a implantaÇÃo do dft em indÚstrias brasileiras

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A IMPLANTAÇÃO DO DFT EM INDÚSTRIAS BRASILEIRAS BEZERRA, Jackson Leandro Luna INPG – Instituto Nacional de Pós Graduação [email protected] RESUMO Esta pesquisa procurará descobrir qual a validade da implantação da tecnologia DFT (do inglês Demand Flow Technology) em indústrias brasileiras, mais precisamente as metalúrgicas. A pergunta básica que a pesquisa procurará responder é por que essa tecnologia praticamente não é utilizada por indústrias nacionais. Este estudo almeja também ampliar o conhecimento sobre a tecnologia em língua portuguesa, pois não há bibliografia conhecida neste idioma. O DFT é um sistema de negócios que visa aumentar a produtividade eliminando todo e qualquer desperdício no ambiente fabril e, ao mesmo tempo, reagindo às demandas do mercado sem perda de produtividade. Palavras-chave: DFT, aumento de produtividade, eliminação de desperdícios, estratégia de negócios, demanda de mercado ABSTRACT This study will try to find out the possibility of using the DFT (Demand Flow Technology) business strategy in

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Page 1: A IMPLANTAÇÃO DO DFT EM INDÚSTRIAS BRASILEIRAS

A IMPLANTAÇÃO DO DFT EM INDÚSTRIAS BRASILEIRAS

BEZERRA, Jackson Leandro Luna

INPG – Instituto Nacional de Pós Graduação

[email protected]

RESUMO

Esta pesquisa procurará descobrir qual a validade da implantação da tecnologia

DFT (do inglês Demand Flow Technology) em indústrias brasileiras, mais

precisamente as metalúrgicas. A pergunta básica que a pesquisa procurará

responder é por que essa tecnologia praticamente não é utilizada por indústrias

nacionais. Este estudo almeja também ampliar o conhecimento sobre a tecnologia

em língua portuguesa, pois não há bibliografia conhecida neste idioma. O DFT é um

sistema de negócios que visa aumentar a produtividade eliminando todo e qualquer

desperdício no ambiente fabril e, ao mesmo tempo, reagindo às demandas do

mercado sem perda de produtividade.

Palavras-chave: DFT, aumento de produtividade, eliminação de desperdícios,

estratégia de negócios, demanda de mercado

ABSTRACT

This study will try to find out the possibility of using the DFT (Demand Flow

Technology) business strategy in Brazilian industries, specially metallurgic

companies. The basic question the study is trying to answer is why this technology is

almost unknown by Brazilian companies. It also aims to increase the knowledge

about the technology in Portuguese, as there is no known bibliography in this

language. DFT is a business strategy that aims to increase the productivity by

eliminating wastes in the shopfloor and, at the same time, meeting customer’s

demands with no loss of productivity.

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Keywords: DFT, productivity increase, waste elimination, business strategy,

market demands

1. INTRODUÇÃO

Nos tempos atuais, está cada vez mais difícil para as indústrias atingirem uma

vantagem competitiva sustentável em relação a seus concorrentes. O mundo da

manufatura hoje é bem parecido com o que era 30 anos atrás. As companhias

brasileiras de alta performance mantêm o foco na eliminação de custos, melhoria

contínua e manufatura enxuta, empregando conceitos de W. Edwards Deming e

Eliyahu Goldratt que foram inventados dos anos 70 aos 90.

Existe, entretanto, uma estratégia de negócios que vem sendo utilizada com

sucesso nos EUA desde o mesmo período que basicamente passou desapercebida

no Brasil. Seu nome é “Demand Flow Technology” e será referenciado comumente

nesse artigo como “DFT”.

O DFT (do inglês Demand Flow Technology, que significa Tecnologia de Fluxo

de acordo com a Demanda) é uma estratégia de negócios criada pelo americano

John R. Costanza. A tecnologia consiste em uma abordagem baseada em fórmulas

matemáticas para prover um fluxo contínuo da linha de produção com o foco na

demanda. Esta estratégia se mostrou bastante eficiente em indústrias com um baixo

volume e um alto “mix” de produtos ou opções.

