a invenção da infância no século xix - aula 1
TRANSCRIPT
A invenção da infância no século XIX:
Como caminhamos para os direitos século XIX:
Como caminhamos para os direitos da criança e do adolescente
Msc. Enfª Gimene Cardozo Braga
A noção de infância foi determinada não somente por fatores
biológicos, mas também por fatores histórico-sociais. Com a chegada da
imprensa aumentou a necessidade da alfabetização, porém se acreditava que
somente o adulto era capaz de aprender, pois entendia-se que a criança ainda
Século XVII: Infância um ser sem razão e sem cultura
não era dotada de razão. Dessa forma, havia um marco de passagem entre a
infância (ser sem razão e sem cultura) e a fase adulta (ser com razão e capaz de
aprender).
Até então a criança não tinha importância social, somente, a partir do
século XVII começa a existir por parte da família um interesse pelo
desenvolvimento físico-emocional dos filhos. Essa percepção fez surgir uma
preocupação em separar o mundo infantil do mundo adulto, fazendo surgir,
assim, a necessidade de escolas com o intuito de alfabetizar, para que a
humanidade saísse das “trevas da ignorância” (ARIÈS , 1978).
Século XVII: Infância um ser sem razão e sem cultura
humanidade saísse das “trevas da ignorância” (ARIÈS , 1978).
Dessa forma, a escola passou a ser o lugar da infância e a criança deixou
de aprender somente na convivência com os adultos que lhe eram próximos.
Entretanto, a escola ainda era vista como uma espécie de quarentena, na qual a
criança permanecia isolada antes de ser solta no mundo (ARIÈS , 1978).
Século das Luzes (século XVIII) Nova visão de infância.
Começou, então, um longo
processo de enclausuramento das
crianças (assim como dos loucos,
dos pobres e das prostitutas) que
se estenderia até nossos dias, e ao
qual se dá o nome de
escolarização (ARIÈS, 1981, p.11).
Ainda no século XVII, a razão passou a ocupar o lugar da
emoção e das crenças. A criança deixou de ser vista pela família
como um adulto em miniatura ou ser incompleto, sem
importância no seio familiar – um enfant, que quer dizer “não
falante” (sem direito à fala).
Século das Luzes (século XVIII) Nova visão de infância.
falante” (sem direito à fala).
A criança começa a ser entendida como ser humano em processo de
formação e desenvolvimento, que necessitava de cuidados específicos. Ao olhar
a criança de outra forma, a sociedade passou a se preocupar mais com a saúde e
o bem-estar infantil, pensando na importância de cuidar dos primeiros anos de
vida para garantir a sua sobrevivência, preparando-a para um bom
desenvolvimento físico e moral.
Com o iluminismo, as preocupações com a
infância se intensificaram e se centraram na ideia de
transformar a criança em “homem dotado de razão”, para
torná-la produtiva (modo capitalista).
Século das Luzes (século XVIII- XIX) Nova visão de infância.
No século XIX que a escola passa a ser o local por excelência da educação
Aponta-se o surgimento das instituições educativas infantis como
consequência de articulações de interesses jurídicos, empresariais, políticos,
médicos, pedagógicos e religiosos, em torno de três influências básicas: a
jurídico-policial, a médico-higienista e a religiosa (LUENGO, 2010).
e da aprendizagem das crianças, com o intuito de constituir sujeitos eugênicos e
capazes de dar conta de uma nova forma econômica que surgia naquele momento
– a industrialização.
O controle, a eugenia e a ordem social (mortalidade infantil)
Por muito tempo ainda, os pobres vão encarar a mortalidade infantil
como fatalidade a ser aceita na ordem natural das coisas. Para os ricos, no
entanto, esse fenômeno torna-se um inimigo a ser combatido, a fim de
preservar os futuros cidadãos que deverão ocupar-se dos rumos da sociedade.
