a intervencao da otan

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Afeganistão

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    A Interveno da OTAN no Afeganisto Marli Barros Dias Universidade de vora Portugal Mestre em Sociologia Universidade de vora Portugal E-mail: [email protected] Fone: (351) 271.214.127 Data de recepo: 30/07/2012 Data de aprovao: 25/09/2012 Resumo: O presente artigo tem por objectivo analisar a interveno da OTAN no Afeganisto e, atravs de pesquisas variadas, verificar at que ponto ela tem contribudo para o desenvolvimento scio-econmico da populao afeg. Tambm se prope analisar os obstculos encontrados pelos militares da OTAN em relao a questes internas ligadas cultura e sociedade e, sobretudo, em relao aos talibans. A linha de estudo prossegue centrada em investigar a OTAN a partir da sua origem e das transformaes pelas quais passou ao longo da sua histria, bem como a reformulao dos seus conceitos estratgicos e sua interveno no Afeganisto no combate ao terrorismo, cujos resultados so discutveis e pouco satisfatrios. Palavras-chave: Afeganisto OTAN Interveno militar Taliban Terroristas

  • 2

    Introduo A interveno da Organizao do Tratado do Atlntico Norte (OTAN) no

    Afeganisto consequncia dos atentados terroristas nos Estados Unidos, em

    11 de setembro de 2001, e faz parte dos seus conceitos estratgicos do ps-

    mundo bipolar.

    Para compreendermos a OTAN do sculo XXI e a sua primeira grande

    interveno fora de rea, que a do Afeganisto, torna-se necessria uma

    anlise dos seus objetivos passados e presentes. Lembremos que foi perante

    as mudanas no cenrio internacional que a Aliana se alterou e alargou as

    suas parcerias e modos de atuao. Nos sessenta anos da sua existncia, a Aliana tem procurado adaptar-se aos sucessivos ambientes estratgicos que se vivem no globo, ditados por novos arranjos geopolticos, novos riscos e ameaas e novas percepes sobre defesa que, progressivamente, vo sendo substitudos por conceitos mais abrangentes de segurana. Concebida como uma aliana poltico-militar para defesa colectiva de uma sociedade fundamentada num sistema de valores e num estilo de vida que ao tempo estavam confinados a um espao prprio, as suas adaptaes seguiram, cronologicamente e at ao seu desaparecimento, as alteraes que se verificaram na ameaa a que fazia face: a URSS, nas suas intenes e capacidades (SANTO, 2010, p. 2).

    Foi no contexto de mudanas e novas ameaas mundiais que a OTAN

    interveio no Afeganisto. A interveno no Afeganisto, num primeiro

    momento, foi encabeada pelos EUA, com o apoio de dezenove membros da

    OTAN e de vinte e sete parceiros, os quais condenaram, incondicionalmente,

    os ataques terroristas aos EUA e comprometeram-se no esforo ao combate

    ao terrorismo; esse compromisso foi formalmente aprovado atravs de um

    Plano de Ao da Parceira Contra o Terrorismo.

    Os objetivos e estratgias da Operao Liberdade Duradoura foram submetidas a vrias revises durante o curso da guerra na verdade, durante as primeiras trs semanas. Esta turbulncia refletiu a dificuldade de encontrar uma estratgia que poderia conciliar os objetivos imediatos de guerra da administrao possuindo um conjunto de amplas consideraes estratgicas e de longo prazo como a estabilidade no Afeganisto e na regio ao seu redor. Durante a terceira semana da guerra tornou-se claro que no houve tal estratgia disponvel, e isso representava uma escolha: ou os Estados Unidos teriam de aceitar a perspectiva de uma guerra

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    mais longa ou anular algumas das suas preocupaes mais amplas de estabilidade. Tendo em conta os potenciais riscos polticos associados a qualquer cenrio de guerra-longa, esta foi uma escolha fcil de fazer: as preocupaes mais amplas foram postas de lado (CONETTA, 2002, p. 10)1.

    A interveno efetiva da OTAN no Afeganisto, s aconteceu em agosto

    de 2003, quando a Aliana assumiu o comando da International Security

    Assistance Force (ISAF). Desde esse momento, a OTAN passou a ter a

    responsabilidade de reconstruir o Afeganisto, com a finalidade de reestruturar

    o Estado a partir de estruturas democrticas e capazes de pacificar o pas e

    permitir melhor desenvolvimento econmico e social para a populao local. No

    entanto, o processo de reconstruo no tem sido fcil, uma vez que enfrenta a

    insurgncia taliban.

    1. As fases de interveno da OTAN no Afeganisto e a inovao da Aliana ante o novo milnio

    Ao longo da Histria, o Afeganisto tem sofrido com as vrias migraes

    no seu territrio e as suas fronteiras fazem parte de longas disputas. A mais

    recente interveno nesse pas ocorreu em 2001, liderada pelos Estados

    Unidos da Amrica (EUA). Posteriormente, o comando das operaes passou

    para a responsabilidade da OTAN, sob mandato da Organizao das Naes

    Unidas (ONU), e persiste at hoje.

