a influência da publicidade de beleza na vida das mulheres...
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A influência da Publicidade de Beleza na vida das mulheres desde a infância até a
idade adulta1
Julia COUTO2
Tereza Eliza DANTAS3
Gabriela ALVES4
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES
Resumo
Este artigo tem como objetivo, discorrer sobre como a publicidade de beleza profere seu
discurso reforçando padrões ditos femininos. Mostrar, com base em autores que discutam
esse tema, que desde a infância, as mulheres são bombardeadas com inúmeros estereótipos
estéticos que as acompanham até a idade adulta, causando inseguranças derivadas da
consolidação do mito da beleza. Para exemplificar e facilitar o entendimento do tema, foi
feito um estudo de análise com duas peças publicitárias, direcionadas aos dois públicos
referentes à discussão, que veiculam padrões estéticos vigentes na sociedade
contemporânea.
Palavras-chave: padrão de beleza; infância; mulher; publicidade.
Introdução
O corpo feminino se transformou, ao longo do tempo, em um espetáculo oferecido
pela mídia como forma de publicidade. A beleza feminina passou a ser vista como
mercadoria, fazendo com que as produções midiáticas vendessem e faturassem através da
exploração do corpo.
Foi imposto, a partir da veiculação midiática, um padrão estético de beleza, que
exige das mulheres uma preocupação para se aproximar do que é visto na televisão. As
campanhas publicitárias mostram que a mulher pode ser bela, inteligente, bem-sucedida
profissional e financeiramente, se ela usar as roupas, maquiagens, produtos de cabelo e de
corpo, que estão sendo veiculados. São recursos que, se utilizados, prometem transformar a
“mulher comum” em “mulher bonita”.
1 Trabalho apresentado na Divisão Temática Publicidade e Propaganda, da Intercom Júnior – XII Jornada de Iniciação
Científica em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação
2 Estudante de Graduação 8º semestre do Curso de Publicidade e Propaganda da UFES, email: [email protected]
3 Estudante de Graduação 7º semestre do Curso de Publicidade e Propaganda da UFES, email: [email protected] 4 Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Comunicação Social da UFES, email: [email protected]
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Os anúncios publicitários passaram a fazer parte da memória afetiva do consumidor,
mostrando um discurso de valorização das mulheres que “cuidam” do corpo e o mantêm
belo. Além da mídia apresentar uma mensagem apelativa, a beleza feminina aparece como
algo indispensável para uma vida feliz.
“Por meio de um diálogo incessante entre o que veem e o que são, os
indivíduos insatisfeitos com sua aparência (particularmente as mulheres)
são cordialmente convidados a considerar seu corpo defeituoso. Mesmo
gozando de perfeita saúde, seu corpo não é perfeito e “deve ser corrigido”
por numerosos rituais de autotransformação, sempre seguindo os
conselhos das imagens-normas veiculadas pela mídia. (...) Elas constituem
o estereótipo ideal da aparência física em uma cultura de massa ao
banalizar a noção de metamorfose, de uma transformação corporal normal,
de uma simples manutenção do corpo: “Mude seu corpo, mude sua vida”
ou “Você pode ter um corpo perfeito” (MALYSSE, 2002, p.92)
Além da influência que a mídia tem sobre às mulheres, ela também interfere na
formação e na vida social da criança. O público, principalmente, pré-adolescente, não é
imune à cultura da valorização do belo e tem entrado cada vez mais cedo no mercado de
produtos de beleza. As empresas de setores correspondentes, como a O Boticário, enxergam
essa fragilidade, como uma oportunidade para conquistar o mercado.
Essa aproximação do mundo adulto com o mundo infantil, pode gerar fenômenos
nomeados, por exemplo, de “crianças adultizadas” ou “desaparecimento da infância”
(POSTMAN, 1999, p. 113), que expõe e influencia crianças a viverem como adultos, além
de reforçar os valores do “papel da mulher” na sociedade desde o princípio da vida. A
beleza começa a ser fundamental no processo de conquista das crianças, desenvolvendo o
sentimento de bem-estar e de conseguir fazer parte de um grupo.
