a linguagem do corpo - julius fast

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  • 8/20/2019 A Linguagem Do Corpo - Julius Fast

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    A P R E N D A A  L ER

    E ENTENDER

    os MO VIMENTO S DO CO RPO

    Aprenda, por exemplo:

    • Como se aproximar de alguém, eliminando as chances de ser evitado

    • Como ler o movimento dos  ombros.  (A pessoa com quem você se encon-

    tra agora está de bom humor? Irritada? Amedrontada?)

    • A linguagem corporal entre parceiros sexuais. Como transmitir sentimen-

    tos e desejos sem palavras.

    • Como entrar num ambiente cheio de estranhos, observar a postura do

    corpo e dizer quem são as pessoas " importantes" .

    • Com o usar a Linguagem do co rpo para assumir a   liderança  de um

    grupo.

    • Como você pode usar essa "nova" l inguagem para   competir com  a lin-

    guagem verbal.

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    AGRADECIMENTOS

    O autor gostaria de expressar sua gratidão às seguintes pessoas, pela ajuda

    na preparação deste livro: dr. Arnold Buchheimer,  Psicólogo e Professor-

    Titular de Educação na City University of New York,   dr. Albert E. Scheflen,

    Professor-Titular de Psiquiatria no Albert Einstein College of M edicine,

    Michael Wolff,  Doutorando em Psicologia Social, City University of

    New York, Jean Linden,  Pesquisador, Interscience Information, Inc.

    Este livro é dedicado a todos os passageiros do segundo vagão do

    trem F do Independent Subway, l inha que percorre a região Leste,

    saindo da Quinta Avenida, às 5h22min da tarde.

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      MÁRIO

    1. O corpo é a mensagem 9

    Uma ciência chamada cinesiologia • Um novo sinal do inconsciente •

    Como diferenciar as garotas • Tocar ou não tocar • Um toque d e solidão

    2. Dos animais e territórios 14

    A luta simbólica • Podemos herdar uma linguagem? • "O imperativo terri-

    torial" • De quanto espaço o homem precisa?

    3. Como lidamos com o espaço 21

    Um espaço só seu • Uma ciência chamada proxêmia • espaço público e

    social • Como diferentes culturas l idam com o espaço • Como o mundo

    ocidental l ida com o espaço

    4. Quando o espa ço é invadido 32

    Defendendo zonas corporais • Conselho para aqueles que buscam status

    • Como ser um líder • O espaço que mantemos inviolável • Do espaço e

    da personalidade • Sexo e relacionamento impessoal • Como você age ao

    sentar-se ao lado de alguém *

    5.

     As máscaras que os hom ens usam 44

    O sorriso que esconde a alma • Tire a máscara • A máscara que nunca

    tiramos • Quando uma pessoa é uma não-pessoa? • O masoquista e o sádi-

    co • Como deixamos a máscara cair

    6. O maravilhoso mundo do toque 53

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    Segure minha mão • As máscaras debilitantes • Você é o que sente ser •

    Como romper a proteção • A festa em que era proibido falar •

    Participando de jogos que fazem bem à saúde

    7. A Silenciosa linguagem do am or 63

    Atitudes, olhares e apro ximaçõe s • Ela está disponível? • Vale a pena se

    proteger? • Programas de "todos os tipos" • Escolha sua postura •

    Encontros semi-sexuais

    8. Posições, pontos e posturas 77

    Um pedido de ajuda • O que sua postura diz? • Lugares diferentes, postu-

    ras diferentes • O movimento e a mensagem • Posturas e apresentações •

    Lutando pela posição • Três pistas para o comportamento da família

    9. Piscar e acen ar 92

    O Olhar que desumaniza • Um momento para olhar • O olhar incômodo

    • Olhares indiscretos • Outras culturas, outros olhares • Um olhar demo-

    rado para si mesmo • Quanto tempo dura um olhar?

    10. Um alfabeto cfc movimento 102

    Haverá uma linguagem das pernas? • O ABC da linguagem do corpo •

    Rotulando os cines • Cultura e cinesiologia • Siga o líder

    11. Linguagem do corp o: Use e Abuse 113

    Vamos conversar com os animais • Símbolos em um mundo sem sons •

    Saúde mental por meio da linguagem do corpo • Falseando a linguagem

    do corpo • Juntand o tudo

    Referências selecionadas 127

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    U ma c iênc ia cham ada c ines io log i a

    Nos últimos anos, uma nova e intrigante ciência foi descoberta e passou

    a ser aprofundada: a linguagem do corpo. Tanto o estudo científico quanto a

    literatura sobre essa ciência foram denominados   cinesiologia.

      A

     linguagem do

    corpo e a cinesiologia baseiam-se em padrões de comportamento da comu-

    nicação não-verbal, mas a cinesiologia ainda é tão nova como ciência q ue as

    autoridades no assunto podem ser contadas nos dedos da m ão.

    Estudos clínicos revelaram que a linguagem do corpo pode contradizer

    as comunicaçõ es verbais. Um exemplo clássico é uma jovem mulher que dizia

    ao seu psiquiatra que adorava seu namorado enq uanto balançava a cabeça de

    um lado para outro, revelando um lado negativo subconsciente.

    A linguagem corporal também lançou nova luz à dinâmica das relações

    interfamiliares. Por exe mplo , a forma com o os integrantes de uma família, aõ se

    sentarem, movem os braços e as pernas, pode ser bastante reveladora. Se a mãe

    cruza as pernas primeiro e o resto da família faz o mesmo, ela estabelec e a lide-

    rança, visto que sua ação é seguida pelos familiares, embora tanto ela como os

    familiares possam não estar conscientes disso. De fato, as palavras da mãe

    podem negar sua liderança, pois ela pede con selhos a o marido e aos filhos. Mas,

    um estudioso do assun to perceberia c om o essa família é constituída, a partir da

    pista não-verbal dada pela mãe, a líder, para que seus familiares a sigam.

    Um novo si na l do i nconsc i en t e

    O dr. Edward H. Hess anunciou a uma conv enção recente da American

    College of Medicai Hypnotists (Faculdade Americana de Hipnose Médica) um

    9

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    novo sinal cinésico recém-decoberto. É a dilatação inconsciente da pupila

    quando vemos algo agradável. Na prática, isso pode ajudar num jogo de

    pôquer, se um jogador está procurando "adivinhar" a posição de seu adversá-

    rio. Quando a pupila de seu adversário se dilata, ele pode ter certeza de que

    o outro está com b oas cartas. O jogador pode não p erceber suas habilidades

    de ler esse sinal, assim como seu adversário não sabe que está revelando sua

    própria sorte.

    O dr. Hess descobriu que a pupila de um homem normal aumenta de

    tamanho duas vezes, ao ver a foto de uma mulher nua, e ele cita o uso do no vo

    princípio cinésico para detectar o efeito de um comercial de televisão:

    enquanto a propaganda está sendo mostrada a uma audiência selecionada, os

    olhos dos espectadores são fotografados. O filme é cuidadosamente estuda-

    do para detectar quando há dilatação da pupila; em outras palavras, quando

    há qualquer resposta inconsciente, favorável ao comercial.

    A linguagem corporal pode incluir qualquer movimento reflexivo ou

    não-reflexivo de uma pessoa, de todo o corpo ou parte dele, para transmitir

    uma mensagem emocional ao mundo externo.

    Para entender essa linguagem corporal não-verbalizada, os especialistas

    em cinesiologia precisam levar em consideração diferenças culturais e

    ambientais. O homem comum, sem conhecimento das especificidades cultu-

    rais da linguagem do corpo, muitas vezes interpreta mal o que vê.

    Como d i f e renc i a r as ga ro t as

    Allen era um garoto de uma pequena cidade que tinha ido visitar Ted,

    numa cidade grande. Certa noite, a caminho do apartamento de Ted, onde

    haveria uma festa, Allen viu uma jovem more na, atraente atravessar

     a

     rua à sua

    frente e então com eçou a subir o quarteirão. Allen seguiu-a, admirado com

    seu andar provocante. Mas, faltou a Allen captar a mensagem não-verbal que

    ela lhe transmitiu

    Ele a seguiu, perc ebendo que a garota sabia que ele a seguia, e continua-

    va a andar da mesma maneira insinuante. Allen tinha certeza de que se trata-

    va de uma provocação.

    Finalmente, o sinal fechou, Allen encheu-se de coragem e, aproximan-

    do-se da moça, deu um sorriso irresistível e lhe disse: "Olá".

    Para sua surpresa, ela virou-se furiosa e, cerrando os dentes, lhe disse:

    "Se você não m e deixar em paz eu vou chamar a polícia". Quando o sem áfo-

    ro mudou, ela desapareceu.

    Allen ficou chocado , seu rosto enrubesceu de vergonha. Ele se apressou

    para chegar ao apartamento de Ted, onde a festa já havia com eçado. Enquan-

    to Ted lhe oferecia algo para tomar, ele contou a história ao amigo, que caiu

    na risada.

    10

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    — Cara, você se enganou.

    — Mas, Ted, nenhu ma garota de família ir ia andar daquele jeito, se não

    fosse para provocar alguém.

    — Estamos próximos a moradores de origem hispânica. As meninas, ap e-

    sar de terem aparência expansiva, são muito recatadas —, Ted explicou.

    O que Allen não entendeu é que numa cultura como a de muitos países

    de língua espanhola, em q ue as meninas são vigiadas e há códigos estritos de

    comportamento social, uma jovem pode exibir sua sensualidade com segu-

    rança, sem m edo de criar problemas. De fato, o and ar que Allen interpretou

    como uma provocação seria considerado natural, enquanto a postura ereta e

    rígida de uma mulher americana provavelm ente seria considerada sem graça

    e nada natural.

    Allen com eçou a circular pela festa e, aos poucos, esqu eceu-se d o vexam e.

    Quando a festa estava terminando, Ted chamou Allen de lado e lhe per-

    guntou:

    — Está interessado em alguém?

    — Naquela Jane t — disse Allen. — Cara, aquela eu gostaria de conhece r.

    — Muito bem. Peça a ela para ficar. Margie também vai f icar e p oderem os

    jantar juntos.

    — Não sei. Ela me dá a impressão de que eu não conseguiria nada com

    ela.

    — Está brincando

    — Não. A noite toda ela não permitiu que me aproximasse dela.

    — Mas Janet gosta de vo cê. Ela me disse.

    — Mas — disse Allen perplexo —, por que será que ela é tão, tão, eu não

    sei. . . parece que ela nã o queria me deixar tocar nela.

