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A LITERATURA COMO FORMADORA DE LEITORES

Solange Back Dela Justina1

Carlos da Silva2

Resumo

Este artigo científico apresenta um estudo sobre a formação de leitores, tem como objetivo principal explorar a leitura e interpretação de livros de literatura Infanto- Juvenil e, consequentemente, despertar o prazer de ler. A experiência foi realizada com alunos das oitavas séries do Ensino Fundamental do Colégio Estadual José de Anchieta, localizado no distrito de Graciosa, município de Paranavaí, Estado do Paraná. A escolha dos livros de literatura como suporte para o desenvolvimento da unidade didática se deu pela variedade de gêneros que os compõe. A aplicação dessa proposta de trabalho instigou o aluno a fazer leituras críticas, interpretando, criando e recriando os textos escolhidos. Como embasamento teórico para fundamentar a pesquisa, recorreu-se às Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, assim como outras fontes bibliográficas pertinentes à área da Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa. No ambiente escolar, objetivou-se percorrer os caminhos para alcançar a meta de formação de leitores críticos, cidadãos que saibam refletir, debater e discernir as inúmeras realidades, enfim, leitores de fato e de juízo. A estratégia para a realização do projeto de intervenção utilizou aulas de leitura semanal, que se mostraram eficientes, pois a maioria dos alunos relatou que continuam lendo, motivados a conhecer novos livros e autores, fazendo da leitura um hábito e um prazer.

Palavras-chave: Leitura; Gênero Discursivo; Literatura; Formação de leitores.

1 Introdução

O presente artigo se constitui como parte integrante das atividades previstas

no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), promovido pela Secretaria de

Educação do Paraná (SEED) e também como resultado do aprofundamento teórico,

da reflexão sobre a prática pedagógica, de discussões virtuais em torno da

1 Professora de Língua Portuguesa da rede Estadual de Educação do Paraná.

2 Professor Mestre da Universidade Estadual do Paraná/UNESPAR-Campus de Paranavaí; orientador.

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abordagem da leitura de livros literários InfantoJuvenis entre professores de Língua

Portuguesa, via Grupo de Trabalho em Rede (GTR); e da implementação, no

Colégio Estadual José de Anchieta, distrito de Graciosa, município de Paranavaí,

da unidade didática intitulada “A Literatura como formadora de leitores”. Teve como

meta a prática de leitura através de livros de literatura InfantoJuvenil,

proporcionando aos alunos participantes momentos de prazer, aquisição do

conhecimento formal e o desenvolvimento da criticidade frente à conduta cidadã,

pois, segundo Sole (1998) ler é, sobretudo, uma atividade voluntária e prazerosa,

que envolve o ser humano e estimulando a aprendizagem.

A realidade vivenciada pelos alunos atualmente não lhes propicia tempo

para uma análise mais aprofundada dos acontecimentos e, principalmente, da leitura

que fazem, e isto se deve à quantidade de informações que estão disponíveis nos

meios tecnológicos, que fornecem conteúdo de modo superficial, incompleto e

variável, onde não há a preocupação por parte do aluno em verificar a autenticidade

ou confiabilidade da fonte consultada. Essa variedade de informações permite que

os alunos tenham conhecimento dos diversos acontecimentos diários, mas, ao

mesmo tempo, cria neles uma ansiedade constante por novas informações. Isso

desenvolve nos alunos um grau de impaciência e intolerância que desfavorece o

hábito da leitura através dos livros impressos e seu manuseio, tornando a leitura um

ato enfadonho e desestimulante.

Ainda no aspecto da leitura, as Diretrizes Curriculares da Educação do

Estado do Paraná (DCE) expressam a importância do ato de ler, quando afirmam

que o leitor abandona uma atitude de passividade diante do texto e passa a ser

participante do processo de criação de sentidos (DCE, 2008, p.36).

Lajolo (2000) acrescenta que a literatura é porta para variados mundos que

nascem e permanecem nos leitores, sendo incorporado como vivência, marcos da

história de cada um.

Nesse contexto, pode-se afirmar que quando a leitura é estimulada e

propiciada no ambiente da escola, ela continua fora da escola, no ambiente familiar,

sabendo que ler é simples, ela será hábito que amplia a percepção ou apura a

sensibilidade ensinando ao leitor algo sobre ele mesmo. Assim, a proposta foi à

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leitura de alguns livros de literatura do gênero discursivo conto, dos autores Edgar

Allan Poe e Oscar Wilde, em torno dos quais foram elaboradas várias atividades

com o objetivo de contribuir para a melhoria do nível de leitura e interpretação dos

alunos das oitavas séries do colégio onde foi realizada a implementação.

Para o embasamento teórico do artigo foi realizada a leitura de alguns

autores como Ezequiel Theodoro da Silva, Paulo Freire, Bordini e Aguiar, entre

outros.