A discussão que está presente neste artigo parte da interseção de dois temas aqui
apresentados: a mídia massiva como propagadora do “mito da beleza” e a introdução do
padrão de beleza desde a infância até a vida adulta. Para a base teórica serão estudados
autores como Naomi Wolf, Neil Postman e Adorno para discutir conceitos como “mito da
beleza”, construção da infância e posicionamentos midiáticos, além de outros teóricos que
auxiliarão na construção bibliográfica do artigo.
Como forma de exemplificar esses dois temas, serão analisadas duas peças
publicitárias da marca “O Boticário”, ambas em formato de vídeo, que foram veiculadas em
canais abertos e fechados da televisão. Como forma de mostrar a interseção dos temas, as
publicidades analisadas possuem direcionamentos diferentes, uma referente à crianças e
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outra à adultos, porém com o mesmo objetivo: vender produtos de beleza como
transformadores de vida.
“O mito da beleza” e o Aprisionamento Feminino
O mito da beleza surge como uma espécie de “arma social” que “cerca” os avanços
alcançados pelas mulheres dentro da sociedade vigente. Com a possibilidade de
qualificação, ascensão social, liberdade sexual, inserção no mercado de trabalho, entre
outros direitos conquistados, as mulheres se mostram resistentes e ameaçam as estruturas de
poder. Essa situação deriva numa resposta que se canaliza principalmente em expressões
mercadológicas de representação da beleza.
“Durante a última década, as mulheres abriram uma brecha na estrutura do
poder. Enquanto isso, cresceram em ritmo acelerado os distúrbios
relacionados à alimentação, e a cirurgia plástica de natureza estética veio a
se tornar uma das maiores especialidades médicas. (WOLF, 1992, p.12)
Os padrões de beleza não são estáticos. Com o passar dos anos e das épocas, eles se
modificam e as mulheres ficam à mercê dessas mudanças, que na maioria das vezes, não
condizem com a saúde do corpo e quase sempre são inalcançáveis pela maioria da
população.
“O padrão estético de beleza atual, perseguido pelas mulheres, é
representado imageticamente pelas modelos esquálidas das passarelas e
páginas de revistas segmentadas, por vezes longe de representar saúde,
mas que sugerem satisfação e realização pessoal e, principalmente, aludem
a eterna juventude. ” (BOHM, 2004, p.19)
Os padrões impostos socialmente e reforçados pela mídia, representam uma espécie
de obstáculo no bem-estar das mulheres. Segundo Naomi Wolf, em sua publicação de 1992,
“Quanto mais obstáculos legais e materiais vencidos pelas mulheres, mais rígidas, pesadas e
cruéis foram as imagens da beleza feminina a nós impostas”. Mesmo que as mulheres
cheguem ao topo de sua profissão e realização pessoal, esse caminho não é considerado
suficiente. A imagem física tende a ser um ponto muito valorizado de sua carreira, muitas
vezes mais valorizado que sua produção. Para a sociedade, não basta que uma mulher seja
uma boa profissional, já que se ela não estiver de acordo com os padrões de beleza
contemporâneos, ela não é considerada boa o suficiente.
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A cobrança estética direcionada à mulher, transcende o âmbito profissional. A vida
pessoal começa a ser regida da mesma forma e com os mesmos tipos de exigências. As
relações sociais podem ser pautadas a partir dos estereótipos de beleza, por exemplo:
levando em consideração um recorte atual de beleza padrão, uma mulher de 22 anos e 52 kg
tem muito mais chances de se casar, ter filhos e se ascender socialmente do que uma mulher
de 22 anos que pese 62 kg.
O que se espera de uma mulher é que ela seja uma boa profissional, uma boa dona
de casa, uma boa mãe e ainda preencha aos requisitos de beleza que se implicam
principalmente na cultura da magreza e na busca da juventude eterna, assim reforçando
ideais estéticos baseados no capital e na influência mercadológica, que impulsionam e
mantém as indústrias de cosméticos e de intervenções cirúrgicas estéticas. Boa parte das
revistas direcionadas ao público feminino tratam exclusivamente desses assuntos e
principalmente sobre a beleza, o que reforça a ideia de que para se enquadrar socialmente
uma mulher precisa corresponder aos modelos de beleza que são veiculados. Quando uma
mulher abdica dessa imagem, ela não é representada pela mídia e dessa forma ela não é
considerada parte do todo, sofrendo assim uma espécie de exclusão social.
