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INSTITUTO SUPERIOR DE GESTÃO Mestrado A Inteligência Económica aplicada no Processo de Internacionalização. O Setor da Vinha e do Vinho. LUÍS MANUEL PINHEIRO DE ALMEIDA Dissertação apresentada no Instituto Superior de Gestão para obtenção do Grau de Mestre em Estratégia de Investimento e Internacionalização. Orientadora: Professora Doutora Sacramento Costa Lisboa 2016

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  • INSTITUTO SUPERIOR DE GESTO

    Mestrado

    A Inteligncia Econmica aplicada

    no Processo de Internacionalizao.

    O Setor da Vinha e do Vinho.

    LUS MANUEL PINHEIRO DE ALMEIDA

    Dissertao apresentada no Instituto Superior de

    Gesto para obteno do Grau de Mestre em

    Estratgia de Investimento e Internacionalizao.

    Orientadora: Professora Doutora Sacramento

    Costa

    Lisboa

    2016

  • ii

    Se no mudares de direo, terminars exatamente no stio de onde partiste.

    James Hunter

    Dedico este trabalho minha mulher, Teresa, pelo carinho com

    que me apoiou em todos os momentos e minha filha, Ana, a

    quem sempre tenho procurado transmitir a importncia dos

    saberes e da aprendizagem ao longo da vida.

  • iii

    Agradecimentos

    A realizao desta dissertao de mestrado, contou com inmeros apoios e

    incentivos que sem os quais no se teria tornado realidade, e aos quais estarei

    eternamente grato.

    Em primeiro lugar quero deixar uma palavra de agradecimento Professora Doutora

    Sacramento Costa pela sua orientao e pela experincia de aprendizagem que me

    proporcionou.

    Cumpre-me ainda salientar o meu profundo e sentido reconhecimento a todas as

    empresas que aceitaram participar no estudo e tornaram possvel a concretizao

    do meu trabalho.

    So tambm dignos de uma nota de apreo os professores, colegas e amigos que

    me acompanharam durante o percurso acadmico.

    Finalmente, mas no menos importante quero agradecer minha famlia, com

    especial apreo pela minha me, esposa e irm que com a sua compreenso

    proporcionaram a minha total dedicao a este trabalho.

    A todos, muito obrigado!

  • iv

    Resumo

    Tendo como premissa que a Internacionalizao deve ser entendida como um

    processo, alicerado em decises de gesto estratgica, a presente investigao

    visa conhecer e compreender as prticas de Inteligncia Econmica que esto

    sendo utilizadas. A entrada em mercados dinmicos, globalizados e altamente

    competitivos implica o conhecimento atempado da realidade envolvente, pelo que a

    Inteligncia Econmica, sendo uma ferramenta de gesto ao servio da empresa,

    possibilita compreender o meio envolvente e desenvolver capacidades

    organizacionais que permitam antecipar, agir, reagir, identificar ameaas e

    oportunidades.

    A metodologia adotada baseou-se numa abordagem mista de cariz qualitativo e

    quantitativo. Como tcnicas de recolha de dados utilizou-se a entrevista e o inqurito

    por questionrio concebido especialmente para o efeito.

    De acordo com a investigao desenvolvida a maioria das empresas inquiridas usa

    a informao existente no seu seio, privilegia a informao que lhe permite antecipar

    as alteraes dos mercados, est disponvel para frequentar aes de formao

    sobre a temtica - Misses Empresariais, tem conscincia da pertinncia da

    Informao sobre os aspetos burocrticos e jurdicos dos diferentes pases, investe

    na compreenso das necessidades dos seus clientes, divulga a Informao de modo

    orientado para os diferentes servios e utiliza controlos de acesso e proteo dos

    suportes de informao.

    Palavras-chave: Informao, Estratgia, Inteligncia, Internacionalizao e Deciso.

  • v

    Abstract

    Based on the premise that Internationalisation should be understood as a process

    grounded on strategic management decisions, this research aims to find out and

    comprehend the Economic Intelligence practices in use today. Breaking into

    dynamic, global and highly competitive markets requires timely knowledge of the

    situation on the ground, meaning that Economic Intelligence, as a management tool

    at the service of the company, enables one to understand the business environment

    and develop organisational skills that allow the company to identify, anticipate and

    react to threats and opportunities.

    The methodology adopted is based on a mixed qualitative and quantitative approach.

    The data collection techniques were interviews and a survey through a questionnaire

    designed especially for the purpose.

    The research carried out showed that most companies surveyed use the information

    they possess at the heart of the organisation, prioritising the information that allows

    them to anticipate the changes in the markets, and which are willing to receive

    training on the topic Business Missions. They are aware of the pertinence of the

    Information about bureaucratic and legal aspects of the different countries, invest in

    understanding their customers needs, disseminate information in order to boost their

    different services and use access and protection controls as regards how this

    information is stored.

    Keywords: Information, Strategy, Intelligence, Internationalisation and Decision.

  • vi

    ndice Geral

    Agradecimentos ......................................................................................................... iii

    Resumo ...................................................................................................................... iv

    Abstract ....................................................................................................................... v

    ndice Geral ................................................................................................................ vi

    ndice de Grficos .................................................................................................... viii

    ndice de Quadros ...................................................................................................... ix

    ndice de Tabelas ....................................................................................................... ix

    Lista de Abreviaturas e Siglas ..................................................................................... x

    Introduo ................................................................................................................... 1

    Parte I .......................................................................................................................... 3

    Captulo 1 A Inteligncia Econmica e as Organizaes Inteligentes ...................... 3

    1.1 O Conceito de Inteligncia Econmica .................................................................. 3

    1.2 A Organizao Inteligente ..................................................................................... 7

    1.3 Implementao de um modelo de Inteligncia Econmica.................................. 12

    Capitulo 2 Globalizao e Internacionalizao ....................................................... 19

    2.1 Conceitos ............................................................................................................ 19

    2.2 A Internacionalizao enquanto processo ........................................................... 22

    2.3 Internacionalizao da Economia Portuguesa .................................................... 32

    Captulo 3 Breve caracterizao do Setor da Vinha e do Vinho ............................. 36

    3.1 O Setor Vincola Portugus ................................................................................. 36

    3.2 Panorama Internacional do Setor Vincola .......................................................... 40

    3.3 Sistema de Informao da Vinha e do Vinho ...................................................... 44

    Parte II ....................................................................................................................... 45

    Captulo 4 - Metodologia ........................................................................................... 45

    4.1 Objetivos e Opes Metodolgicas ..................................................................... 45

  • vii

    4.2 Instrumentos de recolha de dados ...................................................................... 46

    4.3. Procedimentos de recolha de dados .................................................................. 48

    Captulo 5 Apresentao e Discusso de Resultados ............................................ 49

    Concluses, Limitaes do Estudo e Pistas para Futura Investigao ..................... 67

    Referncias Bibliogrficas ......................................................................................... 69

    Webgrafia .................................................................................................................. 75

    Anexos ...................................................................................................................... 80

  • viii

    ndice de Figuras

    Figura 1 - Dados, Informao, Conhecimento e Deciso .......................................... 10

    Figura 2 - Modelo de Ciclo de Inteligncia ................................................................ 15

    Figura 3 - Procedimentos de Inteligncia Econmica ............................................... 16

    Figura 4 Trajetrias possveis num processo de internacionalizao .................... 26

    Figura 5 - Produo de Vinho em Portugal Continental (1883 - 2014) ...................... 37

    ndice de Grficos

    Grfico 1 - Disperso Geogrfica das Empresas Portuguesas pelo Mundo (2015) .. 33

    Grfico 2 Nmero de Empresas Portuguesas com Investimento Direto no

    Estrangeiro (2015) ..................................................................................................... 33

    Grfico 3 - Produo de Vinho por Regio 2015/2016 .............................................. 39

    Grfico 4 - reas declaradas de Colheita e Produo em Portugal (em hectares) ... 40

    Grfico 5 - Evoluo mundial da rea de plantao de vinha ................................... 41

    Grfico 6 - Campanha de produo de vinho 2014/2015 vs. 2010/2011 .................. 42

    Grfico 7 - Evoluo mundial do consumo de vinho ................................................. 43

    Grfico 8 - Motivos que contriburam para a deciso de Internacionalizao ........... 52

    Grfico 9 - Dificuldades/barreiras que associa ao processo de Internacionalizao . 54

    Grfico 10 - Fontes de Informao valorizadas no processo de escolha de pases

    para Internacionalizao ........................................................................................... 55

    Grfico 11 - Fontes de Informao valorizadas no processo de escolha de pases

    para Internacionalizao ........................................................................................... 57

    Grfico 12 - Apoios que considera importante no processo de Internacionalizao . 58

    Grfico 13 - Recolha e Tratamento da Informao ................................................... 59

    Grfico 14 - Difuso da Informao til e pertinente ................................................. 61

    Grfico 15 - Segurana e Proteo da Informao ................................................... 62

    file:///C:/Users/Supervisor/Documents/Luis%20Almeida/Dissertao%20Luis%20Almeida%2018%20de%20Dezembro.docx%23_Toc469793012file:///C:/Users/Supervisor/Documents/Luis%20Almeida/Dissertao%20Luis%20Almeida%2018%20de%20Dezembro.docx%23_Toc469793013file:///C:/Users/Supervisor/Documents/Luis%20Almeida/Dissertao%20Luis%20Almeida%2018%20de%20Dezembro.docx%23_Toc469793015file:///C:/Users/Supervisor/Documents/Luis%20Almeida/Dissertao%20Luis%20Almeida%2018%20de%20Dezembro.docx%23_Toc469793016file:///C:/Users/Supervisor/Documents/Luis%20Almeida/Dissertao%20Luis%20Almeida%2018%20de%20Dezembro.docx%23_Toc469793022file:///C:/Users/Supervisor/Documents/Luis%20Almeida/Dissertao%20Luis%20Almeida%2018%20de%20Dezembro.docx%23_Toc469793022file:///C:/Users/Supervisor/Documents/Luis%20Almeida/Dissertao%20Luis%20Almeida%2018%20de%20Dezembro.docx%23_Toc469793024file:///C:/Users/Supervisor/Documents/Luis%20Almeida/Dissertao%20Luis%20Almeida%2018%20de%20Dezembro.docx%23_Toc469793025file:///C:/Users/Supervisor/Documents/Luis%20Almeida/Dissertao%20Luis%20Almeida%2018%20de%20Dezembro.docx%23_Toc469793027