    — É assim que ela reage. Você não entendeu a mensagem dela.

    — Eu nunca entenderei esta cidade —, disse Allen, ainda surpreso, mas

    feliz.

    Allen descobriu que nos países latinos as meninas pod em transmitir uma

    mensagem direta de interesse por alguém, tornando, no entanto, qualquer

    tipo de contato f ísico impossível. Em países onde é menos freqüente uma

    menina andar acompanhada, ela constrói suas próprias defesas por meio de

    uma série de mensagens não-verbais que indicam claramente: "não se apro-

    xime". Quand o o home m não po de, de acordo com as regras da cultura, apro-

    ximar-se de uma menina estranha na rua, essa pode andar livremente, mais

    solta. Numa cidade como Nova York, onde uma menina pode esperar quase

    tudo, principalmente numa festa, ela aprende a enviar uma mensa gem dizen-

    do :  não se aproxime/'.  Para isso, ela man tém uma postura rígida, cruza as per-

    nas ao sentar-se, cruza os braços e usa outros gestos defensivos.

    Toda situação envolve dois elem entos da linguagem corporal, a transmis-

    são e a recepção da m ensagem. Se Allen tivesse sido capaz de receber as me n-

    11

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    sagens corretamente, em termos da cidade grande, ele teria se poupado

    daquela situação embaraçosa na rua e poderia ter sentido mais segurança para

    se aproximar de Janet na festa de seu amigo.

    Tocar ou não to car

    A linguagem corporal, além de enviar e receber mensagens, se entendi-

    da e usada habilmente, também pod e servir para romper defesas. Um hom em

    de negócios que estava tentando fechar um contrato muito lucrativo desco-

    briu que interpretou erroneamente os sinais.

    — Era um negócio — ele me disse — que seda lucrativo não só para mim

    como também para Tom. Tom era de Bountiful e estava em Sait Lake City, que

    não ficava longe, geograficamente, mas a quilômetros de distância, em termos

    culturais. É uma cidade muito pequena, e Tom tinha certeza de que qualquer

    um numa cidade grande seria c^paz de enganá-lo. Ac hç que , no fundo, ele esta-

    va convencido de que o contrato seria bom para ambos, mas não confiava em

    mim. Eu era o homem de negócios da cidade grande, lá em cima, comandando

    e fazendo o negócio, e ele era o garoto inocente, prestes a ser trapaceado.

    — Tentei quebrar a imagem que ele fazia de mim, como empresário de

    uma cidade grande, pondo meu braço em seu ombro. E isso pôs tudo a perder.

    O que meu amigo empresário fez foi violar a barreira de defesa de Tom

    com um gesto não-verbal sem uma base estabelecida. Em linguagem corpo-

    ral, ele estava tentando dizer:   ''Confie em mim. Vamos nos aproximar".  Mas

    ele só conseguiu cometer um ataque não-verbal. Ao ignorar as defesas de

    Tom, o empresário ansioso arruinou o neg ócio.

    Muitas vezes, o tipo mais rápido e óbvio de linguagem corporal é o toque.

    Tocar a lguém com as mãos, co locar o braço no ombro de a lguém, pode

    expressar uma mensagem mais vívida e direta que centenas de palavras. Mas,

    o toque p recisa vir no mom ento e contexto certos.

    Mais cedo ou mais tarde todo garoto aprende que tocar uma menina no

    momen to errado pode fazê-la esquivar-se abruptamente.

    Há pessoas que tocam compulsivamente os outros, que parecem ignorar

    todas as mensagens que recebem de amigos e companh eiros. São pessoas que

    tocarão e tentarão agradar aos outros em momen tos em que estão sendo bom -

    bardeadas de mensagens para não fazerem isso.

    U m toq ue de so l i dão

    Contudo, tocar ou agradar pode ser um sinal muito forte. Tocar um obje-

    to inanimado pode servir como um sinal claro, ou como um apelo para ser

    12

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    compreend ido. Veja o caso de tia Grace. Essa senhora idosa tornara-se o cen-

    tro de uma discussão de família. Alguns familiares achavam que ela ficaria

    melhor num asilo bem-dirigido e agradável, onde houvesse alguém para

    tomar conta dela e ela tivesse muita companhia.

    O resto da família achava que seria crueldade colocar Tia Grace "para

    fora" . Grace tinha uma renda generosa e um apartamento muito confortável,

    e podia m uito bem viver sozinha. Por que ela não poderia viver onde estava,

    com independência e l iberdade?

    Tia Grace não interferiu muito na discussão. Sentou-se junto à família,

    tocando seu colar e menea ndo a cabeça, pegand o um pequ eno vaso de ala-

    bastro e acariciando-o, deslizando a mão pelo sofá de veludo, sentindo o enta-

    lhe da madeira.

    - O que a família decidir para mim esta bom - disse ela gentilmente -,

    não quero problema para n inguém.

    A família não chegava a decisão alguma e con tinuou a discutir o proble-

    ma, enquanto tia Grace tocava todos os objetos ao seu alcance.

    Até que f inalmente a famí lia captou a mensagem . Era uma m ensagem

    muito óbvia. Incrível como ninguém a tivesse captado antes. Tia Grace toca-

    va e acariciava tudo a seu alcance, desde que passou a viver sozinha. Toda a

    família sabia disso, mas só naquele momento foram entendendo, um a um, o

    que aquelas carícias estavam dizendo. Ela estava lhes dizendo em linguagem

    corporal:

    11

     Estou sozinha. Estou muito carente de companhia. Ajudem-me.

    r

    Tia Grace foi morar com uma sobr inha e um sobr inho, onde se tornou

    uma mulher diferente.

    Da mesma forma que tia Grace, todos nós, de uma maneira ou de outra,

    enviamos nossas pequenas mensagens para o mundo. Dizemos:" A j u d e m - m e ;

    estou sozinho. Levem-me com vocês. Deixem-me só, estou deprimidd'.  E rara-

    mente enviamos nossas mensagens conscientemente. Acionamos sem perce-

    ber nossa l inguagem não-verbal . Erguemos uma sobrancelha, mostrando

    descrença. Esfregamos o nariz, indicando perplexidade. Cruzamos os braços

    para buscar isolamento ou proteção. Encolhemos os ombros por indiferença,

    piscamos o olho numa situação de intimidade, tamborilamos com os dedos por

    impaciência, enrugamos a testa devido a um esquecimento nosso.

    São inúmeros os gestos e, embora alguns sejam deliberados e outros sejam

    quase   deliberados, alguns deles, como esfregar o nariz em sinal de perplexi-

    dade ou cruzar os braços para buscar proteção, são os mais inconscientes.

    O es tudo da l inguagem do corpo é um es tudo da combinação de todos

    os movimentos corporais, dos mais deliberados aos completamente incons-

    cientes, incluindo aqueles que se aplicam apenas a uma cultura, ou os que

    rompem todas as barreiras culturais.

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    A l u t a s im ból i c a

    A relação entre a comunicaç ão animal e humana só agora está com eçan-

    do a ser entendida. Muitos de nossos conhecimentos sobre a comunicação

    não-verbal vêm de experiências com animais. Os pássaros se comunicam p elo

    canto, geração após geração, entoando a mesma seqüência de notas, a mes-

    ma melodia simples ou complexa. Por muitos anos os cientistas acreditaram

    que essas notas, esse canto dos pássaros, eram com portamentos hereditários,

    com o a linguagem dos golfinhos, o vôo de certas vespas e o coaxar dos sapo s.

    Atualmente, entretanto, há dúvidas de que sejam comportamentos here-

    ditários. As experiências parecem indicar que o canto dos pássaros é apren-

    dido. Os cientistas criaram certos pássaros isolados dos outros de sua espécie

    e esses filhotes nunca foram capazes de reproduzir o canto típico da espécie.

    De fato, os cientistas que criaram pássaros conseguiram ensinar a eles o

    fragmento de uma canção popular para substituir a música da espécie. Um

    pássaro que cresça isolado nunca será capaz de se acasalar, pois o canto dos

    pássaros está envolvido em todo o p rocesso de acasalamento.

    Outro tipo de comportamento animal que há muito foi considerado ins-

    tintivo é a briga simbólica dos cães. Quando dois machos se encontram,

    podem reagir de diversas formas, mas a mais comum é rosnando, mordendo,

    simulando uma briga mortal. O observador inexperiente irá separar os ani-

    mais aparentemente irritados. O don o que c onh ece o cão observa a briga, per-

    cebendo o quanto ela é simbólica.

    Isso não nos leva a dizer que a briga não seja verdadeira. Os dois animais

    estão realmente competindo pelo domínio. Um deles vencerá, por ser mais

    agressivo, talvez mais forte e com investidas mais duras que as do outro. As

    14

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    br igas terminam quando ambos os cães percebem que um é o vencedor ,

    embora nenhum deles tenha sofr ido qualquer lesão. Então, acontece uma

    coisa curiosa. O cão derrotado deita-se, rola e expõe a garganta ao vencedo r.

    O vencedor reage simplesmente ficando sobre o derrotado, mostrando

    suas presas e rosnando por um instante. Então, os dois se afastam e a briga é

    esquecida.

    Um procedimento não-verbal ocorreu. O derrotado diz: "

    Eu me rendo.

    Você é mais forte e eu lhe exponho minha garganta vulnerável'.

    O vencedor diz: " Re alm en te, sou mais forte e vou grunhir e mostrar essa

    força, mas vamos deixar isso para lá e brincar."

    É interessante fazer um apar te para observar que praticamente em

    nenhuma espécie de animais superiores um membro da espécie mata outro

    por qualquer razão, em bora po ssam brigar entre si por vários motivos. Entre

    corças machos em época de acasalamento, essas br igas semi-s imból icas

    podem se tornar embates verdadeiros e, em seguida, curiosamente, os ani-

    mais atacarão as árvores próximas e nã o um ao outro.

    Certos pássaros, depois de demonstrar irritação e bater as asas no prelú-

    dio de uma luta feroz, acertam suas diferenças atacando furiosamente o ninho.

    O antílope pode usar os chifres para atacar, mostrando sua superioridade, mas

    a luta, embora seja furiosa, nem sem pre acabará e m m orte, mas sim num ritual

    de derrota. Os animais aprenderam a arte de exibir relacionamen tos por meio

    de atuações próximas da linguagem do corpo. .

