a liberdade do plano de deus

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A Liberdade do Plano de Deus A LIBERDADE DO PLANO DE DEUS TUDO É INFORMAÇÃO A PRISÃO DOS SENTIDOS CONHECER DEUS NO ÂMAGO DAS COISAS COM A MEDIDA COM QUE MEDIS O INSTANTE DA INTUIÇÃO O ESPÍRITO QUE É PURO AMOR CRER ANTES DE VER A VISÃO DA ALMA PentagramA Revista Bimestral d o Lectorium Rosicrucianum 2005 número 5

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Page 1: A Liberdade do Plano de Deus

A Liberdade do Plano de Deus

A LIBERDADE

DO PLANO DE DEUS

TUDO É

INFORMAÇÃO

A PRISÃO DOS

SENTIDOS

CONHECER DEUS NO

ÂMAGO DAS COISAS

COM A MEDIDA

COM QUE MEDIS

O INSTANTE DA INTUIÇÃO

O ESPÍRITO QUE É

PURO AMOR

CRER ANTES DE VER

A VISÃO DA ALMA

PentagramARevista Bimestral do Lectorium Rosicrucianum 2005 número 5

Page 2: A Liberdade do Plano de Deus

PENTAGRAMA

ÍNDICE

2 A LIBERDADE DO PLANO

DE DEUS

6 TUDO É INFORMAÇÃO

11 A PRISÃO DOS SENTIDOS

14 CONHECER DEUS NO

ÂMAGO DAS COISAS

19 COM A MEDIDA

COM QUE MEDIS

25 O INSTANTE DA INTUIÇÃO

28 O ESPÍRITO QUE É PURO

AMOR

30 CRER ANTES DE VER

36 A VISÃO DA ALMA

ANO 27NÚMERO 5

A Liberdade do

Plano de Deus

E havia no paraíso apenas uma árvore,

a árvore da vida, e deus, o deus do campo

de vida terrestre, proibiu o homem

de comer dessa árvore.

Page 3: A Liberdade do Plano de Deus

A liberdade do plano de Deus

2

Não é raro que evangelhos, cuja existência já se conhecia de outras fontes, sejamagora redescobertos e publicados. Pensamos aqui no Evangelho de Tomé e norecém-descoberto Evangelho de Judas. Com isso é possível uma abordagemtotalmente diferente de numerosos textos bíblicos. No Evangelho de Judas,vemos a figura deste último sob uma luz completamente diferente: em vez deum traidor, ele se apresenta como um homem pleno de devotamento.

Page 4: A Liberdade do Plano de Deus

A figueira

selvagem, símbolo

egípcio da árvore

da vida, mergulha

suas raízes nas

misteriosas

profundezas da

terra, de onde

sobe a seiva da

vida, pelo tronco,

até o cimo, onde

a deusa dessa

árvore cósmica

acolhe aqueles

que morreram

oferecendo-lhes

o elixir celeste

da imortalidade.

Pintura mural

do túmulo

de Paneshy.

Tebas – Séculos

XIV-XVII a.C.

. van Rijckenborgh e C. de Petri fre-qüentemente chamaram nossa atençãopara o fato de que os textos bíblicos,tal como os conhecemos, são “partes”de um conjunto maior de escritos que,no decurso dos quatro primeiros sé-culos da era cristã, sofreram muitasmodificações. No livro do Gênese, es-creve J. van Rijckenborgh, tratava-setão-somente de uma árvore, a árvoreda vida. Portanto, não havia uma se-gunda árvore, a árvore do conheci-mento do bem e do mal, posterior-mente acrescentada à lenda. No textooriginal, o deus do campo de vida ter-restre diz ao homem, indicando a ár-vore da vida: “Desta árvore tu não co-merás”. Havia, portanto, apenas umaárvore no meio do paraíso, a árvore davida, e Deus proibira o homem decomer dela.

Com isto, o texto original adquireum outro sentido, muito mais simplese muito mais claro. J. van Rijckenborghexplica que é o deus do campo de vidaterrestre que quer proibir o homem deabandonar seu campo de vida. Feliz-mente, Eva, símbolo da faculdadeimaginativa humana, está presente, e éela quem compreende o que diz a ser-pente. A serpente é um símbolo para ofogo serpentino, a força etérica divina,original. E Eva induz o homem a co-mer dessa árvore!

Se suprimirmos as palavras que fa-zem referência à árvore do conheci-mento do bem e do mal no livro da Gê-nese, obteremos o seguinte texto:Então plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, da banda do Oriente,e pôs ali o homem que tinha formado.E o Senhor Deus fez brotar da terratoda árvore agradável à vista e boapara comida, e a árvore da vida nomeio do jardim (...).Ora, a serpente era mais astuta quetoda a alimária do campo que o

Senhor Deus tinha feito. E ela disse àmulher:‘É assim que Deus disse: Nãocomereis de toda árvore do jardim? E disse a mulher à serpente: Do frutodas árvores do jardim comeremos,mas do fruto da árvore que está nomeio do jardim, disse Deus: Nãocomereis dele. (...) Então, a serpentedisse à mulher: Certamente não mor-rereis, mas... no dia em que comerdesdesse fruto, se abrirão os vossos olhos,e sereis como Deus. E, vendo amulher que aquela árvore era boapara se comer, (...) tomou do seufruto, e comeu, e deu também a seumarido, e ele também comeu com ela.Então foram abertos os olhos deambos (...).

[Gênese 2:8-9 e 3:1-7]

O significado do relato se torna ago-ra completamente diferente: existeuma força antagônica que tenta deli-beradamente prender o homem a seucampo de vida e quer impedi-lo decomer do fruto da árvore da vida. Vis-to dessa forma, compreendemos queaquele que deseja trilhar a senda darenovação da alma sempre experimen-tará um momento de crise.

Para todo buscador chega um mo-mento em que ele estende sua mãopara a árvore da vida, mas ele é comoque repelido pelo deus deste mundo,que lhe diz: “Desta árvore não come-rás”. Isto, naturalmente, não deve sertomado ao pé da letra; trata-se aqui deuma concentração de forças que cor-responde à personalidade que se origi-na do campo de vida terrestre. Em ou-tras palavras: chega o momento emque o buscador se torna seu próprioadversário. Tão logo aspiremos à re-novação da alma, defrontamo-noscom as forças plasmadoras que assimi-lamos, das quais procedemos e quenos mantêm vivos. Esse confronto,

J

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como é natural, nos pega de improvi-so, pois ele sempre acontece de modototalmente diverso daquele que imagi-návamos.

A ligação fundamental

Em O Nuctemeron de Apolônio deTiana, capítulo 3, J. van Rijckenborghescreve a respeito de Cérbero, o cão damitologia grega que guarda a entradado reino das sombras. Geralmente Cér-bero é representado como um mons-tro. Contudo, apenas uma parte deCérbero é “monstruosa”, ou seja,aquela parte que é o reflexo do medo.O medo pode assumir formas mons-truosas e tornar-se um inimigo impor-tante. A outra parte, o segundo aspec-to de Cérbero, é invisível e, por conse-guinte, muito mais difícil de avaliar.Nós não o percebemos porque ele estáem perfeita concordância com nossapersonalidade: trata-se de nossa liga-ção com o campo de vida terrestre, li-gação esta tão evidente que não a ex-perimentamos como tal, pois forma ofundamento de nossa personalidade.A essa ligação J. van Rijckenborgh dáo nome de dogma.

Ao ingressarmos na Escola da Ro-sacruz Áurea, fazemos uma certa idéiade sua meta, bem como de nossa liga-ção com ela. Continuamente temosdiante dos olhos a imagem de nossaspossibilidades e obstáculos no cami-nho. Contudo, a experiência nos ensi-na que, embora tenhamos a possibili-dade de rever nossas idéias com certaregularidade, pelo menos existe umaque nunca se deixa ajustar: a idéia cen-tral a respeito de nós mesmos e dacondição humana em geral. Essa idéiaé um ponto fixo, intocado, o núcleoem torno da qual se desenvolvem nos-sas outras idéias. Uma pequena intros-pecção no-lo confirmará.

Essa imagem-pensamento central,que J. van Rijckenborgh chama dedogma, é a imagem que fazemos denós mesmos e daquilo que gostaría-mos de nos tornar. Ora, essa imagem,esse dogma, é representada de modoprofundo por Cérbero.

Passar por Cérbero

Chamamos passar por Cérberoingressar na liberdade. Ou, dito deoutro modo, abrir-se à inspiraçãodivina. Eva, que podemos ver como arepresentação simbólica da alma quefala em nós, estimula-nos a voltar-nos para a árvore da vida, a dispensa-dora de forças que não são destemundo, o chamado que nos liberta.É desnecessário dizer que a liberdadeque visamos não é obviamente aliberdade da personalidade parafazer tudo o que lhe aprouver. A ver-dadeira liberdade espiritual somentepode ser alcançada com o despertardo homem original microcósmicoadormecido em nós.

O buscador agora se engaja nesseprocesso de libertação e persevera,rejeitando cada imagem imposta porseu estado natural anterior. Numdado momento, ele passa por Cérbe-ro e se vê diante de um mistério.Tendo chegado a um certo grau depurificação do fogo serpentino, elelogra uma certa impressão da Unida-de universal na qual jaz adormecidoo arquétipo do homem original,microcósmico. Não se trata de umencontro nem de uma posse pessoal,mas de um saber simples e certo deque em cada ser humano existe umtemplo original inviolado, um tem-plo simbólico, que é parte integrantedo plano de construção universalcom o qual também temos a possibi-lidade de colaborar.

Page 6: A Liberdade do Plano de Deus

Um novo corpo etérico

De acordo com o ensinamento daEscola Espiritual, a flama astral quearde na medula espinal é envolvidapor uma concentração de éteres cujanatureza é determinada pela naturezada flama astral. À medida que esseséteres vão sendo purificados, a vesteetérica também se torna cada vez maispura, resultando daí uma veste etéricaque se constituirá num novo corpoetérico, o corpo-alma.

Em O chamado da FraternidadeRosacruz é relatado que os irmãos daRosacruz encontraram um grandeprego fixado na parede. Ao tentaremextraí-lo, ele trouxe consigo uma partebastante grande do revestimento daparede, revelando, assim, a entrada dotemplo-sepulcro de Cristiano Rosa-cruz. Esse prego, descoberto por“acaso”, pode ser visto como umponto de ligação do corpo-alma com avelha natureza. De fato, o relato testi-fica o modo como, em dado momen-to, a nova alma, o corpo-alma, se

liberta da antiga natureza. E o relatovai ainda mais além: quando os irmãosda Rosacruz adentram o templo-se-pulcro de Cristiano Rosacruz, elesavistam um altar circular onde esta-vam gravadas quatro sentenças:Não há espaço vazioO jugo da leiA liberdade do EvangelhoA glória de Deus é intangível.

Existe um plano grandioso, pode-roso e infinito, que os rosacruzesdenominam Liberdade do Evangelho.Esse plano vibra no éter do mundo eirradia sobre nós. Somos chamados anos tornar co-construtores desseplano, a nos colocarmos a seu serviçoe fazermos o que for necessário.Aquele que passa do dogma à liberda-de do plano de Deus o demonstra cla-ramente mediante seu comportamen-to e seus atos. Ele testifica, assim, aglória da divina perfeição.FONTE:

A idéia que está por trás da criação. Publicação

de Jan van Rijckenborgh, Haarlem, sem data.

Cérbero, o cão

dos infernos da

mitologia grega,

mostrava-se afável

para todos os que

chegavam ao reino

das sombras, mas

temível e agressivo

para quem desejasse

sair dele. Só o

divino Orfeu e

Hércules consegui-

ram passar por ele,

um graças à sua

música encantadora,

e o outro neutrali-

zando o cão no

decorrer do

último de seus doze

trabalhos.

