a lenda do pinheirinho feliz

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S e r g i o L . F l e c k S e r g i o L . F l e c k

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Autor: Sergio L. Fleck

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Page 1: A Lenda do Pinheirinho Feliz

Sergio L. FleckSergio L. Fleck

Page 2: A Lenda do Pinheirinho Feliz
Page 3: A Lenda do Pinheirinho Feliz
Page 4: A Lenda do Pinheirinho Feliz
Page 5: A Lenda do Pinheirinho Feliz

Apresentação

Então tá combinado.

Eu faço a apresentação desse livro, porque o conheci

muito antes de ser impresso. Antes de ganhar as belas

ilustrações do Murilo. Antes de chegar até vocês, para que

se deliciem com essa história de poesia e ecologia.

Alguns desconhecem o valor dessa palavra, ecologia, uma

das mais importantes que surgiram nos últimos trinta anos.

Resume a relação que a raça humana tem que ter com os

seres vivos e o meio ambiente que nos cerca.

Simplificando: é preocupar-se com os animais, a água, o ar

que respiramos, as árvores e as plantas.

Confesso que isso só nos dá prazeres e encantos.

Moro numa casa de pátio grande. Gosto de colocar restos

de pão para ver a festa que os passarinhos fazem. Eles se

divertem como se estivessem num banquete. Mólho todos

os dias as plantas que estão no meu gabinete. As vezes,

até converso com elas. Quando chove, costumo colocá-las

na rua, pelo menos por alguns minutos. E pergunto depois:

“gostaram do banho?”.

O livro do Sérgio fala muito disso, das coisas que nos

rodeiam, sem que as vezes nem tenhamos tempo para nos

preocupar com elas. Fala também do Natal,

a época mágica do ano.

Eu gostei muito.

Quero que vocês também tenham o prazer que tive nas

duas leituras, antes e agora, acompanhada por ilustrações.

E, como dizia aquela menininha muito esperta,

“de que me serve um livro sem figuras?”.

Goida

Jornalista e Pesquisador

Page 6: A Lenda do Pinheirinho Feliz
Page 7: A Lenda do Pinheirinho Feliz

Descoberta

Ao bosque fui,sim, eu fui láe tinha vontadede nada encontrar.

Uma florzinhaavistei então,brilho de estrelana minha mão.

Eu quis colhê-lae a ouvi falar:“se tu me quebraseu vou murchar”.

Logo a planteiem um canteiroe ela floresceo ano inteiro.

GoetheEscritor e poeta alemão

1749-1832

À Patrícia,minha sobrinha,

que um diame escreveu

um livro.

Page 8: A Lenda do Pinheirinho Feliz

Era uma vez uma linda vila que ficava no alto da serra, entre montanhas, matas virgens e

florestas de pinheiros. Ela se chamava Vila Verde. Durante a época do Natal, a fama de suas

lindas paisagens, as lojas de artesanato e fábricas de chocolate, fazia com que muitas

pessoas viessem da cidade grande em busca de belos passeios e de encontrar os pinheiros

para decorar suas casas. Era uma época alegre e de grande movimentação, agitando o

comércio e divertindo os pacatos moradores.

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E

Page 9: A Lenda do Pinheirinho Feliz

Era uma vez uma linda vila que ficava no alto da serra, entre montanhas, matas virgens e

florestas de pinheiros. Ela se chamava Vila Verde. Durante a época do Natal, a fama de suas

lindas paisagens, as lojas de artesanato e fábricas de chocolate, fazia com que muitas

pessoas viessem da cidade grande em busca de belos passeios e de encontrar os pinheiros

para decorar suas casas. Era uma época alegre e de grande movimentação, agitando o

comércio e divertindo os pacatos moradores.

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Mas na vila haviam pessoas preocupadas com esta tradição e com o fato de que a cada ano mais e

mais pessoas invadiam a floresta. Entre elas estava o Sr. Gustavo, o prefeito da vila. Sendo um homem

inteligente e levando a sério o futuro da vila e da floresta, não deixava de reconhecer a grande ligação entre

as duas. Precisando pensar e entender melhor a questão, resolveu ir ele mesmo buscar o pinheiro de Natal de

sua família. Aproveitaria para dar uma boa olhada na floresta. Desde menino não fazia isso. Como a maioria

dos moradores mais ocupados, sempre terminava pedindo aos lenhadores para realizar esta tarefa. E estes

faziam este trabalho com muito orgulho, pois eram filhos e netos de outros lenhadores, todos grandes

conhecedores dos caminhos e segredos da floresta.

