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A INFLUÊNCIA SOCIAL DO CORPO NA FORMAÇAO DO JOVEM

Autor: Antonio Marques Heleno 1

Orientador: Prof. Dr. José Ricardo Penteado Falco 2

RESUMO

No trabalho com a disciplina de Biologia, torna-se essencial inovar, trazendo à tona, temas capazes de apresentar conteúdos de forma mais expressiva, caracterizando-se assim, uma Educação que não se limite ao conhecimento acadêmico, intelectual, mas que seja significativo para a realidade dos indivíduos participantes do processo educativo. A procura por corpos perfeitos entre os jovens, despertou o interesse para o desenvolvimento dessa pesquisa, especialmente, investigar o uso e os efeitos que os anabolizantes podem desenvolver no organismo. Nesse contexto, buscou-se comprovar que o professor deve ir além de um mero expositor de conteúdos e se torne um orientador de novas práticas, em que professor e aluno possam construir o conhecimento. Este trabalho apresenta os processos e resultados de um Projeto desenvolvido no Colégio Estadual Rui Barbosa – EM, situado em Japurá, PR, com uma turma de alunos do 3º ano do período matutino. A pesquisa está vinculada ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Estado do Paraná e teve como objetivo identificar e discutir o uso e efeitos de Esteroides Anabolizantes em busca de satisfazer o desejo consumista de corpos perfeitos dentre os jovens na atualidade. A metodologia adotada teve por base a pesquisa bibliográfica, debates em sala de aula e atividades em laboratório de informática, visitas a Academia de Ginástica e farmácia, bem com uma investigação por meio de questionários direcionados aos alunos. Evidenciou-se nas considerações finais, os resultados da pesquisa bibliográfica relacionados com a pesquisa empírica desenvolvida, que a preocupação maior não reside na busca de saúde e boa forma física, mas sim, na imagem do corpo ideal. Diante de resultados no decorrer da implementação deste Projeto PDE, torna-se necessário – e possível – maior amadurecimento acerca do uso e efeitos dos anabolizantes dentre os jovens em busca de corpos perfeitos. Palavras Chave: Sociedade; Juventude; Corpos perfeitos; Anabolizantes.

1 INTRODUÇÃO

O Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, instituído pela

Secretaria de Estado da Educação do Paraná, juntamente com a Secretaria de

Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, é considerado como um programa

inovador de Formação Continuada dos professores e professoras da rede pública

estadual.

_________

1. Professor da Rede Pública Estadual/ Núcleo Regional de Educação de Cianorte, PR. Professor do Programa de Desenvolvimento Educação – PDE. [email protected] 2. Bacharel em Ciências Biológicas (UNESP, Rio Claro). Mestre e Doutor em Biologia Celular e Estrutural (UNICAMP). Docente da Universidade Estadual de Maringá desde 1996, ministrando disciplinas de Biologia Celular nos cursos de graduação em Educação Física, Agronomia, Zootecnia, Medicina e Enfermagem.

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Esse Programa oportuniza aos professores participantes retornar à

Universidade com todo o tempo livre para estudos e aprofundamento nos

conhecimentos necessários para redimensionar sua prática educativa visando à

melhoria da qualidade do ensino. Dentre esses estudos estão ações planejadas e

desenvolvidas ao longo do processo de orientação, o qual faz parte da proposta de

implementação com o objetivo de enfrentar e contribuir para a superação de

problemas apontados pelo professor PDE em sua área, para ser investigada no

tema de estudo. Sua finalidade é de promover a melhoria qualitativa do ensino na

escola de execução do projeto.

O Programa também proporciona estudos de conteúdos gerais e específicos,

dando subsídios para o professor PDE aprofundar e rever seus conhecimentos

teóricos e suas práticas pedagógicas e metodológicas.

As Diretrizes Curriculares Estaduais para o Ensino de Biologia corroboram

com a concepção de Libaneo ao apontar que,

Os conhecimentos biológicos, se compreendidos como produtos históricos indispensáveis à compreensão da prática social, podem contribuir para revelar a realidade concreta de forma crítica e explicitar as possibilidades de atuação dos sujeitos no processo de transformação desta realidade (LIBÂNEO, 1983 apud PARANÁ, 2008, p.54).