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Page 7: A Liberdade do Plano de Deus

Tudo é informação

Page 8: A Liberdade do Plano de Deus

xistem, ainda, outras teorias do“tudo é...”, porém as que acabamosde mencionar têm em comum umaabordagem científica. Há pouco tem-po, veio se juntar a elas uma novateoria: “Tudo é informação”. O quetorna interessante a série que acaba-mos de citar, não só porque vivemosatualmente numa era de informação,mas também porque podemos ver aíuma analogia com uma idéia profun-damente religiosa, centrada no cris-tianismo original. Existe apenas umacurta distância entre “tudo é vibra-ção” e o Verbo do princípio, portantoo Pai; entre “tudo é energia” e a For-ça do Filho; entre “tudo é informa-ção” e o Conhecimento do Espírito.Ao “tudo é matéria” associa-se a ma-téria primordial da qual tudo foi for-mado.

A teoria

À luz dessas analogias, o “tudo éinformação” merece um estudo maisaprofundado. Esta teoria se apóia naidéia de que na base de tudo o queexiste há uma informação abstratacapaz de expressar-se em um númeroinfinito de formas e que quer ser co-nhecida. Com esta finalidade, ela de-ve se transformar: ela se condensa atéo estado que chamamos de “probabi-lidades”. O número infinito de for-mas torna-se realmente finito, maspermanece ainda considerável.

O processo de transformação pros-segue, e das muitas probabilidades

surge um pequeno número de “vir-tualidades” que se condensam aindamais até o que chamamos de verda-deira realidade. A esse movimento,que vai da pura informação à realida-de, damos o nome de “vida”. Sempresegundo essa teoria, quando, nocampo do real, a transformação dapura informação já não acontece, essarealidade deixa de existir, o que signi-fica a morte.

Os dois movimentos

A teoria silencia sobre o fato deque, para ser conhecida, a informaçãodeve ser captada por uma consciênciacapaz de apreendê-la e de se desen-volver. Esse desenvolvimento daconsciência pela assimilação da infor-mação é um segundo movimento,que se realiza em sentido oposto aoda condensação da informação. Esseé um movimento que, com relação aoprocesso de transformação de con-densação de informação, vai em dire-ção totalmente oposta. O primeiromovimento, o de cima para baixo,vem a nós do futuro e, poderíamosdizer, de um espaço vazio, tal comoele é representado antes de toda cria-ção. O movimento de desenvolvi-mento da consciência é precisamenteo inverso: é um movimento de baixopara cima, partindo do passado e deum espaço pleno de matéria, a Natu-reza, sempre em direção, assim oesperamos, de mais informação.

Como seres humanos, inclinamo-

Informação

abstrata.

Experiência de

© Egil Paulsen Art,

2004.

7

E

É interessante ver como as teorias aparentemente bastante diferentes confir-mam umas às outras. Tomemos, por exemplo, as abordagens mais ou menoscientíficas do nosso mundo. Alguns dizem: “Tudo é matéria”, enquanto outrosdizem: “Tudo é vibração”, ou ainda: “Tudo é energia”.

Page 9: A Liberdade do Plano de Deus

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nos a considerar esses dois movimen-tos como sendo “a vida”. Por conse-guinte, não podemos considerar oreal como algo morto. Acrescente-mos a isto o fato de conhecermosmuito pouco o primeiro movimento.

A corrente de informação da experiência

O que comumente entendemospor “informação” é o oposto daquiloque a teoria acima propõe. Para nós,a informação é uma descrição tãoexata quanto possível daquilo queconstatamos na realidade, um con-junto de dados e de fatos que chegamà nossa consciência por diversosmeios: livros, jornais, revistas, televi-são e Internet. Porém, na maior partedas vezes, eles descrevem apenas umafração da realidade que percebemos.A maior parte de nossas previsõesnão passa de extrapolações prove-nientes do passado. Nosso ponto deorientação encontra-se, portanto, nopassado, naquilo que podemos cha-mar de espaço (pré)enchido. Volta-mo-nos para a informação que nosdiz algo sobre o que foi e como foi,portanto no sentido inverso da teoriadescrita, na qual o ponto de orienta-ção reside na vacuidade onde a infor-mação determina o que é suscetívelde se produzir e cria uma realidadeespecífica.

Nossa consciência é uma consciên-cia de experiência. Ela se baseia emcomo observamos a realidade no pas-sado e em como ainda o fazemos. Elautiliza a ação conjunta dos sentidosde observação, da sensibilidade e doentendimento que influenciam um aooutro grandemente e se harmonizaminteiramente. Estes são, em suma, os“instrumentos” que permitem o iní-cio do processo de informação na

realidade, no espaço físico ao invés deno vazio, o espaço no qual o Espíritopode se manifestar. O movimentodessa corrente de informação pro-vém, portanto, do passado para oagora, de baixo para cima, e é, por-tanto, contrária ao movimento “ori-ginal”. Esse movimento de informa-ção coincide com o movimento dedesenvolvimento da consciência deexperiência, desenvolvimento esseque podemos imaginar como sendodeterminado e limitado.

A fim de prevenir qualquer confu-são, fazemos notar que a informaçãoem sua forma pura e abstrata, isto é, o“espírito”, não pode ser conhecidapela consciência de experiência, poiso instrumentário, o homem e suapersonalidade, não está apto paraisso. Ele está sintonizado com o pas-sado, o que o torna uma criaturacheia de contradições. Ele desejaviver, desenvolver-se e crescer inte-riormente: esta é a sua principal moti-vação; mas, ao mesmo tempo, eledeseja conservar as coisas assim comosão e como sempre foram, amplifi-cando-as eventualmente, mas semnenhuma mudança substancial. Ora,somente uma mudança radical naorientação da consciência pode abriro caminho para a vida!

Felizmente, nem sempre o movi-mento original nos passa desaperce-bido. De vez em quando, muito devez em quando, libertamo-nos da“corrente de informação” da expe-riência e nem mesmo queremos ouvi-la. Quando recusamo-nos a aceitar aidéia de que os sentimentos que“experimentamos” são tudo, podeacontecer, numa fração de segundo,de entrarmos em contato com o espí-rito – a informação original! Um raioda consciência original nos toca, oqual podemos, então, traduzir em

Page 10: A Liberdade do Plano de Deus

nossa própria linguagem e com nos-sas próprias imagens.

A faculdade de traduzir em pala-vras e imagens o conhecimento vi-vente ou informação original é umaimportante qualidade da consciência.Por isso, a informação recebida ad-quire um sentido. Contudo, as pala-vras e as imagens emergem na tramada história, tanto na de nossa culturacomo na de nossas experiências pes-soais. E, enquanto recebemos a novainformação mediante os impulsos doespírito, estamos sujeitos às nossaspercepções, sentimentos, entendi-mento e ao nosso passado, porque foicom base nele que tudo foi construí-do. É um círculo vicioso: interpreta-mos o presente com base em um anti-go modo de ver, e anexamos esse“agora” à história. E nossas percep-ções ratificam a legitimidade destemodo de assimilação.

Assim, compreendemos por que,do ponto de vista da pesquisa espiri-tual, seja sempre recomendado:“Vivei no PRESENTE”, “abandonaio passado”, “fazei o bem sem ver aquem”. Exortações absolutamentecorretas em sua essência, mas que so-mente podem penetrar-nos se tiver-mos consciência dos dois movimen-tos inversos de informação que deve-mos conhecer. Mas então surge a per-gunta: “Como podemos aqui fazeruma escolha na prática”?

A teoria “Tudo é informação” tratade uma condensação, de uma trans-formação da pura abstração em pro-babilidade, depois em potencialidadee em seguida em realidade. Emboraela nada diga sobre a passagem à rea-lidade, nem do papel que os sentidosrepresentam, ela nos parece interes-sante.

Em momentos de perigo extremo,sabemos que a consciência funciona

de modo diferente. Todo o sistemafica em alerta e a vigilância aumenta;sentimos as “coisas” chegarem antesmesmo que aconteçam. Encontramo-nos, então, no presente, prontos parareagir. Nesse instante estamos quaseque inteiramente livres do passado.

No processo de transformação, apassagem da potencialidade à realida-de vai um passo além: estamos apar-tados do passado, mas nossos senti-dos se voltam para o “futuro”, para oque vai acontecer.

Já não observamos o que é, masaquilo que vai se revelar. Damos sen-tido ao que está quase presente, fa-zendo, assim, o virtual passar para odomínio do real. Criamos assim nos-sa própria realidade. Invertemos, porassim dizer, a direção de nossas facul-dades sensoriais: em vez de observara realidade (do passado), comprova-mos uma potencialidade. Em vez deligar o presente ao passado, nós oassociamos ao futuro.

Com uma consciência inteiramen-te ancorada no passado nos é difícildescrever o processo e é impossívelrealizá-lo. Mas, para uma consciên-cia que se abre para o espírito, para acorrente vivente de informação por-tadora da liberdade interior, o “pre-sente vivente” oferece sempre maio-res possibilidades de um retorno aoequilíbrio do campo de vida original.

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Page 12: A Liberdade do Plano de Deus

Neste mundo utilizamos nossas facul-dades sensoriais para conhecer, con-ceber e interpretar a realidade quenos cerca, nossas necessidades e nos-sos desejos. Nossos sentidos orientamnossa atenção para o exterior, masnão se trata de uma circulação emsentido único: de nossos olhos irradiao estado de nossa alma; em nossa vozressoa aquilo que vive nas profunde-zas de nosso ser, sem que tenhamosdisso a menor consciência.

esde muito jovem, a criança de-senvolve sua personalidade graças aseus sentidos. Pelas impressões querecebe, ela forja uma imagem domundo que fundamenta sua indivi-dualidade.

O primeiro sentido é o ouvido, cu-jo germe foi depositado em nós porocasião da primeira das quatro ron-das do período de Saturno1. Eis porque, de todos os sentidos, ele é o quemenos está sujeito às ilusões. As per-cepções auditivas são, entre todas, asmais puras, ou poderíamos dizer asmenos impuras. Elas não somentesão as primeiras a se formarem, maspermanecem em atividade por maistempo, como nos casos de pessoasque, mergulhadas num coma, rea-gem à voz e, uma vez tendo voltadodo coma, podem relatar o que ouvi-ram, ou aquilo que foi dito duranteuma operação.

Por volta dos trinta anos, ou mes-mo mais cedo nos dias atuais, termi-

na a formação dos órgãos de percep-ção e a pessoa se torna “adulta”. Oser humano acumulou tantas expe-riências sensoriais que o capacitam adiscernir e tomar decisões com rela-ção à orientação de sua vida. Seriamagnífico se a totalidade das expe-riências sensoriais permitisse aojovem adulto fazer escolhas delibe-radas sem que ele se tornasse vítimadas influências externas e compreen-desse que aquilo que busca e deseja,ainda que de forma obscura, não seencontra nesta ordem de realidade.Que ele sentisse, enfim, que o cla-mor do mundo ameaça sufocar osussurro interior.

Infelizmente, isso nem sempreacontece. As impressões são tão for-tes e os derivativos tão grandes quemuitos anos podem passar, até mes-mo uma vida inteira, antes que a pes-soa tenha acumulado bastante expe-riência e impressões, antes de tornar-se consciente da miragem que omundo das impressões sensíveisconstitui.

Mas isso não quer dizer que seme-lhante tomada de consciência engen-dre de imediato uma situação ideal.As impressões sensíveis continuam aafluir. Todo o nosso ser está submer-so por um fluxo ininterrupto de per-cepções. Os sentidos nos ligam aocampo astral terrestre, o qual encon-tra-se submetido a uma poluição ca-da vez maior, inspirando à humani-dade desejos que a arrastam a umainquietude degenerescente. Essa po-

A prisão dos sentidos

Aquele que

caminha sozinho se

perde no caminho.