Escolheu um domingo, pois não havendo escola, poderia convidar suas três filhas para o passeio. A

mais velha se chamava Ana Cláudia, a do meio Patrícia e a menorzinha Adriana. O dia estava lindo e

tranqüilo. E lá foram eles, conversando alegremente.

Page 10: A Lenda do Pinheirinho Feliz

- Papai, porque o senhor não pediu ao lenhador para buscar nosso pinheirinho? - perguntou Ana

Cláudia, a mais velha das filhas. - Ora, não é uma tarefa assim tão difícil. Além do mais, queria dar uma olhada nas árvores e respirar o

ar puro. Achei que vocês também gostariam do passeio. - Mas o lenhador conhece melhor a floresta. O senhor trabalha no escritório da prefeitura e da loja, só

mexe em papéis e não entende nada de árvores.

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Page 11: A Lenda do Pinheirinho Feliz

- Você tem razão. Mas sempre é bom refazer um caminho bonito como esse. Lembro de quando era

criança e subia aqui para brincar. - A senhora Strudel, nossa professora, disse que a floresta tem muito mais vida do que em todas as

cidades juntas - completou Patrícia. - Que bobagem! - retrucou Ana Cláudia. - Como pode haver mais vida se aqui não mora ninguém?

Tem menos gente que em nossa vila. - Mas tem os bichinhos - disse Adriana, a pequenina. - E também as árvores - completou Patrícia. - A professora disse que elas possuem tanta vida como

nós. E que até podem ter sentimentos. - Ora que bobagem! - repetiu Ana Cláudia. - Não acredito nisso. Você acha que é verdade pai? - Não sei, minha filha. É uma questão interessante. Tenho pensado muito a respeito do que estaria

acontecendo. Sinto que algo está diferente nestas árvores. É como se estivessem tristes. Está faltando

alguma coisa. Tudo está estranhamento quieto. Mas, acho que a Sra. Strudel tem razão em dizer que aqui

existe muita vida. Talvez nós ainda não estejamos preparados para compreendê-la perfeitamente.

Passamos muito tempo cuidando de nossos problemas e de nossas cidades. Terminamos até esquecendo

de passeios como este. Antigamente a gente visitava a floresta e conversava com as árvores.

- Mas isso é possível? Como se pode conversar

com uma árvore? - perguntou Ana Cláudia. - É modo de se expressar, minha filha. Um velho

lenhador que trabalhava com seu avô, sempre

comentava que quando se passeia pela floresta,

pensando na vida, as árvores ouvem tudo o que as

vozes de dentro da nossa cabeça dizem. E assim

conversamos com elas. - Qualquer pensamento? - perguntou Ana

Cláudia. - Sim, qualquer um. Desde que sincero e puro.

As árvores não entendem a maldade - respondeu o

prefeito. - Será que não é por isso que elas estão assim

quietas? - perguntou Patrícia.

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Page 12: A Lenda do Pinheirinho Feliz

- Você também sente isso? - E onde estão os bichinhos? - insistia Adriana. - Pois é. Os bichinhos parecem estar todos escondidos. Acho que estão com medo de se aproximar das trilhas. É provável que estejam a cada ano com mais medo das pessoas. - A Sra. Strudel disse que isto é ruim. Que um dia nossa vila não será mais tão bonita e ficaremos parecidos com as pessoas da cidade grande - falou Patrícia. - Mas e o que há de errado com as pessoas da cidade grande? Não são gente como nós? - perguntou Ana Cláudia. - Sim, é claro que também são gente. Mas estão sempre com muita pressa. Fazem tudo correndo. Uma amiga que tem uma prima na cidade me disse que lá as árvores ficam nas

casas só mais dois dias após a noite de Natal . Depois são jogadas no lixo e ninguém mais dá bola

para elas - comentou Patrícia.

- Só dois dias?! - exclamou Ana Cláudia.

- Mas aqui na vila nós ficamos admirando

o pinheirinho todas as noites por mais de

um mês. Que desperdício! Pai, isto está

errado. - Sim, minha filha. Concordo com você.

Mas não pense que as pessoas da

cidade são más. Elas apenas têm um

tipo de vida diferente do nosso, pois não

tem o convívio com a mata e a floresta de

pinheiros. - Só quando vem até aqui. E ainda por

cima para levar embora uma árvore,

como se ela fosse outro destes enfeites

que estão a venda nas lojas - finalizou

Ana Cláudia, demonstrando

contrariedade.

