a importância da presença de elementos proféticos na pregação atual

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GUILHERME ZIMBRÃO PAIM A IMPORTÂNCIA DA PRESENÇA DE ELEMENTOS PROFÉTICOS NA PREGAÇÃO ATUAL: PREGANDO COMO OS PROFETAS DO AT SETECEB - SEMINÁRIO TEOLÓGICO CRISTÃO EVANGÉLICO DO BRASIL BACHAREL EM TEOLOGIA ANÁPOLIS 2011

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Observa-se que a igreja atual tem enfrentado algumas crises no que diz respeito à pregação. Alguns elementos básicos da mensagem como a denúncia do pecado, o chamado ao arrependimento, o anúncio do juízo e da esperança de salvação estão sendo deixados de lado por muitos pregadores. Este trabalho tem como objetivo demonstrar a importância destes elementos para a pregação atual. Esses elementos são encontrados logo nos primeiros pregadores, os profetas do Antigo Testamento. Assim, o estudo será desenvolvido a partir da pregação destes profetas, apontando que os elementos discutidos estão fortemente presentes em sua mensagem. Além disso, o presente trabalho demonstrará que tais elementos também estavam presentes na mensagem dos pregadores do Novo Testamento, reforçando assim a sua importância. Fará também uma análise da pregação atual, discutindo algumas das principais razões para a perda de tais elementos e apresentará alguns fatores importantes para uma pregação profética nos dias atuais, destacando os benefícios que ela pode trazer para a igreja e a evangelização.

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  • 1. GUILHERME ZIMBRO PAIMA IMPORTNCIA DA PRESENA DE ELEMENTOS PROFTICOS NA PREGAO ATUAL: PREGANDO COMO OS PROFETAS DO ATSETECEB - SEMINRIO TEOLGICO CRISTO EVANGLICO DO BRASIL BACHAREL EM TEOLOGIA ANPOLIS 2011

2. iGUILHERME ZIMBRO PAIMA IMPORTNCIA DA PRESENA DE ELEMENTOS PROFTICOS NA PREGAO ATUAL: PREGANDO COMO OS PROFETAS DO ATMonografia apresentada junto ao curso de Teologia do Seminrio Teolgico Cristo Evanglico do Brasil como requisito final obteno do grau de Bacharel em Teologia sob a orientao de Franck NeuwirthSETECEB - SEMINRIO TEOLGICO CRISTO EVANGLICO DO BRASIL BACHAREL EM TEOLOGIA ANPOLIS 2011 3. iiTRABALHO DE CONCLUSO DO CURSO DE BACHARELORIENTADOR: Franck NeuwirthMEMBROS:1. ORIENTADOR: Franck Neuwirth 2. ________________________________________________________________________CURSO: BACHAREL EM TEOLOGIANota final: _____________________ Trabalho de Concluso de Curso aprovado em _____/_____/__________ Com ressalvas a: _____________________________________________________________SETECEB - SEMINRIO TEOLGICO CRISTO EVANGLICO DO BRASIL BACHAREL EM TEOLOGIA ANPOLIS 2011 4. iiiDedicatriaDedico a Deus, o Senhor da minha vida, minha esposa, Tainan, com imenso amor e carinho e minha filha Alice, presente que o Senhor nos deu durante o curso no seminrio.A Deus toda a glria. 5. ivAgradecimentosAgradeo a Deus pelo sustento dirio e pelas bnos dispensadas sobre mim durante estes quatro anos de curso. Louvado seja Aquele que me chamou e capacitou para a boa obra, minha fiel esposa, Tainan, que me auxilia em todos os momentos que preciso. Sem ela nada disso seria realidade, muito obrigado por tudo, te amo, aos familiares que, mesmo de longe, sempre me apoiaram nessa jornada no seminrio, aos irmos da Igreja Crist Evanglica de Queiroz e congregaes, e tambm aos demais mantenedores por acreditarem no meu chamado e investirem em minha vida, aos professores David Fernando Meier, por me direcionar na fase inicial do trabalho, e Franck Neuwirth, por me orientar com toda pacincia durante a elaborao do mesmo. 6. vEpgrafePorque a todos a quem eu te enviar irs; e tudo quanto eu te mandar falars. No temas diante deles, porque eu sou contigo para te livrar, diz o SENHOR Jeremias 1.7b e 8 7. viResumoObserva-se que a igreja atual tem enfrentado algumas crises no que diz respeito pregao. Alguns elementos bsicos da mensagem como a denncia do pecado, o chamado ao arrependimento, o anncio do juzo e da esperana de salvao esto sendo deixados de lado por muitos pregadores. Este trabalho tem como objetivo demonstrar a importncia destes elementos para a pregao atual. Esses elementos so encontrados logo nos primeiros pregadores, os profetas do Antigo Testamento. Assim, o estudo ser desenvolvido a partir da pregao destes profetas, apontando que os elementos discutidos esto fortemente presentes em sua mensagem. Alm disso, o presente trabalho demonstrar que tais elementos tambm estavam presentes na mensagem dos pregadores do Novo Testamento, reforando assim a sua importncia. Far tambm uma anlise da pregao atual, discutindo algumas das principais razes para a perda de tais elementos e apresentar alguns fatores importantes para uma pregao proftica nos dias atuais, destacando os benefcios que ela pode trazer para a igreja e a evangelizao. Enfim, chegar concluso que tais elementos so extremamente importantes e que existe uma urgente necessidade de traz-los de volta para os plpitos. 8. viiSumrio INTRODUO .......................................................................................................................... 1 1. PREGAO: UMA DEFINIO BBLICA ........................................................................ 4 1.1 Definio no Antigo Testamento ..................................................................................... 4 1.2 Definio no Novo Testamento ....................................................................................... 6 2 A PREGAO E OS PROFETAS DO ANTIGO TESTAMENTO ................................... 9 2.1 Definio dos Termos profh,thj e 9 ............................................................................. 2.2 Os Profetas como Pregadores ......................................................................................... 13 2.2.1 Chamados para Proclamar ........................................................................................ 14 2.2.2 Proclamando a Palavra de Deus ............................................................................... 16 2.3 Os Elementos da Pregao Proftica .............................................................................. 17 2.3.1 Presente e Futuro ...................................................................................................... 18 2.3.2 A Denncia do Pecado ............................................................................................. 19 2.3.3 O Anncio do Juzo .................................................................................................. 21 2.3.4 O Chamado ao Arrependimento ............................................................................... 23 2.3.5 O Anncio de Esperana e Salvao ........................................................................ 25 3. A PREGAO PROFTICA NO NOVO TESTAMENTO ............................................... 27 3.1 Elementos profticos em Joo Batista ............................................................................ 27 3.2 Elementos profticos em Jesus ....................................................................................... 28 3.3 Elementos profticos nos apstolos ................................................................................ 30 4. A PREGAO ATUAL E O SEU DECLNIO .................................................................. 33 4.1 A Perda da Primazia ....................................................................................................... 33 4.2 A Perda dos Elementos Profticos .................................................................................. 35 4.2.1 As Influncias do Pensamento Ps-Moderno........................................................... 35 4.2.2 Aprovao e Sucesso: negando fidelidade Palavra ............................................... 37 4.2.3 A Psicologizao da pregao .................................................................................. 39 9. viii5 FATORES IMPORTANTES PARA UMA PREGAO PROFTICA NOS DIAS ATUAIS E SEUS BENEFCIOS ............................................................................................. 42 5.1 Viso Correta da Funo Proftica ................................................................................. 42 5.2 Pregao Expositiva da Palavra de Deus ........................................................................ 44 5.3 Benefcios da Pregao Proftica.................................................................................... 45 CONCLUSO .......................................................................................................................... 48 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................................... 50 10. INTRODUOA pregao, sem dvida alguma, um importante meio pelo qual Deus tem transformado vidas durante a histria da humanidade. Basta olharmos para trs e perceberemos tal realidade durante os sculos passados. O mais fascinante, o fato de que Deus no escolheu seres angelicais, mas escolheu os homens para cumprirem a tarefa de pregar a Sua Palavra. Mesmo com todas as suas limitaes, os homens tm se espalhado pelo mundo, cumprindo essa misso. Por ser algo to especial, a pregao sempre teve destaque na Bblia. Ao folhearmos a Palavra, no difcil encontrarmos grandes pregadores que podem e devem servir de exemplos para os pregadores atuais. Esses grandes pregadores no so encontrados somente no Novo Testamento, mas tambm no Antigo Testamento. Portanto, baseando-se neste ltimo, desejamos apresentar a pregao dos profetas como exemplo para a pregao atual. Nessa monografia, desenvolveremos um estudo a respeito da pregao dos profetas do Antigo Testamento, destacando os elementos principais da sua pregao, que so a denncia do pecado, o anncio do juzo, o chamado ao arrependimento e o anncio de esperana e salvao, com o objetivo de demonstrar a importncia da presena desses elementos profticos na pregao atual. Chamaremos esses elementos de elementos profticos, no porque aparecem exclusivamente nos profetas, mas porque aparecem primeiramente, e com mais frequncia e intensidade na mensagem proftica. Para esse tipo de estudo e aplicao, tambm ser necessria uma avaliao da pregao atual, a fim de fazermos uma comparao entre a mensagem dos profetas e a mensagem atual. Sero pesquisados os elementos da pregao dos Profetas Anteriores e Posteriores do Antigo Testamento, com base na diviso feita na Bblia Hebraica. Os Profetas Posteriores j so conhecidos por ns, so eles: Isaas, Jeremias, Ezequiel, e os doze menores. A Bblia Hebraica no inclui Daniel e Lamentaes como Profetas posteriores. Eles so classificados como escritos. Os Profetas Anteriores consistem nos livros de Josu, Juzes, Samuel e Reis. O objetivo com relao pesquisa da mensagem dos profetas no de analisar cada profeta com 11. 