  • ix

    ndice de Quadros

    Quadro 1 - Valor Acrescentado da tecnologia Business Intelligence ........................ 11

    Quadro 2 - Etapas do Ciclo de Informao ............................................................... 14

    Quadro 3 - Questes que as organizaes devem saber responder ........................ 18

    Quadro 4 - Estratgia do Oceano Vermelho versus Estratgia do Oceano Azul ...... 24

    Quadro 5 - Vantagens e desvantagens dos diferentes modos de entrada ................ 29

    Quadro 6 - Formas de acesso aos mercados e polticas de marketing ..................... 32

    Quadro 7 - Guio de construo do questionrio ...................................................... 48

    Quadro 8- Hierarquizao das Questes face ao Grau de Concordncia ................ 50

    Quadro 9 - Anlise das Entrevistas (n=3) .................................................................. 64

    ndice de Tabelas

    Tabela 1 - Motivos que contriburam para a deciso de Internacionalizao (n=39) 51

    Tabela 2 - Dificuldades/barreiras que associa ao processo de Internacionalizao . 53

    Tabela 3 - Fontes de Informao valorizadas no processo de escolha de pases para

    Internacionalizao ................................................................................................... 54

    Tabela 4 - Fontes de Informao valorizadas no processo de escolha de pases para

    Internacionalizao .................................................................................................. 56

    Tabela 5 - Apoios que considera importante no processo de Internacionalizao ... 57

    Tabela 6 - Recolha e Tratamento da Informao ..................................................... 59

    Tabela 7 - Difuso da Informao til e pertinente ................................................... 60

    Tabela 8 - Segurana e Proteo da Informao ...................................................... 62

  • x

    Lista de Abreviaturas e Siglas

    AEP - Associao Empresarial de Portugal

    AICEP - Agncia para o Investimento e Comrcio Externo de Portugal.

    AIMINHO - Associao Industrial do Minho.

    COTEC - Associao empresarial para a Inovao

    IVV - Instituto da Vinha e do Vinho, I.P.

    OECD - Organisation for economic co-operation and development

    OIV - International Organisation of Vine and Wine

  • 1

    Introduo

    Para prosperar, qualquer empresa tem de se conseguir transformar, a ritmos cada

    vez mais acelerados, informao em conhecimento, conhecimento em deciso e

    deciso em ao. A empresa com melhores hipteses de um bom desempenho

    aquela que sabe produzir e utilizar coletivamente o conhecimento sem cessar de o

    renovar (Raso, 2008).

    A Internacionalizao deve ser entendida como um processo, alicerado em

    decises de gesto estratgica, que carecem de informao til e pertinente de

    suporte tomada de deciso. A literatura sobre o negcio internacional sugere a

    identificao de seis fases: consciencializao, interesse (obteno de informao

    sobre potenciais mercados e estabelecimento de contactos), ensaio (exportao

    experimental para um distribuidor num determinado pas), exportao regular,

    estabelecimento de filial comercial e produo no estrangeiro (AICEP, 2013). Neste

    sentido, no expectvel iniciar um processo de Internacionalizao sem o

    desenvolvimento de um plano estratgico (Gomez, 2011).

    Assim, a presente investigao foi desenvolvida com o objetivo de conhecer e

    compreender se nos processos de tomada de deciso de Internacionalizao as

    empresas do setor da Vinha e do Vinho, utilizaram informao antecipadamente

    recolhida, que tipologia de informao, como foi analisada, tratada e divulgada, bem

    como, quais os motivos que levaram a empresa a procurar novos mercados, quais

    os principais obstculos encontrados e se os mesmos j tinham sido identificados ou

    previstos.

    O trabalho est organizado em duas Partes e seis Captulos.

    Na Parte I, apresenta-se o enquadramento terico. No Captulo 1, os conceitos e

    abordagens consideradas de referncia para a compreenso da Inteligncia

    Econmica, enquanto ferramenta de gesto. No Captulo 2, e dado que a presente

    dissertao assenta em dois pilares fundamentais em termos de quadro conceptual,

    percorre-se a reviso da literatura relacionada com a Internacionalizao,

    explorando o paradigma que lhe deu origem, e algumas abordagens que a

  • 2

    caracterizam como processo. No Captulo 3, caracteriza-se o Setor da Vinha e do

    Vinho, quer em termos de panorama nacional, como internacional.

    Na Parte II, no Captulo 4 descreve-se a metodologia de investigao adotada, no

    Captulo 5, a apresentao e discusso de resultados, e no Captulo 6 a ligao

    entre a Inteligncia Econmica e a Internacionalizao, os resultados obtidos e a

    sua anlise.

    Posteriormente feita uma sntese final apresentando as concluses, limitaes do

    estudo e sugestes para futuras investigaes.

  • 3

    Parte I

    Captulo 1 A Inteligncia Econmica e as Organizaes Inteligentes

    O desafio atual consiste em ser capaz de inovar aprendendo com o mundo.

    (Doz, Santos e Williamson, 2006)

    1.1 O Conceito de Inteligncia Econmica

    A primeira definio de Inteligncia Econmica foi publicada em 1967 por Harold

    Wilensky no seu livro Organizational Intelligence, o qual define a Inteligncia

    Econmica, como atividade de produo de conhecimento que serve os objetivos

    econmicos e estratgicos de uma organizao, recolhida e produzida num contexto

    legal e a partir de fontes abertas (Veryard, 2016). Esta definio foi retomada em

    1993 pelo Comissariado Francs Geral do Plano, no relatrio Intelligence

    conomique et Stratgie des Entreprises, elaborado sob a presidncia de Henri

    Martre e com a colaborao de Christian Harbulot, de Philippe Clero e de Philippe

    Baumard (Martre, Clerc, e Harbulot, 1994). Estes autores descreveram a gesto

    estratgica da informao como um dos motores essenciais do desempenho global

    das empresas e das naes e a Inteligncia Econmica como "o conjunto das

    aes coordenadas de recolha, tratamento, distribuio e proteo da informao

    til e obtida legalmente pelos agentes econmicos (Martre, Clerc, e Harbulot, 1994,

    p.12). Apresentam a Inteligncia Econmica, como o produto e o processo, ou seja,

    o produto a informao e o processo definido como o conjunto de meios usados

    sistematicamente, na aquisio, avaliao e produo dessa informao, a qual ir

    ser transformada em conhecimento em termos operacionais.

    O Relatrio Martre (Martre, Clerc, e Harbulot, 1994) explica ainda, que o percurso da

    globalizao obriga os agentes econmicos a adaptarem-se a um novo equilbrio

    estabelecido entre concorrncia e cooperao, e que o seu sucesso depende em

    larga medida da capacidade das empresas obterem informao que lhes permita

    ilustrar a realidade de atuao dos mercados, bem como, conhecer a concorrncia,

    as ameaas e oportunidades.

    O trabalho de Inteligncia Econmica at ento realizado de uma forma intuitiva

    passou a ser desenvolvido desdobrando o modelo clssico de inteligncia em duas

  • 4

    grandes vertentes: o ramo de inteligncia, voltado para o acompanhamento dos

    mercados e produo de informaes estratgicas; e o ramo da contrainteligncia,

    que tem como objetivo combater as aes de espionagem industrial, atravs de

    medidas de proteo e segurana das informaes sensveis e estratgicas. Com

    este novo contexto assiste-se emergncia de um novo paradigma estruturado em

    torno da informao, entendida como recurso estratgico das organizaes e dos

    Estados, com consequncias importantes ao nvel das estratgias empresariais e

    das polticas pblicas (Magrinho, 2012, p.23). Em sintonia, tambm Raso (2008,

    p.104) salienta que a informao e o conhecimento converteram-se em verdadeiros

    recursos estratgicos, podendo ser designados como principais ativos invisveis das

    organizaes.

    Efetivamente, a sociedade da informao tem sido o ambiente em que se tem

    desenvolvido a economia global nas ltimas dcadas. Os primeiros anos do milnio

    mudaram o quadro de referncia sobre a definio das vantagens competitivas. O

    conhecimento, a tecnologia e a inovao, transformaram-se em condies

    essenciais para entrar no jogo da competio global (Dinis, 2005). Esta alterao de

    paradigma que eleva o conhecimento e a informao a principais fontes de

    produtividade e de crescimento obriga a que as organizaes, tenham que

    considerar cada vez mais o seu ambiente interno e externo, como uma dimenso

    ativa da sua estratgia. Nesta perspetiva, a informao passa a ser encarada como

    um ativo, que precisa de ser seguro e protegido (Juillet, 2012).

    Neste contexto, cumpre destacar que as empresas produzem informaes cuja

    apropriao por terceiros, constitui sempre uma perda importante, por vezes

    irreparvel. As organizaes devem usar a informao para criar significado,

    construir conhecimento e tomar decises, mas tm de a saber proteger. A criao do

    conhecimento representa inovao e vantagem competitiva, e neste sentido a

    proteo faz parte integrante deste processo (Rostami, 2014). Tendo em

    considerao a possibilidade de ataques informticos via Internet, os computadores

    so armas contra a prpria empresa se no forem bem utilizados. Por isso,

    essencial que seja um profissional de confiana a administrar a rede interna e a

    executar a manuteno dos computadores, de forma a evitar o aparecimento de

    software malicioso, seja por desleixo, m vontade ou desconhecimento dos seus

    trabalhadores. Os colaboradores tambm podem ser um elemento de fuga de

  • 5

    informao, seja por negligncia, seja intencionalmente, razo pela qual toda a

    evolvente de proteo e segurana da informao se reveste de carter

    imprescindvel no planeamento das ferramentas de Inteligncia Econmica.

    Efetivamente, a Inteligncia Econmica apresenta-se como um instrumento

    essencial de gesto estratgica, flexvel e de grande facilidade de implementao

    como explica Tarapanoff (2006) que a define como um instrumento, uma ferramenta,

    cuja finalidade consiste em fornecer, aos responsveis pela tomada de deciso, nas

    empresas ou no Estado, os conhecimentos necessrios para a compreenso de seu

    meio envolvente, por forma a permitir ajustar estratgias individuais ou coletivas.

    Sendo um conjunto de procedimentos que visam enriquecer o saber da organizao,

    importante salientar que no deve ser confundida com espionagem econmica

    dado que utiliza exclusivamente meios legais e ticos, como descreve Magrinho

    (2012, p.24) a Inteligncia Econmica articula-se em torno de um produto (a

    informao para agir), de um processo (os meios utilizados para aceder e servir-se

    da informao) e de um mercado (troca e partilha da informao) .