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Page 13: A Lenda do Pinheirinho Feliz

O prefeito Gustavo e suas três filhas seguiram pela floresta procurando seu pinheirinho. Eles não

tinham pressa, aproveitando o divertido passeio. Mas lá pelas tantas, na brincadeira de esconde-esconde,

as meninas acabaram se perdendo do pai. Confusas, caminharam de um lado para outro ao redor da trilha. Cansadas sentaram-se num velho

tronco caído. - Vamos aguardar aqui em cima, perto da trilha. Quando papai passar, nós o chamaremos - disse Ana

Cláudia. - Eu nunca fiquei sozinha na floresta. Será perigoso? - perguntou Patrícia. - Eu não tenho medo dos bichinhos. Eles são bonzinhos. É só não lhes fazer nenhum mal - disse

Adriana, a menorzinha. - Vamos ficar tranqüilas e quietas. Assim, poderemos ouvir o papai nos chamar - completou Ana

Cláudia.

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Page 14: A Lenda do Pinheirinho Feliz

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E elas ficaram bem quietinhas ouvindo os ruídos da mata. Ouviram os passarinhos, o balançar dos

galhos, as folhas com o vento e o zunido da ponta dos pinheiros. Tudo como uma grande sinfonia da

natureza. De repente Adriana ouviu um choramingar baixinho e chamou pelas irmãs. - Alguém esta chorando. Vem dali daqueles pinheiros - apontou Adriana. - Mas eu não vi ninguém pela trilha - disse Ana Cláudia. - Eu também não - retrucou Patrícia. - Talvez seja outra criança perdida como nós. Vamos procurá-la. Ergueram-se e caminharam até os pinheiros. Olharam por todos os lados, mas não encontraram

ninguém. - Que estranho. Eu também ouvi o choro. Vinha daqui mesmo. Vamos procurar melhor - disse Ana

Cláudia. E recomeçaram a busca. Até que Adriana chamou-as para perto de um pinheirinho bem verdinho que

estava no meio das outras árvores maiores. - O que foi? Descobriu alguém? - perguntou Ana Cláudia. - Quem está chorando é este pinheirinho - indicou ela, enquanto segurava delicadamente um de seus

ramos. As outras duas se aproximaram e ficaram espantadas com o que ouviam. Era mesmo o pinheirinho

que estava chorando. - Ele disse que não quer ser cortado - falou Adriana. - E que não quer sair da floresta e ser levado para

a cidade, abandonando este lugar e sua família.

Neste momento chega o prefeito Gustavo esbaforido. - Ah! Então vocês estão aí. Pensei que estavam perdidas. Mas vejam que

sorte, encontrei também um belo pinheirinho para levar. - Não! - gritaram as três juntas. - Este é sim o nosso pinheirinho, mas ele não

vai ser cortado - completou Patrícia. - Sim, papai. Descobrimos o motivo da tristeza na floresta. Os pinheiros

estão com medo de serem cortados e levados embora da floresta. Querem

ficar aqui com sua grande família de árvores - comentou Ana Cláudia. - E como descobriram isso? - perguntou o prefeito Gustavo, intrigado. - Este pinheirinho nos disse. Não pode ouvi-lo chorar? - disse Patrícia.

Page 15: A Lenda do Pinheirinho Feliz

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Page 16: A Lenda do Pinheirinho Feliz

Gustavo se abaixou e aproximou a cabeça para perto do pequeno pinheiro. Depois voltou a levantar

e por alguns instantes permaneceu pensativo. - Não, não posso. Mas acredito na sinceridade de vocês. - Precisamos impedir que as pessoas os levem embora - reclamou Adriana. - Isso é impossível, minha filha. Daqui a pouco as pessoas da cidade começarão a chegar e não há

como impedi-las. Elas têm pressa, vocês sabem bem disso. - Então nós precisamos ter mais pressa ainda e encontrar uma solução para protegê-los. Pense em

alguma coisa, o senhor é o prefeito. Impeça-os - disse Patrícia. - Sim, eu sou o prefeito e tenho autoridade, mas nem por isso deixo de ter também a obrigação de

justificar meus atos. Não será fácil fazer com que as pessoas acreditem que um pinheirinho simplesmente

falou com vocês e pediu isso em nome de todos os outros - argumentou Gustavo.