2suas peculiaridades, mas destacar, de maneira geral, os elementos principais da mensagem proftica. Entendemos e justificamos a necessidade desse trabalho pelo fato de que, atualmente, muitos pregadores esto se desviando de uma mensagem centrada em Deus e na Sua Palavra. John MacArthur (2009, p.1) confirma esse fato dizendo que os pregadores esto horrorizados com o fato de que a ofensa do evangelho pode colocar algum contra eles, por isso omitem deliberadamente partes da mensagem que o mundo no aprovar. Com isso, elementos bsicos da pregao, como o pecado, arrependimento, juzo e salvao esto sendo negligenciados no plpito. Assim, apontando para os profetas como pregadores, queremos desafiar os pregadores atuais a manterem-se fiis na pregao. No desenvolvimento dessa pesquisa, inicialmente, tentaremos formular uma definio bblica da pregao. No podemos falar de to nobre tarefa, sem antes nos voltarmos Palavra de Deus, buscando entender o que a pregao. Assim, para que essa definio seja realmente bblica, torna-se necessria uma anlise dos principais termos nas lnguas originais referentes pregao, tanto do Novo Testamento como do Antigo Testamento. Depois de entendermos melhor sobre o que a pregao, estudaremos acerca da relao dos profetas com ela, buscando entender quem eram os profetas, atravs da definio dos termos originais referentes funo destes, demonstrando, assim, que seu principal servio era pregar a Palavra de Deus. Esse ser um importante passo para esse estudo, pois nele tambm faremos uma anlise da pregao dos profetas e demonstraremos, atravs de textos bblicos, os seus principais elementos. Com o objetivo de reforar a importncia dos elementos profticos para a pregao de hoje, faremos uma anlise da pregao no Novo Testamento. Nessa anlise, apontaremos a presena dos elementos da pregao dos profetas do Antigo Testamento na pregao neotestamentria. Esse apontamento ser feito atravs de um resumo, apresentando os textos bblicos que comprovam a presena de tais elementos na da pregao de Joo Batista, do Senhor Jesus e dos apstolos. Em seguida, estudaremos sobre a pregao atual e a sua relao com os elementos profticos. Primeiramente, refletiremos sobre o declnio e a perda da primazia da pregao em nossas igrejas. Depois, ento, demonstraremos que, junto com a perda da primazia, a pregao tambm tem perdido os elementos profticos. Deste modo, apresentaremos algumas razes para a perda desses elementos na pregao atual, discutindo as influncias do pensamento 12. 3ps-moderno, o desejo por aprovao e sucesso por parte dos pregadores e a tendncia da psicologizao do plpito. Antes de concluirmos, destacaremos alguns importantes fatores para uma pregao proftica na atualidade. Em primeiro lugar, discutiremos sobre a necessidade de uma viso correta da funo proftica. Nesse ponto, no teremos o objetivo de discutir o dom de profecia no Novo Testamento, pois, nesse caso, fugiramos muito do tema proposto. Contudo, refletiremos se podemos comparar o pregador atual com o profeta do Antigo Testamento. Em seguida, apresentaremos um direcionamento de como aplicar tais elementos na pregao de hoje, demonstrando a exposio bblica como o caminho para tal aplicao, tambm destacaremos a necessidade da capacitao do Esprito Santo para que tal aplicao acontea. Alm disso, para que a importncia dos elementos profticos seja mais realada, relacionaremos os benefcios que a presena dos elementos profticos no plpito atual pode gerar. Com essas consideraes, perceberemos que a pregao atual, por causa de seus desvios, precisa retornar com urgncia a uma abordagem proftica. Entenderemos tambm que tal abordagem no se refere ao estilo da pregao, mas principalmente mensagem. Concluiremos que os elementos profticos so realmente importantes para a pregao de hoje, por isso, precisam ser resgatados. Certamente, os profetas do Antigo Testamento so timos modelos de fidelidade Palavra, com os quais podemos aprender a servir melhor a Deus no ministrio da pregao. 13. 41. PREGAO: UMA DEFINIO BBLICAHoje em dia, no contexto brasileiro, ouvimos muito falar sobre pregao. Andando nas ruas podemos facilmente encontrar cartazes, ouvir anncios e receber convites para ouvir algum orador, algum que tem algo a comunicar. Com todo esse movimento, muitas palavras esto sendo utilizadas a fim de descrever o ofcio de algum que comunica uma mensagem. bem comum recebermos um convite a fim de ouvir uma palestra, pregao, sermo, estudo, preleo e outros. Dentro desse contexto, nosso desafio buscar entender e trazer de volta o sentido bblico da pregao. Pensando nisso, desejo, nesse primeiro captulo, buscar uma definio bblica da pregao. Ao contrrio do que muitos pensam; a pregao no pode ser definida somente com base no Novo Testamento. Este nos traz uma iluminao bem abrangente acerca da pregao. Contudo, existe um desdobramento da pregao desde os primrdios do Antigo Testamento, isso faz com que toda a Bblia seja necessria na busca pela definio da pregao. Sendo assim, no podemos buscar uma definio da pregao sem primeiramente nos voltarmos ao Antigo Testamento.1.1 Definio no Antigo Testamento No Antigo Testamento encontramos as palavras ( qer), proclamao, e (, dar boas notcias, pregar, mostrar, tornar pblico que descrevem um pouco a respeito da pregao. A palavra ( qer), proclamao, aparece nesta forma somente uma vez, quando, pela segunda vez, Deus diz a Jonas: Dispe-te, vai grande cidade de Nnive e proclama contra ela a mensagem que eu te digo (Jn 3.2).1 A palavra da qual (qer) deriva ( qara) chamar, convocar, recitar, que tem como raiz qr: A raiz qr denota basicamente a enunciao de um vocbulo ou mensagem especfica. No caso deste ltimo uso, a enunciao dirigida geralmente a um receptor especfico com o objetivo de obter uma resposta especfica, por conseguinte, pode-se traduzir o verbo por apregoar, convidar (HARRIS, 1998, p.1364).1No texto de (Jn 3.2), alm de ( qer), tambm aparece a palavra ( qera), traduzida por proclama. Todas as duas so derivadas da raiz qr. 14. 5Como Harris observa, as palavras derivadas da raiz qr do basicamente uma ideia de divulgao de uma mensagem. Em algumas passagens podemos encontrar palavras dessa raiz sendo utilizadas para descrever uma mensagem vinda da parte de Deus. Em Jeremias 3.12 Deus diz ao profeta: Vai, pois, e apregoa estas palavras para o lado do Norte e dize: Volta, prfida Israel, diz o SENHOR, e no farei cair a minha ira sobre ti, porque eu sou compassivo, diz o SENHOR, e no manterei para sempre a minha ira. Nesse caso, a palavra traduzida por apregoa ( qara). Aqui vemos claramente Deus entregando uma mensagem ao profeta. Tal mensagem deveria ser recebida de Deus e apregoada a um destinatrio especfico. Observe que assim como o destinatrio, a mensagem e o propsito dela so especficos. Temos uma mensagem especfica, Volta, prfida Israel..., um destinatrio especfico, lado do Norte, e um propsito especfico, a converso de Israel. Portanto, podemos dizer que a pregao no Antigo Testamento possui essa dinmica de recepo e transmisso da mensagem. Isto , receber a mensagem especfica de Deus e transmiti-la a um destinatrio especfico para atingir um propsito especfico.2 A palavra ( ) dar boas notcias, pregar, mostrar, tornar pblico e seus derivados, aparecem na maioria das vezes nos livros de Samuel, Reis e Isaas. Por sua vez, Harris (1998, p.226-227) explica que ( ) considerada uma raiz comum nas lnguas semticas e traz consigo um sentido de trazer novas, especialmente relativas a encontros militares, contudo no necessariamente sempre so boas novas, pois tambm encontramos ( ) se referindo a ms notcias.3 Como os livros de Samuel e Reis so especialmente cheios de batalhas militares, compreensvel que ( ) aparea na maioria das vezes nesses dois livros. Porm, o sentido de ( ) ultrapassa o ambiente militar e alcana um sentido teolgico mais profundo em alguns textos especficos, especialmente em Isaas:Esse conceito de mensageiro recm chegado (sic) do campo de batalha encontra-se no mago dos usos mais teologicamente fecundos em Isaas e em Salmos. Aqui o Senhor que vitorioso sobre os seus inimigos. Por causa da sua vitria, ele vem agora libertar os cativos (Sl 68.11[12]; Is 61.1). A sentinela espera ansiosamente pelo mensageiro (Is 52.7; cf 2 Sm 18.25 e ss), que trar as boas novas. A princpio, somente Sio conhece a verdade (Is 40.9; 41.27), mas finalmente todas as naes contaro a histria (Is 60.6). A realidade deste conceito s finalmente encontrada em Cristo (Lc 4. 16-21; 1Co 15.54-56; Cl 1.5, 6; 2.13-15) (HARRIS, 1998, P. 227).2Outras passagens onde os verbos da raiz qr descrevem uma mensagem especfica vinda da parte de Deus (Jz 7.3; Jr 3.12, 11.6, 19.2, Is 40.6, 58.1; Zc 1.14,17, 7.7,13). 3 Entre outros, posso destacar dois eventos em Samuel em que ( basar) aparece: morte de Saul (1Sm 31.9; 2Sm 1.20; 4.10) e a morte de Absalo (2Sm 18.19). 15. 6Levando em conta a observao de Harris, podemos afirmar que ( ) nesses textos citados acima, alcana um significado teolgico mais profundo. Pois no se refere s boas notcias de uma batalha de homens, mas refere-se s boas novas de salvao, no se refere s boas notcias de um reino humano, mas refere-se s boas novas do Reino de Deus. nesse sentido que o verbo hebraico aparece no texto de Isaas: O Esprito do SENHOR Deus est sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de corao, a proclamar libertao aos cativos e a pr em liberdade os algemados (Is 61.1). Em ltima instncia, o texto de Isaas 61.1-3 se cumpre em Cristo, pois ele o que vem trazer as boas novas (cf. Lc 4.16-21). Porm, no podemos descartar que o profeta tambm se v como aquele que prega as boas novas. Nesse caso, Ridderbos (1995, p.487) observa que as duas interpretaes no precisam excluir-se mutuamente.4 A anlise teolgica de () e ( ) explica que a pregao no Antigo Testamento o ato de proclamar a mensagem de Deus ao homem. Essa mensagem tambm descrita como boas novas de salvao, pois j aqui no Antigo Testamento a inteno trazer o homem para perto de Deus. As duas palavras hebraicas analisadas possuam um significado comum como chamar, convocar e trazer boas notcias de guerra. Porm, foram escolhidas pelos escritores bblicos para descrever a nobre tarefa da pregao.1.2 Definio no Novo Testamento No Novo Testamento encontramos as palavras euvaggeli,zw () anunciar boas novas, proclamar, pregar, khru,ssw () anunciar, tornar conhecido, proclamar, kh/rux () arauto, diagge,llwn () proclamar, fazer conhecido e katagge,llw () proclamar. Todas essas palavras e seus derivados aparecem se referindo de alguma maneira ao ofcio da pregao. Dentre essas palavras, quero destacar euvaggeli,zw () e khru,ssw (), pois so mais utilizadas e de maneira geral nos ajudam a entender a definio neotestamentria da pregao. A palavra euvaggeli,zw () e palavras derivadas, muitas vezes so utilizadas na LXX para traduzir o hebraico ( ) e seus derivados, verbo que em Isaas 61.1-3 se 4Sobre a interpretao completa de Isaas 61 (Cf. Hidderbos, 1995, p. 487-492). 16. 