Um exemplo dessa imposição da beleza padrão e desse tipo de cobrança que é
sustentada, foi o episódio que aconteceu na última cerimônia do Oscar (2016), quando a
inglesa Jenny Beavan (ver Anexo C), vencedora da categoria melhor figurino, responsável
pela indumentária do filme “Mad Max: Estrada da Fúria” (George Miller, 2015), não foi
aplaudida por boa parte do público, formado por cineastas, atores e outros influenciadores
expoentes do cinema mundial, simplesmente por não se enquadrar ao padrão de magreza,
beleza e dress code esperado pela sociedade para um evento daquela importância. Uma
pessoa que não se enquadra ao padrão atual de beleza, que pode ser facilmente definido
como: “magra, jovem e bela” é vulnerável.
Uma mulher que não se enquadra, é exposta a uma série de represálias, por isso,
sente a necessidade de se “unir ao grupo”, se subentendo a uma série de alterações impostas
e bem quistas pela sociedade em geral. Isso não está ligado ao bem-estar da mulher e sim ao
bem-estar da sociedade que precisa de métodos que inoculem as lutas sociais femininas.
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A mídia televisiva como propagadora do mito da beleza.
A mídia televisiva desde a década de 60 se consolidou como uma das maiores fontes
de informação da atualidade. Os espectadores não se utilizam dos conteúdos veiculados
apenas como forma de entretenimento, posto que essas mensagens desempenham também
um papel informativo e de formação do imaginário coletivo, criando conceitos ou
reforçando ideias já existentes.
Existe um caráter ideológico-formal da televisão, ou seja, desenvolve-se
uma espécie de vício televisivo em que, por fim, a televisão, como
também outros veículos de comunicação de massa, convertesse pela sua
simples existência no único conteúdo da consciência, desviando as
pessoas por meio da fartura de sua oferta, daquilo que deveria se constituir
propriamente como seu objetivo e sua prioridade. (ADORNO; 1995; p:
80)
Dessa forma, os conteúdos veiculados nos meios televisivos tornam-se parâmetros
sociais e, consequentemente, a publicidade também se transforma em um formador de
opinião, divulgando e reforçando padrões sociais e estéticos e comportamentais, além de
estereótipos, em muitos casos lançando mão dessa influência para vender seus produtos.
Para além da simples divulgação de um produto, a publicidade televisionada passa a
inserir esses padrões e estereótipos na vida das pessoas desde muito cedo e continuam as
acompanhando durante um bom tempo, ditando os modelos sociais a serem seguidos.
A Construção Social da Infância e a Publicidade Infantil
De acordo com Postman (1999), na Era Medieval, o conceito de infância não existia
pela falta de alfabetização, pela não existência do conceito de educação e do conceito de
vergonha. Não existia a preparação da criança para o mundo adulto, os dois
compartilhavam os mesmos ambientes sociais e informacionais. É a partir da criação da
prensa tipográfica, associada à cultura da alfabetização, que surge o conceito moderno de
infância.
Fernanda Hamann (2002) aponta que a forma de se conceber a infância, varia de
tempo em tempo e de sociedade a sociedade. Cada contexto cultural é capaz de criar uma
maneira particular de concepção de criança, no sentido que as formas de se relacionar com
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ela, e o próprio papel dela na sociedade, resultam de uma complexa rede de valores e regras
predominantes nesta sociedade.
Se há poucos anos atrás, o que diferenciava a criança do adulto era a leitura, hoje, de
acordo com Postman (1999), a infância está fadada ao desaparecimento. O advento da
televisão é a causa dessa mudança recente. A velocidade das transformações sociais e
psicológicas, impulsionadas pelas transformações tecnológicas, faz com que ser criança
hoje seja diferente de ser criança há poucas décadas atrás. As programações televisivas, na
prática, estão mostrando aspectos sexuais a qualquer hora do dia, como por exemplo nas
novelas e publicidades de cerveja. A criança não é mais poupada desse tipo de conteúdo.