Colagem, 2002

© Pentagrama.

11

D

Page 13: A Liberdade do Plano de Deus

luição tem conseqüências mais gra-ves que a poluição ambiental, e tor-na-se vital forjar um escudo prote-tor. Porém, não é possível proteger-nos de modo completo e durável pormeio da personalidade.

Ouvir verdadeiramente

O sentido do ouvido não se limitaà audição de sons articulados e depalavras. O universo dialético é feitode vibrações audíveis que não se har-monizam com as vibrações da divinaharmonia das esferas. Pelo contrá-rio, o clamor selvagem deste mundoperturba a harmonia original. Dissotudo resulta uma cacofonia terrível.

Em meio a uma desordem ensur-decedora, o homem tenta abrir-se àvoz interior, a voz do enviado da or-dem original divina. Consciente des-sa incoerência, consciente de suaprópria falta, ele aspira a ouvir ecompreender verdadeiramente.

Meu Deus, é o semblante sombriode minha vida terrestre que sempreme impede de Te ver. Eu Te invocosem Te encontrar. Tu me chamas eeu não Te ouço.2

Como personalidade nascida damatéria, o homem não consegue sairda prisão dos sentidos por seus pró-prios meios. Ele necessita de um au-xílio, de um auxílio que não procededeste mundo. O eu é impotente paralibertar a si mesmo. Quando ele che-ga à saturação das experiências, umacalma interior se instala, um silêncioque o ruído exterior não perturba.Então, surge a pergunta, clara e tor-turante: “E agora?” Como um suspi-ro que ascende do coração, uma vi-bração sem precedente se faz sentir,trazendo consigo uma resposta. Sur-

ge, então, um espaço para o “total-mente Outro”.

A nova faculdade auditiva da almaem vias de desenvolvimento é bas-tante diferente da audição física. É oouvir a “voz” das profundezas inte-riores que, por força do ouvir e obe-decer, se torna cada vez mais clara.

O desejo de orientação

É da mais alta importância apren-der a estar atento a esse som interior.Mas temos sempre a liberdade denegar esta suave pulsação. Então, avoz interior vai enfraquecendo pou-co a pouco e de novo silencia, semimpaciência, sem acusação. Mas,quão deplorável seria não dar ouvi-dos à voz do coração!

Por outro lado, ouvir a voz interiorreforça o desejo de atentar ainda maispara ela. Trata-se de escutar com ocoração; tão logo a cabeça se põe aargumentar, estamos perdidos! Ao nosvoltarmos para o campo astral puroda origem com o desejo de uma vidaverdadeiramente renovada, nascidado coração, forjamos pouco a poucoo escudo contra o bombardeamentodos estímulos externos.

Este é o único meio de escaparmosda prisão dos sentidos. Os órgãos depercepção se tornam então “instru-mentos” que servem para vivermos etrabalharmos neste mundo. O olhocontinua a ver, mas de forma maispura, sem emoção e sem julgamento.O ouvido continua a ouvir, mas deforma mais simples, sem se prenderàquilo que ouve. A agitação do corpoastral se acalma aos poucos e umequilíbrio se instaura no sistema; osânimos se apaziguam! Ver sem julgar,ouvir sem se perturbar: isto, porém,nada tem a ver com a frieza e a dure-za do coração. Pelo contrário! Senti-

12

Page 14: A Liberdade do Plano de Deus

mos apenas o desejo profundo de irem auxílio dos semelhantes.

O único fundamento para umapercepção nova e para uma justacompreensão é o anseio nascido nocoração, o desejo de compreender aPalavra de Amor e aprender a agir deacordo com ela. A atitude de vidaque disso resulta, leva a um equilí-brio entre todos os veículos. Nesseequilíbrio, nesse silêncio, torna-sepossível “ouvir” verdadeiramente. Eo homem, estabelecido em um silên-cio inviolável, contribui para apazi-

guar o tumulto nos seus semelhantese no mundo.

Seu ser adquiriu uma nova vibra-ção e emite uma nota fundamentalcompletamente diferente: ele ouveum novo nome. Um nome que nin-guém mais conhece. Um nome quepode ser inscrito no Livro da Vida.

1. Heindel, M., O conceito rosacruz docosmo, São Paulo: Fraternidade Rosacruz,1977, 2 ed, cap. 4.

2. Naimy, M., Gesprek met de Ander, Haarlem: Rozekruis Pers, 2003.

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O nosso olho direito está ligado diretamente à glândula pineal e à parte correspondente do cérebro.O nosso olho esquerdo, por sua vez, origina-se totalmente do pensamento cerebral comum, ointelecto da natureza, e com ele está ligado.Além disso, devemos ter em mente que o nossoaparelho intelectual é totalmente explicado, dominado e controlado pela vida de desejos, pelocorpo de desejos; portanto, pode-se dizer que o olho esquerdo é governado pelo fígado.Escrevemos sobre tudo isso para tornar claro para vós que alguém que ainda não esteja “inflamadopelo Espírito de Deus”, que ainda não abriu sua alma para a luz da Gnosis, tem de fato visãomonocular; o olho direito não pode ainda ser usado para a percepção interior, porque o acesso àparte cerebral da pineal conduz ao longo de um caminho que parte da glândula pituitária situadano centro da alma em direção à glândula pineal. No embrião humano os olhos crescem a partir dointerior da substância cerebral para fora. Quando a glândula pineal ainda não se abriu para a luzgnóstica, o olho direito não pode perceber essa Luz nem inflamá-la.

O mesmo ocorre com nossa audição: o ouvido direito colabora com o olho direito, assim como o ouvido esquerdo colabora com o olho esquerdo. O que o olho vê, o ouvido ouve. Ora, sabemosque a luz tem uma vibração mais elevada, mais intensa do que o som: na natureza comum, primeirovemos o clarão do relâmpago e somente depois ouvimos o estrondo do trovão.(Citado em Não há espaço vazio, de J. v. Rijckenborgh, São Paulo: Lectorium Rosicrucianum, 1984,cap.VIII.)

Page 15: A Liberdade do Plano de Deus

o contrário de todas as regras deconstituição do aparelho sensorial, ésob o impulso do próprio cérebro queaparece o órgão da visão. Na aberturados olhos o cérebro parece estar des-nudo em sua superfície! Sem a prote-ção da calota craniana.

Daí explica-se a sensibilidade espe-cial à luz das fibras nervosas querevestem o fundo do olho. A retinarecebe a luz e a transforma em impul-sos que são transmitidos ao cérebropelo nervo ótico. A “mancha amare-la” (macula lutea), minúscula porçãoda retina, possui uma grande concen-tração de células sensíveis à cor quenos permitem perceber os menoresdetalhes. A íris determina a cor dosolhos: castanhos, azuis ou verdes.

Goethe, que por volta de 1810estudava as cores1, indica um fenôme-

no interessante: as cores aparecemgraças à sua polaridade oposta. Pinto-res como J.M.W. Turner, os pré-rafae-litas na Inglaterra por volta de 1850, enos Países-Baixos os artistas do grupo“de Ploeg” entre 1920 e 1940, traba-lharam em função deste fato. O ensi-namento de Goethe, que se dirigiaespecialmente aos pintores, foi oresultado de suas próprias percep-ções. Cada um de nós pode fazer asmesmas experiências. Tudo se baseiana oposição entre o preto e o branco,ou o escuro e o claro. Se olharmos alinha de demarcação entre o branco eo preto, através da neblina, um vidroopaco, um prisma ou qualquer coisaque refrate a luz, então observaremostons azuis sobre um fundo negro etons amarelos sobre um fundo bran-co. Intensificando essas duas cores

Conhecer Deus no âmago das coisas

O ânimo do homem se expressa pelos olhos.

14

No feto humano, em dois pontos docérebro, duas saliências, como queimpelidas pela curiosidade de conhe-cer o mundo exterior e atraídas paraa luz de fora, se formam e crescematé a pele. Então, na pele surgemduas pequenas protuberâncias quese convertem em olhos incipientes,com a formação de duas lentes. Oolho se desenvolve do interior parao exterior, ao contrário dos outrossentidos!

A

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básicas, seus tons se tornam averme-lhados. O amarelo passa de laranja avermelho, o azul passa de azul escuroa violeta. Quando misturadas, dessasduas cores claras surge o verde, e seforem escurecidas surge o magenta.

As cores básicas são complementa-res. Goethe demonstra por meio detestes que, ao fechar os olhos após terolhado para uma superfície laranja,surge o azul; após o verde, surge overmelho; após o amarelo, o violeta evice-versa. É possível fazer váriascombinações com o círculo das cores.Uma característica interessante é quecores que não são complementaresnão se tocam no círculo. Cores purasformam combinações harmoniosas.Há ainda muito a ser observado. Porexemplo: o sol no zênite tem uma cortotalmente diferente que no poente; a

cor do céu acima do arco-íris é sem-pre mais escura que abaixo.

Ao lado da radiação visível do solhá radiações (solares) invisíveis comoo ultravioleta, o infravermelho, osraios-X, os raios gama. Quanto maiscurto for o comprimento de onda daluz, mais a radiação é perigosa para oser humano. Embora invisível ao olhohumano, ela está presente. O mesmose dá com o magnetismo e a eletrici-dade. Goethe diz que as cores são “asações e sofrimentos da luz”. Esta cita-ção célebre remete-nos implicitamen-te à luta entre as trevas e a luz. Seráessa a luz que se esforça para sair dastrevas? Mas a luz não pode fazeroutra coisa senão irradiar, doar-se,iluminar. Ou então são as trevas quese esforçam para resistir à luz, paramascará-la, encobri-la?

A glândula pineal,

maravilhoso órgão

onde a alma

purificada restabelece

a ligação com o

campo do Espírito.

Obra que mostra, no

cérebro, a localização

desse órgão que

desempenha um

papel decisivo no

equilíbrio hormonal.

Foto © Science

Photo Library.

15

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Voltemos à biologia do olho. As co-res não são relevantes para se ter umaboa ou uma má visão. Tudo isso é amanifestação de algo que se desenvol-veu através de um combate para sairdas trevas para a luz, tal como umaplanta que cresce em direção à luz eadquire coloração2. O semblante tam-bém adquire “cor” mediante a cor dosolhos. Trata-se de uma magnífica ex-tensão deles. Não consideramos oolho apenas como órgão da visão, mastambém como elemento constitutivoda fisionomia. Por exemplo, não dize-mos que alguém possui uma “audiçãointeressante”, mas sim que possui umafisionomia interessante. Seria devidoao fato de os olhos ficarem exatamenteno centro da face? Falamos de “olharexpressivo”, mas também dizemosque “os olhos são o espelho da alma”.A alma dos homens se expressa nosemblante, especialmente nos olhos.

Da audição à visão

Em 10 de janeiro de 1996, no Groe-ne Amsterdammer, M. Corbussemdenunciou o que ele chama de “o ter-ror do olho”. O ouvido cede cada vezmais ao olho. A supremacia do olhose impõe no domínio musical: óperas,comédias musicais, música pop, vídeoclipes. Há um século escutava-semúsica por ela mesma, enquanto quehoje a música é mais “olhada” do queouvida. Isto não é um fenômenoassim tão recente. A soberania doolho teve início a partir do séculoXVII com as ciências racionais. A“percepção” sempre leva ao conheci-mento, e conhecimento é poder.Depois dessa época, o ouvido, o pala-dar e o olfato foram negligenciados,pois a incerteza e a variabilidade des-ses sentidos tornou a aplicação e aaceitação de suas análises algo impos-sível. Mas, e as ilusões de ótica? Va-mos dar dois exemplos simples. Veja-mos primeiramente o que um rápidoolhar nos oferece. Em seguida, o quepodemos observar numa abordagemmais atenta, se quisermos nos abrir ounos esforçar.