7refere s boas novas de salvao.5 Para entendermos melhor sobre a proclamao das boas novas no Novo Testamento, devemos no s prender a nossa ateno ao verbo euvaggeli,zw (), mas tambm ao substantivo euvagge,lion (). Coenen (2000, p.762) observa que no Novo Testamento a ao da proclamao no se apresenta apenas pelo verbo euangelizomai (como e.g. em 1Co 1.17), como tambm por euangelion que se emprega como substantivo da ao. Assim, em 2Corntios 8.18 euangelion significa a pregao do evangelho. Assim, tanto o verbo como o substantivo em vrios contextos do Novo Testamento referem-se proclamao do evangelho. Alm disso, Coenen (2000, p.762) diz que o genitivo nas frases evangelho de Deus, ou evangelho de Cristo e do Filho de Deus (e.g. Rm 1.1; 15.16; 1Co 9.12; 2Co 2.12) deve ser tomado tanto como objetivo quanto como subjetivo: Cristo ou Deus tanto o contedo quanto o autor do evangelho. Aquele que proclama o evangelho est proclamando no uma mensagem da sua parte, mas de Deus, mensagem essa que o contedo tem a ver com o prprio Deus. Em Lucas 9.6 os discpulos percorrem as aldeias anunciando o evangelho euvaggelizo,menoi (). Eles no anunciavam uma mensagem que no viera deles, mas de Deus. O prprio Jesus os enviou a pregar, portanto, era debaixo da autoridade de Jesus que eles anunciavam a mensagem. Nas pginas do Novo Testamento temos essa mensagem escrita, porm, Coenen (2000, p.762) observa que por mais variados que sejam a nfase e o desenvolvimento do termo euangelion no NT, sempre se refere proclamao oral da mensagem de salvao, e nunca alguma coisa fixada por escrito, tal como um livro ou uma carta. Olhando a partir dessa perspectiva para o termo euangelion, podemos entender melhor a importncia que o Novo Testamento d proclamao oral da mensagem da salvao. A mensagem escrita para preservao precisa ser transmitida oralmente por pregadores da palavra de Deus. Portanto, podemos dizer que euvaggeli,zw () a proclamao das boas novas de salvao de Deus ao homem, exercida debaixo da autoridade do prprio Deus A palavra khru,ssw (), na LXX traduz o termo hebraico () cerca de nove vezes.6 Assim como acontece com euvaggeli,zw () e ( ), tambm acontece com khru,ssw () e (), existe uma aproximao entre os sentidos dos 5( basar) verbo que estudamos anteriormente (cf. cap. 1.1). Isso sugere uma aproximao entre o sentidoteolgico de euvaggeli,zw (euangelizo) e ( basar). 6 (qara) verbo que estudamos anteriormente (cf. cap. 1.1). 17. 8verbos hebraico e grego. Por mais que exista alguma aproximao entre os verbos, devemos entender khru,ssw () especialmente no contexto do Novo Testamento. O verbo khru,ssw () no Novo Testamento aparece se referindo a objetos variados, algumas vezes o objeto o evangelho (1Ts 2.9; Gl 2.2; Mc 1.14, 13.10; Mt 4.23), outras vezes o prprio Jesus (1Co 1.23, 15.12; 2Co 1.19), quando se refere a proclamao de Joo Batista o objeto o batismo (Mc 1.4; Lc 3.3; At 10.37), em Lucas e Mateus o objeto o Reino (Lc 8.1, 9.2, At 20.35; Mt 4.23, 9.35) (Coenen, 2000). Com isso, podemos entender que khru,ssw () no usado para especificar o contedo da mensagem, mas sim usado para denotar a proclamao como um meio para transmisso da mensagem. Vemos isso na figura do kh/rux () arauto, que era um servo real incumbido de proclamar em alta voz os vrios decretos do rei, independente do contedo da mensagem, o papel do arauto era proclamar7. Da mesma forma khru,ssw () enfatiza a proclamao e no o contedo:O conceito totalmente predominante no NT, da proclamao como processo e evento, cujo contedo s pode ser determinado por uma definio mais exata, confirmado pela freqncia (sic) consideravelmente maior do emprego do verbo em comparao com os substantivos. Kerysso um de um certo nmero de verbos formais de informao e comunicao, que conotam certos meios de comunicao, mas que no se limitam quanto ao contedo (COENEN, 2000, vl 2, p. 1862).Por mais que khru,ssw () no especifique o contedo da mensagem, o prprio Coenen reconhece que em Lucas, por exemplo, o verbo empregado especialmente quando se trata da proclamao da mensagem do reino de Deus que raiou em Cristo (Lc 1.19, 2.10, 3.18, 9.6; At 5.52; 8.4 e segs.).8 Aps essa anlise, possvel concordar com o que Elwell (2009, p. 172) diz: nos dois testamentos, as palavras usadas para denotar a pregao possuem o elemento essencial de proclamar ou anunciar. A mensagem sempre especfica (boas novas de salvao),9 transmitida a um destinatrio especfico (homem) e com um propsito especfico (converso). Portanto, podemos definir biblicamente que a pregao a proclamao das boas novas de salvao para o homem, feita por um indivduo chamado por Deus para isso, com o propsito trazer o homem novamente para perto de dEle. 7O verbo khru,ssw (kerysso) derivado do substantivo kh/rux (keryx). No NT kh/rux (keryx) traduzido como pregador (Cf. Coenen, 2000, vl 2, p. 1861). 8 Para ver o argumento completo ( Cf. Coenen, 2000, vl 2, P. 1865-1866). 9 Com boas novas de salvao no me refiro somente ao Evangelho plenamente entendido no NT, mas me refiro tambm ao AT. No AT as mensagens de Deus transmitidas pelos pregadores eram sempre boas novas de salvao. Deus falava para trazer o homem para Si. Mesmo que no citasse Cristo, de alguma forma apontava para Ele. 18. 92 A PREGAO E OS PROFETAS DO ANTIGO TESTAMENTOAps definirmos a pregao usando toda a Bblia, precisamos voltar-nos mais especificamente para os profetas do Antigo Testamento, a fim de entendermos melhor a relao deles com a pregao. Esse um importante passo na nossa linha de raciocnio, pois visa demonstrar os profetas como verdadeiros pregadores e apresentar os principais elementos da pregao proftica.2.1 Definio dos Termos profh,thj e Em nossos dias, exceto nas igrejas conservadoras, encontramos poucas pessoas que consideram os profetas como pregadores da palavra de Deus. Existe uma ideia popular sobre o profeta que muito influenciada e est fundamentada nos movimentos neopetencostais. Essa concepo popular diz que o profeta aquele que anuncia o futuro, pode prever o que vai acontecer, consegue ver e descobrir o que as pessoas esto passando, antes que algum o revele. Na ideia popular o profeta simplesmente um vidente a quem podemos recorrer para recebermos orientao. Assim, o profeta pode ser comparado facilmente com um cartomante ou qualquer outro tipo de vidente. A viso bblica do profeta no essa. claro que temos o elemento de predio presente nos profetas. Porm, como veremos adiante, o fato de predizer no um fim em si mesmo, como acontece com um adivinho, mas sempre tem uma relao com o presente. Para entendermos melhor quem eram os profetas e qual era a sua funo, devemos trabalhar na definio dos termos profh,thj ( e . O termo profeta que hoje temos no portugus vem do grego profh,thj (. Na LXX, o termo grego traduz o hebraico por isso, importante buscarmos o significado de no Antigo Testamento.10 A traduo do Antigo Testamento para o grego foi feita em Alexandria, no Egito. Ali existia uma comunidade de judeus desde a sua fundao por Alexandre o Grande, em 331 a.C. Segundo Youngblood (2004), esses judeus j haviam esquecido sua lngua nativa e falavam somente o grego, por isso perceberam sua necessidade de terem as Escrituras hebraicas no idioma que entendiam. Ele tambm destaca 10A LXX, Septuaginta, a primeira traduo do Antigo Testamento, a qual foi feita do hebraico para o grego. Recebe o nome de Septuaginta porque, segundo a tradio, o Pentateuco foi traduzido por setenta ancios que foram de Israel para Alexandria com esse propsito. 19. 10que primeiro foi traduzido o Pentateuco, pouco antes de 200 a.C. e as outras pores foram traduzidas no sculo seguinte. No perodo da traduo da LXX, na cultura grega o termo era usado para descrever um porta-voz da divindade diante do povo, proclamador e interpretador da revelao de alguma divindade. No orculo de Delfos, por exemplo, no templo de Apolo, vemos a sacerdotisa Ptia que sentava num trip acima da terra onde recebia inspirao e emitia sons incompreensveis a respeito do futuro. Os que iam consultar o orculo dependiam dos oficiais do santurio para compreenderem a mensagem. Esses oficiais traduziam os sons enigmticos de Ptia de maneira que os visitantes pudessem entender; tais oficiais eram chamados de profetas.11 O fato de conhecer o pano de fundo grego do termo no nos faz chegar diretamente concluso que os profetas bblicos se assemelham aos profetas gregos, nem mesmo podemos pensar que os profetas gregos nos ajudam a entender os profetas bblicos. claro que existem alguns paralelos que fizeram com que o termo grego se aproximasse do hebraico. Porm, as diferenas so bem mais notveis e, portanto, imprescindveis para chegarmos concluso de que no podemos conhecer os profetas bblicos a partir do pano de fundo dos profetas gregos. No quadro a seguir temos algumas diferenas essenciais entre os profetas bblicos e os gregos:DIFERENAS ENTRE OS PROFETAS DO ANTIGO TESTAMENTO E OS GREGOS Profetas do Antigo TestamentoProfetas GregosEram MonotestasEram politestasRecebiam inspirao direta - a palavra vinha Recebiam inspirao indireta - a palavra dos diretamente de Deusdeuses vinha atravs da sacerdotisa (Ptia)No precisavam interpretar sons enigmticos, Precisavam interpretar os sons enigmticos. poisDeusfalava-lhesdemaneira Alm de interpretar, testavam, completavamcompreensvele formulavam o dito finalProfetizavam ao comando de DeusProfetizavam somente ao serem consultadosEram chamados por DeusEram chamados pela instituio oracularTinham compromisso com a Tor O No tinham uma lei como base, tudo chamado para obedincia lei era constante11dependia da revelao recebidaPara saber um pouco mais sobre o pano de fundo do termo (Cf. Coenen, 2000, vl 2, p. 1876-1879). 20. 11Como vimos acima, as diferenas entre os profetas bblicos e gregos so grandes. Sendo assim, no podemos incorrer no erro de alguns que ressaltam as semelhanas e acabam delimitando o significado bblico de dentro do contexto grego. O contexto de serve apenas para nos esclarecer as razes da utilizao do mesmo na traduo do hebraico Ao ser utilizado na LXX para traduzir , o termo recebe uma nova roupagem e passa a ser delimitado pelo termo hebraico. Portanto, para entendermos o significado de no Antigo Testamento, precisamos trabalhar tambm na definio do hebraico O termo traduzido basicamente por porta-voz; profeta. De acordo com Harris (1998), os estudiosos entendem de duas maneiras esse termo: no sentido passivo e no sentido ativo. Aqueles que entendem esse termo no sentido ativo vo dizer que a funo de expressar revelaes vindas de Deus. J aqueles que entendem no sentido passivo vo dizer que a nfase do termo est na atitude de receber a mensagem de Deus e depois proclam-la. Nessas duas maneiras de entender o termo, no h muita diferena no significado, mas sim na nfase. Alguns colocam a nfase no ato de receber a mensagem (passivo) e outros no ato de proclamar a mensagem (ativo). O significado de no tm sido encontrado com base na etimologia, pois essa j se perdeu. Contudo, os estudiosos tm buscado o sentido do termo com base no seu uso geral, mais precisamente com base no seu uso em trs textos clssicos do Pentateuco. Para chegarmos a um maior entendimento sobre tambm precisamos nos voltar para esses textos. O primeiro texto para o qual iremos nos voltar est em xodo 7.1-2a: Ento, disse o SENHOR a Moiss: V que te constitu como Deus sobre Fara, e Aro, teu irmo, ser teu profeta. Tu falars tudo o que eu te ordenar; e Aro, teu irmo, falar a Fara. Segundo Harris (1998), esse texto nos deixa claro que, independente da sua etimologia, algum que tem autorizao para falar em nome de outro. Aro tinha autorizao para falar em nome de Moiss diante de Fara, por isso nesse texto Aro o profeta ( de Moiss. O segundo texto o de Nmeros 12.1-8, quando Miri e Aro disseram: Porventura, tem falado o SENHOR somente por Moiss? No tem falado tambm por ns? (vs 2). Com essa fala eles estavam se colocando no lugar de Moiss, como mediadores das revelaes de Deus. O texto nos mostra que Deus responde a Miri e Aro mostrando-lhes que Moiss quem era o profeta no meio deles: se entre vs h profeta, eu, o SENHOR, em viso a ele, 21. 