Em seu livro “Nascidos para Comprar”, Juliet Schor (2009) aborda a emergência de
uma nova aliança, a partir da segunda metade do século XX, em especial nas décadas de
1980 e 1990, entre crianças e consumo. As campanhas publicitárias começam a produzir
com o objetivo de fazer das crianças, consumidores relevantes.
Os arquitetos dessa cultura – as empresas de propaganda, o mercado e os
publicitários de produtos de consumo – têm se voltado para as crianças.
Embora elas tenham uma longa participação no do mercado consumidor,
até recentemente eram consideradas pequenos agentes ou compradores de
produtos baratos. Elas atraíam uma pequena parcela dos talentos e
recursos da indústria e eram abordadas principalmente por intermédio de
suas mães. Isso se alterou. Hoje em dia, crianças e adolescentes são o
epicentro da cultura de consumo norte-americana. Demandam atenção,
criatividade e dólares dos anunciantes. Suas preferências direcionam as
tendências de mercado. Suas opiniões modelam decisões estratégicas
corporativas. (SCHOR, 2009, p. 2)
Com o crescimento do direcionamento da publicidade infantil, a criança – e a
infância – começa a ser um tema bastante discutido por teóricos da pós modernidade.
Expressões como “perda da infância” se tornam comum entre os estudiosos. Essas
discussões se dão pela mudança da forma que as crianças estão se relacionando com o
mundo contemporâneo. A comunicação massiva, passa a dividir o papel de transmissão do
conhecimento, educação comportamental e valores, com os pais e as escolas. O acesso à
televisão, por exemplo, aproxima as crianças dos conhecimentos adultos.
“Com a ajuda de outros meios eletrônicos não impressos, a televisão recria
as condições de comunicação que existiam nos séculos XIV e XV.
Biologicamente estamos todos equipados para ver e interpretar imagens e
para ouvir a linguagem que se torna necessária para contextualizar a
maioria dessas imagens. O novo ambiente midiático que está surgindo
fornece a todos, simultaneamente, a mesma informação. (...) a mídia
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eletrônica acha impossível reter quaisquer segredos. Sem segredos,
evidentemente, não pode haver uma coisa como infância. ” (Postman,
1999, p. 94)
A partir desse momento, a indústria cultural passa a olhar para a infância, como um
nicho de consumidor potencial. Propagandas Publicitárias começam a “seduzir”
gradativamente o público infantil para comprar diversos tipos de produtos, desde roupas a
invenções tecnológicas.
De acordo com o Instituto Alana, as estratégias mais comuns para induzir ao
consumo no horário comercial são: a publicidade convencional; o licenciamento de
personagens da TV e cinema para atrelar sua imagem ao produto; e brindes nos postos de
venda - que muitas vezes, exigem complemento em dinheiro.
Quando os produtos e serviços são voltados para o público infantil, a publicidade
precisa ser olhada com mais delicadeza. Por serem indivíduos que ainda estão em
desenvolvimento, são mais vulneráveis aos apelos midiáticos.
De acordo com o Art. 15 da Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1990, “A criança e o
adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais
garantidos na Constituição e nas leis”. Portanto, é entendido que as crianças e os
adolescentes ainda estão em fase de formação e não tem controle total sobre a sua própria
vida, dessa forma, devemos preservar a sua imagem e integridade. No Art. 17 dessa mesma
lei, é dito que “O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física,
psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da
identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais”.
Para garantir que essas leis sejam cumpridas e fiscalizadas, existe o Conselho Nacional dos
Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda).
Há algum tempo essas leis estão sendo feridas por publicidades consideradas
abusivas voltadas para o público infantil. Portanto, foi criada pelo Conanda a resolução nº
163, de 04 de abril de 2014, que considera “a prática do direcionamento de publicidade e
comunicação mercadológica à criança com a intenção de persuadi-la para o consumo de
qualquer produto ou serviço” abusiva, sendo então ilegal segundo o Código de Defesa do
Consumidor. A resolução 163 lista os seguintes aspectos que caracterizam abusividade:
linguagem infantil, efeitos especiais e excessos de cores; trilhas sonoras de músicas infantis
ou cantadas por vozes de criança; representação de criança; pessoas ou celebridades com
apelo ao público infantil; personagens ou apresentadores infantis; desenho animado ou de
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animação; bonecos ou similares; promoção com distribuição de prêmios ou de brindes
colecionáveis ou com apelos ao público infantil; promoção com competições ou jogos com
apelo ao público infantil.