As ideias de Costanza a respeito dessa tecnologia começaram a tomar forma

quando ele era um executivo de grandes empresas, tais como Hewlett Packard e

Johnson & Johnson. Quando a tecnologia estava formada, em 1984, Costanza

deixou a vida corporativa, escreveu um livro sobre sua tecnologia (The Quantum

Leap: in Speed to Market) e fundou o John Costanza Institute of Technology (JCIT),

que ministrava treinamentos e fornecia serviços de consultoria a empresas que

gostariam de implantar essa tecnologia. Exemplos de empresas que implantaram o

DFT são American Standard Companies, General Electric e John Deere. Seu

trabalho rendeu a ele uma indicação ao Prêmio Nobel em Ciências Econômicas em

1999, além de ser indicado pela revista Fortune como um dos “6 heróis da

manufatura norte-americana” na edição de março de 2000.

Assim sendo, com todas essas credenciais, é de surpreender o fato da

tecnologia ser praticamente inexistente no Brasil. Este artigo tem o objetivo de

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entender porque esta estratégia de negócios não é adotada no Brasil, sendo uma

tecnologia tão bem-sucedida, em especial nos EUA. A base para o estudo será

minha experiência para implantação da tecnologia em uma empresa multinacional

norte-americana no Brasil, além de entrevistas realizadas com consultores

americanos que trabalham com a estratégia.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

O DFT é uma estratégia de negócios voltada para indústrias, assim não é de

se surpreender que ele utilize conceitos já bastante sólidos e utilizados no mercado,

tais como 5S, melhoria contínua e manufatura enxuta, além da utilização de

ferramentas como ERPs (Enterprise Resource Planning) e MES (Manufacturing

Execution System). Porém o conceito do DFT vai muito além de utilizar ferramentas

e conceitos já conhecidos no mercado. Costanza desenvolveu ferramentas para o

DFT que aprimoram o modo como as indústrias identificam, melhoram e gerenciam

o fluxo de seus processos, sempre comandado pela demanda – é o cliente que, ao

“comprar” o produto na última célula da linha de montagem, “puxa” o processo

produtivo. Daí vem o termo “Manufatura Baseada na Demanda” que dá nome à

tecnologia.

Assim, na implantação do DFT em um processo fabril, a primeira tarefa a ser

feita é delinear a sincronização do produto. Ela é a base para todas as outras

atividades do DFT. De acordo com Gillian e Taylor-Jones (2005, p.26), a

sincronização do produto define a relação dos processos individuais juntando-se

para criar uma peça ou produto.

Figura 1 – Exemplo de Sincronização do Processo

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A partir dessa sincronização, cada um dos processos identificados precisa ser

detalhado. Para isso, Costanza criou a Sequência de Eventos (do inglês Sequence

of Events). Segundo Gillian e Taylor-Jones (2005, p. 27), através dessa ferramenta

os processos são descritos na forma correta a serem feitos e o tempo requerido para

realizar a tarefa é medido, evitando que operadores pensem em outras formas de

realizar o trabalho que levem mais tempo que o necessário. Além da forma correta,

é sinalizado onde os operadores devem fazer checagens de qualidade (CQTs e

Verificações) e também os eventos são categorizados em três pontos básicos:

trabalho requerido, preparação e movimentação. Ainda segundo Gillian e Taylor-

Jones (2005, p. 28), através dessas categorias identifica-se onde não há valor

agregado (atividades de preparação e movimentação), ou seja, quais tarefas

devemos tentar eliminar do processo a fim de conseguir uma melhoria nos tempos

dos processos.

Figura 2 – Exemplo de Sequência de Eventos

Estas sequências de eventos são a base para a criação das Folhas de

Método Operacional (do inglês Operational Method Sheet, ou OMS) que estarão

disponíveis aos operadores durante seu processo. Essa ferramenta são as

instruções detalhadas que os operadores devem realizar para garantir que os

processos ocorram com a melhor qualidade e no menor tempo possível.

