a internet na biblioteca pública
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Universidade Fernando Pessoa
Pós Graduação em Ciências da Informação e da Documentação
Tecnologias de Informação Documental
Luís Miguel Soares Figueiredo
A Internet na Biblioteca Pública
Porto, Maio de 2004
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Resumo
A Sociedade de Informação explica-se pelo desenvolvimento das novas
Tecnologias da Informação e Comunicação. Destacamos a Internet como um poderoso
instrumento de informação e comunicação. Com ela, assistimos à massificação e
globalização da informação. Mas nem tudo são vantagens. Se por um lado assistimos ao
aumento do volume de informação, verificamos que nem sempre ela é credível e fidedigna.
A Internet conquistou igualmente o espaço das bibliotecas contribuindo para o
nascimento de uma nova biblioteca e de um novo público. O silêncio a que já nos
habituávamos dos corredores das bibliotecas enquanto dormitório de documentos, da
memória do passado foi substituído pelo burburinho de um público novo sedento de
informação disponível na Internet. Mas nem tudo são vantagens. Constatamos que essa
poderosa ferramenta de informação pode ser igualmente um poderoso instrumento de
desinformação, uma arma que dispara conteúdos violentos, mas será o espaço da biblioteca
pública o mais indicado para a visualização desses cenários? Contudo, proibir a
visualização desse material seria a negação do princípio da liberdade de acesso à
informação…
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Introdução:
A realização deste trabalho, no âmbito da disciplina de Tecnologias de Informação
Documental do curso de Pós-Graduação de Ciências da Informação e Documentação,
procurou responder a algumas questões basilares germinadas na reflexão sobre o crescente
uso das Tecnologias da Comunicação e Informação (TIC) no contexto de uma biblioteca
pública.
Procuramos com este trabalho pensar, reflectir sobre o papel das TIC, das quais
destacamos a Internet, nas bibliotecas públicas, na Sociedade de Informação.
Que vantagens e desvantagens podemos descortinar relativamente ao uso da
Internet no espaço de uma biblioteca pública? Que políticas regem o seu uso? Estas são
algumas das questões abordadas neste trabalho e às quais tentamos responder através de
inquéritos distribuídos aos leitores de uma biblioteca pública que seleccionamos –
Biblioteca Almeida Garrett – e de uma entrevista realizada a uma das Bibliotecárias
responsáveis pela gestão dessa instituição
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Sociedade de Informação
Nos últimos anos, sobretudo nas últimas décadas o quotidiano sofreu um grande
acréscimo de Informação. A massificação e globalização da informação são o produto do
desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação. Na verdade, vivemos na
denominada Sociedade da Informação, uma sociedade cada vez mais informatizada e
tecnológica
Constatamos que o impacto da tecnologia da informação e da Internet em
particular tem sido bastante significativo no seio dos centros de documentação e
bibliotecas, ao reduzir o esforço e melhorar a qualidade dos serviços, criando ameaças, mas
também oportunidades para o desenvolvimento desses serviços. É sobre esses riscos e
oportunidades que importa fazer uma reflexão.
A biblioteca tradicional consistia essencialmente num depósito de documentos
para a sua conservação e preservação. Hoje é um espaço onde os leitores podem conviver
juntamente com os documentos tradicionais, em suporte papel, com uma diversidade de
informação em diferentes suportes áudio, vídeo, multimédia.
Tal concepção comunga com o Manifesto da UNESCO para as bibliotecas
públicas que defende que, “...as colecções e serviços devem incluir todos os tipos de
suporte e tecnologias modernas apropriadas assim como fundos tradicionais”.1 De facto, no
contexto da informação e promoção da literacia, as bibliotecas tem como missão “facilitar
o desenvolvimento da capacidade de utilizar a informação e a informática”.2
Como refere José Geraldes, “As bibliotecas e Internet complementam-se.
