a intervenção estatal no carnaval de são luís nas décadas de 70 a 90 - walselina

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  0 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO CENTRO DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS DEPARTAMENTO DE HISTÓRI A CURSO DE HISTÓRIA WALSELINY DE JESUS RODRIGUES SANTOS A INTERVENÇÃO ESTATAL NO CARNAVAL DE SÃO LUÍS NAS DÉCADAS DE 70 A 90 SÃO LUÍS 2010

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A Intervenção Estatal No Carnaval De São Luís Nas Décadas De 70 A 90

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO CENTRO DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA CURSO DE HISTÓRIA
WALSELINY DE JESUS RODRIGUES SANTOS
A INTERVENÇÃO ESTATAL NO CARNAVAL DE SÃO LUÍS NAS DÉCADAS DE 70 A 90
SÃO LUÍS 2010
WALSELINY DE JESUS RODRIGUES SANTOS
A INTERVENÇÃO ESTATAL NO CARNAVAL DE SÃO LUÍS NAS DÉCADAS DE 70 A 90
Monografia apresentada ao Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão, para obtenção do grau de Licenciatura em História.
Orientador: Prof. Msc. Fábio Henrique Monteiro
SÃO LUÍS 2010
SANTOS, Walseliny de Jesus Rodrigues.
A INTERVENÇÃO ESTATAL NO CARNAVAL DE SÃO LUÍS NAS DÉCADAS DE 70 A 90   / Walseliny de Jesus Rodrigues. ______ São Luís, 2010.
45 f.. :il.
1. Carnaval 2. Estado 3. Escola de Samba.
CDU
WALSELINY DE JESUS RODRIGUES SANTOS
A INTERVENÇÃO ESTATAL NO CARNAVAL DE SÃO LUÍS NAS DÉCADAS DE 70 A 90
Monografia apresentada ao Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão, para obtenção do grau de Licenciatura em História.
Aprovada em: _______/_______/_______
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________
  4
 
  5
AGRADECIMENTOS
A Deus pela força concedida para a realização deste trabalho, sem Ele não teria
conseguido.
A minha família, em especial a minha mãe e meu pai, que me apoiaram quando
decidi iniciar o curso de História na Cidade de Caxias onde não conhecia ninguém, e ainda
assim me apoiaram nesta decisão. Agradeço pelas muitas orações que foram proferidas, e
ainda continuam!
Aos meus amados irmãos: Walsely, Wilney, Wesley e Wilsileny.
Aos meus familiares, primos e tios que me dedicaram carinho e atenção.
Aos amigos da igreja que muitas vezes escutaram meu pedido de oração, obrigada
a todos, não citarei nomes para não cometer injustiças, pois sei que muitos oraram por mim.
A todos os professores do curso de História com quem tanto eu aprendi, em
especial ao professor Fábio que me deu algumas orientações neste trabalho, muito obrigada!
Aos amigos da Universidade que jamais esquecerei  minhas amigas: Polyana,
Silma, Marksuel, Luciana Santiago, a vocês amigos que compartilhamos muitas vezes as
nossas lutas e incertezas, minha eterna gratidão.
Enfim, a todos que torceram por mim!
 
  6
A política cultural que se limita a facilitar o consumo de bens culturais tende a ser inibitória de atividades criativas e a impor barreiras à inovação.
Celso Furtado
  7
RESUMO
Neste estudo pretende-se abordar a intervenção estatal no carnaval de São Luís nas décadas de
70 a 90, percebendo-se essa atuação através das escolas de samba de São Luís. Para tanto,
analisa-se as várias formas de atuação do Estado, compreendendo a sua maneira de atuar de
acordo com seus interesses. Tal enfoque serviu para compreender a maneira como as escolas
de samba ludovicense se tornam brincadeira preponderante no período momesco ludovicense,
e como a intervenção estatal é responsável por seu sucesso e também por sua decadência.
Neste sentido, a pesquisa aponta para o final da década de 80, onde os interesses estatais já
aspiram outros investimentos, e na década de 90 essa troca de interesses se configuram e se
consolidam no carnaval de rua, e na agonia das escolas de samba.
Palavras-Chaves: Carnaval, Estado, Escola de Samba.
 
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ABSTRACT
In this study it is intended to board the state intervention in the carnival of São Luís in the
70’s to 90’s, perceiving this actuation through the samba schools of São Luís.
Therefore, it is analyzed the several forms of actuation of the state, perceiving its way of
acting according with its interests. Such mention served to comprehend the way like the
samba schools of São Luís became considerable fun in the momesco period of São Luís, and
like the state intervention is responsible for its success and also for its decadence. In this
sense, the research points that, in the final of 80’s, the state interests already aspire to others
investments, and in the 90’s this change of interests configures and consolidates in the street
carnival, and in the samba schools agony.
Key-Words: Carnival, State, Samba, School.
 
DETUR - Departamento de Turismo 
FUNC - Fundação Municipal de Cultura 
MARATUR - Empresa Maranhense de Turismo 
SIC - Secretaria de Indústria e Comércio 
UESMA - União das Escolas de Samba 
 
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................ 11
2 CARNAVAL DO SAMBA – DÉCADA DE 70: AUGE OU DECADÊNCIA? ......... 14
2.1 Políticas Cultural Carnavalesca na década de 70 .................................................... 17
3 DÉCADA DE 80: E S C O L A D E S A M B A E O ESTREITAMENTO DAS
RELAÇÕES POLÍTICAS EM SUAS VÁRIAS FORMAS E MODALIDADES....... 22
3.1 Intervenção Estatal não oficial ................................................................................. 24
3.2 Intervenção Estatal não oficial: Via de mão dupla. ................................................. 27
3.3 Intromissão Estatal e Mudanças de Interesses: Para alguns crise, outros sucesso..29
4 DÉCADA DE 90 - PROJETO “CARANAVAL DE RUA” ...................................... 31
4.1 Legitimar para Explorar........................................................................................... 33
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 41
1 INTRODUÇÃO
Neste estudo aborda-se a intervenção do Estado no carnaval de São Luís,
especificamente nas décadas de 70 a 90, percebendo essa atuação através das escolas de
samba, em décadas que configuram o período áureo de seu prestígio e expansão. Situa-se o
carnaval de São Luís, segundo MARTINS (2001) em três fases, carnaval colonial, carnaval
dos autos e carnaval do samba, fases estas com características distintas.
Entretanto ARAÚJO (2001), que também escreve sobre a mesma temática,
observa que estas descritas acima, não possuem limites rigorosamente definidos, mas se
tornam pertinente neste trabalho para balizamento deste estudo monográfico.
Procurou-se analisar o período determinado por MARTINS (2001), de carnaval
do samba, onde este apresenta o ano de 1920 como início das primeiras brincadeiras
carnavalescas animadas ao ritmo do samba, e estas seriam as turmas de samba.
Posteriormente estas turmas de samba se tornariam as escolas de samba, portanto ERICEIRA
(2006) destaca que essas transformações se deram de maneira gradual, e em meados de 1960
esta nomenclatura “escola de samba” se consolida.
“É oportuno reinterar que gradualmente as turmas de samba foram incorporando novos elementos e se aproximando da estrutura ritual de desfiles das escolas de samba, ao modificarem o ritmo de suas baterias e introduzindo outros personagens em seus desfiles...” (ERICEIRA, 2006, p. 63)
Durante algum tempo, turmas de samba e escola de samba são confundidas,
todavia ERICEIRA (2006) destaca que o importante não é saber as principais diferenças de
uma ou outra, mas delinear como os antigos elementos foram transformados ou sendo
abandonados paulatinamente até assumirem o que se apresenta atualmente nas escolas de
samba de São Luís.
Neste contexto de transformações, MARTINS (2001) cita que as turmas de samba
geralmente iniciavam de um grupo de amigos, a procura de novas alternativas carnavalescas,
e um de seus desdobramentos foi à escola de samba. Especificamente na década de 70, “as
turmas de samba de São Luís, que vinham percorrendo um caminho criativo relativamente
autônomo, irão incorporar “novidades” que aproximem da exuberância do carnaval carioca,
influenciadas pelas imagens televisivas já estavam em expansão.” (MARTINS, 2001.p.117)
Tais transformações caminham com a organização das escolas de samba, pois a
 