Bordini e Aguiar (1993, p.18-19) afirmam que:

O primeiro passo para a formação do hábito de leitura é a oferta de livros próximos à realidade do leitor, que levantem questões significativas para ele. A literatura brasileira e a literatura infantojuvenil nacionais vêm preencher estes quesitos ao fornecerem textos diante dos quais o aluno facilmente se situa, pela linguagem, pelo ambiente, pelos caracteres das personagens, pelos problemas colocados. “[...] O indivíduo busca, no ato de ler, a satisfação de uma necessidade de caráter informativo ou recreativo, que é condicionada por uma série de fatores: os alunos são sujeitos diferenciados que têm, portanto, interesses de leitura variados”.

Já Silva (1999) declara que a criticidade da leitura é adquirida através da

organização de dinâmicas pedagógicas que permitam aos leitores trabalhar com três

movimentos de consciência: CONSTATAR, COTEJAR (REFLETIR) e

TRANSFORMAR. No processo de interação com um texto, o leitor executa um

trabalho de atribuição de significados, a partir de suas experiências, e como cada

leitor tem sua própria vivência é impossível que dois leitores façam uma leitura igual

de um mesmo texto.

E para completar Freire (2005) relata que o ato de ler deve passar sempre

pela percepção crítica, interpretação e “reescrita” do que foi lido, o que não acontece

numa primeira e única leitura, é necessário que se façam várias leituras. A

compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção

das relações entre o texto e contexto de produção.

Desta forma, a metodologia utilizada no desenvolvimento do artigo utilizou os

três conceitos acima relatados. Ou seja, liberdade de escolha, interação com o texto

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e a interpretação e a reescrita do que foi lido.

2. Desenvolvimento

As Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná

enfatizam que a leitura deve propiciar o desenvolvimento de uma atitude crítica que

conduza o aluno a perceber o sujeito presente nos textos e, ainda, tomar uma

atitude responsiva diante deles. Somente uma leitura aprofundada, em que o aluno é

capaz de enxergar os implícitos, permite que ele depreenda as reais intenções que

cada texto traz (DCE, 2008, p.71).

No entanto, a realidade vivenciada não oportuniza aos alunos esse tempo

para uma análise mais aprofundada dos acontecimentos, e principalmente da leitura

que fazem, e isto se deve à quantidade de informações disponíveis nos meios

tecnológicos, que fornecem conteúdo de modo superficial, incompleto e variável,

onde não há a preocupação por parte do aluno em verificar a autenticidade ou

confiabilidade da fonte consultada. Essa variedade de informações permite que os

alunos tenham conhecimento dos diversos acontecimentos diários, mas, ao mesmo

tempo, cria neles uma ansiedade constante por novas informações. Isso desenvolve

um grau de impaciência e intolerância que desfavorece o hábito da leitura através

dos livros impressos e seu manuseio.

A esse respeito, e enfatizando a importância da leitura para a compreensão

do mundo pelo leitor, Paulo Freire (2005, p.20) afirma que:

A leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele. “[...] Este movimento do mundo à palavra e da palavra ao mundo está sempre presente. Movimento em que a palavra dita flui do mundo mesmo através da leitura que dele fazemos. De alguma maneira, porém, podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo, mas por certa forma de “escrevê-lo” ou de “reescrevê-lo”, quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática consciente”.

Para que se alcance a leitura crítica, o educador deverá explorar situações

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do universo próximo aos alunos, o que possibilita aos mesmos atribuir significados

diante da realidade vivenciada, propiciando assim o primeiro passo para a

exploração de outros textos e situações além do seu universo. A busca de uma

reflexão sobre a leitura poderá propiciar aos alunos a oportunidade de perceberem

os sentidos permitidos pelo texto, conforme a capacidade de cada um em relação ao

universo de relações do texto com o contexto e neste incluindo o próprio educando.

É notório de que a escola não consegue desenvolver em um nível

satisfatório o hábito da leitura, e nem as produções escritas dos alunos, e ao se

ampliar o espaço escolar para que todos tivessem acesso à educação, ocorreu uma

queda na qualidade do ensino, o que ocasionou um desvirtuamento das escolas que

não realizam na totalidade suas atribuições e responsabilidades, e assim, acaba

direcionando a sua prática escolar para aquilo que a sociedade e o sistema escolar

exigem. Rojo em seu artigo sobre Letramento e capacidades de leitura (2004, p.01) afirma

que:

“As práticas didáticas de leitura no letramento escolar não desenvolvem senão uma pequena parcela das capacidades envolvidas nas práticas letradas exigidas pela sociedade abrangente: aquelas que interessam à leitura para o estudo na escola, entendido como um processo de repetir, de revozear falas e textos de autor idade-escola-científica, que devem ser entendidos e memorizados para que o currículo se cumpra” (ROJO, p.01,2004).

Isto é feito, em geral, em todas as disciplinas, por meio de práticas de

leituras lineares e literais, principalmente de localização de informação em textos e

de sua repetição ou cópia em respostas de questionários, orais ou escritos. Já para

Bordini e Aguiar (1993) o início para a formação do hábito de leitura é a oferta de

livros próximos à realidade do leitor, que levantem questões significativas para ele.