Análise das Publicidades
A publicidade infantil é produzida e apresentada para as crianças de forma muito
similar a publicidade adulta, o que pode ser entendida como uma forma de conquistar o
consumidor. Para Linn (2006), as crianças de hoje crescem em meio a um turbilhão de
marketing. Dessa forma, foram feitas análises de duas campanhas publicitárias, uma com o
viés para o público infantil e a outra com um direcionamento para o público adulto, de uma
mesma marca, a O Boticário, para comparar e exemplificar todos os conceitos que foram
utilizados ao longo deste artigo.
1.1. Petit Sophie 4
A Petit Sophie, é uma das linhas de perfumaria da marca O Boticário, criada em
2007 com o objetivo de desenvolver para garotas com idade entre 6 e 12 anos, maquiagens
e produtos para o corpo e cabelo. A campanha da linha, “Para brincar e brilhar” (ver Anexo
A), foi lançada em janeiro de 2015 e veiculada em formato de videocase para canais
infantis fechados da televisão. Com o intuito de lançar novos produtos da linha de beleza
exclusiva para crianças, a campanha em questão utilizou-se de imagens que poderiam estar
no meio cotidiano de uma adolescente.
Na campanha “Para brincar e brilhar”, a publicidade consegue chamar atenção do
seu público com uma maneira lúdica e que demonstre confiança. A primeira cena é de uma
menina tomando banho em uma banheira, dentro de um banheiro com as paredes rosas e
com bolhas de espumas saindo da água, já que ela está usando o sabonete da linha. “Alguns
detalhes deixam tudo diferente” é a primeira fala da gravação, “Um banho gostoso” segue
junto com a cena da banheira. Logo após a primeira cena, segue a mesma menina em um
outro ambiente, também com a maioria dos detalhes na cor rosa, deitada com as perninhas
se mexendo e passando um batom. Para acompanhar a cena, a fala que acompanha é “Um
sorriso bonito”, chamando atenção para o ato de passar o batom. A terceira cena, é em outro
4 Link de acesso à peça publicitária “Para brincar e brilhar” da marca Petit Sophie:
www.youtube.com/watch?v=uB3CoNzVM2U
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cenário, com uma penteadeira rosa e alguns produtos da linha em cima dela. A fala é “Um
toque especial” e a menina está passando blush no rosto. “E aí, tudo fica mais lindo e
divertido” é a locução das duas últimas cenas quando entram em transição. A mesma
menina espirra um pouco de perfume quando está em seu quarto, mais uma vez com todos
os detalhes na cor rosa, e como efeitos de mágica, a cena transita para um parque de
diversão. A publicidade termina mostrando todos os produtos da linha em um fundo cor de
rosa com a última fala da locução “Linha Petit Sophie de O Boticário, para brincar e
brilhar”.
De início pode-se perceber o uso de alguns recursos estratégicos para chamar a
atenção da criança, como a proposta de fazer um comercial parecido com um desenho
animado. Utilizando-se de cores suaves e leves, as imagens ganham um aspecto mais
fluido, e os tons que são sempre usados para remeter o feminino, como os vários tons de
rosa, são utilizados para direcionar a publicidade à um público de meninas.
Percebe-se que a imagem da criança é de pele e olhos claros e magra. Embora não
seja este o enfoque desta análise, não se pode desconsiderar a figura da criança que ilustra
esta publicidade. Este arquétipo é tão difundido na publicidade com o objetivo de reforçar
os padrões representativos dominantes na sociedade que, além de evidenciar um desacordo
com a ideia de diversidade étnica, como diz Inês Sampaio em seu livro Televisão,
publicidade e infância, “revelam (...) a tendência a representar imagens idealizadas e isentas
de qualquer negatividade” (SAMPAIO, 2000, p. 257).
