a luta pelo direito ao chão: novos atores e estratégias na
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A luta pelo direito ao chão: novos atores e estratégias na defesa
coletiva de comunidades rurais tradicionais no Estado de São Paulo1
Marilene Alberini (Defensoria Pública do Estado de São Paulo)
1. Introdução
Localizado entre os Municípios de Ibiúna e Piedade, o Parque Estadual do Jurupará
(PEJU), abriga entre os seus 26.250,47 hectares de extensão, remanescentes da população
caipira tradicional do Estado de São Paulo. Residentes em pequenas áreas de cultivo,
representam várias gerações de pequenos agricultores que ali se fixaram a partir da expansão
da colonização para o interior do Estado de São Paulo.
A partir da criação do parque, pelo Governo do Estado de São Paulo, em 2009, as/os
moradoras/es da área, delimitada como unidade de preservação integral, passaram a enfrentar
a ameaça de expulsão de suas terras, por conta do processo de reintegração de posse movido
pelo próprio Estado. As/os residentes na área pertencente ao PEJU consideram o processo de
reintegração de posse injusto, uma vez que se fixaram em pequenas propriedades rurais há
várias gerações e entendem que preservam as características de tradicionalidade em seus
costumes, modos de vida e reprodução cultural. Argumentam, ainda, que, ao contrário do
defendido pelo Estado para justificar a retirada da população do local, não contribuem para a
degradação do meio ambiente, mas, inversamente, ajudam a preservá-lo por meio de suas
práticas de agricultura de pequena escala, de ações de reflorestamento e preservação da mata
nativa.
O presente trabalho é resultado da atuação profissional da autora, no cargo de Socióloga,
em parceria com a equipe jurídica do Núcleo Especializado de Habitação e Urbanismo da
Defensoria Pública do Estado de São Paulo (NHU-DPESP). Com o desafio de prover a defesa
coletiva dessa população, contrapondo a argumentação apresentada pelo Estado, que acusa
as/os residentes de serem ocupantes oportunistas de área de preservação ambiental, o trabalho
voltou-se para a produção de relatório técnico, permeado pela orientação metodológica
1 V ENADIR, GT. 01 - Justiça Restaurativa, Mediação e Administração de Conflitos Socioambientais: interfaces
entre Antropologia e Direito.
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antropológica. Além disso, dentro da perspectiva de defesa da permanência da comunidade na
área do parque, foram adotados os estudos documentais do processo e tratativas com a
Procuradoria Pública do Estado e a Fundação Florestal.
Neste contexto, este trabalho visa discutir o conceito de tradicionalidade, a partir da sua
orientação jurídica e antropológica, e os desafios quando empregado como parte da estratégia
de defesa coletiva de pequenos agricultores de origem caipiria, como população rural
tradicional, submetidos às ações de desapropriação promovidas pelo Estado. Objetiva, ainda,
analisar a emergência de novos atores e novas estratégias extrajudiciais de defesa coletiva, com
foco no diálogo com o Poder Público e órgãos do Sistema de Justiça.
Para a realização deste trabalho, a metodologia empregada incluiu entrevistas com
lideranças comunitárias e residentes do PEJU, acompanhamento em reuniões com órgãos
Estatais e do Sistema de Justiça, além de pesquisa de campo e análise de documentação,
normativas legais e bibliografia especializada.
2. A constituição da população caipira em Ibiúna e Piedade
Os caipiras, grupos de pequenos agricultores que se fixaram no interior do Estado de
São Paulo a partir da expansão paulista, tem sua origem no movimento colonizador dos
bandeirantes e tropeiros que, em contato com os povos indígenas locais, iniciaram a ocupação
do solo. Em Os parceiros do Rio Bonito2, obra clássica da Antropologia e Sociologia e
considerada o estudo mais importante sobre a transformação nos meios de vida do caipira
paulista, Antonio Candido mostra a importância de buscar as origens históricas da tradição na
formação do caipira, a partir da expansão geográfica dos paulistas entre os séculos XVI e XVIII,
que culminou na composição do que se denominou como “cultura caipira” (CANDIDO, 1964,
pag. 43).