A literatura brasileira e a literatura Infanto-juvenil nacional vêm preencher

estes quesitos ao fornecerem textos diante dos quais o aluno facilmente se situa,

pela linguagem, pelo ambiente, pelos caracteres das personagens, pelos problemas

colocados, de forma que “[...] O indivíduo busca, no ato de ler, a satisfação de uma

necessidade de caráter informativo ou recreativo, que é condicionada por uma série

de fatores: os alunos são sujeitos diferenciados que têm, portanto, interesses de

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leitura variados” (BORDINI E AGUIAR, p.19, 1993).

Nesse contexto, vale ressaltar que para desenvolver o hábito de leitura

como primeiro passo deve-se propiciar aos alunos livros que se aproximem de sua

realidade e vivência, que lhes tragam significados ou alguma identificação com o

texto, provocando, assim, uma predisposição para a leitura e o desabrochar do ato

de ler, o que motiva a continuidade da leitura.

Dessa forma, o projeto desenvolvido pretendeu atingir uma questão

presente no ambiente escolar, ou seja, a predisposição dos alunos para rejeitar a

leitura como elemento do cotidiano da sala de aula e, mais ainda, o hábito de ler

como consequência do envolvimento natural do educando com as obras literárias.

Em um primeiro momento, houve uma conversa com os alunos das oitavas

séries A e B do período da manhã, sobre as aulas de leitura semanais de livros de

literatura Infanto-Juvenil que seriam realizadas no período da tarde, uma vez na

semana com duração de quatro horas e a importância da leitura para o

desenvolvimento intelectual, a capacidade de compreensão de quem lê, sobre a

facilidade para entender, compreender e interpretar atividades de todas as

disciplinas. Também ressaltou-se a importância do projeto, tendo em vista, que

quem lê tem ideias para propor e argumentos para expor e convencer, enfim, quem

lê tem opinião própria , vocabulário para defendê-la e desinibição para falar.

Em seguida foi apresentado um questionário aos quarenta e oito alunos e

pedido que respondessem sobre hábitos de leitura , predisposição e preferências

literárias com o objetivo de conhecer o perfil literário do público-alvo, pois conhecer

o aluno é uma forma de determinar e orientar as ações do educador.

Ao serem questionados sobre o gosto pela leitura, 21 alunos responderam

que não, 14 responderam que sim, 05 responderam que às vezes, dependendo do

tipo de leitura e 08 responderam que leem somente na escola.

Os dados coletados, certamente atestam o que, empiricamente, é do

conhecimento dos professores de Língua Portuguesa, ou seja, os alunos não

possuem hábitos regulares de leitura e, de certa forma, não querem modificar esse

diagnóstico.

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Na segunda questão o que se queria saber era o tipo de leitura que

agradava os alunos, os gibis foram à escolha de 17 alunos, as revistas é a

preferência de 10 alunos, 12 alunos optaram pelas notícias na internet e os livros

foram à opção de 09 alunos.

Ao serem questionados sobre os motivos de não gostarem de ler, as

respostas foram bem variadas, como vocabulário difícil, escrita diferenciada da

usada hoje, dificuldade na interpretação do texto, enredo chato e alguns não

souberam justificar. As respostas sugerem a necessidade de formar o hábito de ler,

pois se verificou que os alunos não leem por prazer.

Fato comprovado ao pedir que relatassem algo que leram e acharam

interessante nos últimos dias. Dos 48 alunos, 16 descreveram notícias de

celebridades divulgadas na internet, 06 alunos falaram sobre futebol, 06 alunos

comentaram notícias publicadas no jornal local, 08 alunos citaram trechos de textos

lidos em sala de aula, 02 alunos citaram o livro Crepúsculo, 02 citaram À Espera

de um milagre e 08 alunos responderam que não lembravam.

Na pergunta seguinte os alunos deveriam citar o nome de pelo menos um

livro que haviam lido no último ano ou gostariam de ler se tivessem oportunidade. As

obras citadas foram: A garota da terra do vento; O tesouro de Richard

Stevenson; Querido diário otário; Harry Potter; Crepúsculo; À espera de um

milagre; Marley e eu; Coração de tinta; Senhor dos anéis; Fala sério mãe; Além

da fronteira do universo. As obras Harry Potter e À espera de um milagre foram

as mais citadas.

Após responder o questionário, foi explicado aos alunos a proposta do

projeto e o convite para que participassem do mesmo. Compareceram no primeiro

dia da implementação 16 alunos, foi no mês de agosto e ficou combinado que cada

encontro teria a duração de quatro horas, e que seriam oito encontros somando 32

horas presenciais.

No primeiro encontro foi reforçada a importância da leitura para o sucesso

escolar, estimulando os alunos com histórias de alguns livros; os alunos foram

levados a conhecer o funcionamento da biblioteca, os exemplares de livros, ter

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contato com a bibliotecária e as normas da mesma. Conhecer as suas normas é

essencial para a aplicação do projeto, a professora PDE explicou sobre o

funcionamento da biblioteca, as normas para a retirada de livros, e os prazos de

devolução.