Actualmente dir-se-ia até que não podem viver separadas. Uma consulta na Internet leva à
biblioteca e vice-versa também não deixa de ser verdadeira...”3
Inicialmente concebida como uma rede para conectar instituições académicas e de
pesquisa envolvidas em projectos de natureza militar, rapidamente cresceu de forma
significativa quer em número de utilizadores, quer em relação ao número de computadores
interligados. O advento da Internet vem causando um grande impacto atravessando vários
sectores da actividade humana, nomeadamente no sector económico constatamos o
desenvolvimento de uma nova economia global e de rede, isto é: a Internet assume um
1 Manifesto da UNESCO para as bibliotecas públicas 2 (ibdem) 3 Geraldes, José, Jornal da Universidade da Beira Interior. [Disponível em] «http://urbi.urbi.pt//edição/_op_geraldes».
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papel fundamental no processo económico da Economia capitalista global ao proporcionar
um espaço económico unificado, cobrindo por uma teia todo o mundo que vende e
consome, viabilizando transacções comerciais à escala mundial. O trabalho à distância é
também um vector desta nova economia que se vem afirmando. Mas outras possibilidades
se afirmam com o desenvolvimento da Internet, como a disponibilização de novos recursos
informacionais em formato electrónico como documentos multimédia, grupos de
discussão, fóruns electrónicos, conferências em linha e outros nomeadamente, o ensino à
distância permitindo adequar e multiplicar recursos pedagógicos e um ensino
personalizado, adequado às necessidades dos alunos. É possível, graças à Internet levar a
educação e o ensino cada vez mais longe a lugares desertos de escolas e educação.
Que vantagens e desvantagens podemos descortinar relativamente ao uso da
Internet nas bibliotecas?
Deparamo-nos com uma multiplicidade de recursos informativos disponíveis em
rede, em formato digital. Estes não são, contudo, uma ameaça ao livro, ao documento em
suporte papel, o acervo tradicional das bibliotecas. São alternativas de informação
complementares, às quais o leitor pode ter acesso imediato a partir de casa, do seu PC –
falamos da biblioteca digital, uma biblioteca sem muros, aberta a qualquer hora do dia e da
noite, disponibilizando os seus catálogos bibliográficos on-line, permitindo o descarregar
de certos documentos, diminuindo o tempo de resposta, respondendo prontamente aos
pedidos dos leitores. Esta é sem dúvida uma vantagem significativa da utilização da
Internet aplicada às bibliotecas e centros de documentação.
De facto, crescem o número de publicações disponíveis em meio electrónico,
garantindo uma enorme facilidade de acesso directo à informação, nomeadamente os
periódicos. A Dra. Ana Carvalhais4 dá-nos o exemplo do Diário da República disponível
aos leitores da B.M.A.G. no Porto e a intenção de estabelecerem um protocolo com o
Jornal Público de modo a viabilizarem aos leitores dessa biblioteca o jornal em versão
electrónica. A disponibilização de jornais em versão electrónica e de outros serviços como
sites governamentais, locais e centrais, facilitam e permitem uma maior participação
cívica.
Mas perante este cenário da afirmação das bibliotecas digitais e dos serviços
disponíveis em rede, corre-se o risco de se perder o contacto humano, as relações sociais
4 Ver entrevista em anexo
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que uma visita à biblioteca proporciona e exige um planeamento cuidadoso e uma atenção
especial dedicada à construção de uma interface usuário-biblioteca virtual atraente, e de
fácil utilização, de modo a captar os leitores.
A integração da Internet nas bibliotecas contribui, ainda, para uma diminuição do
fosso social que separa os que podem ter acesso à informação dos que não podem, os info-
pobres. Esta é uma realidade preocupante. Como sabemos, o equipamento informático e a
necessária formação para dominar as tecnologias da informação são ainda apanágio dos
mais abastados. Ora, a biblioteca pública garante o acesso democrático às tecnologias da
informação e comunicação nas quais se insere a Internet. Esta questão é, aliás, bastante
aflorada no Manifesto para as Bibliotecas Públicas que sublinha o papel democrático das
bibliotecas na familiarização dos cidadãos com as novas tecnologias. A biblioteca é
também uma escola das novas tecnologias da informação e comunicação. Contudo, para a
potencialização da utilização das novas tecnologias de recuperação e disseminação da
informação necessitam ser acompanhadas por programas que habilitem os leitores à sua
utilização. De facto, não basta equipar as bibliotecas, é obrigatória a formação.
Preocupação, aliás, sustentada pela Dr.ª Ana Carvalhais que postula a realização desses
programas de modo a democratizar o uso das novas tecnologias, diminuindo o fosso social
entre os que têm acesso às novas tecnologias e os que não tem.
