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1 Legalização da maconha e repressão do tabaco: um panorama no Brasil Cristiane Lara de Paiva Pereira 1 , Camila Caroline Araújo 1 & Ângela Gonçalves do Amaral 1 1 Faculdade de Farmácia, Universidade de Itaúna (UIT), Itaúna MG, Brasil RESUMO O presente trabalho tem como objetivo compreender os efeitos fisiológicos causados pelo uso de Cannabis sativa e tabaco a fim de definir uma política ideal para enfrentar a questão do consumo de drogas no país. A metodologia utilizada foi uma revisão bibliográfica de artigos científicos e um levantamento de dados em sites governamentais que proporcionaram conhecimentos para compreender e comparar os efeitos causados por estas drogas, levando em conta o aspecto social e amplitude de seus prejuízos. Os resultados obtidos garantem que tanto o tabaco quanto a maconha causam muitos danos ao organismo, como câncer, problemas de coração, alterações nas funções cognitivas e da pressão arterial, logo concluindo que o cigarro é uma droga completamente nociva e que a maconha, apesar de seus efeitos terapêuticos, como analgesia e aumento do apetite, causa tantos danos ao organismo e principalmente a sociedade que qualquer política permissiva causaria tantos problemas que inibiria quaisquer benefícios. O investimento em pesquisas científicas de derivados de Cannabis sativa que valorizasse seus efeitos terapêuticos, diminuindo seus danos psíquicos e sociais, seria uma boa alternativa para o consumo de canabinóides de forma a não agredir o organismo e proporcionar a sociedade os fins terapêuticos do THC. Palavras chaves: Cannabis, Tabagismo, Cessação, Legalização. ABSTRACT This Project has the objective to understand the physiological effects caused by the use of Cannabis sativa and tobacco in order to define an ideal policy to face the question of the use of drugs in the country. The methodology used was the bibliographic review of scientific articles and a survey in government websites that give information to comprehend and compare the effects caused by these drugs, considering the social aspect and amplitude of the damages. The results guarantee that both, marijuana and the tobacco, cause a lot of harm to the organic structure, such as cancer , heart diseases ,and alterations of the cognitive functions and the blood pressure, therefore concluding that the cigarette is a completely harmful drug and that the marijuana, despite the therapeutic effects, such as analgesic and increase of the appetite, causes a lot of damages to the body and mainly to society since any legal policy would cause as much problems that it would inhibit the benefits. The investment in scientific research of Cannabis sativa derived that would value the therapeutic effects decreasing the social and psychological damages would be a good alternative for the use of Cannabinoids in a way not to harm the organic structure and provide the society the therapeutic benefits of THC. Keywords: Cannabis, Smoking, Cessation, Legalization.

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Legalização da maconha e repressão do tabaco: um panorama no Brasil

Cristiane Lara de Paiva Pereira1, Camila Caroline Araújo

1 & Ângela Gonçalves do Amaral

1

1Faculdade de Farmácia, Universidade de Itaúna (UIT), Itaúna – MG, Brasil

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo compreender os efeitos fisiológicos causados pelo

uso de Cannabis sativa e tabaco a fim de definir uma política ideal para enfrentar a questão do

consumo de drogas no país. A metodologia utilizada foi uma revisão bibliográfica de artigos

científicos e um levantamento de dados em sites governamentais que proporcionaram

conhecimentos para compreender e comparar os efeitos causados por estas drogas, levando em

conta o aspecto social e amplitude de seus prejuízos.

Os resultados obtidos garantem que tanto o tabaco quanto a maconha causam muitos danos

ao organismo, como câncer, problemas de coração, alterações nas funções cognitivas e da pressão

arterial, logo concluindo que o cigarro é uma droga completamente nociva e que a maconha, apesar

de seus efeitos terapêuticos, como analgesia e aumento do apetite, causa tantos danos ao organismo

e principalmente a sociedade que qualquer política permissiva causaria tantos problemas que

inibiria quaisquer benefícios.

O investimento em pesquisas científicas de derivados de Cannabis sativa que valorizasse

seus efeitos terapêuticos, diminuindo seus danos psíquicos e sociais, seria uma boa alternativa para

o consumo de canabinóides de forma a não agredir o organismo e proporcionar a sociedade os fins

terapêuticos do THC.

Palavras chaves: Cannabis, Tabagismo, Cessação, Legalização.

ABSTRACT

This Project has the objective to understand the physiological effects caused by the use of

Cannabis sativa and tobacco in order to define an ideal policy to face the question of the use of

drugs in the country. The methodology used was the bibliographic review of scientific articles and a

survey in government websites that give information to comprehend and compare the effects caused

by these drugs, considering the social aspect and amplitude of the damages.