Atendendo às especificações do Programa PDE, a primeira atividade foi

elaborar um Projeto de Pesquisa contemplando a descrição de todas as etapas de

planejamento de uma pesquisa científica, partindo da delimitação de uma situação

problema, tendo eixo central o cotidiano da escola.

Uma vez realizada a investigação teórica, estas foram materializadas em uma

Unidade Didática que serviu de base para as fases seguinte de implementação.

“A escola é uma instituição criada pelo homem com o objetivo explícito de

socializar o saber sistematizado” (PENIN & VIEIRA, 2001, p. 17), e implícito de

manter a sociedade na forma como está organizada.

No atual momento histórico, tem como papel contribuir para a formação do

cidadão participativo e consciente de sua função social. O homem, na construção de

sua história, produz seus próprios conhecimentos, ou seja, tudo o que configura o

saber, a cultura.

A educação se configura como um espaço privilegiado para refletir a respeito

da concepção da subjetividade – individualidade do homem.

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A escola como lócus da educação sistematizada, não pode passar do próprio conceito de educação em sua inteireza como apropriação da cultura. E esta tem a ver com a própria concepção de homem que constrói sua especificidade e se constrói como ser histórico à medida que transcende o mundo natural pelo trabalho. Ao transcender a mera natureza (tudo aquilo que não depende de sua vontade de sua ação), o homem ultrapassa o nível de necessidade e transita no âmbito da liberdade. A liberdade é, pois, o oposto do espontaneismo, da necessidade natural; é algo construído pelo homem à medida que constrói sua própria humanidade [...] (PARO, 2001, p.10).

Segundo Paro (2001), o mundo precisa ser interpretado para ser

transformado e é a partir do domínio das categorias, de métodos e de conteúdo que

se dá a emancipação humana em uma sociedade. O sujeito age sobre a natureza

para satisfazer suas necessidades e nessa relação, ele produz história,

conhecimento e valores.

[...] é importante destacar que as disciplinas escolares, apesar de serem diferentes na abordagem, estruturam-se nos mesmos princípios epistemológicos e cognitivos, tais como os mecanismos conceituais e simbólicos. Esses princípios são critérios de sentido que organizam a relação do conhecimento com as orientações para a vida como prática social, servindo inclusive para organizar o saber escolar (PARANÁ, 2008, p.20).

As Diretrizes Curriculares Estaduais do Paraná, objetiva oportunizar aos

professores, ‘uma visão tão ampla quanto possível’ da Biologia’ (PARANÁ, 2008,

p.49). Este documento governamental destaca que,

Para o ensino da disciplina, a proposta estabelecia seis temas que envolviam as respectivas ciências de referência da Biologia e noções de desenvolvimento científico e tecnológico: Relações dos seres vivos e seu meio ambiente; Organização dos seres vivos; Classificação dos seres vivos; Hereditariedade e ambiente; Desenvolvimento científico e tecnológico no campo da Biologia; Saúde humana (PARANÁ, 2008, p.49). Grifo nosso.

Nesse contexto, esse Projeto atende às especificações das Diretrizes

Curriculares Estaduais (DCE) para o Ensino de Biologia, destacando-se ainda a

relação do tema desse Projeto com a Saúde Humana, um dos temas estabelecidos

para o Ensino de Biologia.

Assim, a problematização que se instaurou e deu origem à pesquisa ancorou-

se na afirmativa de Muniz et al., (2009, p.1) apontando que “o uso crescente de

anabolizantes artificiais com fins estéticos é uma epidemia silenciosa”. Desse modo,

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tem-se o seguinte questionamento: qual o papel da escola diante da perversa

realidade que seduz os jovens para a busca do corpo perfeito? É possível um

enfrentamento no contexto atual da padronização da beleza?

