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i UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS: UMA ANÁLISE ERGONÔMICA ESPECÍFICA PARA MELHORA NA QUALIDADE DE VIDA DO CIRURGIÃO-DENTISTA. CLOVIS COSTA DE SOUZA FLORIANÓPOLIS, Santa Catarina 2003

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Page 1: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS: UMA ANÁLISE ERGONÔMICA ESPECÍFICA PARA MELHORA NA

QUALIDADE DE VIDA DO CIRURGIÃO-DENTISTA.

CLOVIS COSTA DE SOUZA

FLORIANÓPOLIS, Santa Catarina 2003

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i

CLOVIS COSTA DE SOUZA

A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS: UMA ANÁLISE ERGONÔMICA ESPECÍFICA PARA MELHORA NA

QUALIDADE DE VIDA DO CIRURGIÃO-DENTISTA. Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Engenharia da Produção, Curso de Pós-Graduação em Engenharia da Produção

Orientador: Prof. Doutor José Luiz Fonseca da Silva Filho

FLORIANÓPOLIS 2003

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ii

TERMO DE APROVAÇÃO

CLOVIS COSTA DE SOUZA

A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS: UMA ANÁLISE ERGONÔMICA ESPECÍFICA PARA MELHORA NA

QUALIDADE DE VIDA DO CIRURGIÃO-DENTISTA.

Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre no curso de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina, pela seguinte banca examinadora:

Orientador: Prof. Dr. José Luiz Fonseca da Silva Filho.

Profª. Dra. Eliete de Medeiros Franco.

Prof. Dr. Alcion Alves Silva

Florianópolis, 17 de fevereiro de 2003

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iii

DEDICATÓRIAS

A MARIA LUCIA, minha esposa, ANDRÉ, meu filho e BETINA, minha filha, cujo

amor e compreensão somaram esforços para a superação dos obstáculos.

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iv

AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal de Santa Catarina e à Coordenação do Programa de Pós-

Graduação em Engenharia de Produção: pela oportunidade de cursar o Mestrado,

de poder usufruir dos ensinamentos de seus pesquisadores e pelo atendimento

eficiente e personalizado de seus técnicos administrativos.

Ao Professor Doutor José Luiz Fonseca da Silva Filho, minha gratidão como

orientador e por me ter propiciado construir conhecimentos individualmente e no

coletivo, em nosso grupo de discussões. Por sua orientação, amizade e suas

contribuições na orientação deste trabalho.

À Professora Doutora Eliete de Medeiros Franco, componente da banca

examinadora, com quem muito tive oportunidade de aprender. Sua postura

profissional e amiga, sua disponibilidade e contribuições valiosas, marcaram

significativamente, para mim, sua presença no desenvolvimento do Mestrado.

Ao Professor Doutor Alcion Alves Silva, companheiro e amigo, um agradecimento

especial pelas suas orientações seguras para o bom desenvolvimento deste

trabalho.

À Professora Doutora Ana Regina de Aguiar Dutra, pela sua disponibilidade e

contribuições valiosas para o aperfeiçoamento deste trabalho, minha amizade.

Às pessoas com quem tive oportunidade de conviver durante o período de Mestrado,

pelo companheirismo, convivência intelectual e amizade.

Page 6: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

v

“ A m a i o r g r a ç a d a n a t u r e z a – e o m a i o r p e r i g o d a g r a ç a – s ã o o s o l h o s . T a n t o a q u e l e s c o m q u e v e m o s , q u a n t o a q u e l e s c o m q u e s o m o s v i s t o s ” P e . A . V i e i r a .

“ O o l h o é r e s p o n s á v e l p e l a a q u i s i ç ã o d e a p r o x i m a d a m e n t e 8 0 % d o c o n h e c i m e n t o h u m a n o . P o r t a n t o , q u a l q u e r d e f i c i ê n c i a n e s s e ó r g ã o c o m p r o m e t e , e m m a i o r o u m e n o r e x t e n s ã o , o d e s e n v o l v i m e n t o d a s a p t i d õ e s i n t e l e c t u a i s e p s i c o m o t o r a s , i n t e r f e r i n d o n a v i d a e s c o l a r e p r o f i s s i o n a l d o i n d i v í d u o . A f u n ç ã o d o o l h o é c a p t a r l u z d o m e i o a m b i e n t e e c o n v e r t ê - l a . ” F u n d . H i l t o n R o c h a

E m o p o s i ç ã o a o p r e t o , o b r a n c o é a c o r d a v i d a e d a p a z . “ D i s s e D e u s : H a j a l u z ; e h o u v e l u z . E v i u D e u s q u e a l u z e r a b o a ; e f e z s e p a r a ç ã o e n t r e a l u z e a s t r e v a s . “ G u i m a r ã e s ( 2 0 0 0 ) .

