a lisboa de eça e de cesário

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Visita de estudo à Lisboa de Eça de Queirós e Cesário Verde Escola Secundária/3 José Cardoso Pires Português - 11º ano Maio de 2008 Guião realizado pelo professor João Carlos Costa

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Page 1: A Lisboa de Eça e de Cesário

Visita de estudoà Lisboa

deEça de Queirós

eCesário Verde

Escola Secundária/3 José Cardoso PiresPortuguês - 11º ano

Maio de 2008Guião realizado pelo professor João Carlos Costa

Page 2: A Lisboa de Eça e de Cesário

Estavam no Loreto; e Carlos parara,olhando, reentrando na intimidadedaquele velho coração da capital.Nada mudara. A mesma sentinelasonolenta rondava em torno à está-tua triste de Camões. Os mesmosreposteiros vermelhos, com brasõeseclesiásticos, pendiam nas portasdas duas igrejas. O Hotel Aliançaconservava o mesmo ar mudo edeserto. Um lindo Sol dourava o laje-do; batedores de chapéu à faia fusti-gavam as pilecas; três varinas, decanastra à cabeça, meneavam osquadris, fortes e ágeis na plena luz.A uma esquina, vadios em farraposfumavam; e na esquina defronte, naHavanesa, fumavam também outrosvadios, de sobrecasaca, politicando.— Isto é horrível, quando se vem defora! — exclamou Carlos.— Não é a cidade, é a gente. Umagente feiíssima, encardida, molenga,reles, amarelada, acabrunhada!...— Todavia Lisboa faz diferença —afirmou Ega, muito sério. — Oh, fazmuita diferença! Hás-de ver aAvenida... Antes do Ramalhetevamos dar uma volta à Avenida.Foram descendo o Chiado. Do outrolado, os toldos das lojas estendiamno chão uma sombra forte e denta-da. E Carlos reconhecia, encostadosàs mesmas portas, sujeitos que ládeixara havia dez anos, já assimencostados, já assim melancólicos.Tinham rugas, tinham brancas. Maslá estacionavam ainda, apagados emurchos, rente das mesmasombreiras, com colarinhos à moda.Depois, diante da Livraria Bertrand,Ega, rindo, tocou no braço deCarlos:— Olha quem ali está, à porta doBaltreschi! [...]

Eça de Queirós, Os Maias

Num trem de praça arengam dois dentistas;Um trôpego arlequim braceja numas andas;Os querubins do lar flutuam nas varandas;Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!

Vazam-se os arsenais e as oficinas;Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,Correndo com firmeza, assomam as varinas.

Vêm sacudindo as ancas opulentas!Seus troncos varonis recordam-me pilastras;E algumas, à cabeça, embalam nas canastrasOs filhos que depois naufragam nas tormentas.

Descalças! Nas descargas de carvão,Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;E apinham-se num bairro aonde miam gatas,E o peixe podre gera os focos de infecção!

[...]

A espaços, iluminam-se os andares,E as tascas, os cafés, as tendas, os estancosAlastram em lençol os seus reflexos brancos;E a Lua lembra o circo e os jogos malabares.

Duas igrejas, num saudoso largo,Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero:Nelas esfumo um ermo inquisidor severo,Assim que pela História eu me aventuro e alargo.

Na parte que abateu no terremoto,Muram-me as construções rectas, iguais, crescidas;Afrontam-me, no resto, as íngremes subidas,E os sinos dum tanger monástico e devoto.

Mas, num recinto público e vulgar,Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras,Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras,Um épico doutrora ascende, num pilar!

[...]

Partem patrulhas de cavalariaDos arcos dos quartéis que foram já conventos:Idade Média! A pé, outras, a passos lentos, Derramam-se por toda a capital, que esfria.

Triste cidade! Eu temo que me avivesUma paixão defunta! Aos lampiões distantes,Enlutam-me, alvejando, as tuas elegantes,Curvadas a sorrir às montras dos ourives.

E mais: as costureiras, as floristasDescem dos magasins, causam-me sobressaltos;Custa-lhes a elevar os seus pescoços altosE muitas delas são comparsas ou coristas.

E eu, de luneta de uma lente só,Eu acho sempre assunto a quadros revoltados:Entro na brasserie; às mesas de emigrados,Ao riso e à crua luz joga-se o dominó. [...]

Cesário Verde, «O Sentimento dum Ocidental»

Pelo Chiado abaixo...

Page 3: A Lisboa de Eça e de Cesário

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1ª visita: Chiado

- Eu do que gostei foi dos ares queele se ia dando por aquele Chiado!Cumprimento para a direita,cumprimento para a esquerda... Adebruçar-se, a falar muito baixopara a mulher, com olho terno,alardeando conquista...

Eça de Queirós, Os Maias

Duas igrejas, num saudoso largo,Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero:Nelas esfumo um ermo inquisidor severo,Assim que pela História eu me aventuro e alargo.

Cesário Verde, «O Sentimento dum Ocidental»

2ª visita: Rua do Alecrim

Nessa tarde, às seis horas, Carlos, ao descer a Rua do Alecrim para o Hotel Central, avistouCraft dentro da loja de bricabraque do tio Abraão.

Eça de Queirós, Os Maias

À esquerda: Estátua a Eça de Queirós, deTeixeira Lopes, no Largo Barão de Quintela.

«Sobre a nudez forte da verdade,o manto diáfano da fantasia».

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4ª visita: O «Aterro» (Avenida 24 de Julho)

A noite alongava-se, eram onze horas. Ainda se bebeu mais conhaque. Depois Cohen saiu levando o Ega.Dâmaso e Alencar desceram com Carlos — que ia recolher a pé pelo Aterro.À porta, o poeta parou com solenidade.- Filhos — exclamou ele tirando o chapéu e refrescando largamente a fronte — então? Parece-me que meportei como um gentleman!Carlos concordou, gabou-lhe a generosidade...- Estimo bem que me digas isso, filho, porque tu sabes o que é ser gentleman! E agora vamos lá por esseAterro fora... Mas deixa-me ir ali primeiro comprar um pacote de tabaco...

Eça de Queirós, Os Maias

3ª visita: Pr. Duque da Terceira/R. do Arsenal/R. VítorCórdon (Hotel Bragança)/R. do Ferragial (casa dos Cohen)

Entravam então no peristilo do Hotel Central — e nesse momento um coupé da Companhia, chegandoa largo trote do lado da Rua do Arsenal, veio estacar à porta. [...]Com efeito, Carlos pouco se demorou em Resende. E numa luminosa e macia manhã de Janeiro de1887, os dois amigos, enfim juntos, almoçavam num salão do Hotel Bragança, com as duas janelas aber-tas para o rio. [...]E o Alencar, perante esta intimação do Cohen, o respeitado director do Banco Nacional, o marido da di-vina Raquel, o dono dessa hospitaleira casa da Rua do Ferregial onde se jantava tão bem, recalcou odespeito — admitiu que não deixava de haver talento e saber.

Eça de Queirós, Os Maias

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6ª visita: O Ramalhete(que Eça situa na Rua de São Francisco de Paula, hoje Rua Presidente Arriaga)

Acasa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no Outono de 1875, era conhecida na vizi-nhança da Rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela Casa doRamalhete, ou simplesmente o Ramalhete. Apesar deste fresco nome de vivenda campestre,o Ramalhete, sombrio casarão de paredes severas, com um renque de estreitas varandas deferro no primeiro andar, e por cima uma tímida fila de janelinhas abrigadas à beira do telha-do, tinha o aspecto tristonho de residência eclesiástica que competia a uma edificação doreinado da senhora D. Maria I...

Eça de Queirós, Os Maias

5ª visita: A Rua das Janelas Verdes

Um momento caminharam em silêncio. Depois, na Rua das Janelas Verdes, o Alencar quisrefrescar. Entraram numa pequena venda, onde a mancha amarela de um candeeiro depetróleo destacava numa penumbra de subterrâneo, alumiando o zinco húmido do balcão,garrafas nas prateleiras, e o vulto triste da patroa com um lenço amarrado nos queixos.Alencar Carlos concordou, gabou-lhe a generosidade...- Estimo bem que me digas isso, filho, porque tu sabes o que é ser gentleman! E agora vamoslá por esse Aterro fora... Mas deixa-me ir ali primeiro comprar um pacote de tabaco...

Eça de Queirós, Os Maias

Page 6: A Lisboa de Eça e de Cesário

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7ª visita: O Ascensor da Bica (inaugurado em 1891)(hoje Monumento Nacional)

8ª visita: O Chiado / Teatro Nacional de São Carlos

Havia dois anos, justamente quando Pedro perdera a mamã, aquele velho, o papá Monforte,uma manhã rompera subitamente pelas ruas e pela sociedade de Lisboa naquela mesmacaleche com essa bela filha ao seu lado. Ninguém os conhecia. Tinham alugado a Arroios umprimeiro andar no palacete dos Vargas; e a rapariga principiou a aparecer em S. Carlos, fazen-do uma impressão — uma impressão de causar aneurismas, dizia o Alencar![...]Depois, daí a duas semanas o Alencar, entrando em S. Carlos ao fim do primeiro acto doBarbeiro, ficou assombrado ao ver Pedro da Maia instalado na frisa do Monforte, à frente, aolado de Maria, com uma camélia escarlate na casaca — igual às de um ramo pousado norebordo de veludo.[...]De outro modo, Carlos um dia, no Chiado, em S. Carlos, escarrava-lhe na cara. E, dado essedesastre, Damasozinho, a não querer ser apontado em Lisboa como um incomparávelcobarde, tinha de se bater à espada ou à pistola...

