a literacia dos adultos_patrícia Ávila
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IINNSSTTIITTUUTTOOSSUUPPEERRIIOORRDDEECCIINNCCIIAASSDDOOTTRRAABBAALLHHOOEEDDAAEEMMPPRREESSAA
DDEEPPAARRTTAAMMEENNTTOODDEESSOOCCIIOOLLOOGGIIAA
A LITERACIA DOS ADULTOS:COMPETNCIAS-CHAVE NA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO
Patrcia vila
Tese submetida como requisito para obteno do grau de
Doutor em Sociologia
Especialidade: Sociologia da Comunicao, da Cultura e da Educao
OrientadorProfessor Doutor Antnio Firmino da Costa
Julho, 2005
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A Literacia dos Adultos: Competncias-chave na Sociedade do Conhecimento
Resumo: A presente investigao visa produzir um conjunto de novos desenvolvimentos, tericos esubstantivos, para o estudo das competncias-chave para a sociedade do conhecimento. Incide na
anlise de duas vertentes especficas, mas entendidas enquanto complementares: a identificao dosperfis de literacia da populao e os seus principais factores explicativos, e a anlise de novasdinmicas e processos emergentes de bloqueio ou desenvolvimento das competncias de literacia eoutras competncias-chave para a sociedade do conhecimento. Um dos conceitos nucleares dapesquisa o conceito de literacia, desenvolvido nos ltimos anos sobretudo no mbito de pesquisasde natureza extensiva dirigidas avaliao das competncias reais de leitura, escrita e clculo dapopulao adulta. Mais recentemente o conceito foi alargado de modo a assegurar outrascompetncias consideradas fundamentais, ou chave, nas sociedades contemporneas. Atravs daarticulao com referncias tericas sobre as sociedades actuais, nas quais tem sido sublinhada aimportncia do conhecimento e da informao enquanto factores cada vez mais estruturantes da vidasocial, procura-se produzir novos contributos tericos e analticos neste domnio. A estratgia
metodolgica definida combina a anlise quantitativa (atravs da explorao de bases de dadosinternacionais sobre literacia), desenvolvida com o objectivo de aprofundar o conhecimento sobre operfil de literacia da populao, e a anlise qualitativa (apoiada em entrevistas, anlise documental eobservao directa), centrada nos adultos pouco qualificados e nos processos concretos de bloqueio,ou desenvolvimento, de competncias para a sociedade do conhecimento.
Palavras-chave: Literacia, sociedade do conhecimento, competncias-chave, adultos
***Adult Literacy: Key Competencies in the Knowledge Society
Summary: This research seeks to produce a set of new theoretical and substantive developments for
the study of literacy and other life skills for the knowledge society. It will involve the analysis of twodifferent but complementary aspects: the identification of the populations literacy profiles and themain factors behind them; and the analysis of new dynamics and emerging processes that areblocking or developing literacy and other key competencies necessary for life in the knowledgesociety. One of the core concepts behind this research is that of literacy, which has been developedover the last few years, above all within the scope of extensive quantitative research work designedto assess real reading, writing and arithmetic skills among the adult population. More recently theconcept has been extended to cover other skills that are considered fundamental in contemporarysocieties (life skills or key competencies). By articulating the above mentioned surveys withtheoretical reference work on contemporary societies, which underline the importance of knowledgeand information as factors playing an ever more structuring role in social life, the research aims to
generate new theoretical and analytical contributions in this domain. The chosen methodologicalstrategy employs a combination of quantitative analysis (the exploitation of international literacydatabases), in order to deepen knowledge about the populations literacy profile, and qualitativeanalysis (interviews, documentary analysis and direct observation), with focus on the poorlyqualified adults and on the processes that hinder or develop skills required for the knowledgesociety.
Keywords: Literacy, knowledge society, key competencies, adults
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NDICE
ndice de figuras e quadros.......................................................................................................... ixINTRODUO ..............................................................................................................................1
PARTE I
Captulo 1CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM NAS SOCIEDADES CONTEMPORNEAS ...11
1.1 Sociedade ps-industrial, da informao e do conhecimento ............................................11As evidncias da mudana: terciarizao, escolarizao e transformaes na estrutura
socioprofissional nas sociedades ps-industriais..................................................................... 12Sociedade da informao, informacional e sociedade em rede.................................................... 16Sociedade do conhecimento.......................................................................................................... 20
1.2 Economias baseadas no conhecimento ..............................................................................231.3 Desigualdades sociais na sociedade do conhecimento.......................................................27
Classificaes e indicadores......................................................................................................... 28Desemprego, precarizao do emprego e excluso social .......... .......... ........... ........... .......... ....... 33Perdedores da reflexividade e analistas simblicos ......... ........... .......... ........... ........... .......... ....... 37
1.4 Da sociedade do conhecimento sociedade educativa e de aprendizagem .......................45
Captulo 2A ESCRITA: IMPLICAES SOCIAIS E COGNITIVAS....................................................53
2.1 As origens e a evoluo da escrita .....................................................................................532.2 Escrita e complexificao das sociedades..........................................................................592.3 Implicaes cognitivas e reflexivas da escrita ...................................................................622.4 As implicaes sociais e cognitivas da escrita e os novos estudos de literacia. Um
debate inconclusivo numa rea interdisciplinar.................................................................67
Captulo 3A LEITURA E A ESCRITA NA VIDA QUOTIDIANA: DIVERSIDADE EREFLEXIVIDADE.......................................................................................................................77
3.1 A massificao da leitura e da escrita ................................................................................77A alfabetizao de massas na Europa ......... ........... .......... ........... .......... ........... ........... .......... ....... 77Da alfabetizao escolarizao: a especificidade da Europa do Sul e a persistncia do
atraso portugus....................................................................................................................... 803.2 Prticas de leitura...............................................................................................................82
A leitura enquanto consumo cultural............... .......... ........... .......... ........... ........... .......... ........... ... 83A leitura enquanto prtica social e cultural: uma perspectiva histrica................. ........... .......... 85Da crise da leitura e do livro s evidncias da generalizao e diversificao das prticas
de leitura nas sociedades contemporneas .......... .......... ........... .......... ........... .......... ........... ..... 87Leitura, identidade pessoal e reflexividade .......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... ......... 91
3.3 Prticas de escrita...............................................................................................................94
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Captulo 4LITERACIA E COMPETNCIAS-CHAVE ..........................................................................101
4.1 A investigao sobre literacia nas sociedades contemporneas.......................................101O contexto e o problema social ..................................................................................................101Os estudos extensivos de avaliao das competncias de literacia da populao adulta.......... 104Reaces e crticas s abordagens extensivas............... .......... ........... ........... .......... ........... ........ 109
4.2 Literacia e competncias..................................................................................................112O conceito de competncias. Impreciso conceptual, relevncia social....................................112Competncias e escola................................................................................................................116Competncias e trabalho ............................................................................................................119
4.3 A identificao de competncias-chave: um problema terico e de investigao ...........122As competncias-chave no trabalho e na educao ......... ........... .......... ........... ........... .......... ..... 123O projecto DeSeCo: uma discusso terica alargada e uma proposta conceptual de
competncias-chave ...............................................................................................................127Problemas em aberto no DeSeCo: a relao entre tipos de competncias-chave...................... 130A avaliao das competncias-chave da populao adulta. Contributos do ALL.............. ........ 134
4.4 Literacia e outras competncias operatrias ....................................................................139Literacia, numeracia e resoluo de problemas................. ........... .......... ........... .......... ........... ...139Literacia e tecnologias da informao e da comunicao .......... .......... ........... ........... .......... ..... 142
4.5 A contextualidade da transversalidade.............................................................................1454.6 O poder do contexto.........................................................................................................149
PARTE II
Captulo 5OS ESTUDOS EXTENSIVOS DE LITERACIA DA POPULAO ADULTA. DESAFIOSMETODOLGICOS DA AVALIAO DIRECTA .............................................................157
5.1 Anlise extensiva e intensiva: uma dupla estratgia metodolgica para o estudo da
literacia.............................................................................................................................158 5.2 A avaliao directa das competncias de literacia: metodologia do IALS ......................161
Desenvolvimentos metodolgicos para uma nova concepo terica da literacia: dos
estudos nacionais ao primeiro estudo internacional.............................................................. 162Dimenses da literacia .......... .......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... ....... 166A prova de literacia: contedos e caractersticas das tarefas .......... ........... .......... ........... .......... 168Um modelo terico para a interpretao dos processos cognitivos envolvidos no
processamento da informao escrita................ .......... ........... .......... ........... ........... .......... ..... 170A recolha de informao: mtodo de aplicao da prova de literacia, questionrio de
caracterizao social e trabalho de campo............................................................................ 177A construo das escalas de literacia: potencialidades do IRT ........... .......... ........... .......... ....... 180Nveis de literacia ........... .......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... ........... ...183
5.3 O Estudo Nacional de Literacia (ENL)............................................................................187O ENL face ao IALS: um modelo conceptual e metodolgico comum, um modo deoperacionalizao prprio.....................................................................................................188
A construo dos nveis de literacia: a escala de dificuldade das tarefas e a escala de
aptido dos indivduos ...........................................................................................................1905.4 IALS e ENL: implicaes metodolgicas, tericas e substantivas do confronto entre
duas provas de literacia....................................................................................................193
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Captulo 6DISTRIBUIES DA LITERACIA NUMA PERSPECTIVA INTERNACIONAL:DESIGUALDADES ESCOLARES E MUDANA GERACIONAL ....................................201
6.1 Distribuies da literacia..................................................................................................2016.2 Literacia e antecedentes escolares....................................................................................208