A Internet é, inquestionavelmente, um poderoso instrumento de recurso de
informação na medida em que garante o acesso imediato a uma quantidade gigantesca de
informações e conteúdos variados: científicos, culturais, artísticos, de lazer, tudo em tempo
real e de forma directa pelo usuário. No entanto, também nos deparamos com
desvantagens, perigos da Internet nas bibliotecas. Sem dúvida que o crescimento
exponencial da Internet coloca problemas enormes em relação à identificação de recursos
relevantes dentro da massa de documentos que disponibiliza. Coloca-se uma questão: o
que é realmente importante? E aqui desenhamos um novo papel do bibliotecário, a ele
caberá a função de seleccionar, dentro da massa de documentos electrónicos, os mais
relevantes. De facto, “O excesso de informação pode redundar numa sociedade ainda mais
inculta (...) Sem uma organização racional da informação iremos assistir ao aparecimento
anárquico da informação sem valor, onde o prazer de ‘surfar’ no ciberespaço se
transformará numa atitude inútil e sem qualquer valor acrescentado”.5
5 Infoteca: Informação nas Bibliotecas; Cadenos BAD 1996-2
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Censura dos conteúdos electrónicos
Para além da necessária formação dos leitores na utilização das TIC, é
fundamental uma reflexão sobre os conteúdos que esses equipamentos disponibilizam. O
conteúdo das máquinas, os sites da Internet, por exemplo merece uma maior preocupação.
Uma tecnologia avançada sem conteúdo criativo torna-se subaproveitada e alienante.
O homem do século XXI, acostumado ao lixo que lhe é oferecido pelos meios de
comunicação de “leitura” mais fácil como a televisão, transferirá naturalmente os seus
hábitos para o computador, concretizando-se apenas a digitalização da mediocridade. É
fundamental criar programas de preparação cultural e políticas de uso para que o ser
humano entre na era digital construtivamente. Nos E.U. por exemplo, a questão do uso da
Internet nas bibliotecas tem sido um tema amplamente discutido numa sociedade
preocupada com o acesso a conteúdos de teor sexual nas bibliotecas públicas desse país.
Mas com controlar? Na sociedade americana, as políticas adoptadas variam desde a
restrição do uso de computadores para correio electrónico e salas de conversação, até à
utilização de processadores de texto ou manutenção de páginas na Internet. Outras políticas
chegam ainda a proibir o acesso a material pornográfico mediante a utilização e instalação
de filtros que bloqueiam os sites dessa natureza. Outras há que delegam aos leitores a
responsabilidade relativamente ao material visitado, estando esta política subjacente ao
princípio da liberdade de informação.
Muitas bibliotecas americanas seguem os princípios preconizados pela ALA
(American Library Association). Em 1996 esta associação criou a “Declaração dos Direitos
das Bibliotecas” – Library Bill of Rights - estabelecendo a política de “acesso a
informações electrónicas, serviços e redes” – Access to Electronic, Information, Services
and Networks”. Nesta declaração fica explícito o princípio do direito de acesso à
informação e à privacidade de todos os usuários, responsabilizando os encarregados de
educação na orientação dos seus filhos relativamente ao acesso à informação.
A sociedade americana debate-se, assim, com a dicotomia liberdade de acesso
versus controlo através de filtros. Encontramos, de um lado, os grupos de liberdades civis e
do outro lado a pressão dos grupos anti-pornografia.
Concluindo, o controlo dos conteúdos disponíveis na rede pode ser feito através
da aplicação de filtros, ou através do esclarecimento da natureza da Internet delegando aos
cibernautas a responsabilidade pelos sites visitados. E em Portugal, o que é que se faz e o
que se pensa relativamente a este domínio?
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Não queremos deixar de pensar, reflectir nos conteúdos disponibilizados pela
Internet nas bibliotecas do nosso país. Levantamos uma questão, deverão ser censurados
alguns conteúdos e o seu acesso nas bibliotecas? Segundo o Manifesto da UNESCO, “as
colecções e os serviços devem ser isentos de qualquer forma de censura ideológica, política
ou religiosa”. A este respeito, Ana Carvalhais é peremptória, segundo ela os conteúdos de
natureza violenta devem ser censurados através de filtros, embora na biblioteca onde
trabalha não sigam esta política, bem pelo contrário, o acesso é livre, sem restrições e
democrático.