    Em 2001, na sequncia dos atentados terroristas de 11 de setembro, os

    EUA iniciaram uma operao militar no Afeganisto. O objetivo era a captura

    de integrantes da Al-Qaeda, mais propriamente do seu lder, Osama bin Laden.

    A inteno norteamericana era destruir a base terrorista da Al-Qaeda que se

    encontrava no Afeganisto e que estava sob o apoio e a proteo do ento

    Governo taliban.

    1 The goals and strategy of operation Enduring Freedom underwent several revisions during the course of the war actually, during its first three weeks. This turbulence reflected the difficulty of finding a strategy that could reconcile the Administrations immediate war aims with a set of broader, longer term strategic considerations such as stability in Afghanistan and in the region surrounding it. During the wars third week it became clear that there was no such strategy available, and this posed a choice: either the United State would have to accept the prospect of a longer war or set aside some of its broader stability concerns. Given the potential political risks associated with any longwar scenario, this was an easy choice to make: the broader concerns were set aside (CONETTA, 2002, p. 10).

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    Sem a autorizao do Conselho de Segurana das Naes Unidas, em

    2001, os EUA iniciaram a guerra contra o terrorismo. Nessa perspectiva de

    guerra contra o terror e, segundo as determinaes do Governo de George W.

    Bush, no se fazia a distino entre terrorismo e taliban.

    A derrocada do Governo taliban frente s Foras Armadas norte-

    americanas, em dezembro de 2001, no significou na verdade uma vitria

    definitiva, pois essa ainda no foi, de fato, consolidada, uma vez que as foras

    talibans ainda continuam ativas. Os objetivos iniciais da guerra cumpriram-se

    parcialmente e, hoje, a OTAN enfrenta no s a oposio dos talibans, mas

    tambm as prprias dificuldades em campo, que se mostram em nvel

    geogrfico e cultural, uma vez que os intervenientes no dominam, na verdade,

    o territrio e a cultura afegos.

    Iniciou-se uma nova fase da interveno no Afeganisto a partir da

    presena efetiva da OTAN no territrio. Essa presena deve ser descrita em

    duas fases, ou seja: num primeiro momento, a OTAN participou num sentido

    mais de inteligncia atravs do fornecimento de informaes e de dados aos

    EUA, e somente numa segunda fase que ela marcou de fato a sua presena.

    A interveno da OTAN no Afeganisto foi a primeira grande interveno

    da Aliana fora da sua rea de atuao. Essa tambm foi a primeira vez em

    que a Aliana invocou o artigo 5, isto : um ataque contra um Estado-membro

    da Aliana ser considerado um ataque contra todos os outros Estados-

    membros.

    Na sequncia dos acontecimentos, em dezembro de 2001, o Conselho

    de Segurana das Naes Unidas aprovou a criao da International Security

    Assistance Force (ISAF), cuja funo no a manuteno da paz, mas a

    criao de condies para a reconstruo do Estado.

    Em agosto de 2003, a OTAN assumiu a coordenao estratgica da

    ISAF e o compromisso de reconstruir o Afeganisto, na medida em que um

    Estado destrudo torna-se invivel quanto estabilidade, segurana e paz:

    um exemplo do que acabamos de apontar o Iraque dos nossos dias.

    importante salientar que a interveno da OTAN no Afeganisto est

    ligada s alteraes realizadas no seu interior perante as mudanas no cenrio

    internacional, nomeadamente com o fim da Unio das Repblicas Socialistas

    Soviticas (URSS) e os atentados terroristas de 11 de setembro.

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    Com o fim da ameaa sovitica e do mundo bipolar, a OTAN passou a

    ter novas perspectivas, pois os objetivos iniciais j no justificavam a

    necessidade de a Aliana continuar a existir. Tornou-se necessrio rever o seu

    prprio e conceito estratgico, mas isso no implica dizer que a OTAN deixou

    de ser uma Aliana Militar.

    No ps-Guerra Fria, a Aliana transformou-se profundamente. A sua estratgia deixou de estar exclusivamente concentrada na garantia das funes cruciais, que perderam salincia, como a garantia do equilbrio estratgico na Europa, da independncia poltica das democracias aliadas e do vnculo Transatlntico, e passou a incluir a interveno militar dos aliados em crises fora-da-rea do Tratado de Washington e do prprio espao euro-atlntico (GASPAR, 2010, p. 15-16).