Na esteira dessa realidade, têm-se os alunos do Ensino Médio que se

encontram em fase de crescimento e de afirmação enquanto sujeito social. Na ânsia

pela perfeição do corpo buscam meios para desenvolvimento da massa muscular.

No limite, chegam a usar anabolizantes, comprometendo sua saúde e expondo-se a

um conjunto de riscos que podem ser fatais.

Ocorre que, para muitos dos adolescentes, este afirmar-se socialmente está

relacionado a um processo equivocado de adequação aos moldes de

comportamento, de imagem e de estética imposta pela mídia (IRIART; CHAVES;

ORLEANS, 2009).

As Diretrizes Curriculares Estaduais para o ensino de Biologia apontam que

“para diagnosticar as ideias primeiras do aluno é recomendável favorecer o debate

em sala de aula, pois ele oportuniza análise e contribui para a formação de um

sujeito investigativo e interessado, que busca conhecer e compreender a realidade”

(PARANÁ, 2008, p.63).

Tendo em vista a intensa relação que, especialmente os jovens, apresentam

com novas tecnologias, com as imagens midiáticas, utilizou-se o recurso de

apresentação de imagens na TV multimídia, para esclarecimentos sobre o uso de

hormônios, destacando-se onde são produzidos e quais são suas funções.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: PROJETANDO A PRÁTICA

A sociedade contemporânea, da qual fazemos parte vem se modificando ao

longo do tempo, principalmente quando o assunto é sobre a imagem corporal; ela

está relacionada com a autoestima e se há uma insatisfação, esta se refletirá na

autoimagem. (BUCARETCHI (2003) apud CAMARGO et al., 2008). Um dos

principais fatores causais de alterações da percepção da imagem corporal é a

imposição, pela mídia, pela sociedade e meio esportivo, de um padrão corporal

considerado o ideal, ao qual associam o sucesso e a felicidade (CONTI;

FRUTUOSO; GAMBARELA (2005) apud CAMARGO et al., 2008).

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Os estereótipos atuais são homens fortes bem definidos e mulheres bem

esguias e magras, desviando-se do foco da saúde para a forma do corpo. Aliado a

isso unem os anabolizantes, substâncias sintetizadas em laboratório, relacionadas

ao hormônio masculino, com a finalidade de um corpo perfeito. Antes procurados

primeiro por atletas há alguns anos vêm sendo também usados por não atletas,

indivíduos que frequentam academias ou não e procuram atingir corpos musculosos

para aumentar a autoestima (SANTOS et al., 2010).

Em busca de melhorar o desempenho, adquirir benefícios estéticos e ganhar

músculos imediatamente, procuram caminhos mais fáceis e rápidos para atingirem

seus objetivos, fazendo uso de agentes farmacológicos como os anabolizantes sem

receita médica. (RIBEIRO, 2001). Para potencializar os efeitos desejados fazem a

associação de outras drogas, as quais ajudam a minimizar os efeitos colaterais e

dificultar a detecção dessas substâncias na urina (exames de antidoping nas

competições) (BROWER, 1993, apud PELUSO et al., 2000).

Segundo estudos de Iriart, Chaves e Orleans (2002), a insatisfação com o

crescimento muscular na musculação “natural” ou na sensação de que está

malhando, mas não está desenvolvendo a musculatura, foi realçada por alguns dos

entrevistados, como razão para o uso de anabolizantes. A comparação com colegas

que começaram a fazer musculação ao mesmo tempo e apresentaram rápido

desenvolvimento muscular com o uso dessas substâncias aparece como estímulo

para também consumirem.

O uso de anabolizantes para fins estéticos no Brasil, ainda é pouco estudado,

todavia, segundo pesquisas qualitativas como os de Iriart, Andrade, e Sabino (2002),

há um extenso consumo dessas substâncias. Entre praticantes de musculação em

Salvador (BA) e no Rio de Janeiro (RJ) foi-se observado principalmente o uso de

produtos veterinários. Estudos quantitativos realizados em academias de

musculação de São Paulo (SP), Porto Alegre (RS) e Goiânia (GO) encontraram altas

prevalências do uso de anabolizantes (respectivamente 19%; 11,1% e 9% (IRIART,

CHAVES; ORLEANS, 2002).