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desde 1950, e ainda que organizado pelo poder público, este até então não interferia na
espontaneidade das manifestações. Contudo, o mesmo autor observa que a partir de 1976 fica
visível a perda de espontaneidade do carnaval tradicional, na medida em que surgem
incentivos oficiais para que as brincadeiras se apresentassem.
Partindo-se do pressuposto da afirmativa de QUEIROZ (1992) quando afirma que
o carnaval deve ser estudado levando-se em conta, principalmente, as condições sócio-
econômicas e culturais de cada povo, e cada grupo que o realiza, para que seja possível
apreender seu sentido, este trabalho buscou nas obras de ERICEIRA (2006), e ARAÚJO
(2001) tal característica, pois ambos buscaram a vivência e as experiências vividas por escolas
de samba de São Luís; a Flor do Samba e Favela do Samba.
Nestas duas agremiações, buscou-se analisar a relação do Estado com o carnaval,
iniciando o trabalho com a década de 70 onde o carnaval de passarela passa por um grande
momento, tendo as escolas de samba como destaque, e o grande interesse do Estado, gerando
um maciço apoio estatal.
Passando pela década de 80, mesmo em meio a crises financeiras em que o Brasil
passava, as escolas de samba conseguem seu espaço, chegando enfim a década de 90, onde o
quadro apresentado é diferente, o espaço para o cortejo das escolas de samba diminui no
cenário carnavalesco, assim como o interesse do Estado pela brincadeira. Contornos estes, que
se iniciam no final da década de 80, e se consolidam nos anos 90.
Ao longo deste trabalho procurou-se observar que nestas diferentes épocas o
Estado atuou de várias maneiras, conforme o propósito de interesses dos poderes públicos.
Neste sentido analisa-se as influências mercadológicas no campo do turismo que podem ser
percebidos como arcabouço para a variação das atuações de políticas culturais sobre o
carnaval de São Luís.
Esta pesquisa contou principalmente, com os jornais da época, por onde
percebemos as transformações pelas quais o carnaval passou quanto à questão da intervenção
do Estado, assim como outros fatores que contribuíram para essas mudanças.
Partindo-se dessas abordagens e leituras, este trabalho insere-se no campo da
história cultural por entender que, “o fato de que as tradições de uma cultura possam ser
identificáveis não quer dizer que não se transformem que não tenham sua dinâmica. Nada do
que é cultural pode ser estanque, porque a cultura faz parte de uma realidade onde a mudança
é um aspecto fundamental”. SANTOS (1984, p. 47)
Esta pesquisa fundamentou-se em artigos, livros, teses, jornais da década de 70,
 
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entre outros. O trabalho está dividido em três capítulos. No primeiro capítulo através de várias
leituras principalmente de jornais da década de 70, procurou-se identificar a situação do
carnaval ludovicense, e as políticas públicas implantadas para seu resgate, assim como a como
a construção das escolas de samba como brincadeira preponderante na folia de São Luís, e o
interesse do Estado em prover este tipo de brincadeira.
No segundo capítulo: A década de 80 destacou-se o momento paradoxal vivido
pelas escolas de samba, pois o Brasil neste momento passa por dificuldades financeiras, mas
as escolas de samba em São Luís conseguem se afirmar no cenário carnavalesco atingindo seu
auge. Destacando também as relações das escolas de samba e agentes políticos locais, onde
pode ser caracterizado como intervenção estatal não oficial.
Ainda no segundo capítulo, aborda-se o final da década de 80 como o início das
dificuldades das escolas de samba no cenário carnavalesco, assim como a canalização da
maioria das verbas estatais para outros tipos de brincadeiras.
No terceiro capítulo, destaca-se a década de 90, com a intensificação das críticas
ao carnaval das escolas de samba como imitadoras decadentes das escolas de samba carioca,
gerando iniciativas para resgatar o antigo carnaval de São Luís, intensificando e propagando o
carnaval de rua, como o autêntico carnaval maranhense. Assim também como o desvio da
atenção e verbas do Estado para o investimento do carnaval de rua.
A abordagem sobre a década de 90 inclui também a problemática em torno do
discurso de legitimação sobre o projeto carnaval de rua, assim como a chegada de elementos
baianos no carnaval maranhense e suas conseqüências no discurso de defensores do genuíno
carnaval maranhense.
Neste processo de mudanças de interesses por parte do Estado nas escolas de
samba de São Luís, no decorrer das décadas trabalhadas nesta pesquisa, procurou-se perceber
também a atuação de membros envolvidos neste tipo de brincadeira e sua participação
atuante.
2 CARNAVAL DO SAMBA – DÉCADA DE 70: AUGE OU DECADÊNCIA?
O carnaval é uma das maiores festas populares do Brasil, e este nem sempre teve a
presença estatal na sua organização. Contudo, ao longo dos anos essa presença passa a existir,
tornando-se atuante e muitas vezes indispensável. Para penetrar no estudo das relações
estatais com o folguedo carnavalesco, mas precisamente as escolas de samba, explicita-se que
ao trabalhar com a palavra Estado, e que tal definição varia de acordo com a perspectiva
adotada por quem escreve, adota-se neste trabalho a visão de que o Estado é uma organização
complexa que detém o poder político, sendo ele na esfera Municipal ou Estadual.
Na perspectiva da compreensão do quadro político dominante no Brasil, assim
como este se relacionava com o tríduo momesco, necessário torna-se contextualizar o cenário
político em que o país estava inserido na década de 70. Neste período vigorava no Brasil o
Regime Militar, golpe dado pelos militares no início dos anos 60, anos de grandes contrastes.
Como característica desse governo destacava-se a propaganda política massiva, assim como a
censura a tudo que podia pôr em risco o regime militar ou aquilo que ia contra a posição
político ideológica do governo.
Consequentemente foram anos marcados pelas perseguições e o desaparecimento
daqueles que ousavam desafiar as idéias deste regime, mas a resistência existiu a este modelo
político, principalmente por parte de intelectuais, estudantes, operários e artistas. Conhecida
também como os anos de chumbo brasileiro, a década de 70 também foi marcada pelo rígido
controle sobre o que se produzia culturalmente no Brasil, prova disso foi à criação do Ato
Institucional, o AI-5, que fiscalizava e barrava produções que o regime achava que
prejudicaria suas idéias.
Com isso várias manifestações artísticas foram reprimidas e seus protagonistas,
em sua grande maioria empurrada para o exílio. E o carnaval como manifestação cultural e
artística, precisamente as escolas de samba, não fugiam a esse rígido controle, tudo deveria
passar antecipadamente pelo órgão do governo responsável pela censura.
“Neste ano as Escolas de Samba Cariocas são obrigadas a mostrarem antecipadamente aos órgãos policiais censores, os croquis de suas alegorias, fantasias e letras de seu samba enredo (...)” (A Tribuna do Norte, 10, jan, 1971).
O recorte jornalístico acima se remete a situação das escolas de samba do Rio de
Janeiro, e embora houvesse o rígido controle do carnaval, ao que se percebe este não deixava
de acontecer, mesmo com restrições. Entretanto nos jornais pesquisados de São Luís da
 
folguedo momesco ludovicense, levando a crer que tais interferências foram poucas, a ponto
de não chamar atenção da mídia local.
O carnaval ludovicense na década de 70 compreende dois momentos distintos que
vão interferir de forma definitiva na forma de fazer carnaval em São Luís. De 1970 a 1973,
detecta-se em periódicos pesquisados muitas cobranças e queixas de personagens atuantes no
carnaval ludovicense, denúncias de abandono e falta de organização por parte dos poderes
públicos, assim como uma deficiente estrutura. Todavia, é importante ressaltar que de acordo
com as mudanças ocorridas no carnaval, novas necessidades foram surgindo e novas
cobranças e antigas também, continuaram sendo feitas ao Estado.
Entretanto segundo Ananias1 a organização do carnaval de São Luís, a partir de
1950 já ficava a cargo da prefeitura, responsável pela premiação de acordo com a divisão
entre blocos e escolas de samba, o que sugere que o modelo de carnaval submetido à
organização estatal já se dava há alguns anos, contudo, essa intervenção toma várias formas
no decorrer dos anos, o foco principal deste trabalho que pretende perceber estas nuances.
Outra função de destaque e também de responsabilidade da prefeitura, era a decoração da
cidade, tornado-se quase como um termômetro do ânimo do folião para o carnaval de cada
ano, e sempre com lugar de destaque na mídia local, que aprovava ou reprova o estilo
utilizado, sendo amplamente divulgadas as várias opiniões a respeito.
Os três anos do início dos anos 70 considerados como decadentes do carnaval
ludovicense, é marcado por muitas críticas e um discurso saudosista dos antigos carnavais,
que inclusive vai ser marca registrada até hoje em crônicas de escritores em vários jornais,
dando ênfase no mito de que o carnaval de São Luís estaria perdendo o seu lugar como
terceiro do Brasil. Contudo Silva2 destaca que o mito está relacionado com o sujeito, seja para
contá-lo, para organizá-lo ou para legitimá-lo. E o mesmo autor, através dos seus estudos
sobre carnaval de São Luís é sensível a percepção de que há uma tentativa de legitimação por
parte da mídia em passar a idéia de que em São Luís brincava-se o terceiro melhor carnaval
do país e que tal mito teria sido construído no período dos cordões. Portanto, o tempo vivido é
considerado sempre melhor que o tempo atual.
Embora o carnaval fosse organizado oficialmente pela prefeitura, as escolas de
samba na década de 70 recebiam o apoio de empresa privadas, entre elas alguns jornais da
cidade, que distribuíam troféus aos destaques do carnaval. E mas que isso, no caso do jornal,
 