O instrumento da visão, “o olho”,nos faz crer naquilo que queremosver. A psique quer ver algo; o cérebroquer constatar alguma coisa. Ambosse “apoderam” desse órgão maravi-lhoso e determinam o que o olho vê,por exemplo, na televisão, na publici-dade, nos filmes, etc. Não vemos arealidade, mas sim aquilo que imagi-namos. Vemos, portanto, somenteaquilo que temos condição de ver oude aceitar.

Porém, ainda existe algo mais comrelação a nossos olhos. Dissemos queos olhos são o espelho da alma e queeles revelam a vitalidade, o ânimo.Quem não se recorda de ter admirado

16

De Homine, René

Descartes. Gravura

mostrando como se

pensava que uma

imagem do olho era

transmitida à pineal

(H). Descartes

(1596-1650)

concluiu que “a

relação entre b

(sinal de recepção)

e c (ação) é um

mistério insolúvel

que pertence à

natureza da alma”.

© Science Photo

Library.

Page 18: A Liberdade do Plano de Deus

um par de “olhos irradiantes”? Essefoi um momento em que verdadeira-mente fomos tocados. Momentos deamor, de compreensão, de respeito,encontros inesquecíveis. Vemos que,por detrás disso tudo, alguma coisanos comoveu, algo de que não estáva-mos conscientes no momento. Fomostocados por algo transcendente.

No capítulo 12 do Tao Te King, olivro de sabedoria chinesa, datando de2600 anos, está escrito:As cinco cores cegam a vista, os cinco sons ensurdecem os ouvidos,os cinco sabores corrompem o paladar.As perseguições e as lutas desenfreadasmergulham o coração humano noerro. Os bens de difícil aquisiçãoincitam a atos funestos. É por issoque o sábio se ocupa de seu própriointerior, e não de seus olhos. Ele rejeita o que vem do exterior edeseja o que está no interior.

Jan van Rijckenborgh e Catharosede Petri 3, em seus comentários ao TaoTe King, afirmam que os fenômenosacima descritos entravam profunda-mente os verdadeiros poderes da per-sonalidade. Portanto, a pretensão doshomens de poderem observar a reali-dade parece discutível. E a importân-cia dada ao mundo exterior faz-nosignorar nosso verdadeiro interesse:ver o nosso próprio interior.

A alma pode ser reconhecida atra-vés da luz vivente que ela irradia.Quer o olhar se volte para o interiorou para o exterior, aquilo que nosanima bem como o nível em que nosencontramos é sempre perceptívelatravés dos olhos. Eles refletem essesestados. Podemos ler nos olhos cadaestado de espírito, cada estado dealma e até mesmo cada emoção.

A concepção corrente de que a sen-sação de luz é causada pelas vibrações

etéricas que, em seguida são transmi-tidas pela retina aos nervos óticos, edestes para o cérebro pode, quandomuito, abranger os aspectos biológi-cos da visão.

A pineal como instrumento de percepção

Se a orientação do buscador seaprofunda e em conseqüência dissoseu fio condutor se torna mais seguro,as circunstâncias exteriores passam adeterminar cada vez menos seu cami-nho. Então ele ingressa num estadoneutro, pleno de claridade, permane-cendo, não obstante, bastante ativo ealerta. Nisto a pineal tem um papelchave. Há milhões de anos, o serhumano possuía apenas um olho e apineal funcionava como instrumentode percepção. Os olhos, tal como osconhecemos, apareceram somentemais tarde e a pineal foi perdendoprogressivamente sua importância,atrofiando-se logo em seguida, nocurso da evolução. Porém ela aindatem uma grande importância noritmo entre o sono e o despertar. Esseórgão é sensível à luz. A luz captadapela retina dirige-se igualmente para

A quina de um

cubo ou um cubo

num canto?

17

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18

esse “relógio interno”. Na pineal, aluz estimula a produção dos hormô-nios que nos mantém acordadosdurante o dia, enquanto que na ausên-cia de luz a produção da melatoninabaixa, o que nos torna sonolentos.

Os sentidos e o poder mental sãovias de circulação de energias queoperam graças aos diferentes chacras,sendo que o chacra ligado à pineal é omais importante. Na literatura esoté-rica, a pineal é denominada “terceiroolho”, e por estar diretamente ligadaaos olhos, ela sempre reflete o cami-nho seguido pelo buscador.

Deus é luz. Deus é amor. É buscan-do que aprendemos a conhecer Deusem nosso interior e no interior detodas as coisas. Então os sentidos e omundo já não têm um papel determi-nante, pois a força da Luz preenchetodo o espaço à nossa volta.

No livro Não há espaço vazio, Janvan Rijckenborgh escreve:Assim, o olho, com referência à suaverdadeira função, é cego, inativo.Nesse estado, nós olhamos para omundo e a humanidade exclusiva-mente com a nossa natureza dedesejos e a atividade mental subme-tida a ela. Conseqüentemente, nos-sas funções visuais são totalmenteautocentralizadas e automantenedo-ras. Assim, tudo o que olhamos ésempre com o objetivo: o que é queme agrada? O que pode servir paraalimentar o meu eu? O que pode serum deleite para mim? 4

Com nossos olhos e de acordo comnossa personalidade e magnetismonatural, ocupamo-nos das coisas exte-riores e com a conservação de nossoeu. Mas somente quando nos volta-mos para o interior, para o maisrecôndito de nosso ser, é que pode-mos assegurar a grande transforma-ção de nossa alma, portanto de nosso

estado magnético. Então o amor pas-sará a irradiar de nossos olhos. Quãonotável, portanto, soam as palavrasdo 12º capítulo do Tao Te King:É por isso que o sábio se ocupa deseu próprio interior, e não de seusolhos.

FONTES:

1. Goethe, J. W., Doutrina das cores,

São Paulo, Nova Alexandria, 1993.

2. Soesman, A., De twaalf zintuigen

(Os doze sentidos) Zeist, Christofoor, 4.

ed., 2005 (citado no quarto capítulo).

3. Rijckenborgh, J. v. e Petri, C. d.,

A gnosis chinesa (em preparação).

4. Rijckenborgh, J. v. e Petri, C. d.,

Não há espaço vazio. São Paulo:

Lectorium Rosicrucianum, 1984.

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19

“Com a medida com que medis

sereis medidos”

A evolução da consciência cerebral, no decorrer dos tempos, deu ao homem ainteligência e o poder de fazer uma idéia objetiva do mundo. Daí ele conce-beu um sentimento de superioridade e a ilusão de que o mundo girava aoredor dele. Com efeito, não era o mundo o sujeito e o objeto de uma percep-ção que partia unicamente dele? Nessas condições, o homem passou a experi-mentar uma cisão entre si mesmo e o resto do Universo, enquanto sua perso-nalidade se tornava cada vez mais autoconsciente.

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e início, o ser humano sentia-seligado a todas as criaturas viventes, eparticularmente à sua tribo ou família.Mas a crescente sensação de que eleera seu próprio corpo físico impedia-o de se libertar de seus desejos etemores, reflexos nascidos do instintode conservação da personalidade. Ofuncionamento da inteligência estáestreitamente associado aos sentidos,como diz Hermes: “A percepção sen-sorial e a atividade mental estão, pois,no homem, unidas como se fossementrelaçadas, porque não há atividademental sem percepção sensorial, nempercepção sensorial sem atividademental”1.

Um mundo aparente

A ciência empírica não existe foradas percepções sensoriais: os fatos emprimeiro lugar, a teoria depois. Esta ésua divisa. A pesquisa se fundamentana observação e na experimentação.Em suas análises e julgamentos, aciência permanece fiel aos fatos esta-belecidos. As hipóteses se apóiam so-bre fatos. Porém, estes últimos depen-dem das informações do mundo apa-rente, o mundo dos fenômenos exter-nos. Para a filosofia, trata-se da “reali-dade fenomênica”. Mesmo apoiando-se nos fenômenos externos, percebi-dos sensorialmente, não podemosdizer que o cientista alcance a verda-de. Apesar da exatidão de suas medi-das, ele não é assim tão objetivo quan-to parece. Se quisesse ser verdadeira-mente objetivo, ele teria de admitirque mesmo medindo tudo o que vê,ouve, saboreia e toca, a ciência semprepermanece dependente de suas per-cepções. Então, ele chegaria à descon-certante conclusão: a realidade perce-bida é deformada pelos sentidos! Apura percepção sensorial sofre as

deformações do intelecto e dos senti-dos; a verdadeira observação científi-ca não passa de um belo ideal.

O pensamento científico atual com-prova esse fato e utiliza para isso o“princípio da incerteza”. Ele constatater chegado ao ponto em que espíritoe matéria se tocam e se influenciamreciprocamente. É impossível, porexemplo, prever quando uma onda ouuma partícula pode ser observada. Aciência se limita ao mundo dos fenô-menos e deixa a outros a última pala-vra a respeito da verdadeira realidade.Ela admite, com certa modéstia, que arealidade é incognoscível porque nãoexiste nenhum sentido que possa per-cebê-la, mas se refere a essa realidadecomo pertencendo ao domínio da ilu-são. Seguindo a mesma linha de argu-mentação, a ciência é co-habitante des-se reino de fábulas, na ilusão de que osfenômenos podem ser tomados porcoisas reais, por fatos científicos. Daíela acaba sendo medida com a mesmamedida com que mede.

Isso não é nenhuma novidade, e de-vido aos limites da observação empí-rica, torna-se cada vez mais claro para

D

Page 22: A Liberdade do Plano de Deus

os cientistas que devem buscar outroscaminhos. Eles concebem, portanto,uma teoria que faz abstração dos fatose que pode conduzir a uma compre-ensão. Para as inúmeras percepçõesconcretas eles buscam uma definiçãogeral. Com novas imagens, novos con-ceitos, tentam, em vão, compreendera realidade. Finalmente, a ciência temde admitir que a totalidade dos fenô-menos não pode ser compreendidapor um raciocínio abstrato. A percep-ção “especulativa” continua constru-indo a partir de partes, de fragmentos.É um caminho no qual o homem nãopode alcançar a verdade absoluta.Mesmo em sua forma mais sutil, osaber empírico se refere tão-somenteao que é finito, limitado: a percepçãosensorial.

Dessa forma, o infinito está semprefora de nosso alcance, porque o pró-prio observador científico parece es-tar sempre na direção errada. O pró-prio cientista é o último obstáculo, ofator perturbador na pesquisa cientí-fica. Aquilo que ele percebe é, em pri-meiro lugar, sua própria criação, e nãoos traços da realidade; é um produto

de seu próprio mundo imaginário“despertado pelas imagens do so-nho”2.

As mídias não são meios deexpansão da consciência

E a tecnologia? O desenvolvimen-to de instrumentos de pesquisa, domicroscópio ao satélite, serviu paraum maior refinamento da observaçãoe, portanto, para a descoberta de mui-tas coisas novas. Contudo, a ciênciaproduziu algo útil com relação a nos-sas necessidades básicas. Em seguida,passou a criar rapidamente sempremais novidades, que, à primeira vista,parecem tornar a vida mais fácil, masque rapidamente se voltam contranós. Esses “recursos” submetem cadavez mais o homem às limitações deseu campo de pesquisa, confrontan-do-o mais do que nunca com as res-trições desse ponto focal. Mesmo osmais sofisticados meios de comunica-ção visual não abrem, na verdade, ne-nhuma janela para o mundo, porémdeformam e confundem de uma novamaneira! Como a “mídia”, eles impe-

21

Mosaico romano do

piso de um túmulo,

em Sousse (Tunísia),

metade do século III,

hoje no museu do

Bardo,Tunis. Nele

está representado

o desembarque

e a pesagem de

mercadorias.

Page 23: A Liberdade do Plano de Deus

Ferragem de

porta chinesa, em

forma de serpente

enrolada, dos

tempos dos

impérios guerrei-

ros. 1050-256 a.C.,

Paris, Museu

Guimet.