    Em 1991, a OTAN reformulou o seu Conceito Estratgico, o qual j

    desenhou uma nova cara no que respeita ao dilogo e cooperao com

    outros parceiros e, em 1997, na Cimeira de Bruxelas, foi instituda a parceria

    para a paz (Patnership for Peace). Ocorreu uma evoluo do relacionamento, o

    que tornou necessrio o avano para alm do dilogo e obrigou a providenciar-

    se, para cada parceiro, um plano individual de cooperao. Os objetivos da

    OTAN deixaram de estar unicamente centrados em interesses militares.

    No Plano de Ao est includo o combate ao terrorismo bem como a

    partilha de conhecimentos e experincias no combate ao mesmo. H uma

    reviso em termos de perspectivas, e novas necessidades so apresentadas

    no contexto de um mundo global, no qual as ameaas so novas, mais

    complexas e globais. Os conflitos j no so marcados por Foras

    Armadas contra Foras Armadas, mas por grupos no estatais e por radicais e

    capazes de transcenderem as fronteiras fsicas.

    No novo milnio, a OTAN pode ser descrita do seguinte modo:

    O Conceito Estratgico aprovado na Cimeira de Washington de abril de 1999 (que aquele que actualmente vigora) dedica-se seis dos seus 65 pargrafos ao tema Partnership, Cooperation and Dialogue. [] a Aliana uma fora positiva para a promoo da segurana e da estabilidade atravs da zona euro-atlntica e que pretende, atravs dos seus contactos e abertura, preservar a paz, apoiar a democracia, contribuir para a prosperidade e progresso e gerar parcerias autnticas com e entre todos os pases democrticos naquela zona (PEREIRA, 2010, p. 139).

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    importante considerarmos que, em termos das parcerias, os parceiros

    no tm uma viso homognea em relao s ameaas em nvel global. Isso

    pode ser verificado de acordo com o esquema elaborado pelo general Gabriel

    Augusto do Esprito Santo:

    reas de risco comparadas por percepo

    Fonte: Gal. SANTO (2010).

    De entre as maiores ameaas, em termos gerais, encontram-se o

    Afeganisto / Al-Qaeda, fatos que so mais evidentes na percepo dos EUA,

    do Reino Unido e da Europa Ocidental. Isto justifica-se pelo fato de que nestes

    pases e regies esto presentes os maiores centros financeiros e de poder em

    nvel mundial, os quais so os principais alvos dos terroristas. Prova disso foi o

    atentando em 11 de setembro de 2001. Segundo Jean Baudrillard, As Twin Towers foram destrudas ou ruram? Explico-me: as duas torres so simultaneamente um objecto fsico, arquitectural e um objecto simblico (simblico do poder financeiro e do liberalismo mundial). O objecto arquitectural foi destrudo, mas era o objecto simblico que estava na mira e que se queria aniquilar. Poderamos pensar que foi a destruio fsica que implicou o desabamento simblico. Mas, na verdade, ningum antecipou nem mesmo os terroristas a destruio total das torres. Foi pois, efectivamente, o seu desabamento simblico que implicou o seu desabamento fsico e no o contrrio (BAUDRILLARD, 2007, p. 15).

    Este o contexto da nova realidade mundial, ou seja, estamos ante

    novos tipos de ameaas, novos alvos, incluindo alvos civis. O atual Conceito

    Estratgico da OTAN, aprovado em 2010, na Cimeira de Lisboa, contempla as

    necessidades mais urgentes deste milnio. As alteraes no campo da defesa

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    e da segurana aconteceram em virtude das mudanas ocorridas em nvel

    global. So privilegiadas novas estruturas no s de defesa e de segurana,

    mas tambm de interveno e de desenvolvimento atravs da manuteno da

    paz.

    A OTAN coloca, para si e para os seus parceiros, a responsabilidade de

    inibir a proliferao de armas nucleares, bacteriolgicas e qumicas, o trfico de

    armas e de pessoas, o combate ao terrorismo e ao narcotrfico que ameacem

    a segurana da Aliana, mesmo que esses conflitos estejam fora das suas

    fronteiras. A Aliana no somente defensiva, mas tambm possui um cariz

    interventivo. Alargou a sua rea de influncia e, at mesmo, passou a absorver

    questes humanitrias, que at ento estavam sob a responsabilidade da

    ONU. Ao assumir a coordenao da ISAF, a OTAN assumiu, tambm, um

    compromisso de certo modo humanitrio no Afeganisto.

    2. A reconstruo do Afeganisto pela OTAN

    O fato de a reconstruo do Afeganisto ser feita de fora para dentro

    suscita dvidas, pois est a ser realizada de acordo com a viso ocidental e

    fere o Direito Internacional, uma vez que violou o direito de soberania. Perante

    o Direito Internacional, todo Estado tem o direito de se autodeterminar e de

    conduzir o seu povo sem interferncias externas.