Page 7: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

vi

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS ............................................................................................... VIII

LISTA DE ILUSTRAÇÕES......................................................................................... IX

GLOSSÁRIO...............................................................................................................X

RESUMO.................................................................................................................. XIV

ABSTRACT...............................................................................................................XV

1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................1

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .............................................................................1 1.2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................1 1.3 OBJETIVOS .......................................................................................................1 1.4 DELIMITAÇÃO DO TRABALHO ........................................................................2 1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO ..............................................................................2 1.6 ESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO DA DISSERTAÇÃO.............................3

2 REFERENCIAL TEÓRICO.......................................................................................5

2.1 LUMINOTÉCNICA..............................................................................................5 2.1.1 Objetivos da Iluminação.................................................................................7 2.1.2 Efeitos da Luz ................................................................................................8 2.1.3 Grandezas Fundamentais da Luminotécnica ...............................................10

2.1.3.1 Luz........................................................................................................10 2.1.3.2 Cor........................................................................................................11

2.1.4 Intensidade Luminosa ..................................................................................12 2.1.5 Iluminamento................................................................................................12

2.1.5.1 Escolha da Luminária ...........................................................................13 2.1.6 Avaliação Qualitativa das Lâmpadas ...........................................................13

2.1.6.1 Índice de reprodução de cores – IRC...................................................13 2.1.6.2 Eficiência ..............................................................................................14 2.1.6.3 Temperatura da cor ..............................................................................15 2.1.6.4 Curva espectral ....................................................................................16

2.1.7 Tipos de Luminárias.....................................................................................16 2.1.8 Formas de Iluminação para Consultório Odontológico ...............................17

2.2 ERGONOMIA ...................................................................................................17 2.2.1 Histórico da Ergonomia................................................................................19 2.2.2 Definições ....................................................................................................21 2.2.3 Tipos de Ergonomia .....................................................................................22 2.2.4 Objetivos da Ergonomia...............................................................................23 2.2.5 Métodos e Técnicas .....................................................................................24

2.3 IMPORTÂNCIA DOS PROJETOS DE ILUMINAÇÃO PARA OS ESTUDOS ERGONÔMICOS....................................................................................................29 2.3.1 Ergonomia....................................................................................................29

Page 8: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

vii

2.3.2 Projeto de Iluminação..................................................................................29 2.3.3 Caracterização do Trabalho do Cirurgião-Dentista .....................................30 2.3.4 Saúde Ocular dos Odontólogos ...................................................................31 2.3.5 Iluminação Geral .........................................................................................31

2.4 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO..........................................................32 2.4.1 Concepções Sobre o Trabalho.....................................................................35 2.4.2 Modelos e Fatores Determinantes de QVT..................................................37 2.4.3 Produtividade X Qualidade de Vida no Trabalho .........................................47 2.4.4 O Taylorismo e a Ergonomia........................................................................49

2.4.4.1 A Resistência dos Trabalhadores ao Taylorismo .................................49 2.4.4.2 A Transformação do Taylorismo...........................................................50

2.4.5 Eficácia e Trabalho ......................................................................................52 3 ESTUDO DE CASO: A ANÁLISE ERGONÔMICA DO AMBIENTE LUMÍNICO NO

TRABALHO DO CIRURGIÃO-DENTISTA ...............................................................55

3.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................55 3.2 ANÁLISE DE DADOS .....................................................................................57 3.2.1 Procedimentos Metodológicos .....................................................................58

3.3 APLICAÇÃO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO .........................58 3.3.1 Análise da Demanda....................................................................................58 3.3.2 Características do local de trabalho .............................................................58 3.4 ANÁLISE DA TAREFA....................................................................................59 3.4.1 Descrição da tarefa .....................................................................................59 3.4.2 Características físico-ambientais do espaço de trabalho: ............................60

3.5 ANÁLISE DA ATIVIDADE ................................................................................61 3.5.1 Análise das atividades em termos gestuais e posturais..Erro! Indicador não definido. 3.5.2 Análise das atividades em termos cognitivos...............................................63

3.6 DIAGNÓSTICO ................................................................................................63 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................67

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:........................................................................69

ANEXOS .......................................................................................................................