Eça de Queirós, Os Maias

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9ª visita: O Chiado / Grémio Literário / Casa de Cruges

Em Lisboa, entre o Grémio e a Casa Havanesa, já secomeçava a falar do «arranjinho do Ega».

A curiosidade de Carlos levou-o ao Grémio: noGrémio nenhum criado vira ultimamente o Sr.Salcede. «Está por aí de lua-de-mel com algumabela andaluza», pensou Carlos...

Onde diabo morava então o Sr. Cruges? A criada dis-sera que o Sr. Cruges vivia agora na Rua de S.Francisco, quatro portas adiante do Grémio.

Eça de Queirós, Os Maias

10ª visita: O Chiado / Rua Garrett / Rua Nova do Almada

Saiu. E dera apenas alguns passos na Rua Nova doAlmada, quando avistou o Dâmaso, num coupélançado a grande trote, que o chamava, mandavaparar, com a face à portinhola, vermelho e radiante.

Eça de Queirós, Os Maias

Page 8: A Lisboa de Eça e de Cesário

Saiu.E dera apenas alguns passos na Rua Nova doAlmada, quando avistou o Dâmaso, num coupélançado a grande trote, que o chamava, mandavaparar, com a face à portinhola, vermelho e radiante.[...]Carlos então contou como o encontrara, afogueadoe triunfante, atirando-lhe da portinhola do coupé,em plena Rua Nova do Almada, a notícia de umromance divino![...]Depois, descendo para a Rua Nova do Almada, con-tou o caso da Adosinda. Fora no Silva, havia duassemanas, estando ele a cear com rapazes depois de S. Carlos, que lhes aparecera essa mu-lher inverosímil, vestida de vermelho, carregando insensatamente nos rr, metendo rr em todasas palavras, e perguntando pelo senhor virrsconde... Qual virrsconde? Ela não sabia bem. Erraum virrsconde que encontrrarra no Crroliseu.

Eça de Queirós, Os Maias

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10ª visita (continuação)

E eu que medito um livro que exacerbe,Quisera que o real e a análise mo dessem;Casas de confecções e modas resplandecem;Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe.

Longas descidas! Não poder pintarCom versos magistrais, salubres e sinceros,A esguia difusão dos vossos reverberos,E a vossa palidez romântica e lunar!

Cesário Verde, «O Sentimento dum Ocidental»

11ª visita: Teatro da Trindade / Largo Rafael B. Pinheiro

Pararam à porta do Teatro da Trindade no momento em que de uma tipóia de praça se apeava um sujeitode barbas de apóstolo, todo de luto, com um chapéu de largas abas recurvas à moda de 1830.

Eça de Queirós, Os Maias

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12ª visita: S. Pedro de Alcântara

Mas Carlos vinha de lá enervado, amolecido, sentindo já na alma os primeiros bocejos dasaciedade. Havia três semanas apenas que aqueles braços perfumados de verbena se ti-nham atirado ao seu pescoço — e agora, pelo passeio de S. Pedro de Alcântara, sob o ligeirochuvisco que batia as folhagens da alameda, ele ia pensando como se poderia desembaraçarda sua tenacidade, do seu ardor, do seu peso...

Eça de Queirós, Os Maias

13ª visita: O Ascensor da Glória (inaugurado em 1885)

14ª visita: Restauradores /Avenida (o Passeio Público)

Subitamente, Ega parou:— Ora aí tens tu essa Avenida! Hem?... Jánão é mau!Num claro espaço rasgado, onde Carlosdeixara o Passeio Público, pacato e fron-

doso — um obelisco, com borrões de bronze no pedestal, erguia um traço cor de açúcar na vibração finada luz de Inverno: e os largos globos dos candeeiros que o cercavam, batidos do Sol, brilhavam, trans-parentes e rutilantes, como grandes bolas de sabão suspensas no ar.

Eça de Queirós, Os Maias

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15ª visita: Rossio / Praça da Figueira / Outras ruas

Um consultório gratuito, no Rossio, o consultório do Dr. Maia, «do seu Maia» reluziu-lhe logo vagamentecomo um elemento de influência. E tanto se agitou, que daí a dois dias tinha alugado um primeiro andarde esquina.[...]Como Afonso, todo o sofrimento dos animais a consternava. Um dia viera indignada da Praça daFigueira, quase com ideias de vingança, por ter visto nas tendas dos galinheiros aves e coelhos api-nhados em cestos, sofrendo durante dias as torturas da imobilidade e a ansiedade da fome.

Eça de Queirós, Os Maias

[...]"Ela aí vem!" disse eu para os demais; E pus-me a olhar, vexado e suspirando, O teu corpo que pulsa, alegre e brando, Na frescura dos linhos matinais.

Via-te pela porta envidraçada; E invejava, – talvez que o não suspeites! – Esse vestido simples, sem enfeites, Nessa cintura tenra, imaculada.

Ia passando, a quatro, o patriarca, Triste eu saí. Doía-me a cabeça. Uma turba ruidosa, negra, espessa, Voltava das exéquias dum monarca.

Adorável! Tu, muito natural, Seguias a pensar no teu bordado; Avultava, num largo arborizado, Uma estátua de rei num pedestal.

Sorriam, nos seus trens, os titulares; E ao claro sol, guardava-te, no entanto, A tua boa mãe, que te ama tanto, Que não te morrerá sem te casares!

Soberbo dia! Impunha-me respeito A limpidez do teu semblante grego; E uma família, um ninho de sossego, Desejava beijar sobre o teu peito.

Com elegância e sem ostentação, Atravessavas branca, esbelta e fina, Uma chusma de padres de batina, E de altos funcionários da nação.

[...]

Cesário Verde, «A Débil»

16ª visita: Terreiro do Paço (Praça do Comércio)Uma velha caleche, de parelha branca, estava encalhada ali, contra o passeio. Melanie saltou para dentro,à pressa. A traquitana rodou aos solavancos para o Terreiro do Paço.

Eça de Queirós, Os Maias

Page 11: A Lisboa de Eça e de Cesário

Subitamente, Ega parou:— Ora aí tens tu essa Avenida! Hem?... Já não é mau!Num claro espaço rasgado, onde Carlos deixara o PasseioPúblico, pacato e frondoso — um obelisco, com borrões debronze no pedestal, erguia um traço cor de açúcar na vibraçãofina da luz de Inverno: e os largos globos dos candeeiros que ocercavam, batidos do Sol, brilhavam, transparentes e rutilantes,como grandes bolas de sabão suspensas no ar. Dos dois ladosseguiam, em alturas desiguais, os pesados prédios, lisos e apru-mados, repintados de fresco, com vasos nas cornijas ondenegrejavam piteiras de zinco, e pátios de pedra, quadrilhados abranco e preto, onde guarda-portões chupavam o cigarro: eaqueles dois hirtos renques de casas ajanotadas lembravam aCarlos as famílias que outrora se imobilizavam em filas, dos doislados do Passeio, depois da missa «da uma», ouvindo a Banda,com casimiras e sedas, no catitismo domingueiro. Todo o laje-do reluzia como cal nova. Aqui e além um arbusto encolhia na aragem a sua folhavam pálida e rara. Eao fundo a colina verde, salpicada de árvores, os terrenos de Vale de Pereiro, punham um brusco rematecampestre àquele curto rompante de luxo barato — que partira para transformar a velha cidade, eestacara logo, com o fôlego curto, entre montões de cascalho.Mas um ar lavado e largo circulava; o Sol dourava a caliça; a divina serenidade do azul sem igual tudocobria e adoçava. E os dois amigos sentaram-se num banco, junto de uma verdura que orlava a águade um tanque esverdinhada e mole.Pela sombra passeavam rapazes, aos pares, devagar, com flores na lapela, a calça apurada, luvas clarasfortemente pespontadas de negro. Era toda uma geração nova e miúda que Carlos não conhecia. Porvezes Ega murmurava um olá! acenava com a bengala. E eles iam, repassavam, com um arzinho tími-do e contrafeito, como mal acostumados àquele vasto espaço, a tanta luz, ao seu próprio chique. Carlospasmava. Que faziam ali, às horas de trabalho, aqueles moços tristes, de calça esguia? Não havia mu-lheres. Apenas num banco adiante uma criatura adoentada, de lenço e xale, tomava o Sol; e duasmatronas, com vidrilhos no mantelete, donas de casa de hóspedes, arejavam um cãozinho felpudo. Oque atraía pois ali aquela mocidade pálida? E o que sobretudo o espantava eram as botas desses ca-valheiros, botas despropositadamente compridas, rompendo para fora da calça colante com pontasaguçadas e reviradas como proas de barcos varinos. [...]E mostrava os altos da cidade, os velhos outeiros da Graça e da Penha, com o seu casario escorregan-do pelas encostas ressequidas e tisnadas do Sol. No cimo assentavam pesadamente os conventos, asigrejas, as atarracadas vivendas eclesiásticas, lembrando o frade pingue e pachorrento, beatas de man-tilha, tardes de procissão, irmandades de opa atulhando os adros, erva-doce juncando as ruas, tremoçoe fava-rica apregoada às esquinas, e foguetes no ar em louvor de Jesus. Mais alto ainda, recortando noradiante azul a miséria da sua muralha, era o Castelo, sórdido e tarimbeiro, donde outrora, ao som dohino tocado em fagotes, descia a tropa de calça branca a fazer a bernarda! E abrigados por ele, noescuro bairro de S. Vicente e da Sé, os palacetes decrépitos, com vistas saudosas para a barra, enormesbrasões nas paredes rachadas, onde, entre a maledicência, a devoção e a bisca, arrasta os seus der-radeiros dias, caquéctica e caturra, a velha Lisboa fidalga!...