The results guarantee that both, marijuana and the tobacco, cause a lot of harm to the organic

structure, such as cancer , heart diseases ,and alterations of the cognitive functions and the blood

pressure, therefore concluding that the cigarette is a completely harmful drug and that the

marijuana, despite the therapeutic effects, such as analgesic and increase of the appetite, causes a

lot of damages to the body and mainly to society since any legal policy would cause as much

problems that it would inhibit the benefits.

The investment in scientific research of Cannabis sativa derived that would value the

therapeutic effects decreasing the social and psychological damages would be a good alternative for

the use of Cannabinoids in a way not to harm the organic structure and provide the society the

therapeutic benefits of THC.

Keywords: Cannabis, Smoking, Cessation, Legalization.

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INTRODUÇÃO

A história da maconha

Marijuana, hashish, charas, bhang, ganja, pito, fininho e sinsemila dentre outros. Estes

nomes fazem referência à espécie Cannabis sativa, planta da família Moraceae, que cresce

livremente em diversas partes do mundo. A relação desta planta com o homem existe a cerca de 10

mil anos atrás, desde a descoberta da agricultura, a partir daí a cannabis vem sendo utilizada para

diversas finalidades, tais como incenso, psicoativo, em rituais religiosos, fins terapêuticos ou até

mesmo na manufatura de tecidos a partir de suas fibras. (Honório, Arroio & Silva;

Cavalcanti, 2005).

Em uma pesquisa de revisão realizada por Santos RG (2009) há relatos de que a maconha é

proveniente da Ásia Central, logo acima da Índia, a partir de onde se espalhou para a Ásia Menor,

África e Europa, sendo prontamente aceita na farmacopéia e vida espiritual daqueles povos. A

planta propagou-se pela Europa entre os séculos X e XVI e seus efeitos despertaram o interesse para

inspiração literária e artística. Com as grandes navegações, tribos das Américas em países como

México, Chile e Peru ficaram logo conhecendo suas propriedades psicoativas, mas foi

provavelmente devido aos escravos nos séculos XVII e XVIII que a Cannabis sativa foi introduzida

ao Brasil (Cavalcanti, 2005; Mott, 1986; Usó, 2005).

Na década de 1960, durante o movimento hippie, houve uma ascensão no consumo de

maconha nos países da América do Norte e Europa. Usar drogas era uma forma de manifestar o

descontentamento ao sistema capitalista e apoiar movimentos sociais como o dos direitos humanos

e o feminismo (Bonfa, Vinagre & Figueiredo).

Em 1961 a Convenção Única sobre Drogas Narcóticas das Nações Unidas classificou a

Cannabis sativa como altamente perigosa e dotada de efeitos nocivos excedentes aos eventuais

benefícios terapêuticos, sendo comparada inclusive com drogas como cocaína e heroína (Snyder,

1971).

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A história do Tabaco

Originário da América Central, aproximadamente no ano 1000 a.C.,o tabaco começou a ser

utilizado pelas sociedades indígenas com funções diversas em rituais religiosos (OBID,2007). A

planta da família das Solanáceas era fumada, cheirada como forma de rapé, mascada e inalada

através de cones ou tubos de folhas (Galvão & Moreau, 2008). O primeiro contato do mundo

civilizado com a nicotina ocorreu no século XVI, sendo o cachimbo sua forma mais comum de

consumo (Rosemberg, 2004).

No século XVI, após a descoberta do tabaco pelos europeus, foram puplicados os primeiros

relatos sobre propriedades curativas da planta. Existem diversas variedades da planta, sendo a mais

consumida, Nicotiana tabacum, que recebeu esse nome devido ao médico, Jean Nicot, que

introduziu a planta com sucesso na França (Cunha et al., 2007).

O consumo do tabaco disseminava cada vez mais pela Europa, e seu cultivo era visto como

crescimento econômico.Com o passar do tempo o hábito espalhou-se mundo afora, sendo utilizado

para a demonstração de ostentação. No Brasil, a erva chegou provavelmente pela migração de tribos

indígenas (OBID, 2007).

As formas de utilização foram aperfeiçoadas, até que no século XIX o cigarro tornou-se

popular e sua industrialização era somada a uma poderosa estratégia de marketing. Neste mesmo

cenário, surgiram os primeiros estudos epidemiológicos dos efeitos maléficos do cigarro. A partir

daí era cada vez maior o número de pesquisas feitas sobre o fumo e o aumento da taxa de doenças e

mortes (Cutait, 2007; Spink, 2010).

No Brasil, existem várias campanhas antitabagísticas, consolidadas com o governo e

Assembléias Mundiais da Saúde. As primeiras medidas oficiais datam de 1986, quando foi

instituído o Dia Nacional de Combate ao Fumo. Daí em diante seguiram medidas diversas incluindo

a inserção de advertências nos produtos fumígenos, restringindo seu uso em espaços públicos e

criando programas de conscientização e cessação (Brasil, 2004; Spink, 2010).