12me fao conhecer ou falo com ele em sonhos. No assim com o meu servo Moiss, que fiel em toda a minha casa (vs 6b-7). Moiss era esse profeta porque Deus falava com ele: Boca a boca falo com ele, claramente e no por enigmas; pois ele v a forma do SENHOR (vs 8). Podemos entender com essa passagem que um profeta s pode ser qualificado como tal se Deus falar com ele, dando-lhe uma mensagem para anunciar. Esse era o caso de Moiss.12 O terceiro texto est em Deuteronmio 18.9-22. Nesse texto, Deus probe os israelitas de se envolverem em prticas de adivinhao, consultarem necromantes, encantadores, mgicos e etc., pois tudo isso era abominao ao SENHOR (vs 12). Contudo, Deus no deixaria Israel sem profeta. Depois de Moiss Deus levantaria um profeta e falaria por meio dele: Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e ele lhes falar tudo o que eu lhe ordenar (Dt 18.18). Em ltima anlise, esse texto tem cumprimento em Jesus, que foi o maior de todos os profetas, e assim como Moiss, foi o Mediador de uma aliana entre Deus e seu povo.13 Porm, no podemos negar que Deus falou depois de Moiss atravs de outros profetas. A sucesso de profetas foi estabelecida em Israel e Deus falava por meio dos seus servos profetas. Em Deuteronmio 18 temos dois sinais importantes que revelam o verdadeiro profeta: 1) o profeta verdadeiro fala somente o que Deus manda falar, por isso, s fala em nome de Deus (v. 20). Isso indica que o verdadeiro profeta no deve ensinar em nome de outros deuses, nem desviar o povo levando-o idolatria e ao engano, pelo contrrio, suas palavras devem vir diretamente de Deus para levar o povo verdade;14 e 2) o profeta verdadeiro fala e a palavra se cumpre (v. 22). Nesse versculo h clareza no fato de que quando o SENHOR fala pelo profeta a palavra se cumpre, mas quando a palavra no se cumpre, o profeta falou de si mesmo e no da parte do SENHOR. Com base nos trs textos analisados acima (x 7.1 e 2a; Nm 12.1-8; Dt 18.9-22), podemos dizer que aquele que tem autorizao para falar em nome de Deus, pois Deus fala com ele e tambm por meio dele. Mais uma vez podemos notar a dinmica existente entre receber e transmitir a palavra de Deus. Outros termos usados para designar o profeta do Antigo Testamento tambm podem nos ajudar a entender essa dinmica. Dentre eles, podemos destacar () que significa homem de Deus e () que significa vidente.12Cf. comentrio de Harris acerca dessa passagem (Harris, 1998, p.905). (cf. At 3.22-26). 14 Em Dt 13.1-5 Deus alerta o povo a no ouvirem os falsos profetas que enganam e levam idolatria. 13 22. 13A expresso homem de Deus se refere aos profetas e descreve o ntimo relacionamento do profeta com Deus. uma designao antiga e foi utilizada para se referir a Moiss (Dt 33.1), Samuel (1Sm 9.6 e 7), Semaas (1Rs 12.22), Elias (1Rs 17.18 e 24) , Eliseu (2Rs 5.8,14 e 15) e outros. A maioria das citaes refere-se a personagens que viveram na poca da diviso do reino de Israel, por volta de 931, at o incio do sculo VIII, quando morreu Eliseu. O termo vidente tambm aparece no Antigo Testamento descrevendo os profetas.15 Em (1Sm 9.9) tambm vemos que vidente uma expresso antiga que mais tarde foi substituda por profeta. Contudo, Freeman (apud Harris, 1998) chama a ateno para o fato de que o termo vidente enfatiza o elemento subjetivo, ou seja, a forma da recepo da mensagem por meio da viso, enquanto enfatiza o elemento objetivo, que a proclamao da mensagem recebida. Com base no texto de (1Sm 9.9), no podemos concordar em tudo com Freeman, pois ali dito que o termo vidente foi substitudo por profeta e no que os termos se complementam. Por outro lado, no podemos descartar o pensamento de Freeman, pois o termo vidente tambm aparece em contextos quando os profetas recebiam revelaes por meio de vises.16 Portanto, mais correto concordar com Osborne que faz a seguinte colocao sobre os diversos termos utilizados para descrever os profetas: estes no so usados para diferenciar aspectos isolados do papel proftico, mas antes so termos usados em pocas ou lugares diferentes. Tudo se refere funo principal do profeta como porta-voz de Deus (2009, p. 334).2.2 Os Profetas como PregadoresAt o presente momento tratamos das definies dos termos que se referem aos profetas do Antigo Testamento. Nesse ponto veremos os profetas como pregadores, ou seja, recebendo e proclamando a palavra de Deus aos seus ouvintes. Atualmente, poucas vezes os profetas so vistos como pregadores, mas cada vez mais os estudiosos esto certos de que os profetas eram homens escolhidos por Deus para pregar a sua palavra:15 16(Cf. 1Sm 9.9,11,18 e 19; 2Sm 15.27; Is 30.10; 1Cr 9.22; 26.28; 29.29; 2Cr 16.7.10). (Cf. Is 30.10). 23. 14O profeta, como homem da palavra, no s mensageiro, mas tambm pregador; tal ele se mostra quando apresenta, motiva e explica a mensagem de Iahweh, geralmente breve e relativa a um acontecimento iminente, exprimido tambm os seus sentimentos e opinies pessoais (SHREINER, 2004, p. 185).O ofcio da palavra no acontecia por acaso na vida dos profetas, pelo contrrio, eles eram chamados por Deus com o propsito de pregar a Sua mensagem.2.2.1 Chamados para ProclamarO chamado dos profetas algo bem individual. Tal chamado acontece de maneira pessoal com cada um deles, porm, todos tm algo em comum, pois foram chamados para proclamar a mensagem de Deus. Lasor (1999, p. 240) confirma essa verdade quando diz que os profetas bblicos estavam certos no apenas de que Deus lhes havia falado, mas tambm de que eram chamados para falar a mensagem de Deus. O chamado dos profetas caracterizado pela revelao de Deus a eles. No eram os profetas que queriam ser proclamadores, nem mesmo em momento algum demonstraram um desejo ou sonho de se tornarem profetas, mas Deus que os comissiona de maneira que eles so surpreendidos pelo chamado de Deus. Ams, por exemplo, demonstra ter sido surpreendido por Deus ao declarar: Eu no sou profeta, nem discpulo de profeta, mas boiadeiro e colhedor de sicmoros. Mas o SENHOR me tirou de aps o gado e o SENHOR me disse: Vai e profetiza ao meu povo de Israel (Am 7.14b e 15). Ams tinha o seu trabalho e uma vida comum, seus sonhos no pareciam estar voltados para ser um profeta, pelo contrrio, ele diz que Deus o tirou das suas atividades, ou seja, ele foi surpreendido por Deus. Alm de serem surpreendidos, os profetas tambm se sentiam coagidos pelo chamado de Deus. Samuel foi chamado para entregar uma mensagem de condenao a Eli e seus filhos, nesse momento ele sentiu-se coagido e diz o texto que ele temia relatar a viso a Eli (1Sm 3.15b). O prprio Ams expressa a coao de Deus quando diz: Rugiu o leo, quem no temer? Falou o SENHOR Deus, quem no profetizar? (Am 3.8). Talvez o profeta que demonstra mais claramente a coao de Deus seja Jeremias; ele diz ter sido persuadido, ou seduzido por Deus: Persuadiste-me, SENHOR, e persuadido fiquei; mais forte foste do que eu e prevaleceste. (Jr 20.7a). Aqui vemos a coao de Deus tambm porque Jeremias sentiuse forado, pois o SENHOR foi mais forte que ele. Desde o incio, Jeremias tenta negar o chamado, porm, no consegue (Jr 1.1-10). 24. 15Podemos perguntar: por que Deus age dessa maneira ao chamar os profetas? Ao observarmos a vida de alguns profetas, iremos facilmente perceber a dureza da misso dos profetas. Elias, por exemplo, foi perseguido por Jezabel, e ao fugir, chegou a pedir a morte para si (1Rs 19.4). Jeremias tambm entrou em crise no seu ministrio, ele chegou a amaldioar o dia em que nasceu dizendo que preferia no ter nascido (Jr 20.14-18). A tarefa do profeta no era nada fcil, se Deus deixasse que eles escolhessem, certamente eles no aceitariam o chamado, nesse caso a coao torna-se necessria. Ao mesmo tempo em que Deus coagia os profetas, Ele tambm prometia que estaria com eles, por mais que a tarefa fosse rdua (Jr 1.8). Os profetas poderiam confiar no SENHOR, pois Ele estaria com eles, por isso, eles no deviam temer (Ez 2.6; x 3.12). Apesar de no prometer que seria fcil, Deus, para trazer consolo aos profetas, prometia-lhes a Sua presena. O mesmo acontece no Novo Testamento, onde Jesus no promete nenhuma facilidade, porm, promete a Sua presena para aqueles que vo proclamar a sua mensagem (Mt 28.20). No chamado, Deus se revelava aos profetas, porm, nem sempre os profetas eram chamados de maneira sobrenatural:O chamado do profeta pode ocorrer por meio de uma experincia de revelao sobrenatural, como nos casos de Isaas (6.1-13) ou Jeremias (1.2-10); mas tambm pode ocorrer por meios naturais, por exemplo, quando Elias lanou o seu manto sobre Eliseu (1Rs 19.16), significando a transferncia de autoridade e poder, e isso pode envolver tambm a uno (OSBORNE, 2009, p.332).A maneira como o profeta foi chamado no muda a sua relao com Deus e a mensagem. Alguns tendem a considerar mais capacitados aqueles que receberam o chamado com uma manifestao sobrenatural de Deus, o que no verdade. Tanto no caso de Isaas e Jeremias, como no caso de Eliseu, o chamado foi confirmado por Deus, pois Deus falou atravs de cada um deles, independente da forma como aconteceu o chamado. O relato que temos do chamado dos profetas tem funes especficas:A descrio do chamado tem pelo menos duas funes nos livros profticos. Em primeiro lugar, valida a autoridade do profeta, distinguindo-a daquela loquacidade pretendida pelos falsos profetas. Em segundo lugar, contm resumos dos principais temas dos profetas (LASOR, 1999, p. 240). 25. 16A autoridade para a proclamao da mensagem no vinha dos profetas, mas vinha de Deus. No chamado, Deus delegava autoridade aos profetas e era debaixo dessa autoridade que eles poderiam levar a mensagem. No Antigo Testamento existiam os profetas profissionais, que eram os profetas cultuais e os profetas da corte.17 Muitos desses profetas profissionais do Antigo Testamento foram considerados falsos profetas. Isso aconteceu porque eles profetizavam sem serem chamados e autorizados por Deus, assim profetizavam mentiras.18 Por outro lado, temos os profetas individuais, tais como Ams, Osias, Jeremias, Isaas, Miquias, Sofonias e etc; esses profetizavam com base numa vocao especial, por isso, estavam certos de que no estavam a servio do santurio ou do rei, mas a servio de Deus. Deste modo, a descrio que ns temos do chamado nos ajuda a entender a autoridade dos profetas. Os profetas foram chamados para proclamar. Shreiner (2004, p. 176) diz que: Ser chamado e profetizar esto em relao de causa e efeito. O chamado foi um marco na vida dos profetas. A partir do chamado, os profetas experimentam momentos de ntima relao com Deus, onde Deus lhes revela a sua palavra. Os profetas agora estavam a servio de Deus; proclamar a Sua palavra era a misso que eles tinham.2.2.2 Proclamando a Palavra de DeusComo vimos acima, os profetas tinham a misso de proclamar a palavra de Deus ao povo. Como mensageiros de Deus, eles deveriam anunciar exatamente o que Deus os havia mandado dizer. Vimos tambm que o chamado os qualificava para falar, no como representantes de uma instituio proftica, mas como porta-vozes de Deus. Sendo assim, as palavras dos profetas eram palavras do prprio Deus. vlido citar alguns exemplos que demonstram que a palavra dos profetas eram as prprias palavras de Deus: Jeremias considerado por alguns como o profeta da palavra do SENHOR, isso porque ele o profeta que mais utiliza a expresso Assim diz o SENHOR dentre todos os profetas do Antigo Testamento.19 Na prpria vocao de Jeremias Deus diz: 17Os profetas cultuais eram aqueles que participavam do culto com os levitas e sacerdotes, j os profetas da corte, como o prprio ttulo sugere, profetizavam na corte e eram constantemente consultados pelo rei (cf. Fohrer, 2008, p.305-308). 18 (Cf. 1Rs 22. 5-12). 