As diferenças entre as políticas para os ricos e aquelas dirigidas aos pobresAs diferenças entre as políticas para os ricos e aquelas dirigidas aos pobres
vão se expressar de maneira também desigual entre os povos. Se na Europa,
ao final do século XIX, o Estado se preocupa em garantir algum tipo de acesso a
serviços públicos para a população como um todo, nos países colonizados
(Brasil) ou recém-independentes será a elite a se beneficiar de maneira quase
exclusiva do acesso a políticas destinadas à infância
DOURADO, 2009
Nesse contexto, em muitos países, a família passa a ser considerada
incapaz de criar seus filhos. Os discursos e práticas higienistas identificavam,
então, sobretudo entre as classes mais pobres, os potenciais riscos que poderiam
afetar as crianças no contato com seus familiares. As críticas ao alcoolismo e a
atitudes consideradas promíscuas, como o fato de muitas pessoas dormirem em
O controle, a eugenia e a ordem social – Século XIX (mortalidade infantil)
atitudes consideradas promíscuas, como o fato de muitas pessoas dormirem em
quartos minúsculos, foram
apenas alguns dos assuntos que
entraram na pauta das
campanhas higienistas que se
propagaram na Europa, mas que
também ecoaram na América do
Norte e na América Latina. DOURADO, 2009
� Iniciaram os estudos a respeito do desenvolvimento infantil
� A ciência ganha mais espaço que a religião
� Estimula-se os brinquedos e maior disponibilidade à cultura nas escolas
� Surgem novas práticas pedagógicas
� Mudança cultural
� A Criança passou a ser assunto de Estado – Políticas foram feitas
O controle, a eugenia e a ordem social – Século XIX
� A Criança passou a ser assunto de Estado – Políticas foram feitas
DOURADO, 2009
No final do século XVIII e começo do século XIX com as
teorias de Jean-Jacques Rosseau (considerado um dos primeiros
pedagogos da infância) as crianças ganharam um vestuário
próprio.
� Portugal e a pobreza infantil
� Escravidão e o mundo do trabalho de crianças e
adolescentes
A infância no Brasil – criança (mercadoria)
DOURADO, 2009
�Brasil colônia e famílias indígenas
�Trabalho infantil Ricos X Pobres
�O Trabalho como forma de evitar a
“vagabundagem”
Direito das Crianças e dos adolescentes
Em 1923, uma organização não-governamental, aInternational Union for Children Welfare, promulgou asprimeiras leis de proteção à infância que incorporou aprimeira Declaração dos Direitos da Criança de 1924,em Genebra, pela Liga das Nações.
Em 1945 foi criado o United Nations Children’s Fund -UNICEF, órgão internacional que vem, ao longo dosUNICEF, órgão internacional que vem, ao longo dosanos, ampliando seu campo de atuação, como uma dasprincipais instituições na luta pela defesa e garantiados direitos da criança e do adolescente.
Em 1948, em Paris, foi elaborada e aprovada, pelaAssembléia das Nações Unidas (ONU), a DeclaraçãoUniversal dos Direitos do Homem, inspirada em antigasdeclarações, universalizando princípios e adaptando-osaos acontecimentos contemporâneos.
Direito das Crianças e dos adolescentes
Em 1959, foi proclamada na Assembléia Geral das Nações Unidas, a Declaração
dos Direitos da Criança. Muitos dos direitos e liberdades contidos neste documento fazem
parte da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
No Brasil, Em 1978, instituído como o Ano Internacional da criança. A partir desse
momento, diversas associações se articularam em defesa dos direitos da criança.
Em 1988, é promulgada a Constituição Federal, a
Constituição cidadã, defende os direitos da criança em seuConstituição cidadã, defende os direitos da criança em seu
Art. 227, afirma:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurarà criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, odireito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, aolazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, aorespeito, à liberdade e à convivência familiar ecomunitária, além de colocá-los a salvo de toda formade negligência, discriminação, exploração, violência,crueldade e opressão.