Seguindo com a análise, a voz de locução off utilizada no vídeo, é uma voz adulta,
mas que imita a delicadeza de uma voz infantil, outra estratégia para se aproximar do
universo das crianças. Essas estratégias utilizadas pelo anunciante, conseguem atingir
diretamente o público, já que crianças, por não entenderem as formas de sedução das
publicidades, estão mais suscetíveis à manipulação. “A criança é transformada pela mídia
no modelo ideal de consumidor. Se, por um lado, ela não considerada socialmente como um
ser completo, por outro, na perspectiva de sua inserção na cultura, ela é plena para o
exercício de consumo” (MASQUETTI apud BAUDRILLARD, 2008, p. 2).
1.2. A Linda Ex5
5 Link de acesso à peça publicitária “A Linda Ex” da marca O Boticário: www.youtube.com/watch?v=r0vDe_Qq12Q
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A segunda peça utilizada para análise foi veiculada no ano de 2015 nos canais
abertos da televisão. Com o título “A Linda Ex” (ver Anexo B), a publicidade retrata casais
prestes a assinarem o divórcio. O vídeo começa com um quadro em que cada indivíduo
narra o motivo da separação. As mulheres proferem frases como “A gente virou sócio da
criação dos filhos”, “Acabou por um monte de coisinhas”, entre outras que remetem um
desgaste na relação. Quando as entrevistas passam a ser direcionadas aos homens, as
respostas mudam de direcionamento, como “Ficou comum”, “A gente se acostuma”,
“Acontece de parar de olhar”. Nessa pequena introdução já é possível notar a diferença dos
discursos.
As mulheres reclamam de coisas comuns ao casamento em geral, como falta de
cooperação por falta dos homens e um misto de coisas que levaram ao desgaste, já os
homens a todo tempo remetem a uma monotonia com a presença da esposa e falta de
atração.
A qualidade chamada "beleza" existe de forma objetiva e universal. As
mulheres devem querer encarná-la, e os homens devem querer possuir
mulheres que a encarnem. Encarnar a beleza é uma obrigação para as
mulheres, não para os homens, situação esta necessária e natural por ser
biológica, sexual e evolutiva. Os homens fortes lutam pelas mulheres
belas, e as mulheres belas têm maior sucesso na reprodução. A beleza da
mulher tem relação com sua fertilidade; e, como esse sistema se baseia na
seleção sexual, ele é inevitável e imutável. (WOLF 1992. P.15)
A publicidade sugere, depois das entrevistas, uma solução para o “problema” do
divórcio. Oferecem às mulheres um “dia de beleza”, onde elas serão maquiadas e
devidamente arrumadas para a assinatura do divórcio. Depois da nova roupagem, as
mulheres chegam à frente dos maridos deixando-os surpresos com a nova aparência de suas
ex esposas, enquanto repete-se a narração das frases que eles haviam proferido
anteriormente, reforçando o fato de que a separação por parte do marido teria se dado
resultante por conta da falta de interesse pela aparência da esposa, culpabilizando-a.
Após a assinatura do divórcio, frases como, “tudo pode acabar, menos sua
autoconfiança”, são projetadas na tela, deixando exposta a intenção da marca de associar
autoconfiança feminina com beleza padrão provinda de maquiagem e com o consumo dos
produtos da marca.
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Considerações Finais
Além de cumprir o seu principal objetivo de fomentação do consumo, a publicidade
pode atuar como um mecanismo de naturalização de discursos, impregnando às pessoas, os
estereótipos e modelos sociais da contemporaneidade.
Os padrões de beleza reforçados e até mesmo impostos pela mídia, estão
desassociados da realidade dos corpos femininos nos dias atuais. Esses padrões são
incentivados mesmo que para conquistá-los, sejam adotadas práticas que coloquem em
risco a saúde física e mental de quem deseja obter o físico “ideal”.
Pode-se observar que de acordo com os teóricos e a publicidade da Petit Sophie, a
mídia tem se utilizado de estratégias para conquistar um outro nicho de público, o infantil.
As crianças estão cada vez mais expostas às exigências estéticas da contemporaneidade. A
partir disso, encontram-se fenômenos que aproximam a realidade da criança de hoje com a
realidade da criança na Idade Média, onde não existia o conceito de infância.