Os profissionais das bibliotecas devem, segundo o relatório da UNESCO
“respeitar a fala do outro” mesmo que esta contrarie as suas convicções e ideologias. Os
profissionais da informação têm o dever de recuperar e de devolver as “diversas falas”, os
diferentes conteúdos informacionais, delegando aos leitores a sua avaliação e crítica. O
próprio código Ético-deontológico destes profissionais, para além de defender a liberdade
intelectual, indo ao encontro dos princípios preconizados no relatório, considera a
necessidade de respeitar a privacidade dos leitores relativamente aos conteúdos
informacionais por si consultados.
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Conclusão
Não podemos contrariar a tendência irreversível para a edição, publicação e
conversão de documentos de suporte papel para a média electrónica, bem como a
acentuação dos recursos disponíveis na rede complementando o tradicional acervo das
bibliotecas.
Se a integração das T.I.C. e da Internet em particular é uma evidência nos centros de
documentação e nas bibliotecas isso não anula a necessária reflexão sobre os modelos em
que essa integração está a ser feita.
Como vimos, é inquestionável o papel das bibliotecas públicas na democratização do
acesso às novas tecnologias e à Internet. Papel, aliás, bastante reivindicado pelo manifesto
da UNESCO para as bibliotecas públicas. Efectivamente, os cidadãos provenientes de
meios sociais e económicos desfavorecidos encontram sérias dificuldades no domínio das
novas tecnologias de informação e comunicação, pois o equipamento informático e a
necessária formação para o seu domínio são caras, um privilégio das classes mais
abastadas. Assim, cresce para as bibliotecas a responsabilidade de garantir o acesso
público, gratuito e qualificado aos usuários das novas tecnologias da informação e
comunicação.
Contudo, não basta equipar as bibliotecas com as tecnologias mais avançadas, é
fundamental a promoção de programas de formação que habilitem os utentes das
bibliotecas a dominarem esses recursos informacionais e a retirar deles todo o seu
potencial informativo, na medida em que na Internet abundam documentos nem sempre
fidedignos ou credíveis, não raramente de conteúdo violento de natureza sexual e moral.
Resultante da nossa entrevista com a Dra. Ana Carvalhais, constatámos que as páginas
Web de índole pornográfica são largamente visitadas pelos utentes da B.M.A.G.,
atravessando todas a as faixas etárias. O que fazer perante esta situação? Aqui o
bibliotecário confronta-se com a obediência a um dos princípios ético-deontológicos
basilares, no qual assenta o exercício da sua profissão, nomeadamente o respeito pela
liberdade intelectual e garante da privacidade dos leitores. Mas, até que ponto é legítimo e
saudável a permissão do acesso de uma criança a sites pornográficos? Apesar do Manifesto
para as Bibliotecas Públicas defender a liberdade total, sem restrições do acesso aos
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conteúdos da Internet, Ana Carvalhais defende a filtragem de certos sites, é fundamental,
diz, “criar um regulamento, com fundo legal, que permita aos funcionários da biblioteca
actuar impedindo que estas páginas sejam visitadas. Concordamos que é fundamental
educar os leitores, mostrar o potencial informativo da Internet e os serviços aos quais se
pode aceder na rede e exigindo aos bibliotecários a participação activa na informação dos
‘clientes’ no uso da Internet, na organização e selecção desses recursos, para que a
informação não se transforme em desinformação.
Mais do que proibir o acesso a determinados conteúdos, constatamos que é
necessário educar os leitores no uso da Internet, responsabilizando-os pelo material a
cessado.
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Depois de nos debruçarmos sobre o papel da Internet na biblioteca pública, as
vantagens e desvantagens que lhe estão associadas, vamos agora responder a algumas
questões relacionadas com a política de uso adoptada numa biblioteca pública em
particular: a Biblioteca Municipal Almeida Garrett. Procuramos conhecer as duas
perspectivas, a dos utilizadores e a dos gestores da biblioteca. Para tal, realizamos um
inquérito (Ver anexo) distribuído aleatoriamente a um universo de 100 leitores.