Eça de Queirós, Os Maias

Os Restauradores e a Avenida...

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A lanterna vermelha do americano, ao longe, no escuro, parara.E foi em Carlos e em João da Ega uma esperança, outro esforço:— Ainda o apanhamos!— Ainda o apanhamos!De novo a lanterna deslizou e fugiu. Então, para apanhar o americano, os dois ami-gos romperam a correr desesperadamente pela Rampa de Santos e pelo Aterro, soba primeira claridade do luar que subia.

Eça de Queirós, Os Maias

Dez horas da manhã; os transparentesMatizam uma casa apalaçada;Pelos jardins estacam-se as nascentes,E fere a vista, com brancuras quentes,A larga rua macadamizada.

Rez-de-chaussée repousam sossegados,Abriram-se, nalguns, as persianas,E dum ou doutro, em quartos estucados,Ou entre a rama dos papéis pintados,Reluzem, num almoço, as porcelanas.

Como é saudável ter o seu aconchego,E a sua vida fácil! Eu descia,Sem muita pressa, para o meu emprego,Aonde eu agora quase sempre chegoCom as tonturas duma apoplexia.

E rota, pequenina, azafamada,Notei de costas uma rapariga,Que no xadrez marmóreo duma escada,Como um retalho de horta aglomerada,Pousara, ajoelhando, a sua giga.

E eu, apesar do sol, examinei-a:Pôs-se de pé; ressoam-lhe os tamancos;E abre-se-lhe o algodão azul da meia,Se ela se curva, esguedelhada, feia,E pendurando os seus bracinhos

/brancos.

Cesário Verde, «Num Bairro Moderno»

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Suplemento ao guião * Página 1

Praça Luís de CamõesAntes da implantação da estátua do poeta designa-va-se Largo do Loreto. As obras foram realizadas aexpensas do município - edital de 12 de Junho de1860 – , já a estátua foi paga através de subscriçãopública nacional. A colocação da estátua foi prece-dida da demolição de edifícios designados “casebresdo Loreto”, e da terraplanagem do largo.

Monumento da Luís de Camões - LargoCamõesO Monumento a Camões foi inaugurado em Junhode 1867 e é da autoria do escultor Vítor Bastos.Destaca-se a figura de Camões, com quatro metrosesculpida em bronze, que assenta sobre umpedestal oitavado, rodeado por oito estátuas (de2,40 metros de altura, em pedra de lioz) onde estãorepresentados vultos notáveis da cultura e dasletras: o historiador Fernão Lopes, o cosmógrafoPedro Nunes, o cronista Gomes Eanes de Azurara,os historiadores João de Barros e Fernão Lopes deCastanheta e os poetas Vasco Mouzinho deQuevedo, Jerónimo Corte-Real e Francisco de Sá deMenezes. O poeta é representado de capa e espa-da, vestido de acordo com a moda da época.

Rua do AlecrimSobe da praça do Duque da Terceira até à rua daMisericórdia.O começo da rua dá-se por uma subida acentuadaque assenta em dois arcos de volta abatida (cons-truídos sobre armazéns abobadados, com entradapela rua de são Paulo), é um viaduto bem lançadoconstruído depois do Terramoto por ordem expres-sa do Marquês de Pombal. Este primeiro lanço darua foi ocupado por escritórios comerciais e denavegação e pelo hotel Bragança. Assim, estaprimeira parte da rua pertence à Lisboa reedificadadepois do Terramoto, outra parte dela entroncanuma artéria existente antes do Terramoto, doisterços da sua extensão correspondem à seiscentistarua do Conde.Ao cimo da rua, em frente do largo Barão de

Quintela, está o Palácio Quintela, comprado em1777 pelo fidalgo da Casa Real Luís RebeloQuintela. Com a derrocada da casa Quintela Farrobofoi adquirido pelo célebre comerciante “Monteirodos Milhões”.

Estátua de Eça de Queirós - Largo Barão deQuintelaDepois do monumento a Luís de Camões, doromântico Vítor Bastos (inaug. 1867, na praça domesmo nome), Eça de Queirós foi o segundoescritor português a ter homenagem escultóricapública em Lisboa (inaug. 1903, Largo do Barão deQuintela, ao Chiado). Talhado por Teixeira Lopes(1866-1942), trata-se de um conjunto em que obusto do escritor se curva sobre a estátua alegóricae sensual da «Verdade», uma das mais interes-santes da escultura portuguesa novecentista. MasTeixeira Lopes modelou essa «Verdade» de braçosabertos e infelizmente colocou-a perto do nível dosolo, à mercê de potenciais vândalos. Por isso,durante um século lhe partiram várias gerações dededos e braços, que se iam paulatinamente suce-dendo, a ponto de se ter resolvido substituir todo oconjunto (que espera restauro e colocação emmuseu) por outro mais duradouro, de bronze, aque-le que hoje se pode ver no local.

Cais do Sodré (Praça Duque da Terceira)A praça deve o seu nome à família Sodré, de origeminglesa, que se estabeleceu neste local desde o séc.XV. Comerciantes, tinham a sua actividade associ-ada ao comércio marítimo. Depois do terramotohabitaram o prédio pombalino do lado nascente dapraça a que se deu então o nome de Remolares.Mais tarde, uma atribuição camarária mudou-lhe onome para praça Duque da Terceira, mas a tradiçãooral tem sido mais forte.

Estátua do Duque da Terceira - Praça Duqueda TerceiraNa cidade de Lisboa, no largo do Cais do Sodré, ofi-cialmente Praça do Duque da Terceira, foi levanta-

Acercados locaisvisitados:

algunsapontamentos

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Suplemento ao guião * Página 2

do um monumento em memória do general. A inau-guração realizou-se solenemente a 24 de Julho de1877. António José de Sousa Manuel de MenezesSeverim de Noronha (Lisboa, 18 de Março de 1792- Lisboa, 26 de Abril de 1860), 7.º conde e 1.º mar-quês de Vila Flor e ainda 1.º duque da Terceira, foium importante general e homem de Estado por-tuguês do tempo do liberalismo, sendo uma dasmais importantes figuras do tempo, tanto no planopolítico, como, e talvez sobretudo, no plano militar.De herói das guerras liberais tornou-se no líderincontestado dos cartistas, a facção mais conser-vadora do liberalismo português, embrião do futuroPartido Regenerador.Pertencente à mais genuína alta nobreza portugue-sa, teve múltiplos cargos e honrarias na corte, entreas quais, moço fidalgo da rainha D. Maria I, gentil-homem da câmara de el-rei D. João VI, copeiro-more estribeiro-mor. Exerceu as funções de marechalde campo, comandante-em-chefe do ExércitoPortuguês, conselheiro de Estado, par do Reino,tendo por quatro vezes (1836, 1851, 1842-1846 e1859-1860) exercido o cargo de Presidente doConselho de Ministros. Foi o 10.º capitão-generaldos Açores, ali presidindo à Regência de Angradurante a fase inicial das guerras liberais.

Hotel CentralÉ um dos locais mais referidos na obra de Eça, emparticular em «Os Maias». Fechou em 1919, tendo-se aí instalado os escritórios da Sociedade Estoril.

Hotel BragançaSituava-se na Rua do Ferragial de Cima, actual RuaVítor Córdon, no número 45. O seu nome deve-seao facto de no mesmo local ter existido o paláciodos Duques de Bragança, destruído por um incên-cio em 1 de Agosto de 1841. Em 1915 instalaram-se no edifício os escritórios das CompanhiasReunidas de Gás e Electricidade. Já depois do 25 deAbril de 1974, ali funcionaram os serviços dachamada Universidade Livre.

Igreja de S. PauloLocalização: Largo de São PauloAutoria: Arquitecto Remígio Francisco de Abreu Data: Século XVIIIA zona de São Paulo sempre foi uma zona comer-cial preferencial e por isso mereceu particularatenção após o terramoto de 1755. A primitiva igre-ja de São Paulo, que ficou destruída pelo incêndiodo sismo, teve o seu projecto de reedificação real-izado pelo Arquitecto Remígio Francisco, que seguiuo traçado adoptado no Convento de Mafra. Aliás,aqui se formaram os principais engenheiros e arqui-

tectos que foram responsáveis pela reconstrução dacidade após o terramoto.

Chafariz do Largo de São PauloO chafariz está situado no centro do Largo de SãoPaulo, junto ao Cais do Sodré, e foi projectado porMalaquias Ferreira Leal, em 1848. Em 1850, overeador das águas propôs que uma das bicas dochafariz fosse destinada aos marítimos, mas estesdeveriam trazer os respectivos barris.