    A prpria Carta das Naes Unidas probe a interveno estrangeira em

    questes internas dos Estados. O captulo I, artigo 2. da Carta das Naes

    Unidas, os itens 3 e 4 dizem o seguinte:

    Item 3 Os membros da Organizao devero resolver as suas controvrsias internacionais por meios pacficos, de modo a que a paz e a segurana internacionais, bem como a justia, no sejam ameaadas; Item 4 Os membros devero abster-se nas suas relaes internacionais de recorrer ameaa ou ao uso da fora, quer seja contra a integridade territorial ou a independncia poltica de um Estado, quer seja de qualquer outro modo incompatvel com os objectivos das Naes Unidas (CARTA DAS NAES UNIDAS, 1945).

    Apesar das contradies existentes na interveno da OTAN no

    Afeganisto, tm ocorrido alguns avanos significativos no trabalho da Aliana,

    principalmente no que se refere reconstruo de escolas, hospitais,

    construo de poos, treino da Polcia afeg, com a finalidade de melhorar a

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    capacidade do Exrcito Nacional Afego, combate aos grupos terroristas, entre

    outros.

    De acordo com a revista Foreign Affairs:

    Entre 2001 e 2009, quase todos os indicadores de desenvolvimento humano apresentaram melhora mensurvel. Ao final de 2008, 80 por cento da populao tinha acesso aos servios bsicos de sade, acima dos oito por cento da populao em 2001. Tambm em 2008, as crianas afegs foram sendo imunizadas contra difteria, ttano, tosse convulsa e DPT, na mesma taxa que as crianas no resto do mundo e em uma taxa mais elevada do que no resto do sul da sia. A taxa de mortalidade infantil caiu em um tero, e a expectativa de vida avanou para cima. Aps a queda do Taliban, as matrculas escolares dispararam de 1,1 milhes de estudantes em 2001 para 5,7 milhes de estudantes em 2008 - um tero dos quais eram meninas prometendo duplicar ou triplicar a taxa de alfabetizao no Afeganisto em uma dcada (MILLER, 2011, p. 57)2.

    importante ressaltar que muitas dessas aes de reconstruo, vrias

    vezes so interrompidas para combater os ataques talibans, que continuam

    ativos e, consequentemente, atrapalham o processo de reconstruo, o que

    nos leva a crer que a OTAN est sendo eficaz em alguns aspectos, no Norte do

    pas, mas no no combate aos radicais que dominam o Sul do Afeganisto.

    Portanto, os avanos alcanados pela OTAN, em nvel econmico e social, no

    se referem totalidade do territrio afego, mas em parte.

    necessrio no deixarmos passar despercebido o fato de que o

    Afeganisto, alm de ser um Estado falhado, tem fronteiras fictcias,

    principalmente com o Paquisto, onde historicamente as montanhas que

    separam os dois pases no esto sob a jurisdio de nenhum Governo oficial,

    mas de relaes tribais. Isso permite que os terroristas tenham muita facilidade

    de circulao e de proteo de seus irmos de religio ou de tribos. H,

    tambm, as facilidades para o narcotrfico. A combinao de fronteiras

    2 Between 2001 and 2009, almost every indicator of human development showed measurable improvement. By late 2008, 80 percent of the population had access to basic health services, up from eight percent the population in 2001. Also by 2008, Afghan children were being immunized against diphtheria, pertussis, and tetanus (DPT) at the same rate as children in the rest of the world and at a higher rate than in the rest of South Asia. The infant mortality rate fell by a third, and life expectancy inched upward. After the fall of theTaliban, school enrollment skyrocketed from 1.1 million students in 2001 to 5.7 million students in 2008 a third of whom were girls promising to double or triple Afghanistans literacy rate in a decade (MILLER, 2011, p. 57).

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    permeveis e instituies frgeis torna os Estados fracos particularmente

    vulnerveis (PINTO, 2007, p. 14).

    Alm das adversidades acima mencionadas, os militares da OTAN

    esbarram na dificuldade de comunicao com a sociedade afeg, que

    formada a partir de vrias etnias que falam vrios idiomas. O nico elemento

    cultural que unifica aquele povo a religio islmica, visto que 84% da

    populao so muulmanas. um pas essencialmente pobre e, segundo os

    dados do PNUD (Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento), em

    2010, esse pas, em relao ao IDH, ocupa o 155 lugar (PNUD, 2010).

    Os dados do PNUD contrastam com o artigo apresentado pela revista

    Foreign Affairs, que descreve um importante desenvolvimento econmico do

    Afeganisto a partir da interveno da OTAN atravs da ISAF.