    A controvérsia sobre a luta simbólica de cães e outros animais é se essa

    conduta, esse tipo de comunicação, é herdada da mesma forma que os instin-

    tos, se é inerente ao padrão genético da espécie, sendo transmitida de uma

    geração a outra, ou se é aprendida a cada geração.

    Mencionei que em algumas espécies de pássaros o canto deve ser apren-

    dido; entretanto, em outras, o canto é realmente instintivo. Os pintarroxos

    aprendem seu canto, enquanto os emberizas herdam a habilidade de entoar

    o canto característico, independentemente de crescerem ou não em contato

    com outros de sua espécie. Ao estudarmos qualquer comportamento no mun-

    do animal devem os ser cuidadosos para nã o generalizar. O que é válido para

    uma espécie de pássaros não é necessariamente válido para outra. O que é

    válido para os animais nem sem pre o é para os home ns. A luta simbólica dos

    cães é considerada herdada por muitos cientistas e, no entanto, um treinador

    de cães me assegurou que esse comportamento é aprendido.

    "Observe uma cadela quando seus fi lhotes estão brigando. Se um deles

    vence e tenta se impor, a ponto de m achucar o outro, a mãe imediatamente o

    faz parar, ensinando-o a respeitar a derrota de seu irmão. Não, um cão preci-

    sa aprender o comportamento simbólico."

    Por outro lado, há cães, como os cães esquimós da Groenlândia, que

    parecem ter uma enorme dificuldade para aprender o comporta mento simbó-

    15

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    lico. Niko Tinbergen, naturalista holandês, diz que esses cães possuem terri-

    tórios definidos para cada matilha. Os filhotes machos transgridem constan-

    temente os limites desses territórios, e por isso são constantemente punidos

    pelos macho s mais velhos que estabeleceram os limites. Enquanto ainda são

    filhotes, parecem não aprender os limites. Estes passam a ser respeitados

    quando eles atingem a maturidade sexual.

    Após a primeira cópula, tornam-se conscientes dos limites. Será esse um

    processo de aprendizagem que foi reforçado com os an os e então se efetiva?

    Ou será um processo instintivo que apenas se desenvolve com a maturidade

    sexual?

    Podemos he rda r uma l i nguagem?

    A herança do instinto não é uma qu estão simples, nem o é o processo de

    aprendizagem. É difícil identificar o quanto um sistema de comunicação qual-

    quer é herdado e o quanto é aprendido. Nem todo comportamento é apren-

    dido, mais do que é herdado, mesmo nos hum anos.

    E isso nos traz de volta para a comunicação não-verbal. Haverá gestos e

    expressões universais culturalmente indep endentes e verdadeiros para todo

    ser humano em todas as culturas? Existem coisas que todo ser humano faz qu e,

    de alguma forma, expressem um significado para todos os demais seres huma-

    nos, independentemente da raça, cor, credo ou cultura?

    Em outras palavras, um sorriso indica sempre alegria? Franzir a testa é

    sempre sinal de desprazer? Quando balançamos a cabeça de um lado para

    outro, isso significa sempre um não? Quando a balançamos de cima para

    baixo, sempre indica um   sim? Podemos afirmar que todos esses m ovimentos

    são universais e, nesse caso, que a capacidade de fazer tais movimentos é

    decorrente de uma dada emoç ão que herdamos?

    Se pudéssemos encontrar um conjunto comp leto de gestos e sinais, então

    nossa comunicação não-verbal poderia ser como a linguagem dos golfinhos

    ou como a linguagem não-verbal das abelhas, que por certos movimentos

    definidos pode atrair toda uma colméia a uma fonte de mel recém-descob er-

    ta. Esses movimentos da abelha são herdados, não precisando, portanto, ser

    aprendidos.

    Temos uma forma de comu nicação herdada?

    Darwin acreditava que as expressões faciais da emoção são similares

    entre os seres humanos, ind ependentemente da cultura. Ele fundamentou sua

    crença na origem evolucionária do homem . No entanto, no início da década

    de 50, dois pesquisadores, Bruner e Taguiri, escreveram, após trinta anos de

    estudo, que as melhores pesquisas disponíveis indicavam q ue não havia um

    padrão inato, invariável, que acom panhasse emoç ões específicas.

    16

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    E então, catorze anos depois, três pesquisadores, Ekman, Friesen (do

    Langley Porter Neuropsychiatric Institute,  Califórnia) e Soren son (do National

    Institute ofNeurological Diseases and Blindness)

      descobriram que novas pes-

    quisas sustentavam a crença de Darwin.

    Eles realizaram estudos na Nova Guiné, Bo rnéu, Estados Unidos, Brasil

    e Japão, cin co culturas totalmente d iversas, em três continentes diferentes, e

    descobriram: "Os observadores, nessas culturas, reconhecem algumas das

    mesmas emoçõ es quando lhes é mostrado um conjunto de fotos com expres-

    sões faciais".

    De acordo com os três pesquisadores, isso contradiz uma teoria de que

    as expressões faciais de emoção são aprendidas socialmente. Eles também

    sentem que há concordância dentro de uma cultura quanto ao reconhecimen-

    to de diferentes estados emocionais.

    Eles acreditam que esse reconhecimento universal esteja apenas indire-

    tamente relacionad o à herança. Citam uma teoria que postula a existência d e:

    ...

     programas subcorticais inatos ligando certos evocadores a expressões

    faciais universais para cada um dos afetos primários— interesse, alegria, sur-

    presa, medo, raiva, tristeza, desgosto, desprezo e vergonha".

    Em outras palavras, isso significa que o cérebro de todos os homens é

    programado para voltar os lábios para cima quando estão contentes, e voltá-

    los para baixo quan do estão d escontentes; franzir a testa, erguer as sobran ce-

    lhas, levantar um lado da boca e assim por diante, de acordo com o sentimento

    que está sendo alimentado no cérebro.

    Por outro lado, eles enumeram outras expressões e regras que   "variam

    de uma cultura para outra e são aprendidas desde mu ito cedo na vida

      .

    "Essas regras— d i z e m e l e s —  prescrevem o que fazemos para exibir cada

    afeto em diferentes ambientes sociais; variam com o papel social e as caracte-

    rísticas demográficas e deveriam variar de acorco com as culturas."

    Os pesquisadores tentaram evi tar condic ionamentos cul turalmente

    determinados o máximo possível. Assim, procuraram estudar regiões isoladas

    e, quando possível, sociedades pré-letradas, sem contato nenhum com os

    meios de comunicação, apesar da facilidade cada vez maior de acesso à tele-

    visão, ao cinema e à imprensa.

    O trabalho deles parece ter provado que podemos herdar , em nossa

    constituição genética, reações f ísicas básicas. Podemos nascer com a capaci-

    dade de nos comunicar não verbalmente. Podemos manifestar ódio, temor,

    alegria, tr isteza e outros sentimentos básicos, conhecidos por outros seres

    humanos, sem nunca ter aprendido como fazer isso.

    É claro que isso não contradiz o fato de muitos gestos terem significados

    diferentes de uma sociedade para outra. Nós do Ocidente fazemos um aceno

    com a cabeça para indicar  não,  e a balançamos de cima para baixo para indi-

    17

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    ca r

      sim

    , mas há sociedades na índia onde ocorre exatamente o oposto. O

    movimento para cima e para baixo significa  nã o  e de um lado para outro,  sim.

    Podemos entender, então, que nossa linguagem não-verbal é parcial-

    mente instintiva, parcialmente ensinada e parcialmente imitativa. Mais tarde

    veremos como esse aspecto imitativo é importante na comunicação verbal e

    não-verbal.

    O mpe r a t i v o t e r r i t o r i a l

    Uma das coisas que é herdada geneticamente é a noção de território.

    Robert Ardrey escreveu um livro fascinante,   The Territorial Imperat ive  (O

    Imperativo Territorial), em que descreve essa noção territorial no reino ani-

    mal e humano. Nesse livro, ele discute a delimitação e a guarda de territórios

    por animais, pássaros, veados, peixes e primatas. Para algumas espécies os

    territórios são temporários, mudando a cada estação. Para outras espécies ani-

    mais, são permanentes. A rdrey acredita qu e"  a natureza territorial do homem

    é genética e impossível de ser erradicada",   e apresenta uma justificativa inte-

    ressante para sua opinião.

    A partir desses extensos estudos de animais, ele descreve um código ina-

    to de comportamento no mundo animal que vincula a reprodução sexual à

    defesa territorial. A chave do código, segundo ele, é o território, e o imperati-

    vo territorial é o impulso, nos animais e nos homens, para se apoderarem de

    uma dada área e a defenderem.

    Pode haver um impulso em todos os homen s pela posse e defesa de um

    território, e pode ser que boa parte desse impulso seja inata. Entretanto, nem

    sempre podem os estender as conclusões de estudos com seres humanos para

    o mundo animal e vice-versa.

    O imperativo territorial pode existir em todos os animais e em alguns

    homens. A cultura pode fortalecer esse imperativo em alguns hom ens e enfra-

    quecê-lo em outros.

    Mas, pouco se duvida que os seres humanos tenham necessidade de pre-

    servar seu território, embora o grau de imperatividade ainda permaneça inde-

    terminado. Uma das peças de teatro mais assustadoras dos tempos modernos

    é  Home  (Lar), de Megan Terry. Postula um mundo do futuro em que a exp lo-

    são populacional faz com que a noção de território seja descartada. Os

    homens vivem em células, em uma gigantesca colméia de metal que abrange

    todo o planeta. Famílias inteiras vivem suas vidas confinadas em um ambien-

    te sem ver nem mesmo o céu ou a terra, ou qualquer outra célula.

    Nessa profética história de terror, o território foi completamente abolido.

    Talvez esta seja a razão do grande impacto da peça. Em nossas cidades moder-

    nas, parecemos estar nos encaminhando para a abolição do território. Encon -

    tramos famílias amontoadas e confinadas em ambientes qu e são fincados uns

    18

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    sobre os outros, chegando a alturas vertiginosas. Tomamos elevadores e

    metrôs lotados, tão apinhados que não podem os mover os braços ou as per-

    nas. No entanto, devemos entender o que acontece a um homem quando ele

    está privado de todos os direitos territoriais.

    Sabemos que o homem tem noção de território e precisa de um território

    que o abrigue. Isso varia de um abrigo apertado do morador da cidade até um

    espaço mais amplo, como uma casa e um terreno num subúrbio ou, ainda,

    amplas áreas abertas no interior, que o homem aprecia.

    D e quan to espaço o hom em prec isa?