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viii

LISTA DE TABELAS

TABELA III – ÍNDICE DE REPRODUÇÃO DE CORES. REF.: MOREIRA (1987). .....14

TABELA IV – LÂMPADAS FLUORESCENTES (POTÊNCIA E FLUXO LUMINOSO).

FONTE: CREDER (1986). .........................................................................................16

TABELA VI – CONCEPÇÃO EVOLUTIVA DE QVT (NADIER E LAWLER, 1983). .....35

TABELA VII – CATEGORIAS CONCEITUAIS DE QUALIDADE DE VIDA NO

TRABALHO - QVT.....................................................................................................42

TABELA VIII – INDICADORES DA QVT ....................................................................43

TABELA IX – MODELO DE WERTHER & DAVIS ( ELEMENTOS DE QVT ). ............44

TABELA X - MODELO DE BELANGER (1973). .........................................................45

TABELA XI – MODELO DE DIMENSÕES BÁSICAS DA TAREFA, SEGUNDO

HACKMAN & OLDHAM (1975). .................................................................................46

Page 10: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

ix

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA I – ESPECTRO DA LUZ VISÍVEL EM FUNÇÃO DO COMPRIMENTO DE

ONDA. CREDER, H. (1986).......................................................................................11

FIGURA II - STANDARD 150W - 2.000 LUMENS ......................................................15

FIGURA III - POWERSTAR HQIT 150W - 12.000 LUMENS ......................................15

FIGURA IV – LAYOUT DA CLÍNICA ODONTOLÓGICA ............................................77

FIGURA V – LAYOUT DA SALA DE ATENDIMENTO................................................78

FIGURA VII – FOTO DA JANELA DA SALA DE ATENDIMENTO EM OUTRO

ÂNGULO ...................................................................................................................80

FIGURA VIII – FOTO DOS EQUIPAMENTOS DO CONSULTÓRIO NA SALA DE

ATENDIMENTO ........................................................................................................81

FIGURA IX – LAYOUT DA DISPOSIÇÃO DOS EQUIPAMENTOS NA SALA DE

ATENDIMENTO ........................................................................................................82

FIGURA X – FOTO DAS LUMINÁRIAS NO TETO NA SALA DE ATENDIMENTO.....83

Page 11: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

x

GLOSSÁRIO

Definição de termos considerados relevantes no decorrer do estudo:

Análise Ergonômica do Trabalho: metodologia desenvolvida por

ergonomistas de língua francesa, que inclui as fases da: análise da demanda,

análise da tarefa e análise das atividades para se chegar ao diagnóstico e

recomendações ergonômicas. A análise é realizada em uma situação real de

trabalho e as conclusões objetivam melhorar condições de trabalho e saúde dos

trabalhadores, a produtividade e a qualidade de produtos e serviços produzidos ou

realizados. SANTOS E FIALHO (1997).

Análise da demanda: fase da análise ergonômica do trabalho que

corresponde à definição do problema a ser analisado, a partir da negociação com os

diversos atores sociais envolvidos. A demanda é o marco inicial de toda análise

ergonômica do trabalho. A sua análise possibilita a compreensão da natureza e a

dimensão dos problemas apresentados, assim como elaborar um plano de

intervenção para abordá-los. “A demanda pode ser formulada diretamente, de forma

explícita, por um dos atores sociais (individual e coletivo), ou ainda, indiretamente,

de forma implícita, pelo confronto dos diferentes pontos de vista a respeito do objeto

de estudo.“ SANTOS E FIALHO (1997).

Análise da tarefa: fase da análise ergonômica do trabalho que corresponde

ao que o trabalhador, efetivamente, realiza para executar a tarefa. Refere-se à

análise do comportamento do homem no trabalho. SANTOS e FIALHO (1997). A

atividade: corresponde a um conceito que remete à mobilização ativa dos recursos

do ser humano quando trabalha, incluindo estratégias denominadas modos

Page 12: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

xi

operatórios. Estes, compõem-se de gestos técnico observáveis – ação sobre a

matéria, equipamentos, organizações – e não observáveis – planificação da ação,

antecipação do comportamento do sistema e representação da situação. CASTILHO

e VILLENA (1998). Para MONTMOLLIN (1990), a atividade constitui-se em um

“processo complexo, original e em evolução, destinado a adaptar-se à tarefa mas ao

mesmo tempo a transformá-la.”