    O resultado foi um sucesso dramtico e no anunciado anteriormente. Em parte por causa do auxlio internacional dos EUA, o Afeganisto experimentou um boom econmico ps-talib. O PIB real cresceu quase 29 por cento s em 2002 - mais rpido do que a Alemanha Ocidental em 1946 - e uma mdia de 15 por cento de crescimento anual lcita 2001-2006, fazendo com que o Afeganisto seja uma das economias que mais crescem no mundo (era peitoril da mdia de 13,5 por cento atravs de 2009, depois de uma seca em 2008). O ritmo do seu crescimento foi devido, em parte, baixa base de onde tinha comeado, mas o ritmo acelerado em si foi uma importante conquista. O Afeganisto no tinha crescido significativamente em mais de duas dcadas, o boom econmico sinalizou uma nova era na vida afeg (MILLER, 2011, p. 56-57)3.

    Esse rpido crescimento econmico tem que ser entendido a partir da

    situao catica do pas, quando a ISAF, sob a coordenao da OTAN, iniciou

    o trabalho de reconstruo. O Afeganisto encontrava-se em destroos e

    desprovido de estruturas bsicas e das mnimas condies de desenvolvimento

    quer econmicas ou sociais, e por esse motivo os avanos alcanados

    3 The result was an unheralded and dramatic success. Partly because of U.S. and international aid, Afghanistan experienced a post-Taliban economic boom. Real GDP grew by nearly 29 percent in 2002 alone - faster than West Germany in 1946 - and averaged 15 percent annual licit growth from 2001 to 2006, making Afghanistan one of the fastest-growing economies in the world (it was sill averaging 13.5 percent through 2009, after a drought in 2008). The pace of its growth was due in part to the low base from which it had started, but the rapid pace itself was an important achievement. Afghanistan had not grown significantly in more than two decades; the economic boom signaled a new era in Afghan life (MILLER, 2011, p. 56-57).

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    representam um nvel elevado uma vez que eram inexistentes mesmo as

    estruturas bsicas desse Estado.

    Independentemente de ter ocorrido esse saldo econmico e social

    positivo, o Afeganisto e a sua populao continuam pobres. Essa situao de

    pobreza est ligada violncia quase permanente e corrupo, as quais

    inibem o desenvolvimento econmico e social. O governo de Hamid Karzai, por

    exemplo, colocado no poder pelos EUA, tambm est envolto na corrupo e

    foi reeleito atravs de eleies fraudulentas.

    Perante os entraves interveno da OTAN e aos altos custos que essa

    interveno tem acarretado, principalmente para os EUA, surgiu, ento, a

    proposta do Plano B, que consiste em dividir o Afeganisto em dois. O Norte,

    onde a OTAN atua, seria pacificado, mas o Sul ficaria sob o domnio dos

    talibans (BLACWILL, 2011).

    Esse plano excluiria as temveis reas das montanhas. Essa estratgia

    visa a reduzir os altos custos que tem causado aos EUA, e uma medida

    estratgica deste pas era se retirar do Afeganisto e evitar a sua permanncia

    por tempo indeterminado, embora a retirada de tropas do Afeganisto j esteja

    prevista. Na verdade, somente o xito dessa campanha no Afeganisto

    permitir a sada dos EUA e da OTAN daquele pas.

    Uma retirada rpida do territrio do Afeganisto, de acordo com o ponto

    de vista norte-americano, levaria os talibans a tomarem o poder e provocaria

    uma guerra civil. A negociao da OTAN com os talibans, visando

    estabilidade do pas, seria uma hiptese, mas isso no fcil e eles no tm

    demonstrado interesse em torno da reconciliao. Entre todas essas questes

    h, tambm, por parte dos EUA, os elevados custos para pouco retorno.

    Uma alternativa, por exemplo, seria a de manter o curso de contra-insurgncia no Afeganisto, no importa quanto tempo leva, e talvez at expandir o compromisso existente. Este curso no faria sentido porque os interesses dos EUA no Afeganisto no so altos o suficiente para justificar tal investimento. Os Estados Unidos agora implantam cerca de 100.000 tropas sobre o Afeganisto, ainda de acordo com a CIA, existindo hoje entre 50 e 100 combatentes da al Qaeda l. Que entre 1.000 e 2.000 soldados e talvez um bilho de dlares por cada ano-terrorista muito alm de qualquer despesa razovel de recursos EUA dadas as apostas envolvidas. O objetivo militar original dos EUA no Afeganisto era destruir a al Qaeda, no para

  • 11

    combater o Taliban no Afego, e esse objetivo foi amplamente alcanado (BLACKWILL, 2011, p. 46)4.

    Alm das hipteses levantadas, h a preocupao norteamericana para

    com pontos fundamentais como, por exemplo, a necessidade de no permitir a

    volta dos talibans a Cabul, a continuidade da Al-Qaeda na fronteira com o

    Paquisto, o que obriga a existncia de uma base antiterrorista no Afeganisto

    e, tambm, o fato de que a regio poder permitir aos terroristas o acesso s

    armas nucleares.