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Figura 3 – Exemplo de Folha de Método Operacional

Outro ponto que garante a qualidade dos processos são os chamados CQT

(de Controle de Qualidade Total – Total Quality Control) e Verificações que os

operadores devem realizar durante suas operações. De acordo com Gillian e Taylor-

Jones (2005, p.177):As Folhas de Método Operacional não mostram apenas ao operador o

trabalho a ser realizado, mas também o que deve ser verificado e

inspecionado. Os funcionários podem verificar um trabalho realizado em sua

própria operação, mas nunca podem fazer uma inspeção de qualidade de

um trabalho realizado em sua estação. Toda vez que houver múltiplas

formas de realizar uma atividade, mas apenas uma for a correta, é

necessária uma inspeção de qualidade em outra operação.

Desta maneira, um operador, ao realizar uma atividade, verifica se o que fez

está correto se for algo crítico para o produto, e quando ele faz uma verificação isso

gera um CQT em outra estação, que irá verificar se a atividade foi realizada

corretamente por esse operador. As atividades de CQT e Verificação são

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identificadas nas Folhas de Método Operacional através de um triângulo vermelho

(CQT) e de um círculo azul (Verificação).

Outra ferramenta do DFT para garantir o fluxo da produção e o atingimento da

demanda dos clientes é a chamada “Flexibilização dos Operadores”. A definição da

ferramenta de acordo com a atualização do livro de John Costanza escrito por Gillian

e Taylor-Jones (2005, p. 159) é a seguinte:Os funcionários produtivos no DFT devem ser capazes de, no mínimo,

operar “uma estação acima” e “uma estação abaixo”. Em outras palavras,

ele deve conhecer as atividades das operações ao lado da estação em que

ele se encontra, o que significa que ele deverá saber executar três

operações diferentes: a sua própria, aquela imediatamente antes ao seu

processo e aquela imediatamente após o seu processo.

Essa ferramenta concede à linha de produção um atendimento mais rápido às

necessidades, pois os operadores podem “flexibilizar” de uma célula a outra para

auxiliar em dificuldades. Mais do que isso, em situações de alto rotatividade de

funcionários, a flexibilização é crucial para a continuidade dos processos, que

prossegue mesmo com “buracos” na linha de produção.

Figura 4 – Flexibilização de Operadores

Entretanto para que a flexibilização de operadores funcione a contento, é

necessário que a empresa garanta que os funcionários conheçam as atividades de

sua operação, além das operações de uma estação acima e uma abaixo. Para isso,

os operadores são certificados por cada operação e uma matriz de habilidades é

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criada por operador e por estação. Essa matriz indica se o operador é um

“Treinador” para aquela operação, se é certificado nela ou se está em treinamento.

Os operadores também devem ser re-certificados periodicamente.

Figura 5 – Exemplo de Matriz de Habilidades

Além de todas essas ferramentas, e utilizando-se das mesmas, o DFT

também se baseia em fórmulas matemáticas para o cálculo de Kanban, da

capacidade produtiva (Demand at Capacity), do Tempo de Ciclo Operacional

(Operational Cycle-Time), da quantidade de pessoas que são necessárias para cada

processo e até mesmo do quão flexível a linha de produção deve ser em ambientes

com múltiplos modelos e tempos de operação.

Utilizando-se de todas essas ferramentas, a tecnologia permite que se desenvolva o

melhor desenho possível da linha de produção, agrupando tarefas conforme

definidas como o melhor fluxo da linha. De acordo com Gillian e Taylor-Jones (2005,

p.36):Na Manufatura em Fluxo, o desenho das células e linhas de produção

sempre suportam o maior volume necessário e o menor tempo de ciclo

operacional necessário. Ao desenhar uma linha ou célula, o fabricante deve

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buscar a previsão mais realista de vendas e da Direção da maior

capacidade de cada produto.

Esses volumes devem prever ao menos um ano adiante. Então deve ser

calculado o tempo de ciclo operacional com base na demanda mais alta

para calcular o tempo operacional.

Com a utilização dessas ferramentas, forma-se uma linha flexível, que

atenderá a toda a demanda prevista e que poderá atender também a níveis menores

de fabricação, já que com a flexibilização dos operadores eles podem atendem a

mais de uma operação por conhecê-las, sem perda de produtividade. Isso também

evitará picos na produção que não poderão ser atendidos.