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O Imparcial, percebe-se algumas intermediações com os poderes públicos no apoio material
para algumas brincadeiras carnavalescas.
Escolas de samba – proveitosa a nossa reunião hoje no Imparcial. As escolas de samba queriam mostrar ao povo que também é uma mensagem de paz.(...) O desanimo inicial com a falta de verba, a falta de decoração e o pouco caso dos responsáveis, foi substituído depois da nossa reunião. (...) A grande alegria também é saber que o Imparcial e a Gurupi com a colaboração dos irmãos Antonio e Severino Gaudêncio vão premiar com dois troféus os sambistas. (O Imparcial, São Luís, 16 de Fev. de 1972) A grande tribo que vai que vai desfilar êste ano esteve nos visitando e contando suas dificuldades para poder fazer o carnaval. D. Zelinda, ouvindo O Imparcial a respeito do fato providenciou logo uma ajuda para as meninas. (...) (O Imparcial, São Luís, 11 de Fev. 1971)
As duas citações acima corroboram a idéia de um carnaval desassistido pelo
Estado, e que este contava com ajuda da iniciativa privada no sentido de divulgação e
organização de eventos, diferente dos benefícios materiais adquiridos, mas à frente quando as
escolas de samba se sobressaem no carnaval de São Luís e também agregam ajuda privada,
mas de cunho material.
Entretanto, contrariando a opinião de que o carnaval estaria morrendo e que
faltavam investimentos para as brincadeiras carnavalescas, a senhora Zelinda Lima,
representante do órgão responsável pelo gerenciamento do carnaval de São Luís até então, o
Departamento de Turismo do Estado, no início da década de 70, responde em um dos mais
populares jornais da cidade que, “a evolução do carnaval era nítida, haja vista que as antigas
turmas de samba na sua maioria haviam se transformado em escolas de samba, as antigas
brincadeiras também eram apreciadas, e que naquele ano a Turma do Quinto ia sair com 200
pessoas, e que nas ruas os fofões e os Baralhos ainda mostravam sua alegria, e por fim, o
tambor de crioula que havia 2 ou 3, mas que naquele ano 10 estavam registrados” 3 . Ou seja,
esta induz o leitor a visualizar a evolução do carnaval ludovicense, e que os problemas do
carnaval estariam em outros fatores:
“E ainda dizem que o carnaval está morrendo! O que há segundo parece, é a falta de organização nos desfiles, realizados em locais impróprios e sem obediência de horário (...)”. (O Imparcial, São Luís, 12 fev. 1971)
A falta de apoio do Estado no tríduo momesco era sentido em todas as
brincadeiras carnavalescas, o que já se deixou explícito, e consequentemente nas escolas de
samba que ainda não tinham se tornado expressão máxima do carnaval de São Luís. No
entanto suas reivindicações estavam sempre na mídia, e torna-se pertinente, mas a frente
 
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destacar características que tornaram as escolas de samba com seus carnavais de passarela,
preponderantes na folia ludovicense. Portanto no início dos anos 70, dentro do período
consideradas como decadentes do carnaval e sem o respaldo do Estado, essas agremiações
carnavalescas vivenciam suas agruras com os poderes públicos, ressaltando que essa relação
de conflito não faz parte somente da década de 70.
No carnaval de 1973 desentendimentos das escolas de samba e o órgão
responsável pela premiação do desfile, a Coordenadoria de Turismo, marcou a discussão
daquele ano. Pois, as escolas de samba estavam na iminência do desfile do carnaval de 73,
mas a premiação do carnaval passado, do ano de 72 ainda não havia sido pago para as
mesmas. Com isso, algumas escolas de samba ameaçavam não mas participar do desfile
promovido por este órgão aquele ano.
“Conforme denúncia feita pelo presidente José Alves Costa da Escola Flor do Samba, uma das ganhadoras do concurso, realizado no carnaval passado, os prêmios que fizeram jus as escolas de samba vencedoras, até o momento não foram pagos pela Coordenadoria de Turismo (...)” (O Imparcial, São Luís, 11, fev. 1973)
Um quadro de decadência e abandono do carnaval de São Luís, e que segundo a
prefeitura, a falta de dinheiro não possibilitava maiores investimentos.
Decepção – Mesmo os mais otimistas estão decepcionados com o carnaval maranhense. (...) O resultado veio na quarta feira de Cinzas. Não se viu o carnaval Maranhense esse ano. O Dept. de turismo não teve verbas e sem dinheiro não seria possível fazer promoção. Particularmente acho que esse fato ver em benefício do novo prefeito que deve antemão que com seus próprios recursos o povo não pode fazer carnaval. (O Imparcial, São Luís, 28 de fev. 1971)
2.1 Políticas Culturais Carnavalescas na década de 70
Conforme o delinear do quadro carnavalesco do início dos anos 70, o governo do
Estado interfere entregando a organização do carnaval de 1974, ao Departamento de Turismo
- (DETUR), caracterizando um segundo momento do carnaval de São Luís na década de 70.
Reação que poderia ser enquadrada na busca do conhecimento do turismo como
investimento, e o início da transformação do carnaval ludovicense como produto turístico,
tanto que no ano seguinte, autorizado pelo então governador Nunes Freire, a DETUR –
Departamento da SIC, se transforma em MARATUR (Empresa Maranhense de Turismo),
 
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Os repasses da subvenção para as brincadeiras aquele ano seguiram alguns
critérios, a principio somente as manifestações classificadas como brincadeiras de rua
receberiam o incentivo financeiro, o que conseqüentemente as escolas de samba ficariam de
fora, no entanto como diz o jornal, “numerosas entidades carnavalescas dessa capital
manifestaram o desejo de receber ajuda da Secretaria de Indústria e Comércio para as suas
apresentações” 4.
Contudo, para receber a ajuda, as entidades solicitantes teriam que “provar que
eram vinculadas á Federação das Escolas de samba do Maranhão, devendo ter também
autorização da Polícia Federal do Maranhão e da Divisão de Costumes e diversões da
Secretaria de Segurança Pública, o que caracteriza ainda que pequena, a interferência atuante
da ditadura militar na folia momesca ludovicense” 5.
As escolas de samba receberam o incentivo financeiro prometido pela DETUR,
levando 26 escolas de samba à passarela aquele ano:
Foram entregues ontem às escolas de samba da capital todos os cheques que a Secretaria de Indústria e Comércio deu como ajuda pela participação dessas organizações no carnaval deste ano. (...) A importância arbritada pela comissão nomeada pela SIC variou entre 500 e 2.000 cruzeiros com o que ainda houve descontentes. Cada um dos representantes das agremiações contempladas assinou o termo de compromisso obrigando se a bem empregar o dinheiro e obedecer a regulamentação oficial do desfile.” (O Imparcial, São Luís 20 de Fev.1974)
É importante ressaltar o último parágrafo do fragmento jornalístico acima, pois
segundo ERICEIRA (2005) um dos objetivos do DETUR era também oferecer dispositivos
que visavam disciplinar os cortejos momescos, ou seja, delimitar um trajeto previamente
programado para corsos e carros alegóricos, estabelecimento de início e de término dos
desfiles, concessão de prêmios às brincadeiras vencedoras e construção de palanques para
 julgadores, autoridades e convidados. E o autor continua lembrando que o itinerário prescrito
por aquele órgão estadual para as denominadas brincadeiras de rua foi posteriormente
chamado de quadrilátero carnavalesco, por causa do quarteirão formado pelas quatro ruas por
onde as agremiações passavam.
Para Martins6 a partir de 1976 a perda da espontaneidade do carnaval tradicional
 já era visível, propiciada pelo incentivo oficial para que as brincadeiras se apresentassem.
Contudo, ERICEIRA (2005) aborda questões onde Canclini (1998)7 possibilita outra visão a
 
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respeito da intervenção estatal, ou seja, os investimentos públicos ou privados nos produtos e
expressões populares não podem ser compreendidos apenas pela ótica negativa que supõe tal,
intromissão como deletéria ao que considera a essência do popular. Pois o sistema capitalista
continua o autor, inviabiliza posturas românticas das culturas populares, uma vez que muitas
organizações culturais ou atores sociais, como artesãos, necessitam de apoio de políticas
culturais para garantirem a continuidade de suas produções simbólicas.
E no caso das escolas de samba, ERCICEIRA (2005) identifica que o
investimento dos poderes públicos nessa forma de brincar o carnaval, conduziu as escolas de
samba a assumirem papel de relevância no carnaval de São Luís, com destaque para o
carnaval de 74, onde segundo o mesmo autor estas conseguiram se firmar como
manifestações momescas predominantes no carnaval ludovicense.
Observando alguns fatores na trajetória das escolas de samba de São Luís, pode-
se até permitir a idéia de que essa preponderância sobre as outras brincadeiras teve sua
construção iniciada em 1971, quando as entidades sambistas se uniram e criaram a Federação
das Escolas de Samba do Maranhão (FESMA), com o objetivo de se organizarem e
negociarem suas reivindicações junto ao Estado.
Mas tarde ocorre uma divisão interna comandada pela Turma do Quinto, onde
fundam a União das Escolas de Samba (UESMA). Pois na briga da presidência da FESMA,
Flor do Samba não abria mão dessa possibilidade, ou seja, uma escola não queria se submeter
à outra, gerando divisões entre elas.
Embora com todas as divisões, as escolas de samba conseguiam exigir e
argumentar com o Estado aquilo que lhes achavam de direito, sendo a única brincadeira
organizada legalmente, possibilitando com mas fluidez o diálogo com os poderes públicos
que nem sempre era tão fácil.
Ao que parece, o carnaval de 74 pode ser considerado um divisor na história das
sociedades sambistas de São Luís, alguns diriam que os anos 70 teriam sido esse divisor. Pois
a partir da segunda metade de 70, as escolas de samba iniciam um processo chamado por
alguns de cariocarização, onde as agremiações sambistas ludovicenses buscavam nas escolas
de samba do Rio de Janeiro, segundo MARTINS (2001) repetir as novidades cariocas. E o
meio de viabilização para que o carnaval do Rio de Janeiro servisse de modelo para todo país,
segundo o estudioso ERICEIRA (2005) teria sido a televisão que passou a transmitir o
carnaval de passarela carioca todos os anos.
As imagens dos desfiles das escolas de samba de São Luís também passaram a ser
 