Perfis de escolaridade e de literacia: a dupla desvantagem de Portugal...................................208Literacia e escolaridade dos pais ......... ........... .......... ........... .......... ........... ........... .......... ........... .213Literacia e recursos escolares ........... .......... ........... .......... ........... .......... ........... ........... .......... ..... 216Literacia e escolaridade numa perspectiva internacional............. .......... ........... .......... ........... ...220
6.3 Literacia, idade e forma ao longo da vida ....................................................................222Literacia e idade ........... .......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... ........... ........... .......... ..... 222Literacia e educao e formao ao longo da vida.......... ........... .......... ........... ........... .......... ..... 228
Captulo 7A LITERACIA AO LONGO DA VIDA: RECURSOS, CONTEXTOS E PRTICAS.......233
7.1 Literacia e situao socioprofissional ..............................................................................234Perfis de literacia e condio perante o trabalho ........... .......... ........... .......... ........... .......... ....... 234Perfis de literacia e profisso.....................................................................................................238
7.2 Literacia e vida profissional.............................................................................................243Prticas de literacia em contexto de trabalho .......... .......... ........... .......... ........... .......... ........... ...243Auto-avaliaes de competncias para a vida profissional................ ........... .......... ........... ........ 253Profisso e frequncia de aces de educao e formao........................................................261
7.3 Literacia e vida quotidiana...............................................................................................263Prticas.......................................................................................................................................263Auto-avaliaes de competncias e grau de autonomia na resoluo de problemas............ ..... 267
7.4 A literacia ao longo da vida: balano global....................................................................274
PARTE III
Captulo 8APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA: MODALIDADES E CONTEXTOS..............285
8.1 Competncias e aprendizagem ao longo da vida na sociedade educativa........................2858.2 Aprender ao longo da vida: representaes e prticas na Europa e em Portugal.............290
Representaes sobre a aprendizagem ao longo da vida .......... ........... .......... ........... .......... ....... 291Participao em aces de educao e formao ........... .......... ........... .......... ........... .......... ....... 293Aprendizagem formal, no formal e informal............ ........... .......... ........... ........... .......... ........... .296Perfil da populao portuguesa pouco escolarizada envolvida em processos de
aprendizagem formal..............................................................................................................3038.3 Desafios da aprendizagem ao longo da vida na sociedade portuguesa: uma reflexo
apoiada nos nveis de qualificao escolar ......................................................................305
Captulo 9SOCIEDADE DE COMPETNCIAS, ENSINO E FORMAO POR COMPETNCIAS:OS CURSOS EFA E OS CENTROS DE RVCC .....................................................................313
9.1 Polticas de educao de adultos em Portugal: um breve panorama................................313Da educao popular ao ensino recorrente ........... .......... ........... .......... ........... ........... .......... ..... 314A ANEFA e a emergncia de novas modalidades de educao e formao de adultos .......... ...319
9.2 Novos modelos de educao e formao na sociedade portuguesa: os centros deRVCC e os cursos EFA ...................................................................................................324
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O referencial de competncias-chave: uma nova orientao para a educao de base dos
adultos em Portugal ...............................................................................................................324Reconhecimento, validao e certificao de competncias: tendncias das sociedades
actuais e especificidade da situao portuguesa ......... ........... .......... ........... ........... .......... ..... 328Principais linhas estruturadouras da actividade dos centros de RVCC.....................................332Cursos EFA: sntese da estrutura curricular.............................................................................. 3359.3 Centros de RVCC e cursos EFA: breve caracterizao da rede e da populao
abrangida..........................................................................................................................338 Centros de RVCC........................................................................................................................339Cursos EFA. Caracterizao das duas primeiras candidaturas.................................................350Cursos EFA e centros de RVCC: breve sntese comparativa ......... ........... ........... .......... ........... .363
9.4 Ensino e formao por competncias: condies tericas e sociais para a emergnciade novas prticas..............................................................................................................366A andragogia como crtica ao currculo clssico............... ........... .......... ........... .......... ........... ...367Histrias de vida e valorizao da experincia: o adulto no centro dos processos
formativos................. .......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... ........... ........... .......... ..... 369Condies sociais da emergncia dos novos modelos de educao e formao de adultos.......371
Limites e resistncias ........... .......... ........... .......... ........... .......... ........... ........... .......... ........... ........ 378Captulo 10PERCURSOS DE VIDA, ESCOLARIDADE E COMPETNCIAS.....................................381
10.1 Percursos de vida e competncias-chave: enquadramento conceptual e metodolgico.382Apresentao do modelo de anlise ........... .......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... ....... 382Centros de Reconhecimento, Validao e Certificao de Competncias estudados e
critrios de seleco dos entrevistados .......... ........... .......... ........... ........... .......... ........... ........ 38510.2 Perfil social e origens sociais dos indivduos certificados em centros de RVCC
entrevistados ....................................................................................................................39010.3 Escola, famlia e sociedade: razes e motivaes subjacentes interrupo do
percurso escolar ...............................................................................................................394
Contextos familiares desfavorecidos: razes econmicas e desvalorizao da escolaenquanto projecto prolongado...............................................................................................395
Contextos familiares mais favorecidos: a sada da escola como ruptura face s expectativas
familiares......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... ........... ...40210.4 Viver com baixas qualificaes escolares na sociedade contempornea:
constrangimentos objectivos e vivncia subjectiva .........................................................406Oportunidades profissionais: a ausncia do diploma escolar enquanto barreira
intransponvel no acesso aos lugares desejados .......... ........... .......... ........... ........... .......... ..... 406Escolaridade, auto-imagem e disposies incorporadas............. .......... ........... ........... .......... ..... 413
10.5 Certificao de competncias e processos de aprendizagem ao longo da vida..............417Orientao profissional limitada: a progresso escolar como imposio externa .......... .......... 418Orientao profissional alargada: a certificao escolar como elemento acrescido nos
processos de aprendizagem ao longo da vida........... .......... ........... ........... .......... ........... ........ 421Orientao escolar alargada: a importncia do diploma escolar e a escola enquanto
principal contexto de aprendizagem ........... .......... ........... .......... ........... ........... .......... ........... .424Orientao escolar limitada: O CRVCC como oportunidade inesperada (no procurada) ...... 427
10.6 O papel das redes sociais. Apoios e resistncias............................................................42910.7 Consequncias do processo de RVCC...........................................................................437
Competncias e prticas quotidianas .......... ........... .......... ........... .......... ........... ........... .......... ..... 438Auto-imagem, profisso e escolaridade................ ........... .......... ........... .......... ........... .......... ....... 444
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Captulo 11AS COMPETNCIAS-CHAVE EM ANLISE: OS CENTROS DE RVCC COMOPLATAFORMA DE OBSERVAO......................................................................................453
11.1 Reconhecimento de competncias: a metodologia e os actores.....................................45311.2 Os centros de RVCC como contextos de activao e mobilizao de competncias ....45811.3 Contextos de utilizao e de aquisio de competncias ao longo da vida....................46211.4 Competncias adquiridas ao longo da vida e competncias em falta ............................465
Linguagem e Comunicao .......... .......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... 466Matemtica para a Vida ......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... ........... ........... .......... ..... 471Tecnologias da Informao e da Comunicao .......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... 476
11.5 Alargamento de competncias .......................................................................................479Da vida quotidiana aprendizagem formal ........... .......... ........... .......... ........... ........... .......... ..... 480Competncias adquiridas e efeitos na vida quotidiana .......... .......... ........... .......... ........... .......... 486
CONCLUSO ............................................................................................................................4931. A literacia na sociedade, sociedade da literacia.................................................................493
2. A literacia como competncia-chave (problemas sociais e problemas tericos) ...............4963. Literacia e outras competncias-chave...............................................................................4984. Os contextos da literacia ....................................................................................................5005. Adultos, competncias e processos de aprendizagem........................................................5026. A literacia na sociedade portuguesa: especificidades nacionais num contexto global.......504
Referncias bibliogrficas..........................................................................................................509
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ndice de figuras e quadros
Figuras
Figura 1.1 Recomposio socioprofissional na Unio Europeia (1986, 1997, 2002) ....................30Figura 1.2 Recomposio socioeducacional na Unio Europeia da populao dos 25 aos 64anos (1992, 1997, 2002) ........................................................................................................31
Figura 1.3 Populao com Ensino Superior (25-64 anos) e Profissionais Tcnicos e deEnquadramento, por pas da Unio Europeia (2002).............................................................32
Figura 5.1 Nveis de literacia da populao portuguesa...............................................................193Figura 5.2 Nveis de literacia da populao portuguesa. Comparao dos resultados do ENL
e do IALS.............................................................................................................................197Figura 6.1 Perfis de literacia dos portugueses (16-65 anos).........................................................202Figura 6.2 Distribuio da literacia documental na Sucia e em Portugal ...................................203Figura 6.3 Literacia em prosa, documental e quantitativa nos pases participantes no IALS ......204Figura 6.4 Perfil mdio de literacia e amplitude da disperso nos vrios pases (literacia em
prosa) ...................................................................................................................................207Figura 6.5 Distribuio da populao adulta, 25-64 anos, por nveis de escolaridade.................209Figura 6.6 Escolaridade e literacia documental (pases participantes no IALS) ..........................210Figura 6.7 Competncias de literacia (pontuaes midias) segundo a escolaridade do pai........215Figura 6.8 Competncias de literacia (pontuaes mdias) segundo a escolaridade....................218Figura 6.9 Nveis de literacia (prosa) segundo a escolaridade .....................................................219Figura 6.10 Competncias de literacia (pontuaes mdias da literacia em prosa) segundo a