O «Ramalhete» / Rua das Janelas VerdesÉ a designação da casa dos Maias em Lisboa, queEça situa na Rua de São Francisco, às JanelasVerdes, hoje Rua do Presidente Arriaga. Carlos daMaia só aí viveu dois anos. O historiador de LisboaRocha Martins afirma que a fonte de inspiração do«Ramalhete» terá sido o solar dos Sabugosas, aSanto Amaro, situando-se este, no entanto, umpouco mais a poente relativamente à Rua de SãoFrancisco.

Museu Nacional de Arte AntigaRua das Janelas VerdesFoi inaugurado em 12 de Junho de 1884, con-cretizando uma antiga aspiração surgida após aabolição das ordens religiosas, em 1834, de dardestino às obras de arte que nessa altura passarampara a posse do Estado. Reformado em 1911 eadquirindo então o nome que actualmente tem, omuseu assumiu os contornos gerais que ainda hojemantém. Encontra-se instalado no palácio manda-do construir no século XVII pelo 1º Conde de Alvor.Por volta de 1918 foi derrubado o arruinadoConvento de Santo Alberto, contíguo ao palácio,prolongando-se as instalações do museu através daconstrução de um amplo anexo, projectado peloarquitecto Rebello de Andrade e inaugurado em1940.

Elevador da BicaLocalização: Rua de S. Paulo/Largo do CalharizAutoria: Raoul Mesnier de PonsardInauguração: 29 de Junho de 1892O elevador da Bica foi o quinto elevador construídoem Lisboa, ligando a zona ribeirinha de S. Paulo aoBairro Alto, servindo a numerosa população do bair-ro popular da Bica, tradicionalmente ligada às artesdo mar.

Bairro AltoÉ por volta de 1500 que surge no Bairro Alto oprimeiro loteamento (renascentista), que transfor-ma hortas e pomares em ruas e casario, crescendorepentinamente como bairro popular, embora pos-

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teriormente se transformasse numa zona onde aaristocracia viria a construir os seus palacetes.O Bairro Alto marca a passagem do séc. XVI paraXVII na vida urbana de Lisboa e a aquisição de umaconsciência urbanística e arquitectónica.

Largo do ChiadoDuas hipóteses se colocam para a designaçãotoponímica deste local. Alguns autores dizem queprovém da existência, por volta de 1560, de umaestalagem no local onde hoje em dia estão osArmazéns do Chiado, de uma adega ou estalagemque pertencia a Gaspar Dias, por alcunha “oChiado”. Outros acreditam que tem origem no poetapopular quinhentista António Ribeiro Chiado.

Estátua do poeta António Ribeiro ChiadoInaugurada a 18 de Dezembro de 1925, por inicia-tiva da Câmara Municipal de Lisboa, para home-nagear o poeta António Ribeiro, conhecido por «OChiado» ou «O Poeta Chiado» (Évora, 1520 (?) -Lisboa, 1591), que foi um poeta jocoso e sátiro doséculo XVI, contemporâneo de Luís Vaz de Camões. A estátua, de bronze, é da autoria de Costa Mota(tio) e a base, em pedra lioz, de José AlexandreSoares. Nela se vê a representação do poeta senta-do num pequeno banco, envergando o hábito demonge, sorrindo com escárnio, numa posiçãoarqueada, de convite.

Rua GarrettÉ uma das artérias do Chiado. Situa-se entre osArmazéns do Chiado e largo do Chiado.Antes de ser de Garrett foi rua Direita das Portas deSanta Catarina (1375 a 1707). Para lá destas portasda muralha fernandina (demolidas em 1707 paradeixar passar o cortejo de D. Mariana de Áustria,mulher de D. João V), ficava Lisboa extra-muros.Estas portas assentavam no largo das duas igre-jas, sensivelmente no eixo da rua entre a igreja doLoreto e a da Encarnação.Em 1856, a Câmara Municipal de Lisboa mudou-lheo nome para rua do Chiado, que até então apenasdesignava o que hoje é a rua Ivens até ao conven-to do Espírito Santo, e em 1880 mudou-lho, nova-mente, para o do célebre escritor Almeida Garrett.

Café A BrasileiraLocalização: R. Garret, n.º 120Data: 19 de Novembro de 1905O café A Brasileira foi fundado por Adriano Telles, oqual vivera largos anos no Brasil e aí mantinha con-tactos para a importação de bom café. Foi oprimeiro estabelecimento a vender cafés moídos em

frente ao cliente, e foi aqui que nasceu o termo"bica", utilizado pelos lisboetas para designar umachávena de café. A partir de 1920, torna-se o cen-tro onde se reúnem as tertúlias lisboetas, frequen-tado por escritores, artistas, gente do espectáculo,das ciências, revolucionários, etc.O interior de A Brasileira foi remodelado nos anossessenta, substituindo-se os quadros existentes poroutros, da autoria de renomados pintores, comoJoão Hogan, Manuel Baptista, João Vieira, Azevedo,Vespeira, Eduardo Nery, Palolo e Noronha da Costa.Frequentado, entre outros ilustres, por FernandoPessoa, a esplanada possui uma estátua do Poeta,sentado a beber café, da autoria de LagoaHenriques.

Estátua de Fernando PessoaFernando António Nogueira Pessoa, nasceu emLisboa a 13 de Junho de 1888 e faleceu a 30 deNovembro de 1935. Poeta e ensaísta, que expressade três maneiras diferentes, as várias sensibilidadesda sua personalidade, fragmentando-se em hete-rónimos, cuja vida e percurso descreve, dando-lhesa consistência do real. São eles: Ricardo Reis (médi-co, que nasceu no Porto em 1887, fixando-se noBrasil); Alberto Caeiro (sem educação ou formação,nasceu em Lisboa, vivendo quase toda a sua vidano campo e desaparece em 1915) e Álvaro deCampos ( que nasce em Tavira em Outubro de 1890e é engenheiro naval). Associado a cada um destesheterónimos surgem os seus textos: diferentes nãosó nas ideias como nas técnicas de composição enos estilos. Alberto Caeiro foi aquele que mais sedistinguiu. Em vida, Fernando Pessoa publicou umúnico livro de poemas portugueses, «A Mensa-gem», editada em 1934. A estátua que, no Largo doChiado, recorda Pessoa, é da autoria de LagoaHenriques, recordando-o à mesa do Café ABrasileira, onde se sentava para escrever e falarcom os amigos.

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Casa HavanezaEra uma tabacaria célebre, no Chiado, cuja fun-dação data de 1865, local de encontro e cavaqueirade personalidades da burguesia e da política.Estendia-se até à Rua Nova da Trindade. «Pessoasesbaforidas chegavam, rompiam pelos grupos queatulhavam a porta e, alçando-se em bicos de pés,esticavam o pescoço por entre a massa doschapéus, para a grade do balcão, onde numa ta-buleta suspensa se colavam os telegramas daAgência Havas» (Eça de Queirós in O Crime doPadre Amaro). «A uma esquina, vadios em farraposfumavam: e na esquina defronte, na Havaneza,fumavam outros vadios, de sobrecasaca, politican-do» (Eça de Queirós in Os Maias).Foi remodelada totalmente em 1949, cedendo parteda sua área ao Banco Burnay em 1960, subsistindoainda, na altura, como tabacaria. É um dos esta-belecimentos célebres do mundo romanescoqueirosiano.

Teatro Nacional de São CarlosLocalização: Largo de São CarlosAutoria: José da Costa e SilvaData: 1792Edifício neoclássico, de inspiração italiana, o TeatroSão Carlos seria uma iniciativa de um grupo de bur-gueses, contando com a influência de PinaManique, intendente geral da polícia, para o rápi-do desenvolvimento da construção.Destinado fundamentalmente à opera e ao bailado,inaugura com a ópera La Balerina Amante, deCimarosa. O edifício foi adquirido pelo estado em1854.

Casa onde nasceu Fernando Pessoa - Largode São CarlosA casa onde Fernando Pessoa nasceu e viveu atéaos 5 anos, no Largo de São Carlos, em Lisboa, éagora a sede de uma Sociedade de Advogados, aABBC. O Edificio pertencia a um fundo da CaixaGeral de Depósitos e tinha sido utilizado pelaCompanhia de Seguros Fidelidade-Mundial.

Grémio LiterárioRua Ivens, nº 37O Grémio Literário foi fundado em 1846 por diver-sas personalidades do liberalismo constitucional esetembrista, com o objecto social de promover acultura, com neutralidade política, segundo propósi-to definido por Almeida Garrett. AlexandreHerculano e Fontes Pereira de Melo, pelosprimeiros; Passos Manuel e Almeida Garrett, pelossegundos, lançaram esta sociedade que vem

reunindo o escol da sociedade lisboeta.Os estatutos do Grémio Literário foram aprovadospor Carta Régia de D. Maria II em 18 de Abril de1846. Inicialmente corporação literária, passoumais tarde a acumular com o seu objecto cultural,o recreio e o convívio.Eça era sócio deste clube, que se situava na antigaRua de São Francisco, desde 1875. Quatro portasadiante, em direcção à Travessa da Parreirinha,hoje Rua Capelo, ficava o 1º andar onde residiuMaria Eduarda n'Os Maias.