  20
tinha aderido ao modelo do carnaval de passarela, a classe média. Detentora da maioria dos
televisores da época, considerada até então artigo de luxo.
Contudo, para alguns o advento da televisão não trouxe tantos benefícios assim
para o carnaval local:
“Depois que passaram a fazer o televisionamento de blocos e escolas de samba. Findou-se o carnaval de Rua. Os cordões, blocos e escolas de samba só deixam sua sede quando começa a escurecer e assim mesmo em caminhões (...) só se ver carnaval de Rua em São Luís quem tem um aparelho de Televisão”. (Jornal Pequeno, São Luís 06 de Fev. 1971)
A aproximação da classe média das escolas de samba e sua participação nas
mesmas, segundo ERICEIRA (2005) seria o resultado da complexa relação social que incluía
investimento governamental, participação de veículos de comunicação de massa, organização
interna e a adoção de uma nova estrutura de desfiles inspirados no sucesso alcançado pelas
agremiações cariocas, para o autor, tais fatos acentuaram de maneira significativa e célere o
interesse de outros atores sociais por essa expressão carnavalesca8.
Dentro do modismo que despontara entre a classe média, a rivalidade entre as
escolas de samba A Flor do Samba e a Turma do Quinto marcava essa dinâmica, ou seja, as
duas escolas, mas procuradas por tais classes, foram estas. Contudo, segundo ARAÚJO
(2001) a Flor do Samba é que ganha o rótulo de “escola rica” e Turma do Quinto de “escola
do povo”, e esta última vai ser caracterizada como oposição a tudo que a Flor representava,
haja vista que membros da família Sarney compunham a Flor do Samba.
O final dos anos 70 é marcado por algumas discussões, no carnaval de 77 houve
um aumento considerável da participação de foliões nas escolas de samba, e
consequentemente a criação de várias agremiações, a ponto do Estado preocupar-se com a
estrutura interna, e se estas teriam possibilidade de desfilar nos padrões desejados. Com isso
as escolas de samba foram dividas em três grupos de classificação. Neste mesmo ano a
MARATUR sugere a união das pequenas escolas. Atitudes que demonstram a solidificação
do carnaval de passarela no cenário carnavalesco de São Luís.
“A Junção de algumas escolas e a eliminação do grupo C, podem ser as mudanças a serem sugeridas pela Empresa Maranhense de Turismo para o próximo ano”. (O Estado do Maranhão, São Luís, 22 de Fev. 1977)
No carnaval de 78, as reivindicações solicitando o aumento da subvenção a MARATUR
aumentam, e as escolas de samba ameaçam não desfilar, se não fossem atendidas, e ARAÚJO (2001),
chama atenção para o poder de barganha que aumentava cada vez mais das escolas de samba. Todo o
8 ERICEIRA, op. cit., p. 123.
 
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“cenário” é montado pela MARATUR, na tentativa de colocar as escolas de samba como seu principal
investimento, a exemplo do Rio de Janeiro, continua o mesmo autor, no entanto, o Maranhão esbarrara
nas restrições econômicas. Continuando nesse mesmo objetivo de investimento nas escolas de samba,
a MARATUR transfere o carnaval do centro de São Luís, para o Anel Viário, gerando celeumas entre
o governo do Estado e Prefeitura.
A década de 70 encerra-se com adequação do espaço a ser escolhido para o
desfile das escolas de samba, ocasionando conflitos a serem resolvidos.  
O presidente da MARATUR, comentando a mudança do desfile carnavalesco do centro de São Luís, esclareceu que o povo não deve confundir desfile oficial com o carnaval maranhense, “pois este estará em todos os locais, sem qualquer vinculação com a localização do desfile”. (...) “A mudança para as imediações do viaduto “Getulio Vargas”, atendeu melhor o interesse das escolas de samba e blocos desfilantes, que não haviam gostado do outro local anteriormente fixado.” (O Imparcial, São Luís, 09 de Fev.1979)
Este cenário permite perceber uma visão não tão romantizada do Estado em
relação ao incentivo cultural, assim como a criação das políticas públicas para seu incentivo,
onde este não teria por si só o objetivo de estimular e proteger brincadeiras que poderiam ficar
no esquecimento. Os anos seguintes também poderão ajudar a compreender essa relação
 
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3 DÉCADA DE 80: ESCOLA DE SAMBA E O ESTREITAMENTO DAS RELAÇÕES
POLÍTICAS EM SUAS VÁRIAS FORMAS E MODALIDADES.
O Brasil na década de 80 havia se tornado um verdadeiro caldeirão de
transformações políticas, sociais e culturais. O regime militar já se mostrava completamente
desgastado, propiciando um profundo processo político. O fim da ditadura significava a
retomada de uma série de liberdades civis que foram completamente banidas pelas ações
restritivas impostas pelo governo militar que vigorou durante duas décadas.
Durante o governo de Figueiredo, o Brasil mergulhou numa das mais graves crises
econômicas da sua história, sendo a década de 80, chamada por alguns de “década perdida”.
A inflação era muita alta, a dívida externa assombrosa e as dívidas públicas do governo
maiores que sua arrecadação.
De forma paradoxal, as escolas de samba de São Luís vivem seu grande momento
na década de 80, com grande divulgação e adesão de várias classes populares, em destaque a
classe média, que desde o final da década de 70 já vinha aderindo a folia das escolas de samba
de São Luís.
O novo contexto em que as escolas de samba estavam inseridas já não
correspondia ao que era apresentado anteriormente, um novo patamar de luxo foi alcançado
em suas apresentações, por vezes gerando dificuldades financeiras para manter o nível
almejado:
“Débito ameaça a Flor do Samba no desfile do Carnaval de 80 na João Lisboa”. O elevado débito de quase 500 mil cruzeiros no comércio local, principalmente
 junto ao Armazém Abreu e a Cerma, poderá impossibilitar de uma vez por toda a Flôr do Samba de sair às ruas da cidade neste carnaval de 80. (...) Segundo informou a mesma fonte, a principal causa da crise interna formada entre os diretores da Flor, deve-se ao fato de alguns terem idéias fixas de fazer um carnaval milionário, que infelizmente tem fugido às nossas realidades financeiras. (O Estado do Maranhão, São Luís, 06 de fev. 1980)
Percebe-se que o investimento nas escolas de samba ludovicense tornaram-se
onerosos para o Estado, principalmente no contexto econômico em que o Brasil vivia aquele
momento, contudo ainda havia interesse por parte dos poderes públicos em investir no
carnaval de passarela, pois parte dos recursos eram destinadas às escolas de samba.
Tanto que no trecho acima, há o relato de que a culpa estaria no acúmulo de
débitos da escola de samba, citada no fragmento jornalístico acima, no excesso de luxo, e que
 