Figura 6 – Programação de Demanda antes e depois do DFT

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Com a implantação desta estratégia de negócios, qual o impacto pode ser

esperado dentro das organizações? A resposta é dada por Goodwin (2014), em que

ele afirma dizer aos seus clientes que, em média, após a implantação da estratégia,

há um aumento de 41% no capital de giro e uma diminuição de 8% no custo dos

produtos vendidos. Com todas essas qualidades, qual será o motivo pelo qual esta

tecnologia praticamente não é utilizada no Brasil?

3. METODOLOGIA DE PESQUISA

Devido à falta de pessoas com conhecimento no tema no Brasil, a pesquisa

foi realizada com consultores americanos que trabalham prestando serviço de

consultoria da tecnologia no mundo, dando treinamentos e auxiliando na

implantação do DFT em indústrias. Foram entrevistados dois consultores com larga

experiência na ferramenta, e um ex-consultor da JCIT, empresa do criador do DFT,

John Costanza. A pesquisa foi feita em forma de entrevista com 4 perguntas básicas

e as mesmas serão discutidas no próximo tópico.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Para tentar entender se existem empresas brasileiras utilizando a tecnologia,

a primeira pergunta feita aos consultores foi: “Você já trabalhou na implantação do

DFT em empresas que não fossem norte-americanas? Caso a resposta seja

positiva, em que país essas empresas estão situadas? ”

O consultor Bobby Click1 respondeu que já havia trabalhado na implantação

do DFT em empresas que não fossem norte-americanas e citou a lista de empresas

estrangeiras com que já tinha trabalhado: Bang & Olufsen Medicom (Dinamarca),

1 Bobby Click é consultor da tecnologia DFT por 22 anos, sendo 11 deles na empresa de John Costanza, a JCIT, e 11 em sua própria empresa de consultoria, Spike Enterprises, da qual é presidente. Nesses 22 anos prestou consultoria e auxiliou na implantação do DFT em empresas tais como a General Electric, Stanley Toolworks, Northrup Grumman, Atrium Doors and Windows, Black & Decker, Nacco Materials Handling Group, Mentor Medical, Varian, LAM Research, John Deere, Stryker Inc., American Standard, Cascade Designs, Flextronics, Fastenal, Storage Technology Corporation, Copeland Compressors, e Respironics, entre outras.

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Carl Zeiss AG (Alemanha), Leybold AG (Alemanha), Iscar (Israel), Aviv (Israel),

Dansk Bank (Dinamarca), Inwido (Dinamarca), Astra Zeneca (Reino Unido), Atlas

Copco (Suécia), Maestro Business (Dinamarca e Reino Unido) e Louwen Windows

and Doors (Canadá). Ao ser perguntado se já havia trabalhado em alguma empresa

no Brasil, Bobby respondeu que apenas na filial brasileira da NACCO Materials

Handling Group, mas que essa é, na verdade, uma empresa de capital norte

americano com uma filial em território brasileiro.

A resposta do consultor Mike Cavanaugh2 foi bastante semelhante. Mike afirmou já

ter trabalhado em implantações do DFT nos seguintes países: México, China,

Malásia, Arábia Saudita, Reino Unido e Israel. Entretanto, Mike ressaltou que

tipicamente esse tipo de conexão se inicia com a recomendação de uma empresa

americana e principalmente de empresas que gostariam que seus fornecedores ou

clientes trabalhassem com a tecnologia. Mike também confirmou que nunca

trabalhou na implantação de nenhuma empresa brasileira, apesar de já ter aplicado

treinamentos a brasileiros nos EUA, mas que esses trabalhavam em empresas de

capital norte-americano.

Por fim, a resposta de Kal Tailor3 também seguiu os mesmos moldes. Kal já

esteve envolvido em inúmeras implantações de DFT em seus tempos como

consultor, nos Estados Unidos e também no México, Canadá, Japão e agora tem

suportado a planta brasileira na empresa em que trabalha atualmente.