Foi colocada em discussão a importância da literatura, e sua funções que

segundo Cândido (2004) são três: a transmissão de conhecimentos, a expressão de

como as pessoas, os grupos e o mundo é lida pelo autor e a construção de

estruturas e significados pelo leitor.

Para concluir, os alunos se organizaram em duas equipes, onde cada equipe

escolheu um livro da biblioteca para ler no próximo encontro. A equipe um decidiu ler

o livro Alice no País das Maravilhas, do autor Lewis Carroll, com adaptação de

Ana Carolina Vieira Rodriguez. Já a equipe dois optou pelo livro O Chamado da

Selva, escrito por Jack London com adaptação de Rodrigo Espinosa Cabral.

A atividade proposta foi à leitura dos livros escolhidos, um breve relato

da trama e a escolha de um trecho para compartilhar com todos os participantes.

Desta forma, o próximo encontro iniciou com a leitura da sinopse do livro escolhido

pelas equipes e os comentários gerais.

No entanto, com o intuito de preparar os estudantes para a fruição estética

dos textos, antes de iniciar a leitura dos livros selecionados, foram feitas algumas

considerações a respeito do caráter artístico e humanizador da literatura. Citando

Jolibert (1994) “Ler é atribuir diretamente um sentido a algo escrito”. E quando o

leitor relaciona a leitura com a mensagem que o autor quis transmitir, humaniza a

literatura.

E com essa visão da literatura as equipes iniciaram o círculo literário da

obra, ou seja, um aluno inicia um dos trechos e ao parar o outro membro deve

reiniciar de forma que todos leiam em sequência, e desta forma dê sentido geral

para a trama desenrolada. Como exemplo, destaca-se a leitura do livro “Alice no país

das Maravilhas”:

Aluno 1: Alice estava sentada na grama sobre à sombra de uma

árvore no jardim na companhia de sua irmã que lia um livro e aquela

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monotonia já estava deixando-a aborrecida.

Aluno 2: Quando viu passar correndo na sua frente um coelho com

olhos cor de rosa, Alice decidiu segui-lo e o viu entrar em um buraco

no qual havia um túnel.

Aluno 3: Muito curiosa Alice entrou no túnel e o chão lhe faltou, caiu

… caiu... caiu..., já estava cansada de cair sem fim, mas de repente

aterrizou em um lugar desconhecido.

Aluno 4: E aí começa à aventura em busca do coelho branco pelo

qual conhece a lebre maluca. O chapeleiro misterioso, o gato

sorridente, à lagarta e seu cogumelo que faz diminuir e crescer.

Aluno 5: Finalmente, depois de tantas aventuras, consegue entrar em

uma portinha onde viu guardas que eram peças de um baralho,

pintando rosas brancas de vermelho.

Aluno 6: Encontrou também a rainha que mandava cortar a cabeça

de todos. Continua observando a cena e vê o coelho sempre de

relógio na mão a dizer “estou atrasado”.

Aluno 7: E quando a rainha está prestes a cortar sua cabeça, Alice

acorda e vê que tudo não passou de um sonho.

Aluno 8: O livro que fizemos a leitura, retrata uma menina rica, que

vive fantasiando a realidade. Ou seja, para fugir da monotonia cria

um mundo só dela. Nesse mundo que criou, deu para perceber que

nada existe e ninguém é normal.

Corroborando com essa forma de ler, Bordini e Aguiar (1993) declaram que

ler é imergir num universo imaginário, gratuito, mas organizado, carregado de pistas

as quais o leitor vai assumir o compromisso de seguir.

Na sequência a segunda equipe fez a releitura coletiva do livro “O Chamado

da Selva”, seguindo a mesma dinâmica do grupo um:

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Aluno 1: É a história de um cão mestiço São Bernardo chamado Buck que morava na Califórnia, Estados Unidos, muito mimado por seu dono. Porém foi raptado por um empregado de seu dono chamado Manuel, para pagar dívidas que contraiu jogando na loteria.

Aluno 2: Como Buck reagiu mordendo a mão do ladrão, foi vendido por poucos dólares para um homem que comercializava cães para mandar ao Alasca para puxar trenós. Sua vida mudou drasticamente, foi muito agredido, até entender que para sobreviver teria que ser submisso.

Aluno 3: Mas Buck era um cão inteligente que descobriria muitos segredos a respeito de si mesmo ao mudar de vida repentinamente. Aprendeu como viver num local infestado por cães que brigavam até por comida, a dormir na neve, e a puxar dia e noite junto com outros cães um trenó.

Aluno 4: Para ter respeito no meio de tantos cães teve que aprender também a brigar e a roubar, e somente quando dormia sonhava com sua antiga vida e seu antigo dono. Depois de muitas viagens foi novamente vendido para um donos inexperientes que leva toda a matilha a morte.