Apesar dos inúmeros efeitos adversos que essas substâncias acarretam à

saúde, são utilizados de forma indiscriminada, muitas vezes sem a mínima

orientação profissional e em doses superiores à recomendada, sem se preocupar

com os efeitos nocivos dessa prática; possuem efeito anabólico, (aumento da massa

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muscular) e androgênico (efeitos masculinizantes); podem ser administrados por via

oral ou intramuscular (PINTO & LIMA, 2002); é uma família de fármacos que incluem

o hormônio masculino, testosterona, e uma série de drogas sintéticas análogas a ele

(PELUSO, ASSUNÇÃO, ARAÚJO, ANDRADE, 2000).

Segundo Yesalis (1992), os efeitos anabólicos de hormônios esteroides

anabolizantes ocorrem em homens e mulheres, incluindo o aumento da massa

muscular, do coração, fígado, rins, da espessura da laringe e cordas vocais,

aceleração do aumento e da densidade óssea, aumento da estimulação da

eritropoiese, diminuição do desenvolvimento de órgãos sexuais da gordura corporal

e da potência sexual.

Pinto & Lima (2002), afirmam que, níveis elevados das enzimas hepáticas têm

sido relatados a partir do uso desses fármacos, podendo ocorrer à evolução para

colestase hepática e alguns casos para o hepatoma. No sexo masculino pode levar

a atrofia de testículos e esterilidade e alguns efeitos feminilizantes como a

ginecomastia. No sexo feminino tem sido associado a vários efeitos colaterais como:

alterações menstruais, diminuição do tamanho das mamas e efeitos virilizantes:

aumento do clitóris, voz mais grave e crescimento de cabelos no corpo.

Em crianças e adolescentes seu uso prolongado pode provocar alterações

sérias no desenvolvimento sexual e ósseo e no sistema cardiovascular, podem ser

observados hipertrofia do miocárdio, aumento da pressão arterial progredindo para o

infarto e morte súbita (MURAD & GILMAN, 1978).

Exercem poderoso efeito sobre a função do sistema nervoso central, em

virtude de sua ação simular à dos hormônios simpáticos, adrenalina e noradrenalina,

que elevam a pressão arterial, frequência de pulso, débito cardíaco, frequência

respiratória, metabolismo e glicemia (McARDLE et al., 1991).

Com grande prevalência na forma de tratamento de algumas patologias, seu

uso não médico vem chamando muito a atenção, não só apenas por meios de

comunicação ou entidades ligadas ao controle de drogas no esporte, mas também

por pesquisadores da área da psiquiatria, estimulados pelo aparecimento na

literatura durante as décadas de 70 e 80, de casos associados em quadros

psiquiátricos com relatos de pessoas em uso dessas drogas que desenvolveram

sintomas como: agressividade, euforia, depressão e psicose (WILSON et al., 1974;

ANNITTO & LAYMAN, 1980; FREINHAR & ALVAREZ, 1985; POPE & KATZ, 1987,

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apud PELUSO et al., 2000).

Os efeitos colaterais tornam-se evidentes quando se faz o mau uso ou abuso

dessas substâncias, provocando muitas vezes danos irreversíveis à saúde física ou

mental. Todavia isso ocorre por falta de conhecimento teórico, de informações sobre

os efeitos adversos ou até pelo comércio livre (mercado negro, farmácias de

manipulação, farmácias veterinárias), obtenção sem prescrição médica ou a

prescrição indevida, tornando fácil o acesso a essas drogas (SILVA, DANIELSKI,

CZEPIELEWSKI, 2002).

O uso de esteroide anabólico-androgênico parece ser uma prática que se

inicia nas escolas secundárias, seguindo-se pelas academias de musculação e se

refletindo por último no esporte profissional, o que é ilegal. Portanto, cabe ao

educador fornecer esclarecimentos científicos para que o aluno entre em contato

com aquilo que é verdadeiro (DE ROSE et al., 2004).

Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Estaduais apontam que a “disciplina

de Biologia contribui para formar sujeitos críticos e atuantes, por meio de conteúdos

que ampliem seu entendimento” (PARANÁ, 2008, p.52).

Segundo Costa (2004 apud Iriart, Chaves e Orleans, 2002), “estar feliz não se

resume mais a se sentir sentimentalmente repleto. Agora é preciso também se sentir

corporalmente semelhante aos ‘vencedores’...”. De acordo com o mesmo autor, o

corpo aparece como instrumento principal capaz de aproximar o indivíduo de grupos

de privilegiados, como por exemplo, dos ricos, poderosos e famosos.

O avanço da Biologia, portanto, é determinado pelas necessidades materiais do ser humano com vistas ao seu desenvolvimento, em cada momento histórico. De fato, o ser humano sofre a influência das exigências do meio social e das ingerências econômicas dele decorrentes, ao mesmo tempo em que nelas interfere (PARANÁ, 2008, p.20)

É fundamental que a população tenha conhecimento e seja inserido no

conteúdo programático das escolas o ensino voltado à química dos esteroides

androgênicos anabolizantes. E dar ênfase às pessoas que já não mais frequentam o

ambiente escolar e que não têm mais acesso aos conteúdos ministrados nas salas

de aulas, pois, precisam continuar a receber informações, seja da academia, da

internet ou da televisão; assim fará com que o individuo diferencie o que é

informação correta e confiável e o que não é (SANTOS et al., 2010)

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Ao final da década de 1980 e início da seguinte, no Estado do Paraná, a Secretaria de Estado da Educação propôs o Programa de Reestruturação do Ensino de Segundo Grau sob o referencial teórico da pedagogia histórico-crítica, na qual o conteúdo é visto como produção histórica e social, a educação escolar tem a obrigação de oferecer e o aluno tem o direito de conhecer. A abordagem desses conteúdos deve se dar na interação com a realidade concreta do aluno (PARANÁ, 2008, p.20).

Nesse contexto, o presente Artigo tem por objetivo apresentar os resultados

da Pesquisa e implementação do Projeto “influência social do corpo na formação do

jovem” em que se discutiram ideias que contribuíram para disseminar o

conhecimento sistematizado entre os alunos do 3º ano do Ensino Médio, sobre uso e

efeitos de Hormônios Esteroides Anabólicos Androgênicos e Esteroides

Anabolizantes, de modo a desconstruir qualquer intenção de uso pelos alunos.

3 METODOLOGIA E RESULTADOS

O método desenvolvido no Projeto correspondeu às seguintes ações:

divulgação do Projeto de intervenção escolar “A influência social do corpo na

formação do jovem” aos professores e funcionários da instituição Colégio Estadual

Rui Barbosa - EM, de Japurá, PR, e, posteriormente, divulgação do projeto junto aos

alunos e comunidade local. A implementação do Projeto direcionou-se para uma

turma de alunos do 3º ano do Ensino Médio, período matutino. Os resultados da

pesquisa são aqui apresentados em forma de Artigo, utilizando como instrumento de

coleta de dados um questionário de perguntas abertas, investigando o conhecimento

que os alunos detêm sobre o tema. Na sequência, promoveu-se uma discussão em

sala, acerca da influência que a mídia exerce na formação do jovem.

O próximo passo para a implementação do projeto foi uma apresentação de

vídeos disponíveis no Portal Dia a Dia Educação. Nessa etapa, o professor PDE

realizou a intervenção junto aos alunos em sala de aula, mediando os debates e

esclarecendo dúvidas. Em seguida, os alunos dirigiram-se ao laboratório de

informática, onde, em dupla, pesquisaram outros vídeos na internet sobre o assunto.

Outra fase do desenvolvimento da pesquisa, que se efetivou sob orientação

do professor PDE e um Profissional da Educação Física de uma academia local, foi

uma visita, previamente agendada, a uma Academia de Ginástica, com intuído de

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promover maior proximidade e o contato com Equipamentos de musculação.