    Uma empresa em atividade , por natureza, um sistema aberto e interativo

    sustentado por uma rede de processos articulados, onde os canais de comunicao

    internos empresa e entre esta e o seu meio envolvente so alimentados por

    informao. Devido s exigncias e complexidade do meio envolvente interno e

    externo, o conhecimento transformou-se num fator crtico de sucesso e como tal as

    organizaes tm cada vez mais, necessidade de investir em meios que lhes

    permitam gerir adequadamente a informao (Arenas, 2013).

    Deter informaes sobre o mercado, a concorrncia, as tendncias dos negcios, os

    consumidores, a poltica, a tecnologia e a legislao, entre outras, pode transformar-

    se em fator de vantagem competitiva, desde que, a empresa as utilize adicionando

    algum valor, ou seja, de forma mais inteligente do que os seus concorrentes. No

    existe por isso, um modelo rgido de variveis a pesquisa. Existem sim um conjunto

    de variveis internas e externas, umas mais controlveis do que outras, e que

    contribuem ou condicionam a eficcia de uma empresa. Neste sentido, o

    desempenho de uma empresa depende do desenvolvimento de capacidades

  • 6

    organizacionais que permitam corresponder s exigncias do presente e antecipar o

    futuro (Brando e Silva, 2014).

    Num mercado globalizado e bastante competitivo, a informao cada vez mais

    valiosa e as organizaes so continuamente desafiadas na sua capacidade de

    resposta. To grande dinamismo, faz com que a rapidez com que a organizao

    monitoriza as mudanas do ambiente e prev cenrios futuros, seja uma condio a

    privilegiar na tomada de deciso. Esta realidade foi salientada no estudo

    apresentado por Pizzol e Todesco (2012) na 13 Conferncia Anual de Inteligncia

    Competitiva1, na qual, destacam como resultados obtidos, que 95% das decises

    tomadas com base em Inteligncia Competitiva foram consideradas como eficientes,

    contrariamente ao verificado nas empresas que no utilizam Inteligncia Competitiva

    no processo de tomada de deciso, nas quais, apenas 52% das decises foram

    validadas como eficientes.

    Haeckel e Nolan (1993) citado por Choo (2003, p.41) definem a Inteligncia de uma

    organizao como sendo a capacidade de lidar com a complexidade, isto , a sua

    capacidade de captar, partilhar e extrair significado a partir dos sinais do mercado.

    Para o Cercle dIntelligence Economique (CIE, 2006) a Inteligncia Econmica

    mais que um conjunto de procedimentos, representa uma questo de atitude, um

    comportamento e um modelo de gesto estratgica. uma maneira de pensar e agir

    diariamente, tanto dentro, como fora da empresa, que protege e melhora o

    patrimnio imaterial do negcio.

    Enquanto sistema, a Inteligncia Econmica tem de responder s necessidades

    dirias de informao da organizao, por isso, tem inevitavelmente de acompanhar

    a sua viso e misso (Dou, 2012). Deve agir como um radar, vigiando o ambiente

    interno e externo da organizao, na busca constante de informaes valiosas para

    a reflexo estratgica. Uma das principais funes da Inteligncia Econmica

    evitar que a empresa crie pontos cegos, ou seja, impedir que a arrogncia e as

    convices internas, se sobreponham aos factos e dados recolhidos sobre as

    envolventes gerando entropia e decises inadequados.

    1 Conferncia realizada em So Paulo, em 2012

  • 7

    Consequentemente, a gesto global hoje mais complexa porque enfrenta o desafio

    de gerir a ambiguidade crescente da tomada de deciso. Esta realidade resulta

    tambm da exposio a um nmero muito maior de variveis, algumas com

    dimenses complicadas no mbito, social, politico, religioso, tnico e cultural. Como

    corolrio Vandergriff (2009, cit, por Zarghamifard e Behboudi, p.32) define a

    Inteligncia Econmica como "a compreenso do passado, a conscincia do

    presente, e o prenncio do futuro numa perspetiva estratgica de um

    empreendimento complexo".

    1.2 A Organizao Inteligente

    Sobreviver no Mundo atual, implica reconhecer um ambiente de negcios

    fisicamente fora de controlo, no qual preciso criar uma cultura de valorizao da

    informao, do conhecimento, da aprendizagem e da inovao (Choo, 2003).

    Qualquer gestor necessita de pensar sistematicamente sobre o que carece de saber,

    como pode obter essa informao e como esta carece de ser tratada e divulgada. A

    deteno de um slido conhecimento, sempre foi e ser uma componente

    estratgica na evoluo de qualquer organizao e encontra-se presente em todas

    as vertentes do negcio, seja nas atividades de marketing, seja nas financeiras, seja

    nas de construo/produo e inovao de produtos e servios (Raso, 2008).

    Assim, no basta aprender com o passado, a organizao inteligente precisa

    tambm de ser capaz de aprender acerca do futuro (Choo, 2003, p.49).

    A empresa que aprende foi um conceito desenvolvido por vrios autores, tendo Jean

    Brilman proposto a seguinte definio:

    Uma organizao que se concebe como um sistema de aprendizagem

    coletivo que constri em permanncia o seu futuro; est em estado de

    vigilncia; cria, capitaliza e difunde os conhecimentos e os saberes; melhora

    as competncias dos seus membros; e se transforma para atingir os seus

    objetivos (Brilman, 2000, p.443).

    A competio pelo futuro uma luta pela criao e domnio das oportunidades

    emergentes, uma corrida de antecipao pela posse do novo espao competitivo

    (Hamel, 2010). Esta viso estratgica reconhece que no suficiente colocar a

  • 8

    empresa numa posio tima dentro dos mercados existentes, dado que, para

    aprender e antecipar as novas trajetrias necessrio ir alm daquilo que os outros

    vem (Day e Schoemaker, 2006).

    A cultura empresarial fechada, sem viso estratgica, comercialmente pouco

    agressiva, com sistemas de informao deficientes, est a ser substituda pela

    organizao inteligente, virtual e inovadora, apoiada no associativismo empresarial e

    em alianas estratgicas. Esta nova dinmica organizacional acelera a competio,

    no entanto, no se cria apenas com tecnologias, tambm imperioso criar uma nova

    cultura organizacional (Dinis, 2005). A premissa de que uma empresa atua como

    competidor isolado, confrontando os seus concorrentes claramente identificados,

    com produtos similares, num segmento especfico de mercado, raramente hoje

    uma afirmao verdadeira (Rostami, 2014).

    Atualmente, acreditar que possuir a informao suficiente a chave para tomar uma

    deciso de gesto correta, est muito longe de ser verdade, pois a informao

    simplesmente o ponto de partida de um processo de tomada de deciso e no o

    ponto de chegada (Day e Schoemaker, 2006).

    No passado, a maioria dos produtos tinha um longo ciclo de vida e os mercados

    permaneciam inalterados por longos perodos de tempo, realidade, bem diferente

    nos dias de hoje. No contexto organizacional dinmico em que vivemos

    imprescindvel olhar para fora para estabelecer estratgias competitivas. Como

    descreve Choo (2003, p.65) j no suficiente seguir a concorrncia e os clientes,

    dado que as organizaes devem tambm acompanhar as inovaes tecnolgicas,

    as polticas governamentais, as tendncias econmicas, os padres demogrficos,

    as mudanas no estilo de vida, as transies polticas, o comrcio internacional,

    entre outros fatores. Ainda segundo Choo, o processo de Inteligncia um ciclo

    contnuo de atividades que inclui sentir o meio ambiente. Para este autor o sentir

    encontrar a informao acerca do meio ambiente externo e interno, e proceder

    sua triagem. Face impossibilidade de conhecer todos os acontecimentos ou

    desenvolvimentos, imprescindvel elaborar um plano. Este autor recorre a

    metforas para explicar, que o meio ambiente que envolve as empresas est cheio

    de surpresas e que a informao e a tecnologia so teias giratrias que unem

    pases, mercados e muitos campos da natureza humana.

  • 9

    Deter informaes sobre o mercado, a concorrncia, as tendncias dos negcios, os

    consumidores, a poltica, a tecnologia, a legislao entre outras variveis, pode

    transformar-se em fator de vantagem competitiva, desde que, a empresa as utilize

    adicionando algum valor, ou seja, de forma mais inteligente do que os seus

    concorrentes. No existe portanto, um modelo rgido de variveis a pesquisar, mas

    sim, a necessidade de implementar um processo que permita a recolha de

    informao passvel de acrescentar valor (Teles Fernandes, 2008).

    A possibilidade de antever a evoluo do ambiente competitivo obriga os gestores a

    focalizar a sua ateno em simultneo no seu posicionamento estratgico e no dos

    seus concorrentes, mas tambm a olhar para enquadramentos polticos, sociais,

    culturais, como todos os impactos que da podero resultar, nomeadamente em

    relao moldura legal e fiscal.

    Para Cardoso do Amaral (2008) a utilizao da informao ao servio da estratgia,

    no se reduz a uma inovao, mas traduz, no mundo empresarial, a essncia de

    uma estratgia. A produo de notcias e informaes teis e pertinentes permite

    uma perceo ttica mais correta da envolvente estratgica e acaba por ser muito

    mais realista e eficaz. A lgica que dever sempre prevalecer dever ser a de agir e

    antecipar, sendo que a capacidade de inovao tem de ser sustentada numa

    reflexo prospetiva muito rigorosa e que pondere inteligentemente os cenrios

    futuros. importante destacar que a inovao no confere, por si s, uma

    vantagem competitiva, constitui antes uma potencial fonte de gerao de vantagens

    competitivas (Freire, 2000, p.241).

    Para reforar a importncia da informao certa, na hora certa, interessante

    recorrer e refletir sobre a afirmao utilizada por Day e Schoemaker, no livro Viso

    Perifrica, Se chegarmos demasiado cedo a uma festa no haver convidados; se

    chegarmos muito tarde, s apanhamos o lixo. Neste sentido ver o que est a

    acontecer e responder eficazmente uma competncia essencial na gesto (Day e

    Schoemaker, 2006).

    Assim, para prosperar, qualquer empresa tem que conseguir transformar, a ritmos

    cada vez mais acelerados, dados em informao, informao em conhecimento,

    conhecimento em deciso (Figura 1) e deciso em ao.

