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esde cedo, no Carmelo, aprendemos a fazer a me-mória de nossa história. Como encanta a um jovem vocacio-nado escutar as histórias de nossas origens e de nossos san-tos. Causa-lhe um envolvimen-to tal que ele próprio sente-se parte das narrativas que lhe são desfiadas ante os olhos, por ir-mãos que, no hoje do Carmelo receberam a missão de trans-mitir a nossa identidade. Todavia não podemos es-quecer disto: se belo é narrar o nosso passado e deixar-se encantar por ele, desafiador é encarnar nosso carisma no presente, de modo que seja-mos, ao mesmo tempo, her-deiros e continuadores de uma história que prossegue. Olhar para o passado re-cente e escrevê-lo com um olhar de continuidade his-tórica é dar-se conta que somos responsáveis pelo pre-sente que está sendo escrito, reconhecendo que o Senhor da história nos dá infinitas possiblidades de cooperar-mos com o seu plano de amor no qual, de um modo singular, a Ordem dos Carmelitas recebeu a missão de ser uma “fraterni-dade orante no meio do povo”. Cada carmelita e cada comu-nidade contribuem para escre-ver as páginas atuais do Carme-lo. Sem dúvida, as festividades em honra a Nossa Senhora do Carmo são ocasião para nos en-contrar como irmãos e irmãs, convocados pela Mãe do Car-melo, ao redor da fonte, que é

Jesus, fazendo a ponte entre o passado e o presente, esforçan-do-nos por manter vivas nos-sas tradições, e deixando-nos ser interpelados por aquela que sempre caminha conosco, ordenando que façamos tudo o que Jesus nos disser, isto é, que “vivamos no Seu obséquio”. Além da figura mariana, Santa Teresa de Jesus, no seu V

expressa a vitalidade do Espíri-to que nos impele a darmos de nós mesmos para que nosso ca-risma seja fecundo e continue a gerar outros tantos consagrados. Contudo, recordemos que nos-sas fraternidades carmelitanas escrevem sua história não sem altos e baixos, não sem luzes e trevas, não sem dores e alegrias – constatação que nos pede o

cultivo constante de um olhar contemplativo, próprio da tra-dição do Carmelo, para que saibamos dar as respostas aos desafios encontrados, sem cair num pessimismo, e esforçando--nos por cumprir os votos que fizemos para com o Senhor. Nesta edição, compartilha-mos com nossos leitores um pouco do que vivenciamos en-quanto Província, nestes últi-mos meses. Leiamos estas pági-nas com uma atitude de ação de graças a Deus por sermos Car-melitas e nos empenharmos a dar o melhor de nós, escreven-do com a vida a nossa história.

Editorial: Contando e Escrevendo nossa História

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Editorial: ContandoFlor do Carmelo, nossa As Noites Escuras de Santa Teresa (I e II)Ao Ouvir Tua VozCarmelo Missão na Notícias do Carmelo Iconografia TeresianaMissão: Uma ExperiênciaNova Fraternidade do EscapulárioOutras Notícias

Flos Carmeli é uma Revista da Província Carmelitana Pernambucana que visa ser um veículo de formação e informação sobre temas carmelitanos e a caminhada do Carmelo, de um modo especial da Família Carmelitana no Nordeste. - Diretor: Frei Altamiro Tenório da Paz, O.Carm. Editor: Frei José Cláudio de A. Batista, O.Carm. - Design Gráfico: Marco Aurélio (MACAÉ) Endereço: Convento do Carmo, Pátio do Carmo, s/n, CEP: 50010-180 - Recife - PETelefone: 55 (81) 3224 3341 - Website: www.fradescarmelitas.org.br

Expediente

Nesta Edição0203

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Frei José Cláudio, O.Carm.

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Centenário de nascimento, nos tem acompanhado nesse pro-cesso de fazer memória. A expe-riência vivida por tantos que se debruçam sobre sua espirituali-dade tem possibilitado uma re-leitura do carisma carmelita que ilumina a própria vida, motivan-do-os à vivência do mesmo. O Carmelo de ontem e de hoje, conta suas vivências com uma forte marca missionária. A Província, aberta à missão em Moçambique e na Amazônia,

Santa Teresa Escritora

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F lor do Carmelo, nossa alegria! Salve, Maria! ano do Senhor de 2015 é marca-do pelos 500 anos do nas-cimento de Santa Teresa de Jesus, uma grande e querida filha de Nossa Senhora do Carmo. As Festas de Nossa Senho-ra do Carmo desse ano, em vários lugares, foram marcadas pela memória da vida de Santa Teresa, que teve uma existência toda mergulhada no Mistério de Deus, sob o olhar bondoso de Maria Santíssima, nossa Mãe. Foi muito bom contemplar, nos inúmeros devotos e devotas da Virgem do Carmo, a atenção dada a tantas e belas reflexões que os pregadores faziam. Os ouvintes puderam vivenciar a experiência de Santa Teresa no seguimento de Cristo, acompanhada sob a pre-sença materna de Nossa Senhora. É sabido, pois, que quando Santa Teresa perdeu a sua mãe, ainda criança, acorreu a uma imagem da Virgem Santíssima e, diante dela, se entregou à Nossa Senhora, pedindo-lhe que fosse doravante sua boa mãe, já que sua mãezinha da terra tinha feito sua Páscoa. Ao escutar as pregações que os impulsionavam a seguir Jesus Cristo, sob os cuidados de Ma-ria, a exemplo de Santa Teresa, os olhos dos fiéis brilhavam.

Na Festa do Carmo do Reci-fe, os cânticos, as flores, as ve-las, o glorioso Coral do Carmo e a piedade do povo são, todos os anos, reflexo do imenso amor que as pessoas demonstram à Virgem Mãe. Da presença in-tercessora da Mãe na vida dos filhos, faz gosto ouvir os inú-meros testemunhos que o povo santo dá de graças alcançadas, como: a recuperação da saúde, uma nova moradia, a conversão de um parente, a alegria de ter, com o apoio da Virgem Santa, superado um vício ou pecado... A Festa de Nossa Senhora do Carmo, com certeza, é um tem-po de muita graça na vida do povo cristão católico, um kairós, um tempo Santo. Muitas pesso-as fazem seu encontro com Jesus Cristo através do Sacramento da Reconciliação e da Eucaristia, outros se regozijam de receber o Escapulário da Virgem Santa Frei Luiz Nunes, O.Carm.

e saírem da Basílica do Carmo do Recife com o propósito de, a exemplo de Santa Teresa, viver totalmente para Deus, revestidos das Virtu-des de Maria; uns su-plicam a Misericórdia de Deus pela interces-são de Nossa Senho-ra, diante de inúmeras dificuldades da vida, outros fazem questão

de fazer uma oferta em ação de graças. Momento inesquecível é o da procissão de encerramen-to da Festa. Como aconteceu em 2012, quando os Carmelitas tiveram o privilégio de receber de volta a Igreja do Carmo de Olinda, que é o berço da Ordem do Carmo nas Américas, tudo culminou com uma belíssima procissão saindo do Carmo do Recife em direção à dita Igreja, fazendo acontecer a comunhão das duas cidades irmãs, Recife e Olinda. Tudo em um clima de fé, alegria, união, entusiasmo e paz. Com o povo Santo de Deus, nós, Carmelitas, queremos re-petir sem cessar:

O

Charola com imagem de N.Sra. do Carmo

Procissão com a imagem de N.Sra. do Carmo Momento celebrativo na Basílica do Carmo

Flor do Carmelo, nossa Alegria, Salve, Salve Maria!