22

dem o homem de ver a realidade e osubmetem a todos os tipos de mani-pulação. Pensemos nas “fotos digitais”:um retoque na imagem elimina tam-bém informações vitais.

Assim, o fosso entre o homem e arealidade se torna maior. A realidadese decompõe, cai em pedaços, se frag-

menta completamente. Mais do quenunca, o homem é remetido de volta asi mesmo. Terá ele se tornado umquebra-cabeça? Sim, ele se tornou umquebra-cabeça para si mesmo, tãofragmentado quanto o mundo que ocerca. Eis a ironia: a inteligência nãonos elevou acima das fronteiras do

“A faculdade de pensar relaciona-secom a atividade mental, assim comoDeus se relaciona com a naturezadivina, porque a natureza divina pro-vém de Deus, e a atividade mental, dopensar, que está aparentado com oVerbo.Ou melhor: a atividade mental e oVerbo são instrumentos um do outro,pois o Verbo não é proferido semuma atividade mental, e a atividademental não se torna manifesta sem oVerbo.A percepção sensorial e a atividademental estão, pois, no homem, unidascomo se fossem entrelaçadas, porque

não há atividade mental sem percep-ção sensorial, nem percepção sensorialsem atividade mental. (vers. 3, 4 e 5)Vou voltar agora a meu discursosobre a percepção. É, pois, próprio dohomem unir a percepção com a ativi-dade mental. Todavia, como já disseantes, nem todo o homem dispõe deuma mente; porque há o homemmaterial e há o vero homem espiri-tual. O homem material, ligado aomal, recebe, como já disse, o germede seus pensamentos dos demônios;o homem espiritual, porém, é ligadoao bem e é guardado por Deus parasua salvação.Deus, o Demiurgo do Todo, formatodas as Suas criaturas segundo a Suaimagem, porém elas, boas segundoseu fundamento primordial, desvia-ram-se no uso de sua força ativa. Daía retribuição da terra, que, ao moê-las, produz os gêneros em várias qua-lidades, alguns maculados pela malda-de, outros purificados pelo bem. Por-que, Asclépio, o mundo tem tambémsua faculdade de percepção e sua ati-vidade de pensar, não da maneira doshomens, nem tão variadas, porémmais sublimes, mais simples, mais verí-dicas.” (vers. 13 e 14)

De: A Arquignosis egípcia, t.3, deJ.v.Rijckenborgh, 11º livro: Sobre a

mente e os sentidos.

Page 24: A Liberdade do Plano de Deus

mundo, mas nos encadeou ainda maisfortemente. O homem se uniu a estemundo e este, cada vez mais comple-xo, o mantém prisioneiro. “Nem todohomem dispõe de uma mente.”

Devemos, então, “voltar ao natu-ral”? Isto é tão insensato quanto im-possível. Não faz sentido glorificar ocorpo devido à confusão do intelecto.A cisão entre fato e percepção, teoria erealidade, que freqüentemente atri-buímos ao funcionamento do intelec-to, intervém mesmo na experiênciasensorial. O mundo que conhecemosatravés dos sentidos é também aqueledo qual estamos irrevogavelmenteseparados. Nosso poder de percepçãonunca é total porque vemos de modofragmentário. O espaço e o tempocondicionam a percepção sensorial.Somos incapazes de perceber tudo aomesmo tempo. Nossos sentidos sãoligados ao tempo e espaço! E, coinci-dente com nossas próprias limitaçõesde espaço e tempo, só podemos captarum vislumbre da verdade. São os mes-mos limites contra os quais a ciênciase choca irremediavelmente. A evolu-ção no interior da realidade sensoriale o desenvolvimento da ciência sem-pre nos conduzem a um limite.

E se a solução fosse remover esselimite? Clarividência, clariaudência?A ciência de mente aberta abre espaçoao paranormal e à percepção científi-ca dos fenômenos mediúnicos e espi-ritistas. A popularidade das ciênciasparanormais já chega a eclipsar apopularidade das assim chamadasciências empíricas clássicas. Não obs-tante, por mais que o pesquisadorcientífico negue os limites externos einternos, ele não consegue vencê-los.O campo de pesquisa é realmentevasto, porém, ao mesmo tempo, ocerne do problema é repudiado. Essamudança do nível de percepção torna

ainda mais difícil desmascarar a ilu-são, pois tudo aquilo que podemosdizer sobre as falhas da percepçãosensorial é ainda mais válido para apercepção extra-sensorial. As faculda-des de percepção da matéria sutil tal-vez nos conduzam além dos limitesda matéria, porém nos ligam aindamais fortemente às ilusões própriasdo mundo. Às ilusões do mundo visí-vel vêm se juntar outras, criando umuniverso do qual é ainda mais difícilescapar. Ou do qual não conseguimosescapar, porque não percebemos queestamos presos. Os muros são invisí-veis, e facilmente acreditamos que jáescapamos. E o que pode ser dito darealidade aparente comum, é quepelos seus limites podemos perceber averdade em relação a nós mesmos ever nossas falhas mais rapidamente. Ésempre melhor que a consciência devigília busque sair do impasse de suaprópria realidade do que fugirmos pa-ra um mundo intermediário e sonhar.

Aquilo que é válido para as expe-riências sensoriais o é também para aciência empírica. Uma vez atingido olimite, pode-se vislumbrar uma saída.Os limites, no final das contas, des-pertam por sua vez o desejo de liber-tação do espaço-tempo, de avançarem direção a um conhecimento que jánão é sensorial. Porque “não é, entre-tanto, a mente que chega à verdade,porém, a alma ligada ao Espírito temo poder, depois de ser guiada primei-ramente a essa via pela mente, deavançar rumo à verdade”3.

O mundo do “ser”

Impressões e constatações formamuma cadeia infinita de elementos queturbilhonam em nosso intelecto. Ex-ploramos a superfície do globo semconseguirmos penetrar seu cerne.

23

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“Parem o mundo, pois quero des-cer!”, gritamos desesperados. Contu-do, temos de sair também de nós mes-mos, temos de nos livrar de toda essabarafunda de impressões, reações,experimentações, idéias, pensamentose aspirações. Como?

A solução surge quando como numrelâmpago uma totalmente novacompreensão irrompe. De repentecompreendemos que em nós estemundo escuro e confuso, este endure-cido mundo das coisas, pode ser rom-pido e aberto. Compreendemos quenossos sentidos nos mostram exata-mente a sombra da luz – que não que-remos descobrir em nós mesmos eque não queremos aceitar como ver-dade. A compreensão de que fomosapartados do mundo tangível, unica-mente para pesquisar em nós mes-mos. O mundo real não é perceptívelde fora através dos sentidos externos.Esse outro mundo da luz, a verdadei-ra realidade, que não é o mundo feno-mênico, nada mais é que o “ser”, quesó pode ser percebido com o olhoespiritual. Ele se mostra àquele cujaconsciência se transformou completa-mente: “Ela abrirá de par em pardiante de ti as portas das suas câmarassecretas, desnudará ao teu olhar ostesouros ocultos nas profundezas doseu seio virgem. Impoluída pela mãoda matéria, ela revela os seus tesourosapenas aos olhos do Espírito - osolhos que nunca se fecham, os olhospara os quais não há véu em todos osseus reinos”, diz A voz do silêncio4.

O conhecimento que desse modoadquirimos já não é empírico, porémnasce e se revela interiormente. Elenão é o resultado de impressões exter-nas. Trata-se de uma Gnosis, que fluidiretamente da fonte original. Elanasce no coração onde o infinito nostoca diretamente de dentro. O verda-

deiro saber interior provém da revela-ção divina. Derivada da idéia original,ela é refletida pela matéria primordial.Ela é a Verdade, e não tem necessida-de de provas. Não se trata de um con-junto de conhecimentos especiais,porém ela é una e universal. Eventual-mente ela se faz conhecer por signosou imagens, ela é traduzível em con-ceitos e teorias, mas transcende final-mente toda forma de pensamento,percepção sensorial e entendimento.Deixemos, por fim, a última palavra aHermes: “Se não te fazes igual a Deus,não podes compreendê-lo: porque sóo semelhante compreende o seme-lhante. Cresce e eleva-te a uma gran-deza incomensurável, ultrapassa to-dos os corpos, vai além de todo otempo; torna-te eternidade. Entãocompreenderás a Deus. Compenetra-te do pensamento de que nada é im-possível para ti, considera-te comoimortal e em condições de tudo com-preender, toda a arte, toda a ciência, anatureza de tudo o que vive”5.

NOTAS:

1. Rijckenborgh, J. v., A arquignosis egípcia.

São Paulo: Lectorium Rosicrucianum,

1989, t. III, livro 11, vers. 5.

2. Idem, tomo III, Livro 11, vers. 7.

3. Idem, tomo III, Livro 11, vers. 25.

4. Blavatsky, H.P., A voz do silêncio.

São Paulo: Pensamento, 1991.

5. Rijckenborgh, J. v., A arquignosis egípcia,

São Paulo: Lectorium Rosicrucianum,

1984, t. I, livro 2, vers. 78 – 80.

24

Page 26: A Liberdade do Plano de Deus

Deve estar claro que aquele que se en-trega a sugestões de natureza egoísta,por mais disfarçadas que sejam, outracoisa não faz senão reforçar essa ten-dência. Essa pessoa se torna um peritoem matéria de egocentrismo: “Nãocreias que a luxúria pode alguma vezser morta se é satisfeita ou saciada”,lemos em A voz do silêncio1. Seme-lhante prática é um obstáculo a umdesenvolvimento superior.

quele que busca por intuição vol-ta-se, de modo geral, para os “guiasinteriores”, tão louvados por todaparte. Tal pessoa pode ser induzida aoerro. O homem ingênuo, que aspira aser bom, sem que para isso tenha aforça em si mesmo, procura a ajuda“do alto”. Ora, o “lá no alto” encon-tra-se muito ocupado no momento. E

pensais em uma vida “inspiradora”,que parece superior ao homem quebusca orientação. Mas, como busca-dores, como podeis precisar o nívelespiritual desses guias? Somenteaquele que melhora a si mesmo podever se outro também pode melhorar,não é mesmo? E quem for capaz dejulgar a sabedoria de um guia nãotem, de fato, necessidade algumadesse guia. Ele depende de seu conhe-cimento interior.

Todos que desejam realmente co-nhecer a verdade, mesmo que ela nãoseja aquela que vêem através de suajanela, conhecê-la-ão, pois cada um atraz dentro de si como um projeto dohomem superior e para o homem su-perior. E cada um que se orienta poresse critério passa realmente a serguiado a partir de seu interior. E sequiser conhecer a verdadeira face de

O instante da intuição

O túmulo do

mergulhador.

O momento em

que o mergulhador

se atira ao mar

do alto de uma

plataforma,

representa um

símbolo da ressur-

reição, segundo

Pitágoras. Paestum

(Itália), 480 a.C.

25

A

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26

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27

seu guia, poderá fazê-lo. Ele será ca-paz disso mediante a “intuição”, por-que tem um desejo sincero que está deacordo com a intenção divina.

Mas aquele que não está prontopara conhecer a verdade, pronto parasuportá-la, deixa-se manobrar e enga-nar dando ouvidos à voz sedutora quelhe sugere ser ele mesmo o homemsuperior, ou então qualquer outracoisa que alegremente deseje ouvir.Imediatamente, ele se dirige para umdos numerosos institutos ou guiasque oferecem cursos para o desenvol-vimento da intuição, uma forma su-perior de conhecimento oniabarcanteque indica sempre a boa direção.Tudo isso é bastante sedutor e ofereceum sem número de possibilidades:pintura intuitiva, gerenciamento in-tuitivo, educação intuitiva de crianças,sem contar que ela pode, segundo osque ministram esses cursos, ajudar aencontrar objetos perdidos. Decidi-damente, a intuição está na “moda”!

