a lógica filosófica da formação integral e os fios e desafios da educação básica e...
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É presente em todo o mundo o discurso de igualdade social paralelo ao discurso
educacional. De que é mister uma educação de qualidade e emancipatória para que se
minimizem as desigualdades sociais, políticas e econômicas. Decerto, tal pressuposto é
inegável quando se considera a formação humana e integral. Todavia, é preciso ter
cuidado, pois o próprio discurso de igualdade pode não trazer em sua essência a
“igualdade”. Vivemos numa sociedade Capitalista, e se imaginarmos que todos os
cidadãos terão uma mesma quantia de capital, não estaremos sendo tão igualitários
assim. Haja vista que o capital igualmente distribuído num período será desigualmente
redistribuído noutro período. Alguns investirão, outros pouparão, e outros ainda irão
gastá-lo desenfreadamente. Se vivêssemos numa Sociedade Feudal e desejássemos que
todos fossem tratados da mesma forma, sendo honrados e respeitados, não poderíamos
negar nem se quiséssemos que existem tipos e graus de habilidades, força, inteligência e
etc.. que distinguem um indivíduo do outro. (WALZER, 2003).
É preciso salientar que não é devido a existência de ricos e pobres que gera a política
igualitária. Mas, é devido ao desejo de alguns poucos em manterem o Status quo. É o
fato de que os ricos impõem a pobreza, impedem a emancipação,“oprimem os pobres”.
(WALZER, 2003). E assim o fazem das diversas maneiras. Mas a mais peculiar é a
manutenção do Status quo pela “égide” ou “pilar” educacional. Uma prática pedagógica
e educacional que objetiva apenas a formação técnica e laboral descontextualizada do
“mundo da vida” dos indivíduos e que atenda unicamente aos princípios do Capitalismo
Neoliberal que visa atender aos interesses de uns poucos. A construção de uma política
igualitária efetiva não pode estar desassociada de um projeto efetivo educacional que
objetiva a integralização da educação básica com a educação profissional.
Este anseio que a contemporaneidade pressionada pela tecnocracia busca por uma
educação integral e emancipatória não é algo novo. Os gregos já discutiam e incutiram
em sua práxis educacional. Conforme as mudanças no tempo e espaço os gregos
desenvolveram tipos de educação. Toda a educação grega se preocupava com a
formação integral do ser humano. E isso implicava diretamente na sua relação com
outro, com o mundo e com o Absoluto. Conforme Aranha:
A educação grega estava, portanto, centrada na formação integral –
corpo e espírito - , embora, de fato, a ênfase se deslocasse ora mais
para o prepara militar ou esportivo, ora para o debate intelectual,
conforme a época ou o lugar” (ARANHA, 2006, p. 62)
A educação dos gregos não estava direcionada a educação profissional, não havia,
portanto, o ensino de profissões. Tudo era ensinado dentro do próprio local de trabalho,
com exceções de alguns cursos superiores. Foi com os Sofistas que a educação começou
a pensar o indivíduo em sua totalidade. Desse modo o indivíduo era preparado para vida
político-democrático na polis. Aqui o ensino da virtude era fundamental. Virtude essa
que era adquirida com a constância dos atos. Para ser bondoso por exemplo, era preciso
praticar atos sucessivos de bondade. A arte de persuadir, a oratória, a dialética era
fundamental para formação de homens públicos, livres e democráticos. (ARANHA,
2006).
Posteriormente, surge na Grécia um conceito de educação integral, a Paideia, que visa
formar o indivíduo em múltiplos aspectos: social, político, religioso, econômico,
educativo, artístico e cultural. A educação que antes estava associada a uma prática,
passa a assumir uma verdadeira dialética, evidenciando uma práxis. Essa ideia de
educação faz pensar no homem como um ser totalizante, responsável pela comunidade e
pela polis e vice versa. Aqui ele se transforma, se integra, amadurece, eleva-se. A
educação grega nos deixou um bom exemplo de educação integral. Se buscamos hoje
uma educação cujos valores devem visar uma educação pública integral promovendo a
integridade física, religiosa, intelectual, ética, estética, é por que ela está em nós
enquanto potencialidade ou memória. Os gregos acreditavam na reminiscência. O
processo educativo, o aprender é recordar. Parece-nos que a educação integral pública e
humana originou-se na Grécia. E é de lá que precisamos buscar referências para a nossa
realidade vivencial.
Referências bibliográficas
ARANHA, Maria Lúcia. História da Educação e da Pedagogia: Geral Brasil. São Paulo:
Moderna, 2006.
WALZER, Michael. Esferas da Justiça: Uma defesa do pluralismo e da igualdade. São
Paulo: Martins Fontes, 2003.