Salve, Salve Maria!

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ão João da Cruz estuda a fundo as quatro noi-tes escuras que a alma tem que atravessar, na sua caminhada para a união mística com Deus. Tais noites são divididas em duas duplas: a) noite ativa e noite passiva; b) noite dos sen-tidos e noite do espírito. No seu livro “Subida do Monte Carmelo”, ele aborda a noite ativa dos sentidos e a noi-te ativa do espírito. Já no livro “Noite Escura” o enfoque recai todo na análise da noite passiva dos sentidos e da noite passiva do espírito. Em resumo, descre-vem-se os efeitos das purificações que se realizam tanto na parte sensitiva como na parte espiritual do homem. A noite é ativa quan-do a pessoa mesma se impõe mor-tificações, sacrifícios, renúncias, provações e correções. A noite é passiva quando tais coisas são im-postas por Deus, à nossa revelia. No caso específico de Santa Te-resa de Jesus, a dolorosa noite escu-ra que ela atravessou durante três anos, logo após a sua profissão reli-giosa, foi uma autêntica noite escu-ra passiva dos sentidos; e é dela que trataremos neste artigo. No artigo subsequente, veremos a noite escu-ra passiva do espírito, em que ela se debateu ao longo de vinte anos. Teresa entrou no mosteiro car-melita da Encarnação no dia dois de novembro de 1535, aos vinte anos. Após um ano exato de pos-tulantado, entrou no noviciado, vestindo o hábito carmelitano e assumindo a nova vida de monja. O ano do noviciado foi, para ela, um período de cálida devoção e profundo mergulho na espiritualidade da Ordem

As Noites Escuras de Santa Teresa (I e II)

carmelitana. Entregou-se às observâncias do Carmelo com a veemência que lhe era peculiar. Estava disposta a tudo para atin-gir a perfeição no amor. Ela pró-pria relata em sua autobiografia:

E ela conclui candidamente: “Sua Majestade me ouviu tan-to que, em menos de dois anos, a minha condição era tal que, embora diferente daquela, a minha enfermidade não foi me-nos dolorosa nem deu menos trabalhos, e durou três anos”.Terminando seu ano de novi-ciado, Teresa fez sua profissão religiosa no dia 3 de novem-bro de 1537, exatamente um ano e um dia depois do seu ingresso no noviciado. Logo começaram a surgir os sin-tomas da misteriosa doença: frequentes desmaios, dor in-tensíssima no coração com horríveis convulsões, e outros

males. E a doença se agravava dia a dia. O pobre D. Alonso, seu pai, vendo que os médicos de Ávila nada podiam fazer, re-solveu tirar sua filha predileta do convento e levá-la a uma loca-lidade, no interior de Ávila, onde morava uma famosa curandeira que, talvez, pudesse curá-la. O tratamento foi mais longo do que o previsto e também mais duro, quase brutal. O diagnósti-co foi completamente equivoca-do. Teresa sofreu tantos horrores nas mãos da curandeira que o pai decidiu levá-la de volta para casa. A situação dela era uma lástima: os ataques do coração eram tão terríveis que muitos pensavam que ela estivesse com a doença da raiva. Por outro lado, os nervos se encolhiam, acarretando dores intoleráveis da cabeça aos pés: “Aquele tor-mento me fez ficar encolhida, como se fosse um novelo, inca-paz de mover os braços, os pés, as mãos e a cabeça... Era difícil me tocarem, pois eu sentia tantas dores que não podia suportá-lo”.

S

“Uma religiosa sofria então, prostrada por grande

e dolorosa enfermidade; devido a uma obstrução,

fizeram-lhe abertura no ventre, por onde

regurgitava tudo o que comia. Em pouco tempo

faleceu. Eu via todas temerem aquele mal, mas tinha grande inveja de sua paciência; e pedi a Deus

que, dando-me semelhante paciência, também me

desse as enfermidades que desejasse. Parece-me que eu não temia nenhuma, pois estava tão determinada a obter bens eternos que me dispunha a ganhá-los por

qualquer meio”.

Entrada de Teresa no Carmelo

I - Primeira Parte

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Alguns dias depois, Teresa sofreu um forte paroxismo e ficou como morta. Todos, inclusive os mé-dicos, atestavam que ela estava realmente morta. Todos, menos o pai, que permanecia de joelhos diante do suposto cadáver da fi-lha e repetia chorando: “Esta fi-lha não é para ser enterrada!” Os familiares se revezavam duran-te as noites no velório da irmã. Numa delas, coube ao seu irmão Lourenço, de vinte anos, fazer a sentinela. Rendido pelo cansaço e pelo sono, ele adormeceu, der-rubando sobre a cama um casti-çal com a vela acesa. Em pouco tempo, o fogo começou a quei-mar as almofadas e os lençóis; e teria queimado também a irmã, se o rapaz não tivesse despertado e alarmado a casa inteira. O coma demorou quatro dias. O túmulo estava aberto, no mos-teiro da Encarnação. Em algu-mas igrejas foram celebradas as exéquias. Chegaram até a colo-car cera nos olhos da suposta defunta, conforme os costumes locais, e a vesti-la com uma mor-talha. No quinto dia, Teresa co-meçou a dar sinais de vida: com alguma dificuldade, por conta da fina camada de cera, voltou a abrir os olhos, para a alegria de todos. Tão logo retornou à cons-ciência, pediu para se confessar e receber a comunhão, no meio de abundantes lágrimas. Toda-via, a cura não foi imediata e definitiva; foi antes um retorno lento à normalidade. Ela conti-nuava totalmente imóvel e as dores não cessavam. Mesmo assim, pediu para retornar ao mosteiro. Somente oito meses depois é que começou a mover--se, a engatinhar como criança. Permaneceu paralítica por cerca de três anos. Ela atribui sua cura definitiva à proteção de São José, de quem era muito devota.