Inicialmente, os caipiras tinham uma vida seminômade, à maneira dos índios e
bandeirantes. No entanto, a mobilidade se restringiu pelo aumento da densidade demográfica e
pela indisponibilidade das terras. Os Municípios de Ibiúna e Piedade reuniram parte
2 A obra clássica de Antonio Candido (1964) está dividida em três partes: a primeira trata da formação do caipira
tradicional, que se fixou ao solo após a expansão paulista, herdando a mobilidade do convívio com os índios; a
segunda expõe a crise da cultura caipira diante do processo de modernização do país; e a terceira analisa a mudança,
a integração do caipira na vida moderna. Antonio Candido analisa a mudança das transformações na vida do caipira
e aponta para a reforma agrária.
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considerável dos caipiras de São Paulo que incialmente se fixaram em terras posteriormente
consideradas como devolutas. Sem possuírem a titularidade formal das terras, as famílias de
origem caipira, que atualmente residem na área do PEJU, seguiram os parâmetros tradicionais
de ocupação do solo, com divisão da terra em pequenas glebas.
No PEJU, observamos que a presença da população tradicional caipira, representada
por grupos de moradoras/es da zona rural que, até a criação do parque, praticavam a agricultura
familiar e de subsistência, segue os parâmetros históricos acima citados quanto à sua origem.
Corroborando esta constatação temos o exposto no próprio Plano de Manejo do PEJU:
A ocupação humana na região remonta aos séculos XVII e XVIII, com o
estabelecimento de pequenos povoados que serviam como local de pouso para
descanso dos tropeiros, que seguiam do sul do país para a região de Sorocaba. No
território do PEJU, a ocupação humana permanece, sendo parte dela remanescente
dos séculos XVII e XVIII, e outra parte composta por áreas ocupadas desde a
década de 50 até os dias de hoje. (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO,
2010, pag. 2)
Ainda que as primeiras ocupações remontem a pelo menos três séculos, a situação
fundiária do caipira sempre foi marcada pela fragilidade, consequência da falta de comprovação
legal da posse da terra e de conhecimento da forma oficial das leis. Enquanto a expansão
paulista que deu origem à população caipira foi possível pela abundância de terras para
colonização, a partir da segunda metade do século XX a lógica de ocupação indiscriminada do
solo e o crescimento urbano relegaram aos caipiras espaços cada vez mais reduzidos, muitos
confinados em pequenos sítios em áreas isoladas.
Assim, as populações caipiras, a partir da expansão das cidades e da exploração do solo,
passaram a ser expulsas da terra, porque não tinham o título de propriedade ou porque já não
podiam praticar a agricultura e os modos de vida de subsistência. Forçosamente, muitos
trocaram o campo pela cidade, outros tornaram-se empregados em fazendas e sítios da região
onde residiam. Antonio Candido (1964) descreveu a presença de vários tipos de organização
social rural dos caipiras, adotadas como estratégias de sobrevivência: sitiantes, parceiros e
agregados. Os que não tinham a terra trabalhavam na terra dos que tinham. Alguns caipiras se
tornaram trabalhadores rurais assalariados.
As famílias mais antigas residentes no PEJU são representantes do processo de
colonização e constituição da cultura caipira do Estado. São, igualmente, vítimas de processo
de expulsão do campo por conta de mudança das normas formais que passaram a reger área que
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ocupam. Porém, além da lógica de valorização do solo e da expansão urbana, os motivos pelos
quais os caipiras residentes no PEJU são objeto de remoção inclui o advento da lógica da
preservação ambiental integral, que por vezes, contraditoriamente, estabelece que o homem não
mais pode fazer parte do meio do qual ele é parte.
3. Tradicionalidade e cultura caipira no Parque Estadual do Jurupará
As visitas, entrevistas e observações de campo realizadas no PEJU permitiram
identificar a existência de população com características de tradicionalidade caipira,
remanescentes dos primeiros colonizadores e de povos indígenas que habitaram a área. Para a
realização deste estudo, privilegiou-se a caracterização cultural das/os moradoras/es do PEJU,
sobretudo a partir das suas relações de sociabilidade, das trocas culturais e dos modos de vida.
O reconhecimento dos aspectos físicos cumpriu o importante papel de oferecer maiores
subsídios para a avaliação do tipo de usos do solo e das práticas de agricultura familiar, assim
como revelou o grau de integração dos núcleos familiares com o meio ambiente e o entorno.
Do ponto de vista da metodologia antropológica, a observação de campo permitiu reunir
elementos que demonstram a presença de tradicionalidade das famílias mais antigas residentes
no PEJU. Do ponto de vista jurídico, a definição do conceito de “povos e comunidades
tradicionais” foi regulamentado no Decreto 6.040/2007, que instituiu a Política Nacional de
Imagem 1: Foto antiga de crianças e
professora na escola local do Parque
Estadual do Jurupará. Fonte: Acervo
pessoal de morador, 21/05/2016.