- Nós o

ajudaremos. Precisamos

salvar a floresta - disse

Ana Cláudia. - Então vamos

voltar rápido. Preciso

reunir o conselho da vila. - Espere um

pouco papai -

interrompeu Adriana,

mexendo nos cabelos. -

Vou amarrar esta fita

azul no nosso amigo

pinheirinho para depois

encontrá-lo e contar-lhe

as novidades. E se foram

correndo trilha abaixo.

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Page 17: A Lenda do Pinheirinho Feliz

Naquela mesma noite acontecia uma grande reunião na casa do prefeito. Lá estavam também

o doutor Pedro, o médico, a Sra. Strudel, a professora, o pastor Bruno da igreja e mais algumas pessoas

importantes da vila.

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Page 18: A Lenda do Pinheirinho Feliz

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O prefeito tomou a palavra e surpreendeu a todos com uma frase direta: - Precisamos impedir que as pessoas da cidade grande levem os pinheiros da floresta. Ficaram todos em silencio. Depois de alguns instantes, o homem que representava os comerciantes

da vila perguntou: - E o senhor pode nos explicar porque? O prefeito Gustavo estava confuso. Ele não poderia contar que um pinheirinho havia simplesmente

conversado com suas filhas. Isso poderia parecer maluquice. Precisava encontrar uma maneira de fazê-los

conhecer e entender o problema da floresta. Pior ainda, em se tratando de uma tradição muito antiga e

importante para o comércio da cidade, as pessoas não iriam aceitar qualquer desculpa. Enquanto o prefeito pensava numa saída, a discussão na sala foi aumentando. Todos falavam ao

mesmo tempo. Até que Patrícia, que ouvia tudo atentamente, interrompeu e pediu a palavra. - Acredito que todos concordam que a mata é muito bonita, que dela vem não só a beleza como muita

vida. E somos assim felizes porque vivemos aqui bem perto dela e dos seus encantos. Agora, se os

pinheiros continuarem a ser levados, como ela irá sobreviver? É como se desta vila aos poucos fossem

sendo levadas as crianças. - Ela tem razão - disse o pastor Bruno. - Concordo que a cada ano

a vila está perdendo um pouco da sua juventude e do seu brilho.

Como faziam nossos antepassados, tenho andado pela mata para

pensar e conversar com as árvores. Posso afirmar que ela não tem

a mesma vivacidade de antigamente. O problema não parece estar

na madeira que tiramos para nossas casas ou a lenha para o fogo.

Ela nos reclama é seu abandono. Mesmo silenciosa, dizendo as

coisas a maneira da natureza, ela nos pede proteção. - E não esqueçam do ar puro! - retrucou o doutor Pedro. -

Agradeçam a ela nossa boa saúde, a terra fértil que plantamos e os

bons alimentos que colhemos. Tudo está ligado à mata e a floresta

de pinheiros. Até mesmo a chuva que enche nossos lagos. - Mas e a tradição do pinheiro iluminado na noite

de Natal? - retrucou o representante do comércio. - Sim, como iremos mudar isso? - perguntou a Sra. Strudel. Isso

também faz parte da vida das pessoas.

Page 19: A Lenda do Pinheirinho Feliz

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O prefeito tomou a palavra e surpreendeu a todos com uma frase direta: - Precisamos impedir que as pessoas da cidade grande levem os pinheiros da floresta. Ficaram todos em silencio. Depois de alguns instantes, o homem que representava os comerciantes

da vila perguntou: - E o senhor pode nos explicar porque? O prefeito Gustavo estava confuso. Ele não poderia contar que um pinheirinho havia simplesmente

conversado com suas filhas. Isso poderia parecer maluquice. Precisava encontrar uma maneira de fazê-los

conhecer e entender o problema da floresta. Pior ainda, em se tratando de uma tradição muito antiga e

importante para o comércio da cidade, as pessoas não iriam aceitar qualquer desculpa. Enquanto o prefeito pensava numa saída, a discussão na sala foi aumentando. Todos falavam ao

mesmo tempo. Até que Patrícia, que ouvia tudo atentamente, interrompeu e pediu a palavra. - Acredito que todos concordam que a mata é muito bonita, que dela vem não só a beleza como muita

vida. E somos assim felizes porque vivemos aqui bem perto dela e dos seus encantos. Agora, se os

pinheiros continuarem a ser levados, como ela irá sobreviver? É como se desta vila aos poucos fossem

sendo levadas as crianças. - Ela tem razão - disse o pastor Bruno. - Concordo que a cada ano

a vila está perdendo um pouco da sua juventude e do seu brilho.

