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VIII Coloquio sobre Brecha Digital Madrid, 28-29 Sept. 2015 1 A lei de acesso à informação e seus impactos éticos nas atividades da Ciência da Informação José Augusto Guimarães [email protected] João Carlos Gardini Santos [email protected]

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VIII Coloquio sobre Brecha Digital

Madrid, 28-29 Sept. 2015 1

A lei de acesso à informação e seus impactos éticos nas atividades da

Ciência da Informação

José Augusto Guimarães [email protected]

João Carlos Gardini Santos [email protected]

VIII Coloquio sobre Brecha Digital

Madrid, 28-29 Sept. 2015 2

Ciência da Informação

... campo que se preocupa com os princípios e práticas de criação, organização e distribuição

da informação. (SMIT & BARRETO, 2002)

Pressupõe:

uma dimensão teórica (princípios e metodologias) e

uma dimensão aplicada (práticas relacionadas a exercícios profissionais específicos)

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Organização da informação (O.I.)

ordenação, representação e recuperação de um conhecimento registrado sob a perspectiva de geração de novo conhecimento que, uma vez registrado, transforma-se em informação ou conhecimento em ação (DAHLBERG, 1993, p. 214).

insere-se em um fluxo helicoidal da informação (Produção, Organização, Uso, Apropriação, Nova Produção, etc.).

Pressupoe um profissional da informação

(arquivista, bibliotecário, etc.) como agente das

práticas desse fluxo, em seus saberes (como fazer)

e valores (porque e para que fazer).

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Aspectos éticos das atividades informativas

Estudo da IFLA sobre a ética na legislação profissional de 18 países (VAAGAN, 2002)

Valores: Acesso à informação

Censura

Inclusão informacional

Confidencialidade

Respeito à diversidade

Ênfases tradicionais: Gestão

Disseminação

TICs

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Fatores interferentes nas decisões éticas

em C.I. (FROEHLICH, 1994)

Utilidade social

Responsabilidade social

Sobrevivência organizacional e profissional

Respeito por si mesmo e pelos demais indivíduos

e instituições

Padrões coletivo-culturais e padrões legais

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Compromissos e mitos éticos em C.I. (GUIMARÃES, 2000; VERGUEIRO, 1994)

Compromissos:

Com o usuário

Com a organização

Com a informação

Com a profissão

Com o profissional

Mitos: A neutralidade

A corporação

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E como ficam as questões éticas em O.I.?

Garantia e hospitalidade cultural (Beghtol)

Ética transcultural de mediação (García Gutiérrez)

O poder de rotular (Olson)

O respeito aos domínios de conhecimento (Thellefsen)

Os desvios na indexação e os danos sofridos pelo usuário (Van del Waalt)

Dilemas éticos na questão de multilinguismo (Hudon)

Preconceitos e antipatias (Berman)

Metavalor em OI

Acesso à informação

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Lei nº 12.527/2011 (Lei de acesso à

informação - LAI)

Base constitucional (I)

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à

segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações

de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão

prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas

aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do

Estado;

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Lei nº 12.527/2011 (Lei de acesso à

informação - LAI)

Base constitucional (II)

Art. 37 - A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes

da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá

aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência e, também, ao seguinte:

§ 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na

administração pública direta e indireta, regulando especialmente:

II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações

sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X e XXXIII;

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Lei nº 12.527/2011 (Lei de acesso à

informação - LAI)

Base constitucional (III)

Art. 216 - Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza

material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores

de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos

formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

§ 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da

documentação governamental e as providências para franquear sua

consulta a quantos dela necessitem.

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Lei nº 12.527/2011 (Lei de acesso à

informação - LAI)

Órgãos públicos envolvidos:

Administração Direta dos Poderes Executivo, Legislativo e

Judiciário, Cortes de Contas e Ministério Público, Autarquias,

Fundações Públicas, Empresas Públicas, Sociedades de

Economia Mista e demais entidades controladas direta ou

indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e

Municípios, bem como as entidades privadas que tenham

convênios ou recebam verbas do Poder Público.

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Princípios norteadores da ação do órgão

público

Publicidade (regra) e sigilo (exceção)

Controle social da administração pública

Transparência da administração pública

Divulgação de informações de interesse

público independentemente de solicitação

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Aspectos conceituais (art. 4º, LAI)

Informação como subsídio ao conhecimento

Documento como suporte de informação

Previsão do tratamento da informação: como “conjunto

de ações referentes à produção, recepção, classificação,

utilização, acesso, reprodução, transporte, transmissão,

distribuição, arquivamento, armazenamento, eliminação,

avaliação, destinação ou controle da informação” (art. 4º,

V)

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Ações que decorrem desses princípios

norteadores (art. 6º, LAI)

Gestão transparente da informação (propiciando

amplo acesso e divulgação, com forte apoio nas

TICs)

Proteção da informação (protegendo sua

disponibilidade, autenticidade e integridade)

Proteção da confidencialidade (informação

sigilosa e informação pessoal)

VIII Coloquio sobre Brecha Digital

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Valores reconhecidos e preservados

na informação

Disponibilidade (acesso)

Integridade (preservação)

Primariedade (reconhecimento da proveniência)

Atualidade

Autenticidade

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A questão da representação da

informação

Art. 5º, LAI - É dever do Estado garantir o direito

de acesso à informação, que será franqueada,

mediante procedimentos objetivos e ágeis, de

forma transparente, clara e em linguagem de fácil

compreensão.