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Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. Em seu Artigo 3º, o
referido Decreto, estabelece que:
I - Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que
se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social,
que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua
reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando
conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição;
(BRASIL, 2007)
É preciso apontar que os caipiras, de acordo com os parâmetros antropológicos e a
legislação específica citada acima, estão, de fato, inseridos nos grupos de populações e
comunidades identificadas como tradicionais.
A maior parte das áreas ainda preservadas do território brasileiro são habitadas
com maior ou menor densidade por populações indígenas ou por comunidades
rurais “tradicionais” - caiçaras, ribeirinhos, seringueiros, quilombolas,
caipiras - para as quais a conservação da fauna e flora é a garantia de sua
perenidade (ARRUDA, 1999, pag. 90). [grifo nosso]
Desta forma, não apenas povos isolados ou habitantes de florestas são representantes de
povos tradicionais, mas também caipiras, ribeirinhos, caboclos e demais grupos que se insiram
nos parâmetros de organização social próprios, ocupação do solo e reprodução cultural
específica. Não raro, há o entendimento equivocado de que a tradicionalidade está presente
apenas nos povos indígenas3 ou quilombolas, que seriam, de acordo com o senso comum,
grupos sociais que supostamente preservam suas culturas “originais”.
Quanto à questão que envolve as diferenciações entre tradicionalidade caipira e
camponeses, a partir sobretudo da leitura de Antonio Candido, considera-se que exista uma
estreita relação entre o que é atribuído às populações tradicionais e o que já é consolidado como
característica camponesa. Essa sobreposição não invalida o reconhecimento ou as
especificidades culturais dos caipiras, mas, ao contrário, constitui as intersecções que
caracterizam os modos de vida da população caipira (FLEURY & ALMEIDA, 2007).
3 Notadamente, os povos indígenas não fazem parte da categoria “populações tradicionais”. De acordo com
Manuela Carneiro da Cunha, a distinção “repousa sobre a distinção legal fundamental: os direitos territoriais
indígenas não são qualificados em termos de conservação”. Apesar das terras indígenas também serem
consideradas “ilhas” de conservação, a legislação brasileira separa os povos indígenas dos povos tradicionais”(...).
Há que se considerar, no entanto, que a legislação de proteção ao território e práticas culturais indígenas se inserem
em preceitos similares àquelas que garantem os direitos dos povos tradicionais, notadamente quilombolas,
ribeirinho e caipiras (CUNHA, 2016).
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Outra característica importante, relacionada ao conceito de tradicionalidade, refere-se
ao território ocupado pela população tradicional. Na normativa vigente, na forma do Decreto nº
6.040/2007, sobressai a importância das coletividades tradicionais serem detentoras de
territórios (Oliveria, 2016), conceituando esses espaços no Inciso II do Art. 3º do Decreto
6.040/2007:
II - Territórios Tradicionais: os espaços necessários a reprodução cultural, social
e econômica dos povos e comunidades tradicionais, sejam eles utilizados de forma
permanente ou temporária, observado, no que diz respeito aos povos indígenas e
quilombolas, respectivamente, o que dispõem os arts. 231 da Constituição e 68 do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e demais regulamentações;
(BRASIL, 2007)
Conforme dispõe a normativa, o território é parte essencial para que se garanta que as
trocas culturais e os modos de vida dos povos tradicionais possam ser preservados. Além disso,
destacamos que o conceito de utilização do território vai além da fixação prolongada de
determinada comunidade em espaços delimitados. Ao contrário, prevê a legitimidade do uso do
território também de forma temporária. Este critério atende às particularidades de organização
social diversa de cada comunidade, que podem incluir a mobilidade do grupo. Como
demonstrado anteriormente neste estudo, originalmente os caipiras herdaram o modo de vida
seminômade dos indígenas, vindo a se fixarem em um único lugar devido ao processo de
crescimento urbano e à nova organização rural que tornaram as terras indisponíveis.
A partir do trabalho de campo desenvolvido com as famílias mais antigas do PEJU, foi
possível reunir inúmeros indicativos da tradicionalidade presente nos seus modos de vida,
reproduções culturais e socioeconômicas. Igualmente, a construção histórica da ocupação do
território demonstrou que estas famílias se inserem nas definições conceituais, tanto do ponto
de vista antropológico, quanto da normativa jurídica.