A segunda pergunta foi feita considerando as respostas à primeira pergunta:

“Considerando que você nunca trabalhou em empresas de capital brasileiro, você

acredita que haja algum tipo de barreira para implantar a tecnologia em empresas

que não sejam norte-americanas?”.

Bobby Click respondeu que não acredita que tenha algo a ver com a

nacionalidade. Em sua resposta, Bobby destacou que até hoje as barreiras que ele

2 Mike Cavanaugh teve sua primeira experiência com DFT há 15 anos, quando trabalhava com a tecnologia na General Electric. Desde então vem trabalhando com a tecnologia e hoje é presidente da High Impact, empresa que presta consultoria e treinamentos na ferramenta.3 Kal Tailor foi consultor da JCIT (empresa de John Costanza) desde o início. Ele estava na equipe de 13 pessoas que iniciaram a companhia e inclusive auxiliou no processo para escrever o livro “The Quantum Leap: In Speed to Market”, considerado até hoje a bíblia do DFT. Tailor passou 5 anos na empresa e fez mais de 50 implantações da estratégia em empresas como GE, Lennox, John Deere, Trane, GE engines e muitas outras. Após esta experiência, Kal teve sua própria consultoria por mais de 10 anos, até ser contratado para ser o Gerente de DFT da Divisão Americas da NACCO Materials Handling Group, sendo o responsável pela manutenção do sistema em todas as plantas americanas da empresa, além da planta mexicana e da planta brasileira.

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tem encontrado são tipicamente a falta de entendimento ou de comprometimento da

Alta Direção em relação ao DFT, e também a falta de formar uma base sólida onde o

DFT possa ser implantado de maneira consolidada através de treinamentos

frequentes. Bobby ressaltou que o realinhamento das métricas atuais da direção

com as estratégias e táticas do DFT são fatores críticos para uma implantação de

sucesso.

A resposta de Mike Cavanaugh segue a linha da resposta de Bobby Click.

Mike acredita que a força do DFT é a mesma, independentemente do ambiente, ou

seja, as barreiras que possam existir independem da nacionalidade da empresa.

Na mesma linha, a resposta de Kal Tailor é bem similar, apesar de citar que o

idioma pode ser uma barreira. Kal cita que a principal barreira tem a ver com o modo

como a tecnologia é encarada. Ele acredita que a maior parte dos países tem

produção voltada aos “produtos” enquanto o DFT é direcionado pelos “processos”.

Kal complementa dizendo que essa é a principal barreira, já que o DFT não deve ser

encarado como um “Projeto” como a grande maioria das empresas o faz, mas como

um “Estilo de Vida” e deve ser parte do dia a dia sempre. Kal finaliza dizendo que,

apesar de ter citado o idioma como uma possível barreira, essa não foi uma barreira

para ele pessoalmente, nasceu na Hungria e sempre teve familiaridade com muitas

culturas diferentes em muitas empresas de diversos países, o que sempre facilitou

em sua abordagem.

A terceira pergunta foi direcionada aos benefícios da ferramenta: “Você

acredita que os benefícios de se implantar a ferramenta em qualquer tipo de

indústria ocorrerão, independentemente da cultura e do idioma da empresa?

Bobby Click respondeu que sim. Click afirmou que já trabalhou com a

tecnologia em vários tipos de indústrias, tais como empresas de alto volume e que

produzem para estocar, empresas com baixo volume e que produzem apenas sob

demanda, empresas de alto volume com produção sob demanda, empresas com

processos intensos de máquinas, indústrias médicas, de Defesa e Espaciais, e

Indústrias de Serviços, e disse que em todas elas, independentemente da

nacionalidade ou da cultura, foram confirmados os benefícios financeiros

(quantitativos) como também não-financeiros, incluindo melhoras na resposta aos

clientes, maior qualidade, custos mais baixos, aumento na produtividade e na moral,

redução de inventários, capital de giro e despesas com funcionários.