Rua Nova do AlmadaPara obviar a tão graves e inconvenientes entravesà circulação citadina entre a Baixa e a cidade alta,foi decidido abrir uma nova rua.No "Mercurio Português", publicação periódica ini-ciada no ano de 1663 mas de curta duração, numanotícia de Maio de 1665, encontra-se o seguinteartigo sobre a RUA NOVA DO ALMADA: «e porqueo cuidado da guerra (da Restauração) nãoembaraça o do Governo político, em 13 deste mêsse começou, em Lisboa, a abrir uma formosa Rua,de 30 a 35 palmos de largura, que começa na Ruada Calcetaria e sai ao Espirito Santo, muito conve-nientemente para formosura e serventia do BairroBaixo para o Alto da cidade e sobe tão invisível, esensivelmente, que quase parece que tudo ficaplano. Por esta razão, há muitos anos que era dese-jada e se intentou. Nunca se conseguiu porque eranecessário comprar, e derrubar muitas casas que,naquele lugar, faziam vários becos estreitos, con-forme a fábrica antiga das cidades. Pode-se con-seguir, com a resolução que tomou Rui Fernandesde Almada, que entrou a ser presidente do Senadoda Câmara, e por memória, ao autor da obra tãoútil, quis o Senado que a Rua ficasse com o seunome e se chama a RUA NOVA DO ALMADA».Recorda-se ainda que esta área, no fundo da RuaNova do Almada, era vulgarmente conhecida pelotopónimo «Pote das Almas».A nova rua de Lisboa, que muito justamente veio ater o nome de quem tomou a iniciativa de con-cretizar a sua construção, por dificuldades no der-rube de um prédio existente na esquina com a actu-al Rua Garrett, que só o terramoto de 1755 teveforça para o deitar abaixo sem protesto, após areconstrução pombalina da Baixa adquiriu o actualtraçado.

Largo do CarmoEm 1389, Dom Nuno Álvares Pereira, o fidalgo maisabastado de Portugal, compra terrenos à família

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Pessanha (antigos grandes proprietários da zonapor doação do Rei D. Dinis), e aos frades doConvento da Trindade, para aqui construir oConvento que dá nome ao largo. No século XVI já esta zona está urbanizada emtorno dos dois conventos: da Trindade e do Carmo.O Convento do Carmo é um exemplo da imagem dadestruição causada pelo Terramoto de 1755. Neste largo destacam-se:- o antigo palácio do conde de Valadares. Por aquipassaram várias instituições, como por exemplo: oClube Lisbonense (1834 a 1880), local de diversãofrequentado pela “fina flor” de Lisboa, o LiceuNacional, o Liceu do Carmo, a Escola Veiga Beirão eé hoje a Escola E. B. 2. 3. Fernão Lopes;- o Pátio onde desemboca, desde Junho de 1902, aponte metálica do ascensor da travessa de SantaJusta para o largo do Carmo;- o quartel, que mais não é do que o convento con-vertido em abrigo militar, em 1834;- no centro está o chafariz que data de 1796, inte-grado na obra do Aqueduto das Águas Livres. Dequatro colunas, coroadas de cúpula, é recoberto porum baldaquino de pedra composto de quatro arcosredondos sobre pilares.Também neste largo se encontra a Ordem Terceirade Nossa Senhora do Monte do Carmo, instaladanum vulgar prédio desde 1780. Daqui saía, até1908, a procissão do Triunfo ou dos Santos Nus.

Elevador de Santa JustaLocalização: Rua do Ouro/Largo do CarmoAutoria: Raoul Mesnier de PonsardInauguração: 10 de Julho de 1902Em 30 de Abril de 1896, a Câmara Municipal deLisboa concedeu a autorização de construção eexploração de um elevador em movimento vertical,das Escadinhas de Santa Justa ao Largo do Carmo,ao engenheiro Raul Mesnier. A sua construção ini-ciou-se em 2 de Julho 1900. Na tarde de 31 deAgosto de 1901 procedeu-se ao assentamento dasua ponte metálica. A inauguração deste elevadorocorreu a 10 de Julho de 1902, às 12h, com olançamento de doze morteiros. O elevador é todoconstruído em ferro. As suas duas torres estãoinacabadas; segundo o projecto inicial, deveriamrematar em cúpulas e minaretes, os quais nuncaforam construídos. Em cada torre existe uma cabi-na para transporte de 30 passageiros. As cabinaseram ligadas por um cabo de aço e duas correntes.O elevador era movido por duas máquinas a vaporcom a força de 12 cavalos. À medida que uma ca-bina subia, descia a outra. Foi electrificado em

1906. Tem uma altura de cerca de 32 metros, e ligaa Baixa ao Largo do Carmo. De todos os elevadoresde Lisboa, este exemplar da arquitectura de ferro,em estilo neogótico, é o mais monumental, comuma arquitectura mais elaborada, recriando no ferroas inspirações medievais da arquitectura doConvento do Carmo. Em 1939, passou para a posseda Carris. A sua utilização diminuiu com o incêndiodo Chiado e fecho de alguns estabelecimentos co-merciais na zona. Fechado ao público durante 13anos, por razões de segurança, foi reaberto emDezembro de 2005. Em 2002, foi classificadoMonumento Nacional.

Casino de LisboaSituava-se no Largo da Abegoaria, hoje LargoRafael Bordalo Pinheiro, no nº 10, num edifício comjanelas de pardieira redondas, de 3 pisos, exterior-mente ainda incólume, fazendo esquina para aTravessa da Trindade. Foi inaugurado em 26 deDezembro de 1857, com o nome Café Concerto.Entre 1860 e 1870, o can-can foi aqui o grandeespectáculo. Posteriormente passou a chamar-seCasino Lisbonense. Em 22 de Maio de 1871 inicia-ram-se no rés-do-chão do edifício as chamadasConferências Democráticas do Casino, quelogo passaram a realizar-se no amplo salão do 1ºandar. O casino Lisbonense acabou em 1876, pas-sando depois a estabelecimento de estofador. Jádepois do 25 de Abril de 1974 passou para outrasmãos, que destruíram o salão do 1º andar, a gale-ria corrida de ferro que o sobrepujava e dois beloscandeeiros de bronze que constituíam o seu grandeornamento. É aqui que Eça coloca o baile deCarnaval do capítulo final do seu livro A Capital.

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Teatro da TrindadeLocalização: Largo da TrindadeAutoria: Miguel Evaristo de Lima PintoData: 1887No local onde se situava o Palácio dos Condes deAlva, antes do terramoto de 1775, foi construído oTeatro da Trindade, por iniciativa de FranciscoPalha.Inaugurado em 1887, com peça A Mãe dos Pobrese com a comédia O Xerex da Viscondessa, oTrindade optou, desde logo, por apresentar umreportório ligado à opereta e à zarzuela (género deópera espanhola na qual a música se combina como diálogo falado). Já no século XX, contou com a companhia OsComediantes de Lisboa, sob a direcção deRibeirinho. O espaço é ainda hoje um dos maisactivos da capital, através da dinamização e actuali-zação dos espectáculos.

Largo Trindade CoelhoTambém conhecido como Sítio de São RoqueNorberto de Araújo chamou-lhe o “cérebro doBairro Alto”.Antes da construção da ermida de São Roque, quedepois foi igreja, era terra de hortas e muitasoliveiras. Quando em 1506 Lisboa sofreu umagrande peste foi necessário improvisar umcemitério fora da cidade, e no triste “chão fúnebre”o rei mandou construir uma ermida dedicada a SãoRoque, padroeiro contra as pestes. Em 1533, ospadres jesuítas tomaram conta da ermida e, doisanos depois, começou a ser construída a igreja queprestigiou o Bairro Alto. Neste largo destacou-se o Palácio Niza, erguido em1543, que o Terramoto arruinou e os proprietários,fidalgos, descendentes de Vasco da Gama, nãoquiseram reconstruir. Os sucessivos donos vãoalterando o seu aspecto e funções (TeatroPitoresco, a Escola Académica, a antiga Companhiade Carruagens, o Jornal “A Manhã”), até que em1926 é vendido à Misericórdia de Lisboa.O arquitecto Tertuliano Marques fez as obras deadaptação sobre as fundações antigas.Em 1860 a CML, na tentativa de regularizar e afor-mosear o largo, manda destruir os casebres aliconstruídos sobre a ruína de casas fidalgas, depoisdo Terramoto, e em 1863 dá ordem para arborizar.Também ali se encontra uma “memória” - hoje vul-garmente designada de “palmatória” - oferecida,em 1862, pelos italianos residentes em Lisboa,comemorativa do casamento do Rei D. Luís. Ondese lê: “Pelo fausto consórcio de Suas Magestades

El-Rei D. Luiz de Portugal e a princesa Maria Pia deSaboia, em 6 de Outubro de 1862, novo penhor dafraternidade entre os dois povos”.A partir de 8 de Outubro de 1913 quis a CâmaraMunicipal de Lisboa que se passasse a chamar de«Trindade Coelho», mas a tradição oral tem sidomais forte, e todos lhe chamam largo de SãoRoque.