Afim de contribuir com novos estudos e pesquisas, este trabalho tem o objetivo de

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compreender os efeitos fisiológicos causados pelo tabaco e pela Cannabis sativa, e abordar o

panorama brasileiro sobre a legalização da maconha e a repressão do tabagismo com a finalidade de

se obter uma resposta para questão da utilização dessas drogas no Brasil.

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho se baseia na revisão de pesquisas e estudos da literatura com o intuito de

relacionar dados de diversos autores para uma breve comparação. Foram utilizados fontes de

pesquisas fornecidas pelos sites Pubmed, Scielo, Lilacs e Sci-hub. Colaboraram com este trabalho

informações retiradas de sites governamentais como, INCA, OMS, ALT e OBID. Periódicos da

Revista Brasileira de Cancerologia, Jornal Brasileiro de Pneumologia, Revista Eletrônica de

Pesquisa Médica, dentre outros, forneceram grande auxilio, além de artigos da língua inglesa. Por

fim, foram priorizadas palavras-chaves que se baseiam nos aspectos gerais do trabalho, abordados

para esclarecimento e finalidade do tema.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os constituintes da maconha

Cannabis sativa contém mais de 538 substâncias químicas, das quais 65 se classificam na

categoria dos fitocanabinóides, tais como delta-nove-tetra-hidrocanabinol (Δ9-THC), canabidiol,

canabinol, canabigerol e canabicromeno (El-Alfy et al., 2010). Os canabinóides são um grupo de

compostos com 21 átomos de carbono além de ácidos carboxílicos, análogos e possíveis grupos de

transformação presentes na Cannabis. É importante mencionar, que segundo pesquisas, estes

compostos não foram isolados de nenhuma outra espécie vegetal ou animal (Mechoulam, 1973).

O THC apresenta atividade antiemética e estimulante do apetite sendo produzido pela

própria planta. Teve sua estrutura elucidada em 1964 por Gaoni e Mechoulam que o identificaram

como principal fitocanabinóide responsável pelos efeitos da maconha no cérebro. Sua concentração

na planta depende de diversos fatores como, clima, época de colheita, intensidade de luz, solo,

genética da planta dentre outros (Carlini, 1981).

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O principal método de administração da Cannabis sativa é o fumo. Inicialmente, o ativo

inalado é o ácido tetrahidrocanabinóico e só após a combustão do cigarro, este é transformado em

THC livre, que é inalado com a fumaça e vai diretamente para o pulmão. Chegando aos pulmões, os

alvéolos absorvem com facilidade o THC, e minutos após a aspiração este cai na corrente sanguínea

atingindo o encéfalo. Os efeitos alcançam o máximo de ação em 20 a 30 minutos e podem durar de

duas a três horas (Cerro, 1998).

Os constituintes do tabaco

A folha do tabaco pode conter cerca de 500 constituintes, dependendo da variedade da

planta, seu cultivo e do processo de preparação. Quando queimada já foram isoladas mais de 4.700

substâncias tóxicas (Galvão & Moreau, 2008).

A fumaça do cigarro é composta de duas fases: a gasosa e a particulada. A fase gasosa

representa cerca de 60% do total da fumaça do cigarro (Galvão & Moreau, 2008). Os componentes

mais importantes dessa fase são: monóxido de carbono, óxido de nitrogênio, amônia, compostos

voláteis contendo enxofre, hidrocarbonetos voláteis, nitrosaminas voláteis, álcoois, aldeídos e

cetonas (Cunha et al., 2007). O monóxido de carbono dificulta o transporte e a distribuição de

oxigênio pelo organismo, devido à ligação com a hemoglobina dos glóbulos vermelhos, diminuindo

a resistência física e a atividade mental (Oliveira, 2007).

A fase particulada contem cerca de 5 x 109 partículas por ml de fumaça, sendo os

constituintes mais importantes: alcatrão, nicotina e água. O alcatrão é uma substância altamente

cancerígena, irritante para órgãos respiratórios, constituída por hidrocarbonetos aromáticos como o

benzopireno, fenóis, cresóis, íons metálicos, e compostos radioativos (Galvão & Moreau, 2008).

A nicotina, substância psicoativa do tabaco, é um alcaloide fortemente indutor de

dependência e como qualquer outra droga, induz tolerância, o que leva à exposição de um aumento

das doses consumidas (Ferreira, 2011; Nunes et al., 2008).

Dos inúmeros aditivos que a indústria emprega no tabaco, para torna-lo mais palatável,

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vários têm a função de liberar mais nicotina e melhorar suas características organolépticas (Galvão

& Moreau, 2008; Rosemberg, 2004).

De acordo com U.S. Department of Health and Human Services, todos os produtos do

tabaco são nocivos à saúde, não havendo um limiar seguro de exposição (Pestana, 2011).