VIII Coloquio sobre Brecha Digital

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A questão da referência

A impossibilidade de concessão de acesso

imediato deve gerar uma justificativa e,

quando for o caso, um redirecionamento a

outro órgão que possua a informação.

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As responsabilidades do agente público

Quanto a:

Recusa de fornecimento de informação

Uso indevido

Má-fé ou dolo divulgação de informação sigilosa

Imposição de sigilo para obter vantagem pessoal

Destruição ou subtração de documentos.

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Das restrições ao acesso à informação

Hipóteses de ocorrência (art. 23, LAI)

Gradação de restrições (art. 24, LAI):

Ultrassecreta;

Secreta;

Reservada.

(Passíveis de revisão para desclassificação ou

reclassificação)

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Regulamentação da lei (Decreto nº

7.724/2012)

Transparência ativa (arts. 7º e 8º) - Promoção da divulgação da

informação nos sítios da Internet dos órgãos envolvidos, devendo os

sítios da Internet “conter ferramenta de pesquisa de conteúdo que

permita o acesso à informação de forma objetiva, transparente, clara e

em linguagem de fácil compreensão”.

Transparência passiva (arts. 9º e 10) - Serviços de Informações ao

Cidadão – SICs, que receberão pedidos, informarão sobre trâmites e

orientarão quanto ao acesso.

OBS: na classificação das informações, o dispositivo legal refere-se a

“código de indexação do documento” (art. 31, I e art. 45, II, “a”), mas isso

somente foi explicado no Decreto nº 7845/2012.

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Aspectos de O.I. na lei de acesso à

informação (Decr. 7724/2012)

Procedimentos objetivos e ágeis

Forma transparente

Forma clara e em linguagem de fácil

compreensão

Código de indexação: código alfanumérico que indexa

documento com informação classificada em qualquer grau de sigilo

(art. 2º, III, Decreto nº 7845/2012)

Classificação das informações

Marcação: aposição de marca que indica o grau de sigilo da

informação classificada (art. 2º, XI, Decreto nº 7845/2012)

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Tratamento da informação classificada (Decr. 7845/2012)

Art. 2º, XVIII: “conjunto de ações referentes a

produção, recepção, classificação, utilização,

acesso, reprodução, transporte, transmissão,

distribuição, arquivamento, armazenamento,

eliminação, avaliação, destinação ou controle de

informação classificada em qualquer grau de

sigilo”.

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Indexação (Decr. 7845/2012, arts. 50-53)

Código de Indexação de Documento que contém Informação

Classificada – CIDIC, composto por:

Número Único de Protocolo – NUP (cf. legislação de gestão

documental);

Grau de sigilo: indicação do grau de sigilo - ultrassecreto (U),

secreto (S) ou reservado (R);

Categorias (cf. Vocabulário Controlado do Governo Eletrônico

previsto no Anexo II;

Data de produção da informação classificada;

Data de desclassificação da informação classificada em qualquer

grau de sigilo;

Indicação de reclassificação (resultante de reavaliação ou primeiro

registro da classificação);

Indicação da data de prorrogação da manutenção da classificação.

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Questões éticas em O.I. a serem refletidas

A clareza da linguagem

A compreensibilidade da linguagem

A previsão de ferramenta de pesquisa de

conteúdo

A previsão de um mapa de acesso ao

conteúdo

A questão da má-fé ou dolo

O inter-relacionamento de sistemas

(redirecionamento)

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Sobre a regulamentação da Lei

de Acesso à Informação (LAI)

Os Estados, Municípios e Distrito Federal, em

legislação própria, de acordo com as diretrizes

da LAI, devem definir regras específicas a

suas realidades.

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Sobre a regulamentação da

Lei de Acesso à Informação As normas regulamentadoras devem conter:

• O tratamento dado à informação;

• A organização do portal da transparência;

• A criação do Serviço de Informação ao Cidadão –

SIC;

• Os gestores da informação sigilosa;

• As normas sobre recursos;

• Forma e prazo de reavaliação do documentos

classificados.

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Decreto nº 50.052/2012 de São Paulo

Este decreto regulamenta, no âmbito estadual, a Lei de Acesso à

Informação (LAI).

Em geral, o Decreto é uma reprodução da LAI e dos decretos federais que

a regulamentam.

Apresenta, porém, alguns pontos específicos tais como:

• O artigo 3º conceitua os arquivos públicos.

• Define quais são os Órgãos Públicos do Estado de São Paulo e quais as

suas funções no que tange à gestão de documentos dados e informação,

além de definir as Comissões Estaduais de Avaliação de

Documentos.

• O art. 33 do Decreto estabelece as competências para a classificação de

sigilo dos documentos, dados e informações no âmbito da

Administração Pública Estadual.

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Referências

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MUITO OBRIGADO