Realizamos ainda uma entrevista a uma das bibliotecárias, Dr.ª Ana Carvalhais, de
modo a nos inteirar sobre a política de uso adoptada por aquela biblioteca.
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Análise de Dados
1 1.1 – Sexo:
Sexo
Mulheres45%
Homens55%
Gráfico nº 1
Ao observar o gráfico, constatamos que, e ao contrário do que esperávamos pois
sabemos que há uma maior taxa de natalidade no sexo feminino, assim como uma maior
percentagem de mulheres a frequentar o ensino superior e um maior número de
licenciadas, há uma maior afluência do público masculino à biblioteca Almeida Garrett
(55%), embora seja uma diferença bastante ténue.
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1.2– Idade:
Idade
De 18 a 20 anos
14%Entre 31-40 anos
15%
Entre 41 e 50 anos
8%
Mais de 50 anos6%
Entre 20-30 anos
57%
Gráfico nº 2
Após a análise dos dados relativos à idade da população inquirida, verificamos
que o grosso dos leitores que frequentam a biblioteca, (57%), se encontram na faixa
etária dos 20 aos 30 anos, indicando, assim, que a biblioteca Almeida Garrett tem uma
população maioritariamente jovem. Na verdade, trata-se de uma biblioteca que, pelas
suas características, localização e serviços que oferece constitui um espaço atractivo
para os jovens. De facto, falamos de uma biblioteca recente, construída de raiz e
recheada de um mobiliário confortável e adequado às funções e serviços prestados (sala
de leitura; consulta de periódicos; empréstimo; acesso à Internet para consulta de
catálogos bibliográficos disponíveis on-line, pesquisa de páginas Web e processamento
de texto; serviço de fotocópias; acesso a documentos audiovisuais). Os leitores podem
ainda usufruir de um espaço agradável onde podem fazer ligeiras refeições no intervalo
das suas leituras.
Por outro lado, geograficamente a biblioteca está estrategicamente localizada na medida
em que se encontra muito próxima do pólo universitário ocidental, servindo a população
estudantil de várias Faculdades (FLUP; FAUP; FCUP; Faculdade de Direito e
Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto).
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1.3 – Escolaridade:
Escolaridade
1º Ciclo Ens. Básico
2%
3º Ciclo Ens. Básico
8%
Mestrado/Douturamento
3%
12º ano43%
Licenciatura42%
2º Ciclo Ens. Básico
2%
Gráfico nº 3
No que diz respeito ao grau de escolaridade da população inquirida, constatamos
que os maiores valores percentuais se encontram ao nível do 12º Ano, 43%, e ao nível
da licenciatura, 42%, o que de certa forma é compreensível se cruzarmos estes valores
com os dados relativos à idade (Gráfico nº 2), no qual tínhamos concluído que o
universo de leitores que frequenta a biblioteca em questão é na sua maioria jovem, e
com a localização geográfica da biblioteca, situada perto de várias faculdades.
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2 – Com que frequência visita a Biblioteca Almeida Garrett?
Frequência das visitas
Diariamente6%
Semanalmente
59%
Mensalmente
35% Diariamente
Semanalmente
Mensalmente
Gráfico nº 4
Em relação à frequência de visitas, a maioria dos inquiridos desloca-se
regularmente à biblioteca, isto é 59% dos leitores dizem frequentá-la semanalmente,
enquanto apenas 35% o faz mensalmente.
Assim, de acordo com os dados recolhidos do gráfico nº 4, não restam dúvidas que a
grande parte dos leitores inquiridos tem por hábito deslocar-se à biblioteca (65%) – isto
se juntarmos aqueles que se deslocam diária e semanalmente, contra os 35% que se
deslocam com menor assiduidade.
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3– Qual o Fundo Documental e quais os serviços que consulta na Biblioteca?
O que consulta?
Livros27%
Vídeos7%
Música9%
Internet36%
0%Computadores (Office)
4%
Periódicos17%
LivrosPeriódicosVídeosMúsicaInternetComputadores (Office)
Gráfico nº 5
Relativamente aos serviços disponibilizados pela biblioteca e que são mais
requisitados pelos seus leitores, verificamos que a maior parte dos leitores inquiridos
(36%) se deslocam à biblioteca para aceder à Internet. De facto, os novos recursos
informativos disponibilizados pelas novas Tecnologias da Informação e Comunicação
(TIC), dos quais a Internet é o exponente máximo, estão a ganhar terreno em detrimento
dos recursos tradicionais oferecidos pela biblioteca tradicional.