Como faziam nossos antepassados, tenho andado pela mata para

pensar e conversar com as árvores. Posso afirmar que ela não tem

a mesma vivacidade de antigamente. O problema não parece estar

na madeira que tiramos para nossas casas ou a lenha para o fogo.

Ela nos reclama é seu abandono. Mesmo silenciosa, dizendo as

coisas a maneira da natureza, ela nos pede proteção. - E não esqueçam do ar puro! - retrucou o doutor Pedro. -

Agradeçam a ela nossa boa saúde, a terra fértil que plantamos e os

bons alimentos que colhemos. Tudo está ligado à mata e a floresta

de pinheiros. Até mesmo a chuva que enche nossos lagos. - Mas e a tradição do pinheiro iluminado na noite

de Natal? - retrucou o representante do comércio. - Sim, como iremos mudar isso? - perguntou a Sra. Strudel. Isso

também faz parte da vida das pessoas.

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- Poderíamos simplesmente proibir o corte e permitir apenas a visitação - respondeu o prefeito. - E de onde as pessoas irão tirar seus pinheiros para a noite de Natal? E os enfeites, os chocolates? É

certo que ficarão contrariadas com essa proibição. Não aceitarão isso. Preparem-se para os protestos

contra argumentou o representante do comércio. - Mas para que a tradição continue existindo, é nossa obrigação fazê-los compreender que estas

pequenas árvores não podem mais ser levadas da floresta e depois simplesmente jogadas no lixo -

respondeu o prefeito. Elas têm vida como nós. Talvez seja o momento de fazê-los pensar que dentro das

casas o certo seja utilizar pinheirinhos artificiais. Tenho certeza que estaremos fazendo o melhor para nossa

vila, para o bem comum e, no futuro próximo, até mesmo para as pessoas da grande cidade. - Pensando bem, a idéia de uma fábrica de pinheirinhos artificiais até que não é má. Poderíamos

montá-la ao lado da

fabriqueta de enfeites.

Isso parece

interessante falou um

dos comerciantes. - Vamos dizer a

todos que somos os

Guardiões da Floresta

e que estamos

dispostos a protegê-la.

Só assim, ela poderá

existir para sempre -

completou Patrícia. A reunião foi

dada como terminada.

Combinaram que na

manhã seguinte

reuniriam o povo de

Vila Verde para

divulgar as idéias do

conselho.

Page 20: A Lenda do Pinheirinho Feliz

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Pastor Bruno tocou o sino e a praça na frente da igreja ficou lotada. Então o prefeito Gustavo, o doutor

Pedro e a Sra. Strudel falaram sobre o problema da floresta. O povo ouviu atentamente. Eram educados e

prestativos, respeitando as autoridades, pois sabiam que eram pessoas honestas e sinceras.Mas depois da idéia ser apresentada, ficaram confusos. Responderam:

- Entendemos a aceitamos a preocupação do conselho. A floresta é, sem dúvida, a coisa mais

importante que possuímos e é através das árvores e dos pinheiros que ela se renova. Só que agora é tarde

para discutir isso, pois muitos de nós partiram muito cedo pela manhã e já cortaram seus pinheirinhos.

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- Oh! Não é possível! - surpreendeu-se o prefeito. - Mas porque tão cedo assim? O dia mal começou - comentou a Sra. Strudel. - Ora, ficamos com medo de que as pessoas da cidade grande levassem todos e não sobrasse

mais nenhum. - Isso é um exagero! - gritou o prefeito. - Vocês estão ficando com mais pressa do que eles - reclamou o doutor Pedro.

- Calma, calma. Eles não têm culpa -

completou o pastor Bruno. - Fizeram isso

apenas para garantir a tradição. - E o que faremos agora? - disse

aflito o prefeito. - Coitados dos pinheiros. - Eu tenho uma idéia - gritou

Patrícia. - Se nós queremos ser os

Guardiões da Floresta e mantê-la viva

para sempre, então porque não

plantamos todos esses pinheirinhos nesta

praça? Assim teremos um enorme jardim

para nos reunir, montar um grande presépio

e cantar os hinos na noite de Natal. - Claro, é uma boa idéia! -

exclamou a professora. - Poderemos

convidar as pessoas da cidade

grande para que

os apreciem aqui na vila

ao invés de levá-los por

apenas dois dias e depois

jogá-los fora como lixo. - Viva! Vamos plantar

nossos pinheirinhos -

gritaram as pessoas.