19 Conforme J.G.S.S. Thomson, Jeremias empregou Assim diz o SENHOR ou frases semelhantes, cerca de cento e cinqenta e sete vezes, das trezentas e quarenta e nove ocasies nas quais tais frases se empregam no AT. (apud. KAISER Jr, 1984, p. 236) 26. 17Eis que ponho na tua boca as minhas palavras (Jr 1.9b). Estava bem claro para Jeremias que o que ele falaria vinha de Deus e no dele, por isso, as expresses Assim diz o Senhor e veio a mim a palavra do SENHOR so bem frequentes em Jeremias.20 Porm, essas expresses tambm aparecem em outros profetas, tais como Isaas (Is 7.7), Ezequiel (Ez 5.5), Miquias (Mq 4.6), Joel (Jl 2.12), Ageu (Ag 1.1), Zacarias (Zc 1.3), alm de aparecer tambm em profetas como Micaas (1Rs 22.19), Elias ( 1Rs 17.14) e Eliseu (2Rs 3.16). tambm muito comum encontrarmos passagens em que os profetas usam a primeira pessoa para falarem as palavras de Deus, afirmaes como Eu sou o SENHOR (Is 45.5), eu entregarei (1Rs 20.13) e etc. deixam mais clara essa identificao das palavras dos profetas como palavras de Deus. Portanto, essas passagens confirmam que os profetas tinham conscincia de que deveriam pregar somente a palavra do SENHOR, pois para isso que foram chamados. O fato das palavras dos profetas serem palavras do prprio Deus implica autoridade divina na proclamao proftica do Antigo Testamento. O porta-voz oficial de um governo no fala as suas palavras, por isso no fala com a sua prpria autoridade, mas com a autoridade do governo que lhe enviou. Assim tambm o profeta do Antigo Testamento, pois fala com a autoridade de Deus porque as palavras no so suas, mas de Deus.2.3 Os Elementos da Pregao Proftica Entender que os profetas pregavam a prpria palavra de Deus tambm nos faz perceber a importncia dos principais elementos da pregao dos profetas, pois eles no vm dos profetas, mas de Deus. Estes elementos so baseados nos principais tipos de orculos presentes na mensagem dos profetas: orculos de acusao, orculos de julgamento, orculos de instruo, orculos de esperana e orculo de salvao.21 Tais elementos so partes da mensagem dos profetas, como se a pregao dos profetas fosse um quebra-cabea e cada elemento fosse uma pea desse quebra-cabea. O objetivo desse ponto conhecer melhor as peas desse quebra-cabea, a fim de descobrir com mais preciso o que Deus falou por meio desses homens. A palavra pregada pelos profetas revelava o prprio carter de Deus.20Algumas passagens que aparecem essas expresses (Jr 1.2,4,11e13; 2.1; 6.9,16e22; 7.1; 8.4; 9.7,17e23; 10.2; 11.1; 13.1 e etc) 21 De acordo com Hill, esses so os principais orculos profticos (Hill, 2007, p. 452). Hill no cita o orculo de salvao, talvez porque trata-o junto com o de esperana, porm outros estudiosos citam (cf. Sicre, 1996, p. 154). O termo orculo em alguns casos pode significar provrbio, parbola e metfora, porm, na maioria dos casos o termo aparece referindo-se a um discurso proftico (Cf. Youngblood, 2004, p. 1051e1052). 27. 18Cada elemento da pregao proftica revela um pouco sobre o Seu amor, Sua misericrdia, Sua santidade, Sua justia e etc. Assim, podemos dizer que Deus se revela atravs da pregao dos profetas. No possvel analisar todo o contedo da mensagem dos profetas, esse tambm no o objetivo aqui, mas desejo destacar os elementos mais presentes nos profetas em geral.2.3.1 Presente e FuturoAntes de entrarmos nos elementos em si, precisamos entender a interao que existe entre presente e futuro na pregao proftica. Apesar de hoje os profetas serem mais conhecidos como aqueles que desvendam o futuro, encontramos vrias pginas dos livros profticos sem nenhuma meno do futuro. Os profetas pregavam de forma relevante para a situao presente do povo, isso porque eles conheciam a situao presente de seus ouvintes. Segundo Shreiner (2004, p. 193), eles tinham a conscincia de que o prprio Deus, depois das intervenes ativas do longnquo passado, continua a intervir em benefcio de Israel e principalmente est em ao tambm no presente. Ao mesmo tempo em que os profetas eram voltados para o presente, suas pregaes tambm possuam o que alguns chamam de previso. Contudo, a previso no a melhor palavra a ser utilizada para a profecia bblica com relao ao futuro: verdade que a profecia bblica lidava com acontecimentos antes de transcorrerem, mas o propsito era que Deus fosse reconhecido por ser o causador dos acontecimentos como parte do seu plano contnuo. Em vez de considerar a profecia um tipo de previso, julgamos mais til consider-la uma ementa divina. A ementa de uma matria no prev o que acontecer em cada aula do semestre, mas apresenta os planos e as intenes do instrutor para cada perodo. O significado do documento que o instrutor est na posio de execut-lo. Do mesmo modo, quando um juiz sentencia um criminoso, ele no prev o que acontecer com a pessoa. Em vez disso, decreta o que deve ser feito e est na posio de executar a sentena (HILL, 2007, p. 454). importante entendermos, ento, que os profetas estavam somente declarando o que Deus iria fazer. Os profetas no podiam prever, mas Deus que lhes revelava os seus planos. Lasor (1999, p. 248) diz que a profecia uma janela que Deus abre para seu povo por meio de seus servos profetas. Por meio dela possvel ver melhor o propsito de Deus e sua obra redentora do que por outros meios. 28. 19O futuro faz parte da mensagem dos profetas, contudo, o que vir no futuro quase sempre interage com a situao presente do povo. Um exemplo disso v-se em Ams 4.1-3, onde Ams denuncia o pecado atual das mulheres de Samaria e declara o que lhes acontecer no futuro. Outro exemplo est em Jeremias 31.31, onde Deus promete uma nova aliana; essa profecia no estava desconectada da situao presente do povo de Israel, tal profecia se referia ao futuro, mas foi um consolo para o povo que estava condenado ao exlio. Portanto, um erro pensar que s as profecias que tratavam da situao presente eram relevantes para o povo da poca dos profetas. A pregao dos profetas sempre foi relevante para seus ouvintes, mesmo quando se tratava do futuro. Em resumo, podemos dizer que a mensagem dos profetas tem dois aspectos, presente e 22futuro.Isso nos mostra que os profetas no se prenderam somente no futuro, nemproclamaram somente para o presente, para eles Deus age no presente e agir no futuro. Alm disso, aprendemos que o presente e futuro sempre esto interagindo entre si, de maneira que a mensagem dos profetas nunca deixa de ser relevante para seus ouvintes. Esse entendimento nos trar melhor compreenso dos elementos que vamos tratar a seguir.2.3.2 A Denncia do Pecado Esse primeiro elemento tambm chamado de descrio da ofensa ou orculo de acusao. Em muitos casos, a mensagem que Deus tem para o seu povo no uma mensagem fcil de ser pregada, nem mesmo fcil de ser ouvida. A atitude de pregar abertamente contra o pecado mostra-nos a ousadia e a coragem dos profetas que antes pareciam medrosos e frgeis.23 Os profetas denunciavam tanto os pecados individuais como os coletivos. Uma caracterstica importante que os profetas falavam diretamente para quem estavam acusando, assim, raramente falavam da pessoa ou do povo acusado, mas falavam para a pessoa e para o povo acusado. Assim, visto que no eram filsofos ou telogos, eles comeavam, em primeira instncia, por reprovar os pecados individuais que estavam diante dos seus olhos (SHREINER, 2004, p.345).22Os estudiosos do Antigo Testamento frequentemente citam esses dois aspectos na mensagem proftica (Cf. Lasor, 1999, p. 246-248) 23 Como vimos no captulo 2.2.1, tal ousadia e coragem estavam baseadas na certeza de que Deus estava com eles (Jr 1.8; Ez 2.6). 29. 20A acusao individual pode-se encontrar, por exemplo, em Elias quando ele acusa Acabe de matar Nabote e tomar sua vinha, ele diz: Mataste e, ainda por cima, tomaste a herana? (1Rs 21.19). Elias tambm denuncia o pecado do rei Acazias: Assim diz o SENHOR: Por que enviaste mensageiros a consultar Baal-Zebube, deus de Ecrom? Ser, acaso, por no haver Deus em Israel, cuja palavra se consultasse? (2Rs 1.16). Outro exemplo clssico o profeta Nat que acusa Davi pessoalmente: Por que, pois, desprezaste a palavra do SENHOR, fazendo o que era mal perante ele? A Urias, o heteu, feriste espada; e a sua mulher tomaste por mulher, depois de o matar com a espada dos filhos de Amom. (2Sm 12.9). Nos profetas escritores tambm encontramos acusaes individuais, podemos citar Jeremias que denuncia o pecado do rei Jeoaquim (Jr 22.17) e do falso profeta Hananias (Jr 28.15). Isaas tambm denuncia a arrogncia e a blasfmia contra Deus da parte de Senaqueribe, rei da Assria (Is 37. 23-25 e 29). Ams acusa o pecado do sacerdote Amazias que queria proibi-lo de profetizar (Am 7.16). O que chama a ateno o fato de que as acusaes dos pecados individuais quase sempre eram dirigidas para os lderes do povo. Vimos acima os reis Davi, Acabe e Jeoaquim sendo acusados, mas tambm vimos sacerdotes e profetas. Isso demonstra a convico que os profetas tinham de estarem entregando a palavra de Deus e no a sua palavra. Por causa dessa palavra, eles arriscavam at a sua prpria vida ao acusar um rei, por exemplo. O fato que os profetas confiavam em Deus e tinham a convico do seu chamado. Alm de denunciarem os pecados individuais, os profetas tambm denunciavam os pecados coletivos. So muitos os exemplos que temos dessas acusaes coletivas, porm vamos citar somente alguns. Os profetas no acusavam somente os israelitas, mas tambm as outras naes. Ams denuncia o pecado de Gaza e Tiro que vendiam escravos para Edom (Am 1.6 e 9), acusa tambm Edom, os filhos de Amom e Moabe (Am 1.11,13; 2.1). Apesar de profetizar no reino do norte, Ams tambm acusa o povo de Jud por rejeitar a lei do SENHOR (Am 2.4). Grupos menores tambm so acusados pelos profetas, Ams acusa os juzes de Israel de praticarem injustia aceitando suborno (Am 2.6). Sofonias denuncia os pecados dos prncipes, juzes, profetas e sacerdotes de Jerusalm (Sf 3.1-4). Ezequiel obedece a Deus que mandou fazer conhecidas as abominaes de Jerusalm, assim ele denuncia o pecado da idolatria, assassinato, imoralidade sexual, injustia social, profanao do sagrado pelos sacerdotes, mentira e extorso por parte dos profetas (Ez 22). Miquias tambm denuncia a corrupo moral de Israel (Mq 7.1-6). Osias no deixa passar os pecados de Israel sem 30. 