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4
4.1 – Na Internet, que serviços procura?
Para que usa a Net?
Pesquisa44%
Lazer18%
Correio Electrónico
32%
Chat4%
Grupos de Conversação
2%
Pesquisa
Lazer
Correio Electrónico
Chat
Grupos deConversação
Gráfico nº 6
Em função dos dados apresentados, verificamos que a Internet é sobretudo
utilizada pelos leitores para a elaboração de pesquisas na WWW (44%). Contudo, uma
parte significativa dos leitores utiliza também a Internet para outros serviços que esta
disponibiliza nomeadamente, o correio electrónico (32%). De facto, os dados recolhidos
do gráfico nº 6 vão ao encontro das considerações feitas pela Dr.ª Ana Carvalhais (Ver
entrevista em Anexo) que refere que a maior parte dos leitores que procuram a Internet
o fazem para aceder às suas contas de correio electrónico e navegar na WWW.
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4.2 – Que outros serviços gostaria de encontrar na Internet?
O que faz falta na Net?
Nada61%
Periódicos14%
Livros Digitais
20%
Inf. Económica
/Bolsa5%
Outros0%
NadaPeriódicosLivros DigitaisInf. Económica /BolsaOutros
Gráfico nº 7
De uma maneira geral, 61% dos leitores estão satisfeitos com os serviços
disponibilizados na rede pela biblioteca. No entanto, o desejo de encontrar on-line obras
digitalizadas (20%) e periódicos (14%) começa a ser uma preocupação crescente nos
leitores. De facto, o contacto e o domínio das novas tecnologias da comunicação e
informação vem sendo cada vez maior nas camadas mais jovens que procuram
informação de forma rápida e eficaz, contribuindo para que se vislumbre no horizonte
com maior nitidez o germinar e a consolidação das bibliotecas digitais.
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4.3 – Concorda com a aplicação de filtros no acesso a sites de carácter violento e/ou
sexual?
Concorda com aplicação de filtros no acesso a sites de carácter violento e /ou sexual?
Sim 85%
Não15%
Gráfico nº 8
Embora o grosso dos inquiridos, como constatamos, sejam na sua maioria jovens
e com um nível de escolaridade elevado, verificamos com alguma admiração que 85%
dos inquiridos é a favor da utilização de políticas restritivas relativamente ao uso da
Internet para aceder a conteúdos de natureza violenta /ou sexual. Na verdade, tratando-
se de uma biblioteca frequentada essencialmente por um público jovem, esperávamos
uma maior abertura por parte dos leitores ao material consultado na Internet.
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4.4 – A duração de 1 h para utilização da Internet parece-lhe:
O tempo de utilização da Internet de 1 hora por dia parece-lhe:
Suficiente62%
Insuficiente38%
Gráfico nº 9
Em relação ao uso condicionado da Internet de 1h diária, concluímos que a
maior parte dos indivíduos inquiridos (62%) concorda com a política adoptada pela
biblioteca na medida em que, assim, tal como defende a Dr.ª Ana Carvalhais (Ver
entrevista em Anexo) é permitido o acesso a um maior número de leitores interessados
na utilização desse recurso. Por outro lado, 38% dos inquiridos consideram o tempo
diário de utilização da Internet insuficiente argumentando que por vezes ficam com as
suas pesquisas inconclusivas perante a demora no descarregamento das páginas a que
pretendem aceder.
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Conclusão
Graças à colaboração de Ana Carvalhais foi possível, com êxito, chegar a algumas
conclusões relativas aos usuários e políticas de uso da Internet no contexto da Biblioteca
Municipal Almeida Garrett, a partir de uma amostra constituída por cem inquéritos
realizados aleatoriamente junto à entrada da biblioteca.
Concluímos que há uma maior percentagem, embora muito pouco significativa, de
leitores masculinos a frequentar a biblioteca.