    Não sabemos quanto espaço é necessário para cada indivíduo, mas é

    importante determinar, em nosso estudo de linguagem do corpo, o que acon-

    tece a um indivíduo quando esse abrigo, seja um espaço ou um território, é

    ameaçado ou invadido. Como ele reage e como o defende, como abre mão

    desse espaço?

    Pouco tem po atrás almocei com um amigo psiquiatra. Sentamo-nos num

    restaurante agradável, a uma pequena mesa elegante. Num determinado

    momento ele t irou um maço de cigarros, acendeu um e coloco u o m aço per-

    to de meu prato.

    Ele continuou falando e eu continuei a ouvi-lo, mas fiquei perturbado por

    alguma razão que não conseguia definir, e mais perturbado ainda quando ele

    aproximou toda a guarnição de mesa para perto de mim, colocando-a ao lado

    do maço, próximo ao  me u  lugar na mesa. Então, debruçando-se sobre a m esa,

    ele tentou expor uma opinião. Tive dificuldade em apreciá-la porque estava

    ficando cada vez mais perturbado.

    Finalmente, ele ficou com pena de mim e me disse:

    — Eu só lhe fiz uma demonstração de uma movimentação básica em lin-

    guagem do corpo, em comunicação não-verbal.

    — Qual era?— perguntei, confuso.

    — Ameacei-o agressivamente e o desafiei. Coloquei-o numa posição em

    que você deveria se impor, e isso o incomodou .

    — Mas como? O que você fez? — perguntei a ele, ainda sem comp reender.

    — Movi meu maço de cigarro para começar — ele explicou. — P or uma

    regra não verbalizada, dividimos a mesa ao meio, metade para mim e metade

    para você.

    — Essa divisão não foi consciente.

      É

     claro que não. A regra, no entanto, existe. Ambos estabelecem os um

    território mentalmente. De modo geral, dividimos a mesa por um comando

    não-verbal e civilizado. Entretanto, movi deliberadamente meu cigarro para

    -na área, violando a regra. Sem saber o que eu tinha feito, você se sentiu am ea-

    çado, sentiu-se perturbado, e à medida que eu procedia agressivamente à vio-

    19

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    lação do território, movendo meu prato, meus talheres, e depois eu mesmo

    invadindo seu espaço, você foi se sentindo cada vez mais perturbado, mas

    continuou sem saber por quê.

    Foi minha primeira demonstração do fato de que cada um possui zonas

    de território. Carregamos essas zonas conosco e reagimos de formas diferen-

    tes quando elas são quebradas. Desde então, tentei aplicar a mesma técnica

    de invadir a zona de alguém quando a pessoa não está ciente do que eu e stou

    fazendo.

    Ao sairmos para jantar noite dessas, minha esposa e eu dividimos uma

    mesa num restaurante italiano com outro casal. Só para experimentar, movi a

    garrafa de vinho para a "zona" de meu amigo. Então, lentamente, ainda con-

    versando, comecei a invadir , colocando o guardanapo e a garrafa na zona

    dele. Incomodado, ele mudou sua cadeira, deslocou-se para o lado, mudou

    seu prato de lugar, seu guardanapo e, f inalmente, num movim ento com pulsi-

    vo, repentino, ele colo cou a garrafa de volta no lugar.

    Ele reagiu defendendo sua zona e retaliando.

    Dessa brincadeira inocente surgem vários dados básicos. Não importa o

    quanto a área em que os seres humanos vivam esteja lotada, cada um de nós

    mantém uma zona ou território à nossa volta — uma área inviolável que ten-

    tamos preservar. A maneira como defendemos essa área e como reagimos à

    invasão dela e, ainda, com o penetram os em outros territórios, pode ser obser-

    vada e descrita e, em m uitos casos, usada construtivamente. Esses são asp ec-

    tos da comunicação não-verbal. A guarda dessas zonas é um dos primeiros

    princípios básicos.

    Como guardamos nossas zonas e como agredimos as zonas dos outros

    faz parte integral de como nos relacionamos com as pessoas.

    20

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    U m espaço só seu

    Entre os quacres, conta-se a história de um amigo urbano que visitou um

    templo religioso numa pequena cidade do interior. Embora não fosse mais

    usado, era uma construção adorável, e o quacre que morava na cidade gran-

    de decidiu visitá-la num domingo, dia da celebração de cultos, apesar de lhe

    terem dito que apenas um ou dois quacres ainda freqüentavam cultos lá.

    Naquele domingo, ele entrou na igreja e não havia ninguém, o sol da

    manhã batia nas janelas antigas com doze vidraças, as fileiras de bancos esta-

    vam vazias e o silêncio era absoluto.

    Sentou-se, deixando a paz do silêncio tomar conta dele. De repente,

    ouviu uma tosse abafada e, ao olhar, viu um quacre com barba, próximo ao

    banco ond e ele estava sentado, um homem idoso que bem poderia ter saído

    das páginas da história.

    Ele sorriu, mas o velho quacre franziu a testa e tossiu novamente, e então

    he disse: "De scu lpe -m e se eu o ofendo, mas o senhor está sentado em meu

    lugar".

    Era surpreendente a insistência daquele senhor em sentar-se em seu

    lugar, apesar de o templo estar vazio, mas isso acontece. Invariavelmente,

    depois que você freqüenta qualquer igreja por um período de tempo, deter-

    mina seu próprio lugar.

    Em sua casa, o pai tem uma determinada cadeira e, embora possa tolerar

    que um visitante sente-se nela, muitas vezes o faz contrariado. A mãe tem sua

    cozinha e não gosta quando sua mãe a visita e assume a cozinha "dela".

    Os hom ens têm seu lugar preferido no trem, seus ban cos preferidos no

    rarque, suas cadeiras preferidas em conferências, e assim por diante. É ape-

    21

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    nas uma necessidade de possuir um território, de um lugar que seja seu. Talvez

    seja uma necessidade inata e universal, embora seja moldada pela sociedade

    e cultura numa variedade de formas. Um escritório pode ser adequado para

    um profissional ou pode parecer pequeno demais, não devido ao tamanho

    real da sala, mas à disposição da mesa e da cadeira. Se o funcionário apoiar o

    corpo para trás sem tocar uma parede ou prateleira de livros, geralmente a sala

    parece suficientemente grande. Mas, em uma sala mais ampla, se a mesa dele

    for colocada de forma que ele toque uma parede ao se inclinar para trás, o

    escritório pode lhe parecer apertado.

    U ma c iênc ia chama da prox êmi a

    O dr. Edward T. Hall, professor de antropologia na Northwestern Uni-

    versity, há muito está fascinado em estudar a reação do homem ao espaço que

    o cerca, a maneira como utiliza esse espaço e como seu uso espacial comuni-

    ca certos fatos e sinais a outros homens. O Dr. Hall cunhou a palavra   proxê-

    mi a  para descrever suas teorias e observações sobre as zonas territoriais e

    como usá-las.

    O uso q ue o h omem faz do espaço, acredita o dr. Hall, apóia-se em sua

    capacidade de se relacionar com as outras pessoas, de senti-las como próxi-

    mas ou distantes. Todo homem, diz ele, tem suas necessidades territoriais. O

    dr. Hall dividiu essas neces sidades , nu ma tentativa de padronizar a ciência da

    proxêmia, e chegou a quatro zonas distintas em que a maioria dos homens

    opera. Ele relaciona essas zonas como: 1) distância íntima, 2) distância pes-

    soal, 3) distância social e 4) distância pública.

    Como podemos inferir, as zonas simplesmente representam diferentes

    áreas pelas quais nos movemos, áreas que aumentam à m edida que a intimi-

    dade diminui. A distância íntima pode ser  próxima, ou seja: um contato real,

    ou afastada, de 15 a 20 centímetros. A fase próxima da distância íntima é usa-

    da para se fazer amor, para amigos muito próximos e para crianças em conta-

    to com um dos pais ou entre si.

    Quando v ocê está numa distância  bastante íntima,  tem plena consciên-

    cia de seu parceiro. Por essa razão, se tal contato acontece entre dois homens,

    pode gerar estranheza ou constrangimento. É mais natural entre um homem

    e uma mulher, em termos de intimidade. Quando um homem e uma mulher

    não têm intimidade, uma situação de aproximação íntima pode provocar

    embaraço.

    Entre duas mulheres, em nossa cultura, uma situação de aproximação

    íntima é aceitável, embora numa cultura árabe essa aproximação seja aceitá-

    vel entre dois homens. Os hom ens freqüentemente andam de mãos dadas na

    Arábia e em muitas localidades do Mediterrâneo.

    22

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    A fase de afastamento da distância íntima ainda é próxima o suficiente

    para se dar um aperto de mãos, m as não é considerada uma distância aceitá-

    vel entre dois homens adultos norte-americanos. Quando um metrô ou um

    elevador os aproxima por estarem lotados, eles automaticamente observam

    certas regras r ígidas de comportamento e, ao fazerem isso, comunicam-se

    com seus vizinhos.

    Eles f icam o mais imóveis possível, tentando n ão tocar qualquer parte das

    pessoas a seu lado. Se os tocam, afastam-se imediatamente ou mantêm os

    músculos contraídos na área em que houve contato. Essa ação diz: " P e r d ã o

    por ter invadido o seu espaço, mas a situação me forçou a isso e evidentemen-

    te eu respeitarei sua privacidade e não deixarei que haja nenhuma intimida-

    de entre nós''.

    Se, por outro lado, eles relaxassem em tal situação e deixassem seus cor-

    pos se moverem livremente contra o corpo da pessoa ao lado e se permitis-

    sem sentir prazer com o contado e co m o calor do corpo, estariam come tendo

    a pior gafe social possível.

    Muitas vezes vi mulheres num m etrô lotado dizer a um hom em, num tom

    aparentemente inocente: " N ão aça isto "  simplesmente porque o homem ti-

    r .ha se esquecido das regras e relaxado, aproxim ando-se delas.

    Nem devemos, numa condução coletiva ou num elevador lotado, enca-

    rar ninguém. Há um determinad o intervalo de tempo durante o qual po dem os

    olhar, e então devemos desviar o olhar rapidamente. O homem imprudente

    que passa desse intervalo de tempo estabelecido arrisca todo tipo de conse-

    qüências desagradáveis.