  • 10

    O conhecimento diferente dos outros recursos, cresce quando partilhado e no se

    deprecia com a utilizao. Os recursos materiais perdem valor medida que so

    utilizados, as ideias geram novas ideias e a informao quando partilhada,

    permanece com o transmissor ao mesmo tempo que enriquece o recetor (Dinis,

    2005).

    Neste sentido, a empresa com melhor performance aquela que sabe produzir e

    utilizar coletivamente o conhecimento sem cessar de o renovar, ou seja, o

    conhecimento assume-se como potenciador de acrscimo de valor da empresa

    (Zorrinho et al, 2007, p.29).

    Sezes, Oliveira e Baptista (2006, p.9) reforam que os desafios colocados s

    empresas nos ltimos anos elevaram a fasquia no que diz respeito aos sistemas e

    competncias de gesto, salientando como principais tendncias: a agressividade

    da concorrncia; a exigncia de elevados padres de qualidade; a necessidade de

    conhecimento atualizado sobre os mercados; a necessidade de racionalizar

    processos internos e reduzir custos operacionais; a necessidade de avaliar em

    tempo real o desempenho das organizaes e a capacidade de antecipao s

    mutaes dos mercados.

    Consequentemente, essencial referir que a Inteligncia Econmica, pelas

    definies apresentadas no deve ser confundida com os sistemas de tecnologias

    de informao que visam flexibilizar e simplificar a compreenso sob a forma de

    grficos, mapas, dashboards, anlises multi-dimensionais e reportings profissionais

    (Fuld, 2011). bvio que a informao recolhida ir ser alvo de anlise, tratamento

    Figura 1 - Dados, Informao, Conhecimento e Deciso

    Fonte: Primak (2008, p.12)

  • 11

    e difuso com base num determinado sistema, no entanto, o conceito de Inteligncia

    Econmica muito mais abrangente, tendo em considerao que representa uma

    nova viso da gesto, uma nova atitude e no pode ser reduzido aos sistemas de

    informao desenvolvidos para serem utilizados pelos rgos de deciso, como

    referem Sezes, Oliveira e Baptista (2006). Para estes autores os procedimentos do

    Business Intelligence so os catalisadores da mudana, permitindo concretizar as

    boas prticas de gesto e de bom governo das empresas. Mais, estes autores

    acrescentam que de uma forma eficaz, pelo diagnstico, anlise, acessibilidade,

    partilha e reporting de dados, possvel aos gestores perceber o que essencial no

    seu negcio e transformar os enormes mananciais de informao em conhecimento

    til, oportuno e fivel (Sezes, Oliveira e Baptista, 2006, p.10). O Quadro 1

    apresenta os aspetos considerados na cadeia de valor da tecnologia Business

    Intelligence.

    Quadro 1 - Valor Acrescentado da tecnologia Business Intelligence

    Valor Acrescentado da tecnologia Business Intelligence

    Aplicaes Funcionais nas Empresas

    Comercial

    - Anlise do comportamento do consumidor

    - Anlise da rendibilidade de consumidores/segmentos

    - Anlise de cross-selling

    - Anlise da fora de vendas

    - Anlise dos canais de distribuio

    Marketing

    - Penetrao no mercado/segmentos

    - Eficcia das campanhas de marketing (anlise de meios)

    Finanas

    - Previso, planeamento e oramentao

    - Anlise de performance

    - Consolidao financeira

    - Reporting financeiro

    Operaes/Logstica

    - Eficincia operacional

    - Planeamento da produo

    - Controlo de qualidade

    - Anlise da cadeia logstica

    Recursos Humanos

    - Planeamento de afetao de recursos

    - Avaliao da performance

    - Avaliao da compensao

    - Avaliao de competncias

    Fonte Adaptado de Sezes, Oliveira e Baptista (2006, p.10)

  • 12

    Nas economias mais avanadas, especialmente nas economias europeias sujeitas

    perda de dinamismo econmico induzida pelo envelhecimento da populao, a

    inovao e a diferenciao dos processos e dos produtos constituem um caminho

    inescapvel para voltar a crescer e gerar empregos suficientes para satisfazer

    procuras sociais mais qualificadas (Augusto Mateus & Associados, 2013).

    1.3 Implementao de um modelo de Inteligncia Econmica

    O mundo organizacional mudou, a informao e o conhecimento alcanaram o

    patamar de recursos estratgicos, o que originou alteraes nos comportamentos de

    gesto e obrigou introduo de novas formas de trabalhar. Perante esta nova

    realidade, as empresas mais inovadoras esto a promover e a incentivar os

    colaboradores, responsabilizando-os e consciencializando-os de que o desempenho

    da organizao depende tambm dos contributos, atitudes e comportamentos

    individuais.

    A conceo, implementao e desenvolvimento de um sistema de Inteligncia

    Econmica, representa o processo pelo qual a inteligncia obtida, produzida e

    disponibilizada de uma forma planeada e coerente. Cada organizao deve

    identificar as necessidades atuais e futuras, no que diz respeito a dados,

    informao e ao conhecimento de forma a refletir um alinhamento entre a estratgia

    e as funes do sistema de informao (Davenport, 2010).

    A implementao de um modelo de Inteligncia Econmica tem como primeiro

    grande objetivo fornecer a quem tem competncias para tomar decises, a

    oportunidade de pensar frente com base num servio que faz o seguimento

    atempado de notcias e informaes recentes e particularmente relevantes para a

    compreenso do futuro (Cardoso do Amaral, 2008, p.27).

    Esta abordagem tem subjacente a necessidade de planeamento e conceo do

    desenho dos respetivos procedimentos que incluem, a identificao, a anlise, o

    tratamento e a distribuio, em funo das necessidades dos utilizadores (Raso,

    2008, p.105). Em conformidade devem igualmente ser identificadas as metodologias

    de gesto da informao com maior impacto estratgico no negcio. Neste sentido,

    a adoo de uma abordagem inteligente sobre a gesto da informao passou a

    ser condio sine qua non para a existncia de uma verdadeira gesto estratgica

  • 13

    Choo (2003). Criar valor numa organizao, passa nesta perspetiva por acrescentar

    valor informao e melhorar os processos de tomada de deciso.

    Segundo Herring (1999, cit, por Pereira, Carvalho e Jordo, 2016, p.145), existem

    basicamente trs categorias de Key Intelligence Topics (Questes-Chave de

    Inteligncia) que podem ser equacionados em:

    1. Os tpicos de Inteligncia direcionados para suportarem as decises

    estratgicas e tticas da organizao (strategic decisions and actions);

    2. Os tpicos de Inteligncia que permitem identificar e descrever os atores-

    chave do ambiente de negcios da organizao (descriptions of the key-

    players);

    3. Os tpicos de Inteligncia capazes de monitorizar o ambiental externo (early-

    warning topics).

    As fontes de informao podem ser classificadas em formais e informais. As fontes

    formais so geralmente documentos escritos, em suporte de papel ou digital, a

    imprensa generalista e especializadas, a rdio, a televiso, organismos pblicos e

    privados, universidades, centros de investigao, etc. As fontes informais tm por

    origem a observao, atravs de contactos com parceiros, fornecedores, clientes,

    concorrentes, participao em exposies, feiras, colquios e congressos.

    Consoante a disponibilidade de acesso, as fontes tambm podem ser classificadas

    em abertas ou fechadas. A informao aberta de livre acesso, a informao

    fechada normalmente exige um pagamento, ou o preenchimento de requisitos, como

    tipo de atividade profissional. Naturalmente que estas fontes so habitualmente mais

    rigorosas e fundamentadas. Podemos tambm classificar as fontes de informao

    em branca, cinzenta e preta, tendo em considerao a forma como foi obtida

    (Lendrevie et al., 2015).

    De acordo com estes autores a informao branca aquela que de livre acesso, o

    que, naturalmente lhe reduz valor, devido sua maior acessibilidade. A informao

    cinzenta corresponde a uma situao intermdia. Os seus mtodos de investigao

    podem ser pouco ou muito agressivos, sem contudo carem na ilegalidade e na

    espionagem. Normalmente, esta informao preciosa mas difcil de obter, sendo

    os seus limites de ordem deontolgica. A informao preta aquela que obtida

    ilegalmente, por meio de espionagem ou de violao das regras de direito. Para

  • 14

    alm de deontologicamente condenvel, em caso de descoberta esta informao

    pode causar grandes contratempos sobre a imagem da organizao e desencadear

    mesmos processos judiciais.

    Outro aspeto importante e destacado por Lendrevie et al. (2015, p.142) as

    informaes s tm valor se chegarem s pessoas certas e no momento certo. De

    facto, a definio das fontes, da tipologia de tratamento e modalidade de difuso

    muito importante. Os resultados podem ser transmitidos, de forma permanente,

    atravs de acesso a uma base de dados, periodicamente, sob a forma de relatrios

    ou apresentaes orais e sob a forma de conselho pontual. Este processo

    normalmente contemplado no planeamento das diferentes etapas do denominado

    Ciclo de Inteligncia (Veryard, 2016).

    Concretamente em relao ao nmero de etapas que devem ser consideradas num

    Ciclo de Inteligncia, constatou-se atravs da reviso da literatura que no existe

    unanimidade, razo pela qual possvel encontrar modelos com quatro, cinco, seis

    ou mais etapas. No entanto, os modelos regra geral sintetizam os objetivos e os

    procedimentos descritos no Quadro 2.

    Quadro 2 - Etapas do Ciclo de Informao

    Etapas Definio Descrio

    1

    Planeamento e Identificao

    das Necessidades de

    Informao

    Concebe a metodologia de todo o processo, se

    elaboram planos, se identificam quem toma decises, e

    as necessidades de Inteligncia.

    2

    Pesquisa e Recolha de

    Informao

    So identificadas as fontes relevantes, internas e

    externas e recolhida a informao.

    3

    Anlise e Tratamento

    realizada a filtragem, anlise e validao das

    informaes j recolhidas e tratadas para elaborao

    dos produtos de Inteligncia, bem como, o tipo de

    tratamento que ser dado informao para

    armazenamento.

    4

    Divulgao

    Entrega da informao analisada, ou seja, os produtos

    de Inteligncia, num formato coerente e adequado face

    aos destinatrios.

    5 Avaliao

    Desempenho de cada uma das etapas avaliado isto ,

    se foi utilizado o mtodo de anlise mais adequado, se a

    escolha das fontes de Informao poderia ter sido

    melhor direcionada, se o formato do produto foi o mais

    adequado, etc.; o segundo aspeto a avaliao junto

    aos utilizadores dos resultados prticos obtidos com o

    uso dos produtos gerados.