Igreja de São RoqueLocalização: Largo Trindade Coelho, Rua de SãoPedro de Alcântara Autoria: Baltazar Álvares e Afonso ÁlvaresData: Século XVIIIExistiu no local uma primitiva ermida construídaentre 1527 e 1530 consagrada a São Roque,padroeiro dos doentes com peste. Mais tarde osterrenos são cedidos pela irmandade de São Roquee por ordem régia à Companhia de Jesus, recém-chegada a Portugal em 1534. A história da Igreja deSão Roque está ligada ao programa religioso impos-to pelo Concílio de Trento, em que os estabeleci-mentos jesuíticos obedecem ao carácter didácticorepresentado por colégios e universidades. A igrejado século XVIII é ampla e sólida, apresenta uma sónave, desenvolvendo-se em andares com asrespectivas tribunas. No seu interior encontram-seoito capelas, agrupadas quatro a quatro, e de umacapela-mor cuja iconografia reúne os principaissantos devocionais da Companhia: São FranciscoXavier, São Luís Gonzaga, São Francisco de Borja eSanto Inácio de Loyola.

São Pedro de Alcântara (Jardim de)É um dos miradouros notáveis de Lisboa, no BairroAlto, de onde se pode ver uma magnífica paisagemde Lisboa, que se estende até ao Tejo.A alameda data de 1840. As grades da plataformainferior datam de 1864, para evitar suicídios.

Elevador da GlóriaLocalização: Praça dos Restauradores/S. Pedro deAlcantâraAutoria: Raoul Mesnier de PonsardInauguração: 24 de Outubro de 1885É o segundo elevador projectado pelo engenheiroRaul Mesnier du Ponsard e fabricado pela NovaCompanhia de Ascensores de Lisboa, a qual obtevelicença camarária de construção em 1875, sendoesta consecutivamente prorrogada, iniciando-se aobra em 1883. A construção deste ascensor foimuito atribulada, sendo alvo de protestos, embar-gos, exigências de indemnizações avultadas edesastres. Foi, por fim, inaugurado a 24 de Outubro

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de 1885. Locomovia-se através do contrapeso deágua. Necessitava de 400 m3 diários de água parafuncionar. A água era fornecida pelo depósito dasAmoreiras. À noite, o interior do elevador era ilumi-nado com velas de estearina. Durante um períodofoi movido a vapor, estando a caldeira numa casa noLargo da Oliveirinha. Passou a funcionar por tracçãoeléctrica a partir de 1 de Agosto de 1914. Este ele-vador apresentava a particularidade de se poderviajar no tejadilho, em dois bancos corridos decostas com costas, a chamada imperial, à qual ospassageiros acediam por uma escada de caracol. Asua viagem custava um vintém. Passa a ser pro-priedade da Companhia Carris de Ferro de Lisboa,em 15 de Dezembro de 1926. No ano de 2002 foiclassificado Monumento Nacional.

Avenida da Liberdade / Passeio PúblicoEm 1859 o vereador Júlio Máximo Pimentel sugerena Câmara a abertura de uma avenida larga que li-gasse o Passeio Público do Rossio a São Sebastiãoda Pedreira. A 24 de Agosto de 1879 inauguram-seos trabalhos para abertura da avenida a partir doplano do arquitecto Domingos Parente. Com aavenida ainda por concluir, a 25 de Maio de 1886,foi realizado o baptismo oficial com um desfile mili-tar, integrado no programa de festas do casamentode D. Carlos, ainda príncipe, com a princesa DonaMaria Amélia de Orleans. A avenida é a natural con-tinuação da praça dos Restauradores, ligando-a àpraça Marquês de Pombal.

Praça dos RestauradoresA construção de uma praça figurou desde o iníciono projecto de abertura da avenida da Liberdade,mas foi uma das últimas obras a concretizar devidoà relutância de alguns lisboetas anónimos e de fi-guras proeminentes na sociedade de então. EmOutubro de 1882 foi finalmente demolido o querestava do jardim do Passeio Público, possibilitandoassim a construção da praça no centro da qual figu-ra o monumento em memória dos Restauradores de1640.

Monumento aos RestauradoresInauguração: 28 de Abril de 1886O alto obelisco, erigido em 1886, comemora a liber-tação do país do domínio espanhol em 1640.As figuras de bronze do pedestal representam aVitória, com uma palma e uma coroa, e aLiberdade. Os nomes e datas nos lados do obeliscosão os das batalhas da Guerra da Restauração.O Monumento foi custeado por subscrição pública,aberta em Portugal e no Brasil, e gerida por uma

comissão sob a presidência do Marquês de Sá daBandeira.O projecto do monumento é da autoria de AntónioTomás da Fonseca, e as estátuas alegóricas(Independência e Vitória), da autoria de Simões deAlmeida e Alberto Nunes.

Estação do RossioLocalização: Lg. D. João da Câmara; Lg. do Marquêsde Cadaval; Calçada do CarmoAutoria: Arq. José Luís MonteiroData: 18 de Maio de 1890Edifício da autoria do arquitecto José Luís Monteiroque se caracteriza por uma fachada neo-manueli-na, sendo de realçar os seus elementos esculturaisda autoria de Bartissol. Na plataforma deparamo-nos com uma nave de 21 metros de altura por 130metros de cumprimento onde se destaca a suacobertura de ferro, realizada por uma empresa deconstrução belga. Nas paredes laterais de toda agare de embarque, é ainda de realçar os painéis deazulejos, que formam uma autêntica galeria dearte. Em 14 de Dezembro de 1918, Sidónio Pais é assas-sinado à entrada da estação do Rossio, quando sedirigia para o Porto.

RossioAnteriormente Rossio de Valverde, espaço ondeexistiu, até ao Terramoto de 1755, o convento deSão Francisco (séc. XII), o palácio dos Estaús (séc.XV) e o Hospital de Todos-os-Santos (séc. XVII).Hoje praça D. Pedro IV, consequência do traço ri-goroso da Lisboa pombalina e da homenagem aoRei Liberal.

Estátua de D. Pedro IV - RossioEncontra-se no centro da praça. Na sua base, asquatro figuras femininas são alegorias à Justiça, àSabedoria, à Força e à Moderação, qualidadesatribuídas a D. Pedro.Criou-se uma lenda urbana de que a referida está-tua de D. Pedro IV na verdade teria sido original-mente concebida para o imperador Maximiliano doMéxico. Consta que o imperador mexicano teria sidofuzilado, em 1867, pouco antes da estátua ter sidofinalizada para o envio, prontamente reaproveitadapara o projeto de revitalização do Rossio, o queexplicaria as semelhanças entre ambos. Vários estu-diosos, como o historiador José Augusto França emA arte em Portugal no século XIX, já se demons-travam contra essa teoria, posto que a peça apre-senta claros sinais de se tratar duma figura nacionalportuguesa: os escudos nos botões, o colar da Torre

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e Espada e a Carta Constitucional. Recentesdescobertas na base da estátua em meados de2001, durante obras de restauro, reafirmam setratar da figura de D. Pedro IV: dois frascos de20cm cada, contendo documentos e uma fotografiarevelada em albumina, que estão a ser analisadospelo Instituto Português de Conservação.

Teatro Nacional D. Maria IIO Teatro Nacional abriu as suas portas a 13 de Abrilde 1846, durante as comemorações do 27 aniver-sário de Maria II (1819-1853), passando por isso aexibir o seu nome na designação oficial. Na inaugu-ração, foi apresentado o drama histórico em cincoactos O Magriço e os Doze de Inglaterra, original deJacinto Aguiar de Loureiro.Mas a história do Teatro Nacional de Dona Maria II,começou dez anos antes da sua inauguração. Nasequência da revolução de 9 de Setembro de 1836,Passos Manuel assume a direcção do Governo euma das medidas que tomou nesse mesmo ano foiencarregar, por portaria régia, o escritor e políticoAlmeida Garrett de pensar o teatro português emtermos globais e incumbi-lo de apresentar "semperda de tempo, um plano para a fundação e orga-nização de um teatro nacional, o qual, sendo umaescola de bom gosto, contribua para a civilização eaperfeiçoamento moral da nação portuguesa". Poresse mesmo decreto, Almeida Garrett ficou encar-regue de criar a Inspecção-Geral dos Teatros eEspectáculos Nacionais e o Conservatório Geral deArte Dramática, instituir prémios de dramaturgia,regular direitos autorais e edificar um TeatroNacional "em que decentemente se pudessem re-presentar os dramas nacionais".O ambiente Romântico que se vive nesta altura emtoda a Europa determina a urgência em encontrarum modelo e um repertório dramatúrgicosnacionais, assumido que era que da afirmação deuma «arte nacional» dependia uma melhor e maisexacta definição da própria nação. Ou seja, oaparecimento de um teatro (e de um repertório)nacional era uma questão não só cultural como,sobretudo, política e assumida como um assuntoestreitamente ligado à própria independência danação.Entre 1836, data da criação legal do teatro, à suainauguração, em 1846, funcionou um provisórioteatro nacional no Teatro da Rua dos Condes (maistarde transformado em cinema Condes).O local escolhido para instalar o definitivo TeatroNacional foram os escombros do palácio dosEstaús, antiga sede da Inquisição e que, também

em 1836, tinha sido destruído por um incêndio.A escolha de um arquitecto italiano, Fortunato Lodi,para projectar e executar o Teatro Nacional não foiisenta de críticas e só em 1842, Almeida Garrettconsegue dar início às obras.Em 1964 o Teatro Nacional foi «palco» de um bru-tal incêndio que apenas poupou as paredes exterio-res. O edifício que hoje conhecemos, e que respei-ta o original estilo neoclássico, foi totalmente re-construído e só em 1978 reabriu as suas portas.