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estatal para manter o padrão pretendido, ou seja, as verbas que as escolas de samba recebiam
do Estado, eram complementadas com investimentos “particulares”.
Recursos que somados ao liberado pelo Estado, aos adquiridos com eventos
promovidos pela agremiação, infere-se que possibilitava as escolas de samba a promover
desfiles com o luxo que algumas escolas de samba pretendiam. Lembrando que nem todas
eram adeptas desse modelo luxuoso, algumas agremiações preferiam investir em um material
alternativo, mas maranhense, entre elas a Turma do Quinto que sempre buscava utilizar este
tipo de material, buscando uma vertente diferente.
Portanto a notícia do fragmento abaixo corrobora com a idéia apresentada de
investimentos privados, pois a mesma escola de samba que ameaçava não desfilar por conta
dos débitos, algumas semanas depois, dá a seguinte declaração em outro jornal da cidade:
As tradições do povo africano e suas influências no Maranhão é temática base para o desfile da Flor do Samba este ano. E, segundo o carnavalesco da escola, Francisco Coimbra, a “Flor do Samba” irá desfilar na João Lisboa apresentando as fantasias mas luxuosas do Carnaval Maranhense (..) “Quem gosta de pobreza é intelectual” – já dizia Joãozinho Trinta, segundo ele, o carnaval é luxo e isso é que não vai faltar no desfile da “Flor do Samba” (O Imparcial, São Luís, 17 fev. 1980).
No carnaval de 1980, a organização do tríduo momesco ludovicense volta para a
prefeitura de São Luís, para tanto, é criado a Companhia Municipal de Turismo (COMTUR)
órgão responsável em gerir o carnaval.
A princípio o responsável por esta pasta, alega poucas verbas, entretanto, a
prefeitura passa a idéia de que mesmo com as dificuldades, esta providenciaria o que fosse
necessário “para que fosse apresentado o melhor carnaval de São Luís aquele ano”.
“Para o carnaval de 80, o Presidente da Companhia apresentou ao prefeito Mauro Fecury, após minucioso levantamento, um orçamento de 2.311.000,00 incluindo decoração, ajuda financeira (992 mil), iluminação, arquibancadas 9, despesas com concursos de Rei Momo e Rainha do carnaval, prêmios, troféus, etc. Américo continua otimista e espera realizar um dos melhores carnavais”.
Algumas providências foram tomadas para que o carnaval de 80 tivesse a estrutura
que a prefeitura entendia ser melhor, entre elas a volta do carnaval para o centro da cidade,
assim como a construção da arquibancada, pois no ano anterior, tal responsabilidade ficara a
cargo da empresa TV Difusora, que alegava não ter condições para construir.
 
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Embora várias brincadeiras fossem apresentadas na passarela, o ponto auge dos
desfiles era a apresentação das escolas de samba. Ao que se percebe, toda infra- estrutura era
montada pensando nas necessidades das escolas das escolas de samba.
Além de todas estas atribuições citadas acima, ao Estado também cabia a função
de confeccionar Lp’s, onde divulgava o samba enredo de algumas escolas de samba e que
também servia de renda alternativa para as agremiações.
O carnaval maranhense de 80 está pronto. Se a companhia tivesse dinheiro faríamos o melhor carnaval do Brasil, disse ontem o presidente da Companhia Municipal de Turismo (...) Hoje o presidente da Companhia entrega os discos de samba enredo às escolas que dele fizeram parte em presença do prefeito Mauro Fecury e todo seu secretariado. (O Estado do Maranhão, São Luís, 13 de fev. 1980)
Mas do que divulgar samba enredo, tal promoção ainda cabia no projeto de tornar
o carnaval de São Luís em produto turístico, pois como principal atração do carnaval
ludovicense, as escolas de samba, eram trabalhadas para que pudessem atrair um turismo
ainda incipiente em São Luís.
Tais investimentos denotam a relação oficial que existia entre o Estado e as escolas
de samba, contudo as formas de relacionamento do Estado com o carnaval de São Luís,
também possui características que eram pautadas em relações não oficiais, haja vista que as
escolas de samba recebiam apoio de membros ligados ao Estado, que interferiam de algum
modo, apoiando não somente no campo material, mas em vários assuntos, para alguns, até nos
resultados dos desfiles oficiais.
Fato que pode ser relacionado com a fala de alguns entrevistados por ERICEIRA
(2005) em sua obra, quando estes mencionavam que “forças ocultas” apoiavam algumas
agremiações, interferindo e se posicionado ao lado destas, configurando uma linha político-
partidária, seguida por algumas escolas de samba de São Luís.
3.1 Intervenção Estatal não oficial
É notório que nos anos 80, a idéia do Estado como provedor e mantenedor da folia
momesca em São Luís continua. No entanto chamamos atenção para a ênfase nas redes de
relações das escolas de samba com agentes políticos locais e parentescos, relações que não se
iniciam nos anos 80, mas só se intensificam, com o principal objetivo de defender seus
interesses e adquirir benefícios.
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Para entender, de forma, mas apropriada como o Estado podia atuar de maneira a
ser considerada não oficial, episódios como o espaço a ser escolhido para o desfile das
agremiações e as outras brincadeiras carnavalescas no ano de 1980, registra a relevância que
sociedades sambistas alcançaram, e denota a complexidade da relação escola de samba e
Estado.
No ano anterior, o desfile oficial, as apresentações de blocos, escola de samba e
outras brincadeiras foram deslocadas do chamado “quadrilátero carnavalesco”, que tinha
como palco principal as ruas estreitas do centro de São Luís, para o Anel Viário. Todavia, no
entender do então prefeito, Mauro Fecury essa troca não foi bem sucedida, pois de certa forma
ele compreendia que trazer o carnaval para as ruas do centro de São Luís, traria também uma
maior participação da população, assim como uma maior acessibilidade dos turistas a festa
momesca.
“(...) Logo pela manhã vários blocos de sujos eram organizados nos bairros e, de lá desciam em direção ao centro da cidade, propiciando grande movimentação carnavalesca. Cada um brinca como pode nos blocos de sujos, fazendo com que se tenha um carnaval mais autêntico, mais povo, do jeito que o prefeito Mauro Fecury pretendia ter. Ao determinar a volta dos desfiles das grandes escolas para o centro da cidade”. (O Estado do Maranhão, São Luís, 18 fev. 1980).
Para algumas escolas de Samba o Anel Viário atendia as suas necessidades, ou
seja, comportava a quantidade de membros que desfilava nas escolas de samba, e que
aumentava consideravelmente, e comportava também os carros alegóricos.
Neste contexto, compreende-se que estas redes de relações eram extremamente
importantes em ser mantidas pelas Escolas de Samba, pois nesse episódio alcançou quem as
representasse na Câmara Municipal, pois algumas agremiações preferiam que a passarela
permanecesse no Anel Viário.
Em destaque, a frase do então Vereador Manoel Ribeiro que contrariado com a
decisão do prefeito, proferiu: “só nos resta brincar em qualquer lugar da cidade”, e que para
ERICEIRA (2005) esta frase possui um “significado simbólico relevante, por ter sido
enunciado por um agente político, o que confirmava a participação de membros de grupos
políticos nos desfiles das escolas de samba, os quais advogavam os interesses dos seus grupos
carnavalescos”.
Ainda assim, as escolas de samba não admitiam publicamente que pudessem ser
beneficiadas por seus patronos, ou padrinhos políticos. Ao mesmo tempo que as escolas de
samba recebiam apoio de forma oficial do Estado com cotas de subsídio para ajudar nas
 
lhes eram pertinentes, conforme comentário acima. (ERICEIRA, 2005, p. 155)
Configurando essa realidade, a participação da família Sarney também é registrada
no carnaval de passarela de São Luís, participando por alguns anos da Flor do Samba. No
entanto o modismo do carnaval de passarela alcança outros personagens políticos que se
envolvem com este tipo de brincadeira.
Entretanto torna-se pertinente observar que não se tratava só de modismo o apoio
de políticos a estas agremiações, muitas vezes as escolas de samba foram utilizadas como
manobras políticas e curral eleitoral, pois conforme ANANIAS (2001), com o fortalecimento
das eleições municipais nos anos 80, principalmente de vereadores, tais entidades tornaram-se
lugares privilegiados na formação de tais “currais eleitorais urbanos”.
Em se tratando de grupo político e parentescos envolvidos de maneira tida como
não oficial o grupo dominante, liderado por Sarney se sobressai por conta do seu
posicionamento na política, pois revisando parte da vida política de Sarney, este foi diversas
vezes deputado, foi governador do Maranhão entre 1966 e 1971, senador pelo Maranhão entre
1971 e 1985, presidente da República de 1985 a 1990. Participante das “Diretas já”, Sarney
tornou-se presidente do Brasil em 1985, passando a ter destaque nacional, e acarretando mais
vigilância e críticas a Flor do Samba, que possuía ligação com o grupo político dominante.
Ressalta-se que denúncias de favorecimento eram feitas constantemente através
dos meios de comunicação, tanto por parte da Turma do Quinto em relação à Flor e sua
ligação com o grupo Sarney, como também ao contrário.
Entretanto ERICEIRA (2005) desataca que essa dicotomia, posição-oposição era
também reconhecida na relação que a Turma do Quinto mantinha com Cafeteira e Ivar
Saldanha, embora, estes alegassem não tirar proveitos políticos de tais relações.
Todavia, o modo como a Turma do Quinto vivencia a política, traz à tona
denúncias e temas polêmicos que envolvem o contexto político em que São Luís estava
inserida, utilizando a composição de samba enredo, e representando na passarela, como foi no
caso do carnaval de 1987.
Alcantaralândia trazida pela Turma do Quinto promete detonar na avenida todos os foguetes da classe de mísseis de Alcântara e mostrar em cerca de sete carros alegóricos o que a cidade histórica tem de mais importante. (O Estado do Maranhão, São Luís, 22 de Fev.1987)
A presença de membros da família Sarney na Flor do Samba tem registro em 1978
 