Aparelho Óptico Humano – Segundo GUIMARÃES (2000):

OLHO – é uma “câmara obscura”, dotada de um “jogo de lentes”, que

converge os raios luminosos para a parede interna oposta ao orifício, captando,

desta forma, a imagem. Ele é formado basicamente por três camadas (esclerótica,

coróide e retina) e por meios de refração (cristalino, humores aquoso e vítreo).

ESCLERÓTICA – é a camada externa que dá forma arredondada ao olho. É

uma membrana branca, opaca e fibrosa. Na sua parte anterior, ou frontal, mostra-se

transparente e mais convexa e recebe o nome de córnea; em sua parte posterior,

reveste o nervo óptico (nervo que leva os impulsos visuais ao cérebro).

CORÓIDE – é uma membrana intermediária, mais fina, vascular e

pigmentada. Após ultrapassar a córnea, a luz atravessa a coróide por um orifício: a

pupila. Um anel muscular, a íris (parte “colorida” dos olhos), envolve a pupila e,

como um diafragma, regula a entrada da luz.

CRISTALINO – situa-se atrás da pupila, e é uma lente biconvexa que

converge os raios luminosos para a camada interior, a retina. O cristalino é rodeado

pelos músculos ciliares, que aumentam a refração, alterando a convexidade do

cristalino, para focalizar a imagem.

RETINA – é a membrana fotosensível que reveste a parede interna do globo

ocular. Compõe-se de várias camadas, entre elas, a inferior ou nervosa (formada por

ramificações do nervo óptico). A camada nervosa é a responsável pela visão:

compõe-se de cerca de 130 milhões de células, das quais cerca de 100 milhões são

os bastonetes – sensíveis à luz e à sua mudança, mas sem sensibilidade à cor – e

cerca de 3 milhões, os cones – sensíveis às cores e formas.

Page 13: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

xii

HUMORES AQUOSO E VÍTREO – os outros meios de refração, preenchem,

respectivamente, a área entre a córnea e o cristalino e a cavidade central, atrás do

cristalino, sendo o primeiro um líquido e o segundo um material gelatinoso , ambos

transparentes.

Atividade laboral: A atividade adaptada para as necessidades impostas pelo

tipo de trabalho, realizadas sem sair do posto, em breves períodos de tempo, ao

longo de todo o dia de trabalho, pode produzir excelentes resultados, principalmente

no que diz respeito à prevenção de dores no pescoço e nos braços. RELASUR

(1997).

Diagnóstico: corresponde a uma síntese da análise ergonômica do trabalho

e objetiva a redação de um caderno de encargos e recomendações ergonômicas.

Visa sempre a uma transformação e não apenas à descrição de uma situação de

trabalho. SANTOS e FIALHO (1997).

Ergonomia: conjunto de conhecimentos sobre o desempenho do homem em

atividade, com a finalidade de aplicá-los à concepção das tarefas, instrumentos,

máquinas e sistemas de produção. LAVILLE (1977). “A Ergonomia implica no estudo

de um trabalho concreto, a observação de realizações da tarefa no local e com os

equipamentos e equipes envolvidos, a coleta de todos os dados, qualitativos e

quantitativos, incertos, incompletos ou contraditórios, necessários a um diagnóstico.”

SANTOS E FIALHO (1997).

Fluxo luminoso: é a grandeza característica de um fluxo energético,

exprimindo sua aptidão de produzir uma sensação luminosa no ser humano através

do estímulo da retina ocular, avaliada segundo os valores da eficácia luminosa

relativa admitidos pela Comissão Internacional C.I.E.” (ABNT). A unidade do fluxo

luminoso é o lúmen (lm). MOREIRA (1990).

Page 14: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

xiii

Intensidade luminosa: é o limite da relação entre o fluxo luminoso em um

ângulo sólido em torno de uma direção dada e o valor desse ângulo sólido, quando

esse ângulo sólido tende para zero. A unidade de intensidade luminosa no nosso

sistema legal é a candela (cd). MOREIRA (1990).

Iluminamento: é o fluxo luminoso incidente por unidade de área iluminada. A

unidade brasileira de iluminamento é o lux (lx). MOREIRA (1990).