Intencionando envolver ainda mais os alunos, foi realizada uma pesquisa em

grupos, com a mediação do professor PDE, buscando sites na internet com o

objetivo de reunir material para a confecção de cartazes sobre problemas do uso de

anabolizantes. Esses cartazes foram apresentados na Escola para os demais alunos

e comunidade escolar, caracterizando-se numa Mostra Cultural e Científica acerca

do uso de anabolizantes e acerca da atitude dos jovens que cultuam o corpo ideal,

sem contudo, compreender os reais efeitos que ações indevidas podem causar.

Os cartazes continham informações sobre as consequências maléficas do

uso de anabolizantes, advertindo sobre os riscos à saúde. Informar aos demais

alunos do Colégio Estadual Rui Barbosa de Japurá trouxe como resultado maior

conscientização acerca do uso de anabolizantes, despertando nos alunos jovens e

adolescentes a consciência de que a utilização incorreta de medicamentos para

obter a aparência de corpo perfeito pode trazer inúmeros perigos à saúde.

Fortalecendo e fundamentando ainda mais o desenvolvimento da

implementação, os alunos (acompanhados do professor PDE) dirigiram-se até um

estabelecimento farmacêutico para investigar e realizar um contato mais próximo

com os anabolizantes. Com contribuição voluntária de um profissional farmacêutico

habilitado os alunos puderam conhecer como se estabelece o processo de

comercialização de anabolizantes.

Nesse contexto, ainda realizou-se uma entrevista com uma profissional

nutricionista habilitada, ocasião em que os alunos puderam obter orientações

básicas a respeito da alimentação para o desenvolvimento do corpo, assegurando

condições físicas ideais e mais saudáveis. A nutricionista destacou que a

abstinência de alimentos não é o caminho certo para se obter corpo esguio, pois a

alimentação balanceada, aliada a exercícios físicos e hábitos saudáveis, é que pode

assegurar a conquista de um corpo ideal, de acordo com o funcionamento de cada

organismo humano.

Enriquecendo ainda mais o conhecimento, os alunos realizaram, em grupo de

04 (quatro) alunos, uma atividade escrita em que apontaram os principais destaques

do assunto, ou seja, apontar a relação entre alimentação, exercícios, anabolizantes,

genética, e especialmente a influência da mídia.

Os trabalhos foram apresentados nas demais salas de aulas, contemplando

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todas as turmas com significativo esclarecimento sobre os benefícios e malefícios do

uso dos esteroides anabolizantes.

Finalizando o desenvolvimento da implementação, os alunos responderam a

um questionamento sobre o conhecimento que tinham antes do Projeto e o que

aprenderam com o trabalho desenvolvido.

Os resultados obervados por meio dos questionamentos, da socialização e

por meio da metodologia adotada (entrevistas com os profissionais, a elaboração

dos cartazes, a pesquisa na internet, os debates em sala de aula) apontaram que as

maiores dúvidas dos alunos referem-se aos efeitos indesejáveis causados pelo uso

de anabolizantes, como aumento de peso e alterações de comportamento, conforme

apontam os autores citados na fundamentação teórica, visto que o conhecimento da

maioria dos alunos são aqueles do senso comum, trazidos do cotidiano. Os alunos

demonstraram certo conhecimento do tema, mas sem embasamento científico.

Observou-se com a utilização de imagens midiáticas uma demonstração de

interesse maior pelos alunos de conteúdos sobre o assunto de maneira mais

significativa.

Os alunos ressaltaram que o apelo consumista da mídia, muitas vezes, seduz

o jovem e o adolescente para a utilização de produtos que apregoam resultados

milagrosos, como no caso do uso de produtos que podem oferecer um corpo

perfeito, que, de acordo com os padrões convencionais atuais de beleza, deve ser

forte, musculoso, ‘sarado’ para os rapazes, e um corpo magro, esguio, para as

moças. No entanto, a busca por esses corpos ideais, ou seja, idealizados pela

juventude, pode oferecer sérios riscos à saúde. Os alunos reconheceram que não

adianta conquistar um corpo bonito, um corpo aprovado por padrões convencionais,

se por trás disso houver prejuízos à saúde física e mental.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Torna-se possível afirmar que o desenvolvimento desse projeto no Colégio

Estadual Rui Barbosa configurou-se como uma ação efetiva para conscientizar e

mobilizar a escola como um todo: professores, alunos e funcionários em busca do

resgate de valores e conscientização acerca dos efeitos dos anabolizantes.