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onde por muitos anos organizou alas para esta escola de samba, provavelmente com membros
do seu convívio social, já que a Flor do Samba foi a escolhida por muitos da classe média.
Constantemente a Flor do Samba era acusada pela escola Turma do Quinto,
considerada a escola do Povo e dos intelectuais, de se beneficiar com estas redes de relações,
não só no campo material, mais como também na manipulação de resultados dos desfiles
oficiais, assim como também a Flor do Samba acusava a Turma do Quinto.
Contudo verifica-se que havia um favorecimento, e este acontecia nas duas
escolas, pois havia constantemente a alternância de títulos entre elas. Tanto que no carnaval
de 83, a Escola de Samba, Favela do Samba do Bairro Sacavém, ameaçava não desfilar no
concurso oficial naquele ano, por conta de conchavos que beneficiariam a Turma do Quinto.
“(...) a diretoria da Favela do Samba vem mantendo reuniões para decidir esta manhã, se aquela Escola de Samba participará ou não do desfile oficial. Adoval Nunes levantou suspeitas da Comissão julgadora instituída pela comissão organizadora do carnaval, afirmando que o presidente desta, Américo Azevedo traçou o seu esquema para dá a Turma do Quinto como Campeã (...) (O Imparcial, 15 Fev. 1983).
Desse modo constata-se que esta intervenção por parte do Estado, onde pode-se
chamar de não oficial, se dava por rede de relações e que interferia em vários âmbitos do
carnaval, política e carnaval não andavam dissociados.
Porém, ERICEIRA (2005) chama à atenção do esforço do já bem conceituado e
influente jornal O Estado do Maranhão, em naturalizar a participação de membros da família
Sarney na Flor do Samba, colocando-os como simples brincantes da escola.
3.2 Intervenção Estatal não oficial: Via de mão dupla.
Faz-se necessário abordar os dois lados desta modalidade de intervenção estatal
não oficial. Analisando essa relação, verifica-se que ao mesmo tempo, em que algumas
escolas de samba mantinham rede de relacionamento privilegiadas, com representantes
políticos locais que pudessem intervir por elas, ao aceitarem tal intermediação, estas
agremiações comprometiam-se com o grupo político.
E em cada desfile oficial se vivenciava os benefícios materiais e conchavos
 
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não participou do desfile oficial, alegando motivos que, segundo pesquisas pode ser
considerado contraditório ao ser confrontado com a história da trajetória desta agremiação no
carnaval ludovicense.
Vivenciando esta relação de mão dupla, a Flor do Samba retira-se da passarela no
carnaval de 86, citando vários motivos, conforme parte do trecho jornalístico abaixo, no
entanto, se percebe que tais declarações podem ser analisadas por um ângulo diferente ao da
 justificativa oficial, para o momento político que São Luís vive naquele momento:
“A decoração e a arquibancada ficaram prontas há mas de uma semana e o sistema de som - funcionando perfeitamente – garante a animação dos foliões (...) Mas quando, na noite de domingo se realizar o desfile oficial das escolas de samba da cidade, uma grande ausência ali certamente será notada e sentida. Afinal a Flor do Samba – que ao lado da Turma do Quinto, forma a dupla de escolas mas populares da Ilha – alegando motivos diversos, decidiu não participar do desfile, optando por fazer sua folia nas ruas do Desterro (...) A atitude inédita em 11 anos de participação da escola no desfile foi justificada em nota oficial da diretoria como decorrência de um compromisso dos membros da Flor, em contribuir, por todos os meios possíveis, para garantir a autenticidade “dessa legítima festa popular brasileira com a sua característica própria de São Luís. Na nota, o presidente da escola, Zé Alves “Piranha” – em nome de toda diretoria e dos demais integrantes da Flor – afirma que o desfile competitivo tem sido, “sem dúvida” desde a sua instituição, como produto de importação carioca, “fator de descaracterização da festa, no que ela possui de alegoria, descontração e naturalidade. (...) (O Estado do Maranhão, São Luís, 13 de fev. 1986)
Contestando o último parágrafo da declaração oficial da direção da Flor do Samba,
do informe jornalístico acima, rememoramos uma de muitas notas sobre a Flor em carnavais
passados:
Das 10 Escolas do grupo “A” que irão desfilar, a Flor do Samba foi a que mas investiu em fantasias. Segundo o carnavalesco da Escola, Francisco Coimbra não haverá outra com tanto luxo como a Flor que apresentará ao público 45 fantasias de destaque no valor calculado de 100 mil cruzeiros cada – a maior atração da escola. (O Imparcial, São Luís, 10 de fev. 1981).
Considerando o contexto político em São Luís naquele momento, este não
favorecia ao grupo político ligado a Flor do Samba. Nas eleições municipais de 85, João
Castelo rompe com o grupo Sarney, onde buscou uma atuação independente, elegendo
Gardênia Gonçalves para a prefeitura de São Luís.
 
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“Em 1986, o que aconteceu? Houve eleição em 1985, aí você vê como a política tem a participação no carnaval. Houve eleição para prefeito, quem ganhou? Dona Gardênia, os Sarneys que comandavam a Flor do Samba, tiraram a escola da passarela. A escola não desfilou em 1986 e foi uma reação política... A Flor do Samba não desfilou. Tendo como patrono Fernando Sarney, a escola fez uma reunião e disse: a gente não vai participar do desfile, por que é o primeiro carnaval da Gardênia”.
Contudo a justificativa mantida e tida como oficial foi a veiculada no jornal
escrito, mas elementos apresentados trazem questionamentos sobre a motivação real da
ausência a Flor do Samba no carnaval de 86, e traz à tona a via de mão dupla nas relações ou
intervenções não oficiais do Estado.
3.3 Intromissão Estatal e Mudanças de Interesses: Para alguns crise, outros sucesso.
Discorrendo-se um olhar sobre a década de 80, de fato as escolas de samba
viveram seu apogeu nestes anos, embora o Brasil neste mesmo período, também passasse por
algumas transformações significantes. A crise econômica que na década de 80 tem proporções
enormes tem seu auge no ano de 83, e conseqüência, deixa alguns vestígios no carnaval de
São Luís:
Muitas seriam as causas a serem apontadas, para justificar o fracasso. A principal fica por conta da recessão econômica. Sem dinheiro no bolso e enfrentando um custo de vida insuportável (...) Ao lado disso o poder público teve uma participação medíocre e os recursos dispendiosos – CR$ 12 milhões – foram insuficientes a
 julgar pelos enfeites pobres colocados na Praça Deodoro (O Imparcial, São Luís, 19 fev. 1983).
Não é de admirar que no fragmento jornalístico acima citado, o poder público seja
criticado pelas poucas verbas destinadas ao carnaval, haja vista, que o momento econômico
não era muito animador no Brasil.
O final da década de 80 é marcado pela retomada da discussão do espaço físico a
ser realizado o desfile oficial das agremiações ludovicenses, pois algumas alegaram serem
prejudicadas ao desfilarem nas ruas estreitas do Centro de São Luís pois, os adereços e os
foliões não eram acomodados de forma satisfatória.
Em 1988 foi realizado o último desfile na Praça Deodoro, no ano seguinte o então
governador entrega as arquibancadas no Anel Viário, corroborando com a idéia de que é
interesse público e dever do Estado sustentar o carnaval.
 