4. Cultura, modos de vida e preservação ambiental
As entrevistas, observações e coleta de dados qualitativos realizadas junto às/aos
moradoras/es inseridas/os no âmbito do PEJU, revelaram que o perfil cultural e os modos de
vida das famílias estão intrinsicamente conectados ao meio ambiente que os cerca4. De forma
4 O Relatório Técnico:Populações Tradicionais do Parque Estadual do Jurupará (ALBERINI, 2016), elaborado
para fins da defesa coletiva das famílias de pequenos agricultores, e que serviu de base para a argumentação
jurídica contida na Ação Cível Pública movida pelo NHU-DPESP, apresenta os elementos indicativos da
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interdependente, o caipira tira seu sustento da terra, plantando pequenas roças e revezando o
plantio e a colheita dos alimentos, de acordo com o calendário tradicional de estações do ano.
Além disso, e não menos relevante, a pesquisa de campo revelou que também a questão
ambiental, nesta comunidade, está integrada. Ainda que carente de regularização e readequação,
por parte do Governo do Estado, e por acessibilidade, por parte das Prefeituras dos municípios
de Ibiúna e Piedade, as famílias residentes no PEJU contribuíram decididamente para a
preservação do meio ambiente local, pois foram estas que garantiram que parte da mata não
fosse danificada, que por meio da agricultura familiar de subsistência não houvesse
desmatamentos, e que com a delimitação de suas pequenas propriedade rurais, coibiram a ação
de ocupantes externos.
Contraditoriamente ao que preconiza a corrente preservacionista, que por vezes
fundamenta a retirada das comunidades tradicionais de área de preservação ambiental, alguns
estudos mostram que a presença de pequenos agricultores em unidades de conservação provê
maior probabilidade de proteção ao meio ambiente. Neste sentido, estudos realizados pela
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, e pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
indicam que a partir da combinação de cultivo de plantações em rodízio e em harmonia com o
ecossistema local, é possível aliar a agricultura natural à manutenção das matas nativas e até
mesmo ao reflorestamento de áreas degradadas (EMBRAPA, 2013). Segundo a Embrapa, a
partir de orientação técnica especializada, combinada com os saberes de manejo tradicional do
solo, é possível garantir o abastecimento ao mesmo tempo que a flora e fauna nativa são
resguardadas.
O PEJU, como unidade de preservação integral, insere-se em lógica de política não
apenas preservacionista, mas, também, em orientação proibicionista: proibição de qualquer tipo
ou tamanho de roças, da pesca e da retirada de recursos da floresta, mesmo que não haja impacto
ambiental. O advento de criação de unidades de conservação integral surgiu nos Estados Unidos
e foi amplamente copiado em outros países, sem que houvesse as devidas adaptações às
realidades locais. O que poderíamos chamar de “ambientalismo exacerbado” vai, portanto, de
encontro ao estabelecido pela normativa vigente, no que trata da relação entre povos e
preservação da cultura caipira no PEJU, como o tipo de alimentação, os festejos e folguedos, a organização
religiosa e comunitária, as práticas de caça e pesca, dentre outros.
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comunidades tradicionais e meio ambiente, conforme inciso III do Art. 3º no Decreto nº
6.040/2007, conforme exposto:
III - Desenvolvimento Sustentável: o uso equilibrado dos recursos naturais,
voltado para a melhoria da qualidade de vida da presente geração, garantindo as
mesmas possibilidades para as gerações futuras. (BRASIL, 2007)
Como observamos, os princípios de conservação integral são conflituosos com o
conceito de desenvolvimento sustentável, uma vez que a ideia de sustentabilidade pressupõe
que haja preservação combinada com “o uso equilibrado dos recursos naturais”. Ora, o que o
Governo do Estado defende com a criação de parques fechados a qualquer presença humana
tradicional é que a natureza deva ser intocada, ainda que tal orientação não tenha sustentação
histórica, haja vista que o homem sempre fez parte do meio em que habita.
Segundo a Fundação Florestal, no Estado de São Paulo, 73% das unidades restritivas de
grande porte, ou seja, com mais de 10.000 hectares, são habitadas por povos tradicionais.