Aluno 5: Somente Buck não morreu, pois, foi salvo e recebeu cuidados de um homem. Por esse novo dono ofereceu lealdade e gratidão. Esse novo dono, era carinhoso e brincava com Buck e passava os dias a procurar uma mina de ouro. O cachorro estranhou muito a vida ociosa, depois de tanto puxar trenós, mas hesitava abandonar o dono atual, por lealdade.

Aluno 6: No entanto passava a maior parte do tempo dentro de uma floresta próximo ao acampamento de seu dono. Nesse local conhece e faz amizade com um lobo. Um belo dia o acampamento é atacado por nativos, Buck luta muito, mata o líder, porém não consegue salvar a vida de seu dono.

Aluno 7: E assim, foi morar com a alcateia de seu amigo lobo, sendo considerado por muitos anos pelos nativos do local, como o maior e feroz lobo que já existiu. E até hoje contam lendas sobre o cão fantasma.

Aluno 8: Nossa equipe concluiu, que a vida é cheia de surpresas, que mudanças acontecem, e não se deve desistir de lutar. A lealdade e o amor devem ser ofertados a quem merece. E que apesar da lealdade o instinto fala muito alto.

Esta atividade foi fundamentada em Kleiman (2008, p.51) quando declara

que todo programa de leitura deve ter “um componente livre, em que o aluno vai até

a biblioteca da escola e lê o que quiser, sem cobrança de nenhuma espécie”,

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motivando assim o aluno a ler, pois fez sua própria escolha e se a fez teve um

objetivo em mente, talvez até de modo inconsciente (figuras, conteúdo, autor ou

espessura do livro), e isso também permite ao aluno entrar em contato com um

universo textual amplo e diversificado.

Continuando as ações da implementação apresentou-se três livros da

coleção Aventuras Grandiosas, o primeiro livro O Escaravelho de Ouro, de

Edgar Allan Poe; O segundo livro Os crimes da Rua Morgue, de Edgar Allan Poe e

o terceiro O Fantasma de Canterville, de Oscar Wilde, explicando que o gênero

literário é o conto. Que de acordo com Weitzel, 1995, p.4, o conto é:

[...] uma narrativa simples, fictícia, impessoal (em relação ao personagem) e imprecisa (quanto ao local de sua ação). Apesar de poder atuar também no terreno do maravilhoso, o conto guarda preferencialmente um contato com o dia-a-dia do homem, narrando suas lutas, anseios, iniciações, experiências.

Vale ressaltar que o gênero literário conto tem boa aceitação entre os

adolescentes, por sua dimensão reduzida, permite uma postura menos reflexiva e

solitária como é o ato da leitura. Desta forma, o conto atende às expectativas do

jovem leitor no tocante ao tempo despendido para leitura (SIMON, 2007, p.138).

Diante de um texto mais extenso, a leitura passa a ser considerada uma tarefa

árdua, cansativa e monótona e perde-se o interesse antes mesmo de iniciá-la.

Bosi (1975) completa dizendo que no conto os fatos, personagens e ação se

encaminham sem delongas para um desfecho. A ausência de detalhes favorece a

construção de um enredo em que cada palavra condensa e exprime,

simultaneamente, parte da trama; logo, vem carregada de um significado em

potencial que confere ao conto a capacidade de envolver o leitor.

Diante do exposto ao introduzir a leitura do conto O escaravelho de ouro,

de Edgar Allan Poe, propôs-se novamente o círculo da leitura, envolvendo, desta

forma, todos os participantes do projeto. A leitura oral e comentada garantiu a

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compreensão e interpretação do conto.

Na sequência, formaram-se pequenos grupos para discutir a trama

abordada no livro, os personagens da história, local onde se desenrola e fatos

marcantes. Tendo em vista o objetivo da implementação, que é despertar o gosto

pela leitura, formando bons leitores, destacam-se algumas das opiniões sobre a

obra:

Gostamos do momento em que Legrand janta com seus dois amigos e vai para o cais, e pega um navio e vai para lugares diferentes e descobre um escaravelho que guarda um grande segredo (G1).

O encontro de um estranho escaravelho e de um texto cheio de cifras leva Legrand a procurar e encontrar um tesouro escondido. O escaravelho está pertinho de um barco quebrado e a figura de uma caveira o faz acreditar em tesouros escondidos por piratas (G2).

O que chamou nossa atenção foi que não havia anotações no papel encontrado, os sinais e desenhos só apareceram depois de serem expostos ao calor do fogo, depois de muito esforço e quebra cabeça, consegue-se entender onde está o tesouro (G3).

O escaravelho de ouro é um dos melhores contos que já lemos, a história se desenrola em uma mistura de mistério e suspense, puxando-nos para dentro do conto, foi emocionante, a história é composta por um narrador, por Legrand e por Júpiter, o criado de Legrand (G4).

De acordo com Bordini e Aguiar (1933), a busca de uma reflexão sobre a

leitura propicia aos alunos a oportunidade de perceberem os sentidos permitidos

pelo texto com o contexto. Vale ressaltar, que quando os alunos respondem as

questões para todo o grupo, fazem uso da oralidade e criticidade.