Café NicolaO Café Nicola existe desde finais do século XVIII. Éreferenciado na Gazeta de Lisboa em 1787. Omesmo periódico menciona uma «liquidação da lojagrande de bebidas do café Nicola», em Julho de1794. Neste botequim vendiam-se cafés e refrescose era um local frequentado por jacobinos e maçóni-cos. Em 1825, o botequim foi trespassado porNicolau Breteiro a Rosa Maria de Athayde, mas onegócio não lhe correu bem e, em 1829, mais umavez a Gazeta de Lisboa anuncia o trespasse do esta-belecimento com o seu recheio «de líquidos, bilhare jogo de gamão». O botequim Nicola deve a suafama ao poeta António Barbosa de Bocage que ofrequentava no século XIX. Bocage declamavaneste estabelecimento sonetos improvisados,atraindo ao botequim uma plêiade de intelectuais epolíticos. Era um local de tertúlia. Mesmo depois damorte de Bocage, o seu grupo de amigos continu-ou a frequentar o botequim e aí se prosseguiram astertúlias. Tinha um empregado, José Pedro da Silva,que ajudava em tudo o que podia os poetas e muitovaleu a Bocage em horas de necessidade, tendoinclusivamente sido este benfeitor que pagou ofuneral de Bocage. O café Nicola encerrou em 1834. A loja foi trespas-sada ao sombreireiro Dias. No início do século XX,

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aí foi instalada a Ourivesaria Xavier de Carvalho.Ocuparam também o local a Livraria de FranciscoArthur da Silva e o Sallon de la Mode de FranciscoSalles Ramos.Joaquim Albuquerque, um dos antigos sócios doCafé Chave d’Douro, adquiriu o espaço, em 2 deOutubro de 1929. Tornou então a ser um café, denome Nicola, para evocar a sua tradição, sendoactualmente um dos cafés mais antigos do Rossio.O seu empresário adoptou Bocage como imagem demarca. A nova fachada do café, executada em1929, é do traço de Norte Júnior. A decoração dointerior era neoclássica. As telas foram executadaspelo pintor Fernando Santos e a estátua de Bocagefoi esculpida por Marcelino Norte d’Almeida. Em 24de Dezembro de 1935, foi encomendada ao arqui-tecto Raul Tojal uma redecoração interior, a qualdeu ao espaço um ambiente modernista. Ao lado docafé, ligado por um grande corredor, havia uma salade bilhar. A entrada para o bilhar era feita pelas por-tas dos actuais números 22 e 23 do Rossio, ondeexistiu, em 1999, a Livraria do Jornal de Notícias, nº81-82. Célebre se tornou a quadra de Bocage, aoser interpelado pela polícia: Eu sou Bocagevenho do Nicolavou p’ro outro mundose dispara a pistola.Perto do café encontra-se uma placa num edifícioque recorda o facto de Eça de Queirós aí ter vivido.

Praça da Figueira Nasceu em 1755, no terreno das ruínas do Hospitalde Todos-os-Santos, impondo-se como mercadocentral e destinado à venda de frutas e legumes.Passou entretanto por vários nomes: Horta doHospital, Praça das Ervas, Praça Nova e Praça daFigueira. De um local de bancadas diárias passou apraça fixa, com barracas arrumadas e um poçopróprio.Ao longo dos tempos, foi sofrendo algumas altera-ções consoante as necessidades da população.Assim, em 1835, é arborizada e iluminada, em 1849foi-lhe colocada uma cerca gradeada, coberta e com8 portas e em 1882 foi aprovado o projecto da novapraça, que consistia num edifício rectangular, comestrutura metálica e ocupando uma área de quase8 mil metros quadrados.Da venda de fruta e legumes, passou-se àtransacção de outros produtos alimentíciosnecessários à população, fazendo da baixa lisboetaum local com um constante fervilhar de vida.Desde logo, a praça tornou-se um dos emblemas de

Lisboa, quer pela sua construção, quer pela sualocalização no centro da cidade, quer ainda pelarealização de verdadeiros arraiais por altura dossantos populares, transformando-a num verdadeiroteatro.Em 1947, a vereação da altura decidiu o fim dapraça, prevendo o alargamento da rede viária deLisboa, que incluía a demolição do Socorro e zonabaixa da Mouraria como forma de escoamento detrânsito, aproximando a cidade de Lisboa aospadrões europeus. Em 1949 festeja-se o último StºAntónio, procedendo-se de seguida, a 30 de Junho,à demolição do edifício. 1968 é o ano da assinaturado contrato para a construção da estátua equestrede D. João I.

Estátua de D. João I - Praça da FigueiraInaugurada em 1971, é da autoria de Leopoldo deAlmeida e Jorge Segurado.

Praça do Comércio (ou Terreiro do Paço)A Praça do Comércio é considerada a sala de visitasde Lisboa. Mede 4 hectares e tem 86 arcos. Masnem sempre foi como nós a conhecemos.Aquilo que hoje é chão firme, há muitos anos, erauma praia com areia e lodo. O rio inundava as ruasda cidade com muita frequência. Havia cais ondeancoravam os barcos. Era assim, em 1147, quando as tropas de AfonsoHenriques tomaram Lisboa aos mouros. Na época dos Descobrimentos, ali chegaram os car-regamentos de especiarias e outros produtos prove-nientes das rotas da epopeia marítima. A praça foitendo cada vez maior importância comercial. Daí onome de Praça do Comércio. Aos poucos, e com o aumento de casas comerciais,a areia e o lodo da praia foram substituídos porterra firme. Curiosidade: grande parte dos nomes das ruaspróximas da Praça do Comércio diz respeito aos ofí-cios ou aos materiais que em tempos se praticaramou circularam nelas: Rua dos Sapateiros, Rua daPrata , Rua do Ouro, etc. Ali também viveram reis e rainhas. Foi o rei D.Manuel I que resolveu deslocar a residência realpara junto do rio. Mandou construir o Palácio daRibeira. Foi nesta época que o local passou achamar-se Terreiro do Paço. Mas, em 1755, o grande terramoto de Lisboa,destruiu o Palácio e a maioria das casas que existi-am na baixa lisboeta. O rei e a corte, com medo deum novo terramoto, passaram a viver na Ajuda. A reconstrução do Terreiro do Paço começou em

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1758, por ordem do Rei D. José I. O responsávelpela obra foi o Marquês de Pombal. O projecto dacidade foi da autoria de Eugénio dos Santos (arqui-tecto e engenheiro). No centro da praça, foi colocada a estátua equestrede D. José, da autoria do escultor Machado deCastro. O Arco Triunfal da rua Augusta foi projectado aindano tempo do Marquês de Pombal, mas só foi con-cluído 80 anos mais tarde.

Estátua de D. José - Praça do ComércioDa autoria de Joaquim Machado de Castro (nasc.1736, Coimbra; mort. 1822, Lisboa), representa orei, vestindo uma capa e um elmo de plumas, mon-tando um magnífico cavalo que pisa as serpentesda ignorância. Esta é talvez a alegoria mais pun-gente deste conjunto equestre. Para além do esmagar das serpentes aos pés docavalo real, outras alegorias são visíveis, retratandoa sabedoria, a sageza, a persistencia e a força dopoder real. No magnífico pedestral em pedra surge-nos ainda, para além do escudo real, o retrato doprimeiro-ministro Sebastião de Carvalho e Melo,mais tarde apodado como Marquês de Pombal.Este trabalho, feito em bronze, que tem 14 metrosde altura, foi a primeira estátua equestre realizadaem Portugal.O seu transporte, do Arsenal do Exército até àPraça do Comércio, fez-se, em procissão solene, a

22 de Maio de 1775. No dia 6 de Junho, dia doaniversário do monarca, esta estátua de 14 metrosde altura (contando com o pedestral), foi descober-ta no meio de esplendorosas celebrações.

Café Martinho da Arcada - Praça do ComércioÉ o café mais antigo de Lisboa. Fundado em 1782,o café Martinho da Arcada é consideradopatrimónio nacional. A mesa onde Fernando Pessoatantas vezes saboreou um absinto é hoje objecto deculto para turistas dos quatro cantos do mundo quechegam ao Martinho da Arcada.