Page 21: A Lenda do Pinheirinho Feliz

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- Oh! Não é possível! - surpreendeu-se o prefeito. - Mas porque tão cedo assim? O dia mal começou - comentou a Sra. Strudel. - Ora, ficamos com medo de que as pessoas da cidade grande levassem todos e não sobrasse

mais nenhum. - Isso é um exagero! - gritou o prefeito. - Vocês estão ficando com mais pressa do que eles - reclamou o doutor Pedro.

- Calma, calma. Eles não têm culpa -

completou o pastor Bruno. - Fizeram isso

apenas para garantir a tradição. - E o que faremos agora? - disse

aflito o prefeito. - Coitados dos pinheiros. - Eu tenho uma idéia - gritou

Patrícia. - Se nós queremos ser os

Guardiões da Floresta e mantê-la viva

para sempre, então porque não

plantamos todos esses pinheirinhos nesta

praça? Assim teremos um enorme jardim

para nos reunir, montar um grande presépio

e cantar os hinos na noite de Natal. - Claro, é uma boa idéia! -

exclamou a professora. - Poderemos

convidar as pessoas da cidade

grande para que

os apreciem aqui na vila

ao invés de levá-los por

apenas dois dias e depois

jogá-los fora como lixo. - Viva! Vamos plantar

nossos pinheirinhos -

gritaram as pessoas.

Page 22: A Lenda do Pinheirinho Feliz

E o povo partiu em direção a suas casas para buscar ferramentas. Num instante a praça se

tornou um grande campo de trabalho comunitário. Estavam todos adorando cultivar o Natal. Um dos lenhadores também apareceu com seu pinheirinho no ombro. O prefeito Gustavo foi

recebê-lo. - Ora, ora. Eu não sabia que os lenhadores também buscavam um pinheirinho de Natal. - Oh, não. O senhor prefeito está enganado. Este não é para mim. É uma surpresa para suas

filhas. Fui pela manhã muito cedo, ainda meio noite. Mas agora vou replantá-lo como todo mundo. E

tenho certeza: será o mais bonito de todos. O prefeito olhou bem para aquela pequena árvore e ficou triste. Reconheceu a fita azul amarrada

no pequeno tronco. Imaginou o quanto as filhas, principalmente Adriana, iriam ficar tristes ao vê-la ali

cortada. Achou melhor não falar nada. No fim da tarde a praça estava cheia de pinheiros replantados e lindamente decorados com

bolinhas, estrelinhas, fitas e cordéis coloridos.

O prefeito e o conselho mandaram uma carta às

autoridades da cidade grande, explicando a

proibição do corte dos pinheiros. Convidavam

também para passarem o dia e a noite de

Natal na praça. Seria uma grande festa.

Fizeram mistério a respeito de uma surpresa

que provavelmente os encantaria. Passaram-se os dias da semana e chegou

a véspera de Natal. Novamente todos se

reuniram diante da praça. As conversas tinham

tom de grande preocupação, pois os

pinheiros já estavam replantados há alguns

dias e não davam sinais de reflorescer.

Ao contrário, estavam murchos, meio

tortos e com os ramos vergados para

baixo, como braços cansados. Não havia

vida naquele jardim.

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Page 23: A Lenda do Pinheirinho Feliz

Alguém teve uma idéia. - Vamos chamar o mais experiente dos lenhadores! Ele nos dirá o que fazer. Após alguns minutos, um velho lenhador apareceu diante da pequena multidão. Depois de andar

pelo jardim ele falou: - Não há raízes. Os pinheiros precisam delas para se alimentar. - Então irão murchar até morrer? - Provavelmente - respondeu o lenhador, cabisbaixo. - Mas amanhã é Natal. As pessoas da cidade grande virão visitar-nos. Cantaremos hinos e tudo mais.

Deveria ser uma festa alegre. Os pinheiros precisam estar vivos, verdes e brilhantes - exclamou o prefeito. - Meu velho avô - disse o lenhador - provavelmente diria que somente o anjo verde poderia salvá-los. - Anjo verde? Que anjo é este? - perguntou o prefeito. - É um anjo que anda pela floresta e ajuda as plantas e árvores doentes.

- E como podemos

encontrá-lo? - Ah, isso eu não sei,

senhor prefeito. Nunca o vi e

nem mesmo sei se existe. O povo permaneceu triste

e pensativo. - Já sei! - exclamou o

prefeito. - Vou chamar minhas

filhas e pedir para que elas

conversem com seu pinheirinho.