Partindo do pressuposto de que cada ser pensante tem capacidades

intrínsecas que só aflorarão diante de novas experiências, ou algo inusitado, então

cabe ao professor fazer uso de estratégias que possibilitem ao aluno um constante

enriquecimento cultural.

Desta forma, para a leitura do livro Os crimes da Rua Morgue, de Edgar

Allan Poe, distribuiu-se aos alunos colchonetes utilizados nas aulas de educação

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física, e eles puderam escolher um lugar tranquilo no pátio da escola para se

acomodarem confortavelmente para a leitura silenciosa.

Após a leitura, foi sorteado um aluno para contar espontaneamente a

história do livro. Neste momento, pôde-se observar que apesar de ter feito a leitura,

o aluno não conseguiu relatar detalhes da história, tendo em vista que fixou somente

a trama central, o assassinato de duas mulheres mãe e filha cometido por um

macaco furioso. O relato só teve sucesso quando foi questionado com algumas

perguntas referentes à história. Como exemplo:

Qual a época e local onde acontece a história?

Como é o personagem central?

Por que o narrador e o personagem decidiram morar juntos?

Quantas pessoas foram interrogadas pela polícia e por que foram interrogadas?

Depois de ler os depoimentos, quem você achou que tinha assassinado as duas mulheres?

Por que o macaco assassinou as mulheres? Ele tinha a intenção de matar? Alguém foi julgado e condenado pelo crime?

Se fosse no Brasil, o animal poderia estar vivendo em uma residência familiar?

Desta forma, os alunos conseguiram relatar detalhes da história, e conforme

Silva (1999) só é possível atribuir importância e relevância às práticas de leitura

quando o leitor trabalha ativamente com os pares na busca de compreensão dos

diferentes aspectos da realidade descrita no texto.

Ainda segundo o autor, a criticidade da leitura pode ser conseguida através

de organização de dinâmicas pedagógicas que leve o aluno a constatar, refletir e

atribuir significados ao que leu, para tanto, foi questionado sobre a problemática

relatada no conto sobre a violência contra as mulheres nos dias atuais, e sugerido

que os alunos pesquisassem se no Brasil é permitido ter animais silvestres como

animais domésticos.

É fato que a Internet ocupa a preferência entre adolescentes, porém, o livro

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não será extinto, novas formas de leitura sempre existirão e continuarão existindo, a

tecnologia simplesmente oportuniza formas diferentes de apresentar uma obra,

assim, apresentou-se aos alunos vídeos baseado nos livros de Allan Poe, pois de

acordo com Kleiman (2008) as pessoas leem também com seus corpos.

O primeiro vídeo foi baseado no conto Os crimes da Rua Morgue,

disponível no endereço eletrônico

<http://www.youtube.com/watch?v=t5JYAjnN49I&feature=related>, onde duas

adolescentes encenam o mistério apresentado no conto. É uma forma divertida de

narrar à leitura.

O segundo vídeo, disponível no endereço eletrônico

<http://www.youtube.com/watch?v=QGcfS9efZ9I&feature=related> é também uma

versão divertida, do conto “Os crimes da rua Morgue” só que em uma visão

masculina. Cinco meninos fizeram um trailler com o conto, utilizando um

vocabulário atual, sem os termos utilizados por Allan Poe, ou seja, trouxeram para

os dias de hoje, uma história do século XIX.

O terceiro vídeo é mais elaborado, apresenta uma versão dublada de 1986,

com roteiro próprio e adaptado para a televisão. O trecho exibido está disponível em

<http://www.youtube.com/watch?v=syS8fLttRoY>.

Esta atividade foi de encontro com o que diz Silva (1999):

“No processo de interação com um texto, o leitor executa um trabalho de atribuição de significados a partir de suas experiências e como cada leitor tem sua própria vivência é impossível que dois leitores façam uma leitura igual de um mesmo texto” (SILVA, 1999, p. 52).

Exibiu-se ainda, um vídeo inspirado também na obra de Allan Poe “O

escaravelho de ouro”. É um vídeo curto de apenas 15 minutos, porém apresenta

uma visão geral da obra. Está disponível em

<http://www.youtube.com/watch?v=02_5nvzpkuc&feature=related>.

Para sintetizar o resultado desta ação, apresenta-se a opinião de três dos

participantes:

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Achei legal o vídeo, mostrou que nós também podemos interpretar de forma simples os livros que lemos (Aluno 1);

Eu gostei do segundo vídeo por causa do vocabulário e gestos dos alunos que o fizeram (Aluno 2);

Nós temos celular com câmera e também câmera digital, e poderíamos produzir pequenos vídeos de nossas leituras, poderíamos até exibi-los aos outros alunos do colégio como incentivo à leitura, pois não há como fazer um vídeo sem ler o livro (Aluna 3).

Diante do exposto, pode-se dizer que a ideia de transformar a leitura em

diversão está dando certo, pois de acordo com Bellenger apud Kleiman (2008) a

leitura se baseia no desejo e no prazer, é um sinal de vida, um apelo, é uma ocasião

de amar sem a certeza de que se vai amar. Pouco a pouco o desejo desaparece sob

o prazer.

