a lógica filosófica da formação integral e os fios e desafios da educação básica e...

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É presente em todo o mundo o discurso de igualdade social paralelo ao discurso educacional. De que é mister uma educação de qualidade e emancipatória para que se minimizem as desigualdades sociais, políticas e econômicas. Decerto, tal pressuposto é inegável quando se considera a formação humana e integral. Todavia, é preciso ter cuidado, pois o próprio discurso de igualdade pode não trazer em sua essência a “igualdade”. Vivemos numa sociedade Capitalista, e se imaginarmos que todos os cidadãos terão uma mesma quantia de capital, não estaremos sendo tão igualitários assim. Haja vista que o capital igualmente distribuído num período será desigualmente redistribuído noutro período. Alguns investirão, outros pouparão, e outros ainda irão gastá-lo desenfreadamente. Se vivêssemos numa Sociedade Feudal e desejássemos que todos fossem tratados da mesma forma, sendo honrados e respeitados, não poderíamos negar nem se quiséssemos que existem tipos e graus de habilidades, força, inteligência e etc.. que distinguem um indivíduo do outro. (WALZER, 2003). É preciso salientar que não é devido a existência de ricos e pobres que gera a política igualitária. Mas, é devido ao desejo de alguns poucos em manterem o Status quo. É o fato de que os ricos impõem a pobreza, impedem a emancipação,“oprimem os pobres”. (WALZER, 2003). E assim o fazem das diversas maneiras. Mas a mais peculiar é a manutenção do Status quo pela “égide” ou “pilar” educacional. Uma prática pedagógica e educacional que

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Page 1: A lógica filosófica da formação integral e os fios e desafios da educação básica e profissionalizante

É presente em todo o mundo o discurso de igualdade social paralelo ao discurso

educacional. De que é mister uma educação de qualidade e emancipatória para que se

minimizem as desigualdades sociais, políticas e econômicas. Decerto, tal pressuposto é

inegável quando se considera a formação humana e integral. Todavia, é preciso ter

cuidado, pois o próprio discurso de igualdade pode não trazer em sua essência a

“igualdade”. Vivemos numa sociedade Capitalista, e se imaginarmos que todos os

cidadãos terão uma mesma quantia de capital, não estaremos sendo tão igualitários

assim. Haja vista que o capital igualmente distribuído num período será desigualmente

redistribuído noutro período. Alguns investirão, outros pouparão, e outros ainda irão

gastá-lo desenfreadamente. Se vivêssemos numa Sociedade Feudal e desejássemos que

todos fossem tratados da mesma forma, sendo honrados e respeitados, não poderíamos

negar nem se quiséssemos que existem tipos e graus de habilidades, força, inteligência e

etc.. que distinguem um indivíduo do outro. (WALZER, 2003).

É preciso salientar que não é devido a existência de ricos e pobres que gera a política

igualitária. Mas, é devido ao desejo de alguns poucos em manterem o Status quo. É o

fato de que os ricos impõem a pobreza, impedem a emancipação,“oprimem os pobres”.

(WALZER, 2003). E assim o fazem das diversas maneiras. Mas a mais peculiar é a

manutenção do Status quo pela “égide” ou “pilar” educacional. Uma prática pedagógica

e educacional que objetiva apenas a formação técnica e laboral descontextualizada do

“mundo da vida” dos indivíduos e que atenda unicamente aos princípios do Capitalismo

Neoliberal que visa atender aos interesses de uns poucos. A construção de uma política

igualitária efetiva não pode estar desassociada de um projeto efetivo educacional que

objetiva a integralização da educação básica com a educação profissional.

Este anseio que a contemporaneidade pressionada pela tecnocracia busca por uma

educação integral e emancipatória não é algo novo. Os gregos já discutiam e incutiram

em sua práxis educacional. Conforme as mudanças no tempo e espaço os gregos

desenvolveram tipos de educação. Toda a educação grega se preocupava com a

formação integral do ser humano. E isso implicava diretamente na sua relação com

outro, com o mundo e com o Absoluto. Conforme Aranha:

A educação grega estava, portanto, centrada na formação integral –

corpo e espírito - , embora, de fato, a ênfase se deslocasse ora mais

Page 2: A lógica filosófica da formação integral e os fios e desafios da educação básica e profissionalizante

para o prepara militar ou esportivo, ora para o debate intelectual,

conforme a época ou o lugar” (ARANHA, 2006, p. 62)

A educação dos gregos não estava direcionada a educação profissional, não havia,

portanto, o ensino de profissões. Tudo era ensinado dentro do próprio local de trabalho,

com exceções de alguns cursos superiores. Foi com os Sofistas que a educação começou

a pensar o indivíduo em sua totalidade. Desse modo o indivíduo era preparado para vida

político-democrático na polis. Aqui o ensino da virtude era fundamental. Virtude essa

que era adquirida com a constância dos atos. Para ser bondoso por exemplo, era preciso

praticar atos sucessivos de bondade. A arte de persuadir, a oratória, a dialética era

fundamental para formação de homens públicos, livres e democráticos. (ARANHA,

2006).

Posteriormente, surge na Grécia um conceito de educação integral, a Paideia, que visa

formar o indivíduo em múltiplos aspectos: social, político, religioso, econômico,

educativo, artístico e cultural. A educação que antes estava associada a uma prática,

passa a assumir uma verdadeira dialética, evidenciando uma práxis. Essa ideia de

educação faz pensar no homem como um ser totalizante, responsável pela comunidade e

pela polis e vice versa. Aqui ele se transforma, se integra, amadurece, eleva-se. A

educação grega nos deixou um bom exemplo de educação integral. Se buscamos hoje

uma educação cujos valores devem visar uma educação pública integral promovendo a

integridade física, religiosa, intelectual, ética, estética, é por que ela está em nós

enquanto potencialidade ou memória. Os gregos acreditavam na reminiscência. O

processo educativo, o aprender é recordar. Parece-nos que a educação integral pública e

humana originou-se na Grécia. E é de lá que precisamos buscar referências para a nossa

realidade vivencial.

Referências bibliográficas

ARANHA, Maria Lúcia. História da Educação e da Pedagogia: Geral Brasil. São Paulo:

Moderna, 2006.

Page 3: A lógica filosófica da formação integral e os fios e desafios da educação básica e profissionalizante

WALZER, Michael. Esferas da Justiça: Uma defesa do pluralismo e da igualdade. São

Paulo: Martins Fontes, 2003.