    Fonte: Elaborao Prpria

  • 15

    preciso saber distinguir os sinais com informao do rudo de fundo. No basta

    ver, preciso compreender. No basta ouvir, preciso entender. A perceo e o

    entendimento partem dos pressupostos, do conhecimento prvio, e de uma

    aprendizagem iterativa (Cardoso do Amaral, 2008, p.265). O Ciclo de Inteligncia

    representa assim o processo que caracteriza a forma como se recolhe, adquire, cria,

    organiza e distribui a informao de apoio tomada de deciso.

    Para Denis (2011) o Ciclo de Inteligncia representa um processo contnuo e

    dinmico cuja adaptao e evoluo est diretamente relacionada com a envolvente

    interna e externa, pelo que deve ser equacionada em funo de oito etapas (Figura

    2).

    Como ilustra a Figura 2 o desenvolvimento do Ciclo de Inteligncia pressupe o

    diagnstico das necessidades de informao. Com base no diagnstico h que

    identificar e selecionar as fontes e ferramentas, as condies e as restries que de

    facto existem, de forma a elaborar um plano que permita desenvolver

    adequadamente o Ciclo de Inteligncia. Caso contrrio, este processo transforma-se

    num mero gerador de informao, sem nenhum valor estratgico para a organizao

    (Cardoso do Amaral, 2008). O diagnstico das necessidades de informao envolve

    diferentes dimenses em funo das especificidades de cada empresa e dos

    mercados pelo que o seu grau de complexidade inerente a uma reflexo

    estratgica. Por conseguinte essencial reconhecer o que a empresa precisa

    realmente de saber, quais os problemas que carece de ultrapassar e que objetivos

    quer atingir. Aps a identificao das fontes, deve ser estabelecido um plano, etapa

    na qual se concebe a metodologia de todo o processo de pesquisa, recolha, anlise,

    tratamento e o formato de divulgao e proteo, que ir informar as decises e

    Figura 2 - Modelo de Ciclo de Inteligncia Fonte: Denis (2011)

  • 16

    aes a tomar. A medio de resultados imprescindvel em qualquer processo de

    gesto, pelo que no presente trabalho se optou por referenciar o modelo de Ciclo de

    Inteligncia de Denis (2011) ilustrado na Figura 2. A etapa de resultados

    corresponde avaliao do desempenho de cada uma das etapas, isto , se foi

    utilizado o mtodo de anlise mais adequado, se a escolha das fontes de

    Informao poderia ter sido melhor direcionada, se o formato do produto foi o mais

    adequado; o segundo aspeto a avaliao junto dos utilizadores dos resultados

    prticos obtidos com o uso dos produtos gerados.

    Entender a importncia da informao um imperativo do mundo dos negcios,

    permite desenvolver melhores planos, trabalhar com mais eficincia e concretizar os

    objetivos delineados, nesta tica o consrcio CETISME (2003, p.29) desenvolveu

    um manual sobre Inteligncia Econmica, no qual apresenta a Figura 3, que

    sistematiza as etapas de procedimentos do Ciclo de Inteligncia.

    Figura 3 - Procedimentos de Inteligncia Econmica

    Fonte: CETISME (2003, p. 29)

    Esta abordagem (Figura 3) diverge essencialmente da abordagem da Figura 2, pela

    conceo em termos de processo, e pelo facto de no contemplar o ciclo de

    proteo, e segurana e anlise de resultados. A tnica principal da Figura 3 incide

    no Ciclo de Informao. A conceo, implementao e desenvolvimento de um

    sistema de Inteligncia Econmica, pressupe um correto diagnstico das condies

  • 17

    de implementao e deve ser acompanhado com aes de proteo e segurana da

    informao, sendo o seu objetivo funcionar como suporte tomada de deciso.

    O Ciclo de Informao representa assim, o processo que caracteriza a forma como

    se recolhe, adquire, cria, organiza e distribui a informao e visa a interpretao da

    realidade da organizao e dos mercados, atravs de um fluxo de informao

    inteligente, cuja utilizao colocada ao servio da empresa com o objetivo de

    disseminar a informao certa, para as pessoas certas e na hora certa, como

    ferramenta de apoio tomada de deciso (Figura 3). A segurana da informao

    no um problema meramente tcnico da esfera dos responsveis pelos sistemas

    de informao, mas um desafio que envolve a gesto de topo. A definio de

    procedimentos e de polticas de segurana so fundamentais para garantir uma

    proteo eficiente da informao gerada e disponibilizada pela organizao.

    Nesta perspetiva os procedimentos de Proteo e Segurana envolvem e

    acompanham todo o Ciclo da Informao e ambos fazem sentido enquanto

    instrumentos de suporte tomada de deciso.

    No futuro, as histrias de sucesso sero as de empresas que se salientaram na

    deteo de conhecimentos especializados sobre as novas tecnologias e sobre as

    necessidades emergentes dos mercados, espalhados algures pelo globo (Doz,

    Santos e Williamson, 2006, p.2). Estas empresas iro mobilizar conhecimentos

    dispersos pelo mundo para criarem novos produtos, servios, processos e modelos

    de negcio. Esta nova oportunidade est a ser alimentada pela emergncia de uma

    economia global baseada no conhecimento, e num ambiente caracterizado pela

    criao e manuteno da vantagem competitiva aliceradas e baseadas no

    conhecimento. No entanto, essencial destacar que o conhecimento de que uma

    empresa global vai necessitar para poder prosperar poder no estar disponvel num

    nico lugar, mas sim disperso pelo mundo. Esta nova realidade no problemtica

    se tivermos em considerao que o custo da distncia tende cada vez mais a

    reduzir-se para as mercadorias mveis capital, bens e informao.

    Tendo como fundamento o contributo das teorias de gesto estratgica, com

    especial relevo, para as que elegem a informao como pedra angular, plausvel

  • 18

    afirmar a necessidade das organizaes aprenderem e reconhecerem a importncia

    de saber responder s questes apresentadas no Quadro 3 seguinte.

    Quadro 3 - Questes que as organizaes devem saber responder

    Fonte: Elaborao Prpria

    Para evitar que as atividades de Inteligncia sejam confundidas com aes menos

    lcitas, a SCIP - Strategic of Competitive Intelligence Professionals2 estabeleceu um

    cdigo de tica, que define as regras e os comportamentos que devem ser

    adotados. De acordo com a traduo de Paulo Cardoso do Amaral no seu livro Top

    Secret, todos os profissionais devem desempenhar as suas funes com dedicao,

    proceder transmisso clara e em tempo real das informaes recolhidas e

    analisadas, e assegurar a sua proteo e confidencialidade (cf. Anexo 6).

    A imagem de uma organizao resulta cada vez mais da tica dos seus

    colaboradores, que devem conduzir a sua atuao por valores e princpios de

    conduta que consubstanciam um padro de comportamento profissional. O Cdigo

    de tica uma ferramenta de orientao e deve ser elaborado com o objetivo de

    direcionar a conduta pessoal e profissional de todos os seus colaboradores,

    2 SCIP foi fundada em 1986 nos Estados Unidos da Amrica

    Questes que as organizaes devem saber responderem

    O que necessrio saber?

    Porque precisamos de saber isso?

    O que sabemos?

    Quando precisamos de saber

    O que faremos com a informao?

    O que se prev vir a descobrir?

    Quem precisa de saber isto?

    Quanto custar obter essa informao?

    Quanto custar no obt-la?

    Como iremos recolher e analisar as informaes?

    Como divulgar as informaes s pessoas certas?

    Como agir para evitar que as informaes se percam?

  • 19

    independentemente do cargo ou funo que desempenhem, regular o seu

    relacionamento entre colegas de trabalho, acionistas, clientes, fornecedores e

    representantes das comunidades com as quais as organizaes interagem.

    Capitulo 2 Globalizao e Internacionalizao

    Existe uma grande variedade de definies ou tentativas de definio do que a

    estratgia, mas mais importante do que conhecer o significado compreender o que

    ela, realmente envolve (Teles Fernandes, 2008, p.101).

    2.1 Conceitos

    No podendo a globalizao, nem a Internacionalizao3 serem considerados

    fenmenos dos nossos dias, tm contudo, vindo a assumir uma importncia

    crescente nos ltimos anos, contribudo para alterar a lgica tradicional dos

    mercados.

    Segundo Rodrigues e Devezas (2007, p.22) o discurso sobre a globalizao ganhou

    mpeto e forma sustentada em meados dos anos de 1960 e durante os anos de

    1970, quando se vulgarizou a expresso Aldeia Global4 para designar o sistema

    global de comunicaes ento em plena expanso.

    A conceo de globalizao fundamenta-se na ideia de que as diferenas entre

    mercados se esto a esbater, tendendo a desaparecer e a uniformizar (Friedman,

    2007). Daqui resulta que as empresas para aproveitarem esta oportunidade devem

    globalizar as suas estratgias de atuao. Friedman (2007) no seu livro o Mundo

    Plano explica recorrendo a afirmaes proferidas por David Rothkopk5 que a

    globalizao a palavra que encontrmos para descrever a mudana da relao

    entre governos e organizaes, porque o que est a acontecer um fenmeno

    muito mais vasto e muito mais profundo. No se trata apenas da forma como os

    governos, as empresas e as pessoas comunicam, nem apenas da forma como as

    3 Expanso de uma empresa para outros pases

    4 Expresso muito usada pelo autor e filsofo canadiano Herbert Marshall Mcluhan.

    5 Ex-responsvel pelo Departamento norte-americano do Comrcio, durante a administrao Clinton e

    atualmente a exercer a atividade de consultor privado em estratgia.

  • 20

    organizaes interagem, mas sim, do aparecimento de modelos sociais, polticos e

    empresariais completamente novos (Friedman, 2007, p.53).

    Garrette et al. (2000, p.147) salientam que a importncia dos laos transnacionais

    pesa no processo de globalizao atravs da racionalizao da produo a nvel

    mundial em funo das economias de escala e da dimenso crtica a atingir; da

    lgica de localizao das unidades de produo em funo j no de critrios locais

    ou nacionais, mas de critrios continentais, se no mundiais e da coordenao que a

    sede cria para estabelecer ligaes fortes entre as diferentes etapas da produo ou

    da cadeia de valor.