Dois fatos marcaram pro-fundamente a alma de Teresa, trazendo um raio da luz divina para clarear as trevas daque-la noite tão escura. O primei-ro foi a conversão do pároco da vila de Becedas, aonde fora se tratar. Antes de começar o dito tratamento, ela procurou o sacerdote para fazer uma con-fissão. Seu hábito de monja, sua candura de consciência e seu entusiasmo pelas coisas de Deus, mexeram com a consci-ência do confessor, que havia tempo estava vivendo uma vida escandalosa com uma mulher. Para assombro da jovem freira, o confessor terminou se con-fessando com ela, pedindo-lhe ajuda para sair daquele emba-raço. Graças às orações e ao testemunho de vida da carmeli-ta, ele conseguiu realmente sair daquela situação incômoda. Tal experiência jamais se apagaria da mente de Teresa que, anos depois, ao fundar o Carmelo descalço, colocaria, como um dos objetivos da reforma tere-siana, orar pelos sacerdotes. O segundo fato refere-se à leitura de dois livros naqueles momentos cruciais: o Terceiro Abecedário, do franciscano Frei Francisco de Osuna, versando sobre a oração de recolhimen-to; e a história de Jó, comenta-da por São Gregório Magno: “Muito me serviu ter lido a his-tória de Jó, nas Moralia de São Gregório”. Durante toda aquela noite escura dos sentidos, Tere-sa pôde constatar a veracidade destas palavras de Jesus: “O es-pírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mc 14,38). A noite, no entanto, será bem mais escura quando acontecer o oposto: a carne está forte, mas o espírito não está pronto. Aí sim, será a noite escura passiva do espírito!

II - Segunda Parte

a parte anterior, comentei a “noite escura passiva dos sentidos”, em que Santa Tere-sa se debateu ao longo de três anos, logo após a sua profissão religiosa. Nesta parte, abordarei a “noite escura passiva do espíri-to”, que vai purificá-la por cerca de vinte anos. Teresa enfrentou com galhardia a noite escura dos sentidos porque, mesmo a carne estando fraca, o espírito estava pronto (cf. Mc 14,38). Agora, no entanto, o quadro se reverteu: a carne estava reabilitada, mas o espírito não estava pronto. Durante os três anos de sua convalescência, mesmo imóvel na cama, Teresa começou a dar mostras de santidade no pequeno mundo da enfermaria do mostei-ro da Encarnação. Do seu leito de dor, ela esparramava raios benéficos sobre as irmãs que a rodeavam. A cura, depois de três anos de paralisia, foi ruidosa, comovendo boa parte da popu-lação de Ávila. Todos queriam ouvir da sua boca a narração da sua cura, que ela própria consid-erava um milagre de São José. As visitas cresciam a cada dia; e tanto as monjas como os próprios confessores conven-ciam Teresa a não rejeitá-las. É que, com elas, chegavam muitas esmolas para o mostei-ro, que era pobre. Para Tere-sa, ao invés, elas causavam um transtorno, que a inquietava bastante: cada dia menos recol-himento e mais dispersão. E isso lhe soava como uma falta grave. Ao sair da enfermaria, Te-resa havia superado a enfermi-dade física, a paralisia do cor-po; porém, começava a ficar doente da alma. Deixou-se en-volver por uma ambígua familiar-idade com parentes e amigos.

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Voltaram à tona e prevalecer-am as antigas amizades, que ela havia penosamente abandona-do. A falta de recolhimento ger-ou a desmotivação, levando-a a abandonar a oração: “foi a maior tentação que tive”. Em resumo, Teresa passou por uma longa e dura tentação de mediocridade. E a luta para não sucumbir foi permeada de intermitências e novas crises. Ele mesma descreve sua situação ambígua: “E assim comecei, de passatempo em passatempo, de vaidade em vaidade, de ocasião em ocasião, a envolver-me tanto em tão grandes ocasiões e a estragar a alma em grandes vaidades que tinha vergonha de me aproximar de Deus. Contribuiu para isso o fato de que, como os pecados aumen-taram, o gosto e a alegria da prática da virtude começaram a escassear. Eu via muito clar-amente, Senhor meu, que isso me faltava por eu faltar a vós”. Essa espécie de ambigui-dade entre ser e não ser foi o húmus onde germinou a crise de Teresa. Todavia, o pior era que ela se sentia só nessa bat-alha. Nem o mosteiro nem os confessores contribuíram para que ela cortasse o mal pela raiz. Ela experimentava o que é a solidão no meio da multidão. Dentre as visitas e amizades, Teresa alude a uma determina-da pessoa, com quem criou certa dependência afetiva, porém sem jamais insinuar se fosse homem ou mulher. Isso abriu campo para futuras indagações. In-úteis, todas elas. Encobriu a pessoa, não o fato: “Estando eu com uma pessoa que há pouco conhecera, percebi que o Sen-hor queria dar-me a entender que aquelas amizades não eram

convenientes, alertando-me e es-clarecendo sobre a minha grande cegueira. De fato, eis que vi Cris-to representado diante de mim, com muito rigor, mostrando-me o quanto aquilo me pesava. Vi-o, com os olhos da alma, com mais clareza do que o poderia ter visto com os olhos do cor-po. A sua imagem tornou-se tão indelével que até hoje, mais de vinte e seis anos depois, ainda tenho a sensação de vê-lo. To-mada de um profundo temor e de grande perturbação, não quis mais receber a pessoa com a qual me encontrava então”.

Todavia, com o passar do tem-po, e com as justificativas que sua consciência fragilizada lhe apre-sentava (“Foi uma ilusão! Não há nada demais nisso!”), nossa Santa voltou atrás, confessando que “permaneceu vários anos nesse divertimento pestilento”. Deus enviou-lhe outro si-nal, bem diferente do primei-ro: “Certa vez, entretida na companhia da mesma pessoa, vimos - e outras pessoas, que estavam ali, também o viram - uma espécie de sapo grande dirigir-se para nós, caminhan-

do com uma rapidez que não é própria dessas criaturas. Não tenho como explicar o apareci-mento, em pleno dia, de semel-hante criatura naquele lugar... E o que isso me causou por certo envolvia mistério, jamais tendo saído da minha lembrança”. Mesmo sem sair da lembrança, o impacto da visão do sapo dur-ou pouco. As coisas retomaram seus lugares, continuando a sub-jugar o espírito de Teresa, que afirma sem rodeios: “nenhuma outra pessoa me trouxe tanta dissipação quanto essa, dada a afeição que eu nutria por ela”.