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No entanto os últimos anos da década de 80, a crise econômica teve proporções
maiores, impossibilitando o Estado de acompanhar o padrão estabelecido pelas escolas de
samba de São Luís, pois estas se tornam o foco principal do carnaval, deixando algumas
brincadeiras carnavalescas no ostracismo. Neste momento às críticas ao carnaval de passarela
se intensificam, pois para alguns estas se tornaram caricaturas das escolas de samba carioca.
“A redução de algumas brincadeiras que faziam parte do tríduo momesco ludovicense contribuiu para que, na década de 90, alguns intelectuais começassem a levantar a bandeira do carnaval de rua. Para os expoentes que faziam parte da Fundação Municipal de Cultura (FUNC), o concurso carnavalesco realizado na passarela do samba, já estava ultrapassado, além de ser o principal “culpado” pela decadência do Carnaval de São Luís. O espetáculo do carnaval, cuja espontaneidade e encontro são suas principais características, se torna motivo de brigas políticas” (SILVA, 2009, p. 108)
Acumulando-se os fatos como a falta de verbas, uma estrutura de desfile que as
próprias escolas não conseguiram sustentar economicamente e o descontentamento por parte
de integrantes das próprias agremiações sobre o modelo adotado pelas escolas de samba de
São Luís segundo o carioca, Joel Jacinto (2007) aponta que tal estrutura seria difícil de ser
mantida.
Convém ressaltar que ERICEIRA (2005) destaca como claudicante o carnaval
carioca, ou seja, a partir da década de 1980 a hegemonia do carnaval carioca passou a ter
concorrência dos carnavais de Salvador, Recife e Olinda, tanto na mídia quanto na indústria
turística. Cidades estas que poderiam ser consideradas exemplos exitosos na regionalização
dos seus folguedos, discussão em volga em São Luís.
Dentro dessa contextualização, para o Estado não seria, mas interessante investir
em algo oneroso e que no momento não trazia tantos retornos. A discussão em trazer às
brincadeiras de rua de volta, o discurso pela regionalização e autenticidade do carnaval
maranhense, na tentativa de resgatar os carnavais antigos ganha o apoio do Estado. Sobre essa
realidade que surge no cenário carnavalesco ludovicense, Ananias (2001) observa : “O
curioso é que apesar da intromissão política e estatal pertencer ao modelo da crise para as
escolas, será, com alguns desdobramentos, o sustentáculo do novo sucesso carnavalesco”. 
(ANANIAS, 2001, p. 134) 
4 DÉCADA DE 90 – PROJETO “CARANAVAL DE RUA”
Os anos 90 começaram com instabilidade, e assim como os anos 80, esta também
foi denominada por alguns de “década perdida”. Ainda que essa última década disponha de
características da política econômica distinta em relação aos anos 80, que para alguns
estudiosos seria consequência de uma política econômica irresponsável nos últimos dez anos.
A instabilidade de fato, marca o início dos anos 90, pois ocorre o confisco de
poupanças pelo então presidente Fernando Collor, que acusado de ligações com um esquema
de corrupção que funcionava em seu governo, foi afastado da Presidência da República, em
92, e dois anos depois, Fernando Henrique é eleito, tendo o plano Real como plataforma.
Em 94, a economia se estabiliza e a inflação cai em 98, ano em que o Brasil é
atingido pela crise financeira internacional, tendo como conseqüência a desvalorização do real
frente ao dólar. Politicamente inaugura-se um modelo de governo neoliberal, iniciado no
governo de Fernando Collor de Melo e complementando no governo de Fernando Henrique
Cardoso.
O carnaval de São Luís nos anos 90 também é marcado por grandes
transformações, e esta inicia-se com a propagação e intensificação do discurso que pregava a
regionalização, e a volta do autêntico carnaval maranhense, o carnaval de rua, que muitos
saudosistas escreviam com orgulho e tristeza, pois julgavam que o carnaval apresentado, das
escolas de samba, não pertencia ao cenário genuinamente maranhense.
Portanto, para alguns o carnaval ludovicense estava em crise, e para alguns
intelectuais (muitos deles advindos das escolas de samba, produtores culturais, artistas
plásticos ou profissionais com o curso superior) a revitalização do carnaval ludovicense seria
a resposta ao decadente carnaval de passarela que fugia a cultura maranhense, “desse modo as
escolas de samba deveriam ser defenestradas, pois seriam elementos importados de fora,
imitações que teriam descaracterizado o carnaval local”. (ERICEIRA, 2005).
Aliada ao discurso de elemento alienígena no carnaval ludovicense, outro fator
para o enfraquecimento e críticas ao carnaval de passarela seria a cariocarização das escolas
de samba de São Luís, ou seja, as condições financeiras totalmente inferiores as escolas
cariocas, inviabilizava os desfiles luxuosos que eram marcas registradas do carnaval de
passarela; para alguns as escolas de samba de São Luís não passava de uma pálida caricatura
 
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década de 90 com uma estrutura de desfiles que elas mesmo não conseguiram sustentar
economicamente segundo Lopes10 
Entretanto ERICEIRA (2005) destaca que além de toda a contextualização em que
estavam inseridas as escolas de samba de São Luís, tal proposta de regionalização do carnaval
maranhense podia ser inserida também na análise de construções de identidades regionais no
contexto cultural brasileiro. Pois algumas regiões do Brasil, entre elas norte e nordeste já
buscavam essa regionalização e eram tidas como exemplo de sucesso, e para tanto era
necessário eliminar o que não era genuinamente maranhense, ou seja, as escolas de samba.
Em 1990 no Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho, a Secretaria da
Cultura promoveram uma série de seminários sob a coordenação de Jeovah França, onde
tiveram como tema “Carnaval Maranhense Hoje”, onde reuniram todos aqueles que
incorporaram o discurso de resgate do carnaval genuinamente maranhense.
Para tanto formularam o “Projeto carnaval de rua” que tinha como principal
objetivo resgatar as brincadeiras de rua com a criação de um circuito carnavalesco nas
adjacências da Rua São Pantaleão no Centro de São Luís. Como conseqüência, no mesmo ano
foi fundada a Associação Maranhense de Blocos Carnavalescos, formada por diversas
organizações carnavalescas que haviam se desligado da UESMA e da FESMA.
No primeiro ano de execução do projeto, as escolas de samba ainda são destaques
no carnaval ludovicense, sendo o ponto auge do período momesco:
O Carnaval de São Luís atinge o seu ponto máximo, com o desfile das escolas de samba do grupo A, que começava às 20 horas e só termina às primeiras horas da manhã de segunda-feira. (O Estado do Maranhão, 08 de fev. 1991).
Outro fator preponderante até então são as verbas dos poderes públicos, que eram
destinadas ao carnaval, até então as escolas de samba recebiam a maior parte, embora o
modelo de carnaval de rua já fosse considerado um sucesso. Interessante ou contraditório, um
dos jornais escrito da época11, traz como notícia o sucesso do carnaval de rua, mas na
manchete ao lado, divulga a distribuição das verbas e as escolas de samba ainda como
maiores beneficiadas:
 
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Devido a situação crítica das fianças da Prefeitura de São Luís, a comissão do carnaval do município recorreu ao governo do Estado, para solicitar os recursos financeiros que serão repassados a todas as agremiações carnavalescas, num total de Cr$ 15.000.100.00 (quinze milhões e cem mil cruzeiros) como forma de ajudar as brincadeiras. Às dez escolas de samba do grupo A, e às três do Grupo B, caberão respectivamente Cr$ 250 e 200 mil (...) (O Imparcial, 15 de fev. 1991)
Contudo o interesse do Estado volta-se às brincadeiras de rua e, portanto, os
recursos públicos antes deliberados na sua maioria ao carnaval de passarela, gradativamente
são deslocados para as brincadeiras de rua que compunham o Projeto “carnaval de rua”.
No tocante a mudança de interesse em investir no carnaval de rua e não mais no
carnaval de passarela, este constantemente tenta justificar-se nos discursos de valorização dos
folguedos carnavalescos de São Luís.
4.1 Legitimar para Explorar
Os mentores intelectuais que desenvolveram o projeto carnaval de rua, para
legitimar seu discurso estabeleciam vínculos de continuidade com as expressões carnavalesca
anteriores ao período em que os desfiles de escola de samba se tornaram preponderantes.
(ERICEIRA, 2005, p. 181).
No entanto o mesmo autor chama à atenção, que este resgate foi feito
parcialmente, haja vista que muitos estilos musicais e manifestações carnavalescas
continuavam desaparecidas. Estabelecendo essa relação de legitimar um discurso incluindo-os
em uma tradição, que muitas vezes não se consegue mapear algo tão antigo, pois se trata de
algo recente, pode-se, portanto, incluir esta construção no que Hobsbawm12  conclui de
invenção de tradições, onde determinadas práticas, tomadas em regra muito antigas,
imemoriais, “tradicionais”, apareceram há relativamente pouco tempo.
Outra forma de legitimar seu discurso assim como suas ações e iniciativas
culturais, estes intelectuais consideravam-se porta-vozes do povo, tomando como exemplo a
entrevista do poeta Godão quando este alerta, “o povo vai acabar descobrindo que é melhor
brincar no carnaval de rua, com seu bloco cantando três horas, do que passar 10 minutos em
busca de um título” 13.
 
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Aproveitado esta mesma fala acima, presume-se que o arcabouço do projeto
carnaval de rua estava baseado em brincar o carnaval sem disputar qualquer título, e que a
verdadeira essência do carnaval genuinamente maranhense era espontâneo, ou seja, o modelo
de carnaval apresentado pelas escolas de samba já era considerado ultrapassado.
Os poderes públicos, tanto na esfera municipal quanto Estadual compram o
discurso, contudo afirmar que o Estado investe só pelo discurso de resgate dos antigos
carnavais é perigoso.
Partindo-se do pressuposto que na década de 70 ocorre uma projeção do mercado
regional, com destaque para o forró e lambada nas regiões norte e nordeste, e mas tarde na
década de 90 uma explosão de valorização ao mercado regional, os poderes públicos do
Maranhão seguiam a tendência de alguns Estados do nordeste que perceberam que a
regionalização dos seus folguedos se tornaram rotas alternativas de sucesso, atraindo uma
enorme quantidade de turistas que buscavam o carnaval diferente do apresentado pelo carioca.
Cidades como Olinda e Salvador demonstraram que um carnaval regional possibilitava, mas
lucros, e sem investimentos vultosos, como era o caso das escolas de samba e seu carnaval de
passarela.
No carnaval de 92 o Estado sentencia seu apoio às brincadeiras de rua com
atitudes que dificultam a apresentação das escolas de samba aquele ano. A prefeitura negou-se
a construir as arquibancadas para a passarela onde ocorria os desfiles oficiais, entregando sua
construção a uma empresa terceirizada, e na esfera estadual a Secretaria de Cultura Estadual
aquele ano, estabeleceu que somente brincadeiras maranhenses fossem beneficiadas, e as
escolas de samba não estavam inseridas.
Contudo, após várias discussões, as agremiações de forma dificultosa participaram
do desfile oficial aquele ano, cobertas por muitas críticas. Para outros, esta era o início de uma
nova fase no carnaval de São Luís:
“(...) Na esfera do município, a tradição era deixada de lado também e o investimento dos recursos dava-se exclusivamente num macaqueado desfile de passarela, com o rei Momo recebendo do prefeito as chaves da cidade, que após aberta deixava de fora as formas tradicionais e peculiares do carnaval de rua de São Luís, de que tantos já se vangloriaram saudosisticamente. Hoje as propostas são outras. A Secretaria de Estado da Cultura vem lançar o Plano de Apoio ao Carnaval de Rua São Luís – 1993, que consiste na postura encontrada pelo Estado para estabelecer suas políticas culturais, priorizando fundamentalmente as formas tradicionais do carnaval de rua maranhense (...) (O Imparcial, São Luís 1º de fev. 1993)
O autor do texto, Jeová França, em um primeiro momento, faz críticas
 