Portanto, na maioria das unidades de conservação vivem populações tradicionais e não
tradicionais (ARRUDA, 1999) que sofrem com ações que visam sua retirada das reservas
ambientais, sem que o Estado apresente à estas alternativas de permanência sustentável.
A tensão entre populações tradicionais versus necessidades dos recursos naturais parece
ser resultante, portanto, da falta de compreensão mais precisa dos usos e possibilidades que a
cultura tradicional faz do solo, dos diferentes padrões de ocupação e da utilização responsável
dos recursos naturais.
Constata-se ainda que os remanescentes caipiras do PEJU estão inseridos em grupo
social sem poder econômico ou político, constituído em sua maioria por trabalhadores rurais,
famílias de baixa renda e pessoas idosas sem instrução formal. Esta constatação reforça a
percepção de que a problemática da população tradicional do PEJU não reside unicamente em
estar em área de preservação integral, mas, sobretudo, na sua vulnerabilidade enquanto estrato
social menos privilegiado e sem os recursos políticos e econômicos de empresas e grandes
proprietários rurais, revelando que a problemática ambiental incorpora desigualdades sociais,
de classe e segue a lógica hegemônica de cerceamento de oportunidades (ACSELRAD et al.,
2009).
Ainda sobre a tensão existente entre ocupação do solo e preservação do meio ambiente,
observamos que a lógica da desigualdade social prevalece, com grupos mais pobres obrigados
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a conviver em áreas degradadas ou, como no caso aqui em análise, além de serem empurrados
para tal situação irregular, também são apontados como os culpados pela deterioração do meio
ambiente. Os caipiras do PEJU inserem-se nessa lógica de desigualdade, de renda e de poder,
constituindo caso exemplar de tentativa de culpabilização do mais vulnerável, utilizando-se de
argumentos da preservação ambiental para injustamente promover a exclusão social. Há ainda
que se considerar que os deslocamentos forçados a que as comunidades mais pobres são, via de
regra, comumente submetidas interessam majoritariamente a interesses particulares, ainda que
fomentados pelo Estado.
Assim, o Estado, na ânsia de preservar áreas em risco de sofrer a mesma degradação
que outras sofrem por conta da expansão urbana, causa ainda maior desequilíbrio entre os meios
antrópicos e ambientais (considerando a flora e fauna locais). A contradição da adoção da
política preservacionista ocorre enquanto esta deixa de considerar que maior parte das áreas de
conservação do Brasil são habitadas por populações indígenas ou tradicionais, como os caipiras.
Este processo equivocado provoca, além da culpabilização daqueles que justamente defendem
a terra, a criminalização dos povos que reivindicam seus direitos de reconhecimento e
permanência nas unidades de conserva, como Rinaldo Arruda descreve:
As populações tradicionais são discriminadas por sua identidade sociocultural e
impedidas de reproduzir seu modo de vida, tanto pelo modelo de ocupação
predatório que se expande quanto pelo modelo de conservação ambiental vigente.
Assim, paradoxalmente acabam por desenvolver uma postura
anticonservacionista, identificando o ambientalismo como o substituto dos
antigos grileiros e passando a desenvolver práticas predatórias do meio ambiente
como único meio de garantir sua subsistência e não cair na marginalidade ou na
indigência. (ARRUDA, 1999, p. 90)
Caso sejam expulsas do PEJU, as famílias remanescentes caipiras tradicionais que ali
se constituíram serão obrigadas a migrarem para cidades próximas ou procurar trabalho em
propriedades rurais de grande porte, como assalariadas. Este processo, mais do que a
precarização das condições de vida, significa a total perda da identidade de um povo e a
extinção, pelo Estado, de um dos últimos polos remanescentes da cultura caipira do Estado. Do
ponto de vista das subjetividades, as perdas dos referenciais culturais, baseados na lida da terra,
podem ser irreversíveis, causando sofrimento e alienando o caipira da sociedade, conforme
assevera Carlos Rodrigues Brandão:
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Por isso, ao lavrador tradicional sem terras próprias, a progressiva perda dos
direitos de usar em seu proveito porções de “roça” de uma fazenda pareceu o
começo do “fim do mundo”. Por isso, na cabeça de velhos camponeses
tradicionais migrados do “sertão” para “a na”5 e obrigados ao trabalho urbano ou
ao trabalho volante, viver em uma casa de periferia onde até mesmo o quintal mal
comporta a roupa que a mulher lava nas segundas-feiras, a ideia de que “o fim do
mundo não anda longe” é viva e real (BRANDÃO, 1983, pag. 29).