escolaridade, por pas...........................................................................................................220Figura 6.11 Competncias de literacia (pontuaes mdias) segundo o grupo etrio..................223Figura 6.12 Nveis de literacia (prosa) segundo o grupo etrio....................................................224Figura 6.13 Competncias de literacia (pontuaes mdias da literacia em prosa) por grupo
etrio, segundo a escolaridade .............................................................................................226
Figura 6.14 Competncias de literacia (pontuaes mdias da literacia em prosa), dosindivduos com ensino secundrio, segundo a idade, por pas ............................................227Figura 6.15 Participao em aces de educao e formao no ano que antecedeu a
entrevista, por pas...............................................................................................................229Figura 6.16 Participao de cada pas em aces de educao e formao no ano que
antecedeu a entrevista, por nvel de literacia (documental).................................................230Figura 7.1 Percentagem de activos por nvel de literacia.............................................................234Figura 7.2 Perfil de literacia (documental) de activos e inactivos................................................236Figura 7.3 Percentagem de activos segundo a escolaridade, por nvel de literacia (prosa)..........237Figura 7.4 Condio perante o trabalho por nvel de literacia (prosa) .........................................238Figura 7.5 Distribuio das profisses segundo o nvel de literacia (prosa) ................................240Figura 7.6 Pontuaes mdias nas escalas de literacia por profisso...........................................242
Figura 7.7 Prticas de literacia na vida profissional.....................................................................244Figura 7.8 Prticas de leitura na vida profissional por nvel de literacia (prosa) .........................245Figura 7.9 Prticas de escrita na vida profissional por nvel de literacia (prosa) .........................246Figura 7.10 Prticas de clculo na vida profissional por nvel de literacia (quantitativa)............247Figura 7.11 ndices de prticas de leitura, escrita e clculo na vida profissional por nvel de
literacia (prosa)....................................................................................................................248Figura 7.12 ndices de prticas de leitura, escrita e clculo na vida profissional por profisso...249Figura 7.13 Prticas de leitura na vida profissional (frequncia mdia) por profisso ................251
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Figura 7.14 Prticas de escrita na vida profissional (frequncia mdia) por profisso ................251Figura 7.15 Auto-avaliao de competncias de leitura, escrita e clculo para a vida
profissional ..........................................................................................................................253Figura 7.16 Auto-avaliao das competncias de literacia para a vida profissional por nvel
de literacia (documental) .....................................................................................................255
Figura 7.17 Auto-avaliao das competncias de literacia para a vida profissional porprofisso...............................................................................................................................256
Figura 7.18 Opinio quanto ao impacto das competncias de literacia nas oportunidadesprofissionais (%)..................................................................................................................258
Figura 7.19 Reconhecimento do impacto das competncias de literacia nas oportunidadesprofissionais por nvel de literacia (documental) (%)..........................................................259
Figura 7.20 Reconhecimento do impacto das competncias de literacia nas oportunidadesprofissionais por profisso (documental) (%)......................................................................260
Figura 7.21 Participao em aces de educao e formao no ano que antecedeu aentrevista por profisso. Resultados globais e por nvel de literacia (documental).............262
Figura 7.22 Prticas culturais na vida quotidiana por nvel de literacia.......................................264Figura 7.23 Auto-avaliao das competncias de literacia para a vida quotidiana por nvel de
literacia (documental)..........................................................................................................267Figura 7.24 Necessidade de ajuda em actividades de leitura e escrita, por nvel de literacia
(documental)........................................................................................................................269Figura 7.25 Necessidade de ajuda em actividades de leitura e de escrita dos inquiridos nos
Nveis 1 e 2 de literacia (documental) por sexo...................................................................271Figura 7.26 Satisfao com as competncias de leitura e de escrita por nvel de literacia
(documental)........................................................................................................................272Figura 7.27 Insatisfao com as competncias de leitura e de escrita dos inquiridos nos
Nveis 1 e 2 de literacia (documental) por idade e por sexo................................................273Figura 7.28 Participao dos inquiridos nos Nveis 1 e 2 de literacia (documental) em aces
de educao e formao, no ano que antecedeu a entrevista, por idade e por sexo.............274Figura 7.29 Espao social da literacia (anlise de correspondncias mltiplas) ..........................275
Figura 8.1 Participao em aces de educao e formao (nos ltimos 12 meses), por pas ...294Figura 8.2 Contextos de aprendizagem (nos ltimos 12 meses) ..................................................297Figura 8.3 Tipos de aprendizagem (Portugal) ..............................................................................300Figura 8.4 Populao (a partir dos 15 anos), residente no continente, segundo o nvel de
escolaridade .........................................................................................................................305Figura 8.5 Populao, residente no continente, sem a escolaridade obrigatria (bsico 3), por
idade e sexo..........................................................................................................................307Figura 9.1 reas de competncias integradas no Referencial de Competncias-Chave ..............326Figura 9.2 Nmero de adultos inscritos, em RVCC, certificados e orientados para formao,
por regio (2004) .................................................................................................................342Figura 9.3 Adultos em RVCC segundo a idade (2001-2004).......................................................345Figura 9.4 Taxas de certificao segundo a idade (2004) ............................................................346
Figura 9.5 Adultos em reconhecimento de competncias segundo o sexo, por regio (2004).....348Figura 9.6 Adultos em reconhecimento de competncias segundo a idade e o sexo (2004)........349Figura 10. 1 Percursos de vida e competncias-chave .................................................................383
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Quadros
Quadro 5.1 Principais variveis explicativas da dificuldade terica das tarefas (IALS)..............176Quadro 5.2 Nveis de literacia (IALS): graus de dificuldade das tarefas e competncias
envolvidas na sua realizao................................................................................................186
Quadro 5.3 Nveis de literacia IALS (sntese explicativa) ...........................................................187Quadro 5.4 Nveis de literacia das tarefas no ENL (sntese explicativa) .....................................191Quadro 6.1 Escolaridade dos pais por nveis de literacia.............................................................213Quadro 6.2 Perfis de escolaridade por nveis de literacia (%)......................................................217Quadro 6.3 Grupo etrio por nveis de literacia (%) ....................................................................223Quadro 7.1 Profisso por nveis de literacia (prosa) ....................................................................239Quadro 7.2 Factores explicativos das prticas culturais (regresso mltipla)..............................265Quadro 7.3 Factores explicativos da literacia em prosa, documental e quantitativa (regresso
mltipla)...............................................................................................................................278Quadro 8.1 Opinio sobre a aprendizagem ao longo da vida. Concordncia com um conjunto
de afirmaes.......................................................................................................................292Quadro 8.2 Participao em aces de educao e formao, segundo a idade e a categoria
ocupacional..........................................................................................................................295Quadro 8.3 Taxa de participao em aces de educao e formao, por categoria etria ecategoria ocupacional (Portugal) .........................................................................................302
Quadro 8.4 Perfil dos adultos portugueses pouco qualificados envolvidos em aces deeducao formal...................................................................................................................304
Quadro 8.5 Escolaridade completa da populao, residente no continente, por idade e porsexo......................................................................................................................................306
Quadro 9.1 Centros de RVCC em funcionamento, por regio (2001-2005)................................339Quadro 9.2 Adultos em reconhecimento de competncias e adultos certificados (2001-2004)...341Quadro 9.3 Adultos em reconhecimento de competncias por regio (2001-2004) ....................341Quadro 9.4 Taxa de certificao dos centros de RVCC, por regio.............................................343Quadro 9.5 Adultos em reconhecimento de competncias segundo a qualificao escolar
(%). ......................................................................................................................................344Quadro 9.6 Adultos em reconhecimento de competncias segundo o sexo (2001-2004)............347Quadro 9.7 Adultos em reconhecimento de competncias segundo a situao face ao
emprego, em % (2001-2004) ...............................................................................................349Quadro 9.8 Cursos EFA por candidatura, segundo a regio, o percurso formativo, o tipo de
instituio e o eixo de financiamento ..................................................................................351Quadro 9.9 Instituies promotoras dos cursos EFA e eixos de financiamento (cursos em
funcionamento em 2002) .....................................................................................................354Quadro 9.10 Cursos EFA (1 e 2 candidaturas), por regio e segundo o tipo de instituio
(%) .......................................................................................................................................355Quadro 9.11 rea de formao profissional dos cursos EFA, por tipo de instituio (%)...........356Quadro 9.12 Distribuio dos formandos, por candidatura, segundo o sexo e a idade (%) .........359
Quadro 9.13 Distribuio dos formandos, por sexo e a idade, segundo o eixo definanciamento (%) ...............................................................................................................360Quadro 9.14 Distribuio dos formandos, por rea profissional, segundo o sexo e a idade
(%) .......................................................................................................................................362Quadro 9.15 Distribuio dos formandos, por rea profissional, segundo o percurso
formativo (%).......................................................................................................................363Quadro 10.1 Caracterizao social dos entrevistados...................................................................391Quadro 10.2 Origens sociais dos entrevistados............................................................................393
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Quadro 11.1 Modelos de reconhecimento de competncias nos centros de RVCC.....................455Quadro 11.2 Contextos de aquisio de competncias-chave......................................................464Quadro 11.3 Competncias adquiridas e efeitos na vida quotidiana (exemplos dos
testemunhos dos adultos abrangidos pelo processo)............................................................488
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INTRODUO
A presente investigao tem como objecto de estudo a literacia dos adultos, entendida
enquanto competncia-chave nas sociedades contemporneas.