Mecanismo de ação da maconha

O estudo sistemático sobre os aspectos farmacológicos da Cannabis sativa iniciou-se na

década de 60 e permitiu a elucidação do sistema endocanabinóide constituído por receptores

canabinóides, agonistas endógenos e as enzimas que catalisam sua biossíntese e degradação

(Howlett, 2002). Posteriormente, mais especificamente em 1992, pesquisadores isolaram o primeiro

endocanabinóide, a anandamida que foi encontrada em várias regiões do cérebro e do corpo como,

baço e coração e possui atividades semelhantes as dos fitocanabinóides apesar de curto período de

ação e menor potência (Ameri, 1999).

Os receptores canabinóides pertencem à família dos receptores acoplados a proteína G e

foram denominados CB1 e CB2 de acordo com sua ordem de descoberta. A maior densidade de

receptores CB1 está localizada no sistema nervoso central e estão presentes em partes do cérebro

relacionadas aos movimentos do corpo (gânglios basais), controle motor (cerebelo), aprendizagem e

memória (hipocampo), funções cognitivas (córtex) e prazer (núcleo accubens) sendo todos esses

locais condizentes com os efeitos comportamentais relacionados ao uso de maconha. Os receptores

CB1 também podem ser encontrados nos circuitos de dor do cérebro, da medula espinhal e nos

terminais periféricos dos neurônios sensoriais primários o que explica as propriedades analgésicas

da Cannabis sativa através da supressão da liberação de neurotransmissores como acetilcolina,

noradrenalina, dopamina, serotonina, GABA, glutamato e aspartato (Moreau, 2008).

Já os receptores CB2 estão localizados no sistema periférico, e se relacionam com o sistema

imunológico, células T, células B, baço, amígdalas e células microgliais ativadas. O THC possui o

mesmo nível de afinidade por ambos receptores (Honório, Arroio & Silva).

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Ao interagir com ligantes, sejam estes endógenos como a anandamida ou exógenos como o

Δ9-THC, os receptores CB1 e CB2 são ativados inibindo a atividade das enzimas adenilato-ciclase

e estimulando as MAPK (mitogen activated protein kinase) (Moreau, 2008).

O resultado final desta série de reações a partir do receptor canabinóide depende do tipo de

célula ligante e das moléculas que podem competir pelos sítios de ligação do receptor e sempre

desencadeia na liberação de dopamina que explica o efeito clínico de euforia e prazer relacionados

ao uso de maconha (Moreau, 2008). Existem vários tipos de agonistas para os receptores

canabinóides e estes podem variar de acordo com a potência de interação e a eficácia. O Δ9-THC

por exemplo, possui potência e eficácia relativamente menores se comparadas às de alguns

canabinóides sintéticos, e estes por sua vez são mais potentes e eficazes que os agonistas endógenos

(Joy, 1999).

Mecanismo de ação do tabaco

A nicotina é considerada pela Organização Mundial da Saúde uma droga psicoativa com

capacidade elevada para induzir dependência física e psicológica (INCA, 2013).

Após sua absorção, a nicotina atinge o cérebro em menos de dez segundos. Ao entrar na

circulação arterial é distribuída pelos tecidos, trato respiratório, mucosas orais e pele (Cunha et

al.2007).

A nicotina atua no cérebro através de receptores colinérgicos nicotínicos (nAchR),

compostos por subunidades designadas por α, β, δ, ү e ε (Cunha et al.2007). A maior parte desses

receptores estão situados no mesencéfalo na área ventral do tecto, levando à produção de dopamina

e à sua liberação, através de neurónios axonais, no núcleo accumbens. Atua também sobre

hipocampo, provocando melhoria da atenção e da memória, sobre o córtex pré-frontal, agindo sobre

as funções de comportamento social e sobre o sistema noradrenérgico do locus coeruleus (Nunes,

2006). Nesse processo são liberados inúmeros mediadores, com atividades cerebrais específicas os

quais podem ser citados: dopamina, serotonina, betaendorfina, acetilcolina, noradrenalina,

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vasopressina, glutamato e GABA (Kirchenchtejn & Chatkin, 2004).

Segundo os pesquisadores Wise e Bozarth (1987) todas as drogas que induzem à

dependência tem em comum a propriedade de causar efeitos euforizantes ou prazerosos, atuando

como reforçadores positivos. Estes efeitos são decorrentes da ativação do sistema dopaminérgico

meso-corticolímbico, que produz relaxamento, redução do estresse, aumento do estado de vigília,

melhora da função cognitiva, modulação do humor e perda de peso (Cunha et al., 2007).

Efeitos físicos e psíquicos da maconha

Os efeitos físicos da Cannabis sativa podem ser de ordem aguda ou crônica. Os efeitos

agudos são aqueles obtidos logo após o uso da droga e parecem ser reversíveis, são: olhos

vermelhos (hiperemia das conjuntivas) por causa da dilatação dos vasos oculares, boca seca

(xerostomia), taquicardia, diminuição da pressão arterial e diminuição na capacidade de coagulação

do sangue devido a problemas na agregação plaquetária (Carlini et al, 2001).

