisi.uiies começaram a oferecer ensino secundário oie.imu'li • iiiiiiin ui ir.

i.ndi- do que as ealólicas. Cnni ac.vp.insãt» con Iu>l) i d i I i. p 1 i in iil ii• ■. ( • !11(In ,ii. 11( •, I

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III II I I nova urgência. O ensino pós-primário era necessário para responder às exigencias dos

estudantes africanos e para preencher as posições de responsabilidade nas igrejas crescentes e nas

novas comunidades cristãs. A resposta tardia das missões a essas necessidades, no entanto,

reflectia um crescimento lento iro compromisso com o ensino secundário. Quando por fim

assumido, esse compromisso tomou uma forma diferente em cada missão. Algumas, porém,

contentavam-se com não formar os africanos para além do nível de catequista ou evangelizador. A

BMS foi o primeiro grupo protestante a começar uma escola pós-primária. Como resultado directo

Page 13: A Maturidade Das Missões Pilartes

A HISTORIA nn ENSINO CM ANISÓLA h^A-Amj MICHAEI ANTHONY SAMUELS

da conferência de 1906, em Kinshasa, várias missões protestantes no Congo Belga decidiram unir

esforços e iniciar em conjunto um colégio de formação em Kimpese, perto da nova linha férrea e

não demasiado longe da fronteira com Angola. Uma vez que a maior parte da actividade

missionária africana da BMS era no Congo Belga, estes juntaram-se ao consórcio missionário e

optaram por enviar os seus melhores estudantes angolanos para Kimpese. O resultado foi que, em

Angola, deixou de haver necessidade de uma instituição do género.

A escola de formação de Kimpese foi escolhida por ficar distante das tentações dos centros

comerciais. Refiectindo a crença de que o cristianismo “nunca os deveria afastar da simplicidade

da sua vida nativa”, os alunos criavam as suas próprias aldeias, comiam comida local, traziam

consigo as suas famílias e trabalhavam nos campos.4í’ O ficto do seu ministério ser de caracter

prático era reflectado nos cursos práticos, à semelhança do que as outras missões ensinavam sob a

rubrica de ensino profissional. O curso durava três a cinco anos, com aulas de duas horas por dia,

sobre disciplinas bíblicas ou seculares, e uma hora por dia de formação prática de professores.47

Aos alunos de Angola era ensinado português.

Embora um pequeno número de alunos das missões da BMS em Angola-tivesse ido para

Kimpese, em 1913, a maioria das estações mis sionárias continuava a reter os melhores alunos,

para uma “preparação mais completa” antes de lhes permitirem que partissem.1" A r.i/ao pian cipal

para esse procedimento era uma divergencia cuite os missionai ios e t>s lideres da igieja all u ana

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Page 14: A Maturidade Das Missões Pilartes

i\ UlSTOIlIA DO [;NSIMO IM AN GOL A 11H7H 1'V.4Í MlCHML AMTHONY bAMÜF.l.S

sideravam Kimpesé outro país. Os missionários e uma comissão especial de delegados de

Londres, que investigaram o problema alguns anos mais tarde, foram favoráveis à eficiência à

escala e tentaram impedir o desenvolvimento de qualquer sentimento nacional angolano.4y

O interesse da ABCFM numa escola pós-primária formal manifes- tou-se mais tarde do que

o da BMS. A idéia de um Instituto de Formação surgiu pela primeira vez em 1909, do Dr.Waker

Currie, um canadiano que ganhou o apoio do parceiro da ABCFM nr. missão de Angola, a

Direcção da Missão Canadiana. O instituto tinha por finalidade formar pastores, professores e

líderes leigos e convencer “os brancos de que os negros são capazes de assimmilar o conhecimento

do homem branco”.51 A tamiliaridade com ferramentas e com a agricultura era considerada

importante, pois existia a necessidade de que cada aluno aprendesse um oficio de modo que, se

vivesse conto leigo, fosse capaz de se sustentar por meio de “trabalho cristão”.11 Embora a

maioria dos estudos literários fosse em uinbundu, todos os alunos tinham aulas em português. Com

a sua ênfase prática, o institutro era, na realidade, mais uma escola de ponta do que uma escola

secundária.“O instituto proposto, no trabalho académico, pode não alcançar o nível da escola

secundária americana em uma ou duas gerações”.5’

Após uma busca intensiva por um local, o instituto ficou localizado em Dondi, perto do

centro quer da actividade da missão, quer da população ovimbundu, e perto do Caininho-de-forrro

de Benguela. Em Outubro de 1914, os edifícios do novo instituto estavam concluídos e a primeira

turma de 26 alunos entrou. As condições de admissão destacavam a capacidade de responder a

questões Bíblicas simples, capacidades cm aritmética básica e bom carácter.a!