Que confusão! A intuição é o guiainterior e faz parte, junto com a eleva-da razão, das capacidades do homemsuperior. Não é o homem terrestreque galga a escada para uma oitavasuperior, mas um outro homem, onovo homem. A verdade é sempresimples. Todo aquele que quer conhe-cê-la e atenta para a primeira coisaque lhe vem ao espírito, assim como érecomendado nos cursos de intuição,faz somente uma outra pergunta: elepergunta pela verdade.

“Não a minha vontade...”

O projeto, o plano divino, ignora avontade do eu, mas segue a vontadede Deus, também chamada “conse-lho” ou “força de Deus”. Não é comose o homem quisesse o que Deusquer, pois isso também é uma armadi-

lha, mas é querer como o centro deforça do Universo, que trabalha emnós. Aquele que realmente escuta essavoz desenvolverá a intuição e se colo-cará de lado para que o homem supe-rior possa respirar livremente, ver eouvir, saber e agir por meio dele.

Assim, ele conhecerá esse sabersuperior que é a intuição, o guia queage interiormente. Nessa submissão,tudo o que não se ajusta a ela desapa-rece e tudo que se harmoniza eleva-seno novo homem.

Ele segue, então, pleno de alegria, ocaminho que julga dever seguir, o seuverdadeiro caminho de vida. Em suarota, encontra tudo o que pode con-correr para sua realização, e todos queo rodeiam, consciente ou inconscien-temente, são considerados segundo aperspectiva do novo homem.

O caminho o leva para lugares quejamais teria escolhido e o faz entrarem contato com pessoas que talveznão tivesse escolhido. E, contudo,esses lugares e essas pessoas se lhe tor-nam extremamente caras. Aquele queouve a voz das profundezas curva acabeça cheio de admiração e de sedede aprender, feliz em reconhecer quea força central o guia muito melhor doque ele mesmo o faria, sustentandoseu próprio desenvolvimento e seusempreendimentos, porque sua vonta-de se ajusta à força denominada von-tade de Deus. Tudo o que ele abando-nou, talvez com muita dificuldade edor, é-lhe dado de volta de uma outramaneira, assim como a completalibertação pode ser expressa pelogrande paradoxo: “Quem quiser sal-var a sua vida perdê-la-á; mas quemperder a sua vida por amor de mimachá-la-á”. (Mateus 16:25)

1. Blavatsky, H. P. A voz do silêncio. São Paulo: Pensamento, 1991.

A musa Euterpe

toca graciosamente

sua lira enquanto

um pequeno pássaro

a escuta. Dos vasos

gregos com fundo

branco, como o que

aqui vemos, ca. 440

a.C., se destaca uma

impressão de sereni-

dade em um

ambiente meditativo.

Eles serviam apenas

como presentes

funerários.

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Aquele que se interessa pelo campo espi-ritual precisa pensar em dois níveisquando se trata de faculdades sensoriais.Além dos “cinco sentidos comuns”, exis-tem ainda: a visão da alma, que nospermite observar a elevada vida da al-ma, a audição interior, que compreen-de a voz do coração, e os sentidos ele-vados do olfato, do paladar e do tato.Na literatura mundial encontramosmuitas referências desse tipo, e os clas-sificamos de planos concreto e abstrato.

os “cinco sentidos comuns”, a au-dição e a visão são os que mais pos-suem objetividade: é possível, em umcurto espaço de tempo, abstrair-se,tornar-se “cego” e “surdo”, nada “ver”,nada “ouvir”. Para as sensações, o casojá é diferente, pois além de sentirmosa dor física – uma dor de cabeça ou ador de uma torção – temos também acapacidade de sentir uma atmosfera,uma situação, ou aquilo que devemosfazer em dado momento. Nós tam-bém podemos nos fechar a essas im-pressões. Já o medo, a aflição e a an-gústia são completamente subjetivose deles dificilmente conseguimos fugir.

O “paladar” está tão intimamenteincorporado a nós, que facilmente es-quecemos que ele também é uma fa-culdade sensorial. Ele é também umcritério, um índice de nosso desen-volvimento. Um bom paladar consti-tui uma qualidade apreciada em todolugar, embora ele seja freqüentemen-te ditado pelo meio ambiente.

O Espírito que é puro amor

D

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Buda, pensador e

instrutor. Japão,

Chugu-ji, por volta

de 550-650.

O paladar em sentido superior

Nosso corpo é um maravilhoso ins-trumento concebido para “servir adois mestres ao mesmo tempo”. Alémde suas funções naturais, os órgãos depercepção são igualmente um pontode contato e um acesso aos impulsosda natureza superior, pelo qual nossaexistência terrestre pode ser explica-da. Isto é amplamente válido para otato, o olfato, e especialmente para opaladar. O paladar é uma indicação denosso estado-de-ser, e não nos referi-mos aqui à gastronomia nem a qual-quer tipo de “refinamento”.

Em geral, isto concerne tanto aoplano físico como ao plano da alma: oque penetra em nosso sistema, aquiloa que nos “abrimos”, fará de nós o quesomos; a maneira como nós o trans-formamos e o integramos mostrará oque somos. E aquilo que mostramosestá em parte sob nosso controle: emcerta medida podemos mostrar-nosdiferentes daquilo que somos, atémesmo criar uma certa ilusão para oexterior, mas, definitivamente, nãopara nós mesmos! Isso porque a últi-ma expressão do estado-de-ser repou-sa nas profundezas: na região do espí-rito, e isso significa: o Amor.

“Deus é Amor” era o credo da fra-ternidade dos cátaros. Ainda hoje ca-be-nos elevar nossa consciência aopensamento central da vida espiritualpara que eventualmente possamoschegar a uma consciência mais eleva-da. Deus é Amor. Em que parte nos

encontramos no caminho que leva aopuro campo de vida da unidade onia-barcante? O sentido superior do pala-dar dirá: “O que contamina o homemnão é o que entra na boca; mas o quesai da boca, isso é o que o contaminao homem”1.

Não é admirável que exatamente alíngua, que nos permite falar, seja aomesmo tempo coberta de papilas gus-tativas? Serei pesado por cada palavraque sair de minha boca e dela dareiconta: a doçura da resignação benévola,a amargura de um ego ofendido, oranço ácido de uma palavra indelicada.

À medida que nos aproximamos daunidade do Amor divino e que a elanos confiamos, a sensibilidade do pa-ladar se torna mais refinada e cada vezmais concreta. E o órgão do paladar jánão se limita à boca e à língua. Cadapalavra, cada pensamento, cada ato épassado pelo crivo do ser interiortransmutado.

Assim, o que entra no sistema, obem e o mal, é transformado em puroAmor pelo Espírito-em-mim – e irra-dia. Porque o Espírito é puro Amor,no qual já não há oposição, no qualtoda condenação é sublimada e so-mente o todo-bem permanece comorealidade. É nesse sentido que o Espí-rito testifica do que sai da “boca”. As-sim também diz o salmista: “Provai, evede que o Senhor é bom”2.

1. Mateus 15:11

2. Salmo 34:8

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Crer antes de ver

Esta é a missão dada por Deus aos ho-mens: orientarem-se, em sua vida ter-restre, para a vida eterna e descobriremna forma transitória sua vida eterna.1

(Jacob Boehme)

quele que, fortuitamente ou não, sevê num lugar desconhecido, sente ne-cessidade de marcar os lugares, de fa-zer uma idéia clara das circunstâncias ede tudo o que o cerca, de descobrirseus ruídos e seus odores. Ousado,porém prudente, ele registra todas asimpressões da vizinhança e avança,tateando, buscando um ponto deapoio para sentir-se seguro.

Nossos sentidos nos permitem fa-zer uma idéia bastante completa domeio em que vivemos, das circunstân-cias e do lugar que ocupamos. A par-tir daí, orientamos nossa vida a curto ea longo prazo. Também encontramos,naquilo que nos cerca, os agentes denossa motivação que chamamos “asede de viver”. Em suma, os sentidosnos proporcionam, sobretudo no iní-cio, todos os ingredientes necessáriospara dar à nossa vida um significado,uma direção e objetivos.

O ser humano vive em interaçãocom o Universo, faz parte dele, é unocom ele e não pode se imaginar foradele. Nada do que existe ou aconteceno Universo o deixa indiferente, mes-mo que geralmente ele não tenhaconsciência disso. Ele sofre suas influ-ências, e as mudanças acontecem len-tamente ao longo do tempo. Desse

modo, podemos considerar correta-mente a figura humana como um sis-tema extremamente sensível. Mas a re-cíproca também é verdadeira: cada umde nossos pensamentos e ações, tantoindividuais como em grupo, encontrauma ressonância no Universo.

As impressões que recebemos de nos-so meio são transmitidas através de vi-brações. Todas as percepções se devemàs vibrações de ondas luminosas ou so-noras. Vista espacialmente, uma vibra-ção se movimenta alternadamente aci-ma e abaixo de uma linha de nível ze-ro, oscilando entre positivo e negativo,entre alto e baixo, dentro e fora, sim enão... em maior ou menor mudançaantagônica. De um oposto a outro,com mudanças que podem variar detrilhões de vibrações por segundo ouciclos de milhares de anos. Um ciclocompleto, do zero ao pólo negativo ede volta ao zero pelo pólo positivo, sedenomina um período. O número deperíodos por segundo é denominadouma freqüência. A freqüência determi-na, entre outras coisas, o tom, a cor,bem como nossa reação ao meio-am-biente. Desse modo podemos sentir-nos bem em determinado lugar e nãotão bem em outro lugar semelhante.

O conjunto de freqüências de tons ede cores compõe o cântico da terra, àsvezes harmonioso e melodioso comoum sol de aurora ou o cântico vesper-tal de um melro, e às vezes ameaçadorcomo uma tempestade, às vezes cheiode ódio e medo como os gritos deguerra. Então, o homem inconsciente

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A

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abaixa a cabeça e suspira: “É a vida”.Ele tenta fazer o melhor que pode, atéo dia em que, de repente, o cântico daterra que há tempos vibrava nele, al-ternando entre a alegria e o lamento, éatravessado pelos acordes de uma ou-tra natureza; um toque que perturba emuda de tal modo sua visão de mun-do, em que o melro e a guerra já nãodão o tom. Experiência prodigiosaque abala as certezas, sem ter nada deangustiante, e é mais como uma melo-dia inaudível que se anuncia comouma nova canção no limite do audível.

Simples verdades?

No princípio era o Verbo – que ain-da ressoa e é. Em dado momento,

contudo, o homem se desviou de suainfluência e separou-se da vibração daorigem. Segundo o Gênese, pelo fatode o homem haver escolhido a árvoredo bem e do mal em lugar da Árvoreda Vida, o Verbo foi dividido em pala-vra e contra-palavra, iniciando-se as-sim um estado de separação. Cada“sim” contém um “não”, cada “a favor”um “contra”. A noção “bem e mal”subentende uma escolha; a unidade dohomem e do campo de vida originalfoi inevitavelmente rompida.

Estas são verdades simples, porémnão devemos subestimar seu valor;estamos aqui diante da pedra de cons-trução do Universo assim como elanos aparece: a oposição. Uma vibra-ção é, por definição, um movimento

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Fibras do

cristalino

© Science Photo

Library.

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duplo, um estado que se cria e se anulaincessantemente. Em realidade, perce-bemos energias que se condensam me-diante vibração para formar (aquiloque consideramos) “matéria”. Uma pai-sagem de altas montanhas, um ama-nhecer radioso, vós mesmos e o outro,não passam de uma fascinante dançade energias, de vibrações, de ondas,que nos dão a ilusão de uma realidadeabsoluta.