Direito das Crianças e dos adolescentes
A partir desse Estatuto, a criança é vista, como um ser humano completo
Com o ECA, vários órgãos se engajaram em uma luta com vistas à suaimplantação. Entre estes, sobressaem o Conselho Nacional dos Direitos da Criança edo Adolescente (CONANDA), o Programa Nacional de Atenção Integral à Criança e aoAdolescente (PRONAICA), o Conselho da Comunidade Solidária e os ConselhosTutelares.
A Resolução 41/95, que é brasileira: A criança e o adolescente têm o direitoA Resolução 41/95, que é brasileira: A criança e o adolescente têm o direito
de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde,acompanhamento do currículo escolar, durante sua permanência hospitalar; Os pais
ou responsáveis participem ativamente do seu diagnóstico, tratamento e
prognóstico, recebendo informações sobre os procedimentos a que será submetido;Apoio espiritual e religioso conforme prática de sua família; Receber todos osrecursos terapêuticos disponíveis para sua cura, reabilitação e ou prevençãosecundária e terciária; Carta da Criança Hospitalizada, crianças e seus pais têm odireito de receber uma informação sobre a doença e os tratamentos, adequada àidade e à compreensão, a fim de poderem participar nas decisões que lhes dizemrespeito.
Estatuto da Criança e do adolescenteLei Nº 8.069/90
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da
sociedade em geral e do poder público assegurar, com
absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes:
à vidaà vidaà saúdeà alimentaçãoà educaçãoao esporteao lazerà profissionalizaçãoà culturaà dignidadeao respeitoà liberdadee à convivência familiar e comunitária.
Capítulo IIDas Atribuições do Conselho
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:
• I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII;
• II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas
previstas no art. 129, I a VII;
• III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:
• a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social,• a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social,
previdência, trabalho e segurança;
• b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimentoinjustificado de suas deliberações.
• IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infraçãoadministrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente;
• V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;
• VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as
previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional;
• VII - expedir notificações;
• VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente
quando necessário;
• IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentáriapara planos e programas de atendimento dos direitos da criança e doadolescente;
• X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitosprevistos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal;
• XI - representar ao Ministério Público, para efeito das ações de perda oususpensão do pátrio poder.
Capítulo II - Das Atribuições do Conselho
suspensão do pátrio poder.
XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda oususpensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de manutenção dacriança ou do adolescente junto à família natural.
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entendernecessário o afastamento do convívio familiar, comunicará incontinenti o fato aoMinistério Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimentoe as providências tomadas para a orientação, o apoio e a promoção social da
família.
Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente poderão ser revistas
pela autoridade judiciária a pedido de quem tenha legítimo interesse.
ReferênciasARIÈS, P. A história social da criança e da família. 1978.
BRASIL. Lei Nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Acesso em: 11 Jul 2012. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm
DOURADO, A.C.D.História da Infância e Direitos da Criança. Salto pra o futuro. Tv escola. 2009, Ano XIX, n.10, pp. 1-19,
GOMES, Ilvana Lima Verde; CAETANO, Rosângela and JORGE, Maria Salete Bessa. A criança e seus direitos na família e na
sociedade: uma cartografia das leis e resoluções. Rev. bras. enferm. [online]. 2008, vol.61, n.1, pp. 61-65.
LUENGO, FC. A vigilância punitiva: a postura dos educadores no processo de patologização e medicalização da infância [online]. SãoLUENGO, FC. A vigilância punitiva: a postura dos educadores no processo de patologização e medicalização da infância [online]. SãoPaulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. 142 p. ISBN 978-85-7983-087-7. Available from SciELO Books<http://books.scielo.org>.
PARANHOS, V.D; PINA, J.C; MELLO, D.F. Atenção integrada às doenças prevalentes na infância e o enfoque nos cuidadores: revisão
integrativa da literatura. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, 19(1): 203-211, jan/fev, 2011.