A existência de um plano detalhado para uma escola para rapazes estimulou

desenvolvimentos para uma escola de irmãs. Nos finais de 1914, um local do oniio l.ulo do rio, em

frente ao instituto dos rapazes, foi delci minado p.u.i unia li'.rola ('rntr.il ile formação de

Raparigas. IVira as i.ipai i"as.">> laraii* > <l< >s In los e i h int|ioilaueia sn imdári.i “ As rapa i i;

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Page 15: A Maturidade Das Missões Pilartes

A H ISTORIA no IN 'SJNO IM ANGOLA I IK7K-»9H1 MICHAFI . ANTHONY SAMULI .S

Central, esta oferecia ainda menos ensino pós-primária do que*o instituto

dos rapazes.

A escola e a comunidade

Tanto quanto o ensino missionário anterior se tornara uma característica permamente da

cultura entre os de Ambaca, também a revitalização das missões modernas dera ao ensino o lugar

desejado entre muitos que entraram em contacto com ela. O efeito mágico da palavra escrita

afectou muitos mais do que apenas aqueles que se haviam convertido e eram aceites como cristãos.

Assim, em 1899, a BMS observou que os rapazes que alguma vez haviam estado nas escolas das

missões, mas não eram convertidos, abriram as suas próprias escolas nas suas cidades natal e

estavam a fazer um “trabalho sistemático” louvável A A mera experiência da instrução deu novas

capacidades e despertou novas ambições.

À medida que a administração portuguesa se expandia para o interior, começavam a

aparecer oportunidades de emprego. Aqueles alunos das missões protestantes, cuja alfabetização

fora nas línguas africanas em vez de na língua administrativa, português, eram excluídos das

posições de funcionários. Os alunos com algumas aptidões práticas, no entanto, não só eram muito

procurados, como também deixavam frequentemente a missão para irem procurar emprego noutros

lugares, normalmente contra a vontade dos missionários. Esse era o caso particularmemte entre os

Ovimbundu, que preservavam uma propensão para viajar e viviam na área da penetração

portuguesa mais significativa na altura. Logo cm 1907,antes que se pudessem sentir os efeitos do

Camtnho-de-ferro de Benguela, a estação do Bailundo reportava “um desejo crescente dc todos em

torríarem-se ricos e por melhores oportunidades dc existência, fora do emprego na missão”.* Dois

anos mais tarde, o Bailundo testemunhou “uma procura crescente por mão-de-obra qualificada, a

salários várias vezes superiores aos que nós podemos pagar”. No roíanlo, riu vr/ dc estarcí ii pert

iirbadiv. t oin iva >. o nlatoi m n-(ri ta que rv.u mhi.h, ,i< > gr i uva Ul. II', .mi| MU a 01)1 |i i >■•

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Page 16: A Maturidade Das Missões Pilartes

A MIM 1>I

Outras missões também estavam empenhadas em aumentar essa simpatia. A estratégia dos

Padres do Espíritos Santo, a maioria dos quais não era portuguesa, era claramente a de usai

português e de apaziguar a administração tanto quanto possível, a fim de continuarem a receber

subsídios do governo. A IME era o único grupo protestante a desviar-se do seu caminho para

conceber um programa para melhorar as relações com o governo.

Durante anos, a IME alardeou a importância de uma estação missionária em Luanda. Sob a

inspiração do Bispo Hartzell e a liderança de Louise Raven Shields,’* o Externato de Luanda

tornou-se a chave de todas as actividades metodistas. Para a IME, tmava-se de uma instituição

única: para servir o povo dessa cidade em crescimento, o ensino era apenas em português.

Tendo começado, em 1902, com uni aluno apenas, a escola expandiu-se rapidamente e cm

1907 tinha 90 escudantes e, em 1914, tinha 177. A expansão progrediu anualmente, excepto em

1906 e 1907.Até mesmo os filhos dos funcionários do governo Jrequcntavam esta escola protes-

tante. A lei angolana da educação, de 1906, estipulava que qualquer escola que quisesse apresentar

candidatos para o exame oficial precisava de ter, pelo menos, um professor licenciado. Uma vez

que o licenciamento vinha apenas após o governo ter aceite as credenciais que provavam que o

requerente da licença tinha recebido urn “certificado norm.il”, uma vez que o mecanismo de recon

hecimento oficial de um certificado americano se movia a um passo habitualmente muito lento e

unia vez que passar nos exames começara a ser importante, tanto para os alunos como para os seus

pais, o decréscimo da frequência é compreensível.