Dos leitores inquiridos, mais de metade ronda os 20 a 30 anos de idade, cerca de
57%, situando-se a menor percentagem, cerca de 8%, entre os mais velhos, entre os 41 e
os 50 anos de idade. De facto, a biblioteca Almeida Garrett é inquestionavelmente uma
biblioteca feita para todos mas procurada sobretudo por um público jovem. Contudo, a
nossa preocupação não foi encontrar as razões explicativas desse fenómeno, não
deixando de ser um aspecto interessante a abordar.
Relativamente aos níveis de escolaridade apresentados, 43% têm o 12º Ano de
escolaridade e 42% são licenciados. Consideramos, assim que a maioria dos inquiridos
que rondavam os 20 e 30 anos e que constituíam 57% da amostra, revelam ter
habilitações ao nível do complementar e licenciatura. Trata-se efectivamente de uma
biblioteca que serve essencialmente um público universitário, atraído pelas novas
tecnologias de informação e comunicação que estão ao seu dispor gratuitamente. Na
verdade, um dos serviços mais requisitados pelos leitores é inquestionavelmente o uso
da Internet (36%).
No horizonte vemos surgir uma nova biblioteca caracterizada pela integração das
TIC, desvanecendo-se a ideia tradicional de biblioteca como mero depósito de
documentos para preservação e conservação. Esta nova biblioteca ganha um novo
fôlego trazido por uma população jovem voltada para as novas tecnologias.
Relativamente à questão central deste trabalho, conteúdos a cessados e políticas de
uso da Internet, concluímos que, e por se tratar de um público maioritariamente
universitário, a Internet é sobretudo utilizada para a elaboração de pesquisas (44%) e
como recurso de comunicação (32%).
Constatamos que os leitores que cada vez mais usam este recurso informacional
(85%) não vê necessidade de se aplicar filtros que bloqueiam o acesso a conteúdos de
carácter sexual e/ou violento, aproximando-se dos pressupostos defendidos pelo
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relatório da UNESCO para as bibliotecas públicas e com o código ético-deontológico
dos profissionais da informação que promove a liberdade nos conteúdos
disponibilizados pela Internet.
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Bibliografia:
• Code of Ethics of the American Library Association. [Disponível em ]
«http://www.ala.org/alaorg/oif/ethics.html».
• GERALDES, José, Jornal da Universidade da Beira Interior. [Disponível
em] «http://urbi.urbi.pt//edição/_op_geraldes».
• Infoteca: Informação nas Bibliotecas; Cadernos BAD, 1996
• Manifesto da UNESCO para as bibliotecas Públicas
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Entrevista com a Dr.ª Ana Carvalhais - Bibliotecária na Biblioteca
Municipal Almeida Garrett
Estarão as bibliotecas condenadas com a Internet?
- Essa questão não se coloca, a biblioteca tem que viver com esses serviços e coexistir
pacificamente com eles, as pessoas não vem à biblioteca se esta não se modernizar. As
bibliotecas mudaram muito, a tendência é para o desaparecimento da biblioteca
tradicional apenas com fundos bibliográficos, a qual não tem razão de ser, já está
ultrapassada. É o próprio público que exige essa mudança.
Qual a política da Biblioteca Almeida Garrett relativamente ao uso da Internet?
- Trata-se de um sistema gratuito e regulado: todos os utentes inscritos têm acesso à
Internet durante uma hora por dia. Embora se trate de uma biblioteca municipal,
dirigida preferencialmente aos munícipes, qualquer pessoa pode utilizar este serviço.
Para os residentes no Porto disponibilizamos gratuitamente um cartão, mediante o
preenchimento de um formulário e entrega de documentos que comprovem a sua
residência nesta cidade; aos outros utentes que não residam no Porto facultamos um
outro cartão.
Pratica-se censura em relação a alguns conteúdos da Internet?
- Na biblioteca não se faz nenhum controlo dos sites visitados, até porque o software
apaga, de 3 em 3 minutos, o histórico. Sabemos que não só as crianças como os
adultos (o que é mais grave, pois compreendo a curiosidade dos jovens...) visitam sites
de conteúdo pornográfico. Sou favorável à aplicação de filtros em relação a
determinados sites de teor pornográfico e/ou violento, no entanto não se aplica
qualquer filtragem pois a direcção é a favor de um uso livre da Internet.