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A resposta de Mike Cavanaugh também foi afirmativa. Segundo Cavanaugh,

estudos internos de sua empresa atual mostram que o DFT gera um tremendo

benefício às empresas, independentemente da indústria, do local em que se

encontra e do idioma. Segundo Mike, o poder da diminuição de tempos na produção

é universal, já que deixa menos aberto a produzir de maneira diferente (e errada),

emprega menos dinheiro e causa um aumento na produtividade mesmo em países

onde as taxas de eficiência são extremamente baixas. Mike cita como exemplo as

empresas mexicanas em que trabalhou, onde, com o auxílio das ferramentas já

expostas, as atividades foram simplificadas com a ajuda do DFT, o que exigia

menos treinamento e operadores menos habilidosos. Segundo Cavanaugh, em

particular no Norte do Mexico, quando as empresas param suas atividades para as

festas de fim de ano, entre 20 a 40 % dos funcionários não retornam para o trabalho

no início do ano seguinte. Quando as atividades de trabalho se tornam mais simples,

fica mais fácil de repor essa mão de obra por não ser extremamente qualificada

devido à simplificação das atividades.

Kal Tailor corrobora a resposta de seus colegas, dizendo que em todas as

empresas que trabalhou foi possível obter os benefícios ao enraizar na empresa o

conceito de valor agregado e valor não agregado, e que o DFT persegue

consistentemente: a eliminação das atividades de valor não agregado. Tailor cita o

exemplo da banana – em que você paga pela fruta e sua casca, mas apenas a fruta

adiciona valor a você. Kal finaliza dizendo que, em resumo, independentemente de

cultura e idioma, sempre se deve estar voltado aos processos, seguir as empresas

bem-sucedidas e sempre melhorar a fim de estar à frente da concorrência.

Por fim, com as respostas dessas três primeiras perguntas já foi possível

identificar que, de fato, não há empresas brasileiras que usam o DFT e que não

haveria nenhuma barreira, seja por conta de idioma ou de cultura, que impedissem

uma empresa brasileira em implementá-lo. Deste modo, fiz aos consultores a

derradeira pergunta: “Por que você acha que não há empresas brasileiras que

utilizem o DFT em suas fábricas? ”.

O consultor Bobby Click respondeu que essa seria uma pergunta difícil dele

responder, por não ter uma familiaridade tão grande com o mercado brasileiro. Ele

vê o Brasil hoje como um mercado internacional emergente, e que provavelmente o

fato de não ter empresas brasileiras utilizando o DFT se deve a uma combinação de

diversos fatores. O primeiro deles seria de fato um desconhecimento da ferramenta

em território brasileiro, o que pode ser sanado através da comunicação da

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ferramenta no mercado, treinamentos e resultados demonstrados por empresas

utilizando a estratégia de negócios. Outra forma de alavancar o crescimento do DFT

no mercado brasileiro seria fazer empresas de outras nacionalidades que tenham

fábrica no Brasil adotar a sistemática. Segundo Click, uma vez que o DFT se torne

conhecido na indústria, o interesse tende a se espalhar rapidamente dentro daquela

indústria.

Ainda de acordo com Click, outra barreira que pode haver para o DFT não ser

difundido no Brasil é a síndrome do “isso não foi inventado aqui” em conjunto com o

entendimento que “nós já fazemos muito disso”, ou que o DFT é apenas mais um

“programa do mês” que logo passará, e outras desculpas do tipo. A estratégia é

simples de se descrever, mas requer um nível de foco e atenção que é para muitas

empresas difícil de compreender, adotar e suportar ao longo do tempo enquanto se

adapta para as mudanças do mercado e as necessidades do cliente. A gestão das

mudanças dentro do processo para todos os funcionários e do “executivo para a

execução” devem ser atentamente monitorados e todos os funcionários devem estar

engajados para que, através desta transição, estabelecer o que for necessário para

tornar os princípios e práticas do DFT algo que esteja sempre permeando as rotinas

de trabalho diárias e que todos tenham responsabilidades por seus processos em

nível individual.

Click conclui dizendo que há, ainda, um componente financeiro a ser levado

em consideração. Existe um investimento inicial para treinamento e implantação,

que é necessário antes mesmo que qualquer benefício possa ser percebido, e

empresas que não conhecem a ferramenta ou nunca perceberam esse tipo de

melhoria em outras empresas em geral sentem-se receosas em realizar esse tipo de

investimento.