O declínio temporário do Externato "beneficiou as Irmãs de São José do Cluny, que haviam

aberto uma escola perto da Ingombota.Em 1607, essa escola tinha 60 alunos, muitos dos quais

tinham anteriormente frequentado o Externato. ^’A recepção de mm licença, em 1909,mudou a

situação. Além disso, como explicava a Sri.Shiekls,“com esta licença, é d.i<l< i a Iodas as missas

escolas, em I ii.uhla r im interior, o privilégio de In a ai os i anu . d< i < •> >\ ci no A lei 11 dr.n v.

csl.i !k cik a < < >i il< i<.• ao trabalho

d.i', un', i r.i ¡.li i. . i n ii ii . ■< ui n 11! i > i M " n i .a i. .i li ",ir.

Os exames feitos pelos alunos no Externato de Luanda constituem o único exemplo de

avaliação comparativa sobre a ensino em Angola. Para a Sra. Slields,

Estes exames do governo são vistos como testes de bom ensino e indicam o progresso das

crianças na escrita,leitura, aritmética e gramática. Estão divididos em primeiro e segundo graus,

abarcando razoavelmente bem o curso da nossa escola comum. A dificuldade reside no tempo para

determinados estudos. Por conseguinte, o sexto grau de gramática e leitura requer apenas o quarto

grau de aritméticae estes ou sem geografia ou sem redacção/’1

A ABCFM mostrou gradualmente algum interesse em copiar os esforços da Sra Shields em

Page 17: A Maturidade Das Missões Pilartes

/V iifWíí ivni IVUCHAKL ANTHONY 5AMUELS

Luanda. Impressionado com o Externato, numa visita a Luanda,William Bell defendia uma

escola .semelhante na Catum- bela ou no Lobito, que testemunhava um rápido desenvolvimento, a

fim de:

conferir à missão algum estatuto junto dos funcionários do Distrito de Benguela;

conferir às escolas da missão algum estatuto junto da direcção escolar do governo;

trabalhar abertamente e em estreito contacto com os portugueses, de modo que estes não

receassem as actividades da missão/'2

Embora as sugestões de Bell nunca tenham chegado à prática, eram apoiadas pela

Comissão de Delegados da ABCFM de 1911, que acreditava que “aquilo que a Beira é para a

Rodésia e Durban para Natal, a Baía do Lobito é passível de ser o nosso trabalho em Angola, daqui

a não muito tempo”/’-'

A preocupação por melhores relações com os portugueses rcflectia um agravamento dessas

relações, especialmente com o mimem crescente de comerciantes. Também visível após 1910 era o

claro aumento ila apreensão com a falha das missões protest.ml es no ensino ilo poiiiipne'. Os

agem es admirnsl i.ilivos nao esij\.iin aiiloi i/.nlos a • ■ reu o uso .lo | >i «i I iiriu ■.. i >>,r. i. i i >i

ih ni le, ai 11 . |ij. i a. lo,,. 11 111. í j i j i .i ni i- i a. ... ni i

Page 18: A Maturidade Das Missões Pilartes

línguas locais. As missões foram lentas a responder favoravelmente a esse pedido, apesar

do facto de, para os portugueses, “exigir que o portugués seja ensinado nas escolas (no território

concedido) é apenas uma condição razoável e nós acederíamos de boa vontade“/"1

A ABCFM não estava falha de novas ideias.T.W.Woodside, em Oci- leso, observou o

número crescente de tncstiços no interior, para quem não havia escolas disponíveis. Woodside

notou que,“o mulato, nesta parte de África, tem uma posição diference do que na África do Sul. Os

brancos - portugueses — não rejeitam os seus filhos mulatos como o fazem os ingleses”/'1

A Delegação de 1911 teve a sensatez de atrair os mestiços, posto que “não é de modo

nenhum improvável que eles venham a ser a classe governante” .w’Uma Comissão de Investigação

portuguesa para pôr fim ao contínuo comércio de escravos visitou a missão, em 1911, e incentivou

os missionários a abrirem uma escola para brancos e mestiços. “Eles garantiram-nos que seriam

enviadas crianças do litoral e que teríamos uma escola grande”/’7

Tal ideia encontrava resistência entre aqueles missionários que ainda acreditavam, tal conto

escrevera rim missionário três décadas antes, que “nós não gostamos de meias-raças (mestiços);

condenamos a sua aceitação pelos protugueses como homens brancos e consideramo-los fruto da

fornicação”.w No final de contas, não começou nenhuma escola do género, pois não era concebido

que ficasse anexa a uma escola destinada apenas a africanos, e a falta de homens e de dinheiro

impedia a abertura de uma nova escola/"