21denunci-los, ele diz: O que s prevalece perjurar, mentir, matar, furtar e adulterar, e h arrombamentos e homicdios sobre homicdios. (Os 4.2). Enfim, de maneira geral, podemos ver os profetas pregando contra o pecado:Eles falam do rei e de suas prticas idlatras, de profetas que dizem o que so pagos para dizer, de sacerdotes que no instruem o povo na lei de Jav, de mercadores que empregam balanas adulteradas, de juzes que favorecem o rico e no oferecem justia ao pobre, de mulheres cobiosas que levam o marido a prticas malignas para que possam nadar no luxo. Tudo isso profecia no sentido bblico (LASOR, 1999, p. 247).Portanto, esse primeiro elemento sem dvida um dos mais marcantes na pregao dos profetas. O zelo pela santidade fazia parte dos primeiros pregadores, a palavra verdadeira no era escondida ou mascarada, mas pregada com fidelidade. Os profetas tinham a conscincia de que o pecado destroi o homem e o afasta de Deus. Sendo assim, pregar contra o pecado para eles era primordial, pois era um alerta para o homem perdido, alm disso, era uma maneira de revelar a santidade de Deus e de demonstrar que a Sua vontade para o homem que ele tambm viva em santidade.2.3.3 O Anncio do Juzo Esse elemento tambm chamado de orculo de julgamento e se refere ao castigo de Deus por causa do pecado. Tal elemento aparece muitas vezes nos profetas, principalmente nos profetas pr-exlicos.24 Segundo Hill (2007), nos profetas pr-exlicos, o julgamento, em geral, era de natureza poltica, e eram projetados para o futuro prximo. J os profetas psexlicos geralmente no projetavam o juzo para o futuro, mas interpretavam as crises contemporneas como sendo parte do juzo de Deus.25 Em muitos casos, o anncio do juzo acompanhava a denncia do pecado. Ou seja, depois de acusar o pecado, o profeta proferia o julgamento que viria da parte de Deus. Um exemplo clssico est no anncio do profeta Samuel ao rei Saul, ele diz: Porque a rebelio como o pecado de feitiaria, e a obstinao como a idolatria e culto a dolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do SENHOR, ele tambm te rejeitou a ti, para que no sejas rei. (1Sm 15.23). Primeiro Samuel acusa o pecado de Saul, em seguida, anuncia o castigo. Os ais dos profetas tambm fazem essa ligao entre o pecado e o castigo. Sicre (1996, p.152) 24 25Hill diz que o julgamento constitua cerca da metade dos orculos nos profetas pr-exlicos (Hill, 2007, p.452) (Cf. Jl 1; Ag 1.6-11). 31. 22observa que o ai introduz a acusao, seguida do anncio do castigo.26 No livro de Isaas 5. 8-10 temos um exemplo disso: 1 - Acusao: Ai dos que ajuntam casa a casa, renem campo a campo, at que no haja mais lugar, e ficam como nicos moradores no meio da terra! (vs. 8) 2 - Anncio do castigo: A meus ouvidos disse o SENHOR dos Exrcitos: Em verdade, muitas casas ficaro desertas, at as grandes e belas, sem moradores. E dez jeiras de vinha no daro mais do que um bato, e um mer cheio de semente no dar mais do que um efa. (vs. 9-10). Ao usar essa estrutura, os profetas deixam claro o motivo do julgamento de Deus. Alm disso, eles destacam que Deus julga com justia e retido, pois sabiam muito bem que O SENHOR justo (Sf 3.5a). A pregao sobre o juzo de Deus retira a falsa segurana do povo. Israel achava que por ser o povo escolhido, no receberia o julgamento de Deus. Isaas deixa bem claro que o culto com suas ofertas no dariam um escape para Israel, porque faltava uma vida reta perante Deus (Is 1.10-17). A falsa segurana do povo alimentada pelos falsos profetas que curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando no h paz (Jr 6:14). Jeremias condena a pregao que traz falsa segurana, para ele essa pregao uma mentira. Para os verdadeiros profetas o julgamento de Deus era uma realidade, e o povo precisava ser alertado disso. Uma das maneiras mais marcantes dos profetas pregarem sobre o juzo de Deus era o anncio do Dia do SENHOR:No Antigo Testamento, a expresso Dia de Iahweh refere-se ao grande dia vindouro de julgamento em que Iahweh se revelar visivelmente e convocar Israel ou as naes para julgamento [...]. Esperava-se que esse dia fosse um evento glorioso e feliz, visto que a catstrofe sobreviria sobre os inimigos de Israel, enquanto Israel mesmo se beneficiaria dos efeitos salutares do aparecimento de Iahweh [...]. Os profetas modificaram essa expectao. Ams proclamou que o Dia de Iahweh no significava luz (salvao), mas trevas (desastre) para o Israel pecador (Am 5.18-20) (FOHRER, 2008, p. 346-347).Mais uma vez aqui vemos a falsa segurana de Israel. No s Ams, mas tambm vrios outros profetas derrubaram essa falsa segurana com a sua pregao. Isaas fala desse mesmo dia chamando-o de dia da vingana (Is 34.8), Jeremias chama-o de dia da runa (Jr 46.21), dia da aflio (Jr 17.16) e dia do mal (Jr 17.17) e Miquias chama-o de dia do26Sicre tambm alerta que no se deve esquecer que no prprio ai est implcito o anncio do castigo (SICRE, 1996, p.152). 32. 23castigo (Mq 7.4). As expresses podem ser variadas, mas a mensagem uma s: Deus julgar. O julgamento de Deus aconteceu na queda dos dois reinos, o reino do norte em 722 a.C. e o reino do Sul em 586 a.C., porm, os profetas no deixaram de falar do Dia do SENHOR, que tambm foi interpretado em termos escatolgicos.27 importante ressaltar que os profetas pregaram o juzo tanto para Israel, povo de Deus, como tambm para outras naes. Assim como Israel, muitas naes foram castigadas por Deus. Nas interpretaes escatolgicas, os profetas revelam que no Dia do SENHOR no s Israel, mas todas as naes sero julgadas. Com tudo isso, os profetas reforam o fato de que Deus o Juiz de toda a terra (Gn 18.25). Esse elemento da pregao dos profetas revela mais um pouco sobre Deus. Aqui os profetas demonstram aos seus ouvintes a Sua justia perfeita. Contudo, os profetas no param a sua mensagem por aqui, Deus se revela ainda mais atravs dos seus servos pregadores.2.3.4 O Chamado ao ArrependimentoOs profetas no s denunciavam o pecado e anunciavam o juzo, mas tambm chamavam ao arrependimento. A denncia do pecado e o anncio do juzo muitas vezes preparavam o povo para o chamado ao arrependimento. Sendo assim, o Dia do SENHOR em alguns profetas pode tambm ser visto como um dia de salvao e libertao para aqueles que se voltarem para o Senhor.28 O chamado ao arrependimento colocado por alguns estudiosos como parte do orculo de instruo. Os profetas no tinham a responsabilidade especfica de ensinar a lei, essa responsabilidade estava sobre os sacerdotes (Dt 31.9-13). Hill (2007, p.452) explica que a lei j possua as instrues necessrias para o povo, sendo assim, nos profetas o destaque da instruo estava no retorno ao Senhor por causa do abandono da m conduta. Assim, na instruo dos profetas, o chamado ao arrependimento recebe destaque, tal arrependimento significava tambm um retorno obedincia da lei.2927Antes e depois da queda dos dois reinos, os profetas interpretam o Dia do SENHOR em termos escatolgicos (Cf. Is 13; Zc 14). 28 Kaiser Jr. defende essa tese e cita Joel 2.32 como base (Cf. Kaiser Jr, 1984, p.194). 29 Junto com o chamado ao arrependimento, os profetas tambm pregavam sobre as bnos e as maldies decorrentes da obedincia ou no lei (cf. Lv 26.1-13; Dt 4.32-40e28.1-14; Jr 3.14-4.4). Shreiner diz que os profetas preservavam a lei, alm de aplic-la mais profundamente no contexto em que pregavam (Shreiner, 2004, p. 190e191). Fee observa que os profetas no vieram trazer nada de novo, pelo contrrio, eles vieram fazer cumprir aliana, por isso, sua mensagem a mesma que Deus entregou a Moiss, o que muda forma em que apresentada e a aplicao que cada profeta fazia ao seu contexto (Fee, 1997, p. 158). 33. 24No h como falar do chamado ao arrependimento sem falar do profeta Jeremias. J no incio do livro de Jeremias encontramos o profeta fazendo um ardente convite ao arrependimento, ele diz: To somente reconhece a tua iniquidade, reconhece que transgrediste contra o SENHOR, teu Deus (Jr 3.13a), ele tambm diz: Convertei-vos, filhos rebeldes (Jr 3.14a), alm disso: Voltai, filhos rebeldes (Jr 3.22a) e ainda: Circuncidai-vos para o SENHOR, circuncidai o vosso corao, homens de Jud e moradores de Jerusalm (Jr 4.4a). Usando palavras diferentes, em uma s mensagem, Jeremias chama vrias vezes o povo a arrepender-se e voltar-se para o Senhor. Jeremias parece entender que a necessidade do arrependimento urgente. O profeta Osias tambm entende a urgncia do arrependimento: Volta, Israel, para o SENHOR, teu Deus, porque, pelos teus pecados, ests cado. Tende convosco palavras de arrependimento e convertei-vos ao SENHOR (Os 14.1 e 2a). Atravs do seu casamento, o profeta Osias demonstra o amor incondicional de Deus que aceita de volta aquele que um dia o abandonou: Disse-me o SENHOR: Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo e adltera, como o SENHOR ama os filhos de Israel, embora eles olhem para outros deuses e amem bolos de passas (Os 3.1). No profeta Joel, at mesmo os sacerdotes so convocados ao arrependimento (Jl 1.13), e junto com os sacerdotes, todo povo (Jl 2.12-17). Alm desses, Ezequiel tambm convoca o povo a converter-se, deixando os dolos e as suas transgresses (Ez 14.6; 18.30). Essas passagens nos mostram que no difcil encontrar os profetas pregando sobre arrependimento. Quando falamos sobre o primeiro elemento, destacamos que os profetas tinham plena conscincia do pecado dos seus ouvintes.30 Era justamente por causa dessa conscincia que eles tambm entendiam que o arrependimento era extremamente necessrio. Acima de tudo, o arrependimento vontade de Deus para o homem, vemos isso quando Ele diz: Dize-lhes: To certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, no tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho e viva (Ez 33:11a). Portanto, no somente a justia e a santidade de Deus que revelada no Antigo Testamento, como alguns acreditam, mas o chamado ao arrependimento revela o amor e a misericrdia de Deus, que Se mostra longnime ao dar uma nova oportunidade e tempo para que o homem pecador volte para Si.30(Cf. Cap. 2.3.2 A denncia do pecado) 34. 252.3.5 O Anncio de Esperana e Salvao Esse elemento conhecido tambm como orculo de salvao ou orculo de esperana. A pregao dos profetas chega ao seu clmax quando eles comeam a proclamar a salvao por parte de Deus. Ainda que o povo no tivesse se arrependido, os profetas anunciam uma interveno de Deus para salvar e restaurar aqueles que so Seus. Segundo Hill (2007), esse orculo nos profetas pr-exlicos oferecia esperana de livramento para uma gerao futura, e no para a gerao do profeta que no havia se arrependido, por isso, o livramento na maioria dos casos era projetado para depois do juzo. Por mais que isso seja verdade, no podemos esquecer que inteno dos profetas era provocar esperana para os ouvintes da sua poca. Os profetas acusaram os pecados, anunciaram o juzo e chamaram o povo ao arrependimento, porm, parecia no fazer efeito, o juzo viria sobre o povo. Seria muito ruim se a mensagem dos profetas terminasse assim. Porm, a mensagem de esperana e salvao surge dentro desse contexto. Jeremias e Ezequiel, mesmo em tempos difceis, comearam a pregar sobre o propsito de Deus em salvar e restaurar aquele que seria o Seu povo: Eu serei o vosso Deus, e vs sereis o meu povo (Jr 7.23; Ez 11.20). Ao pregar sobre a salvao e a esperana, os profetas anunciavam uma nova era, onde Deus interviria na histria para salvar os Seus. Nessas mensagens encontramos o desenvolvimento da escatologia nos profetas.31 Shreiner (2004, p. 396) diz que a escatologia de Israel, como toda a sua f, est ligada histria, orientada no sentido de sua continuao e vive das intervenes salvficas nicas e intra-histricas de Deus. A salvao pregada pelos profetas estava totalmente baseada na interveno de Deus na histria do homem. isso que Isaas com sua mensagem deixa claro: Eu, eu sou o SENHOR, e fora de mim no h salvador. Eu anunciei a salvao, realizei-a e a fiz ouvir (Is 43.11e12a). Com sua pregao, os profetas queriam que os seus ouvintes colocassem sua esperana em Deus, pois Ele que era o redentor (Is 44.6) e Ele que libertaria o povo (Is 44.2128). Sendo assim, principalmente em Isaas, toda nfase da pregao recai sobre a ao salvfica de Deus. Dentro desse contexto, os profetas comeam a pregar sobre as promessas de salvao de Deus, so essas promessas que fazem nascer esperana para o povo. Deus promete trazer seu povo do cativeiro (Jr 30.10), promete perdo-lo (Os 14. 4-8), mudar a sua sorte e abeno-lo nas plantaes e na sua terra (Am 9.11-15), promete estar com ele para 31Para aprofundamento na escatologia dos profetas (Cf. von Rad, 2006, p. 534-557 ) 35. 