Sabemos que essas idéias fazem par-te de nossa existência cotidiana. Mas aconseqüência é que, aqui em baixo, nes-te mundo, um “sim” nunca é um verda-deiro “sim”, um “aqui” é ao mesmotempo transição para “outro lugar”.Existe tão-somente uma idéia, umpropósito, ou um ato imaginável quenão seja contestado? Até mesmo no-ções como saúde, riqueza ou felicida-de são coisas discutíveis. Diariamenteexperimentamos: este mundo é feitode contradições e nele nunca deixa-mos de nos surpreender ou de nosaborrecer. Isso é notável, pois na sabe-doria popular não é o homem qualifi-cado de “abismo de contradições”?

Em nada somos diferentes destemundo, apenas com uma exceção: oVerbo vibra no mais profundo de nos-so ser como uma promessa. Porque oVerbo é a Vida mesma, o rio da Vidaque nasce eternamente da fonte com aqual ele é uno.

O significado está na origem

Mas o Verbo não é tão fácil de sercompreendido. O Uno não conheceoposições, enquanto a criação e toda amanifestação somente existem naforma de antagonismos. Até mesmo aprópria luz é anunciada pelo evange-lista Lucas como “um sinal que seráalvo de contradição”2. Por isso a reve-lação começa com luz e trevas, terra e

mar, homem e mulher. A oposição é oúnico acesso à compreensão intelec-tual do homem, porque ela é a estru-tura fundamental de sua existência ter-restre. Tudo o que não obedece a esteprincípio o desconcerta. Ele vê, ouve,sente o Verbo, pois ele está nele, masnão consegue situá-lo nem exprimi-locom palavras, por isso ele duvidará.Teria ele imaginado? De onde, então,ele obteve essa imagem?

O homem somente pode concebera multiplicidade das coisas. Ele nãopossui o órgão adaptado para com-preender conceitos “simples” comounidade, amor, justiça – em seus ver-dadeiros significados. Ele não possuium corpo ou um sentido com o qualpossa reagir a eles. Quando muito, elepode sentir algo do Absoluto atravésde formas de arte como a poesia, apintura ou através do simbolismo.

Na impossibilidade de conceber oser absoluto, as civilizações de todosos tempos falam de um ser real quechamam de Pai, Tao, Luz, Brahma, Alá,“grande oceano da realidade divina”,sobre o qual flutuaria, como minúscu-la ilha, nosso mundo terrestre, quenós, contudo, percebemos como umUniverso ilimitado. Porque cada pen-samento e cada representação queprocedem da escolha entre as forçasgêmeas da árvore do bem e do malsão, como que por um tipo de lei, in-cessantemente remetidos de volta anós mesmos. A ciência moderna con-firma: “Nosso mundo está fechadoem si mesmo”3.

Trata-se, portanto, de um mundoonde cada sentido, cada orientação,cada motivação decorre da sua origeme nela é indefinidamente reabsorvida.A simplicidade do Verbo tornou-seuma diversidade de imagens, conso-nâncias e percepções que, amplifican-do-se cada vez mais, desafiam nossa

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Artist´s

impression.

Campo magnético

do olho:

o olho possui

uma radiação!

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atenção, forçando-nos a criar sempremais imagens-sons-estruturas para al-cançarmos a compreensão de mundo,que sempre nos escapa. Ou então au-mentar sempre a lista de nossas neces-sidades, queiramos ou não, para que àsvezes “ouçamos e vejamos”. “Infeliz-mente, o mundo se tornou uma selva enão se vê um fim para isso”, escreviaLao Tse cinco séculos antes de Cristo4.

Qualquer valor, aspiração ou idealque tenhamos é sufocado por nossapreocupação em nos mantermos nestemundo, pela urgente necessidade determos de “determinar os lugares on-de nos encontramos, de ver com o queeles se parecem, de descobrir seus ruí-dos, seus odores... de encontrar umponto de apoio para nos sentirmos emsegurança” e podermos “viver”. Destanecessidade nasce a educação, um en-sinamento padrão adaptado a um gru-po escolhido e que determina o que ésensato saber, para o que devemos“abrir os olhos” e a que devemos “darouvidos”. O programa educativo é deauxílio inegável – tudo é um auxílio –pelo menos no começo. Ele ofereceum ponto de ancoragem e de apoio nasociedade. A voz do indivíduo encon-tra o seu lugar no grande coral. Masexiste também o reverso da medalha: o

grande coral conhece apenas o cânticoda terra. Por mais apreciável que seja,o menu pedagógico está tão-somentea serviço da finalidade de nossos senti-dos, sem aos menos levar em conta ossinais inegáveis do “causador da per-turbação”, a voz do silêncio. Ele ofe-rece à nossa curiosidade um imensoleque de coisas apaixonantes de se co-nhecer, mas o “único necessário” estálonge de ser prioridade.

Acesso ao imaterial

Embora o homem, no curso de seudesenvolvimento, tenha se tornadosurdo, cego e insensível ao mundo ori-ginal que um dia ele abandonou, elecontinua, contudo, a ser conduzido enutrido inconscientemente pelo Ver-bo do início que o envolve, o penetrae o acompanha no caminho da vida,como possibilidade de retorno. Deque outro modo ele teria acesso aoabstrato, ao imaterial, à faculdade depensar e criar?

O pensamento tem necessidade deformar imagens, de fazer uma repre-sentação material de todo elemento abs-trato, por mais sutil que ele seja, a fimde compreendê-lo e eventualmentetransmiti-lo aos outros. Esta limitação

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infligida aos mais nobres ideais amea-ça torná-los em “idéias esculpidas”.

Pode acontecer, contudo, que emdado momento, a tensão entre seumundo ideal e o impulso de uma outraRealidade aumente de tal modo no de-correr das experiências que o homemfaça surgir uma centelha que escapa dopensamento-entendimento-razão eprovoque um curto-circuito, umaponte para o intransponível!

Esse curto-circuito, ou melhor, suaconseqüência, tem um nome: fé; pala-vra difícil de compreender e de utili-zar, surgida da necessidade do ser hu-mano que se sabe banido do Oceanoda vida original, de para lá retornar, pormeio de um ou de outro barco celeste.A obssessão primordial de não perdersua chance vem sendo há muito explo-rada por todo tipo de instituições e degrupos religiosos, fazendo com issocorrer tanto sangue e lágrimas.

A fé verdadeira orienta nossa aten-ção para o interior e abre dimensõesinsuspeitadas de nossas faculdadessensoriais. Nos horizontes de nossaconsciência se perfila a fria realidadeda existência, a árvore do bem e domal, o sinal enganador de uma vida emque o melro cantor e o brilho do solem ascensão suscitam uma emoção,mas continuam sendo desta natureza enão dão nenhuma resposta à nostalgiada alma. Através dos véus da ilusão,contudo, a alma capta a vibração deuma mensagem provinda do domínioalém da vida e da morte, celebrando airradiante manhã, a eterna luz. Nãoem um vago além, mas aqui e agora.

Se, contudo, consideramos a exis-tência como uma aprendizagem, co-mo um caminho de experiência de opo-sições e de extremos, o Verbo chegaaté nós de forma mais audível, todas asantenas e as sondas de nosso sistemasensorial se fundem em uma nova

consciência para formar um poderosoouvido: a alma que percebe.

A fusão de todos os sentidos temigualmente um nome: iluminação. To-mada de consciência, alinhamento,alegria, manifestando-se em um nívelde unidade que não procede do espa-ço-tempo e no qual nossa existênciaterrestre não tem qualquer participa-ção. O Verbo restabelece a ligação en-tre o núcleo do ser, o verdadeiro ho-mem, e a corrente original, o mundoda Luz.

A fé cria um novo sentido visual

Neste ponto, olhamos à nossa voltacom assombro e perplexidade. Aindanão temos uma idéia muito clara doque seja o “tu”. A fé é uma força vivaque ultrapassa nossos limites. Ela nãoexclui o eu, a personalidade, mas dá-lhe o lugar que lhe cabe, nem maisnem menos.

Então o modo como experimenta-mos – quem ou o que quer que seja -não tem mais nenhuma importância.Passamos de um sentimento de apri-sionamento a um sentimento de liber-tação conforme vivamos da antiga ouda nova personalidade, da antiga ou danova faculdade pensante.

De início, essa luz salvadora surgecomo um relâmpago para a consciên-cia. A fé é uma vibração de uma or-dem superior devido a um impulsonão-terrestre que irrompe como umacabeça-de-ponte sobre o território dopensamento-razão-entendimento. Afé não se apóia sobre fatos, aconteci-mentos, raciocínios; não se pode pro-vá-la, mas somente conhecê-la comoalgo que “é”, sem palavras, sem ima-gem, além de toda percepção senso-rial. Esse instante tão breve e tão inde-finível representa o choque decisivode nosso desenvolvimento interior.

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“A fé é uma base sólida para as coi-sas que ainda não se vêem”5. A fé criaum novo sentido visual; ela gera umavisão totalmente diferente. Um “cren-te” é alguém que conhece uma outrarealidade porque a viu e busca o cami-nho que leva até ela, mobilizando to-das as suas forças para esse objetivo.

Compreendemos essa “visão” co-mo uma nova percepção sensorial glo-bal muito diferente das faculdades co-muns da visão, da audição e da consta-tação. Trata-se da verdadeira percep-ção, atenta, que vigia as impressõesque penetram nosso sistema. Pode-mos falar aqui de uma contemplaçãoconsciente que exerce um controle crí-tico, que coloca em constante provaaquilo que é percebido e que ajusta avibração do Verbo. Esse ajuste possuitambém um nome: anseio.

Criar a realidade e não a ilusão

O anseio abre a uma receptividadeque poderíamos definir com a bemconhecida sabedoria popular: “ouvir,ver e calar”. Quando nosso tumultointerior diminui, percebemos, atravésdesse turbilhão sem fim, as formas e asidéias, “o Caminho, a Verdade e aVida”.

Para nossa razão analítica isso é asoma de tudo o que funciona comocanal de informação. Para a alma, é orestabelecimento do contato com oreino original. Quando os dois mun-dos se fundem, quase já não se trata depercepção, mas sim de “ser” original.O Caminho não é uma escapatória,um caminho de fuga como o da terra,que segue uma curva imprecisa, reme-tendo-nos sempre a nós mesmos ereforçando nosso aprisionamento. OCaminho do céu conduz à grandereconciliação, à unificação das vibra-ções terrestres e celestes.

Certamente é bastante assustadorpara a personalidade, enquanto siste-ma interativo com o plano terrestre,ter de renunciar a considerar estemundo como o objetivo da existência.Mas à medida que a fé, a voz da novaalma encontra maior eco nela e quesua aspiração se torna precisa, a esco-lha se torna mais evidente até que nãohaja mais escolha.

Não devemos nos iludir: a escolhanão nos é servida num prato. Enquan-to errarmos aqui na superfície da terraela reclamará seus direitos sobre tudoaquilo que tem para oferecer. É comose duas vozes ressoassem em nós: nos-sa atenção é atraída tanto pela podero-sa voz da terra como pelo murmúriodos Céus. E assim está tudo bem; ailusão e a desilusão preparam o acessopara uma nova faculdade sensorial apartir do discernimento entre o sonhoe a realidade, pois a existência terrestreé um sonho que deve ser vivido e des-mascarado. Permanecendo prisionei-ros das oposições, continuamos aoscilar entre esperança e temor, entre obem e o mal.

Quando adquirimos uma certaserenidade mediante fé e rendição àLuz, a vibração de nossa alma se apro-xima da linha “zero”. Diante da visãoespiritual se desdobra a corrente docampo de vida original, onde pode-mos viver. Fundir-se nessa correntetrará conseqüências incalculáveis,como “avançar de força em força e demagnificência em magnificência”.