O ponto de partida para este trabalho foi uma outra investigao, iniciada h mais
de 10 anos: o Estudo Nacional de Literacia. Coordenada por Ana Benavente, foi aprimeira pesquisa realizada em Portugal especificamente dedicada avaliao das
competncias de literacia dos adultos. Na altura em que os resultados foram divulgados,
em 19951, o seu impacto social foi grande. A concentrao da maioria da populao
adulta portuguesa nos nveis mais baixos de literacia foi acolhida com alguma surpresa,
tendo suscitado vrios debates em torno de um tema que, at a, era tratado a partir de
outros conceitos e indicadores. A repercusso pblica desses resultados contribuiu, de
forma decisiva, para a introduo da palavra literacia no vocabulrio corrente portugus.Tal como definido desde esse primeiro estudo, o conceito de literacia pretende dar
conta das capacidades, de cada indivduo, quanto utilizao e interpretao de
informao escrita. Remete, portanto, para as prticas dirias, para o uso quotidiano, para
as competncias, e no s para os nveis de qualificao escolares. Embora hoje em dia a
noo de literacia seja por vezes utilizada de forma muito abrangente e por referncia a
diferentes domnios ( o caso da literacia cientfica ou da literacia informtica, entre
outras), mantm-se a remisso para os saberes em uso, quer dizer, para o domnio de
determinadas competncias.
No mbito da linha de investigao iniciada com o Estudo Nacional de Literacia
foram desenvolvidos, nos anos seguintes, outros projectos de pesquisa. Noutro
1 Os primeiros resultados deste estudo foram divulgados em 1995. O livro, intitulado A Literacia emPortugal. Resultados de uma Pesquisa Extensiva e Monogrfica, foi publicado em 1996.
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enquadramento institucional e reunindo, alm de elementos da equipa inicial, outros
investigadores2, seguiram-se novos trabalhos, os quais permitiram continuar a aprofundar
a investigao sociolgica neste domnio, nomeadamente por via da participao em
estudos comparativos internacionais.O presente trabalho que representa o culminar de um longo processo de
investigao3 procura trazer novos desenvolvimentos tericos e substantivos para o
estudo da literacia. Podem ser sintetizados em trs pontos os principais objectivos a
atingir, os quais atravessam, de um modo geral, toda a investigao.
Em primeiro lugar, pretende-se dar conta da centralidade da literacia na sociedade
do conhecimento. Para o efeito, analisa-se quer a transversalidade da presena da escrita
nos quadros sociais contemporneos, quer as condies sociais que convertem a literacianum recurso cada vez mais decisivo, para os indivduos e para as sociedades. Pretende-se,
assim, avanar na anlise sociolgica da literacia enquanto competncia-chave,
percebendo em que medida esta condiciona, a diferentes nveis, a vida social
contempornea.
Um segundo objectivo passa por perceber a relao entre literacia e outras
competncias-chave. Procura-se, por um lado, trazer novos contributos para a discusso
de conceitos como o de competncias e o de competncias-chave cada vez mais
utilizados nas cincias sociais, mas em torno dos quais, por um efeito de banalizao
excessiva, existem mltiplos entendimentos e, por outro lado, clarificar a articulao
entre a literacia, entendida enquanto competncia-chave, e outros tipos de competncias
fundamentais nas sociedades actuais.
Finalmente, um terceiro objectivo remete para a anlise dos processos, factores e
contextos que possibilitam, ou pelo contrrio impedem, o desenvolvimento das
competncias-chave ao longo da vida, com particular destaque para as de literacia. O
2O Estudo Nacional de Literacia foi realizado no Instituto de Cincias Sociais da Universidade de Lisboa.Os projectos de pesquisa que se seguiram foram desenvolvidos no mbito do CIES-ISCTE (Centro deInvestigao e Estudos de Sociologia do ISCTE), por uma equipa constituda Antnio Firmino da Costa,Patrcia vila, Joo Sebastio e Maria do Carmo Gomes.3 Este trabaho foi desenvolvido no mbito do Program de Doutoramento em Sociologia do ISCTE. Ainvestigao propriamente dita foi realizada no quadro do CIES-ISCTE e contou com o apoio da Fundaopara a Cincia e a Tecnologia (POCTI/SOC/38168/2001).
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quadro de referncia principal a sociedade portuguesa e um segmento da populao nela
maioritrio o dos adultos com reduzidos nveis de escolarizao, abrangidos por
processos institucionais inovadores de reconhecimento certificado de competncias por
eles adquiridas ao longo da vida.A estratgia metodolgica definida incluiu duas componentes, uma de natureza
extensiva e outra de tipo intensivo, tendo cada uma delas permitido apreender aspectos
especficos da realidade social estudada. importante referir que a articulao entre
anlises quantitativas e qualitativas numa investigao sobre literacia a qual vem no
seguimento da estratgia de pesquisa iniciada no Estudo Nacional de Literacia traduz a
tentativa de ultrapassar concepes tericas e metodolgicas que, neste campo, tendem
muitas vezes a ser vistas enquanto contrapostas: por um lado, a dos que enfatizando ocarcter contextualizado da literacia defendem em exclusivo os estudos qualitativos e, por
outro, a dos que procurando realizar estudos comparativos das distribuies de
competncias de literacia das populaes valorizam apenas as metodologias quantitativas.
No quadro da presente pesquisa, no s se reconhecem os limites e as
potencialidades associadas a cada uma das metodologias, como se procurou assegurar,
desde o momento da concepo terica, a articulao entre ambas. Como se ver, foi a
partir de um mesmo referencial terico que se desenvolveu, quer uma anlise extensiva
dos padres de literacia, quer uma anlise intensiva de prticas contextualizadas.
O ncleo central da anlise extensiva assentou na explorao dos dados obtidos
no mbito de uma das mais importantes pesquisas internacionais sobre as competncias
de literacia dos adultos: o IALS, International Adult Literacy Survey. Tendo subjacentes
preocupaes globalizantes e comparativas, a anlise dos dados relativos a Portugal
(conduzida atravs de diferentes mtodos, incluindo diferentes tipos de anlises
multivariadas) permitiu aprofundar o conhecimento das distribuies de literacia da
populao adulta portuguesa. importante sublinhar que os dados em causa constituem,at ao momento, a nica avaliao directa das competncias de literacia dos portugueses
realizada no mbito de uma pesquisa internacional, pelo que, a par da possibilidade de
analisar aprofundadamente as dimenses especficas nele abrangidas, deve destacar-se a
oportunidade singular de confrontar a situao portuguesa com a de outros pases.
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Alm da explorao desta importante base de dados, foram tambm utilizadas
outras fontes de informao de tipo quantitativo em diferentes momentos da pesquisa. o
caso de inquritos recentemente realizados a nvel europeu com o objectivo de retratar os
processos de aprendizagem ao longo da vida, cuja anlise permitiu caracterizar, numaperspectiva de comparao com outros pases, a situao portuguesa nesse domnio.
Alm disso, foram ainda analisados outros dados extensivos, com origens diversas,
relativos a processos de educao e formao de adultos na sociedade portuguesa.
Com a componente qualitativa da pesquisa procurou-se obter informao
contextualizada ao nvel dos processos de desenvolvimento, ou de bloqueio, de
competncias-chave nas sociedades contemporneas. A investigao incidiu num grupo
social especfico o dos adultos pouco escolarizados que pretendem melhorar os seusnveis de certificao nos recentemente criados Centros de Reconhecimento, Validao e
Certificao de Competncias. Para o efeito, foram seleccionados seis centros localizados
na rea da grande Lisboa, tendo sido utilizadas tcnicas de observao directa e de
entrevista, estas ltimas aos vrios actores envolvidos nesses processos.