26ajud-lo (Is 41.10), enfim, muitas promessas pregadas pelos profetas traziam esperana aos seus ouvintes.32 Os profetas no pregavam s uma restaurao em termos exteriores, mas tambm enfatizaram uma transformao do homem interior. Somente com essa transformao interior o homem passaria a fazer a vontade de Deus, pois as leis seriam escritas no corao e na mente dele. Com relao a esses homens transformados que Deus diz: Eu serei o seu Deus, e eles sero o meu povo, essa a nova aliana pregada por Jeremias (Jr 31.31-34). Ezequiel tambm pregou sobre essa transformao interior, onde Deus colocaria um novo corao no homem (Ez 11.19-20). Assim, os profetas falam da restaurao perfeita que seria operada por Deus, por isso eles falam tanto do novo. Alm da nova aliana e novo corao, eles tambm apontam para uma nova Jerusalm redimida (Is 1.26; 60.1-22), novos cus e nova terra (Is 65.17-25) e um novo Davi (Is 11.1).33 Ao anunciar a salvao os profetas j apontam para Cristo e para o Seu reino.34 Atravs desse elemento da pregao dos profetas, Deus revela a Sua graa, amor e misericrdia. Primeiramente a nfase da salvao estava no arrependimento, por isso, os profetas pregavam sobre esse tema. Porm, no clmax da mensagem, a nfase da salvao passou estar na redeno que viria de Deus, esperava-se que tudo flusse do ato redentor de Iahweh, que seria seguido pela resposta do homem (FOHRER, 2008, p. 351). Com isso, podemos entender que a pregao proftica revela um Deus que age na histria, denunciando e julgando os pecados, mas tambm providenciando salvao e esperana para o homem perdido.32As promessas sempre trazem esperana e aparecem inclusive como promessas individuais, como quando o profeta Nat fala das promessas de Deus a Davi (Cf. 2Sm 7.11-17). 33 Temos aqui uma referencia a Cristo que o rebento que sairia de Jess (Cf. Mt 1.1) 34 Isso bem visto nos Cnticos do Servo em Isaas (Is 42; 49; 50; 53). 36. 273. A PREGAO PROFTICA NO NOVO TESTAMENTOVimos no captulo anterior que a pregao dos profetas do Antigo Testamento caracterizada pelos seguintes elementos: a denncia do pecado, o anncio do julgamento, o chamado ao arrependimento e o anncio de esperana e salvao. Esses elementos no esgotam toda a mensagem dos profetas, mas revelam o seu contedo geral e caracterizam aquilo que chamo de pregao proftica. Nesse captulo, vamos sobrevoar o Novo Testamento e destacar a presena dos elementos profticos nas pregaes de Joo Batista, Jesus e dos Apstolos.3.1 Elementos profticos em Joo Batista Porque este o referido por intermdio do profeta Isaas: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas (Mt 3.3). No s em Mateus, mas tambm nos outros evangelhos Joo Batista apresentado como precursor de Jesus, ou seja, aquele que cumpre a profecia de Isaas e que veio preparar o caminho do Senhor.35A Bblia diz que Joo Batista era visto pelo povo como profeta (Mt 14.5). Alguns chegaram a pergunt-lo se ele era o Cristo, Elias ou o profeta, mas Joo negou as trs possibilidades e se apresentou como a voz que clama no deserto (Jo 1.19-23). A seu respeito, Jesus disse: entre os nascidos de mulher, ningum apareceu maior do que Joo Batista (Mt 11.11). Jesus tambm disse que Joo era o Elias que estava por vir (Mt 11.14), no o prprio profeta Elias, como Joo mesmo havia negado ser, mas o Elias profetizado por Malaquias (Ml 4.5-6).36 No s as roupas e a alimentao de Joo Batista o identificaram como um tipo de profeta do Antigo Testamento (Mc 1.6), mas tambm todo o seu ministrio (Lc 1.17), e inclusive sua pregao (Lc 3.2).37 Para cumprir seu ministrio de preparar o caminho para o salvador, Joo Batista precisava pregar. Um elemento que podemos ver claramente logo no incio da sua pregao o chamado ao arrependimento. A Bblia diz que Joo pregava no deserto e dizia: Arrependeivos, porque est prximo o reino dos cus (Mt 3.2). Lucas afirma que ele percorreu toda a 35(Cf. Is 40.3; Mc 1.2e3; Lc 3.4-6; Jo 1.23) (Cf Lc 1.17; Mc 9.11-13) 37 Joo Batista visto como o ltimo e o maior dos profetas (Cf. Mt 11.9,13-14). Porm, como vamos notar, os elementos da pregao dos profetas do AT continuam aparecendo depois de Joo Batista. 36 37. 28circunvizinhana do Jordo, pregando batismo de arrependimento para remisso de pecados (Lc 3.3). Marcos tambm faz a mesma afirmao (Mc 1.4). Na pregao de Joo Batista no vemos s o chamado ao arrependimento. Youngblood (2004, p. 779) resume a mensagem de Joo Batista dizendo o seguinte: o que seus ouvintes encontravam nessa voz a clamar no deserto (Mc 1.3) era um chamado renovao moral, ao batismo e esperana messinica. Para chamar a uma renovao moral, Joo Batista comea a denunciar os pecados. Ele pregou contra o pecado dos coletores de impostos que cobravam mais do que deviam (Lc 3.13), e tambm pregou contra o pecado dos soldados que tiravam vantagens das pessoas comuns (Lc 3.14). Alm disso, Joo pregou at mesmo contra o pecado de uma autoridade, o tetrarca Herodes, pois ele mantinha um casamento imoral com Herodias, que era mulher do seu irmo e cometia vrias outras maldades (Mc 6. 14-20; Lc 3.19-20). Por causa de pregar contra o pecado, Joo foi preso e executado (Mc 6. 21-29). Mais que denunciar o pecado, Joo tambm anunciava o juzo e criticava a falsa segurana daqueles que, por serem filhos de Abrao, pensavam estar livres da ira vindoura (Mt 3.7-10; Lc 3.7-9). Por fim, a esperana de salvao no estava fora da mensagem de Joo, muito pelo contrrio, ele apontava para o salvador e dizia: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! (Jo 1.29). Como podemos ver, a pregao de Joo Batista revela os mesmos elementos que encontramos nos profetas do Antigo Testamento. Podemos at pensar que essa similaridade acontece porque Joo tambm era profeta, mas vamos notar que mesmo depois de Joo, esses elementos continuam presentes nas pregaes do Novo Testamento.3.2 Elementos profticos em Jesus O Senhor Jesus aquele a quem devemos nos espelhar sempre. Ao olhar para sua vida e ministrio, temos que desejar sempre seguir os seus passos, pois Ele o nosso mestre. Imitar a Cristo o que o apstolo Paulo fazia e o que tambm ns devemos fazer: Sede meus imitadores, como tambm eu sou de Cristo (1Co 11.1). Devemos aprender com Cristo em todos os aspectos da sua vida, inclusive com a sua pregao. Portanto, no podemos falar de pregao sem olharmos para o exemplo de Jesus. Ele a palavra (), aquele por meio do qual Deus falou aos homens: Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas 38. 29maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes ltimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual tambm fez o universo. (Hb 1.1 e 2). Assim como Joo Batista, Jesus tambm usou a pregao em seu ministrio. Marcos relata que depois de Joo Batista ter sido preso, foi Jesus para a Galilia, pregando o evangelho de Deus (Mc 1.14). Desde o incio do seu ministrio, Jesus usou a pregao como ferramenta para levar o evangelho.38 Ele declarou ter sido ungido para pregar (Lc 4.18-19), tambm deixou claro que foi para isso que foi enviado (Lc 4.43) e foi isso que ele fez pelos lugares onde passava (Lc 8.1). Durante esse ponto, vamos notar as similaridades da pregao de Jesus com a dos profetas. Olhando para a pregao do Senhor Jesus, vamos destacar nela os elementos profticos que estamos estudando. Mateus relata que Jesus comeou a pregar dizendo: Arrependei-vos, porque est prximo o reino dos Cus (Mt 4.17). Como temos visto at agora, os profetas e pregadores bblicos sempre enfatizaram a necessidade de arrependimento, o mesmo acontece com Jesus. Um convite ardente ao arrependimento est presente na sua pregao. Por sua parte no h negligncia ao estado perdido do homem, muito pelo contrrio, Jesus percebia o estado de perdio em que o homem se encontrava, se compadecia das multides perdidas (Mt 9.36) e por isso, trazia um alerta para que todos se arrependessem (Mc 1.15). Jesus mesmo afirmou: no vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento (Mt 9.13). Aqui Jesus declara que a sua misso envolvia o chamado ao arrependimento, isso porque seus ouvintes no eram justos, mas pecadores; Jesus tinha plena conscincia disso. Como seus ouvintes eram pecadores, Jesus muitas vezes denunciou os seus pecados, vemos essa atitude de Jesus principalmente com relao aos religiosos.39 A hipocrisia dos fariseus, por exemplo, foi constantemente acusada por Jesus no Sermo do Monte (Mt 6.2,5e16). No s no Sermo do Monte, mas em outras ocasies, Jesus condena a falsa religiosidade dos escribas e fariseus que atam fardos pesados e difceis de carregar e os pem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem mov-los (Mt 23.4; Lc 11.46), tais homens no so dignos de serem imitados (Mt 23.3). Assim como os 38Youngblood explica que aparentemente, Jesus atuou por um curto perodo no sul e na regio central da palestina, enquanto Joo Batista ainda pregava (Jo 3.22-4.42). Mas a principal fase do ministrio de Jesus iniciou-se na Galilia, depois da priso de Joo por Herodes Antipas. Este foi o sinal, de acordo com Marcos 1.14-15, para Jesus proclamar as boas novas de salvao na Galilia (YOUNGBLOOD, 2004, p.757). 39 O fato de Jesus denunciar principalmente o pecado dos religiosos no acontece por qualquer motivo, mas parece estar relacionado com o fato de que tais religiosos no se viam como pecadores e se achavam justos diante de Deus (Mt 9.10-13). Nesse caso, Jesus comea a mostr-los que eles tambm eram pecadores. A denncia do pecado sempre visa o arrependimento do pecador. Portanto, Jesus no acusava os fariseus porque tinha uma rixa com eles ou porque queria difam-los, mas porque eles precisavam perceber os seus pecados para arrepender-se. 39. 30profetas, Jesus tambm proclama os ais, onde ele apresenta tanto a acusao do pecado como tambm o anncio do juzo. Os ais de Jesus so proferidos contra os fariseus e escribas (Mt 23.13-36; Lc 11.45-52), contra as cidades de Corazim e Betsaida (Mt 11.20-24; Lc 10.13-16) e contra os ricos (Lc 6.24-26). Em todos os casos Jesus est denunciando o pecado e tambm apontando para o Juzo. Assim como Jesus declara que alguns estaro debaixo da condenao, ele tambm declarara que outros sero separados como verdadeiras ovelhas e ouviro: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos est preparado desde a fundao do mundo (Mt 25. 34). Nas parbolas de Mateus 13, Jesus prega sobre verdades acerca do reino dos cus. Nessas parbolas esto presentes respectivamente tanto anncio do juzo como tambm o da salvao. Vemos claramente isso nas figuras utilizadas por Jesus: o joio que ser queimado e o trigo que ser recolhido no celeiro (vs 30, 41-43) e os peixes bons que vo para o cesto e os ruins que so jogados fora (vs 47-50). Deste modo, Jesus prega no s condenao, mas tambm uma mensagem de esperana e salvao. Ele aponta para si mesmo, ele apresenta a si mesmo como a esperana de salvao (Jo 14.6), oferece alvio (Mt 11.28) e uma vida abundante (Jo 10.10). Sendo assim, todos os elementos da pregao dos profetas tambm so encontrados claramente na pregao de Jesus. Temos ainda muito mais relatos no Novo Testamento acerca da pregao de Jesus. Esses pequenos trechos da mensagem de Jesus citados acima so apenas para percebermos a presena dos elementos profticos em sua pregao. No h como dizer que Jesus s denunciava os pecados, ou somente chamava ao arrependimento, ou s anunciava o juzo ou a salvao. impossvel dizer isso porque todos os elementos esto presentes em sua pregao, todos so tomados por Jesus como importantes e nenhum foi deixado para trs.3.3 Elementos profticos nos apstolos Existem muitas semelhanas entre os profetas do Antigo Testamento e os Apstolos. Greidanus (2006) observa que como os profetas do Antigo Testamento, os apstolos do Novo Testamento eram representantes de Deus, o que Paulo chama de embaixadores (2Co 5.20), por isso, eles tambm pregavam a Palavra de Deus e no a sua prpria palavra (2Ts 2.13).40 Realmente os apstolos foram comissionados por Jesus para pregarem o evangelho para 40Grudem tambm faz vrias comparaes entre os profetas do AT e os apstolos do NT. Ele observa que os dois grupos tm a mesma autoridade tanto para pregar como para escrever as prprias palavras inspiradas de Deus (Cf. Grudem, 2004, p.31-38). 