Mike Cavanaugh disse não conhecer a fundo o mercado brasileiro, e por isso

não consegue precisar o motivo pelo qual o DFT não é difundido no país. De

qualquer modo, Cavanaugh não consegue enxergar nenhuma barreira que

impedisse uma empresa brasileira de implantar o sistema DFT em seus processos

produtivos.

Kal Tailor também disse não ter a resposta a essa pergunta, mas disse que

pode enumerar alguns tópicos que podem ter influência no fato do DFT não estar

presente em indústrias nacionais. Primeiramente, o DFT não foi ainda visto, aceito

ou testado em empresas totalmente nacionais. Outro fator é justamente o fato das

universidades e estudos locais não terem desenvolvido o tema, assim há muito

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pouco conhecimento em língua portuguesa a respeito para que seja absorvido pelos

estudantes. Kal também enumera que, em geral, a Alta Direção das empresas está

“muito ocupada” com outras atividades, e que “não tem tempo” para procurar

tecnologias que irão melhorar seus processos. Tailor também citou a dificuldade de

importar ou exportar itens para o Brasil e toda a burocracia em todos os processos

envolvendo o governo, além de comentar por fim que o próprio governo deveria

estar realizando estudos a respeito e divulgando a ferramenta a fim de fomentar a

indústria nacional. Kal Tailor finaliza dizendo que, nos anos 60, Deming estava

tentando implantar “novos processos” nos EUA e não foi bem aceito lá. Assim,

Deming resolveu ir ao Japão, que criou os princípios Toyoda com base em suas

pesquisas e tornou o Japão uma potência em manufatura, tirando o posto de

Excelência de Manufatura dos EUA. O DFT surgiu nos anos 80 / 90 e foi aceito em

várias empresas, tornando-se um sucesso. Assim, nesse momento o DFT está se

tornando mais maduro e expandindo para várias empresas, e seria importante que

as empresas brasileiras acolhessem os princípios do DFT muito rapidamente, pois

elas não teriam nada a perder avaliando a ferramenta e criando “Programas Piloto”

para testá-la.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste estudo era entender porque a tecnologia DFT, tão difundida

em indústrias no mundo todo e em especial nos EUA, não é utilizada por empresas

em território brasileiro. Para tal, foram entrevistados consultores da tecnologia do

mundo a fim de entender porque ela não é difundida no Brasil.

De posse dos resultados acima apresentados, concluo que não há um único

motivo que possa determinar o porquê as empresas brasileiras não utilizam a

tecnologia, mas sim uma série de fatores que influenciem para que a ferramenta não

chegue no Brasil: falta de divulgação da ferramenta em território nacional, falta de

empresas nacionais utilizando-a, falta de interesse dos próprios empresários e do

governo, mas principalmente o desconhecimento da tecnologia por executivos

brasileiros, fato esse que espero seja amenizado com a produção desse artigo em

língua portuguesa, auxiliando na divulgação da mesma no Brasil.

6. REFERÊNCIAS

Page 15: A IMPLANTAÇÃO DO DFT EM INDÚSTRIAS BRASILEIRAS

GILLIAM, Dean and JONES, Steve-Taylor, Quantum Leap: The Next Generation,

JCIT International, 2005.

GOODWIN, Sandy, How DFT Impacts Your Business Part 1, artigo de blog de 24

de abril de 2014, disponível em http://myhicoach.com/demand-flow-technology-

impact/ Acesso em: 27 de setembro de 2015.

FULMER, Mark, Falcon V FlowPower from JCIT, artigo disponível em

http://www.theautochannel.com/news/press/date/19990726/press027219.html

Acesso em: 25 de setembro de 2015

THE FREE LIBRARY. Fortune Magazine Names Englewood CEO a Hero of U.S. Manufacturing; JCIT's John Costanza Honored Alongside 5 Other U.S. Innovators, artigo disponível em

http://www.thefreelibrary.com/Fortune+Magazine+Names+Englewood+CEO+a+Hero

+of+U.S.+Manufacturing%3B...-a060501265, Acesso em: 17 de setembro de 2015