O professor é o principal instrumento para iniciar e conduzir o aluno pelo

longo caminho da leitura, e para obter êxito neste árduo trabalho é necessário que o

professor faça uso de sua imaginação criadora, sensibilidade e perspicácia, portanto,

antes de sugerir a próxima leitura, exibiu-se o filme “Ninguém segura esses

fantasmas”. Que conta a histórias de Ralf Dienert, um chefe de cozinha que ao

perder a esposa, junta todo o dinheiro que tem e compra uma hospedaria antiga e

vai morar lá com seus dois filhos, ele só não sabia que a hospedaria já era habitada

por fantasmas mal humorados e atrapalhados. A exibição é uma forma de

proporcionar maior envolvimento com o próximo livro a ser lido, através da fantasia

criada pelo filme.

Ao terminar a exibição questionou-se oralmente sobre outros filmes que

assistiram e falam de fantasmas, citou-se então: Gasparzinho, o fantasma

camarada; O sexto sentido; A casa dos espíritos; Ghost; A casa da Colina; Os 13

fantasmas; Os outros, enfim, foram tantos que se evidenciou o fascínio que

fantasmas e espíritos provocam nos adolescentes.

No entanto ao se questionar sobre livros que falam de fantasma, a

discussão foi menor, pois não conseguiram se lembrar de nenhum. Foi o pretexto

para sugerir a leitura do livro de Oscar Wilde “O fantasma de Canterville”.

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Quando a leitura é estimulada no ambiente escolar, ela continua fora da

escola, no ambiente familiar. Desta forma, foi pedido que os alunos fizessem em

casa a leitura do conto “O fantasma de Canterville”, onde, infelizmente, não houve

unanimidade, alguns apenas iniciaram a leitura, outros nem começaram, porém a

maior parte concluiu a leitura.

Estimular o aluno, sua inteligência e sua sensibilidade por meio do ato

contínuo de leitura, dar-lhe suporte para interpretação e oferecer condições de

comentar suas conclusões, além de favorecer a prática da oralidade, amplia seus

horizontes de informação e cumpre o papel de fazer o leitor pensar criticamente.

Nesse contexto, lançou-se questionamentos sobre fatos ocorridos no livro, sem

determinar qual aluno deveria responder, simplesmente, as perguntas foram sendo

lançadas e as respostas espontâneas.

As primeiras perguntas não exigiram criticidade, apenas um pouco de

atenção, como exemplo: Como era a família que foi morar no castelo? Quais são os

personagens do livro? Qual o nome do fantasma? O que o fantasma fazia para

passar o tempo? Como termina a história? Qual o trecho mais divertido? Será o

fantasma tinha consciência da consequência de seus atos? entre outras.

Conforme os alunos iam respondendo os questionamentos, foram sendo

anotadas as respostas no quadro para giz, e assim, ao esgotar as perguntas e

respostas, ficou registrado um pequeno resumo do livro, redigido de forma coletiva e

dinâmica. Assim concluído:

Uma família americana, formada Sr. Otis, o pai; Sra. Lucrécia, a mãe; e seus

filhos: Washington, Virgínia e os caçulas gêmeos Listras e Estrelas se mudaram para

o castelo de Canterville, porém o castelo é assombrado pelo fantasma Simon.

Simon já havia assustado gerações no castelo, chegando a causar

indiretamente a morte de alguns residentes, com as suas maldades. Logo, que a

família Otis chega ao castelo, Simon começa a agir, a primeira que aprontou foi uma

mancha de sangue que apareceu no chão durante o jantar, a mancha era limpa, mas

todo o dia retornava. Simon ainda tentou ainda assustar a Sra. Otis e os gêmeos,

porém, não conseguiu, pois eles não tinham medo de fantasma.

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Para piorar a situação de Simon, os gêmeos começaram a zombar de seus

disfarces e pregar peças nele. Simon se sentiu humilhado e em uma noite estava

chorando quando a Virgínia o viu. A menina caridosa ficou sabendo toda a história

do fantasma, que disse a ela que só poderia descansar em paz se alguém sentisse

pena dele. Virgínia acabou se entristecendo com o sofrimento de Simon, em todos

os anos que passou assombrando o castelo, ficou com muita pena e com sua,

bondade finalmente libertou Simon que pôde descansar em paz.

De acordo com as Diretrizes Curriculares de Educação Básica de Língua

Portuguesa do Estado do Paraná, o leitor é um sujeito ativo no processo de leitura

tendo voz em seu contexto. Sendo o aluno o leitor, é ele quem atribui significados ao

que lê, é ele também que traz vida ao que lê, de acordo com seus conhecimentos

prévios e linguísticos, de mundo. Assim, deve-se partir da recepção dos alunos para,

depois de ouvi-los, aprofundar a leitura e ampliar os horizontes e expectativas dos

mesmos.