Os efeitos crônicos no organismo afetam em grande parte os pulmões acarretando problemas

respiratórios, bronquites, asma e enfisema pulmonar. Existem ainda pesquisas que indicam a

possibilidade do usuário crônico de maconha adquirir câncer de pulmão devido à presença de um

agente cancerígeno chamado benzopireno, um dos constituintes da droga (Carlini et.al, 2001). O

sistema imunológico também pode ser acometido através da principal substância presente da

maconha, o Δ9-THC, que prejudica a produção de células de defesa do baço, medula óssea e timo

(Marot, 2000).

O uso crônico da maconha provoca efeitos físicos como náuseas, fadiga crônica, letargia,

dor de cabeça, congestão nasal, piora da asma, alteração da capacidade visual, problemas

menstruais, impotência e diminuição da libido e da satisfação sexual (Laranjeira, Jungerman &

Dunn).

Estudos garantem que o consumo prolongado de maconha também pode causar danos ao

sistema reprodutivo devido a baixa produção do hormônio masculino, a testosterona, gerando assim

problemas de fertilidade (Carlini, 1981).

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Pesquisadores asseguram que os efeitos psíquicos da maconha variam de acordo com a

qualidade da maconha fumada e a sensibilidade do usuário. Algumas pessoas podem sentir euforia,

sensação de bem estar acompanhada de calma, relaxamento e vontade de rir. Porém outras podem

ter o efeito contrário, que é conhecido como bad trip (viagem ruim) caracterizado por angústia,

medo de perder o controle da cabeça, alucinação, sedação, tremor e ansiedade (Bonfá, Vinagre &

Figueiredo).

Aumentando-se a dose e/ou dependendo da sensibilidade, os usuários de Cannabis sativa

podem desenvolver delírios e alucinações. Estes episódios podem levar ao pânico e

consequentemente, a atitudes perigosas. (Carlini et al., 2001).

Em relação aos efeitos devido ao uso crônico da droga, pesquisadores garantem que os

prejuízos vão muito além. Ocorre uma diminuição significativa da substância cinzenta, redução na

capacidade de aprendizado e déficit cognitivo ao longo do tempo. Além disso, há uma diminuição

progressiva da motivação, achando desinteressante qualquer ocupação em que a droga não esteja

presente. Estes sintomas, além de irritabilidade, ataques de pânico, tentativas de suicídio e

isolamento social, caracterizam a chamada Síndrome amotivacional. (Lemos & Zaleski, 2004;

Laranjeira, Jungerman & Dunn).

Ao longo prazo o uso da maconha pode levar a um comportamento caracterizado pela não

persistência em atividades que necessitam de atenção, ou seja, ocorre uma deficiência na

concentração e perturbação da memória curta. Outro efeito crucial em usuários é a incapacidade em

calcular o tempo e o espaço (Carlini et al., 2001).

Evidências indicam que o abuso de Cannabis sativa causa a piora de quadros de doenças

psíquicas já controladas terapeuticamente, como a esquizofrenia por exemplo, proporcionando o

surgimento da doença ou neutralizando o efeito do medicamento (Carlini, 1981).

Por fim, existem trabalhos que procuram demonstrar os efeitos benéficos da maconha. Foi

assim com Santos (2009) em Um Panorama sobre a maconha. Em seu trabalho ele cita estudos que

evidenciam o potencial terapêutico das substâncias presentes na droga como pode ocorrer, em

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pacientes sob tratamento quimioterápico – efeitos anti-vomitivos e antinauseantes, em casos de

dores de origem neural, pós-operatória ou por espasmo muscular – efeitos analgésicos, por pessoas

com glaucoma – propriedade de reduzir a pressão intra-ocular, seus efeitos anticonvulsivos, efeito

estimulante do apetite com consequência de ganho de peso e melhora do estado nutricional em

pacientes com Aids e cânceres, efeitos antiespasmódicos para pacientes com esclerose múltipla,

como relaxante muscular, e possivelmente como coadjuvante nos tratamentos das enfermidades de

Alzheimer e Parkinson (Santos RG, 2009).

Efeitos físicos e psíquicos do tabaco

A Organização Mundial da Saúde afirma que o tabagismo é considerado a principal causa de

morte evitável em todo o mundo e se encontra classificado pelo Código Internacional de Doenças

(CID-10) como um transtorno mental e de comportamento pelo uso de substância psicoativa. Os

efeitos iniciais da nicotina no organismo são: um pequeno aumento no batimento cardíaco, na

pressão arterial, na frequência respiratória e na atividade motora. O consumo de tabaco tem efeitos

devastadores na saúde, atingindo praticamente todos os órgãos e funções, e o risco pode aumentar

com o número de cigarros fumados e a duração do consumo (INCA, 2013; OBID, 2007; Nunes,

2006).