Deus mandou-lhe um tercei-ro recado, diferente dos an-teriores: “Uma monja, minha parenta, antiga e grande serva de Deus, me alertou algumas vezes; eu, porém, não acred-itava nela e ainda ficava des-gostosa, pensando que ela se escandalizava sem motivo”. Surgiu então um quarto sinal, ainda mais eloquente: a morte do seu pai, D. Alonso. “Enfren-tei grandes trabalhos durante a sua doença. Creio tê-lo recom-pensado pelo que ele passara com as minhas”. A morte san-ta do velho comoveu-a profun-damente. Teresa aproveitou a oportunidade para fazer uma

boa confissão com o Padre Vi-cente Barrón, que era justa-mente o confessor de D. Alonso. Tal confissão foi um verdadeiro oásis no meio do deserto em que Teresa vivia. Todavia, o oá-sis não é o termo da caminha-da; é apenas um ponto de para-da; a caravana deve prosseguir. E Teresa anota que prosseguiu na caminhada, “caindo e le-vantando, levantando-me mal, pois voltava a cair”. E assim por mais dez anos de mediocridade. Fazia-se necessário um quinto sinal para sacudir Teresa daquele

Conversão de Teresa

Continuação da página 5.

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torpor. “A minha alma já estava cansada e, embora quisesse, seus maus costumes não a deixavam descansar”. E o sinal aconteceu: um belo dia, Teresa entrou num determinado oratório e se depa-rou com uma imagem de Jesus na flagelação, todo coberto de cha-gas. O choque foi tremendo. Com o coração partido, ela lançou-se aos pés de Cristo, derramando muitas lágrimas. “Creio que lhe disse que não me levantaria dali enquanto a minha súplica não fosse atendida”. A partir de en-tão, tudo começou a mudar.

Sim, tudo começou... Mas, das outras vezes, tudo também começara, e nada terminava! Te-resa já não acreditava mais em si. Era preciso um xeque-mate, para concluir aquela lenga-lenga de quase duas décadas. E foi o que aconteceu pouco depois, com a leitura do livro “As Confissões”, de Santo Agostinho: “Quando cheguei à sua conversão e li que ele ouvira uma voz no jardim, sen-ti ser o Senhor quem me falava, tamanha foi a dor do meu coração. Passei muito tempo chorando, com grande aflição e sofrimento...

Glória a Deus que me deu vida para eu sair de uma morte tão mor-tal!” Tanto o episódio da imagem de Cristo chagado como a leitura de Santo Agostinho acontecer-am na quaresma do ano 1554, que Santa Teresa assinalou como o ano da sua conversão. Real-mente, esse ano foi um marco na caminhada espiritual da grande Doutora da Igreja: encerrou o período ascético da sua vida e iniciou o período místico. Porém, isto será o assunto do meu próxi-mo artigo. Se Deus quiser!

Frei Geraldo de Araújo Lima, O.Carm.

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do em atividades voltadas para universidades e concursos pú-blicos. Era Deus agindo em meu ser, modelando-me por meio das muitas experiências que vivi. Foi assim que, com apenas 17 anos de idade, fui aprovado em um concurso público federal e também no vestibular da UFPE – Universidade Federal de Pernam-buco – para o curso de Licenciatu-ra em Matemática. Ainda cheguei a estudar até o quarto período na-quela saudosa academia, mais ou menos quando fui convocado para assumir a vaga do concurso, aos 19 anos. Devido ao deslocamento ne-cessário para o trabalho e também ao ritmo pesado da rotina, acabei trancando Matemática e migran-do para o curso de Administração de Empresas, que viria a concluir

no primeiro semestre de 2014. Trabalhei no referido órgão pú-blico por mais de cinco anos. Mi-nha vida ia bem, mas faltava algo. Eu não me sentia plenamente feliz. Que bom que o Senhor nunca de-sistiu da minha conversão. Ele pre-parava a ocasião de nosso reencon-tro, dessa vez para mergulhar em águas mais profundas, para eu não mais ser capaz de viver longe d’Ele. E a experiência definitiva para que eu ouvisse a voz do Amado aconteceu numa tarde de adora-ção, no VIII EJC de Escada, em minha cidade natal no estado de Pernambuco. Fechando os olhos, eu senti a plenitude de estar tão

prendi muitas lições de vida ao longo da caminhada vocacional. O bom Deus me foi formando da maneira como costuma trabalhar os corações endurecidos, e caminhei a pas-sos pequeninos pela via da espi-ritualidade. Jesus me sustentou em todos os momentos. Mesmo sendo o mais indigno dos servos do Senhor, nasci em um lar católico. Fui batizado com cinco meses de idade, aos 25 de dezembro de 1990, em data mais nobre do que mereço, e com nove anos recebi pela primeira vez o ós-culo da imortalidade, a primeira comunhão. Por sua ação podero-sa fui impelido a me envolver em grupos de pastoral como a Legião de Maria e a Renovação Carismá-tica, nos quais vi nascer em mim o desejo de ser sacerdote. Com 13 ou 14 anos ainda cheguei a participar de encontros vo-cacionais no seminário da Graça, em Olinda, junto com outros dois vocacionados de nossa paróquia de Nossa Se-nhora da Escada, passando das brincadeiras de missa, quando criança, para uma possibilidade real que come-çava a nascer em minha vida. Mas, os caminhos do Senhor não são os nossos. E talvez por imaturidade ou por falta de um acompanhamento, fui esfriando em meu coração a ideia de ser padre. Talvez devido à separação dos meus pais, que naquela época teve um peso muito grande para nossa família. Um episódio hoje superado, contudo muito doloro-so para todos nós à época. Começava ali um novo perí-odo em minha vida, pois a ne-cessidade de estudar e trabalhar para melhorar de vida me impul-sionou a lutar por novos objeti-vos. Acabei deixando os grupos de pastoral aos poucos, e focan-

Ao Ouvir Tua Vozperto de Deus. Me vi diante da Hóstia con-sagrada como o filho pródigo diante do pai, rejubilante de alegria. En-tendi que tudo o que eu precisava para ser feliz era aquilo, a presença de Jesus. O res-to era apenas acréscimo. Um versículo me veio à mente: “A quem muito foi dado muito será cobrado” (Lc. 12, 48). Era a voz do Senhor que, alegre pelo meu retor-no e saudoso da minha adoração, renovava em meu coração o cha-mado para a missão de servi-Lo na sua Igreja. Ele me fazia lembrar de tantos dons que recebera e da ta-refa de utilizá-los em benefício do

reino de Deus. E, tomado pe-las lágrimas, tive a coragem, a loucura, de dizer a palavra que mudaria para sempre a minha vida: “Sim”. Olhando para minha vida, fiz a mesma per-gunta que Nossa Senhora, há dois mil e alguns anos antes: “Como acontecerão tais coi-sas?” (Lc. 1, 34). Começava então minha nova caminhada vocacional. Mais maduro e

com toda uma vida construída, fui convidado, assim como os apósto-los, a “largar meu barco na praia e, deixando tudo, seguir Jesus”. Meus passos nesta maravilhosa caminhada acabaram me levan-do a “bater às portas” da basílica de Nossa Senhora do Carmo, no Recife, onde o frei Francisco, meu conterrâneo carmelita, e o Frei Adriano Saboia, O. Carm., me ajudaram a aprofundar este cha-mado com a promoção vocacional. Assim trilhei os passos e fui aceito para o primeiro ano de Postulan-tado de nossa província. Tenho vivido esta nova e transforma-dora experiência, com a renova-