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passarela”, mas que os novos tempos trouxeram novas propostas, onde o governo do Estado
daria prioridade as formas tradicionais do carnaval maranhense, e de fato, as matérias
 jornalísticas que traziam sempre as notícias das verbas destinadas as escolas de samba, agora
davam destaque aos investimentos do carnaval de rua:
Com a finalidade de dinamizar as formas tradicionais do carnaval maranhense, foi lançado no dia 26 de janeiro o plano de Apoio ao Carnaval, pela Secreta Com a finalidade de dinamizar as formas tradicionais do carnaval maranhense, foi lançado no dia 26 de janeiro o plano de Apoio ao Carnaval, pela Secretaria Estadual da Cultura. (...) Segundo análise do integrante da Comissão de Gerenciamento do Plano, Jose Pereira Godão, essa ação visa sedimentar o fortalecimento das brincadeiras carnavalescas e ao mesmo tempo, projetar o carnaval de Rua Maranhense (...). Para a implantação do Plano foi liberada uma verba no valor de Cr$ 400 milhões pela Secretaria de Cultura (...) Segundo Godão, a verba será dividida entre as entidades que apresentarem propostas para as atividades do carnaval de rua (...) (O Imparcial, São Luís, 05 de fev. 1993).
Há um consenso com ERICEIRA (2005) quando este afirma que após pesquisas
documentais, no triênio 1991-1993, o projeto carnaval de rua já tinha total adesão em
investimento do Estado, no entanto as escolas de samba ainda conseguiam uma pequena
parcela da verba destinada a festa momesca, no entanto estas só eram liberada após muitas
negociações, o que gerava um certo atraso na arrumação para o desfile.
No carnaval de 94 intensifica-se o apoio dos poderes públicos ao carnaval de rua,
em contrapartida o carnaval de passarela é ameaçado mais uma vez de ficar sem espaço para
apresentar seu desfile, haja vista, que a política cultural do Estado só disponibilizava recursos
as brincadeiras autênticas, genuinamente maranhenses, e as escolas de samba não estavam
inseridas neste discurso.
Tanto que na construção da arquibancada custaria muito aos cofres públicos,
alegavam alguns. Entretanto, ouve a iniciativa privada em construir as arquibancadas,
 juntamente com o comunicólogo José Raimundo Rodrigues, mas esta foi embargada por está
próximo ao Tribunal de Justiça Federal.
Situação difícil para a prefeitura e o governo do Estado que passaram a ser
criticados duramente pela mídia e pela população ludovicense; eis um trecho do texto escrito
em um dos jornais da época no auge dos acontecimentos:
A prefeitura decidiu-se pelo carnaval de rua, ou melhor, pelo carnaval de bairro, procurando descentralizar a festa e tentar recuperar, em nome da tradição, a linha do que ela considera a verdadeira folia carnavalesca maranhense, com suas características próprias. Daí o choque com as escolas de samba que, nos últimos anos, trouxeram o carnaval para a avenida, concentrando-o num único ponto, por
 
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Seja, porém, como for, o caso é que o samba ultimamente provocou uma grande celeuma em nosso meio, e de tanto ser determinada para um local e depois proibida para que fosse construída noutro, de tanto transferir-se daqui, pra li, ao ritmo das vacilações administrativas, a passarela é que acabou desfilando, antes mesmo das escolas de samba, e trazendo uma nova característica para o carnaval de São Luís. (...) A passarela mexeu com autoridades municipais, estaduais e federais e todos brincaram com ela, divertiram-se e divertiram os outros, porque enfim cada qual tem o seu jeito de fazer carnaval. (O Estado do Maranhão, São Luís, 13 de fevereiro de 1994).
Mudando de discurso, a MARATUR, no último instante, juntamente com parceria privada decide construir a arquibancada:
“Apesar do contratempo com a mudança do local inicial para as proximidades da Praia Grande, as obras de construção da passarela do samba, onde desfilarão as escolas de samba e grupos carnavalescos, prosseguem em ritmo acelerado. O engenheiro responsável pelo projeto Décio Puchchareli, disse que a mudança de local provocou atraso na implantação de todo conjunto de arquibancadas. (...) Décio queixa-se agora do novo local por ser mas estreito que o da avenida, onde a passarela estava sendo edificada até ser embargada pela Justiça Federal”. (O Estado do Maranhão, São Luís, 08 de fev. 1994)
Observa-se nesse fato, mas uma vez o desinteresse dos poderes públicos pelo
carnaval de passarela, entretanto, a manchete jornalística abaixo torna um tanto contraditória a
política cultural do Estado, principalmente quando ocorre a recusa na construção da
arquibancada para o carnaval das escolas de samba:
(...) É a nossa contribuição para que o carnaval continue transmitindo toda a alegria e riqueza cultural das agremiações maranhenses de beleza ímpar no Brasil. Mas também, o carnaval de passarela recebeu nossa contribuição através da ajuda para o deslocamento da passarela devido o embargo do local inicialmente escolhido. Não poderíamos frustrar o folião que gosta e se prepara o ano inteiro para desfilar na “Avenida”, vibrando com sua Escola de samba, blocos, tribos de índios e outras manifestações típicas do nosso carnaval. O governador é sensível e atento a toda manifestação cultural do Maranhão e em seu governo sempre colocou como prioridade a preservação do patrimônio cultural se é que podemos assim considerá-lo, promovendo apresentações o ano inteiro das manifestações folclóricas na área do REVIVER – declara Ana Karina Quental – Presidente da MARATUR. (O estado do Maranhão, São Luís, 13 de fev. 1994)
A partir das declarações acima feitas pela presidente da MARATUR, SILVA
(2009) ressalta que embora a passarela seja construída, o que prevalece é o discurso oficial de
valorização das brincadeiras ditas típicas do Maranhão.
Outras observações podem ser percebidas a partir da afirmação, “o governador é
sensível e atento a toda manifestação cultural do Maranhão”. Enquadrada também como
manifestação cultural, o carnaval de passarela na contextualização apresentada não andava tão
 
transparece essa dificuldade pelo fato ocorrido, onde os poderes públicos recusaram-se a
patrocinar a montagem das arquibancadas para a passarela do desfile aquele ano.
Contudo a própria presidente da MARATUR responde ao questionamento
observado, “colocou como prioridade a preservação do patrimônio cultural (...) promovendo
apresentações folclóricas o ano inteiro na área do Reviver”, mas uma vez corrobora-se o
discurso da prioridade às manifestações folclóricas, mas somente aquelas genuinamente
maranhenses, pois as escolas de samba não cabiam nas apresentações o ano inteiro no
Reviver, palco de apresentação de várias brincadeiras maranhenses.
Entretanto, na mesma reportagem e como último enfoque, a MARATUR declara
seu apoio ao “Carnaval da Litorânea”, inaugurando em São Luís o Trio Elétrico, invenção
tipicamente baiana, assim como as músicas que embalavam os foliões que iam atrás.
Finalizando a sua fala: “ Afinal, os tambores só estão tocando, convidando a brincar em todos
os ritmos, pois tudo é carnaval” (O Estado do Maranhão, São Luís 13 de fev. 1993).
Até então o discurso priorizado já possui uma conotação diferente, certa abertura,
“tudo é carnaval”. Preconizava-se a mudança, um novo discurso balizador que justificará a
mudança de foco, fala-se agora de carnaval das diversidades.
4.2 Mudança de Discurso – Mesmo objetivo
Configurando dois momentos do discurso do retorno ao carnaval autêntico
maranhense, onde alguns intelectuais envolvidos na cultura ludovicense, idealizaram o projeto
carnaval de rua, objetivando o retorno dos tempos áureos de São Luís como terceiro carnaval
do Brasil, tal discurso passará por algumas transformações.
O carnaval de 1995, confirma a popularidade do carnaval dos trios elétricos aos
moldes do carnaval da Bahia, deslocando uma parcela da população maranhen