A exposio que se segue encontra-se organizada em trs partes. A primeira,
constituda por quatro captulos, no essencial dedicada anlise terica. A esse nvel o
principal desafio a enfrentar consistiu em esclarecer a importncia da literacia na
sociedade, desde a inveno da escrita at s actuais sociedades do conhecimento e da
informao, convocando diversos contributos tericos, no s na rea da sociologia, mas
tambm de outras disciplinas. A partir de referncias analticas nem sempre comunicantes
entre si, e entendidas muitas vezes como contrapostas, os dois conceitos nucleares da
investigao, o de literacia e o de competncias-chave, foram revistos e postos em
relao, num mesmo modelo de anlise. Mais do que elencar a multiplicidade de
perspectivas que se cruzam nesta rea, procurou-se, a partir delas, contribuir para uma
anlise sociolgica da literacia e das competncias-chave, destacando a sua importncianas sociedades em que o conhecimento, a informao e a aprendizagem so reconhecidos
enquanto factores cada vez mais decisivos e estruturantes da vida social.
O Captulo 1 analisa e discute a centralidade do conhecimento e da informao
enquanto dimenses fundamentais na estruturao das sociedades e das economias
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actuais, destacando os desafios crescentes que nelas se colocam aos indivduos. Procura-
se, assim, enquadrar a temtica da literacia e das competncias-chave no mbito das
principais transformaes sociais que tm vindo a ter lugar nas sociedades
contemporneas. O Captulo 2 comea por recuar ao que pode ser considerada a raiz dasactuais sociedades do conhecimento e da informao a inveno da escrita. A partir de
uma anlise que convoca contributos de diferentes disciplinas (entre outros, da histria,
da antropologia e das cincias cognitivas), discutem-se as implicaes sociais e
cognitivas da escrita. O Captulo 3 , no essencial, um prolongamento do anterior, dando
conta do modo como, nas sociedades em que a literacia se generaliza, as prticas de
leitura e de escrita passam a ser cada vez mais alargadas e diversificadas, constituindo
recursos que os indivduos podem mobilizar em diferentes momentos da sua vida pessoal.Finalmente, o Captulo 4 centra-se na discusso da literacia enquanto competncia-chave.
A partir de uma reviso dos conceitos de competncias e de competncias-chave, analisa-
se a relao entre a literacia e outras competncias consideradas fundamentais nas
sociedades contemporneas. Na ltima parte do captulo procura-se superar um dos
problemas tericos que mais tem marcado esta rea de investigao a relao, quase
sempre entendida (equivocadamente) como oposio, entre transversalidade e
contextualidade.
A segunda parte rene trs captulos dedicados anlise extensiva da literacia. O
primeiro desses captulos (Captulo 5) incide na explicitao e discusso de aspectos
metodolgicos. Nele apresentada de forma pormenorizada a complexa metodologia do
primeiro estudo internacional de literacia (IALS), seguindo-se a comparao com a que
foi desenvolvida em Portugal no mbito do Estudo Nacional de Literacia. Os dois
captulos seguintes concentram os resultados da anlise dos dados do mencionado estudo
internacional: no Captulo 6, aprofunda-se a comparao do perfil de literacia da
populao portuguesa com o de outros pases e ainda a relao entre literacia e educao(escolaridade formal e participao em aces de educao e formao ao longo da vida),
e entre literacia e idade; no Captulo 7 a literacia analisada numa dupla perspectiva:
enquanto recurso que condiciona as trajectrias de vida e enquanto competncia
dependente das prticas e dos contextos de vida que favorecem o seu desenvolvimento.
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A terceira parte, composta por quatro captulos, aprofunda a anlise das dinmicas
e processos que, no decorrer da vida, condicionam, ou proporcionam, o desenvolvimento
das competncias de literacia e tambm de outras competncias-chave. A anlise incide
especificamente nos adultos pouco escolarizados e nos processos de educao e formaoque a eles so dirigidos. O Captulo 8 tem como ponto de partida a temtica da
aprendizagem ao longo da vida que, nos ltimos anos, adquiriu uma visibilidade social
crescente e procura destacar a especificidade da situao portuguesa neste domnio,
nomeadamente quanto necessidade de colocar a educao e a formao de base dos
adultos no centro dos desafios a enfrentar. Segue-se, no Captulo 9, uma anlise da
evoluo das ofertas educativas dirigidas aos adultos pouco escolarizados, sendo dado
particular relevo s recentes transformaes neste campo: os cursos de Educao eFormao de Adultos e os centros de Reconhecimento, Validao e Certificao de
Competncias (centros de RVCC). Finalmente, os dois ltimos captulos renem os
principais resultados do estudo qualitativo realizado em centros de RVCC. No Captulo
10, a perspectiva de anlise incide nas trajectrias pessoais; desde a sada da escola, at
procura de um centro de RVCC, procura-se aprofundar a compreenso dos diversos
factores que condicionam, e possibilitam, os processos de aprendizagem ao longo da
vida. No Captulo 11, o enfoque analtico principal so os processos de RVCC,
procurando-se, a partir da sua anlise, clarificar a aquisio de competncias-chave em
diferentes momentos e contextos de vida, e perceber ainda os efeitos deste tipo de
processos na transformao e alargamento dessas mesmas competncias, com particular
destaque para as de literacia.
Pretende-se, assim, assim, recorrendo a vrios enfoques tericos e empricos
aprofundar a investigao sobre a literacia, entendida enquanto competncia-chave, nas
sociedades do conhecimento.
***Foram muitos os que contriburam, a diferentes nveis, para a concretizao deste
trabalho. Uma primeira palavra vai para Antnio Firmino da Costa pela forma como
orientou e acompanhou, em todos os momentos, esta investigao. O seu entusiasmo e
estmulo constantes, o sentido crtico e disponibilidade permanente para discutir e ajudar
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a resolver os variadssimos problemas que foram surgindo, contriburam decisivamente
para que este trabalho, embora longo e nem sempre fcil, tenha sido realizado com forte
empenho e motivao.
Tambm Joo Sebastio e Maria do Carmo Gomes, os quais, juntamente comAntnio Firmino da Costa, fazem parte da equipa do CIES-ISCTE que nos ltimos anos
tem investigado o tema da literacia, acompanharam de perto este trabalho. Grande parte
dos problemas, tericos e metodolgicos, aqui enfrentados foram com eles longamente
discutidos.
A componente extensiva, no que concerne ao acesso aos dados do IALS
(International Adult Literacy Survey), contou com o precioso apoio de Siobhan Carey
(Office for National Statistics de Londres) e de Scott Murray (Statistics Canada), ambosinvestigadores com larga experincia neste campo, e a quem se deve a participao de
Portugal nos estudos internacionais de avaliao directa das competncias de literacia da
populao adulta.
Os dados relativos aos cursos EFA e aos centros de RVCC foram disponibilizados
pela Direco-Geral de Formao Vocacional e pelo PRODEP III, respectivamente por
Ana Canelas e Manuela Mauritti. No trabalho desenvolvido nos centros de RVCC so
vrias as pessoas a quem devido um agradecimento: a Jos Alberto Leito, na seleco
dos centros a estudar; a Maria Jos Esteves e aos coordenadores de cada um dos centros,
Adelaide Silva, Lus Cordeiro e Teresa Flix no apoio institucional e logstico; a Lusa
Bonito, Jlia Bentes e Ana Umbelino, pela ajuda na seleco dos indivduos a entrevistar
e na marcao das entrevistas; e, finalmente, a cada um dos entrevistados, pela
disponibilidade manifestada.
Pude contar ainda com outras colaboraes, como a de Emanuel Cameira na
recolha bibliogrfica e na preparao dos dados do INE, e de Ana Sofia Rosa na
organizao de materiais empricos e bibliogrficos. Outros colegas do CIES emparticular Fernando Lus Machado, Rosrio Mauritti, Susana da Cruz Martins e Teresa
Seabra acompanharam este trabalho e deram contributos valiosos em diferentes
momentos. Uma palavra tambm para o Departamento de Mtodos Quantitativos, pela
criao de condies de trabalho para poder conluir esta dissertao, e aos colegas Ana
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Cristina Ferreira, Helena Carvalho, Madalena Ramos, Margarida Perestrelo, Maria do
Carmo Botelho, Rui Brites e Teresa Calapez pelo incentivo manifestado diariamente.
Um agradecimento ainda para muitos outros apoios pessoais, de familiares e
amigos, os quais foram decisivos e permanentes.