A

Luís Otávio, Postulante

O chamado dos discípulos

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da esperança de que, apesar de meus inúmeros defeitos, o Senhor possa tornar-me um Carmelita. Ao ouvir a voz de Jesus, iniciei um novo caminho. Desejo ser a ar-gila modelada aos poucos, deixar de seguir os meus próprios cami-nhos e ir pela trilha que Ele aponta.

Tomando a cruz, quero dar meus passos pelas tantas Gali-leias, neste mundo de homens que ainda pescam em mares sem vida, águas incapazes de dar-lhes a verdadeira e comple-ta paz. Leve-me, Jesus, aos co-rações que ainda não o amam.

Abra-lhes as portas e deixe entrar sua palavra. E, se quiser, que use estas minhas humílimas mãos, as-sim como as mãos de meus irmãos carmelitas, para executar esta tarefa de “ir pelo mundo anun-ciando o evangelho” (Mc 16, 15).

e outras comunidades contíguas. No período de preparação ti-vemos a oportunidade de viven-ciar momentos de espiritualidade carmelitana e aprofundar o perfil missionário no contexto das visi-tas e demais celebrações. A mis-são foi concluída com a participa-ção no encerramento da Festa da Padroeira, Senhora Santana. O período de presença nas comuni-dades foi de apenas seis dias (de 27/07 a 01/08). Domingo, 02/08, todo o grupo voltou a se reunir no Centro de Treinamento e Pastoral para avaliar a experiência e defi-nir novos rumos desta atividade da Família Carmelitana no Brasil.

Carmelo Missão na Amazônia

A

Frei Rogério, O.Carm.

Luiz O. Silva, Postulante Carmelita

Família Carmelitana do Brasil promo-veu, durante a segun-da quinzena do mês de julho/2015, o Carmelo Missão, que reuniu na Cidade de Itaituba (sede da Prelazia que recebe o mesmo nome) um grupo de 40 carmelitas (padres, frades, irmãs e leigos carmelitas). A experiência missionária foi preparada por alguns dias de for-mação em que foram sublinhados: a história dos carmelitas na região norte do Brasil; o projeto da CNBB para a Igreja da Amazônia; a me-mória dos encontros anteriores do Carmelo Missão; a realidade pas-toral da Prelazia de Itaituba e uma breve descrição das comunidades urbanas e rurais visitadas nesta presença missionária carmelitana (Conjunto Virlande, São Bene-dito, Barreiras, Santa Terezinha, Vila Itaituba, Vila Madalena, San-ta Clara, São Tome e São Lázaro, N. Sra. da Conceição, N. Sra. de Nazaré e Campo Verde (KM 30)

Grupo de Missionarios

Formação com Frei Rogério

Visita de Dom Cláudio

cardeal Dom Cláu- dio Hummes, de São Paulo, chegou a Itaituba na noite da quarta-fei-ra (28/07) e permaneceu na cidade até o sábado (01/08). O cardeal foi re-cepcionado por D. Wilmar

e alguns jovens membros do Gru-po Irmãos na Fé. Na quarta-feira pela manhã, presidiu a frequenta-da missa da Catedral de Santana, às 7h. No mesmo dia, aconteceu, às 10h, uma entrevista coletiva com a imprensa local, na residên-cia episcopal. À noite, às 19h30, presidiu uma missa na Igreja Ma-triz do Bom Remédio, na cidade alta. Em sua agenda, visitou tam-bém algumas comunidades e bair-ros da cidade, inclusive áreas onde se encontravam os missionários carmelitas. É bom recordar que Dom Cláudio tem fortes ligações com a Igreja da região norte do Brasil, desde o período em que era bispo da Diocese de Santo André (anos 80). Atualmente D. Cláudio Hummes é Cardeal emé-rito da Igreja de São Paulo e pre-side na CNBB a Comissão para a Amazônia, que foi um dos temas da preparação abordado em nossa for-mação assessorada pela Irmã Irene, membro da referida comissão.

Visita de Dom Cláudio Hummes (Car-deal Humes) ao Município de Itaituba, durante a semana do Carmelo Missão

(por Andreia Siqueira/Jornal Tapajós).

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pós a sua chegada no dia 10/06/2015, o Frei Altamiro, descansou da viagem, e em se-guida observou o andamento da comunidade conventual. No dia 12/06/2015, iniciou as conversas com cada confrade, começando pelos capitulares e por últi-mo, os estudantes. No dia, 17/06/2015 tivemos a Mi-niassembleia da Delegação: após a oração inicial de in-vocação ao Espirito Santo, iniciou a sua fala lendo o capítulo 2 da nossa regra, depois, dentre vários temas e assuntos, destacou: “Ser Carmelita hoje, é uma alegria que se renova e se comunica”. Esta visita fraterna e canônica a Moçambique, do Pa-dre Provincial, “tem como ob-jetivo ver os confrades, como estão caminhando em todas as áreas da vida, animá-los, escu-tá-los, e enfim, conjuntamente,

procurar melhorar e tomar algumas deci-sões e saídas para as dificuldades”, dizia o Pe. Provincial. Exor-tou-nos para estarmos atentos à vida frater-na na comunidade, à missão que temos e, por fim, aos nossos votos que assumimos na vida consagrada, sem deixar de lado a formação. Também insistiu na necessidade de aprendermos outras línguas e nos especiali-zarmos nas áreas de interesse da Ordem e da Igreja, para o bem da Delegação, da Província e da Or-dem. Ademais, falou-nos da ne-cessidade de nos formarmos para a

liderança, sabermos avaliar nossa caminhada e traçarmos linhas con-cretas para a caminhada de nossa Delegação, nos anos seguidos ao Capítulo Provincial, sempre num clima de transparência, de since-

ridade e verdade, para o bem da Delegação, da Província e da Or-dem, tendo sempre diante de nós aque-le que nos chamou, Jesus Cristo, que é o fundamento último da vida consagrada, por quem “estamos aqui e não por causa de frei sicrano ou fu-

lano”; “não é por acaso que o nos-so carisma diz que devemos ‘viver em obséquio de Jesus Cristo com um coração puro e reta consciên-cia’ ”. Ainda nos animou a perse-verar diante das saídas de alguns irmãos. No dia 22/06/2015, fomos comemorar o aniversário de Frei