    Recentemente, estava no elevador de um edifício empresarial junto com

    um outro senhor. Uma jovem bonita entrou no 14

    2

      andar e meu amigo olhou

    para ela distraído, mas demoradam ente. Ela enrubesceu e quando o elevador

    parou no saguão da recepção , virou-se e retrucou:

     

    O senhor nunca viu u ma

    moça antes, seu ... seu velhaco imundo "

    Meu amigo, ainda na casa dos tr inta, virou-se para mim perplexo,

    enquanto ela saía e me perguntou:  O  que eu fiz? Diga-me, o que eu fiz de

    mal?'

    Ele tinha rompido uma regra fundamental de comunicação não-verbal.

    Olhe e desvie o olhar qua ndo você estiver em contato íntimo com um estra-

    nho."

    A segunda zona de território estabelecida pelo dr. Hall é chamada de

    zona de distância pessoal. Aqui, também, ele diferencia duas áreas, uma dis-

    tância pessoal próxima  e uma distância pessoal afastada.  A área próxima é de

    45 a 75 centímetros. Você pode pegar ou tocar a mão de seu parceiro a essa

    distância.

    Quanto ao significado, ele nota que uma esposa pode ficar dentro da

    zona de distância pessoal próxima de seu marido, mas se outra mulher se des-

    23

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    loca para essa zona, presume-se que tenha alguma intenção. E, no entanto,

    esta é obviamente a distância confortável em reuniões sociais. Permite uma

    certa intimidade e talvez descreva uma zona íntima, mais do que uma zona

    pessoal. Mas, uma vez que a padronização nada mais é do que uma simples

    tentativa feita pelo Dr. Hall em uma ciência ainda incipiente, pode ser neces-

    sário fazer vários esclarecimentos antes que a proxêmia seja reconhecida.

    A fase de afastamento da distância pessoal é fixada pelo dr. Hall entre 75

    e 120 centímetros e chamada de limite do domínio físico. Você não pode tocar

    facilmente seu parceiro a essa distância e, então, esta preserva uma certa pri-

    vacidade a qualquer encontro. No entanto, a distância é pequena o suficien-

    te para que certo grau de discussão pessoal possa ocorrer. Quando duas

    pessoas se encontram na rua, geralmente param a essa distância uma da outra,

    para conversar. Numa festa, elas tendem a se aproximar, situando-se na fase

    próxima de distância pessoal.

    Várias mensagens sãò transmitidas por essa distância e elas variam de:

    "Estou mantendo-o ao meu alcance",  para "Es col hi você para ficar um pouco

    mais perto de mim que os outros convidados".

      Aproximar-se mais quand o

    você está num relacionamento pessoal distante  com um conhecid o é conside-

    rado atrevimento ou, dependendo do arranjo sexual, sinal de interesse pela

    pessoa. A distância pode expressar algo, mas, para que esta signifique algu-

    ma coisa, deve ser acompanhada.

    Espaço públ ico e socia l

    A distância  social  também tem uma fase de proximidade e uma fase de

    afastamento. A fase

     de

     proximidades  de 1,2 a 2,1 metros de distância e geral-

    mente é a distância em que tratamos de negócios impessoais. E a distância que

    assumimos quando, nos n egócios, nos enco ntramos com o cliente de fora da

    cidade, o novo diretor de arte ou com o gerente do escritório. É a distância

    que a dona de casa guarda do profissional que faz consertos, do funcionário

    de uma loja ou de um menino que lhe faz uma entrega em casa. Assume-se

    essa distância numa reunião social informal, mas esta pode ser uma distância

    manipuladora.

    Um chefe utiliza exatamente essa distância para dominar um funcionário

    que está sentado — uma secretária ou uma recepcionista. Para o funcionário,

    ele tende a ser ameaç ador e a ganhar altura e força. Ele está, na verdade, refor-

    çando a situação " vo cê trabalha para mim",  sem ter de dizê-lo.

    A fase de afastamento  da distância social, de 2 metros a 3 metros e meio,

    é observada em relacionamentos de negócios ou para relacionamentos sociais

    mais formais. O "ch efão" terá uma mesa suficientemente grande para colocá-

    lo a essa distância de seus funcionários. Ele também permanece sentado a essa

    24

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    distância e olha para um funcionário sem perder o status. Ele tem a visão do

    homem de corpo inteiro.

    Para voltar aos olhos, a essa distância não é apropriado olhar rapidamen-

    te e desviar o olhar. O único contato q ue você tem é visual, e assim a tradição

    dita que vo cê diri ja o olhar para a pessoa d urante a conversa. Deixar de olhar

    para a pessoa é o me smo que excluí-la da conversa, de aco rdo com o dr. Hall.

    No aspecto positivo, essa distância permite uma certa proteção. Você

    pode continuar trabalhando à distância sem ser rude, ou pod e parar de traba-

    lhar e conversar. Em escritórios, é necessário preservar essa distância social

    reservada entre a recepcionista e o visitante, para que ela possa continuar a

    trabalhar sem ter de conversar com ele. Uma distância meno r tornaria tal ação

    indelicada.

    Marido e mulher em casa à noite su põem essa distância social reservada

    para relaxar. Eles podem conversar, se quiserem, ou simplesm ente ler em vez

    de conversar. O clima impessoal desse tipo de distância social torna-se quase

    obrigatório, no caso de uma família numerosa, mas muitas vezes a família

    >egue essa separação educada e seus membros devem ser aproximados para

    „ma noite mais íntima.

    Finalmente, o dr. Hall cita a distância

     pública

      como a extensão maior de

    n essa sujeição territorial. Novam ente, há um a fase próxima e o utra distante,

    uma distinção que pode nos fazer pensar por que não há oito distâncias em

    ez de quatro. Mas, na realidade, as distâncias são estabelecidas de acordo

    : ?m a interação humana, e não com a medida.

    A fase próxima  da distância pública é de 3,5 a 7,5 metros, e é adequa da

    rara reuniões mais informais, a distância que um professor guarda dos alunos

    numa sala de aula ou que guarda um chefe, num a reunião com os operários. A

    rase distante da distância pública, acima de 7,5 metros, geralmente é reservada

    - com ícios políticos, em que a distância també m é um fator de segurança ou

    garantia, com o aco ntece com os animais. Certas espécies animais deixarão um

    h rmem se aproximar somente a essa distância, antes de ir embora.

    No entanto, quando se aborda o assunto em relação à espécie animal e à

    .i -tância, há sempre o perigo de interpretar mal o verdadeiro sentido da dis-

    pneia e das zonas territoriais. Um exemplo típico é o leão e o seu domador.

    m leão se afastará quando um homem se aproximar demais e entrar em sua

    : : na de "perigo". Mas, quando ele não pud er mais retroceder e o hom em con-

    tinuar a avançar, o leão virará e se aproximará do h ome m.

    O dom ador de leõe s tira vantagem disso e se aproxima do leão, na jaula.

    I animal retrocede, co mo é de sua natureza, para o fundo da jaula, enqua n-

    t

      a

     domador do leão avança. Quando o leão não pode mais se afastar, ele se

    ira e, novamente de acordo com sua natureza, avança sobre o domador,

    ~_gindo. Invariavelmente, ele avança seguindo em linha reta. O treinador,

    unindo vantagem disso, coloca o estrado do leão entre ele e o leão. Este, apro-

    25

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    ximando-se em linha reta, sobe no estrado para alcançar o treinador. Nesse

    momento, o treinador afasta-se rapidamente da zona de perigo do leão, e o

    leão pára de avançar.

    A platéia, ao ver isso, acha que o leão se afastou devido ao chicote q ue o

    treinador empunha, ou ao chicote e à cadeira, de acordo com suas próprias

    necessidades e fantasias internas. Acha que ele está dominando um animal

    perigoso. Essa é a comunicação não-verbal da situação. Isso é o que, em lin-

    guagem do corpo, o treinador está tentando nos dizer. Mas aqui a l inguagem

    do corpo m ente.

    Na verdade, o diálogo entre o leão e o domador é o seguinte: Le ão :" S a i a

    da minha esfera ou eu o atacarei'.  Domador :  "Estoufora de sua esfera

      .

     Leão:

    "Certo, Então eu paro por aqui'.

    Não importa onde o "aqui" seja. O domador manipulou as coisas para

    que o "aqui" seja o alto do estrado do leão.

    Da mesma forma, a esfera pública distante de um político ou ator num

    palco contém várias declarações em linguagem do corpo que são usadas para

    impressionar a audiência, e não necessariamente dizer a verdade.

    É a essa distância pública que é difícil falar a verdade ou, dizendo de

    outro modo, a essa distância pública maior é mais fácil mentir com os movi-

    mento s do corpo . Os atores sabem disso, e por séculos util izaram a distância

    entre o palco e a platéia para criar várias ilusões.

    A essa distância os gestos d o ator devem ser estil izados, afetados e muito

    mais simbólicos que seriam a distâncias públicas mais próximas, sociais ou

    íntimas.

    Na tela de televisão, como num filme, a combin ação d e tomadas a distân-

    cia e próximas requer outro tipo de linguagem do corpo. Um movimento da

    sobrancelha ou da pálpebra ou um tremor do lábio num   close-up  pode trans-

    mitir uma me nsagem muito mais significativa que um movim ento do bra ço ou

    do corpo todo, a longa distância.

    Nu m   close-up,  os movimentos gerais costumam se perder. Essa pode ser

    uma das razões pelas quais os atores de televisão e de cinema têm tanta difi-

    culdade para se adaptar ao palco.

    O p alco muitas vezes requer um a atuação rígida, correta, devido à distân-

    cia entre os atores e os espectadores. H oje, contrariando essa técnica, há cor-

    rentes teatrais que tentam eliminar a distância pública entre o ator e o palco.

    Misturam-se aos espectadores, ou convidam o público a dividir o palco

    com eles. Uma peça, sob essas condições, deve ser muito menos estruturada.

    Não se pode ter garantia de que o espectador reagirá da maneira desejada. A

    peça, portanto, ad quire uma estrutura mais solta, geralmente sem um roteiro

    e apenas com a idéia central.

    A linguagem do corpo , sob essas circunstâncias, torna-se um veículo difí-

    cil para o ator. Ele deve, por um lado, abandonar muitos dos gestos simbóli-

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    s que usou, p orque não funcionarão para distâncias curtas. Não pode con -

    fiar na linguagem do corpo natural para as emoções que ele deseja projetar,

    nà i importa o quanto ele "viva" seu papel. Logo, ele deve desenvolver um

    - vo conjunto de símbolos e movimentos corporais estilizados que também

    irão mentir para a audiência.