Ele nos dirá como encontrar

este anjo. Ana Cláudia, Patrícia e

Adriana entraram na praça,

assustadas com toda aquela

multidão olhado-as atentamente.

Seguiram por entre os canteiros

procurando por algum pinheirinho

que quisesse falar.

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Page 24: A Lenda do Pinheirinho Feliz

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E quando encontraram seu amiguinho com a fita azul amarrada no tronco, levaram um susto enorme, pois

não sabiam que ele também estava ali. O coitado estava murchinho, fraquinho, choramingando bem

baixinho. Elas mal conseguiram entender seus murmúrios. Voltaram e contaram tudo ao pai. Seria um Natal

muito triste. Pastor Bruno pediu que não perdessem a esperança e que ao voltarem as casas continuassem

rezando. Chegou a noite e a hora da festa. Apesar de tudo, o povo se reuniu na praça. Já havia por lá muitas

pessoas da cidade grande. Pastor Bruno deu início ao cerimonial com preces e orações. Aos poucos e

muito timidamente, começaram a cantar alguns hinos. Suas almas estavam cheias de emoção. Cantaram

de forma tão pura, que suas vozes ecoaram por todo o vale, penetrando na floresta, subindo pelas encostas

das montanhas. Era um clamor sincero e triste. De repente Patrícia gritou para que olhassem para a praça porque lá estava acontecendo alguma

coisa estranha. Uma luz esverdeada brilhava magicamente sobre ela, crescendo, crescendo, até se

transformar na imagem de

um anjo com grandes asas

balançando suavemente.

Ele flutuava pela praça e parecia sorrir para todos.

Sobre ele, bem acima da

cabeça, surgiram pontos

de luz que como

pequenos flocos de neve

começaram a cair

lentamente. O povo vibrou de

contentamento. A

felicidade retomou seus

corações. Ficaram alegres

e empolgados pela

emoção, cantaram

“Ó Pinheiro”.

Page 25: A Lenda do Pinheirinho Feliz

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Então o anjo abriu bem as asas e o imenso brilho das estrelas fez reluzir as gotas de orvalho sobre os ramos dos pinheiros da praça, da mata virgem e da floresta ao fundo. Agora eles pareciam possuir luz própria, iluminando de dentro para fora, reerguendo pouco a pouco os ramos, ganhando vida e felicidade. Os pinheirinhos estavam renascendo. A vida, ao mesmo tempo que reaparecia, devolvia beleza a tudo e a todos. Estavam iluminados e felizes. O povo também se sentia iluminado. Então, em uma só voz, cantaram ”Na Árvore de Natal” e “Noite Feliz”.

A Vila Verde ficou conhecida para sempre por sua Praça de Natal. E até hoje o pinheirinho das três irmãs, que cresceu grande, forte, alto e bonito, existe para a alegria de todos.

Page 26: A Lenda do Pinheirinho Feliz

Noite silenciosa, noite santa.

Tudo dorme, somente acordado

está o santo casal.

Lindo menino de cabelos

encaracolados, dorme

um sono celestial,

dorme um sono celestial.

Noite silenciosa, noite santa.

Dos pastores, primeiros

avisados pelo anjo, Aleluia,

ecoa alto, longe e perto: Cristo,

o Salvador, chegou!

Noite silenciosa, noite santa.

Filho de Deus, ó como sorri.

Essa alegria divina,

nos anuncia a hora da salvação,

Cristo, com teu nascimento.

Fonte: Brochura da Federação dos Centros Culturais 25 de julho.

Compilação de Theo Kleine, 1968.

Tradução e livre adaptação de Miki Finkenwerder.

Na árvore de Natal as luzes brilham.Como ela reluz festiva, querida e suave.Como se ela dissesse:“reconheçam em mim uma imagemde fé e esperança”.

Nas crianças, com olhares risonhose corações felizes,quanta alegria e espiritualidadeemocionantes!Os mais velhos olham em direção ao céu.

Dois anjos aparecem,ninguém os viu entrar.Eles vão até a mesa de Natal,rezam e se preparam para partir.

“Abençoados sejam vocês os mais velhos,abençoadas sejam as crianças.Nós trazemos as dádivas de Deus;trazemos hoje a todos os humanos”.

“Para as pessoas de bem e que O amam,nos envia o Senhor como mensagem.Se vocês permanecem fiéis,Nós retornaremos a esta casa”.