O Projeto contou com a participação de 15 (quinze) alunos. As atividades

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iniciais demonstraram que os alunos não tinham a compreensão adequada do

efeitos dos anabolizantes com conhecimento insuficiente e desconhecendo os

efeitos que os anabolizantes causam, bem como onde eram produzidos

naturalmente. Pensavam que era somente um medicamento.

Além da pesquisa bibliográfica, que forneceu uma base conceitual para o

projeto, este ainda estendeu sua ação acrescentando a aplicação de questionários,

visitas, palestras, debates realizados em ambiente escolar, e, ao refletirmos sobre os

resultados deste projeto, podemos afirmar que houve significativa contribuição para

a compreensão de que o uso de anabolizantes é uma prática que se inicia quando o

jovem deseja exibir um corpo ideal, segundo os padrões convencionais de beleza,

pois, dessa forma, sua influência social pode estar em destaque.

Nessa perspectiva, remetendo-se às Diretrizes Curriculares Estaduais que

destaca que o Ensino de Biologia “[...] envolve o conjunto de processos organizados

e integrados, quer no nível de célula, de indivíduo, de organismo no meio, na relação

ser humano e natureza e nas relações sociais, políticas, econômicas e culturais”

(PARANÁ, 2008, p. 53).

Assim, os resultados comparativos obtidos após a implementação desta

proposta possibilitam um novo olhar e novos direcionamentos sobre as formas

avaliativas que pratica a escola.

Destacamos que antes da implementação os alunos responderam apenas

que os anabolizantes contribuíam para a formação de um corpo ideal, sem contudo

demonstrar conhecimento acerca dos malefícios do uso de anabolizantes.

Após a implementação demonstraram uma postura reflexiva, pois

aprofundaram os estudos, tiveram oportunidade de obter informações de

nutricionista, de um farmacêutico, de um profissional de educação física e tiveram

ainda a orientação constante do professor PDE, conduzindo debates, discussões e

reflexões, bem como tiveram a oportunidade de interagir com todos os demais

alunos da escola, apresentando os cartazes confeccionados.

Consideramos ainda que um estudo mais amplo e aprofundamento poderá

ser realizado ou ainda serem estabelecidos caminhos didáticos e pedagógicos para

que a formação do jovem possa ocorrer por meio de práticas saudáveis, e que as

escolas, sobretudo os educadores, possam contribuir para os debates em busca de

resultados capazes de fortalecer ações concretas em defesa da vida humana, por

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meio de cuidados com o corpo e a mente, e que o ganho de massa muscular deve

ser consequência de um conjunto de hábitos saudáveis.

Conclui-se enfim que os alunos identificaram e compreenderam a relação de

aspectos que envolvem o uso de anabolizantes com aspectos sociais, estéticos e

midiáticos da sociedade atual, ou seja, a intenção capitalista de padronização de

comportamentos e de consumo induz o indivíduo, especialmente o jovem, a ceder

às convenções, e muitas vezes as consequências desses comportamentos tornam-

se maléficos à formação do jovem.

Durante a implementação do Projeto observou-se uma grande interação da

turma com relação ao tema, identificando-se uma postura participativa e não

passiva. Torna-se possível assegurar que a participação efetiva de toda turma

demonstrou o elevado grau de interesse e envolvimento no assunto e nas atividades

propostas na implementação do Projeto.

Portanto, o desenvolvimento desse trabalho pode contribuir para futuras

Pesquisas, Programas ou Projetos relacionados ao uso de anabolizantes e às

práticas indevidas que denunciem o culto ao corpo perfeito.

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