A biblioteca já fez algum estudo quanto aos serviços que os utentes procuram na
Internet?
- Não fizemos nenhum estudo mas sabemos que grande parte dos utentes, de todas as
faixas etárias, consulta o correio electrónico e também utilizam muito a Internet para
consultar o Diário da República on-line.
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Considera que existem desvantagens no uso da Internet?
- Não, elas só existem se esse uso não for controlado.
Que serviços disponibiliza a Biblioteca Almeida Garrett através da Internet?
- Ainda não temos site da biblioteca mas colocamos à disposição dos utentes o Diário
da República on-line e pensamos estabelecer um protocolo com o I.N.E. (Instituto
Nacional de Estatística) de modo a disponibilizar, em formato digital, todas as suas
publicações. Existe ainda um outro serviço gratuito que é o Infocid.pt que informa o
cidadão sobre todos os aspectos da sua cidadania. Falta-nos colocar short-cuts na home
page que o leitor visualiza quando passa o cartão de leitor e acede à Internet, para que
conheça melhor esse serviço.
Qual o futuro da biblioteca com as TIC e a Internet em particular?
- Hoje em dia a biblioteca tradicional está a ser substituída pelos recursos electrónicos.
A biblioteca pública tem de cativar públicos, ir ao encontro das suas necessidades que
estão, cada vez mais, ligadas ao lazer, às tecnologias. No nosso caso, a biblioteca é
utilizada, essencialmente, para dois fins: o uso da Internet e de um espaço propício ao
estudo e ao lazer. As pessoas não vêm cá com o objectivo de utilizar a colecção, aliás
esta está a perder terreno o que cria problemas pois os utentes podem não a conseguir
consultar, uma vez que não encontram lugar para se sentarem. Aliás, a própria
biblioteca tem um problema de projecção: o espaço de leitura dos periódicos não está
devidamente separado da biblioteca infantil, criando-se uma atmosfera barulhenta e
prejudicial.
Que papel está reservado à biblioteca no que respeita ao uso da Internet?
- Acho que, antes de mais, a biblioteca pública tem a obrigação de prestar formação
sobre o uso da Internet. As pessoas sentem-se ainda intimidadas por não saberem
utilizar a Internet, abrir uma conta de correio electrónico, utilizar um motor de
pesquisa... Perante essas dificuldades e depois de, através de um inquérito,
percebermos qual o nível de conhecimentos de Informática dos utilizadores, decidimos
lançar dois cursos, a funcionar brevemente: um para os ‘os mais velhos’ e outro para
os ‘mais novos’.
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A nível interno, que utilização é feita da Internet?
- A Internet a nível interno serve sobretudo para a investigação mas também é utilizada
para aceder a jornais on-line, sites de recolha de imagens para publicitar um serviço da
biblioteca ou uma exposição, e sites ligados à literatura. Alguns serviços disponíveis
gratuitamente, como o jornal Público on-line, que custam muito às empresas vão ser
pagos e a biblioteca vai custeá-los. Pessoalmente, gosto de visitar esses sites pois fico a
par das notícias e estou informada.
Que conteúdos devem estar disponíveis na Internet?
- Todos os conteúdos devem estar disponíveis, exceptuando os violentos e
pornográficos. Quanto a mim, não deveria ser permitido a acesso a estes. Estamos a
tentar aprovar um texto que passe no monitor no início de cada sessão- é urgente que o
utente leia esse texto, para que este fique ciente do regulamento e sujeito a alguma
admoestação em caso de incumprimento do mesmo.
Qual o papel do bibliotecário na dinamização do uso da Internet?
- O bibliotecário deve promover a formação do público, estudá-lo e detectar as suas
necessidades de informação assim com estar atento aos serviços que se podem
disponibilizar através da Internet e do que se pode comprar, de modo a satisfazer as
necessidades do público. Deve ter, também, um papel activo na regulamentação do uso
da Internet, pois não podemos esquecer que a Internet na biblioteca está inserida num
contexto específico, não se trata de um cyber-café. Para além de regular os conteúdos,
o bibliotecário deve regular o acesso à Internet- achamos que uma hora por dia para
cada utilizador é o tempo mais equilibrado de modo a garantir a oportunidade de
acesso à Internet a um maior número de pessoas.