    Se essa mentira em   close-up  será mais eficiente qu e mentir à distância do

    pr scênio, nã o se sabe. Os gestos do palco tradicional têm sido aprimorados

    m anos de prática. Há ainda um vínculo cultural envolvido com os gestos

    palco. O teatro japonês kabuki, por exemplo, contém seus próprios ges-

    : - refinados, tão culturalmente orientados, que mais da metade deles po de

    -a-s ar despercebida por uma platéia ocidental.

    o o

      d i f e rent es cu l t u ras l i dam com o espaço

    Há, entretanto, linguagens corporais que podem transcender linhas cul-

    irais. Charlie Chaplin, em filmes mudos, com seus trejeitos, fazia movimen-

    - tão universais que conseguia arrancar risadas praticamente de qualquer

    - jur a, inclusive de culturas tecno logicam ente não avançadas da África.

    : :retanto, a cultura ainda é o fator que orienta toda a linguagem do corpo, e

    ss é verdadeiro para zonas corporais. O dr. Hall aborda as implicaçõe s inter-

    _ varais de sua proxêm ia.

      No

      Japão, por exemplo, quando as pessoas ficam

    aito juntas, isso é sinal de afeto e agradável intimidade. Em certas situações,

    Hall acredita que os japoneses preferem ambientes lotados.

    Donald Keene, que escreveu  Living Japan,  observa que na linguagem

    : onesa não há palavra para exprimir privacidade. Entretanto, isso não sig-

    nifica que esse con ceito não exista. Para os japoneses , a privacidade existe

    : termos de suas casas. Eles consideram essa área com o particular e se res-

    -

     miem com qualquer intrusão. O fato de se reunirem com outras pessoas nã o

    ifasta a necessidade de terem espaço para morar.

    O dr. Hall vê isso com o um reflexo do conceito japon ês de espaço. Segun-

    á - e.  os ocidentais vêem o espaço como a distância entre objetos. Para nós,

    .--paço é vazio. Os japoneses atribuem um significado tangível à forma e à

    disposição do espaço. Isso se evidencia não só em seus arranjos florais e na

    -ne . mas em seus jardins também, ond e partes do espaço m esclam-se harmo-

    n sãme nte para formar um todo integrado.

    Como os japoneses, os árabes também tendem a estar juntos. Mas, embo-

    m em público eles estejam invariavelmente juntos, na vida privada, em suas

    p" prias casas, os árabes têm espaç o demais. As casas árabes são, se possível,

    opaçosas e vazias, e as pessoas se reúnem numa área pequena. As divisões

    entre os cômodos geralmente são evitadas porque, apesar do desejo de espa-

    os árabes, paradoxalmente, não gostam de estar sozinhos e mesmo em

    -  -ias casas espaçosas preferem estar juntos aos familiares.

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    A diferença entre o "acon chego" árabe e a proximidade dos japoneses é

    imensa. O árabe gosta de tocar em seu companheiro, senti-lo e cheirá-lo. Para

    negar uma amizade sua respiração deve estar contida.

    Os japoneses, em sua proximidade, mantêm a formalidade e a reserva.

    Eles conseguem tocar e ainda assim manter limites rígidos. O árabe elimina

    esses limites.

    Juntamente com essa proximidade, há um empurrar e um compartilhar

    no mundo árabe que os americanos acham desagradável. Para um america-

    no, há limites num lugar público. Quando ele está esperando em fila, acredi-

    ta que esse lugar dele é inviolável. O árabe não tem conceito de privacidade

    num recin to púb lico, e se pude r furar fila, acha qu e é um direito seu fazer isso.

    Da mesma forma qu e a inexistência de um vocábu lo japonês para expres-

    sar privacidade indica uma certa atitude com relação às pessoas, os árabes não

    dispõem de uma palavra para estupro, o que indica certa atitude em relação

    ao corpo. Para um norte-americano, o co rpo é sagrado. Para o árabe, que cos-

    tuma empurrar, puxar e até mesmo beliscar as mulheres em público, a viola-

    ção do corp o é uma coisa de pequen a importância. Entretanto, a violação do

    ego por insulto é um problema sério.

    Hall destaca que o árabe às vezes precisa estar sozinho, não importa o

    quan to deseja ficar próxi mo de seu amigo. Para estar só, ele sirpplesmente cor-

    ta as linhas de comunicação. Ele se retira, e esse recolhimento é respeitado

    por seus colegas. É interpretado na linguagem do corp o co mo "

    Pre cis o de pri-

    vacidade. Embora esteja com vocês, em contato com vocês e morando com

    vocês, preciso me retirar em meu abrigo".

    Se um árabe se retirasse na presença de um americano , este tenderia a

    considerar isso um insulto. A retirada seria interpretada, em sua linguagem do

    corpo, como um "tratamento frio". E seria interpretada como um insulto.

    Quando dois árabes conversam, olham-se nos olhos com grande inten-

    sidade. O mesmo olhar intenso, na cultura norte-americana, raramente ocor-

    re entre homens. De fato, tal intensidade pode ser interpretada como um

    desafio à masculinidade de um hom em.   "N ão gostei do jeito que ele olhou para

    mim, como se quisesse algo pessoal, estivesse procurando intimidade",  é uma

    reação típica de um americano ao olhar de um árabe.

    Como o mund o oc i den t a l l i da com o espaço

    Até aqui consideramos a linguagem do corpo em termos de diferenças

    espaciais em culturas amplamente díspares, o Oriente e o Extremo Oriente em

    oposição ao Ocidente. Entretanto, mesmo entre as nações ocidentais, há

    amplas diferenças. Há uma diferença distinta entre a forma como um alemão,

    por exemplo, lida com o espaç o onde vive, e a maneira como um am ericano

    o faz. O americano carrega uma bolha de 60 cm de privacidade em volta dele,

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    e se um amigo conversa com ele sobre questões íntimas, eles se aproximarão

    suficiente para que suas bolhas esp eciais se fundam. Para um alemão, uma

    -ala inteira em sua própria casa pod e ser uma bolha d e privacidade. Se alguém

    se intromete numa conversa íntima naquela sala sem incluí-lo, ele pode se

    sentir ofendido.

    Talvez, especula Hall , em contraste com o árabe, o ego do alemão seja

    extraordinariamente exposto" . Portanto, ele fará tudo para preservar sua

    rsfera privada. Na Segunda Guerra Mundial, os prisioneiros de guerra alemães

    riam abrigados em grupos de quatro numa barraca, num campo do exército.

    Hall observa que assim que podiam, eles estabeleciam uma divisão da caba-

    na para ganhar um esp aço privado. Em tendas abertas, os prisioneiros alem ães

    untavam construir suas próprias unidades privadas.

    O "ego exposto" do alemão pode ainda ser responsável por uma rigidez

    de postura e pela falta de movimento corporal espontâneo. Tal r igidez pode

    ser uma defesa ou máscara, para não revelar verdades demais por meio de

    movimentos não resguardados.

    Na Alemanha, as casas são construídas para se ter o máximo de privaci-

    dade. Os quintais são bem murados e nas sacadas são postas telas. As portas

    são invariavelmente mantidas fechadas. Quando um árabe quer privacidade

    r r se recolhe para dentro de si , mas quando um alemão deseja privacidade,

    e.e se isola num ambiente a portas fechadas. Esse desejo alemão de privaci-

    da de,  de uma zona privada definida que não invada a zona de ninguém, é

    rxemplificado por seu comportamento em filas.

    Recentemen te, fui a um cinema situado numa comunidade germano-am e-

    .ina. Esperava na fila para comprar o ingresso quando ouvi comentários

    - ->re mim em alemão, enq uanto no s mantínhamos em fila, organizadamente.

    De repente, quand o faltavam poucas pessoas para chegar a minha vez de

    mprar o ingresso, dois jovens que, depois entendi, eram poloneses, entra-

    -_m à frente da fila e tentaram comprar seus ingressos.

    — Ei Estamos esperando na fila, por que vocês não aguardam sua vez?

    - a discussão logo com eçou.

    — É isso mesmo. Voltem para a f ila.

    — Vão para o inferno Estamos num país l ivre Ninguém lhes pediu para

    ; -r>erar na fila — um dos poloneses gritou, aproximando-se da bilheteria à

    força

    — Vocês estão na fila feito cordeiros — o outro disse irritado. — É isso o

    _ _ie há de errado com vocês, seus  cabeças de repolho.

    O início de tumulto foi controlado por dois policiais. Ao entrar no saguão,

    - - me aproximei dos furões da fila.

    — O que vo cês estavam tentand o fazer lá fora? Começar um tumulto?

    — Só estávamos agitando um pouco — disse um deles, com um sorriso

    . -elo. — Por que formar fila? É mais fácil ir direto à bilheteria .

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    Descobrir que eram poloneses me ajudou a entender a atitude deles. Ao

    contrário dos alemães, que querem saber exatamente onde estão e acham que

    somente a obediência a certas regras de conduta garante um comportamento

    c ivi l izado, os poloneses cons ideram que o comportamento c ivi l izado não

    deve respeitar as autoridades e regulamentos.

    Embora os ingleses sejam diferentes dos alemães na forma de tratar o

    espaço — eles valorizam pouco a privacidade de seu próprio quarto —, eles

    também são diferentes dos americanos. Quando o americano deseja se isolar,

    ele se retira. Possivelmente devido à falta de espaço privado e por crescerem

    em berçários, os ingleses que querem ficar sós tendem a se recolher, numa ati-

    tude introspectiva, como os árabes.

    A linguagem do corpo dos ingleses que diz:  "Estou procurando ter um

    momen to de privacidade, é muitas vezes interpretada pelos amer icano s

    como: "

    Es tou irritado com você e por isso o estou tratando com frieza".

    O sistema social inglês atinge sua privacidade por meio d e relacion amen -

    tos cuidadosamente estruturados. Nos Estados Unidos, você conversa com o

    vizinho devido ã proximidade. Na Inglater ra , ser v izinho de alguém não

    garante que você o conheça ou fale com ele.

    Há a história de um formando num a faculdade americana que encontrou

    uma senhora inglesa num cruzeiro para a Europa. O rapaz foi seduzido pela

    inglesa e eles tiveram um   affair  apaixonante.

    Um mê s depois, ele foi a um jantar muito formal em Londres, e entre os

    convidados, para sua surpresa, viu a senhora X. Aproximando-se, cumpri-

    mentou-a: — Olá Como vai?

    Olhando para ele com ar de superioridade, a senhora X respondeu:

    — Acho que não fomos apresentados.