Sem se perceber,eles se foram, assim como chegaram.Mas a benção permaneceu em todos.

Ó pinheiro, ó pinheiro,

quão constantes são teus ramos!

Tu não ficas verde só no verão,

mas também no inverno quando neva.

Ó pinheiro, ó pinheiro,

quão constantes são teus ramos!

Ó pinheiro, ó pinheiro,

tu podes muito me encantar!

Quantas vezes, na época de Natal,

uma árvore como tu me deu alegria!

Ó pinheiro, ó pinheiro,

tu podes muito me encantar.

Ó pinheiro, ó pinheiro,

tua imagem quer me ensinar algo:

a esperança e a constância nos dão

coragem e força em qualquer momento!

Ó pinheiro, ó pinheiro,

tua imagem quer algo me ensinar!

Noite Feliz(Stille Nacht, Heilige Nacht)

Na Árvore de Natal(Am Weihnachtsbaum)

Ó Pinheiro(O Tannenbaum)

Page 27: A Lenda do Pinheirinho Feliz

Noite silenciosa, noite santa.

Tudo dorme, somente acordado

está o santo casal.

Lindo menino de cabelos

encaracolados, dorme

um sono celestial,

dorme um sono celestial.

Noite silenciosa, noite santa.

Dos pastores, primeiros

avisados pelo anjo, Aleluia,

ecoa alto, longe e perto: Cristo,

o Salvador, chegou!

Noite silenciosa, noite santa.

Filho de Deus, ó como sorri.

Essa alegria divina,

nos anuncia a hora da salvação,

Cristo, com teu nascimento.

Fonte: Brochura da Federação dos Centros Culturais 25 de julho.

Compilação de Theo Kleine, 1968.

Tradução e livre adaptação de Miki Finkenwerder.

Na árvore de Natal as luzes brilham.Como ela reluz festiva, querida e suave.Como se ela dissesse:“reconheçam em mim uma imagemde fé e esperança”.

Nas crianças, com olhares risonhose corações felizes,quanta alegria e espiritualidadeemocionantes!Os mais velhos olham em direção ao céu.

Dois anjos aparecem,ninguém os viu entrar.Eles vão até a mesa de Natal,rezam e se preparam para partir.

“Abençoados sejam vocês os mais velhos,abençoadas sejam as crianças.Nós trazemos as dádivas de Deus;trazemos hoje a todos os humanos”.

“Para as pessoas de bem e que O amam,nos envia o Senhor como mensagem.Se vocês permanecem fiéis,Nós retornaremos a esta casa”.

Sem se perceber,eles se foram, assim como chegaram.Mas a benção permaneceu em todos.

Ó pinheiro, ó pinheiro,

quão constantes são teus ramos!

Tu não ficas verde só no verão,

mas também no inverno quando neva.

Ó pinheiro, ó pinheiro,

quão constantes são teus ramos!

Ó pinheiro, ó pinheiro,

tu podes muito me encantar!

Quantas vezes, na época de Natal,

uma árvore como tu me deu alegria!

Ó pinheiro, ó pinheiro,

tu podes muito me encantar.

Ó pinheiro, ó pinheiro,

tua imagem quer me ensinar algo:

a esperança e a constância nos dão

coragem e força em qualquer momento!

Ó pinheiro, ó pinheiro,

tua imagem quer algo me ensinar!

Noite Feliz(Stille Nacht, Heilige Nacht)

Na Árvore de Natal(Am Weihnachtsbaum)

Ó Pinheiro(O Tannenbaum)

Page 28: A Lenda do Pinheirinho Feliz

Sergio L. Fleck, nascido no Rio Grande do Sul, é profissional de gestão, atuando há muitos anos nos segmentos de transporte e serviços logísticos. É formado e pós-graduado em Administração de Empresas pela UFRGS e em Eng. de Operações, habilitação Mecânica, pela PUCRS. Palestrante, facilitador e professor em cursos na área de logística e transporte, recebeu o Troféu Mérito do Transportador Gaúcho em 1999. Adora escrever e pesquisar como as coisas funcionam. Apesar de ter organizadas inúmeras coletâneas de contos, crônicas e poesias, até hoje não teve coragem de publicar. É um velho apaixonado pelo surg e se desliga do mundo ao olhar para o mar. Bem perto da casa dos 50 anos, sorri ao dizer que não quer jamais perder a adolescência: “É a época mais linda de todas as existências”.

O autor com seus filhos Lauren e Conrad