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PARTE I
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Captulo 1
CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM NAS SOCIEDADESCONTEMPORNEAS
O objecto de estudo central deste trabalho, construdo em torno da literacia e das
competncias-chave, apenas poder ser amplamente compreendido se devidamente
enquadrado e situado no mbito de um conjunto de transformaes sociais que tm vindo
a ter lugar nas sociedades contemporneas. precisamente esse o objectivo do presente
captulo. A anlise que se segue visa analisar e discutir algumas das principais
caractersticas distintivas das sociedades actuais, concretamente as que tm a ver com a
centralidade do conhecimentoeda informao. Se estas so, cada vez mais, dimenses
fundamentais na estruturao das sociedades e economias contemporneas, do ponto de
vista dos indivduos as mudanas ocorridas traduzem-se na importncia, sem precedentes,
das qualificaes, das competncias e da aprendizagem. A anlise que em seguida se
apresenta procura ento perceber quais as condies sociaisque sustentam e justificam aimportncia da investigao sociolgica relativa literacia e s competncias-chave na
sociedade actual.
1.1 Sociedade ps-industrial, da informao e do conhecimento
As anlises sociolgicas especificamente dedicadas compreenso das sociedades
contemporneas tm vindo a sublinhar de diversas formas, mas consistentemente, a
importncia do conhecimento e da informao enquanto factores cada vez mais
estruturantes da vida social. Apesar de os conceitos privilegiados para captar as mudanas
em curso no serem consensuais (desde logo porque uns insistem especialmente no
conhecimento e outros na informao), e de tambm no serem conclusivas as discusses
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sobre se j possvel falar de um novo modelo de sociedade, ou se, por enquanto,
sobretudo a esfera econmica que est a mudar, as linhas fundamentais no que concerne
identificao das principais dimenses das mudanas em curso so, mesmo assim,
bastante convergentes.
As evidncias da mudana: terciarizao, escolarizao e transformaes na
estrutura socioprofissional nas sociedades ps-industriais
Embora as contribuies neste campo sejam bastante vastas, e analiticamente
diferenciadas, no pode deixar de ser destacado, em primeiro lugar, o trabalho de Daniel
Bell. A ideia principal por ele defendida encontra-se resumida no ttulo da mais
importante obra que publica a este respeito The Coming of Post-Industrial Society
(Bell, 1974:201) a qual, embora date j do incio da dcada de 70, contm alguns dos
elementos fundamentais que ainda hoje atravessam os diferentes modelos tericos que
visam identificar e sistematizar as caractersticas distintivas das sociedades
contemporneas. Segundo Bell, trata-se de um ensaio de prospectiva social (idem:15),
apoiado na anlise das mudanas estruturais em curso na sociedade da poca (em
particular nos EUA), as quais permitem antever a entrada numa sociedade que rompe
com o modelo anterior (a sociedade industrial) e que prope que seja designada
sociedade ps-industrial.
O ponto de partida de Daniel Bell consiste na anlise das transformaes
localizadas na esfera econmica, cujas consequncias e manifestaes podem, no entanto,
ser observadas em diferentes domnios da vida social. A alterao mais evidente registada
naquela esfera o progressivo decrscimo do peso do sector industrial, ao mesmo tempo
que uma multiplicidade de servios adquire uma centralidade crescente. Segundo afirma,
esta ser ento a primeira caracterstica, e tambm a mais evidente, de uma sociedadeps-industrial: a emergncia de uma economia de servios, a qual pode ser demonstrada a
partir do momento em que a maior parte da fora de trabalho tende a concentrar-se, no
na agricultura, nem na indstria, mas sim no sector tercirio. Se at a as sociedades se
distinguiam essencialmente pela produo de bens, precisamente possibilitada pela
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industrializao (por oposio s sociedades agrrias), uma nova mudana ocorre
perante o crescimento sem paralelo dos servios (idem:28).
Bell adverte quanto s limitaes inerentes expresso servios, a qual pode
conduzir a erros de interpretao quanto s reais tendncias em curso na sociedade. Isto,desde logo, face heterogeneidade deste sector: abrange servios muito distintos, desde
os pessoais e domsticos, em geral pouco exigentes quanto s qualificaes escolares e
profissionais requeridas, passando pelo comrcio, pelos servios financeiros, pelos
transportes, at aos servios relacionados com as reas da sade, da educao e da
investigao. sobretudo o desenvolvimento deste ltimo tipo de servios que decisivo
numa sociedade ps-industrial (Bell, 1974:29). Mas no apenas a abrangncia e
heterogeneidade do sector tercirio o nico problema inerente a uma classificaotripartida das actividades econmicas. A referida classificao tende tambm a
obscurecer o facto de parte dos servios terem crescido em estreita relao com o
desenvolvimento da indstria ( o caso dos transportes) e ainda a crescente penetrao
das actividades ditas tercirias em todos os restantes sectores.
Porm, e no obstante o actual consenso quanto inoperncia analtica e
conceptual daquela classificao1 (Almeida, 2004), no pode ser ignorado que foi
precisamente por via do acentuado crescimento desse sector (designadamente em termos
de populao empregada e tambm de contribuio para o PIB), que surgiram as
primeiras reflexes, e tentativas de interpretao, das profundas transformaes
econmicas que comearam a emergir, no caso dos EUA, a partir da segunda metade do
sculo XX.
Ainda segundo Daniel Bell, na sociedade ps-industrial no apenas a economia
que se transforma, mas sim o conjunto da estrutura social. Alm do sector em que as
pessoas trabalham, muda tambm, e principalmente, o tipo de trabalho que realizam, ou
seja, muda o padro das ocupaes, surgindo por essa via alteradas as distribuies declasse e de estratificao social (idem:29). Entre as vrias categorias ocupacionais em
1 Manuel Castells, por exemplo, considera que a classificao em causa se tornou um real obstculoepistemolgicopara a compreenso das actuais sociedades (Castells, 2002:271)
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crescimento, Bell destaca a que abrange a globalidade dos que trabalham em escritrios e,
dentro desta, especialmente as profisses cientficas e tcnicas.
Note-se, a este propsito, que um dos aspectos mais importantes na transio para
uma economia onde predominam as actividades de servios tem a ver com o aumentomdio do nvel de educao formal da populao. Embora, como se disse, o chamado
sector tercirio compreenda profisses muito distintas quanto s qualificaes escolares e
profissionais exigidas, mantendo algumas delas nveis a esse respeito muito baixos, a
tendncia geral para o aumento da escolaridade formal, a qual possibilita, e acompanha,
a terciarizao da economia. O capital humano converte-se, assim, no principal recurso
das sociedades ps-industriais e a educao passa a estar a estar na base da estratificao
social e do acesso ao poder.O crescimento gradual do sector dos servios2, o aumento das qualificaes
escolares e a alterao da composio socioprofissional das populaes3 (com o
surgimento das chamadas novas classes mdias e, dentro destas, do subconjunto das
profisses cientficas e tcnicas) so algumas das manifestaes da transio para as
sociedades ps-industriais destacadas por Daniel Bell e que ainda hoje fazem parte dos
indicadores habitualmente reconhecidos como sendo fundamentais quando se trata de
compreender o nvel de desenvolvimento das sociedades.
Existem ainda outros elementos, at ao momento no devidamente enfatizados,
que so determinantes na interpretao que Bell faz da sociedade ps-industrial. Em
causa est aquilo que considera ser o princpio axial da sua teoria, a saber, a
centralidade do conhecimento. Embora o conhecimento sempre tenha constitudo um
factor importante para o desenvolvimento econmico, na sociedade ps-industrial muda o
seu carcter: o conhecimento terico, codificado em sistemas abstractos de smbolos,
que se afirma enquanto recurso estratgico e fonte de inovao. Opera-se, assim, uma
mudana na relao entre cincia e tecnologia, simbolizada pela expressoInvestigao e
2A concentrao progressiva do emprego no chamado sector tercirio um dado inegvel que tem vindo aemergir nas economias mais avanadas. Mesmo em Portugal, esta uma tendncia que se tem reforado,como mostram as estatsticas produzidas oficialmente (INE: Recenseamentos Gerais da Populao): apopulao activa no sector tercirio era de 27,5% em 1960, passando para 59,9% em 2001. Ou seja,tambm Portugal passou a ser uma sociedade terciria (Machado e Costa, 1998).3Mais frente neste captulo ser retomada a anlise destas dimenses.
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Desenvolvimento (ID), com forte impacto na economia. neste sentido que Bell chega
mesmo a afirmar que a sociedade ps-industrial , na realidade, uma sociedade do
conhecimento, e isso em dois sentidos: em primeiro lugar, porque as fontes de inovao
dependem cada vez mais da nova relao estabelecida entre cincia e tecnologia; e, emsegundo lugar, devido ao peso do conhecimento no conjunto da sociedade (medido
pelo seu contributo para o PIB e pela proporo de empregos) (idem:241). Nesta
perspectiva, os cientistas e os engenheiros constituem o grupo-chave da sociedade ps-
industrial.
Se o conhecimento terico o princpio axial da sociedade ps-industrial, a
informao , nessas sociedades, a principal tecnologia (idem:139), permitindo, no
apenas uma maior produo de bens, mas tambm novas interdependncias econmicas enovas interaces sociais (idem:214-215). A importncia dada por Bell informao
confirma-se quando num outro ensaio, publicado poucos anos mais tarde, se refere
informao como sendo o principal recurso das sociedades ps-industriais (Bell,
1979:206). Seja qual for a especificidade do estatuto atribudo por este autor ao
conhecimento e informao, o que interessa aqui sublinhar que embora o conceito de
sociedade ps-industrial vise sobretudo realar o peso crescente das actividades
tercirias, aquelas duas dimenses ocupam j um lugar de destaque no seu esquema
conceptual.