    Todas essas dificuldades levam os EUA a repensar as suas

    possibilidades e custos no Afeganisto e, ao que parece, no acreditam numa

    vitria nessa interveno. uma situao complexa, pois tambm contam com

    a desaprovao por parte de muitos e enfrentam, juntamente com a OTAN, a

    oposio da etnia Pastun, que contra a ocupao ocidental agravada pela

    debilidade e corrupo do Governo afego, o que compromete ainda mais a

    obteno do xito nessa interveno.

    A debilidade do Governo afego um fato. Embora os EUA, juntamente

    com a OTAN, tenham tentado erigir um Governo centralizado no Afeganisto,

    na verdade, isso ainda no aconteceu. Originariamente, o Afeganisto tem a

    sua poltica descentralizada e tribal, na qual a presena de tribos muito forte

    e, em muitas situaes, determinante, com as suas estruturas, valores,

    costumes e histria.

    3. As implicaes por detrs do plano B e a diviso do Afeganisto

    Na verdade, a proposta como a do Plano B nada mais do que uma

    tentativa de desonerar o Estado norte-americano e de fazer uma retirada

    menos humilhante. Porm, ao analisarmos o Plano B, verificamos que este

    viola claramente o Direito Internacional e a Carta das Naes Unidas. 4 One alternative, for example, would be to stay the counterinsurgency course in Afghanistan no matter how long it takes, and perhaps even expand the existing commitment. This course would not make sense because U.S. interest in Afghanistan are not high enough to justify such an investment. The United States now deploys about 100,000 troops in Afghanistan, yet according to the CIA, there are now only 50 to 100 al Qaeda fighters there. That in between 1,000 and 2,000 soldiers and perhaps a billion dollars per terrorist each year - far beyond any reasonable expenditure of U.S. resources given the stakes involved. The original U.S. military objective in Afghanistan was to destroy al Qaeda, not to fight the Afghan Taliban, and that goal has largely been accomplished. Original U.S. military objective in Afghanistan was to destroy al Qaeda, not to fight the Afghan Taliban, and that goal has largely been accomplished (BLACKWILL, 2011, p. 46).

  • 12

    Talvez, nesse momento, a grande questo no seja, pelo menos para a

    OTAN, a diviso do Afeganisto. O seu grande desafio a consolidao das

    conquistas realizadas em termos econmicos e sociais, mesmo que elas se

    tenham verificado apenas em parte do pas. Essa a parte que vai exigir um

    grande empenho por parte da Aliana, pois ter que enfrentar as foras

    opostas que esto presentes no territrio, e no so somente os talibans, mas

    tambm as diferentes etnias.

    A consolidao dos esforos alcanados passa, inevitavelmente, pela

    necessidade de um Afeganisto unido e forte enquanto Estado e capaz de

    desarticular os talibans e demais grupos radicais que so, na verdade, um

    contrapoder espreita de um vazio de poder para se instalarem. Para que tal

    acontea, necessitam apenas de uma lacuna deixada pelo poder legtimo.

    Nesse contexto, os valores democrticos podero enfrentar grandes

    obstculos medida que avanarem e puserem em causa alguns princpios,

    valores tradicionais e religiosos intrnsecos populao. Nesse momento, pode

    ocorrer uma viragem para o lado que mantm intactos os valores partilhados

    por toda a sociedade ou, pelo menos, pela sua maioria. Entre os muulmanos

    h diferenas, mas estas perdem-se frente f que os unifica, cujo

    denominador comum a rejeio aos valores ocidentais. A interveno no

    Afeganisto pode ser a grande aventura da OTAN, marcada por grandes

    custos humanos e financeiros e, ainda, juntamente com os EUA, h o risco de

    ficarem desmoralizados semelhana da derrota humilhante sofrida pela

    URSS frente aos mujehadins, na guerra de 1979-1988.

    A grande justificativa da interveno da OTAN no Afeganisto, a caa

    ao terrorista Osama bin Laden, j no existe mais. Ele est morto, mas nada se

    alterou naquele pas. Desde a morte de Osama bin Landen, verifica-se que os

    embates continuam numa clara demonstrao de que o terrorismo, hoje, seja

    no Afeganisto ou no mundo, no est na dependncia de um nico lder.

    Ante os constantes embates com os talibans, cabe a seguinte questo:

    Hoje, contra quem a OTAN est a lutar? Contra a Al Qaeda? Ou somente

    contra os talibans? O que tudo indica que a OTAN tem travado batalhas

    diretas com os talibans, mas para qu? As respostas podem ser de acordo com

    vrias hipteses e podem ser satisfatrias ou no, dependendo do ponto de

    vista de cada um.