A contribuição do artigo se refere à observação a partir dessa perspectiva: a
adultização de crianças como forma de sociabilização destas para o mercado de consumo.
Ou seja, o contexto histórico-cultural no qual a categoria infância começa a ser "adultizada"
se refere a valores sociais baseados no consumo como forma de inserção social e
construção de identidades (JOHN, 1999). As crianças se apresentam como um novo
"mercado" a ser explorado, e, para isso, os discursos que permeiam as ações de marketing
estão baseados no pressuposto de que elas "têm o direito" de fazer parte do mercado de
consumo, sendo que a resolução 163 do Conanda diz justamente o contrário.
As publicidades aqui analisadas, representam as primeiras mensagens de estímulo ao
consumo direcionadas às crianças e a continuação do discurso direcionado às mulheres
adultas. É estabelecido um vínculo entre consumidor e marca que nasce muito cedo e acaba
muito tarde.
Assim, com este artigo, esperamos ter trazido um convite à reflexão sobre as
consequências das ações da mídia sobre o público infantil e adulto de mulheres. É
necessário compreender que a imposição de um padrão de beleza em detrimento da
diversidade estética, destrói os princípios de igualdade de gênero, o que dificulta a inclusão
social feminina além de ferir os princípios de proteção ao desenvolvimento físico e mental
das crianças e adolescentes.
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Referências Teóricas
WOLF, Naomi. O mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as
mulheres. Rocco, Rio de Janeiro rj 1992
BOHM, Camila Camacho. Um peso, uma medida: O padrão da beleza feminina
apresentado por três revistas brasileiras. São Paulo: UNIBAN, 2004.
ADORNO, T. W. Educação e emancipação. Tradução: Wolfgang Leo Mar. Rio de
Janeiro. Paz e Terra, 1995.
MALYSSE, Stéphane. Em busca dos (H) alteres-ego: Olhares franceses nos bastidores da
corpolatria carioca. In: GOLDENBERG, Miriam (Org.). Nu e Vestido - Dez antropólogos
revelam a cultura do corpo carioca. Rio de Janeiro: Record, 2002.
LINN, Susan. Crianças do consumo: a infância roubada. Tradução Cristina Tognelli. São
Paulo: Instituto Alana, 2006.
HAMANN, Fernanda Passarelli. Erotização da Infância e Meios de Comunicação de
Massa. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Escola de Comunicação, UFRJ, 2002.
POSTMAN, Neil. O Desaparecimento da Infância. Rio de Janeiro: Graphia, 1999.
SCHOR, Juliet B. Nascidos para comprar: Uma leitura essencial para orientarmos nossas
crianças na era do consumismo. Tradução: Eloisa Helena de Souza Cabral. São Paulo:
Editora Gente, 2009.
MASQUETTI, Maria Helena. Parecer Psicológico Sobre o Outdoor da Grife Lilica
Ripilica – Empresa Marisol S.A. Disponível em: http://www.alana.org.br. Data de acesso:
27 junho de 2016.
JOHN, D. R. Consumer socialization of children: a retrospective look at twenty-five years
of research. Journal of Consumer Research, Chicago, v. 26, n. 3, p. 183-213, 1999.
SOUZA, C. Oscar 2016: Artistas não aplaudem a vencedora de Melhor Figurino.
Disponível em: https://omelete.uol.com.br/filmes/noticia/oscar-2016-artistas-nao-aplaudem-
a-vencedora-de-melhor-figurino/ Data de acesso: 19 de maio de 2016.
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ANEXOS
ANEXO A - Produto da campanha “Para brincar e brilhar” da Petit Sophie para O
Boticário. Fonte: http://boticario.vteximg.com.br/arquivos/ids/170488-1000-1000/15781-
petit-sophie-locao-hidratante.jpg
ANEXO B - Frame do vídeo da campanha “A Linda Ex” da O Boticário. Fonte:
https://i.ytimg.com/vi/sbFj8IvlomI/maxresdefault.jpg
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ANEXO C – Vencedora de Melhor Figurino Oscar 2016, Jenny Beavan
Fonte: http://www.gramposesapatilhas.com/wp-content/uploads/2016/02/jenny-beavan-
oscar-figurinista-2016.jpg