O mesmo se passa, alis, com outras teses do ps-industrialismo, nomeadamente
com a de Alain Touraine (1969). O enfoque analtico de Touraine , no entanto, bem
distinto do de Daniel Bell, pois visa, no o estudo detalhado das diferenas entre as
sociedades industriais e ps-industriais, mas sim a anlise sociolgica das formas de
organizao social emergentes na sociedade programada. No cerne da sua reflexo esto
os novos movimentos sociais e os seus principais actores, bem como aquilo que os
mobiliza. porque as sociedades ps-industriais so sociedades tendencialmenteprogramadas, que emergem novos conflitos sociais, os quais so protagonizados, no
pelos excludos ou marginalizados, mas sim por aqueles que esto no centro dos
processos produtivos e tm maior poder social e econmico (caso dos profissionais
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altamente qualificados e dosestudantes), e que reivindicam, entre outros valores, os de
liberdade e criatividade (Touraine, 1969).
Apesar das fortes diferenas quanto s dimenses de anlise privilegiadas por Bell
e Touraine, as teses do ps-industrialismo tendem a ser convergentes ao identificarem oconhecimento e a informao como elementos centrais ao nvel da estruturao das
sociedades. Com o acabou de ser dito no se pretende transmitir a ideia de que as teorias
mencionadas so isentas de lacunas e insuficincias. Na realidade, ambas foram alvo de
poderosas crticas: alguns, mais prximos da perspectiva de Alain Touraine, tendem a
criticar Daniel Bell pela escassa importncia que este ter atribudo aos novos conflitos
socais nas sociedades ps-industriais (veja-se, a ttulo meramente ilustrativo, David Lyon,
1992:17); outros, criticam especialmente o modelo uniforme, ou excessivamenteindiferenciado, defendido nas vrias diferentes teses do ps-industrialismo ( o caso de
Manuel Castells, que procura demonstrar empiricamente a diversidade de caminhos que
tm vindo a ser seguidos pelas economias mais avanadas (2002:266-274)); outros ainda,
como Nico Stehr, criticam Daniel Bell, entre outros aspectos, pelo facto de este tratar o
princpio axial da sua teoria como uma caixa negra (Stehr, 1994:42-90).
Porm, o que neste momento se pretende no discutir de forma aprofundada as
teses do ps-industrialismo, mas sim identificar os seus principais contributos para a
compreenso das sociedades actuais. Como em seguida se ver, muitas das teorias mais
recentes que procuram descrever as transformaes actualmente em curso oscilam entre a
valorizao das tecnologias da informao e da comunicao, por um lado, e do
conhecimento, por outro, enquanto recursos e factores decisivos na estruturao das
economias e, globalmente, das sociedades contemporneas.
Sociedade da informao, informacional e sociedade em rede
sobretudo a partir da dcada de 80 que o impacto das chamadas tecnologias da
informao e da comunicao reconhecido e comea a ser incorporado na reflexo
sociolgica. Segundo David Lyon, tal acontece numa altura em que, dos debates polticos
ao cidado comum, todos comeam a falar na iminncia da chegada de uma nova
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sociedade, a sociedade da informao (Lyon, 1992). Um dos mais espantosos fenmenos
das sociedades avanadas dos finais do sculo XX consistiria na conjugao da
informtica com as telecomunicaes, a qual prenunciaria o incio de uma nova poca.
A tese da emergncia da sociedade da informao encontra-se claramenteassociada ideia de que a economia est a sofrer uma alterao radical, na qual o
processamento e manuseamento de informao, recorrendo s novas tecnologias da
micro-electrnica, teriam passado a desempenhar um papel fundamental. A expresso,
popularizada por Alvin Toffler, de sociedade de terceira vaga(a primeira vaga teria sido
a agrcola, a segunda a industrial e a terceira a sociedade da informao) inscreve-se
ento na tentativa de descrever os elementos que distinguem o que considera ser uma
nova sociedade, baseada na informao (Toffler, 1980). Para David Lyon, a tese dasociedade da informao dever, no entanto, ter o estatuto de problemtica, rompendo
assim com formulaes sociolgicas determinsticas, evolucionistas e excessivamente
simplificadas. A tecnologia no constitui uma fora autnoma, ou uma vaga, actuante
sobre a sociedade, resulta, pelo contrrio, do encontro de mltiplos factores,
nomeadamente sociais, econmicos e polticos. Neste sentido, a simples considerao de
que a sociedade da informao , de facto, uma nova sociedade, deve ser questionada e
investigada4.
precisamente com base numa reflexo e investigao sobre as sociedades
actuais que Lyon conclui serem inegveis, tanto no plano econmico, como no poltico,
ou no cultural, os efeitos das tecnologias da informao e da comunicao. Assiste-se,
por um lado, a uma crescente dependncia de todo o tipo de actividades em relao
micro-electrnica, informtica e telecomunicaes, e, simultaneamente, ao aumento do
nmero de trabalhadores da informao. Porm, as profundas mudanas que esto a
ocorrer na estrutura ocupacional das sociedades no representam nem o fim das
desigualdades sociais (tema este que ser retomado mais frente neste captulo), nem dos
4 A seguinte passagem bem ilustrativa quanto perspectiva defendida por David Lyon: Enquanto anoo de sociedade de informao estiver informada pelo determinismo tecnolgico, necessrio resistir sua aceitao. possvel demonstrar a falsidade desse determinismo. O desenvolvimento tecnolgico notem efeitos sociais pr-estabelecidos que sejam previsveis, universais ou, por maioria de razo, justos oubenficos. Pode demonstrar-se que esse desenvolvimento resulta de uma moldagem social, na qual seincluem certas escolhas deliberadas nos campos poltico, econmico e cultural (Lyon, 1992:179).
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conflitos sociais. Ao mesmo tempo que anteriores factores de desigualdade permanecem,
novos problemas e contradies tendero a surgir, cujos efeitos sero ainda em larga
medida imprevisveis5.
A perspectiva defendida por Manuel Castells, numa trilogia dedicada anliseaprofundada das dimenses econmica, social e cultural daEra da Informao, de que
estamos perante uma nova sociedade, uma vez que a actual era no se limita a acentuar
e a reforar tendncias anteriores presentes nas sociedades ditas industriais. A partir da
anlise do que considera ser uma profunda revoluo tecnolgica, centrada nas
tecnologias da comunicao e da informao, Castells leva a cabo uma extensa
investigao sobre as mudanas estruturais que esto a emergir nas sociedades
contemporneas e que afectam simultaneamente a economia, a sociedade e a cultura
6
(Castells, 2002, 2003a, 2003b). Tal como David Lyon, Castells considera que tal no
representa a adeso a qualquer tipo de determinismo tecnolgico. Segundo afirma, a
tecnologia , em si mesma, sociedade, interessando por isso investigar sociologicamente
as condies que possibilitam o seu desenvolvimento, mas, ao mesmo tempo, a sociedade
no pode ser compreendida, nem representada, sem as suas ferramentas tecnolgicas
(Castells, 2002:5).
O contexto social que favoreceu e possibilitou este novo modelo de sociedade
resulta, segundo Castells, do encontro entre trs processos independentes. Um deles
reporta-se dinmica sem paralelo de descoberta e difuso de novas tecnologias. O
segundo a profunda necessidade de reestruturao das economias nos anos 80, aps um
longo perodo de crise, processo esse em que as novas tecnologias se tornam a base
fundamental e em que as indstrias-chave passam a ser as tecnologias da informao e o
sector financeiro. Finalmente, um terceiro processo tem a ver com o apogeu de novos
movimentos sociais e culturais. Assim, no conjunto, a revoluo da tecnologia, a
reestruturao da economia, e a crtica da cultura, convergiram para uma redefinio
5Um dos temas que David Lyon tem vindo a investigar o da vigilncia, designadamente a que exercidapelo Estado, a qual, embora ao longo da histria sempre tenha marcado presena nas sociedades, surgeagora reforada devido associao ente informtica e telecomunicaes (Lyon, 1994, 2001).6 Para Castells deve considerar-se que est a emergir nova sociedade quando e se uma transformaoestrutural puder ser observada nas relaes de produo, de poder e de experincia(Castells, 2003a:463).
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histrica das relaes de produo, poder e experincia em que se baseia a sociedade
(Castells, 2003a:463).
Castells considera que as sociedades actuais tendem a caracterizar-se por um novo
modo de desenvolvimento, uma vez que o elemento decisivo que fomenta a produtividadese alterou. Se no modo de desenvolvimento industrial a fonte de produtividade reside na
introduo de novas fontes de energia, no modo de desenvolvimento informacional a
principal fonte de produtividade encontra-se nas tecnologias de produo de
conhecimentos, de processamento de informao e de comunicao de smbolos.