Em 2003 foi estimado um total de 24.222 óbitos associados ao consumo de derivados do

tabaco em 16 capitais brasileiras (ACT, 2010).Wünsch e colaboradores citam que o tabagismo é,

isoladamente, a principal causa de câncer no mundo, sendo o câncer de cavidade bucal, de esôfago

e de pulmão, os que mais acometem os fumantes. (Wünsch Filho et al., 2010).O tabagismo é

responsável por 90% dos casos de câncer de pulmão. Mais de 90% de todas as mortes por doença

pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) estão relacionadas ao tabagismo, sendo que além da nicotina,

o alcatrão e outros constituintes irritantes são também responsáveis por esses efeitos (Cunha et al.,

2007). Fumar causa danos para todo o sistema respiratório, afetando a estrutura e a função

pulmonar, diminuindo as defesas contra as infecções através do comprometimento da função

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mucociliar nasal, diminuindo a capacidade de eliminar microrganismos e provocando a

continuidade de lesões (Nunes, 2006).

As pesquisas feitas pelo U.S. Department of Health and Human Services, afirmam que o

tabaco é causa de aterosclerose, incluindo as formas subclínicas,de doença isquêmica coronária,

cerebrovascular, vascular periférica e de aneurisma da aorta abdominal (Nunes, 2006; U.S.

Department of Health and Human Services, 2004).

O tabagismo está associado ao surgimento de refluxo gastroesofágico, úlcera péptica

gástrica e duodenal, além de cancêr do esôfago, do estômago, do pâncreas, do fígado e do cólon.

Fumar atua sobre o sistema endócrino, diminuindo a liberação de prolactina, resultando na redução

da fertilidade e comprometimento do aleitamento materno. Também pode aumentar a secreção de

andrógenos pelas suprarenais, contribuindo para a resistência à insulina e o aparecimento de

diabetes tipo 2, e para uma maior dificuldade de controle da diabetes tipo 1.( Nunes, 2006;U.S.

Department of Health and Human Services, 2004). No homem pode provocar uma diminuição da

qualidade e quantidade do esperma e a relação com a disfunção erétil, que pode melhorar com a

cessação tabágica (Millet et al., 2006).

O consumo de tabaco durante a gravidez é causa de atraso de crescimento intra-uterino, de

ruptura precoce das membranas, de descolamento da placenta, de baixo peso ao nascer, e de

gravidez de pré-termo. Devido a alterações no metabolismo do cálcio pode ocorrer risco de

osteoporose, principalmente em mulheres pós menopausa. Numerosas perturbações cutâneas,

envolvendo o envelhecimento e formação precoce de rugas, são visíveis em fumantes, devido à pior

oxigenação dos tecidos provocada pelas elevadas concentrações de carboxihemoglobina e pelo

estresse oxidativo inerente ao consumo. Dificulta a cicatrização e piora as lesões da pele associadas

à diabetes, ao lúpus e à Aids (Nunes,2006).

Estresse, depressão, desordens nervosas e doenças mentais, dentre estas a esquizofrenia, são

outros fatores que levam as pessoas a consumir tabaco em maior quantidade (Silva, Goyata &

Souza). Estudos epidemiológicos de base populacional registraram elevação das taxas de tabagismo

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entre indivíduos com doença mental, e identificou o aumento das taxas de doença mental entre os

fumantes (Moylan et al., 2012; Lawrence, Mitrou & Zubrick). Inicialmente, parece haver um

aumento da produção de serotonina, o que diminuiria a probabilidade de sintomas depressivos em

indivíduos com baixos níveis deste neurotransmissor. Mas este efeito parece não ser duradouro, e a

ação antidepressiva da nicotina pode resultar de outros sistemas neuroquímicos (Nunes, 2006).

É de extrema importância, a avaliação do consumo de tabaco em doentes com

perturbações da saúde mental, não só pela sua elevada prevalência nestes casos, mas também pela

interferência com os métodos terapêuticos (Nunes, 2006).

Alguns fumantes, quando suspendem repentinamente o consumo de cigarros, podem sentir

fissura, irritabilidade, agitação, tontura, insônia, dor de cabeça, prisão de ventre, dificuldade de

concentração e sudorese, caracterizando a síndrome de abstinência. Mas que desaparecem em uma

ou duas semanas (OBID, 2007).

Legalização da maconha

A política antidrogas no Brasil se baseia na Lei 11.343 que tem como princípio ”Instituir o

Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescrever medidas para prevenção

do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelecer

normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; definir crimes e dar

outras providências” (Brasil, 2006). Diferentemente das leis anteriores, esta resolução propõem

diferenciar o usuário de drogas do dependente químico, a fim de oferecer a melhor medida, seja

educacional ou terapêutica ao usuário (Ventura et al., 2009).