    O processo de globalizao dos mercados obriga os agentes econmicos a

    adaptarem-se ao novo equilbrio estabelecido, entre concorrncia e cooperao, e

    as estratgias dependem em larga medida da capacidade das empresas acederem

    informao pertinente para melhor antecipar o futuro dos mercados e as

    estratgias dos concorrentes.

    A globalizao corresponde ao processo de desenvolvimento das inter-

    relaes escala mundial, em que cada pas est ligado aos outros atravs

    de uma complexa teia de laos e de acontecimentos, de tal modo que

    decises e aes tendo lugar numa parte do Mundo podem acarretar

    consequncias significativas para indivduos ou organizaes localizados em

    reas distantes (Simes,1997, p.6).

    Em muitas abordagens a globalizao e a Internacionalizao, cruzam-se, so

    processos dinmicos e presentes na atualidade, mas a Internacionalizao cada

    vez mais uma atitude e um estado de esprito em cada empresrio, gestor ou

    governante. A Internacionalizao passa pelas autoridades e pela forma como

    conseguem dinamizar a diplomacia econmica e colocar instrumentos de apoio ao

    servio das empresas. No entanto, sobretudo, atravs das decises empresariais

    e da assuno de riscos que os casos de Internacionalizao podem multiplicar-se e

    ganhar dimenso (Deloitte, 2012).

    Efetivamente foram muitos os autores que ao longo dos anos apresentaram

    definies sobre a Internacionalizao, por vezes reescrevendo e introduzindo

  • 21

    apenas pormenores s definies j existentes. Em 1973, Wind, Douglas e

    Perlmutter referem a Internacionalizao como um processo e reforam a

    importncia da atitude dos empresrios (Porter, 1986). Em 1975 Johanson e

    Wiedersheim-Paul analisam o processo de Internacionalizao de quatro empresas

    Suecas - Sandvik, Atlas Copco, Facit and Volvo, e elaboram um modelo explicativo,

    no qual defendem a Internacionalizao como um percurso construdo por etapas.

    Para estes autores a Internacionalizao consiste num processo gradual, em que a

    empresa aumenta sequencialmente o seu envolvimento internacional, iniciando o

    processo com a exportao irregular e direta, passando para a exportao atravs

    de agentes (exportao indireta), etapa a qual se segue o estabelecimento de

    subsidirias de vendas locais e como corolrio do percurso o estabelecimento de

    subsidirias de produo local (Johanson e Wiedersheim-Paul, 1975). Anos mais

    tarde, Calof e Beamish (1995) defendem que o padro de Internacionalizao

    diferente consoante se trata de um investimento do tipo de etapa nica ou de um

    investimento incremental de mltiplos passos, e que a tomada de deciso

    influenciada pela natureza dos estmulos, pelo nvel de recursos, pela experincia e

    competncias internacionais e do tipo de cultura empresarial.

    A Internacionalizao de uma empresa consiste assim, na extenso das suas

    estratgias de produtos, mercados e de integrao vertical para outros pases, do

    qual resulta uma replicao total ou parcial da sua cadeia operacional (Freire, 1998).

    Ainda em termos de definio, a Internacionalizao pode ser entendida como a

    atuao em diferentes naes conduzindo movimentos de fatores de produo como

    transferncia de capital, desenvolvendo projetos em cooperao com parceiros

    estrangeiros ou simplesmente comercializando os seus produtos e/ou prestando

    servios noutros pases (AIMINHO, 2009, p.3).

    Para Simes (1997) as principais motivaes para uma empresa decidir iniciar o

    percurso da Internacionalizao so:

    1) Endgenas: Necessidade de crescimento da empresa, aproveitamento da

    capacidade produtiva disponvel, obteno de economias de escala,

    explorao de competncias, tecnologias e diversificao de riscos.

    2) Caractersticas dos mercados: Limitaes do mercado domstico e perceo

    de dinamismo dos mercados externos.

  • 22

    3) Relacionais: Resposta a concorrentes, acompanhamento de clientes e

    colaborao e estabelecimento de parcerias com empresas estrangeiras.

    4) Acesso a recursos no exterior: Custos de produo mais baixos no exterior e

    acesso a conhecimentos tecnolgicos.

    5) Incentivos governamentais ou institucionais: Apoios dos governos, seja do

    pas de origem do pas de acolhimento, ou de um organismo internacional.

    Assim, uma empresa quando opta por internacionalizar as suas atividades

    normalmente como resposta a um incentivo/oportunidade identificada.

    2.2 A Internacionalizao enquanto processo

    A AICEP (2012) ao definir a Internacionalizao como um processo gradual de

    evoluo do envolvimento das empresas em operaes de negcio internacional,

    tem subjacente, uma dinmica de opes estratgicas aliceradas em tomadas de

    deciso. A tomada de deciso carece de informao til e pertinente, que deve ser

    alvo de identificao de necessidades, recolha, anlise, tratamento e difuso, ou

    seja, deve estar em sintonia com a implementao de ferramentas de gesto

    estratgica adequadas complexidade do que envolve um processo desta natureza.

    Para este organismo a presena em mercados globalizados e altamente

    competitivos implica o conhecimento atempado dos movimentos dos agentes

    econmicos e das tendncias que se desenham em cada momento, pelo que a

    Inteligncia Econmica, () ajuda a criar condies para identificar concorrentes,

    sistemas ou tecnologias que possam servir de suporte s decises estratgicas e

    melhoria dos processos de Internacionalizao das empresas (AICEP, 2012, p.5).

    As empresas vo reforando as suas posies no estrangeiro medida que vo

    acumulando experincia internacional e aperfeioando o seu conhecimento sobre as

    condies de atuao no estrangeiro. De facto, a literatura sobre o negcio

    internacional sugere que estamos perante um processo, para o qual esta entidade

    define seis fases: consciencializao, interesse (obteno de informao sobre

    potenciais mercados e estabelecimento de contactos), ensaio (exportao

    experimental para um distribuidor num determinado pas), exportao regular,

    estabelecimento de filial comercial e produo no estrangeiro. Outros autores como

    Lin (2012) reforam esta teoria e consideram que a Internacionalizao realizada

  • 23

    por pequenas etapas, as quais se principiam com atividades irregulares de

    exportao; passando depois pela exportao atravs de agentes independentes ou

    estabelecimento de uma filial de vendas no exterior; e s posteriormente

    racionalmente se inicia a instalao da produo no estrangeiro.

    A crescente competio imposta pela globalizao da economia e pelas presses

    dos mercados internacionais representam uma ameaa sobrevivncia das

    empresas, realidade agravada pela crise financeira, vivida nos ltimos anos, o que

    obriga a repensar estratgias e a procurar novas formas de estar no mercado global

    (Fernndez et al., 2014).

    Antigamente, o diferencial competitivo das empresas estava centrado na localizao

    ou no estabelecimento de funes bem desempenhadas, criando um padro de

    excelncia operacional (Porter, 1986). Hoje esta realidade bem diferente,

    valorizam-se as diferenas culturais e geogrficas (Doz, Santos e Williamson, 2006).

    Segundo esta nova tica, a produo passa a ser organizada de forma integrada

    entre diferentes partes do globo, permitindo aproveitar o que cada pas oferece de

    melhor na concretizao do produto (GEE, 2014). A cadeia de produo centralizada

    num nico pas passou a perder a sua relevncia e as cadeias de valor globais,

    passaram a envolver de uma forma crescente redes complexas de abastecimento e

    distribuio, intensificadas pela especializao e colaborao ao longo das cadeias

    de valor (Doz, Santos e Williamson, 2006).

    Para Fernndez et al., (2014), a Internacionalizao de uma empresa tem como

    como fatores de motivao o aumento ou manuteno do volume de negcios; a

    reduo da dependncia dos ciclos econmicos do pas onde est instalada a

    capacidade de produo/servios e a necessidade de antecipar e adaptar-se com

    sucesso s constantes mudanas dos mercados globais.

    Uma forte presena internacional aumenta a possibilidade de acompanhar o

    desenvolvimento da concorrncia e permite uma monitorizao rpida da reao dos

    consumidores globais, entrada de novos produtos no mercado. O objetivo

    identificar com sucesso, as oportunidades comercialmente atraentes. Kim e

    Mauborgne (2016) salientam que esta identificao fundamental, pois os gestores

    no se podem dar ao luxo de atuarem como jogadores de um casino, os quais

    apostam na estratgia apenas com base na intuio ou em palpites. Estes autores

  • 24

    defendem a ideia de que a inovao est relacionada com a criao de oceanos

    azuis e a fuga de ambientes em consonncia com as caractersticas delineadas

    para os oceanos vermelhos. No seu livro A estratgia do Oceano Azul os autores

    utilizam como metforas os Oceanos, representando o Azul como a inovao de

    valor, os espaos do mercado ainda no conhecidos, e portanto, onde no h

    competio, e o Vermelho, como uma situao de crescimento e lucro limitado,

    devido agressividade e hostilidade da concorrncia. A estratgia Oceano Azul

    estuda a melhor forma das organizaes encontrarem um mercado ainda no

    explorado que transforme a concorrncia num fator irrelevante. Esta estratgia

    define como principais metas: o aumento da procura e o distanciamento da

    concorrncia.

    Perante um ambiente de negcios em profunda mutao, face a um mundo cada

    vez mais globalizado e conflituoso, urge repensar estratgias comerciais e ponderar

    o efeito das transformaes geoestratgicas e neste sentido interessante, pelo

    menos, como reflexo estratgica, ter em considerao o alerta introduzido por Kim

    e Mauborgne (2016) atravs da metfora dos oceanos vermelhos ficam cada vez

    mais sangrentos, e os gestores para terem sucesso, devero preocupar-se em

    encontrar os oceanos azuis, como sintetiza o Quadro 4.

    Quadro 4 - Estratgia do Oceano Vermelho versus Estratgia do Oceano Azul

    Estratgia do Oceano Vermelho Estratgia do Oceano Azul

    Competir nos espaos de mercado existentes. Criar espaos de mercado inexplorados.

    Vencer os concorrentes. Tornar a concorrncia irrelevante.

    Aproveitar a procura existente. Criar e capturar a nova procura.

    Exercer o Trade-off valor-custo. Romper o Trade-off valor-custo.

    Alinhar todo o sistema de atividade da empresa

    com a escolha estratgica de diferenciao ou

    baixo custo.

    Alinhar todo o sistema de atividade da empresa em

    busca da diferenciao e baixo custo.