40. 31todas as naes (Mt 28.18-20). Alm disso, assim como os profetas, eles foram capacitados para essa tarefa (At 1.8). Ao pregar o evangelho, os apstolos apontavam para o Cristo que foi crucificado (1Co 1.23-24). Greidanus (2006), contudo, explica que a pregao dos apstolos era tanto uma exposio das escrituras do Antigo Testamento, como uma transmisso das tradies do Novo Testamento, ou seja, eles pregavam aquilo que viram e ouviram (1Jo 1.3). importante frisar que, mesmo que os apstolos estivessem pregando o que viram e ouviram, eles no abandonaram o Antigo Testamento, muito pelo contrrio, eles viram em Jesus Cristo o cumprimento das escrituras (1Co 15.1-5). Em sua pregao, apstolos no descartam os elementos da pregao proftica, pois, para pregar o evangelho genuno preciso falar de pecado, juzo, arrependimento, esperana e salvao. Ao pregar o evangelho, os Apstolos constantemente chamavam seus ouvintes ao arrependimento. Em (At 2.38) vemos o chamado de Pedro que dizia: arrependei-vos!. Quando estava diante do rei Agripa, Paulo deixa claro que, por onde passava, chamava os seus ouvintes ao arrependimento e converso (At 26.20). O prprio Jesus, ao comissionar os apstolos, disse que em seu nome se pregasse o arrependimento para remisso de pecados a todas as naes, comeando em Jerusalm (Lc 24.47). Portanto, o chamado ao arrependimento que vemos nos apstolos, nada mais que obedincia ao mandato de Jesus. Para que uma pessoa se arrependa, primeiramente, ela precisa ter conscincia do seu pecado. Os apstolos faziam bem esse trabalho, pois denunciavam os pecados dos seus ouvintes de tal maneira, que eles passavam a ter plena conscincia de que eram pecadores e precisavam arrepender-se. Vemos claramente isso acontecer nas pregaes de Pedro em Atos. Na primeira pregao registrada em Atos, Pedro denuncia o pecado do povo de ter crucificado Jesus (At 2.36). Lucas registra que, em resposta pregao de Pedro, o povo ficou com o corao compungido e perguntou: Que faremos, irmos? (At 2.37). Os ouvintes foram to impactados pela mensagem de Pedro, que rapidamente perceberam sua necessidade de tomar alguma atitude diante do que ouviram, pois agora eles percebiam seu estado de perdio e queriam sair dessa situao. Na sua segunda mensagem, Pedro tambm faz o mesmo, prega contra o pecado dos que mataram o Autor da vida (At 3.15) e chama-os ao arrependimento e converso (At 3.19).41 O Apstolo Paulo e Barnab tambm denunciam o pecado dos judeus que rejeitavam a palavra de Deus (At 13.46). Paulo prega aos atenienses condenando a idolatria deles e 41Nesse ponto estou me limitando aos apstolos, mas quero destacar que Estevo tambm pregou e, assim como Pedro, denunciou o pecado do povo (At 7. 52e53). 41. 32chamando-os ao arrependimento (At 17.29-30). Nas pregaes descritas por Lucas em Atos, comum encontrar os apstolos pregando contra o pecado de pessoas ainda no convertidas, porm, eles constantemente pregavam contra o pecado dentro das igrejas atravs dos seus escritos.42 Alm de pregar contra o pecado, eles tambm pregavam sobre o juzo e a salvao. Muitas vezes esses dois temas aparecem juntos. Ao pregar sobre a salvao, os Apstolos tambm apontavam para o juzo e condenao, assim tambm como Jesus fazia.43 Pedro prega sobre o Dia do Juzo, onde os homens mpios sero destrudos juntamente com os cus e a terra, mas ao mesmo tempo ele fala sobre os salvos que aguardam novos cus e nova terra (2Pe 3.1-13). Paulo tambm faz o mesmo, ele prega sobre o Dia do Senhor demonstrando salvao para alguns e destruio e juzo para outros (1Ts 5.1-11). Os Apstolos pregavam sobre salvao e juzo tanto para crentes como para descrentes. Para os descrentes, eles pregavam juzo e salvao para que eles se convertessem (At 3.19-21), e para os crentes, tal mensagem sempre era utilizada para trazer esperana e consolo em momentos difceis (1Ts 4.18; 5.11). Com esse breve resumo da pregao dos Apstolos, podemos perceber que, assim como os profetas, eles no deixaram de pregar sobre pecado, juzo, arrependimento, esperana e salvao. Esses poucos textos que citamos compravam esse fato, portanto, tambm comprovam a importncia desses elementos na pregao atual. Finalmente, a presena desses elementos em todos os pregadores bblicos, inclusive em Jesus, nos leva a pensar que no h como pregar a verdadeira palavra de Deus sem a presena desses elementos.42 43(Cf. 1Co 1.10-17; 3.3; 5.1; 11.17-18; Gl 3.1-5; 1Jo 1.10; 3Jo 9-11; 1Pe 2.1,11-12) Na mensagem de Jesus vemos a relao entre Juzo e Salvao em algumas de suas parbolas (Cf. Cap. 3.2) 42. 334. A PREGAO ATUAL E O SEU DECLNIOA pregao atual pode ser analisada de muitos ngulos. Nela podemos encontrar elementos positivos e tambm negativos. Porm, nesse captulo vamos considerar o seu declnio, tratando primeiramente a perda da primazia do plpito e depois a perda dos elementos profticos e suas razes.4.1 A Perda da Primazia A obra da pregao a mais elevada, a maior e a mais gloriosa vocao para a qual algum pode ser convocado (LLOYD-JONES, 1991, p.7). Acredito que Lloyd-Jones no est exagerando quando, com essa frase, demonstra o imenso valor que a pregao possui. A pregao, sem dvida, algo primordial quanto misso da Igreja. No se pode falar sobre a misso da Igreja, sem falar em pregao, nem mesmo olhar para a histria da Igreja, sem perceber o lugar essencial que pregao ocupou na Igreja durante os sculos:Ao longo de sua histria, a Igreja verdadeira tem dado forte nfase pregao bblica. A pregao ocupou lugar central na Reforma do sculo XVI, no Avivamento Puritano do sculo XVII na Inglaterra e no Grande Avivamento do sculo XVIII. A Igreja do sculo XIX confrontou-se com o surgimento da onda de apostasia e modernismo atravs de uma pregao poderosa de homens como Charles Spurgeon, Joseph Parker, Alexander Maclaren e Alexander Whyte (MACARTHUR JR, 1998, p.281).Alm desses grandes exemplos histricos, temos tambm muitos exemplos bblicos que ressaltam a importncia e a prioridade que deve ser dada pregao. O apstolo Paulo, por exemplo, sempre frisou a importncia da pregao. Ele deixou claro a Timteo que a pregao devia ser essencial em seu ministrio: Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer no, corrige, repreende, exorta com toda longanimidade e doutrina (1Tm 4.2). No s aqui, mas em vrias passagens vemos Paulo alertando a Timteo para a importncia que deve ser dada pregao no ministrio.44 John MacArthur (1998, p.281), em seu livro Redescobrindo o ministrio pastoral, destaca que a pregao e o ensino so to importantes que a nica qualidade do presbtero, no que se refere a habilidades ou funes, 44(Cf. 1Tm 4.11-16, 5.17, 6.2; 2Tm 2.2) 43. 34que ele seja apto para ensinar (1Tm 3.2). A pregao no era importante s para Paulo, mas tambm para todos os pregadores bblicos, como vimos nos captulos anteriores. A pregao era to importante que, junto com a orao, chegava a ocupar o topo da lista de prioridades dos apstolos (At 6.2-4). Apesar de termos diante de ns tantos exemplos de que a pregao algo essencial e prioritrio, infelizmente, no h como negar que esta atualmente tem perdido o seu lugar no meio evanglico brasileiro. O pastor da Igreja Presbiteriana Central do Par, Paulo Angala (2005, p.7), conhecendo o contexto evanglico brasileiro, observa que a pregao, como forma distinta de comunicao da vontade de Deus revelada na sua Palavra, est em declnio. Em muitas igrejas ela tem sido substituda por um nmero cada vez maior de atividades. Porm, isso no algo s atual e brasileiro. H um bom tempo atrs, cerca de 40 anos, o Dr. Martyn Lloyd-Jones fez uma srie de prelees no Westminster Theological Seminary, na Filadlfia. Nessa ocasio, ele destacou o declnio constante da pregao nas igrejas e demonstrou a necessidade da igreja voltar a prioriz-la.45 Combatendo a desvalorizao da pregao, Robinson diz:A despeito da maledicncia contra a pregao e os pregadores, ningum que leva a srio a Bblia ousa descartar a pregao [...]. Para os escritores do Novo Testamento, a pregao destaca-se como o evento atravs do qual Deus opera. Pedro, por exemplo, lembrou seus leitores que fostes regenerados, no de semente corruptvel, mas de incorruptvel, mediante a palavra de Deus, a qual vive e permanente (1Pedro 1.23). Como que esta palavra veio afetar as vidas deles? Esta palavra, Pedro explicou, a boa nova que vos foi pregada (1.25). Atravs da pregao, Deus os redimira (ROBINSON, 1983, p. 14).Robinson defende a pregao apontando para o lugar dela na Bblia. por meio da pregao que Deus age e transforma vidas. O entendimento de que Deus age por meio da pregao tambm fazia parte dos profetas. Ao falar sobre a pregao dos profetas, Greidanus (2006, p.18) diz que a Bblia, contudo, no separa as palavras de Deus de seus atos. As palavras de Deus so seus atos no sentido de que elas realizam os propsitos dele.46 Os profetas do Antigo Testamento acreditavam na ao de Deus em sua pregao, por isso, tambm a priorizavam. Acredito que antes de qualquer tentativa para melhorar a nossa 45Suas prelees foram publicadas com o ttulo Pregao & Pregadores, onde ele dedica um captulo inteiro para defender a primazia da pregao (Lloyd-Jones, 1991, p. 7-18). O ttulo original Preaching and Preachers foi publicado em 1971. 46 Em nossa cultura ns cremos que a ao fala mais alto que as palavras e separamos as palavras das aes. Porm, na Bblia no h uma separao entre a palavra e a ao de Deus. Greidanus explica que a mente hebraica compreendia essa relao mais facilmente do que ns, pois a palavra dabar poderia significar palavra ou ato ou ambos (GREIDANUS, 2006, p.19). 44. 35pregao, ns, igreja e ministros, precisamos crer na ao de Deus por meio da palavra pregada. A pregao um meio de graa pelo qual Deus produz f no corao dos pecadores, transformando e santificando vidas (Rm 10.14-17; Jo 15.3; 17.17). nesse sentido que Paulo d graas a Deus pelos tessalonicenses, porque a palavra de Deus est operando eficazmente em vs (1Ts 2.13). Nunca iremos priorizar a pregao se primeiramente no crermos que a palavra viva e eficaz (Hb 4.12). Deus age por meio da pregao! Por isso, no podemos continuar colocando outras atividades como prioridade. A igreja no pode se iludir com programaes e se esquecer da palavra, os pastores e lderes devem se ocupar mais com a pregao do que com qualquer outra tarefa. Portanto, importante que tratemos a pregao com zelo, entendendo sua importncia para a Igreja e para o mundo. Esse o grande e tambm o primeiro passo que precisamos dar para que os elementos profticos no sumam das nossas pregaes.4.2 A Perda dos Elementos Profticos A pregao atual no s tem perdido o seu lugar prioritrio, mas tambm tem perdido os elementos profticos. Nos sermes atuais ouvimos pouco sobre pecado, a