  • 13

    Os acontecimentos que tm ocorrido no Afeganisto demonstram, por

    vezes, que a presena da OTAN naquele pas no soluo para o bem-estar

    da populao local, que se v entre um poder militar ocidental e o desejo de

    poder e de dominao talibans.

    incontestvel o fato de que os talibans querem o poder. Segundo Ali

    Kamel,

    nas sociedades muulmanas hoje, a tomada de poder o corao do programa fundamentalista. Eles sabem que fundamentalista sem poder poltico um leo sem dentes: no apedreja, no fere, no mata, no obriga a usar o vu; apenas prega a sua viso estreita do mundo (KAMEL, 2007, p. 162).

    O grande desafio da OTAN vai ser, at 2014, ano em que est prevista a

    sua retirada, vencer os vrios desafios que tem a sua frente. At l, a Aliana

    deve cumprir com todos os seus objetivos e, mais do que isso, consolid-los.

    Sem a consolidao da reconstruo do pas, a OTAN no poder reclamar a

    vitria, e o Afeganisto continuar a ser uma porta aberta ao terrorismo, ao

    comrcio de drogas e o contato praticamente direto com o Paquisto, que

    uma potncia nuclear, que poder colocar o mundo em risco. Do nosso ponto

    de vista, a derrota taliban no se constri de fora para dentro, mas ao contrrio.

    Somente a rejeio total da populao afeg poder derrotar os talibans; caso

    contrrio, a derrota ser da OTAN e dos seus parceiros.

    Consideraes finais

    Aps quase onze anos de interveno da OTAN no Afeganisto,

    cumpriram-se parcialmente os objectivos, mas no possvel dizer que a

    guerra est ganha ou perdida: o que h a indeterminao e um elevado custo

    humano e financeiro, principalmente para os EUA, que gastam dois bilhes de

    dlares por semana. De acordo com Joseph Stiglitz, a anlise

    custos/benefcios dessa guerra no tem um resultado positivo. O impacto

    dessa guerra, em termos econmicos, para os EUA, tem servido para diminuir

    o seu crescimento econmico (STIGLITZ, 2011).

    A guerra dos EUA contra a Al-Qaeda, em 2001, derivou na necessidade

    de interveno direta no Afeganisto, tendo culminado na queda do Governo

    taliban e na reformulao estratgica para, a longo prazo, promover a

  • 14

    reconstruo deste pas, considerado um Estado falhado, cuja falta de

    estruturas slidas beneficia os terroristas. Ora, so precisamente essas

    estruturas bsicas que a OTAN est tentando construir e, em alguns casos,

    reconstruir.

    A populao alcanou algumas melhorias em nvel do desenvolvimento

    econmico e social, desde a interveno da OTAN, mas isso no pressupe

    que deixou de ser uma populao muito pobre. Graves problemas econmicos

    e sociais ainda persistem.

    No processo de reconstruo do Afeganisto os avanos econmicos e

    sociais alcanados pela populao afeg atravs da OTAN no tm sido fceis.

    A Aliana enfrenta srias dificuldades para desenvolver o seu trabalho, pois,

    alm da oposio taliban, existem as dificuldades em relao cultura,

    costumes e valores afegos.

    A reconstruo, que est sob responsabilidade da OTAN, no parece ter

    levado em conta o mosaico tnico que existe naquele pas. Se, ao princpio,

    tivesse sido formado um Governo de coligao entre as diferentes tribos, talvez

    o avano do trabalho realizado pela OTAN e a sua consolidao tivessem um

    futuro mais promissor e avanos econmicos e sociais mais significativos.

    O trabalho realizado pela OTAN, no Afeganisto, alm de custos

    humanos oriundos da guerra e, tambm, os altos custos financeiros, permitem-

    nos dizer que a Aliana assumiu uma aventura. As dificuldades enfrentadas

    pela Aliana so de diversa natureza.

    Efectivamente, a questo da contribuio de recursos constitui, ainda hoje, uma fonte de discrdia dentro da organizao. De facto, o reduzido contingente de tropas destacadas no Afeganisto apontado como um dos principais motivos para a pouca eficcia da ISAF. Isto porque o menor nmero de foras para combate e reconstruo implica nveis mais baixos de segurana, menor crescimento econmico e, tambm no menos importante menor confiana na misso em si (PINTO, 2008, p. 20-21).

    Hoje, o efetivo militar da OTAN no pequeno, mas no o suficiente

    para fazer com que os talibans se sintam intimidados ou, muito menos,

    derrotados. O que de fato tem aumentado so os ataques violentos. Em 2009,

    o nmero de militares mortos no Afeganisto chegou a um total de 521, e, no

    ano de 2010, essa cifra totalizou 692 mortos.

  • 15

    Os Estados Unidos e seus aliados no esto no curso para derrotar o exrcito Taliban. Existem hoje cerca de 150.000 soldados dos EUA liderados pela Fora Internacional de Assistncia Segurana (ISAF) no Afeganisto. Este mais 30.000 soldados do que a Unio Sovitica implantou na dcada de 1980, mas menos da metade do nmero necessrio para ter alguma chance de pacificar o pas, segundo a norma da doutrina da contra-insurgncia (BLACKWILL, 2011, p. 42)5.