Genildo, O.Carm. Tam-bém, neste período de visita do Pe. Provincial, tivemos umas confraternizações. O padre provincial visitou al-gumas famílias e as irmãs carmelitas com as quais tra-balhamos e partilhamos da pastoral carmelitana, aqui, na Arquidiocese de Mapu-to. A visita do Padre Pro-vincial foi concluída com uma missa na paróquia, lá

pelas 18h, no dia 08/07/2015, e uma confraternização no conven-to de São José, no clima festivo.

o dia 02/06/2015, partimos a caminho do Zimbabwe, país vizinho a Moçambique, onde se encontrava os nossos irmãos (Fr. Célio e Fr. Cândido); neste percurso passamos pelo Dombe, onde moram nossos amigos da Obra de Maria, que com muito carinho e amor nos acolheram. Passamos a noite e, cedinho,

Notícias do Carmelo Jovem Moçambicano

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Visita Fraterna do Pe. Provin-cial, Frei Altamiro, O.Carm

o lado de cá, mais uma vez, venho partilhar com vocês três eventos da nossa Delegação, a saber: a visita canônica do padre provincial, os primeiros votos dos nossos confrades (frei Célio e frei Cândido) e a entrada ao noviciado do nosso Irmão José Lucas Nha-ma, por último a nova estrutura do laicato do Carmelo moçambicano.

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Profissão do Frei Célio

Frades: Lucas, Mendonça, Sócio, Célio, Lázaro, Cândido e Raimundo

Fr. Mendonça, Fr. Altamiro, Fr. Jack e Fr. Raimundo

Primeiros votos dos nossos confrades e a entrada ao noviciado do nosso Irmão

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demos continuidade à nossa via-gem. No dia 04/07/2015, houve a profissão dos votos simples dos nossos confrades Frei Célio, O.Carm., e Frei Cândido, O.Carm., da nossa Delegação. É uma ale-gria para nossa Delegação acolher mais dois frades, com quem, jun-tos, vamos florir o Carmelo Jovem de rosto moçambicano… É uma alegria que contagia a todos, a

Iconografia Teresiana m virtude do V Centenário do nascimento de Sta. Tere-sa de Jesus, Márcio Mota, artista cearense, conhe-cido por suas pinturas em inúmeras igrejas, dentro e fora do país, pintou 10 telas em homenagem à santa, que narram passa-gens de sua vida. Contem-plemos suas obras de arte:

Frei Lázaro José António O.Carm

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Entrada de Teresa no Carmelo Conversão de Teresa Teresa e João da Cruz

Teresa inicia fundações Fundação do Carmelo de São José Teresa e Jesus

Teresa dá seu manto a Ana de Jesus Transverberação do Coração de Teresa Teresa Escritora Teresa morre em 1582, aos 68 anos

nós, à Província Pernambucana e à Ordem, pois as alegrias e as es-peranças do Carmelo Jovem Mo-çambicano são as alegrias e espe-ranças da Província e da Ordem.

omo, depois de muito tempo, caminhávamos sem uma es-

trutura, houve a necessidade de criá-la. Foram nomeados para os ofícios dos leigos os seguintes: Responsável das Leigas: Dona Jaqueline, a Ecônoma das Leigas: Dona Luísa Viola, a Secretaria das Leigas: Dona Luísa Manjope; quanto a animação do Grupo: Dona Angélica, e à Comunica-ção do Grupo: o senhor Elias.

A Estrutura do laicato do Carmelo moçambicano

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oncluindo o mês de Agos- to, que no Brasil é dedica-do à reflexão vocacional, gostaria de partilhar com os irmãos e ir-mãs, amigos e seguidores da vida da Província Carmelitana de Per-nambuco, minha experiência na missão. Embora em Moçambique, este não seja um mês vocacional, espero poder conduzir a todos, os de lá (Brasil), e os de cá (Moçambique), à uma renovada consciência vocacional- missionária. A missão começou co-migo e, creio começa com todos, quando deixamos cair dentro de nós, dos nossos corações as barrei-ras e limites que nos im-pedem de perceber que o mundo é muito maior do que as nossas concepções, concei-tos e preconceitos e que o outro é diferente e não inferior a nós. Ademais, é necessário coragem, porque é preciso superar os medos, renunciar as seguranças, sair das nossas zonas de conforto e, sobre-tudo, confiar na palavra de outro que nos motiva a sair, mas também na Palavra do totalmente “Outro”, que diz: “vai, eu te envio”. Esta, certamente, foi a experiência pela qual passaram Abraão, nosso pai na fé (cf Gn 12, 1-3), Moisés (Ex 3,10), o profeta Elias, nosso Pai (1Rs 17, 2ss), Maria, nossa Mãe (Lc 1, 26-38) e tantas outras per-

sonagens bíblicas ou da história da Igreja. Esta foi também a expe-riência que fui convidado a fazer em Janeiro de 2014, por ocasião da celebração do nosso Capítulo Provincial, quando, terminado um triênio conturbado na minha vida religiosa, esperava voltar para a mi-nha Província de origem e minha terra, para o meu povo e minha parentela. Contudo, fui convidado à uma experiência não planejada, e eu, com o coração despedaçado, mas confiando na Palavra, parti para o desconhecido, e no entan-to, “o Senhor tinha-me preparado no Carmelo (moçambicano) algo que só ali poderia encontrar”.

o mero tra-balho apos-tólico até à exaustão físi-ca e espiritu-al e perceber que a minha missão nes-tas terras, talvez, seria a mesma de Santa Te-resinha: “fazer Deus amado como eu o amo”. Aqui não fazemos mui-tas coisas, além de estar e ser pre-sença de Deus no meio do povo, testemunhando com uma vida de intensa e regular oração, fraterni-dade e serviço na paróquia San-ta Maria, Mãe de Deus de Khon-

golote, a nós confiada.Como tarefas específicas, ajudo na animação da De-legação, um trabalho de-safiante, mas ao mesmo tempo gratificante, uma vez que conto com a co-laboração de uma comu-nidade comprometida: os frades junioristas e o Frei Sérgio, nosso primeiro sa-cerdote moçambicano. Os estudantes, não obstante

as atividades acadêmicas que são intensas e exigentes, assumem com muita responsabilidade as ta-refas comunitárias e levam avan-te, com o seu dinamismo próprio, a Delegação. Depositamos neles a nossa confiança e estamos cheios de esperança de que corresponde-rão, dando sempre o melhor de si mesmos para o Reino de Deus e o Carmelo. Ademais, acompanho o postulantado, desde a minha chegada, e o aspirantado, a partir do presente ano. Trata-se de um trabalho com o qual me identifico e que, portanto, faço com prazer. Outrossim, encontro facilidade

Missão: uma Experiência que Transforma

“Sempre tive a convicção que o Senhor tinha-me preparado no Carmelo algo que só ali poderia

encontrar”.