1. Mikeleitis, E. Het verborgen Licht - orelha -

Den Haag: Servire, 1963

2. Lucas 2:34

3. Coleman, J. A. Relativiteitstheorie vor de

leck. Het Spectrum, 1959

4. Tao Te King, capítulo 20. Em preparação

5. O evangelho de Tomé, logion 22.

35

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Inúmeros são aqueles que dizem “terouvido Deus falar”. Então Deus fala?Por que Deus fala para certas pessoase outras não ouvem sua voz? Foi real-mente Deus quem falou? Em A vozdo silêncio lemos: “Antes que a almapossa ouvir, a imagem tem de se tor-nar tão surda aos rugidos como aosmurmúrios, aos bramidos dos elefan-tes uivantes como ao argênteo zumbirdo pirilampo de ouro”1. Este texto nãofala sobre ouvir a voz de Deus, mascomeça dizendo: “antes que a almapossa ouvir”. Portanto, não é eviden-te que a alma ouve.

respeito da faculdade de “ver” daalma A voz do silêncio diz, igualmente:“Antes que a alma possa ver, deve serconseguida a harmonia interior, e osolhos carnais tornados cegos a todailusão”

2.

Quando, no Velho Testamento,Moisés deseja ver a Deus, ele recebe aseguinte resposta: “Não poderás vera minha face, porquanto homem ne-nhum verá a minha face e viverá

3.

Também João, no primeiro capítulode seu evangelho, nos diz: “Deus nuncafoi visto por alguém”

4. Sabemos que

Buda evadiu-se dessa problemática,pois quando lhe perguntavam sobre aexistência de Deus, ele se calava.

Terminamos, por fim, nossa enume-ração com Lao Tse: “Se o Tao pudes-se ser definido, ele não seria o eternoTao. Se o nome pudesse ser pronun-ciado, não seria o nome eterno”5. Do

que precede fica claro, entretanto,que para ouvir a voz de Deus, deve-se ter alcançado um certo nível dedesenvolvimento interior.

Antes que a alma possa ouvir

No início, a alma somente “ouve”sua própria confusão interior. Elaapenas “percebe” aquilo que atraiu pa-ra si mediante seus desejos sob a for-ma de pensamentos que lhe chegampela cabeça. Quando se observa umapessoa no nível etérico, é possívelperceber como as nuvens de pensa-mentos surgem do lado direito docorpo, mais ou menos à altura da cin-tura, erguem-se acima de sua cabeça,para em seguida descerem e desapare-cerem no lado esquerdo do corpo.Essa circulação se nos apresenta nosentido dos ponteiros do relógio, aopasso que, se observamos esse pro-cesso em nós mesmos, o movimentose nos apresenta em sentido contrá-rio. Esses pensamentos que nós mes-mos geramos são, em certo sentido,seres viventes e, portanto, têm de seralimentados. Em outras palavras: elesdependem do éter de luz do cérebro,do qual surgem.

Por sermos criaturas desta nature-za terrestre, os pensamentos que pro-duzimos estão necessariamente liga-dos ao nosso campo de vida não divi-no. Eles contrastam com a naturezasuperior, o mundo divino, onde rei-nam a pureza e o amor.

Ora, poderíamos ser tentados a

A visão da alma

Vaso grande

com fundo negro,

(da Famille Noire)

datando do

período K´ang-ghi

(1622-1722).

Paris, Museu

Guimet.

A

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A principal característica da nova consciência é a “onipresen-ça”, que significa: experimentar e possuir todas as dimensõesdo cosmo, identificar-se com a manifestação universal, o simul-tâneo estar em toda parte e também não estar em lugaralgum, isto é,“não-ser”. É o que testemunham aqueles queexperimentam, pela primeira vez, a sensação da nova consci-ência. Mergulhar na onipresença; possuir e fazer parte de to-das as dimensões do cosmo. Fundir-se na manifestação uni-versal dá e cria uma realidade tão diferente daquela à qualestamos habituados no campo de vida terrestre, que somosinclinados, nessa invasão da universalidade, nessa total integra-ção nela, a negar todo foco de consciência, seja ele qual for.O aluno já não vê nem espaço, nem Logos, nem ordem, nemrazão, nem plano, nem criatura, nem aparência! Ele vê somen-te a Luz – na qual, bem-aventurado, ele se perde –, somentea força com a qual ele se torna uno, um glorioso nada oni-presente com o qual ele se identifica sem laços.Isso, todavia, não é senão uma primeira sensação, a primeira ma-ravilha da nova consciência. É o prelúdio, a alegre entrada dohomem celeste na nova Jerusalém.É a emoção do amor no qualo candidato submerge como em um bem-aventurado não-ser.E, então... então o olho de Shiva se abre, o olho de Dangma,o terceiro olho da mitologia, a porta celeste da qual faz men-ção o Apocalipse. Decididamente esse “olho de Shiva” nãoestá relacionado com a ligação da glândula pineal com ahipófise ativada do corpo dialético, como a união do fogo eda luz, mas é a ligação do poder pensante celestial com opoder pensante dialético tornado imaculado.E esse olho de Shiva, essa porta para o céu, para o estadoimutável da ordem divina, o reino dos céus do qual Paulofala, torna-se sempre mais claro, abre-se sempre mais ampla-mente à medida que o aluno consegue demolir seu velhotemplo para reconstruí-lo em três dias. Que aquele quepode compreender, compreenda!E, assim que esse olho de Shiva, com um olhar claro e lumino-so, contempla o novo mundo, após a ressurreição no tercei-ro dia – que é como escalar uma montanha – o aluno quese tornou onipresente não se torna esse não-ser místico, umbem-aventurado inebriado de luz, porém ele é e se torna,juntamente com aquele que conduz os céus e a terra, umrealizador, um co-herdeiro, um colaborador do plano deDeus, para o mundo e para a humanidade; ele é um membrovivente e consciente do Corpus Christi, da hierarquia divina dotemplo construído sem o som de martelos.A nova consciência torna o aluno capaz de participar do ex-traordinário processo de criação e purificação que, por ordemdivina, foi começado e continua para todas as criaturas”.Rijckenborgh, J. v., O mistério iniciático cristão – Dei gloria

intacta, 3 ed., Jarinu: Rosacruz, 2003.

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imaginar que o divino estabelece umaligação com a natureza superior pormeio dos pensamentos. Mas, pormais penetrantes que sejam, nossospensamentos pertencem a esta natu-reza, e por isso não podem alcançar anatureza superior. Devemos, portan-to, seguir um outro caminho.

A lembrança da natureza superior

Nenhum de nós se interessaria poressas coisas se não existisse em nósuma lembrança da natureza superior.De modo geral, essa lembrança se en-contra no limite da consciência. De-vemos observar que essa pré-memó-ria se origina de um princípio imate-rial no coração do homem. Dessaforma, ela não é registrada pelo cére-bro, mas fala-se de uma lembrança docoração: podemos observar um certodesassossego que desperta a buscapor alguma outra coisa, ou peloOutro.

Não precisamos, porém, permane-cer apenas num estado de vaga lem-brança, pois é possível ir mais longe.Com efeito, esse princípio imaterialpode se ligar cada vez mais profunda-mente, pode ofertar-se cada vez maisà natureza supeiror. Contudo, não setrata de algo tão simples como acio-nar um botão e passar de um estadopara outro. Não é à-toa que o ensina-mento universal fala de “caminho”ou de “percorrer o caminho”, poiseste é um processo.

O antigo e o novo pensamento

Para podermos perceber a nature-za superior faz-se necessária umamudança estrutural de nosso pensar.Quando o único princípio divino danatureza superior se torna ativo no

coração, ele gera, paulatinamente,uma nova inspiração. Por causa dessepensamento, pela primeira vez, de-pois de tempos imemoriais, o pensarse estabelecerá sobre novas bases.Pelo pensamento produzido é possí-vel reconhecer o campo de vida como qual se tem estado ligado. Porque aliberdade de pensamento dificilmenteexiste. Como nuvens empurradas pe-lo vento, os pensamentos nunca per-manecem parados.

Lao Tse disse: Tende menos egoís-mo e menos desejos. Ele preconizavao não-fazer, e nós também dizemos:não alimenteis os pensamentos, por-que os desejos despertam os pensa-mentos que, por sua vez, inflamam avontade, e esta induz aos atos. Ao nãoalimentar mais os pensamentos susci-tados pelos desejos nascidos dos sen-tidos, cria-se um espaço para um pen-samento totalmente renovado, plenode espírito e vitalidade. Esse novopensar gera pensamentos que nãopodem ser produzidos pelo antigopensar. Isto ilustra a metáfora, tiradado Novo Testamento: “Ninguém põevinho novo em odres velhos; de outrasorte, o vinho novo romperá os odrese entornar-se-á... mas o vinho novodeve ser posto em odres novos”6.

A pré-memória, essa vaga lem-brança de nosso estado original ima-terial, que representa um papel tãonotável na atividade do coração dohomem, é a instigadora do novo pen-sar. Da natureza superior fluem,então, novas e puras forças que fazemque o homem abandone seus velhosesquemas e comece a pensar de modooriginal e inesperado! No princípio,dificilmente isso é percebido. Às ve-zes não passa de um flash, de um cla-rão do pensamento, que estimula avontade a se engajar no caminho dalibertação. Mas, vemos pouco desse

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novo pensamento, pois a consciênciaainda não está suficientemente alerta.

A voz de Deus

“Então o olho de Shiva se abre... éa ligação do poder pensante celestialcom o poder pensante dialético.”Essa nova faculdade pensante é umafaculdade de percepção. Podemosagora responder à questão de sabercomo “Deus fala ao homem”: é comoum chamado lançado a partir da rea-

lidade invisível e que ressoa atravésda natureza terrestre. O princípio ima-terial no coração percebe esse clamor.É o chamado para trilhar o caminhoda libertação.

Imaginar que Deus fala ao homema fim de instruí-lo não passa de purainvenção da personalidade racional ede suas idéias primárias. Quando, noinício das Núpcias alquímicas, a natu-reza superior “fala” a Cristiano Ro-sacruz, não se trata de uma palavraaudível: “...repentinamente se desen-

“Tu não poderás ver

a minha face, pois o

homem não pode

Me ver e viver.”

Foto © Pentagrama.

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cadeou vento tão terrível... alguémtocou-me as costas... Todavia, ao serpuxado pelo casaco repetidas vezes,volvi-me. Vi, então, maravilhosa fi-gura feminina... Tão logo me volvi,buscou entre suas cartas, extraindodentre elas uma pequena, que colo-cou sobre a mesa com profunda reve-rência, retirando-se de minha presen-ça sem dizer sequer uma palavra”7.

No início do caminho, ninguémfala a Cristiano Rosacruz, pois elenão estaria em condição de compre-ender, embora os sinais da naturezasuperior lhe falem claramente. Domesmo modo, o buscador, em quema nova capacidade intelectual aindanão está desperta, e que freqüente-mente é descrito como “candidato”, éprimeiramente “tomado pelas mãos”.

FONTES:

1. Blavatsky, H.P. A voz do silêncio.

São Paulo: Pensamento, 1991.

2. Idem.

3. Êxodo 33:20.

4. João 1:18.

5. Rijckenborgh, J. v. De Petri, Catharose.

A Gnosis chinesa – em preparação.

6. Lucas 5:37-38.

7. Rijckenborgh, J. v. As núpcias alquímicas

de C.R.C. São Paulo: Lectorium

Rosicrucianum, 1993, 2v.

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Deixemos, por fim, a última palavra a Hermes:

“Se não te fazes igual a Deus, não podes compreendê-lo:

porque só o semelhante compreende o semelhante.

Cresce e eleva-te a uma grandeza incomensurável,

ultrapassa todos os corpos, vai além de todo o tempo;

torna-te eternidade. Então compreenderás a Deus.

Compenetra-te do pensamento de que nada é impossível

para ti, considera-te como imortal e em condições

de tudo compreender, toda a arte, toda a ciência,

a natureza de tudo o que vive”.

(Com a medida com que medis, p.19)