Até a presente data, não há proposta, por parte do Estado, de alocação das/os residentes
do PEJU em outra área, seja urbana ou rural. Resta às/aos remanescentes caipiras a escolha de
esperar pela possível reintegração de posse – sem que nesse período possam fazer qualquer
cultivo ou manter animais, ou mudarem-se para outro local. Enquanto o processo de
reintegração de posse se desenrola no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, parte
considerável das/os remanescentes caipiras já deixaram suas terras ou estão em vias de saírem
do parque6.
5. O direito ao chão e a defesa coletiva: novos atores e estratégias
Em meio ao desespero de terem de deixar suas terras, suas casas e seus parcos pertences
de um dia para o outro, um grupo de moradoras/es do PEJU procuraram o NHU-DPESP para
defendê-las/os no processo de reintegração de posse. Apesar de já contarem com a defesa prévia
de advogada do Sindicato Rural da Região (moradoras/es da parte Norte do parque) e de
advogado particular (parte Sul), procuraram a instituição para a defesa coletiva e intervenção
junto ao Estado, acreditando no peso institucional da DPESP.
Para além da argumentação jurídica apresentada pela Defensoria no processo judicial, o
recorte nesta análise se voltará para as estratégias extrajudiciais adotadas prior à judicialização
do caso, que incluiu reuniões com a Procuradoria do Estado e com a Diretoria da Fundação
Florestal, na tentativa de busca de acordo que preservasse os direitos da população caipira
residente no parque.
5 O autor refere-se à expressão comumente usada de maneira informal, significando a mudança para cidade.
Assim, o caipira passa então a se referir como morando “a na cidade”, em contraponto ao “na roça”.
6 Segundo os relatos coletados, as/os moradoras/es sentem-se em processo de expulsão do parque, principalmente
por não poderem praticar qualquer atividade de cultivo ou criação de animais. Mesmo pequenas roças com culturas
de subsistência, como feijão e mandioca, foram banidas. Porcos, vacas, galinhas e cavalos também não são
permitidos. Guardas da Fundação Florestal fazem a fiscalização e impedem, ainda, a entrada de qualquer material
construtivo, que seria utilizado para construção ou reforma das casas. Algumas pessoas relataram ainda que
sofreram ameaças verbais e tiveram seus animais domésticos (cães e gatos) confiscados.
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Após a realização dos estudos e produção do relatório técnico, foram iniciadas as
tentativas de diálogo, primeiro com a Procuradoria do Estado e, em seguida com a Fundação
Florestal. Sem muita dificuldade, as reuniões foram agendadas e, de porte de toda a
argumentação jurídica e antropológica, a equipe partiu para os encontros carregando um grande
senso de expectativa de resolver a questão de outro modo, que não por meio da intervenção
judiciária.
Para a reunião com a Procuradoria, juntou-se ao grupo composto por esta Socióloga,
Arquiteta-Urbanista e Defensor Público do NHU-DPESP, Defensora Pública representante do
Núcleo Especializado de Defesa da Diversidade e da Igualdade Racial, por conta de povos
tradicionais serem partes da ação de reintegração de posse e estarem no âmbito de defesa deste
último núcleo. A reunião ocorreu em uma Regional da Procuradoria Estadual localizada no
interior, em cidade próxima à capital7. Munidos de relatórios, fotos, relatos e todo embasamento
técnico que conseguimos, fomos recebidas/o por dois jovens procuradores que, após as
apresentações iniciais, passaram a ouvir os argumentos da DPESP para o caso. Durante a maior
parte da reunião, foram apresentados os resultados dos estudos de campo, da necessidade de
garantir que os remanescentes caipiras pudessem permanecer em suas terras, do seu território
como espaço de reprodução cultural, dos meios de sobrevivência, e de toda a argumentação
com base na tradicioanalidade e no direito à terra, ao plantio e à moradia digna - em suma, ao
direito ao “chão”.