    — Mas.. . — o jovem gaguejou perplexo —, certamente a senhora se lem-

    bra de mim?

    Então, mais encorajado, acrescentou:

    — Pois no mês passado dormimos juntos durante a viagem, até chegar-

    mos à Europa.

    — E daí? — a senhora X perguntou friamente. — O q ue o faz pensar que

    isso seria uma a presentação?

    Na Inglaterra, as relações não se desenvolvem de acordo com a proximi-

    dade física, mas sim conforme a posição social. Você não é necessariamente

    amigo de seu vizinho, a menos que tenha a mesma condição social que ele. É

    um fato cultural baseado na heran ça do po vo inglês, mas também é resultado

    dos habituais ajuntamentos ou aglomerações de pessoas na Inglaterra. Os

    franceses, como os ingleses, também gostam de estar juntos, mas suas dife-

    rentes heranças culturais levaram a um resultado cultural diferente. Embora a

    aglomeração de pessoas tenha levado os ingleses a desenvolver um respeito

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    r . . mum pela privacidade, fez com que os franceses f icassem muito envolvi-

    i s uns com os outros.

    Um francês olha diretamente em seus olhos quando está falando com

    :è. e olha diretamente para você. Em Paris, as mulheres são muito observa-

    nas ruas. De fato, muitas mulheres americanas que voltam de Paris sen-

    ' .cm-se, de repente, nâo admiradas. Os franceses, com seu modo de olhar,

    transmitem uma mensagem não-verbal.  Gosto de você. Posso nunca conhe-

    .. -la ou falar com você, mas admiro-a."

    Nenhum homem norte-americano olha para as mulheres dessa forma. Em

    cz de admiração, isso seria interpretado com o grosseria por um am ericano.

    Na França, a aglomeração é parcialmente responsável pelo envolvimen-

    d

     >s

      franceses. Também é responsável pela preocupação com espaço. Os

    - arques franceses tratam o espa ço de m odo d iferente dos americanos. E les

    . nzam suas áreas abertas; mesm o na cidade, do que se beneficia a arqui-

    tetura.

    Os americanos reagem ao espaço de um modo diferente. Em Nova York,

    da de  densamente habitada, a população desenvolve a necessidade de pri-

    VJ idade. O nova-iorquino é conhe cido tradicionalmente por sua atitude não

    amigável e, no entanto, tal atitude é d esenvolvida por respe ito à privacidade

    . -eu vizinho. Não querem invadir essa privacidade, e então ignoram-se uns

    _ - utros em elevadore s, metrôs, em ruas lotadas.

    Marcham em seus pequenos mundos, e quando esses mundos são força-

    - a se juntar, entram num estad o catatôn ico para evitar uma interpretação

    r _ aivocada de seus m otivos.

    Na linguagem do corpo, eles gritam:" Est ou sendo forçado a encostarem

    :' e m as minha rigidez lhe diz que eu não quis invadir seu espaço".  A inva-

    é a maior transgressão. Fale com um estranho em New York City e ele rea-

    . -

     -

     de mod o alarmado, assustado.

    Só em époc as de grande crise as barreiras são derrubadas, e então perce-

    - que os nova-iorquinos não são tão hostis, mas são tímidos e assusta-

    - Durante a queda d e energia na região nordeste dos EUA todos correram

    : ara aiudar uns aos outros, para dar conforto, apoio, e durante aquelas pou-

    a- i ngas horas a cidade se tornou um espaço colo roso e vital .

    Então, a energia voltou e todos voltaram a suas zonas rígidas de privaci-

    dade.

    Fora de Nova York, em pequ enas cidad es norte-americanas, há um a ati-

    e mais amigável, mais receptiva. As pessoas cumprimentam estranhos, sor-

    . e muitas vezes conve rsam. Entretanto, em cidades

      muito

      pequenas ,

    or de :odos se conhecem e há pouca privacidade, o estranho pode ser trata-

    . -i mesmo modo formal e reservado que na grande cidade.

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    De fendendo zonas co rpo ra i s

    À primeira vista, pode parecer difícil perceber o relacionamento exato

    entre espaços, zonas ou territórios de uma pessoa e a cinesiologia, linguagem

    do corpo. Mas, se não entendermos os princípios básicos de territórios indi-

    viduais, não poderemo s perceber o que acon tece quando esses territórios são

    invadidos. Nossas reações à invasão de nosso território pessoal estão muito

    ligadas à linguagem do corpo. Deveríamos conhecer nosso comportamento

    agressivo e nossas reações às agressões dos outros, para ficarmos atentos aos

    sinais que estamos enviando e recebendo.

    Talvez o relato mais tocante sobre a inviolabilidade das zonas corporais

    seja um romance escrito por H. DeVere Stacpool, meio século atrás, intitula-

    do   The Blue Lagoon.  É a história de um jovem náufrago qu e vive numa ilha

    tropical em comp anhia de um velho marinheiro. O m arinheiro cria o menino,

    ensina-o a ser auto-suficiente e em seguida morre. O m enino cresce sozinho,

    conh ece uma jovem polinésia e apaixona-se p or ela. O romance trata do caso

    amoroso dos jovens, que foi declarado tabu desde a infância. Ela cresceu proi-

    bida de se permitir ser tocada por qualquer homem. A luta entre os dois para

    que ela rompesse o condicionamento e permitisse que ele a tocasse forma

    uma história fascinante e comovente.

    Foi o reconhecimento precoce de como o ser humano pode se tornar

    defensivo quanto às suas zonas corporais e à privacidade pessoal que levou

    Stacpool a explorar esse tema, mas apenas na última década os cientistas

    começaram a entender o significado complexo do espaço pessoal.

    Num capítulo anterior, mencionei um psiquiatra que, com a ajuda de um

    maço de cigarros, deu-me uma lição sobre a invasão de espaço . Ele, por sua

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    vez, aprendeu muito do que sabia sobre a reação de pacientes em hospitais

    para doentes mentais. Um hospital para doentes mentais é um microcosmo

    fechado e, como tal, muitas vezes reflete e exagera atitudes do mundo exte-

    rior. Mas, um hospital para doentes mentais também é um lugar muito espe-

    cial. Os internos são mais suscetíveis ã sugestão e agressão que os homens e

    mulheres psiquicamente saudáveis, e freqüentemente suas ações distorcem

    as ações de pessoas normais.

    O grau de agressividade de um paciente mental depende da posição da

    outra pessoa. É um teste de dominância. Em qualquer hospital para doentes

    mentais um ou dois pacientes se dirigirão aos superiores com um comporta-

    mento agressivo, mas eles sempre podem ser intimidados por um dos aten-

    dentes. Por sua vez, o atendente deve responder à enfermeira e ela é

    subordinada ao médico.

    Há uma verdadeira hierarquia nessas instituições e ela é refletida no mu n-

    do exterior em organizações com o o exército, ou em empresas, onde há uma

    ordem definida de domínio. No exército, o poder de coma ndo é indicado po r

    um sistema de símbolos, tiras para os oficiais não comissionados e barras,

    folhas, pássaros e estrelas para os comissionados. Mas, mesmo sem as insíg-

    nias, a ordem hierárquica permanece. Vi internos, num banheiro, tratarem sar-

    gentos com deferência, sem saber qu em eles eram ou quais eram seus postos.

    Os sargentos, por suas maneiras e porte, transmitiam uma mensagem corpo-

    ral óbvia, que indicava a posição.

    Consel ho pa ra aque l es que buscam s t a t us

    No mundo dos negócios, onde não há insígnias e nem são usados outros

    símbolos claros, o executivo demonstra a mesma capacidade de projetar uma

    noção de superioridade. Como ele o faz? Que recursos ele usa para sujeitar os

    subordinados, e como faz para lidar com colegas que ocupam uma posição

    equivalente?

    Uma tentativa de estudar isso foi feita por dois pesquisadores numa série

    de filmes mudos. Eles colocaram dois atores para interpretar um executivo e

    um visitante, e trocar de papéis em diferentes tomadas. Na cena, um homem

    estava sentado à mesa enquanto o outro, fazendo o papel do visitante, bate à

    porta, abre-a e se aproxima da mesa para discutir questões de negócios.

    O grupo que assistiu aos filmes deveria classificar o executivo e o visitan-

    te em termos de status. Um certo conjunto de regras começou a emergir das

    classificações. O visitante mostrou o menor status quando parou à porta para

    conversar com o homem que estava sentado. O status era considerado maior

    quando ele andava até o meio da sala e maior quando ia diretamente até a

    mesa e ficava de pé em frente ao executivo, que estava sentado.

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    Outro fator que determinava o status, à vista dos observadores, era o

    intervalo de tempo em que o visitante batia à porta e entrava e, para o e xecu-

    tivo sentado, o tempo que este dem orava para responder, após ouvir as bati-

    das na porta. Quanto mais rápido o visitante entrava na sala, maior o status

    dele. Em relação ao executivo, quanto mais se demorava para responder,

    maior o status do executivo.

    Deve ficar claro que o qu e está envolvido aqui é uma questão de territó-

    rio. O visitante tem perm issão para penetrar no território do executivo, e por

    esse arranjo o executivo automaticamente assume um status superior.

    O quanto o visitante penetra no território e a rapidez com que o faz ou,

    em outras palavras, a maneira como desafia o espaço pessoal do executivo

    indica seu próprio status.

    O "ch efe" entra na sala do subordinado sem ser anunciado. O subordina-

    do aguarda fora da sala do executivo, até qu e tenha permissão para entrar. Se

    o chefe estiver ao telefone, o subordinado pode sair sem ser notado e voltar

    mais tarde. Se o subordinado está atendendo o telefone, o chefe geralmente

    afirmará seu status ficando de pé d iante de seu subordinado, até qu e ele mur-

    mure: " Volto a ligar mais tardé',  e então dê toda a atenção a o seu supervisor.

    Há uma m udança contínua de status ou disputa para alcançar uma posi-

    ção no mundo dos negócios, e portanto os símbolos que denotam status tor-

    nam-se uma parte necessária da mudança. A maleta carregada por um

    executivo é o símbolo mais óbvio, e todos nós sabemos da piada do homem

    que só carrega seu almoço na maleta, mas insiste em carregar a maleta simples-

    mente p orque esta é im portante para a imagem que ele precisa projetar. Con-

    heço um padre e educador negro nos Estados Unidos que viaja muito pelo

    país. Ele me disse que, quando ia para uma cidade do Sul, nunca entrava numa

    área urbana ou um hotel sem usar terno e maleta. Esses dois símbolos lhe

    davam uma certa autoridade que o diferenciava do negro na mesm a cidade.