    Fonte: Adaptado de Kim e Mauborgne (2016, p.37)

    Os desafios encontrados na Internacionalizao so extraordinariamente exigentes,

    razo pela qual imprescindvel aprender a pensar globalmente. A concorrncia

    internacional muito forte e a competitividade da oferta conquista-se pela

    diferenciao. O conceito de novo e melhorado passa pela adoo de uma cultura

    proactiva, inovadora e geradora de eficincia de custos. Este grande desafio pode

  • 25

    ser mais facilmente supervel com projetos de cooperao internacional, em que os

    promotores se agregam em complementaridade de competncias e de criao de

    sinergias (AICEP, 2013).

    Num processo de Internacionalizao a escolha da forma de entrada em novos

    mercados muito importante, e envolve vrios critrios. Existe uma vasta literatura

    sobre as formas de acesso a novos mercados. No contexto da exportao

    distinguem-se duas formas de acesso aos mercados: exportao direta e exportao

    indireta. Na exportao direta o investimento necessrio e o risco envolvidos so

    maiores, mas o potencial de retorno tambm o e a empresa exerce um controlo

    mximo sobre a poltica comercial na medida em que prescinde de intermedirios

    para a venda ao exterior dos seus produtos, tratando diretamente com empresas de

    pases terceiros (via de regra, agentes e/ou distribuidores), ou seja, desenvolve a

    sua prpria fora de vendas. A exportao indireta a forma de entrada no mercado

    internacional mais popular e cautelosa para as empresas que esto a iniciar a

    atividade exportadora, dado que envolve menor investimento e menores riscos.

    No entanto, importante referir que ao entender o processo de Internacionalizao

    como uma sequncia de etapas, nas quais a passagem de uma para outra

    acompanhada de uma aprendizagem sobre os mercados, alguns autores

    caraterizam este percurso pelo desenvolvimento das seguintes fases: exportao

    ocasional; exportao por intermdio de um agente; exportao por intermdio de

    uma filial comercial e implantao produtiva que se substitui, total ou parcialmente

    ao fluxo da exportao (AIMINHO, 2009).

    A escolha da forma de entrada no processo de Internacionalizao condicionada

    por dois grupos de fatores - internos e externos. Os externos, envolvem as

    caractersticas do pas, as barreiras ao comrcio e as regulamentaes

    governamentais, enquanto os internos, referem-se estratgia de seleo da forma

    de entrada definida pela empresa com base no capital, nas competncias de gesto

    e produo que so inerentes empresa. Desta forma, plausvel afirmar que o

    processo de Internacionalizao depende sobretudo, do comportamento da empresa

    e do que lhe est subjacente, do contexto em que a organizao se insere em

    sintonia com o ambiente de destino. Para a AICEP (2013) a variveis como tempo e

    conhecimento do mercado, acresce o vetor controlo, dado que, tal processo

  • 26

    frequentemente influenciado pelo desejo de reforar o controlo sobre as operaes

    no estrangeiro. A Figura 4 apresenta algumas das trajetrias possveis segundo uma

    combinao das seguintes variveis: Envolvimento dos recursos; Tempo e

    Conhecimento do Mercado. O comportamento das variveis evidencia uma relao

    linear positiva, dado que crescem sempre no mesmo sentido. Para passar de uma

    exportao ocasional, para uma filial a 100%, necessrio afetar maior

    envolvimento de recursos, deter maior conhecimento do mercado e isto carece de

    maior tempo. O processo de Internacionalizao encontra-se amplamente estudado,

    e apesar de algumas divergncias consensual que as exportaes ocasionais

    permitem empresa um primeiro contacto com o mercado sem compromisso de

    recursos mas com a desvantagem da informao recebida ser reduzida. Os outros

    modos vo permitindo maior conhecimento do mercado, no entanto, tambm

    implicam um maior comprometimento de recursos. A Filial a 100% exige o nvel

    maior afetao de recursos, de tempo e de conhecimento dos mercados.

    importante destacar que a acumulao de conhecimento sobre um mercado reduz a

    incerteza sobre esse mercado e, como tal, a necessidade da Internacionalizao ser

    gradual, como defende o modelo de Uppsala. Recentemente diversos estudos

    revelam que a competio escala global mudou e que cada vez mais existem

    empresas que no seguem uma perspetiva de Internacionalizao gradual e

    incremental, estando inerente criao de uma viso abrangente dos mercados

    mundiais.

    Figura 4 Trajetrias possveis num processo de internacionalizao

    Fonte: AICEP (2013, p.25)

  • 27

    Num processo de Internacionalizao as empresas tendem a aumentar

    gradualmente o seu empenho nos mercados externos medida que cresce o seu

    conhecimento sobre esses mercados, sobretudo obtido atravs da experincia.

    Neste contexto Day e Schoemaker (2006) alertam para que uma empresa

    demasiado concentrada no seu prprio mercado tem baixa capacidade de viso

    perifrica e no se apercebe das mudanas e das necessidades criadas em

    mercados longnquos, mas por vezes com enorme potencial. Esta limitao da

    capacidade de observao da envolvente externa, em termos da abordagem de

    Inteligncia Econmica origina a escassez de dados fiveis sobre o mercado global

    o que impede as organizaes de delinearem estratgias de negcio mais

    adequadas. No saber para onde olhar, como olhar e no conhecer os diferentes

    sinais da envolvente global, reduz horizontes com consequncias diretas nas

    polticas de criatividade e inovao. Uma empresa para alcanar uma posio forte

    ao nvel global, precisa de utilizar a informao proveniente dos vrios mercados,

    como fator estratgico de antecipao, ou seja, necessita de desenvolver

    metodologias de vigia6 que permitam saber antecipar e agir sem demoras,

    minimizando o risco de reagir tardiamente (CETISME, 2003). Em termos

    empresariais a surpresa acontece porque no se deu a devida ateno aos sinais de

    mudana evidenciados pelo ambiente, externo e interno. Desenvolver um sistema de

    vigia a nvel internacional, que permita identificar oportunidades, e eliminar os

    espaos geogrficos que no tenham potencial de expanso ou nos quais a

    concorrncia j domine o mercado e uma nova entrada seja complexa, implica

    segundo AIMINHO (2009, p.4) que a identificao de oportunidades seja

    fundamentada na anlise da atratividade, na agressividade concorrencial e na

    identificao dos fatores chave de sucesso, atravs da criao de cenrios de

    evoluo possveis ou seja carece de uma reflexo prospetiva sobre as estratgias

    vencedoras em cada um dos cenrios.

    Para a Thames Consultores (2016) a correta gesto das operaes no exterior deve

    basear-se em trs premissas fundamentais, nomeadamente na definio duma

    estratgia identificada com a misso e os objetivos do negcio, na construo de um

    6 As principais temticas de vigilncia so: Vigia Tecnolgica, Tcnica e Patentes, Vigia Cientifica, Vigia

    Comercial, Vigia Concorrencial, Vigia Jurdica, Vigia Geopoltica e Vigia de Produtos e Servios.

  • 28

    modelo de organizao que permita a diferenciao e autonomia das vrias filiais,

    com responsabilidades claras dos representantes locais, e por fim, mas no menos

    importante, na definio de um processo organizativo que promova a coordenao

    das atividades entre mercados conexos.

    A escolha da forma de entrada em novos mercados depende da vontade dos

    decisores empresariais e da sua linha de orientao sobre o crescimento da

    empresa. Acresce ainda salientar, que os modos de Internacionalizao

    correspondem a diferentes fases da evoluo e do crescimento das empresas, mas

    tambm dependem de variveis de atratividade de investimento, e de obstculos,

    tais como, a falta de acordos para evitar a dupla tributao, a possibilidade de

    repatriamento de rendimentos, juros e dividendos. Indubitavelmente, os processos

    de Internacionalizao empresarial esto dependentes de muitas variveis, umas

    mais controlveis do que outras, tendo em considerao a tipologia de operaes, o

    destino e o momento (Ferreira, Reis e Serra, 2011).

    A seleo dos espaos geogrficos de Internacionalizao depende de fatores

    endgenos empresa, como o tipo de atividade e, sobretudo, as motivaes da

    Internacionalizao, e de fatores exgenos, de natureza macro, designadamente a

    perceo de proximidade associada localizao geogrfica, lngua, histria ou

    integrao econmica regional. Para Doz, Santos e Willamson (2006, p.1) o

    desafio atual est em ser capaz de inovar aprendendo com o mundo.

    No Quadro 5 apresentam-se algumas vantagens e desvantagens em conformidade

    com a modalidade de entrada em novos mercados, pelo que cumpre salientar

    apresentar alguns conceitos.

    Assim, por exportao entende-se a venda regular ou ocasional de produtos

    nacionais em mercados externos sem que sejam necessrios investimentos

    produtivos locais, caracterizando-se, desta forma como a via de

    Internacionalizao mais simples e mais utilizada pelas empresas

    independentemente da sua dimenso, conceitos alis j conceptualizados

    anteriormente.

  • 29

    Quadro 5 - Vantagens e desvantagens dos diferentes modos de entrada

    Vantagens Desvantagens

    Exportao Direta Barato, j que prescinde de grandes

    investimentos, permite alcanar

    eventuais economias de escala e

    contacto com clientes.

    Falta de controlo sobre os canais de

    distribuio local. Exposio aos

    riscos cambiais e a eventuais

    medidas protecionistas.

    Exportao Indireta

    (Agentes e Distribuidores)

    Ainda mais barato que a modalidade

    anterior, dado que no precisa

    assumir as formalidades do processo

    de exportao. Baixo risco.

    Alm das desvantagens acima

    mencionadas: Falta de controlo sobre

    as operaes. Agentes podem sofrer

    de falta de lealdade quando

    comercializam produtos em regime de

    no-exclusividade.

    Licenciamento Investimento/custo limitado. Permite

    acesso rpido a mercados protegidos

    contra importaes, atravs de tarifas,

    ou de canais de distribuio cativos e

    onde os afluxos de IDE so

    dificultados.

    Limitaes tcnicas e de marketing

    por parte do licenciamento.

    Subaproveitamentos dos lucros

    potenciais. Perca de controlo sobre a

    tecnologia e sobre o mercado para

    potenciais concorrentes. Custos de

    contrato e acompanhamento. Riscos

    de dissipao de direitos, tais como a

    imagem da empresa.

    Joint-venture Riscos e investimentos partilhados.