Um dado fundamental presente no modelo terico proposto por Castells a forma
como a informao e o conhecimento surgem estreitamente articulados. Segundo afirma,
o que no tem precedentes no novo modo de desenvolvimento econmico, face aosmodos anteriores, aco do conhecimento sobre o prprio conhecimento, num ciclo de
realimentao cumulativo entre a inovao e o seu uso (Castells, 2002:36). A mudana de
enfoque do ps-industrialismo para o informacionalismo justifica-se, em seu entender,
porque as sociedades organizam o seu sistema produtivo em torno de princpios de
maximizao da produtividade baseada em conhecimento, atravs do desenvolvimento de
tecnologias da informao, e do preenchimento dos pr-requisitos para a sua utilizao
(sobretudo recursos humanos e infra-estruturas educacionais) (idem:269).
Entre as caractersticas mais importantes do novo sistema econmico, Castells
destaca o seu alcance global e a organizao e disposio em forma de rede. Neste
quadro, a Internet representa, simultaneamente, o instrumento-chave e o smbolo do novo
sistema tecnolgico (Cardoso, 2003; Castells, 2005).
A metfora da rede no se aplica, porm, exclusivamente esfera econmica. O
que distingue actualmente a sociedade a evoluo das tecnologias da informao e a sua
difuso em todosos domnios da actividade econmica e social (Castells, 2002:269). A
sociedade em rede representa no apenas as novas formas de estruturao da economia,das empresas, do territrio, do mundo da comunicao e das esferas de poder, tambm
uma sociedade em rede construda a partir de baixo, no domnio da vida quotidiana,
estando associada a novas formas de cultura e sociabilidade (Cardoso, Costa, Conceio e
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Gomes, 2005; Castells, 2005). A sociedade em redecorresponde, ento, nova estrutura
social da era da informao.
Sociedade do conhecimento
Os modelos analticos de David Lyon e Manuel Castells colocam em lugar de destaque a
dimenso relativa informao. Sociedade da informao, informacional ou em rede, so
conceitos que pretendem dar conta do modo como as tecnologias da informao e da
comunicao tm vindo a afectar no apenas os processos produtivos, mas tambm as
relaes sociais e os padres culturais. Menos frequentes so as propostas de leitura das
mudanas em curso que elegem o conhecimento como chave fundamental para a
compreenso das sociedades contemporneas.
O primeiro a introduzir o conceito de sociedade do conhecimentoparece ter sido
Robert Lane (1966), citado por Bell na sua tese da sociedade ps-industrial. Mas s
recentemente surgiram propostas para uma leitura sociolgica das sociedades
contemporneas apoiada naquela concepo. Uma das principais linhas de reflexo que
se insere nesta perspectiva pertence a Nico Stehr (1994). A sua proposta terica de que
a sociedade actual pode ser descrita como sociedade do conhecimento devido penetrao do conhecimento cientfico em todas as esferas da vida. No s o mundo
actual crescentemente produzido pela cincia, como o entendimento destas
transformaes recai gradualmente em ideias geradas pela cincia. Stehr considera
mesmo que a cincia contempornea no representa apenas a soluo para os problemas
do mundo, est ela prpria a tornar-se o mundo.
O que distingue as sociedades actuais, convertendo-as em sociedades do
conhecimento, o aumento sem precedentes de um tipo de conhecimento especfico, que
Stehr designa conhecimento para a aco. Nas sociedades actuais a cincia tem vindo a
produzir cada vez mais este tipo de conhecimento, e a sua aquisio por parte dos
indivduos tem vindo tambm a alargar-se. A escrita, a impresso, a acumulao de
dados, representam simbolicamente o conhecimento, possibilitando a sua objectivao.
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precisamente nessa objectivao que reside a possibilidade de aquisio e a capacidade
de aco: o conhecimento objectivado pode ser visto como um recurso cultural das
sociedades e, nesse sentido, converte-se em capacidade para a aco (idem:95). Numa
referncia explcita a Giddens (1992) e Beck (1992), Stehr adverte que essa capacidadepara aco no comporta, porm, nem o desaparecimento da ansiedade, nem do risco.
Existe uma categoria social nas sociedades contemporneas que desempenha um
papel crucial na transmisso desse tipo de conhecimento: os peritos, conselheiros e
consultores. Stehr no pretende analisar esta categoria como constituindo uma nova
classe social, qual estaria associada uma forma especfica de poder. Alis, chega mesmo
afirmar que as anlises sociolgicas clssicas e contemporneas tendem a sobreestimar a
sua influncia, ao mesmo tempo que subestimam a quantidade de ocupaes que neladevem ser includas, quando, na realidade, se trata de um conjunto social em crescimento
acentuado e, simultaneamente, internamente bastante diversificado e heterogneo. O que
pretende destacar o papel fundamental que os peritos desempenham na constituio de
uma sociedade do conhecimento. Trata-se de um segmento da fora de trabalho que
adquire, manipula, organiza e comunica conhecimento, ou melhor, conhecimento sobre o
conhecimento. Neste sentido, no na produo do conhecimento que reside o seu
trabalho; o seu papel de mediao entre os produtores de conhecimento e os
utilizadores. A sua actividade no deve, porm, ser entendida como mera reproduo,
uma vez que a funo que desempenham no de transmisso passiva, acabando por
conduzir modificao, ou transformao, do prprio conhecimento (Stehr, 1994:184).
Alm disso, to importante como falar dos peritos perceber que o aumento dos mesmos
apenas ocorre na medida em que emerge, paralelamente, um pblico, constitudo pelos
seus clientes. Tanto os clientes, como os peritos, tm em comum o facto de estarem
convencidos de que o conhecimento especializado funcional em determinadas
circunstncias.O principal ponto que Stehr procura sublinhar so as consequncias, ao nvel da
configurao das sociedades, que decorrem da impregnao do conhecimento em todas as
esferas da vida. Numa ruptura com o que considera serem os discursos sociolgicos
clssicos produzidos por referncia s sociedades industriais, considera que, de um modo
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geral, as previses, e medos, neles expostos no se confirmam. No possvel
caracterizar as sociedades do conhecimento como sendo unidimensionais (Marcuse,
1964), com forte tendncia por parte do Estado para o controle e manipulao dos
cidados, ou que a vida social tende a ser progressivamente homogeneizada. Pelocontrrio, numa linha prxima do que tem vindo a ser a proposta terica de Alain
Touraine (1984), Stehr sublinha o que considera ser a crescente capacidade de agir dos
indivduos. Mas essa capacidade encerra uma nova contradio: a fragilidadetorna-se a
marca dominante das estruturas sociais modernas, pois quanto maior a capacidade de
aco dos sujeitos menor a capacidade de planeamento, represso e manipulao por
parte das entidades administrativas (Stehr, 1994:234). Numa imagem que faz lembrar a
sociedade em rede de Castells, Stehr afirma que a sociedade comea a assemelhar-se aum conjunto de delicados mosaicos, sem centro definido (idem:228). Em certo sentido, a
anlise de Stehr aproxima-se tambm da de Giddens, quando este sublinha a estreita
relao entre a reflexividade e a imprevisibilidade na modernidade tardia (Giddens,
1992).
Esta breve incurso em algumas anlises tericas recentes sobre os principais
factores de estruturao das sociedades contemporneas mostra que, apesar das
significativas diferenas entre elas, existem alguns pontos em comum que devem ser
sublinhados. O conhecimento e a informao, assumem, como nunca antes, um carcter
decisivo, o qual pode ser apreendido a partir de vrios enfoques, sejam eles mais
centrados na esfera econmica ou na vida quotidiana. Afectam, assim, no apenas o
sistema produtivo, mas os padres culturais das sociedades e os modos de agir dos
sujeitos; o acesso sem paralelo ao conhecimento acumulado, partilhado e difundido
graas s novas tecnologias da informao converte-o num recurso fundamental.
Vale a pena, a este propsito, sublinhar desde j algo que, estando na base nos
processos que tm vindo a ser identificados, nem sempre suficientemente destacado: ainformao e o conhecimento de que se fala encontram-se objectivados, representados
simbolicamente, atravs da escrita. Nesse sentido, apenas se convertem em recursos
centrais nas sociedades em que a capacidade de produo e de decifrao da informao
escrita se generalizam, afectando, em simultneo, vrias dimenses da vida social. Como
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se argumentar tambm nos prximos captulos (Captulos 2 e 3), as sociedades actuais,
do conhecimento e da informao, representam, ento, o culminar de um longo percurso,
no qual o papel da escrita, e as suas implicaes, no podem ser esquecidos.
1.2Economias baseadas no conhecimento
A possibilidade de considerar as sociedades actuais como sociedades do conhecimento
no rene ainda um alargado consenso. Alguns, como Peter Drucker (1993), consideram
que, por enquanto, apenas possvel falar de uma economia baseada no conhecimento7,
termo cujo uso se tornou recorrente. Seja qual for o enfoque conceptual escolhido, torna-
se fundamental aprofundar um pouco algumas das questes actualmente debatidas por
referncia ao novo qua