Edith SteinFrei Genildo

Chegamos a Maputo, Frei Al-tamiro e eu, no dia 22 de Março de 2014, e encontramos no con-vento São José de Khongolote, so-bretudo, uma comunidade, o Car-melo Jovem moçambicano - como se costuma falar por aqui - que para além de todos os desafios en-contrados, insiste e persiste com a presença carmelitana na também jovem pátria de Moçambique. Com o passar dos dias e dos meses tive que sofrer outra pro-funda conversão, pois necessitei alargar ainda mais a minha con-cepção missionária e entender que a missão é muito mais do que

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As Bem-aventuranças (pintura africana)

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pela abertura e docilidade dos jo-vens que batem à nossa porta e se interessam em experimentar nossa vida. As limitações que encontro são as minhas, a nível pessoal, e as dificuldades de diferença cultural que se tornam desafios no relacio-namento e condução do grupo. Contudo, o que quero desta-car da experiência moçambicana é, sobretudo, o trabalho e a par-tilha de vida que fazemos com o povo de Deus na paróquia. O que se percebe nos rostos, ex-pressões e realidade é a situação de empobrecimento da maioria, gerada pela injustiça e pela ação gananciosa de poucos ricos que só pensam nos seus interesses pes-soais e deixam a grande maioria privada do necessário para viver dignamente. Moçambique, como o Brasil, tem riquezas e possibili-dades que se usadas em benefício do seu próprio povo, amenizaria

tantas situações-limite que exis-tem. No entanto, o que se obser-va é um jogo de interesse e busca de proveito pessoal que faz toda a nação sofrer miseravelmente e o país ser vendido aos interesses estrangeiros, exportando toda sua riqueza e importando miséria, exploração e sofrimento ao mo-çambicano. Não obstante esta re-alidade, o povo é, antes de tudo, forte. São homens e mulheres que não se deixam vencer pelo mal, mas lutam virilmente pela supe-ração e buscam na fé e na alegria a força necessária para continuar a difícil arte de viver. Os jovens são de uma capacidade intelec-tual extraordinária, faltando-lhes apenas oportunidades de se pro-jetarem e realizarem o sonho de uma “vida digna de ser vivida”. O moçambicano em geral, vive a sua fé de maneira viva e encar-nada, expressando na liturgia,

pela dança, cânticos e alaridos a esperança de novos Céus e uma terra nova, onde brote a justiça. Na celebração da Páscoa do Senhor, sente-se intensamente a força libertadora da Ressurreição e o poder de Deus que faz o jus-to viver por sua fé. Além disso, é um povo extremamente acolhe-dor e imensamente agradecido pela nossa presença em seu meio, mesmo com nossas inconstâncias e frequentes mudanças de pároco. Enfim, para concluir este tes-temunho com as palavras daque-la com a qual o iniciei, gostaria de dizer que “há determinados lugares, ermos ou não, em que Deus se digna conceder graças à alma”. Eu tenho certeza de que um destes lugares é a missão e o Carmelo de São José em Kongo-lote/Moçambique. Por isso, seja Deus para sempre bendito.

om grande festa e ale- gria, foi fundada no dia 15 de julho de 2015, na Paróquia Nossa Senhora do Monte Carmelo, Diocese de Caruaru - PE, a Fraternida-de do Escapulário, composta por 29 membros. A Celebra-ção Eucarística foi presidida pelo Frei José Roberval Men-

Nova Fraternidade do Escapuláriodes Pereira e, além de outros padres, foi concelebrada pelo Administrador Paroquial Pe. Kennedy Amorim. A cele-bração festiva contou com a acolhida oficial da Bandei-ra da Fraternidade, com a imposição do Escapulário e consagração dos membros e a entrega dos diplomas.

Frei Genildo Mário de Queiroz, O. Carm.

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Missa presidida pelo frei Roberval

Momento orante com o Frei Yedo Acolhida da Bandeira da Fraternidade

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Outras NotíciasAssembleia de Páscoa O adeus ao Frei Batista

otivados por este tema, nós, os frades carmelitas da Província Carmelitana Per-nambucana, estivemos reunidos, de 14 a 17 de abril, no Convento Nossa Senhora Peregrina, Camo-cim de São Felix - PE, por ocasião de nossa Formação Permanente e Assembleia de Páscoa 2015. Nesta atmosfera pascal, e também de celebração dos 500 anos do nascimento de Santa Teresa de Jesus, aprofundou conosco esse tema o Frei Francisco Sa-les Amaro Oliveira, OCD, coordenador do Centro de Espiritualidade Carmelitano, em São Roque - SP.

Nos passos de Teresa de Jesus reavivar nossa intimidade com Cristo

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Assembleia do Laicato

e 17 a 19 de Abril, no Convento N. Sra. Pe- regrina, na cidade de Camocim de São Félix - PE, aconteceu a Assembleia do Laicato da Pro-víncia Carmelitana Pernambucana, com o seguinte tema: Nos passos de Santa Teresa de Jesus, reavi-var nossa intimidade com Cristo – o mesmo da As-sembleia de Páscoa dos Frades, dias antes. A parte formativa coube ao Frei Francisco Sales, frade car-melita descalço, que muito bem soube apresentar o itinerário espiritual de Santa Teresa de Jesus, a Santa Madre, como é chamada pelos descalços. A Assembleia contou com a presença de representan-tes das Ordens Terceiras do Carmo, Fraternidades do Escapulário e Juventude Carmelitana, embora se tenha sentido a ausência de alguns. O responsável pelo Laicato na Província é o Frei Vicente Ferreira, O.Carm, auxiliado pelo Frei Kaio Verçosa que acom-panha as fraternidades do escapulário. Esteve pre-sente no encontro o nosso provincial, Frei Altamiro.