    Menor concorrncia, sinergias e

    aprendizagem entre parceiros.

    Superao de ineficincias nos

    mercados de inputs intermdios.

    Economias de escala. Facilidade de

    adaptao s caractersticas

    ambientais dos parceiros.

    Diluio/diminuio do controlo.

    Partilha de lucros ou prejuzos.

    Dificuldade de comunicao,

    coordenao e organizao.

    Divergncias quanto aos objetivos e

    empenhamento de recursos dos

    parceiros. Reversibilidade dos

    acordos e comportamento de

    oportunidades.

    IDE (Investimento Direto

    Estrangeiro)

    Efeito de presena direta no mercado

    alvo. Escala da operao pode ser

    adaptada aos recursos disponveis,

    cultura da empresa-me e ao

    mercado alvo. Controlo facilitado.

    Acesso a subsdios e incentivos

    fiscais.

    Compromisso com investimentos

    iniciais, potencialmente elevados.

    Risco alto de no-aceitao por parte

    dos clientes. Penetrao lenta no

    mercado.

    Fuses e Aquisies Potencialmente mais barato e menos

    arriscado no longo prazo que o IDE

    (Integrated Development

    Environment) de raiz. Entrada mais

    rpida e fcil nos mercados. Ganho

    de poder de mercado e eliminao da

    concorrncia. Substituto da inovao.

    Preo e o tipo dos ativos podem ser

    pouco adequados. Sinergias por

    vezes sobreavaliadas. Complexidade

    das negociaes. Herana dos

    problemas da empresa adquirida e

    dificuldades com a integrao de

    duas culturas organizacionais.

    Necessidades de reestruturao.

    Formas Contratuais

    Cooperativas:

    Aliana/Consrcio/Rede

    Flexibilidade, rapidez de entrada,

    partilha de riscos, de conhecimento e

    de outros recursos, empenho mtuo,

    sinergias, eliminao de potencial

    concorrente.

    Limitaes expanso para certas

    linhas de negcio. Indefinio/Partilha

    de lucros. Perca de controlo. Custos

    de transferncia, de contrato, de

    coordenao e acompanhamento.

    Fonte: Adaptado de AIMINHO (2009, p.6)

    O licenciamento consiste no estabelecimento de um contrato entre duas empresas,

    em que uma delas (a licenciadora) concede outra (a licenciada) direta de utilizar

    determinados conhecimentos (know-how) e/ou de explorar direitos patenteados de

  • 30

    propriedade industrial como por exemplo marcas, patentes, modelos, desenhos e

    outros processos de produo, mediante uma retribuio previamente acordada,

    expressa normalmente atravs de royalties.

    Outra forma de investir em mercados externos atravs das Joint-Ventures. Numa

    Joint-Venture o capital, o lucro e o risco de negcio repartido entre duas ou mais

    empresas autnomas. Este tipo de investimento caracterizado pela criao de

    uma entidade nova e juridicamente diferente das criadoras, e acrescenta que

    podem ter como objetivo o desenvolvimento de atividades comerciais ou produtivas,

    isto , reproduz um acordo entre duas ou mais empresas pertencente a dois pases

    diferentes, com a finalidade de levar a cabo num desses pases, um negcio, onde

    sero partilhados os riscos, mas tambm os benefcios esperados para as duas

    partes envolvidas.

    O investimento direto estrangeiro (IDE) consiste na posse e no controlo de ativos no

    exterior. Distingue-se do investimento de carteira (portfolio investment) cujo objetivo

    se resume a obter um ganho dessas participaes. O investimento direto

    estrangeiro (IDE) pode ser de ndole comercial ou de ndole industrial, podendo

    assumir diversas formas. Os motivos para realizar este tipo de investimentos podem

    ser, entre outros, o aumento dos lucros e das vendas, a rpida entrada em

    mercados com forte crescimento, e a reduo de custos, nomeadamente com

    salrios mais baixos, melhores fornecimento de matrias-primas, reduo de custos

    de transporte e ganhos de produtividade.

    Outra forma de crescer e/ou internacionalizar atravs de operaes de Fuso e

    Aquisio, as quais consistem em operaes econmicas que agrupam duas ou

    mais empresas originando uma nova. As aquisies so a compra de uma empresa

    por outra empresa. Em ambos os casos ocorre uma integrao de operaes,

    organizao, estratgia e controlo do capital. As fuses e aquisies podem ser

    operaes associadas maioritariamente s grandes empresas, mas nem por isso

    so um tema desconhecido para as empresas de menores dimenses.

    A crescente liberalizao do comrcio, dos fluxos financeiros e da mobilidade

    humana, o aumento da presso da competitividade regional, o aparecimento de

    uma gerao digital e as alteraes climticas, alteraram comportamentos e

  • 31

    mudaram formas de trabalhar. Perante esta nova realidade, as empresas mais

    inovadoras esto a construir novos tipos de vantagens competitivas, estabelecendo

    alianas ao nvel dos negcios internacionais, atravs de diferentes formas de

    cooperao. Estes novos arranjos tornaram-se o meio mais importante para

    empresas e naes ganharem acesso a novos mercados e tecnologias.

    Para Finuras (1999, p.52) a estratgia empresarial tem sido, tradicionalmente,

    desenvolvida como uma arte de confronto em atmosfera concorrencial, s podendo

    produzir ganhadores e perdedores. Este autor, entre as vrias formas de

    cooperao possveis de equacionar num processo de Internacionalizao, destaca

    que a Internacionalizao de uma empresa pode ser uma estratgia complexa

    considerando os ndices de incerteza e risco, como a aceitao de produtos ou

    servios, o grau de investimento e a gesto de equipas multiculturais.

    Objetivamente, e enquanto vigorar um espao comunitrio e os acordos

    internacionais de comrcio, o que est em causa no se resume movimentao

    de um mercado para outro, mas sim, na necessidade de primeiro nascer, saber

    sobreviver e depois triunfar num mercado integrado, o que implica ter informao

    que permita fazer escolhas sobre a melhor forma de o fazer. A escolha da forma de

    acesso passa tambm pela reflexo sobre as opes no mbito do marketing. O

    modo de entrada est relacionado com a possibilidade ou no de controlo sobre

    preos, polticas de produto, distribuio e comunicao.

    No Quadro 6 apresenta-se a relao entre algumas formas de acesso e as polticas

    de marketing, o qual evidencia que quanto maior o controlo maior a autonomia

    de deciso. Numa situao de exportao ou de licenciamento o controlo sobre as

    diferentes polticas apresentadas no Quadro 6 fraco ou nulo, porque a empresa

    limita-se a enviar produtos que so comercializados pelas regras comerciais do

    importador. O tipo de controlo permitido por cada forma de acesso aos mercados

    condiciona o desenvolvimento da poltica de marketing. Se a empresa entender que

    deve desenvolver os seus prprios canais de distribuio para maximizar o seu

    mercado potencial, pode chegar concluso que oportuno juntar-se a outros

    fabricantes com linhas de produtos complementares, atravs de uma rede de

    cooperao que permita atingir mercados mais vastos e mais dispersos, partilhando

    custos.

  • 32

    Quadro 6 - Formas de acesso aos mercados e polticas de marketing

    Domnio da

    Estratgia

    Comercial

    Poltica de

    Produto

    Poltica de

    Preo

    Canais de

    Distribuio

    Poltica de

    Comunicao

    Exportao

    Indireta Fraca ou nula Standardizao

    No

    controlvel

    No

    controlveis No controlvel

    Exportao via

    Distribuidor

    Exclusivo

    Fraca/Funo

    do contrato Standardizao

    Controlo

    fraco/razovel

    Controlo

    fraco/razovel

    Controlo

    fraco/razovel

    Licenciamento Nulo Adaptao Controlo nulo Controlo nulo Controlo nulo

    Franchising Bastante boa

    Adaptao/

    Standardizao Controlo fraco Controlo bom Controlo bom

    Contrato Gesto Boa Adaptao Fraco Controlo Fraco Controlo Fraco Controlo

    Filial Comercial Excelente

    Standardizao/

    Adaptao

    Bem

    controlada Bom controlo Bem controlada

    Contratao

    Produo Mdio

    Fraco controlo

    de qualidade Mal controlada - -

    Jointventure

    Parte

    adaptada

    Bom controlo,

    mau controlo da

    adaptao

    Controlo

    mdio

    Controlo

    mdio Controlo mdio

    Filial produo ou

    integrada a 100% Bom

    Em parte

    adaptada

    Bem

    controlado

    Bem

    controlados Bem controlada

    Fonte: Adaptado de AIMINHO, 2009, p.30

    2.3 Internacionalizao da Economia Portuguesa

    No momento em que a Internacionalizao est na ordem do dia, urge refletir e

    perspetivar a dimenso do valor de Portugal no mundo () (Braga de Macedo,

    2012, p.40). O desafio essencial da economia portuguesa conseguir um rpido

    aumento das exportaes de bens e servios transacionveis de modo a reduzir o

    desequilbrio da balana de transaes correntes (Lopes, 2010). O caminho da

    Internacionalizao, apesar de poder representar um desejo para a maioria das

    empresas, tambm uma das formas de alavancar seu crescimento e superao as

    limitaes do mercado nacional como evidenciam os dados sobre a disperso

    geogrfica das empresas Portuguesas pelo Mundo. De acordo com Ranking

    Internacional das Empresas Portuguesas (RIEP) 2015 foram identificadas 385

    empresas portuguesas a operar em 81 pases (INDEG, 2015, p.22). Segundo o

    relatrio citado, com cinco ou mais empresas foram identificados 25 pases (cf.

    Anexo 5) os quais totalizam 75% do universo identificado (81 pases) de acordo com

    a distribuio apresentada no Grfico 1, os pases com maior presena de empresas

    Portuguesas so: Angola com 35 empresas, Espanha com 29 empresa, Brasil com

    27 empresas e Moambique com 25 empresas o que representa uma presena de

    cerca de 30% do universo identificado.

  • 33

    69%

    20%

    4% 2%

    5%

    Menos de 5 empresas

    De 5 a 9 empresas

    De 10 a 14 empresas

    De 15 a 19 empresas

    Mais de 20 empresas

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    An

    gola

    Esp

    anh

    a

    Bra

    sil

    Mo

    am

    biq

    ue

    Re

    ino

    Un

    ido

    EUA

    Fran

    a

    Ale

    man

    ha

    Cab

    o V

    erd

    e

    M

    xico