Após escuta atenta por parte dos Procuradores, seguiu-se, para a surpresa dos
representantes da Defensoria, a confirmação de que os procedimentos adotados para a
reintegração de posse iriam continuar, com as famílias sendo notificadas individualmente para
deixarem suas glebas. Foi nos apontado que um bem maior estava em risco, a Mata Atlântica e
seus recursos naturais, que deveria ser preservada de forma integral, ou seja, sem a presença do
homem. Ouvimos que um dos Procuradores tinha especialização em Direito Ambiental e,
portanto, possuía propriedade para discorrer sobre o tema. Sobre a tradicionalidade e a
reprodução cultural da população, foi afirmado não haver comprovação que atestasse o
pertencimento da população do PEJU à categoria de comunidade tradicional. Contrariamente,
os membros da Procuradoria do Estado, afirmaram que se tratava de ocupantes recentes,
7 Em atenção à preservação da identidade dos representantes dos órgãos públicos envolvidos, não serão
especificados a localização exata da Regional ou os nomes dos participantes nas reuniões.
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possivelmente de “invasores” de terras públicas. Não houve contraponto sobre a falta de Laudo
Antropológico ou a não participação da população quando da formulação do Plano de Manejo.
A questão que se desenrolava, no dizeres dos representantes do Estado, era de natureza jurídica
e individual, não restando dúvidas de sua legalidade. Os argumentos da DPESP baseavam-se
em categorias antropológicas e de defesa coletiva.
Ainda que tenha saído frustrada desta primeira tentativa de resolução extrajudicial, a
equipe da DPESP continuou a procurar outros órgãos para dialogar e apresentar a defesa das/os
moradoras/es do PEJU. Assim, foi agendada reunião com a Diretoria da Fundação Florestal,
órgão responsável pela gestão dos parques e das áreas de preservação ambiental no Estado de
São Paulo.
Esta reunião ocorreu no próprio NHU-DPESP, no Centro de São Paulo. Compareceu
um representante da Diretoria e, novamente, todos os estudos e argumentações jurídico-
antropológicas foram apresentados. Desta vez, pareceu-nos que havia uma maior possibilidade
de escuta e consideração aos argumentos e pedidos apresentados. A única questão, a qual
viemos descobrir já no fim da reunião, era que seria necessário agendarmos uma próxima
reunião, com o próprio Diretor do departamento responsável, a fim de darmos continuidade às
tratativas e ao encaminhamento de alguns pedidos mais urgentes dos moradores8. Uma vez
mais, a expectativa foi de resolução dos conflitos, pelo menos de forma parcial, fora do âmbito
processual formal. O que se seguiu, contudo, foi uma série de tentativas de agendamento
infrutíferas, no início pelo que foi alegado como falta de disponibilidade pela Diretoria da
Fundação Florestal e, finalmente, por falta de resposta às mensagens e ofícios enviados pela
DPESP.
Consideradas esgotadas, assim, as tentativas extrajudiciais9 de diálogo, o NHU-DPESP
ingressou, em 2016, com Ação Cível Pública no Tribunal de Justiça do Estado, para defesa
coletiva da população remanescente caipira do PEJU, solicitando sua permanência no local.
8 Algumas/os moradoras/es do PEJU pediram que fosse permitido a entrada de materiais de construção para
reforma de telhado e banheiro, que estavam danificados e ofereciam riscos à integridade física das crianças e
pessoas idosas. Outras famílias solicitaram que a Fundação Florestal permitisse a reabertura de escola de ensino
fundamental, que havia sido fechada no interior do parque e que obrigava as crianças em idade escolar a se
locomoverem para fora do PEJU, para que pudessem continuar estudando. Foram produzidos relatórios de vistoria
exclusivos dos casos mais urgentes, notadamente para o atendimento das pessoas mais vulneráveis.
9 O NHU-DPESP realizou, ainda, reunião com Assessor de Deputado Estadual do Estado de São Paulo e buscou
interlocução com a Fundação Instituto de Terras do Estado (ITESP) e organizações não governamentais e
pesquisadores envolvidos com a questão ambiental e a proteção de povos e comunidades tradicionais.
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Até a presente data, não houve julgamento da ação. A população do PEJU segue
assustada e sem garantias de que poderá continuar em suas terras. Impedidas de cultivo, sem
acesso à educação e outros serviços essenciais, muitas famílias abandonaram suas casas. Outras
ainda resistem e acreditam que a decisão da Justiça será favorável, a despeito de todas as
dificuldades enfrentadas e da desconfiança que possuem em relação ao Judiciário.
6. Conclusão
No caso em estudo, em contraste aos dados e informações obtidas pelo NHU-DPESP
no trabalho de campo, as ações de reintegração de posse do PEJU se baseiam no pressuposto
de que as famílias nativas seriam “invasoras”, “de veraneio” ou que danificariam o meio
ambiente. Desse modo, observou-se que o Estado não considerou as particularidades da
população do PEJU, agindo de forma “míope”, como expressa Marcelo Ribeiro de Oliveira
(2016), ao analisar as implicações das políticas ambientais em contraste com a presença humana
nas áreas de preservação.