ia 27 de maio, faleceu, aos 80 anos de vida, na cidade do Recife, o Frei Batista, cujo nome de batismo é Cláudio Pordeus Gadelha. Frei Batista nasceu na cidade de Souza - PB, no dia 20 de mar-ço de 1927; fez seus primeiros votos no Carmelo no dia 09.02.1947, e ordenou-se sacerdote no dia 08 de dezembro de 1952. Durante sua vida de consagrado a Deus na Ordem do Carmo, além de cantor e composi-tor de belas músicas, foi Provincial, Ecônomo Provin-cial, prior do Carmo do Recife - PE e de Princesa Isabel - PB, diretor Espiritual da OTC de Recife e João Pes-soa - PB. Foi Pároco também em Princesa Isabel, Camocim de São Felix - PE, Piedade - Jaboatão - PE, Cajueiro Seco - Jaboatão - PE e grande pregador do Evangelho. Faleceu no mês Mariano e numa quarta-feira, dia dedicado a Nossa Senhora do Carmo. Deus o acolha no festim da eternidade! Frei Batista

Encontro para Formandos e Formadores

Encontro Carmelitano

Frei Francisco Sales, OCD

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s superiores gerais da Ordem Carmelitana na América Latina promoveram, de 24/07 a 08/09, um encontro para formandos e formadores carmelitas, realizado em Villa Carmelita, Peru. O encontro contou com a participação de 23 fra-des provenientes do Brasil, Argentina, Venezuela, Peru, El Salvador, Porto Rico, República Domini-cana e México. Da Província Pernambucana par-ticiparam os freis: Júlio César, José Cláudio, Paulo Henrique, Aléquison e Flávio. Além da convivência fraterna, oração e par-tilha de experiências, os participantes tiveram a oportunidade de aprofundar temas ligados à di-mensão humana e espiritualidade carmelitana.

ORegresso do Frei Sergionei

epois de um período de exclaustração, exercendo seu sacerdócio na Diocese de Patos - PB, retorna à Provín-cia o Frei Sergionei, O.Carm. O mesmo está a residir na co-munidade Beato Tito Brands-ma, em Carmópolis - Se, des-de o segundo tremeste do ano. Acolhemos o nosso confrade com grande alegria.

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Frei Sergionei

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ia 15 de agosto, a Ordem Terceira Carmelita de João Pessoa - PB, realizou a eleição para a escolha da nova mesa diretiva. Além dos mem-bros do sodalício, estiveram presentes o Delegado Provincial para o Laicato, o Frei Vicente Ferreira, O.Carm., e o Frei Sormani José, O.Carm., Diretor Espiritual. O resultado do pleito foi o seguinte: Sil-vio Romero de Lucena – Prior; Marcos Cavalcanti de

Albuquerque – Vice Prior; Maria Apa-recida Medeiros de Lucena – Priora e Ajoceris Marinho da Silva – Vice Priora. Conselheiros: Fran-cisco da Chagas Fer-

reira e Elielton da Silva Lima. Conselheiras: Arace-lis Pereira da Silva e Marlene Pimentel de Brito.

Frei Francisco Rinaldo

u l t i vando por l ongo tempo o sonho de apro-fundar-se nas Sagradas Escri-turas, o Frei Francisco Rinal-do deixou a comunidade de Piedade e passou a integrar a comunidade internacional de Santo Alberto, em Roma, onde preparar-se-á para fazer a sua especialização em Bíblia.

Frei Herryson

Província Carmelitana Pernambucana (PCP) acolheu, em nossa fraternida-de carmelitana, o frade junio-rista, Frei Djgens Herrysson de Castro Mendonça, natural de Fortaleza, até então membro da Província Santo Elias. Após um sério discernimento com

seu formador, Provincial e Conselho, o Frei Herys-son solicitou sua transferência para a PCP. O nosso Provincial, tendo escutado as instâncias responsá-veis pelo seu processo formativo, bem como o pró-prio confrade, aceitou seu pedido. O mesmo passa a integrar a comunidade do Convento do Recife, e a dar continuidade aos seus estudos teológicos.

Eleição na Ordem Terceira de João Pessoa

Frei Francisco

Frei Herryson

Frei Sormani

epois de dois anos fora da Província Carme-litana Pernambucana, re-sidindo em Roma, e após o término do seu curso de especialização em Vida Re-ligiosa, o Frei Sormani José retorna à Província. Ele passa a residir na cidade de Lucena - PB, assumindo a

função de formador do Postulantado I. Acolhe-mos, com alegria, o Frei Sormani, e pedimos que Deus o ilumine na nova missão.

Frei Sormani

Frei Severino Lima

ambém acolhemos de volta à Província o Frei Severino Lima, que esteve por mais de um ano ajudando o Co-missariado Geral de Portugal. O mesmo passa a integrar a comunidade carmelita de Icó - Ceará. Seja muito Bem-vindo, Frei Severino Lima. Frei Severino

Frei Leonardo Botelho

Frei Leonardo esteve, no período de três me-ses, realizando uma experiên-cia de intercâmbio com a Pro-víncia do Puríssimo Coração de Maria (PCM), nos Estados Unidos, para aprimorar os co-nhecimentos na língua inglesa. Frei Leonardo

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Ação de Graças

gradecemos a Deus pelo restabelecimento da saú-de do Frei Paulinho, O. Carm. Ele, após um tempo sofrendo com alguns problemas de saú-de, recupera-se e retoma suas atividades, passando a compor a comunidade carmelitana Padre Cícero, em Icó - CE. Somos gra-tos a todos que o acompanharam e rezaram por ele.

Frei Paulinho

Igreja do Carmo e OTC - João Pessoa - PB

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Jovem, você já pensou em consagrar sua vida a Deus? Nós Carmelitas, a exemplo de Maria e sob a inspiração dos Profetas Elias e Eliseu,

decidimos viver em obséquio de Jesus Cristo e servi-lo com o coração puro e reta consciência. Procure um frade mais perto de você:

E-mail: [email protected].: (81) 99990 0026

RECIFE - PE

E-mail: [email protected].: (83) 99857 9081JOÃO PESSOA - PB

E-mail: [email protected].: (83) 99612 2390JOÃO PESSOA - PB

E-mail: [email protected].: (81) 99862 4411

RECIFE - PE

E-mail: [email protected].: (81) 99583 4316

CAMOCIM - PE

E-mail: [email protected].: (79) 99161 5399

SÃO CRISTÓVÃO - SE

E-mail: [email protected].: (83) 99804 3652

PRINCESA ISABEL - PB

Frei Rogério, O.Carm

E-mail: [email protected].: (81) 99699 4255

RECIFE - PE

Frei Adriano, O. Carm.

Frei Flávio, O.Carm.

Frei Cícero, O. Carm.

Frei Paulo, O. Carm

Frei Yedo, O. Carm.

Frei Alequison, O. Carm.

Frei Cláudio, O. Carm.

Pastoral Vocacional Carmelita

www.fradescarmelitas.org.br