Nessa altura, a maior parte das escolas missionárias funcionava fora da corrente dominante

do desenvolvimento angolano e o seu efeito total era demorado. É interessante observar que, em

1914,não existia nenhum desenvolvimento no sentido ou de um desejo africano de controlo local

das escolas, ou de qualquer movimento significativo a favor de escolas indepeinleiiles, lai como

existia noutras partes de África.7" Isto não signi- Ii< .i que a r -.|Mn\.Hi ila educação n;V> trulla

levado ao desenvolvimento de pi.«(. '.t.., l < >m> < I )> ni<> 1,(Wlu-eln íealçotl, <• prole:,!o tem

uma longa 11 ,ii Ili, a> > > oi i > > : 111! , .((>•> «. ' I o n i > ► ii i i Ulal i H n!> > > > >i il nu i<

1 > lux |>ui I n gueses dos assim chamados trabalhadores contratados, a necessidade de

carregadores e a imposição do pagamento de imposto entre os Bakongo, um grupo de jovens,

incluindo aqueles educados tanto nas escolas católicas como nas escolas da BMS, iniciou urna

onda de reacções e terrorismo, que durou de 1913 a 1915.72 O líder educado catolicamente,

Álvaro Tulantc Buta, já em 1911 mostrara sinais de conflito em Madimba.7' Na altura em que

começou a revolta, ele havia reunido vários professores de entre os Bakongo, muitos dos quais

fugiram atravessando a fronteira com o Congo Belga ou foram presos pelas autoridades

portuguesas. Entre os que foram presos estavam importantes líderes educativos e da igteja da

BMS, incluindo Mantu Parkinson e Nekaka.74 Outras ficaram do outro lado da fronteira, em

Page 19: A Maturidade Das Missões Pilartes

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Kimpese. A localização da escola de formação da BMS em Kimpese teve o efeito de enfatizar a

consciência dos Bakongo, cuja lealdade para com os portugueses em Angola diminuira.

Eclodiu também um outro tipo de revolta entre os Bakongo. Por volta de 1910, sob a

inspiração de alguém do sul da nação bakongo, teve início um “movimento profético” que afectou

várias pessoas perto de Kibokolo." Embora pareça mão ter havido nenhuma indicação de que se

tratasse de protestantes instruídos respondendo de um modo diferente dos outros, este incidente é

mencionado devido ao grande número de movimentos der género que viriam, mais tarde, a afectar

os Bakongo instruídos. O mais importante entre eles desenvolveu-se após uma “revelação”, em

1921,a Simão Kimbangu, que fora catequista da BMS em 19l0.7f’

Porém, é importante obervar que por essa altura, em Angola, em nenhuma das outras

missões a educação conduziu a protestos equivalentes. As razões da passividade relativa entre os

africanos nos outros pontos de Angola, comparada com os Bakongo, merece uma análise mais

profunda.

Page 20: A Maturidade Das Missões Pilartes

Actividade alargada

para urna política educativa

Interesse local

A negligência relativa, que assolou a educação angolana durante o período da expansão

territorial, é bem ilustrada pela extensão de tempo decorrida antes que houvesse qualquer alteração

ao decreto educativo de 1869. Não se tratava de os portugueses não pensarem em educação; afinal

de contas, de cada vez que o governo mudava, assim acontecia com a lei da educação. Eles

pensavam apenas na educação metropolitana. Só em 1901, Lisboa fez clarificações ao antigo

decreto e somente quatro anos mais tarde o governo provincial exerceu a opção que lhe fora

concedida em 1869, de relacionar as disposições gerais desse decreto com as necessidades

específicas da província.1

As alterações de 1901 procuravam corrigir problemas que haviam surgido sob as

regulamentações antigas. A medida deu autoridade provincial para a nomeação definitiva de

professores primários, desde que estes tivessem as qualificações requeridas pela lei portuguesa.

Essas qualificações eram a frequência de um curso universitário, qualquer curso de formação de

professores, ou a conclusão do lyceu ou dos institutos industriais e comerciais de Lisboa e do

Porto. Além disso, permitia flexibilidade no preenchimento das vagas, atribuindo importância à

experiência no ensino oficial, notas enquanto estudante e quaisquer qualificações adicionais. À

falta de candidatos qualificados, o governador podia fazer uma nomeação provisória por três

meses. O governador tinha ainda o direito de (illicit. ii ,i ii.msfcivnria de um pro lessor, se

tivessem sido levadas a cabo « on stilus - inn 11 ( III’ r o indivíduo ei li causa.'

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