    O Afeganisto no foi pacificado, e a sua reconstruo por parte da

    OTAN est acontecendo em parte e no no todo. A Aliana quer, para esse

    pas, um Governo centralizado num mundo tribal e a aplicao da democracia

    ocidental numa sociedade formada por um caldo cultural onde a maioria

    absoluta da populao muulmana. Isso, mais do que incerto, improvvel.

    Referncias BLACKWILL, D. Robert. Plan B in Afghanistan: Why a De Facto Partition Is the Least Bad Option. Foreign Affairs, vol. 90, 1, p. 42-50, 2011. CARTA DAS NAES UNIDAS [online]. 1945 [acesso em 04-04-2011]. Disponvel em . CONETTA, Carl. Strange Victory: A Critical Appraisal of Operation Enduring Freedom and the Afghanistan War. Massachusetts: Commonwealth Foundation Cambridge, 2002. CORDESMAN, H. Antony. The Lessons of Afghanistan: Warfighting, Inteligence, Force Transformation, Counterproliferation, and Arms Control. Washington: Center for Strategic and International Studies, 2002. ESPRITO SANTO, Gabriel do. O Novo Conceito Estratgico da NATO: Que opes? [online]. 2010 [acesso] em 18-03-2011]. Disponvel em . GASPAR, Carlos. O Conceito Estratgico da Aliana Atlntica. Cidadania e Defesa, 126, p. 11-36, 2010. KAMEL, Ali. Sobre o Isl: A Afinidade entre Muulmanos, Judeus e Cristos e as Origens do Terrorismo, 7 reimp., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007. LADEN, bin Najwa et al. A Minha Vida Com Osama Bin Laden. Trad. Mrio Dias Correia, Alfragide: Asa II, 2010. MILLER, Paul D. Finish the Job: How the War in Afghanistan Can Be Won. Foreign Affairs, vol. 90, 1, p. 51-65, 2011. MORIN, Edgar; BAUDRILLARD, Jean. A Violncia do Mundo. Lisboa: Instituto Piaget, Trad. Ana Paula de Viveiros, 2007. NATO/OTAN A Transformao da OTAN. [online]. s.d. [acesso em 09-03-2011]. Disponvel em .

    5 The United States and its allies are not on course to defeating the Taliban military. There are now about 150,000 U.S. - led International Security Assistance Force (ISAF) troops in Afghanistan. This is 30,000 more troops than the Soviet Union deployed in the 1980s, but less than half the number required to have some chance of pacifying the country, according to standard counterinsurgency doctrine (BLACKWILL, 2011, p. 42).

  • 16

    NATO/OTAN Strategic Concept For the Defense and Security of The Members of the North Atlantic Treaty Adopted by Heads of States and Government in Lisbon [online].2010 [acesso em 18-03-2011]. Disponvel em . PEREIRA, Manuel Fernandes. As Parceirias Estratgicas da NATO. Cidadania e Defesa, 126, p. 135-144, 2010. PINTO, Maria do Cu. A Evoluo da Conflitualidade Caracterizao e Tendncias dos Actuais Conflitos. Cidadania e Defesa, 28, p. 12-15, 2007. PINTO, Maria do Cu. A NATO e o Processo de Reconstruo do Afeganisto. Cidadania e Defesa, 31, p. 20-22, 2008. PNUD. PNUD Lana o ndice de Desenvolvimento Humano 2010 [online]. 2010 [acesso em 28-03-2011]. Disponvel em . RDIO DAS NAES UNIDAS Nmero de Mortes no Afeganisto sobe 15% em 2010 [online]. 2011 [acesso em 19-03-2011]. Disponvel em (19-03-2011). SOUTO, Eliezer de Queiroz; GALVO, Daniela Lopes. A Atuao da OTAN Diante da Crise Regional do Afeganisto Aps o Atentado ao World Trade Center em 2001 [online]. 2010 [acesso em 05-04-2011]. Disponvel em . STIGLITZ, Joseph; BILMES, Linda. Three Trillion Dollar War The true cost of the Iraq and Afghanistan Conflicts [online]. 2011 [acesso em 26-04-2011]. Disponvel em .

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    The NATO Intervention in Afghanistan Abstract: The present article aims at analysing the NATO intervention in Afghanistan. The objective of our research is to verify to what extent it has contributed to the socio-economic development of the Afghan population. This paper also analyses the obstacles encountered by NATO militaries in relation to internal affairs associated with culture, society, and taliban. This study focuses on investigating NATO from its origins and changes undergone throughout its history, as well as its concepts and its intervention in Afghanistan concerning the combat to terrorism, whose results are debatable and unsatisfactory. Keywords: Afeghanistan NATO Military Intervention Taliban Terrorists