Os mais conservadores, no entanto, garantem que uma política de drogas baseada na

liberalidade teria um efeito maior nas pessoas que comumente não consomem drogas, aumentando

o índice de usuários regulares (especialmente jovens) ocasionando complicações na vida escolar,

bem como um aumento de pequenos delitos com o objetivo de conseguir um pouco mais de

dinheiro para suprir suas necessidades como usuário. Além disso, integrantes de baixas classes

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sociais poderiam ser prejudicados pelo fácil acesso às drogas, e em contramão teriam maior

dificuldade no tratamento da dependência química (Laranjeira, 2008).

Laranjeira (2008) em seu artigo Legalização de drogas ilícitas no Brasil – Em busca da

racionalidade perdida, intervém nas afirmações sobre os aspectos positivos de uma possível

legalização da maconha dizendo que ainda haveria um grande custo financeiro e, sobretudo

sentimental, para famílias que sustentam seus membros com dependência química e, além disso,

como a maioria dos usuários de maconha e outras drogas não possuem emprego fixo, não existe um

fundamento concreto para acreditar que muitos deles deixariam de praticar delitos para sustentar o

vício.

Diante de todo este contexto, há uma tendência de que a discussão da política relacionada a

drogas deveria caminhar no sentido oposto: ao invés de propor condições para legalização de

drogas, o ideal seria criar mecanismos de maior controle e restrição às drogas lícitas, destacando um

aumento da fiscalização do comércio do Tabaco por parte do estado (Lavor, 2012).

Fato é que, ao redor de todo este enfoque sobre a legalização ou não da maconha, existem

outras preocupações a respeito das consequências das drogas na sociedade. É necessário oferecer

um tratamento público eficiente aos dependentes químicos, desenvolver ações amplas para a

prevenção ao uso de drogas, controlar a publicidade de drogas lícitas e envolver a sociedade em

discussões a respeito do uso de drogas, visando, sobretudo a educação da população (Laranjeira,

2008).

A repressão do tabaco

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o tabagismo é uma doença epidêmica resultante

da dependência de nicotina. Esta droga é responsável por 200 mil óbitos anuais que ocorrem no

Brasil (INCA, 2013).

A maior prevalência de tabagismo na população brasileira se encontra naquelas com piores

condições socioeconômicas e com baixo nível educacional, devendo se direcionar as ações de

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prevenção com enfoque maior para este grupo, citando ainda os jovens que também estão

começando a fumar cada vez mais cedo. (Wünsch Filho et al., 2010).

As ações para promover a cessação do tabagismo vinculadas ao Programa Nacional de

Controle ao Tabagismo , tem o objetivo de motivar fumantes a deixarem de fumar e encurtar o

acesso destes aos métodos eficazes para tratamento da dependência da nicotina (Silva, Goyatá &

Souza).

Para comemorar o dia Mundial da Saúde, a Organização Mundial da Saúde lançou uma

campanha internacional de combate ao tabagismo no ano de 1980. No mesmo ano foi sancionada a

Lei Federal n° 7.488/86 que instituiu o dia 29 de agosto como o “Dia Nacional de Combate ao

Fumo”. De acordo com o disposto pela legislação a propaganda do fumo seria restrita na televisão e

na rádio e mensagens de advertência sobre os diversos malefícios provocados pelo tabagismo

passaram a ser vinculadas nessas propagandas, em cartazes, revistas e jornais, e nas embalagens de

cigarro (Teixeira & Jaques, 2011). Em 2005, foi implementado no SUS, o programa de tratamento

para apoiar o fumante na cessação do consumo de tabaco, que se encontra em ampliação e

modernização (INCA, 2013).

O Programa Nacional de Controle ao Tabagismo teve como marco a Convenção-Quadro

para o Controle do Tabaco, envolvendo 192 países, incluindo o Brasil. Aprovado em 2003, foi o

primeiro tratado internacional de saúde pública, que tem como objetivo diminuir a mortalidade

causada pelo tabagismo e limitar a publicidade de produtos de tabaco. O documento também trata

de medidas de proteção aos fumantes passivos e de combate ao contrabando. (INCA,2013;

OBID,2007).

De acordo com a pesquisa ITC (2009), o Brasil é o líder no controle do tabaco nas

Américas. As medidas adotadas no país como no restante do mundo tem motivado cada vez mais o

fumante deixar de fumar (INCA, 2013). Entretanto, deve-se ter em mente que os benefícios dessa

ação global não virão a curto prazo, mas já estão surtindo efeitos positivos como comprovado em

dados publicados pelo Ministério da Saúde em 2007, que afirmam que o índice de fumantes baixou

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para 16,4%.Por isso, os programas de controle do tabagismo precisam ter o apoio e o consenso

coletivo através da conscientização da população (Rosemberg ,2004).