Em outra dimensão, é necessário concluir que o Estado, sobretudo, nas atividades
administrativa e jurisdicional, mostra-se submetido ao dever de considerar as culturas
envolvidas em um dado conflito, não se podendo validar uma determinada medida ou decisão
judicial que compreenda uma questão de forma míope, sem considerar as particularidades dos
atores sociais envolvidos (OLIVEIRA, 2016).
Como observamos, a complexidade deste tema vai além de resoluções limitadas ao
âmbito jurídico e deve ser resultante de processo participativo que consiga dialogar com todos
os atores envolvidos. Notadamente, problema grave verificado no processo de criação do PEJU,
se refere à falta de participação da população local, haja vista que os canais de diálogo não
foram acionados e a mediação não ocorreu, pois, os pedidos de reintegração de posse foram
expedidos sem qualquer contato prévio com as/os moradoras/es.10
Quanto à questão ambiental, objeto do principal argumento contra a manutenção da
comunidade no local, o estudo técnico preliminar não detectou impactos negativos ao meio
10 Não obstante ter sido criado, em fevereiro de 2014, o Grupo de Trabalho Jurupará - composto por representantes
do Poder Executivo e Legislativo do Estado, além de lideranças comunitárias, e incumbido de debater questões
fundiárias e socioambientais do PEJU. De forma genérica, o relatório final deste Grupo de Trabalho reproduziu os
levantamentos preliminares, sem fundamentação técnica antropológica. Há recomendação de realização de novos
estudos, porém não houve seu cumprimento. Não há notícias de convocação de audiências públicas ou assembleias,
indicando a não participação da comunidade afetada.
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ambiente que fossem diretamente causados pelo arranjo comunitário ou pelo modo de vida dos
residentes. Ao contrário, as raízes rurais das famílias ali estabelecidas garantiram que uma
extensão significante de áreas verdes fosse preservada, incluindo pomares, hortas e mata nativa.
Contudo, foi observado que a degradação ambiental, à qual as/os próprias/os residentes também
são vítimas, decorre da falta de fornecimento, por parte do poder público municipal e estadual,
de escoamento sanitário adequado, comprometendo a saúde de todas/os e o meio ambiente.
Por outro lado, ressaltamos que a tradicionalidade não se encerra na permanência de
práticas arcaicas e modos de vida que não têm a presença de elementos contemporâneos. Cabe,
assim, ao Sistema de Justiça a busca pela compreensão da diversidade de sentidos e da
complexidade que a encerra, ainda que como categoria jurídica:
É preciso ressaltar, por fim, que a tradicionalidade – assim como outras noções que
estabelecem determinadas coletividades como atuais sujeitos de direitos - refere-se
a uma categoria jurídica, que tende a fixar um conjunto de traços, descrições e
qualificativos na expectativa de descrever realidades muito mais complexas e
movediças. (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2014, pag. 94. [grifo do autor]
A remoção forçada das famílias remanescentes caipiras representa, portanto, não apenas
a perda de importante cultura tradicional do Estado, mas sobretudo do que resta desta
tradicionalidade, pois que há décadas esta população vem sendo expulsa de seus territórios por
conta da exploração desenfreada da terra, seja para a instalação da indústria do agronegócio ou,
conforme acompanhamos no presente caso, em nome da preservação de flora e fauna nativa.
A pesquisa revelou o surgimento de novas dinâmicas de defesa coletiva e novas
estratégias extrajudiciais de atuação, notadamente da Defensoria Pública do Estado. A busca da
comunidade pela defesa coletiva se originou na urgência imposta para a defesa do direito de
permanecer em seu “chão”. Por outro lado, constatou-se que as práticas de defesa extrajudiciais
adotadas pela Defensoria Pública ainda encontram resistência nos meios jurídicos e
administrativos do poder público, notadamente no presente caso, onde o autor da ação é o
próprio Estado. Contudo, ainda que o caso do PEJU tenha sido levado à decisão judicial
(“judicializado”), a avaliação final é que todos os diálogos estabelecidos entre as partes foram
importantes no sentido de semear novas formas de atuação extrajudicial e do “fazer justiça”.
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