U M P O U C O D A H I S T Ó R I AD A C I D A D E D E L I S B O ALisboa nasceu de uma «citânia» localizada a nortedo actual castelo de S. Jorge. Este seria um dosmuitos núcleos humanos desenvolvidos no períodopré-histórico. Através da acção povoadora dosromanos (195 a.C.) e inerente desenvolvimentosocio-económico, em breve lhe seria atribuída aclassificação de «município», usufruindo do seuequipamento urbano: monumentos, teatros, ter-mas. Existia um cruzamento de quatro estradas darede viária romana : três para Mérida e uma paraBracara Augusta (Braga). A sua característica de«opidum», onde os romanos centram a sua defesaestratégica, resulta do reflexo do terreno por umlado, e da protecção natural perante o estuário doTejo e o braço deste rio que então se desenvolvia aocidente e penetrava profundamente no território.Olisipo (começou assim por se designar a cidade)ca-racterizava-se pela existência de um núcleo depopulação fixa defendida pela soldadesca. Nosseus arrabaldes foi-se agregando um bom númerode famílias cultivadoras da terra que, em troco depão, fruta, vinho, legumes e gado, recebiam pro-tecção e defesa. A crise do séc. III que minava e fragilizava asociedade romana tem os seus reflexos em toda aPenínsula Ibérica. As sucessivas invasões de novospovos, quer germanos em 500 d.C. (visigodos,suevos), quer árabes em 700 d.C., transformam afisionomia da população. Devido ao clima de inse-gurança e de guerra, a cidade adquire uma feiçãomuito peculiar: fortaleza onde se refugiam os habi-tantes fugidos do avanço dos exércitos cristãos. Éuma população de ricos proprietários agrícolas ecomerciantes, que se transferem para o interior dasmuralhas e constroem uma cidade opulentíssimapelo trato e mercancia dos portos de África e Ásia. No período da Reconquista Cristã , a Lisboa muçul-mana é uma cidade cobiçada e várias vezes ataca-

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da e ocupada pelos exércitos cristãos (ocupação porCastela em 1000 d.C.).Lisboa era então o mais opulento centro comercialde toda a África e de uma grande parte da Europa.É abundante de todas as mercadorias; tem ouro eprata. Não faltam ferreiros. Nada há nela inculto ouestéril; antes, os seus campos são bons para toda acultura... os seus ares são saudáveis, e há na cidadebanhos quentes. O alto do monte é cingido por umamuralha circular, e os muros da cidade descem pelaencosta, à direita e à esquerda, até à margem doTejo.

PRIMEIRA DINASTIAEm 1147, D. Afonso Henriques, 1º Rei de Portugal,conquista a cidade. Com a participação cristã, dá-se a expansão de Lisboa para além das suas mural-has. Herdados do passado existiram dois arrabaldes- a Baixa e Alfama. O braço do rio desaparece defin-itivamente no séc.XIII.D. Fernando, então Rei de Portugal, perante asameaças de Castela (Espanha), cria uma novamuralha de defesa designada por "CercaNova"(1373-75).Dos 16 hectares do período mourisco a nova cidadepassa para 101,65 hectares, ou seja 6,5 vezesmaior. A fixação definitiva da capital do reino, e por-tanto da corte, dá-se no reinado de D. Afonso III.Lisboa é então o núcleo de um importante sistemaeconómico de trocas, localizando-se as pequenaspropriedades em que predomina a cultura hortícula,na proximidade imediata, facto que poderá ter influ-enciado a localização dos dois mercados centrais dehortaliças: Praça da Figueira e Praça da Ribeira.

SEGUNDA E TERCEIRA DINASTIAD. João I , Rei de Portugal, cria a primeira urbaniza-ção na colina do Carmo (1400). Pretendia assim darsatisfação às necessidades de uma população sem-pre crescente, expropriando para tal os campos.A corte de D. Manuel I abandona o castelo e fixa oPaço Real no Terreiro do Paço, onde se centrou todaa vida comercial da cidade (1500).

DEPOIS DO TERRAMOTO DE 17551755 marca para Lisboa a data de um período dedesenvolvimento. O terramoto (no dia 1 deNovembro, Dia de Todos os Santos, às 10h), e oincêndio e maremoto que se lhe seguiram, devas-taram dois terços da totalidade dos arruamentos eterão destruido três mil casas das vinte mil exis-

tentes.O terramoto abrangeu toda a zona da Baixa, osbairros do Castelo e a zona do Carmo, ou seja, aszonas mais intensamente urbanas da cidade.Em sua substituição iria nascer a Lisboa Pombalina,com um urbanismo sujeito a regras fixas e de umcientismo pragmático que provoca admiração emtodo o mundo. O seu principal impulsionador foi oMarquês de Pombal, o Primeiro-Ministro do Rei D.José, coadjuvado pelos arquitectos e engenheiros,Manuel da Maia, Eugénio dos Santos e CarlosMardel (1755-76).O plano, sem dúvida inovador, baseia-se numadirecção planificada de ruas alinhadas, cujas opçõesarquitectónicas assentam em regulamentos deconstrução, tendo em atenção conceitos básicos deresistência às acções sísmicas.O sistema urbanístico obedecia a traçados de eixosde composição em que a simetria era tema obri-gatório, pretendendo-se usualmente destacar nosextremos, monumentos ou estátuas: a RuaAugusta com o arco triunfal, através do qual, no seueixo, se colocou a estátua de D. José.Pombal criou incentivos de interesse à nova classeda burguesia comercial.A norte do Rossio é aberto o "PasseioPúblico"(1764), zona de recreio da burguesia. Eraum jardim gradeado, com cascatas, lagos comrepuxos e coreto, que posteriormente foi aberto às

Vistas de Lisboa antes e após o Terramotode 1 de Novembro de 1755

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novas avenidas e aos futuros bairros construídospor uma burguesia em ascenção. A partir de 1780 aparece a iluminação pública dacidade, e em 1801 as ruas passam a ter o nomeafixado.

EVOLUÇÃO PÓS-POMBALINAApós a vitória do Liberalismo e desde o termo daadmi-nistração pombalina, a grandiosidade arqui-tectónica acompanha os edifícios públicos: Basílicada Estrela, Ópera de São Carlos, Palácio da Ajuda.Os limites da cidade são então sucessivamentealargados sempre em «círculos», com centro nazona da Baixa. O traçado das ruas obedecia acritérios resultantes da procura de habitação.A construção do Teatro Nacional D. Maria II (1843-46), do Arquitecto F. Lodi, em pleno RossioPombalino, com características neo-clássicas, éuma ruptura com o período anterior. Surge um novoespírito de renovação e novos ideais estéticos.Aparecem jardins novos: S. Pedro de Alcântara,Estrela, Princípe Real, bem como a plantação deárvores no Rossio. Surge assim uma visão na-tural-ista. O "Passeio Público" gera uma avenida e orompimento das perspectivas de desenvolvimentoda cidade de uma forma nuclear radio-concêntricaé absolutamente inovador.Um novo eixo de desenvolvimento seguir-se-ia àAvenida da Liberdade. A abertura da Rua FontesPereira de Melo, que levou a expansão da cidadedesde o Parque da Liberdade (hoje Eduardo VII)até ao Campo Grande, passando pela Rotunda dePicoas, Avenida Ressano Garcia (Av. República) etoda a planificação das ruas adjacentes, paralelas eperpendiculares num desenvolvimento ortogonal.Era o plano Frederico Ressano Garcia, engenheirodo município. Nascem as designadas «AvenidasNovas», que definem o grande desafogo urbanísti-co da cidade de hoje.

ÉPOCA MODERNADepois da Iª Guerra Mundial, preenchem-se as mal-has vazias resultantes dos traçados dos eixos dasnovas avenidas. A Avenida da Liberdade apresenta-se inequi-vocamente como eixo primordial da novacidade. Aparecem então edifícios como o HotelPalace e o Palácio de Castelo Melhor (Palácio Foz).O estilo Arte Nova (tardio) revela-se em obras comoo Cinema Tivoli do Arquitecto Raul Lino, o ÉdenTeatro e o Hotel Vitória, do Arquitecto CassianoBranco. Surgem novos bairros com imóveis derendimento, ocupados por uma classe média emexpansão. O equipamento de lazer constitui-se por

logradouros ajardinados.A partir da década de 30 o arquitecto começa a teruma maior intervenção na construção de edifíciosnovos. É desta época a abertura da Alameda DomAfonso Henriques.É o período Duarte Pacheco, Presidente da Câmarae posteriormente Ministro das Obras Públicas(1930-43). Constroem-se novos bairros assumida-mente desenhados pelos novos urbanistas de ruaslargas e homogeneidade do desenho das fachadas,(vulgarmente designados de estilo PortuguêsSuave).

ALGUMA BIBLIOGRAFIAMATOS, A. Campos (org. e coord.) - Dicionário deEça de Queirós. Lisboa: Caminho, 1988

Revelar Lxhttp://revelarlx.cm-lisboa.pt/gca/?id=980Consulta em 23 Março 2008

Lifecoolerhttp://www.lifecooler.com/edicoes/lifecooler/desenvRegArtigo.asp?reg=355804&catbn=11Consulta em 23 de Março de 2008

Lisboa Esquecidahttp://jorgesilva.fotosblogue.com/1/Consulta em 23 de Março de 2008

Ruas de Lisboa com alguma históriahttp://aps-ruasdelisboacomhistria.blogspot.com/2008/02/rua-nova-do-almada.htmlConsulta em 23 de Março de 2008

História da Cidade de Lisboahttp://webserver.cm-lisboa.pt/turismo/index99pt.asp?pa=ptihist.htmConsulta em 23 de Março de 2008

Museu Nacional de Arte Antigahttp://www.rpmuseus-pt.org/Pt/cont/fichas/museu_70.htmlConsulta em 23 de Março de 2008

Grémio Literáriohttp://www.gremioliterario.pt/historia.phpConsulta em 23 de Março de 2008