Embora produzam fisiologicamente alguns efeitos semelhantes, o tabaco e a maconha

possuem diferenças fundamentais nas propriedades farmacológicas. A fumaça da maconha contém

canabinóides, enquanto fumo do tabaco contém nicotina. Ambos os tipos de fumo contêm

substâncias carcinogênicas e partículas que promovem respostas inflamatórias e imunitárias no

organismo. Estudos comprovam que a fumaça da maconha contém quatro vezes mais alcatrão do

que o fumo do tabaco (Wu et al., 1988). Os efeitos cancerígenos do tabaco são contrastantes com

componentes da fumaça de maconha que minimizam algumas vias carcinogênicas. Segundo

Melamele, a nicotina promove crescimento tumoral associado à migração de células. Enquanto,

canabinóides promovem a regressão de tumores em roedores e inibem fatores pró-angiogênicos

(Melamede, 2005).

Considerando que a maconha possa causar menos risco de propensão de câncer, e que entre

suas atividades biológicas ocorre a analgesia, foram sintetizados canabinóides com composição,

estabilidade e dose precisamente conhecidas e não com a erva in natura. A partir de princípios

ativos do THC em formulações para uso analgésico, esclerose múltipla, glaucoma, Aids, câncer

terminal dentre outras (Bonfá, Vinagre & Figueiredo).

Porém, a questão da legalização da maconha possui vários aspectos negativos que devem ser

levados em consideração. Primeiramente, a Cannabis sativa é uma substância química que produz

dependência, ou seja, a maconha possui a capacidade de ativar circuitos cerebrais que inicia o

processo de dependência química, fazendo com que seu uso passe a ser compulsivo, destruindo

muitas das melhores qualidades do usuário e contribuindo para a sua desestabilização perante a

sociedade (Laranjeira, 2008).

Outra consideração relevante é que como a Cannabis sativa causa alterações nas funções

cognitivas e psicomotoras, seu uso pode aumentar o risco de acidentes, inclusive automobilísticos e

diminuir a produtividade no estudo e no trabalho (Kalant, Corrigal & Hall).

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16

Já o tabagismo foi classificado como uma doença epidêmica, então se viu necessário tomar

providências imediatas. No caso do tabaco, a maioria fuma muitos cigarros, diariamente e durante

vários anos. Já a maioria dos usuários de cannabis consomem um número significativamente

limitado de cigarros de maconha, de forma ocasional e por um período de tempo menor. É possível

que quando a população consumidora de cannabis, aumente o grau e duração de consumo, as

consequências a longo prazo podem tornar-se mais semelhantes ao que é observado com tabaco

(Melamede, 2005).

O tabagismo é uma desordem no mundo contemporâneo e foi classificado como uma

morbidade, mortalidade e fator de risco. Um problema preocupante visto que é uma droga lícita

comercializada em todo o mundo (Cunha et al., 2007).

O que pode ser observado no Brasil, é que as políticas de controle à epidemia tabágica tem

surtido efeitos nos últimos 15 anos e os resultados positivos estimulam todos a lutar por novas

conquistas. A cessação do tabagismo é o mais eficaz tratamento que se conhece, e esse associado ao

tratamento terapêutico dos dependentes é extremamente importante para diminuir os efeitos do

tabagismo (Godoy,2010).

No mais, o contexto socioeconômico do Brasil não favorece a legalização de drogas, visto

que haveria um consumo exacerbado, aumentando o número de adictos e consequentemente os

prejuízos sociais e agravos à saúde da população. Diante de tantas contradições, verifica-se a

necessidade de políticas de prevenção contra o uso de quaisquer tipos de drogas, o aumento ao

acesso a tratamentos de qualidade e a um maior envolvimento da sociedade em políticas

educacionais anti-drogas (Pereira et al., 2013).

CONCLUSÃO

Baseado nos danos causados tanto pela Cannabis sativa quanto pelo cigarro, a política

nacional sobre drogas deve ser apoiada na prevenção do uso de quaisquer substâncias tóxicas.

Quanto aos aspectos terapêuticos da maconha, o ideal seria um aumento no investimento em

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pesquisas farmoquímicas sobre o seu princípio ativo, o THC, afim de minimizar sua atividade

psicotrópica aumentando o efeito desejado, seja analgésico, antiemético dentre outros.

Mesmo que os resultados das políticas de controle ao tabagismo sejam cada vez mais

otimistas, ainda há muito a ser feito, pois o tabaco é uma droga legalizada que causa dependência e

várias doenças. Portanto as ações de cessação ao tabagismo precisam ser fortalecidas buscando a

melhoria dos tratamentos e o apoio dos profissionais de saúde.

Como o Brasil é um país no qual ainda prevalece um sistema crítico de saúde e gestão, seria

hipocrisia pensar que recursos recebidos da legalização das drogas seriam repassados à saúde para

tratar de dependentes químicos que a própria sociedade cria, e ao mesmo tempo discrimina.

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