    As grandes empresas instituem uma série de símbolos de status. Com a

    venda de tranqüilizantes, uma grande empresa farmacêutica na Filadélfia

    ganhou dinheiro suficiente para construir um novo prédio para abrigar seus

    funcionários, cujo número estava crescendo rapidamente. A planta do edifí-

    cio podia conte r escritórios e salas de trabalho sem distinção, mas a empresa

    fixou deliberadamente um símbolo de status na distribuição e divisão dos

    escritórios. Os dos cantos no último andar eram reservados para o pessoal

    mais graduado. Os escritórios de ca nto no andar inferior eram reservados para

    o pessoal de chefia. Os executivos m enos graduados, mas ainda importantes,

    tinham escritórios sem as janelas de canto. O s subalternos tinham escritórios

    sem janelas. Abaixo deles f icavam os funcionários que ficavam em cubículos.

    Eles tinham paredes de vidro opaco e não havia portas, enquanto que os do

    nível imediatamente inferior trabalhavam em cubículos com vidro transparen-

    te. Os funcionários mais rasos tinham mesa s numa sala aberta.

    3 4

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    A hierarquia foi estabelecida por uma equação, dependendo do tempo

    de casa, da importância do cargo, do salário e do título acadêmico. O título de

    doutorado em medicina, por exemplo, dava a qualquer um, não importando

    o salário ou tempo de casa, o direito a um escritório fechado. O profissional

    com mestrado podia ter ou não um escritório, dependen do de outros fatores.

    De acordo com esse sistema, muitos outros detalhes poderiam demons-

    trar o grau de status. Cortinas, tapetes, mesa s de madeira em contraste a mesas

    de metal, móveis, poltronas, cadeiras simples e, evidentemente, secretárias,

    tudo isso estabelecia uma hierarquia.

    Um elemen to importante nesse conjunto era o contraste entre os cu bícu-

    los de vidro fosco e de vidro transparente. Ao ser visto pelos outros, o homem

    no cubículo com vidro translúcido era automaticamente reduzido em sua

    importância o u posto. Seu território era suscetível à invasão visual. Ele era bas-

    tante vulnerável.

    Com o ser um líder

    A abertura de um território e a invasão dele são funções importantes da

    posição nos negócios. E a liderança? Por meio de que artifícios ou de que lin-

    guagem do corpo um líder se afirma como tal?

    Voltando aos anos que precederam a Segunda Guerra Mundial, Charlie

    Chaplin fez um filme chamado

      O

     grande ditador.  Como todos os filmes de

    Chaplin, este envolvia muita linguagem do corpo, mas a seqüência mais sen-

    sacional era aquela que se passava numa barbearia.

    Chaplin no papel de Hitler e Jack Oakie interpretando Mussolini estão

    sendo barbead os lado a lado. A cena concentra-se nas tentativas que cada um

    deles faz para se colocar numa posição dominante, para afirmar sua superio-

    ridade como líder. Presos em suas cadeiras e cobertos por uma capa, só há um

    modo de atingir o domínio, e é controlando a altura das cadeiras. Eles podem

    abaixá-la e levantá-la. Aquele que conseguir levantar mais a cadeira vence, e

    a cena se desenrola em torno da tentativa que cada um deles faz para erguê-

    la o máximo possível.

    O mesmo posicionamento ocorre com os outros seres humanos. Todos

    nós sabemos que devemos nos curvar diante de um rei, de ídolos, de altares.

    Abaixar a cabeça e se curvar, em geral, são formas de demonstrar superiori-

    dade ou inferioridade pela altura. São ações que transmitem a mensagem cor-

    poral:  "Você é superior, portanto, é quem domina".

    Um jovem que conheço, com bem mais de 1,80 m de altura, teve muito

    sucesso nos neg ócios devido a sua capacidade de mostrar compreensão pelos

    colegas. Observando as atitudes dele em algumas transações de negócio bem-

    sucedidas, percebi que, sempre que possível, ele parava, inclinava o corpo ou

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    se sentava, para permitir que seu colega ficasse numa posição de domínio e

    se sentisse superior.

    Em família, geralmente o pai senta-se à ponta da mesa, caso ela seja retan-

    gular ou oval. Muitas vezes, a presença de uma mesa redonda numa casa reve-

    la a constituição da família. Da mesma forma, em discussões em grupo, em

    torno de uma mesa, o líder automaticamente assumirá o comando sentando-

    se à ponta.

    A história do Rei Artur e os cavaleiros da távola redonda mostra que esse

    conceito n ão é novo. A mesa era redonda para que não h ouvesse questão de

    domínio e todos os cavaleiros pudessem compartilhar a mesma honra de

    estarem sentados à mesa. Entretanto, essa idéia foi enfraquecida pelo fato de

    que o próprio Artur, sempre que se sentava, tornava-se a figura dominante e

    o status de cada um diminuía à medida que aumentava a distância entre o

    lugar onde o cavaleiro estava sentado e o rei.

    O escritório do diretor de uma grande empresa farmacêutica onde traba-

    lhei possui, além de sua mesa e escrivaninha, um sofá, uma cadeira de braço

    e uma mesa de café com uma ou duas cadeiras em volta. Esse homem anun-

    cia a formalidade ou informalidade de uma situação pelo local onde se senta

    ao receber um visitante. Se quer tratá-lo de uma maneira informal, ele conduz

    o visitante até o sofá, à poltrona ou à mesa de café. Dessa forma, ao se posi-

    cionar, ele indica o tipo de entrevista que o visitante terá. Se tiver de ser um

    encontro extremam ente formal, ele permanecerá sentado à sua mesa.

    O espaço que ma nt emos inv io l ável

    A necessidade de esp aço pessoal e a resistência ã invasão do espaço pes-

    soal é tão forte que mesmo numa multidão cada membro exigirá um certo

    espaço. Esse fato levou um jornalista chamado Herbert Jacobs a tentar aplicá-

    lo a multidões. Visto que a estimativa do tamanho de uma multidão tende a

    variar conforme o observador seja ou não favorável a essa aglomeração, o

    número de pessoas p resentes em comícios de polít icos, encontros pela paz e

    manifestações é aum entado pelos participantes e subestimado pelas autorida-

    des.

    Jacobs , estudando fotos aéreas de multidões onde podia contar o núme-

    ro de participantes, concluiu q ue as pessoas, em aglomerados densos, preci-

    sam de 3 a 6 metros quadrados, enquanto as pessoas em aglomerados mais

    abertos requerem uma média de 9 metros quadrados. O tamanho da multi-

    dão, Jaco bs finalmente concluiu, poderia ser medido pela fórmula,  compri-

    mento  vezes  largura  dividido por um  fator cie correção  que levava a

    densidade da multidão em conta. Esse cálculo podia determinar o nú mero de

    pessoas em qualquer aglomerado.

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    Ao tratarmos de aglomerados, é importante perceb er que o território pes-

    soal das pessoas num aglomerado é destruído pelo próprio ato de se aglome-

    rar. A reação a essa destruição pode, em alguns casos, mudar o humor da

    multidão. Os homens reagem fortem ente quand o seu espaço ou território pes-

    soal é invadido. Quan do o aglome rado aume nta e f ica mais compacto, a situa-

    ção pode p iorar . Um aglomerado menos denso pode ser mais fác i l de

    controlar.

    A necessidade de espaço pessoal foi reconhecida por Freud. Para serem

    atendidos, seus pacientes deitavam-se num divã, enquanto ele se sentava

    numa cadeira, fora da visão deles. Dessa forma, não havia invasão do e spaço

    pessoal do paciente.

    A polícia reconhece a importância do espaço pessoal de um indivíduo e

    tira vantagem disso ao interrogar prisioneiros. Um livro-texto sobre interroga-

    tório e confissão criminal sugere que o interrogador se sente próximo ao sus-

    pei to e que não haja mesa ou outro ob jeto entre e les . Qualquer t ipo de

    obstáculo, o l ivro adverte, dá ao homem que está sendo interrogado um cer-

    to grau de alívio e confiança.

    O livro também sugere que o interrogador, embora possa começar o

    interrogatório com sua cadeira de 60 a 90 cm de distância, deve m over-se para

    mais perto, à medida que o interrogatório prossegue," at é que um dos joelhos

    do sujeito fique entre os oelhos do interrogado f .

    Comprov ou-se, na prática, que essa invasão física do território do ho mem

    pelo policial , à medida que ele é interrogado, é extremamente útil para rom-

    per a resistência do prisioneiro. Qua ndo as defesas territoriais de um hom em

    são enfraquecidas ou invadidas, sua segurança tende a diminuir .

    Numa situação de trabalho, o chefe que tem conhecimento disso pode

    fortalecer sua posição de liderança, invadindo espacialmente seu subordina-

    do. Quanto mais o superior se debruçar sobre a mesa do funcionário, mais o

    desequi l ibrará . O chefe de depar tamento que se aproxima do operár io

    enquanto está inspecionando seu trabalho faz com que o trabalhador se sin-

    ta constrangido e inseguro. De fato, o pai que ralha com o filho de bruçando-

    se sobre ele está complicando a relação entre eles, provando e reforçando seu

    próprio domínio.

    Essa invasão do espaço pessoal pode ser usada para provocar medidas

    defensivas nos outros, ou podemos, ao evitar a invasão, impedir também as

    conseqüências, por vezes perigosas, que esta acarreta? Sabemos que é peri-

    goso n ão guardar distância do carro qu e está à nossa frente, d o ponto de vista

    da física. Se o carro da frente brecar rapidamente, podemos nos chocar con-

    tra ele. Mas não comentamos a reação provocada no motorista do carro da

    frente, quando alguém "cola" nele.

    Um homem que está dirigindo um carro muitas vezes perde uma parte

    essencial de sua humanidade e, por estar protegido por uma máquina, f ica

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    destituído de suas características humanas. A com unicação corporal, que fun-

    ciona tão bem para ele fora do carro, muitas vezes perde a função quando ele

    está dirigindo. Todos nós já ficamos irritados quando alguém nos corta a fren-

    te, e sabemos da fúria irracional, que às vezes pode invadir o motorista, ao ter

    seu espaço invadido. A polícia tem dados estatísticos para mostrar que cente-

    nas de acidentes são causados quand o isso acontece, devido à perigosa rea-

    ção daquele q ue foi "cor