Para tanto, é preciso ouvir opiniões pessoais sobre o tema central do livro,

nesse contexto, foram feitas algumas perguntas pessoais, como: Você acredita em

fantasmas? No Brasil há castelos? As atitudes inadequadas dos gêmeos são

normais em adolescentes? Você já praticou ou presenciou ações consideradas

inadequadas em nossa sociedade?

Nesse momento não houve certo ou errado, foi somente o momento aberto

para a oralidade, onde todas as opiniões foram importantes para complementar esta

atividade.

Para concluir foi feita a leitura da profecia escrita na janela da biblioteca do

castelo:

Quando uma menina com brilho dourado conseguir tirar preces dos

lábios de um pecador; quando a amendoeira infértil frutificar e uma

criança suas lágrimas derramar, então o silêncio irá chegar. E a paz

em Canterville retornará (O fantasma de Canterville, p. 17).

De acordo com as conclusões apresentadas pelos alunos leitores, a profecia

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explica o final do livro, a bondade e piedade da menina Virgínia, salvou o libertou o

fantasma Simon, que só queria ser perdoado e descansar em paz.

Contemplando a última proposta de ação do projeto, programou-se a

reelaboração de um livro que foi doado a biblioteca. Convém ressaltar que ainda

não há maturidade para criar uma história própria. Desta forma, a tarefa foi baseada

no conto “O Escaravelho de Ouro” onde a capa, as ilustrações e o último capítulo do

livro foram recriados.

Para organização da atividade, os alunos foram divididos em três grupos,

onde o primeiro grupo reescreveu o final do conto usando a própria linguagem. É

bem verdade que estavam recheadas de erros de ortografia, porém os alunos foram

criativos e conseguiram recriar um final, que não alterou o sentido do conto. O

segundo grupo, desenhou uma nova capa; e para concluir o terceiro grupo modificou

as ilustrações internas do livro original.

Não se pode deixar de expor que um indivíduo para ampliar seus horizontes

de conhecimentos, é preciso ter um vasto e variado campo de leitura, e em níveis de

diferentes dificuldades, fato que não aconteceu nesta proposta, em virtude do tempo

de execução, no entanto, foi apenas o começo e muito há de ser feito a respeito de

formar leitores.

3. CONCLUSÃO

Leitor competente é aquele que está preparado intelectualmente para

posicionamentos críticos diante da realidade, aquele que julga o que leu, tem

interesse em aprender, se torna independente na busca de novos conhecimentos,

sente prazer em estudar. Nesse sentido, formar um leitor demanda tempo e esforço,

dele próprio e, ainda, dos professores e da escola.

A proposta apresentada neste artigo contribuiu para chamar os alunos para

as benesses da literatura, mas é ingênuo pensar que sozinhos eles continuarão se

dedicando. Muitos resultados positivos foram obtidos, tais como o reconhecimento

da importância da leitura, o prazer de ler e, ainda, a oportunidade de entrarem em

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contato com autores e obras que, muito possivelmente teriam passado

despercebidos se não fosse por esse projeto.

Quanto ao propósito do projeto, este foi atingido, pois criou e estimulou o

interesse dos alunos para o hábito da leitura, sendo que suas visitas à biblioteca são

constantes, além de procurarem sugestões de leitura com a bibliotecária e demais

professores. Porém, para que os alunos possam se tornar verdadeiros leitores é

imprescindível que ações que promovam a leitura sejam uma realidade e uma

constante na escola. Tendo em vista que a influência do professor na formação do

leitor é de tal importância e impacto que desde o momento da escolha dos textos que

vai indicar aos estudantes ele já está direcionando, criando expectativas, deixando

marcas na história de vida de seus alunos. (Por que a fonte deste trecho está menor?)

A utilização de contos também merece destaque especial por sua

adequação ao tempo restrito de trabalho e ao próprio perfil do adolescente que,

geralmente, não possui o hábito de ler, precisa de um encaminhamento nas

atividades e de um material que estimule o seu envolvimento e participação nas

aulas para que a aprendizagem aconteça.

O círculo de leitura, a principal estratégia utilizada, favoreceu o envolvimento

dos leitores com a trama e os personagens, gerando muitas vezes uma identificação

destes leitores com o enredo. Esse envolvimento é muito importante, como fator

motivador para a atividade de leitura, pois desperta nos estudantes uma postura

leitora ativa e crítica, mudando a crença de que o texto tem um sentido único e

fechado.

Cumpre informar que, talvez, nem todos os alunos se tornem leitores, contudo

houve um planejamento com o objetivo de proporcionar oportunidades aos

educandos de experimentar variados modos de leitura, propiciando um espaço de

formação de cultura, garantindo a liberdade e o direito de ler qualquer gênero.

Incentivar, estimular a leitura, foi um desafio e um compromisso: explorar a leitura de

livros de literatura da biblioteca, procurando despertar o interesse do aluno e cultivar

o hábito da leitura, construindo e ampliando conhecimentos, visando ao exercício da

cidadania era o tema de estudo do projeto original, e assim foi feito.

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4. REFERÊNCIAS

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