Iluminação incandescente: é resultante do aquecimento de um fio, pela

passagem da corrente elétrica, até a incandescência. As lâmpadas incandescentes

comuns são compostas de um bulbo de vidro incolor ou leitoso, de uma base de

cobre ou outras ligas e um conjunto de peças que contém o filamento, que é a peça

mais importante. Atualmente, os filamentos são de tungstênio, que tem um ponto de

fusão de aproximadamente 3.400 ºC. CREDER (1986).

Iluminação fluorescente: é uma lâmpada que utiliza a descarga elétrica

através de um gás para produzir energia luminosa. Consiste em um bulbo cilíndrico

de vidro, tendo em suas extremidades eletrodos metálicos de tungstênio (catodos),

por onde circula corrente elétrica. Em seu interior existe vapor de mercúrio ou

argônio a baixa pressão e as paredes internas do tubo são pintadas com materiais

fluorescentes, conhecidos como cristais de fósforo. CREDER (1986).

Luminância: é o limite da relação entre a intensidade luminosa com a qual

irradia, em uma direção determinada, uma superfície elementar contendo um ponto

dado e a área aparente dessa superfície para uma direção considerada, quando

essa área tende pra zero. MOREIRA (1990).

Page 15: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

xiv

SOUZA, Clovis Costa de A iluminação em consultórios odontológicos: uma

análise ergonômica específica para melhora na qualidade de vida do Cirurgião-

Dentista. Orientador: Dr. José Luiz Fonseca da Silva Filho. Florianópolis: UFSC/Pós-

Graduação em Engenharia de Produção, 2002. Dissertação (Mestre em Engenharia

de Produção).

RESUMO

Esta dissertação tem por objetivo mostrar a necessidade de um estudo da

análise ergonômica do trabalho, mais especificamente, como a intensidade de luz

dentro da sala de tratamento do paciente em um consultório odontológico pode

afetar o trabalho do Cirurgião-Dentista, levando a uma fadiga tanto muscular quanto

ocular. Os vários ambientes que um consultório odontológico possui, têm

iluminações diversas: a sala de recepção, a sala de entrevistas, a sala de repouso

pré e pós-operatório, o banheiro, os corredores e a sala de tratamento propriamente

dita, que é o objeto deste estudo, e estes devem estar adequadamente iluminados.

A fundamentação teórica e conseqüente revisão bibliográfica busca aprofundar

temas como: trabalho, condições de trabalho, ergonomia e qualidade de vida.

Utilizando-se a Análise Ergonômica do Trabalho, estabeleceu-se um diagnóstico e

um caderno de encargos com recomendações ergonômicas, mostrando aspectos a

serem considerados e a relevância da iluminação para a atividade humana, como

meio de obtenção das condições de conforto e satisfação no ambiente de trabalho.

Palavras-chave: ergonomia, luminotécnica, iluminação odontológica.

Page 16: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

xv

SOUZA, Clovis Costa de A iluminação em consultórios odontológicos: uma

análise ergonômica específica para melhora na qualidade de vida do Cirurgião-

Dentista. Orientador: Dr. José Luiz Fonseca da Silva Filho. Florianópolis: UFSC/Pós-

Graduação em Engenharia de Produção, 2002. Dissertação (Mestre em Engenharia

de Produção).

ABSTRACT

This dissertation intends to show the necessity of discution of work ergonomics

analisys, most especificaly how light intensity in a odontologic treatment room can

affect cirurgio-dentist work, resulting in muscular or ocular stress. Most ambients in a

odontologic consulting room have many kinds of illumination: reception room,

interview room, resting room, pre and post operator room, bathroom, other rooms,

and treatment room, this one, object of this study, because this must be illuminated

correctly. By this motive, odontologic instruments have an anti-reflexive treatment,

what avoid an ocular stress and rises reading velocity and efficient illumination must

be good to permit efficient and confortable work. So, a good illumination project

shows aspects that have to be considerated in a work ergonomic analisys and

illumination importance for human activities to intend confortable condictions and

satisfaction in work environement.

Key-words: ergonomy, luminotecnics, odontologic illumination.

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1

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Com o constante desenvolvimento tecnológico, a crise de energia que o Brasil

e o mundo enfrentam e a necessidade de melhor aproveitamento dos recursos

naturais, várias tecnologias foram implementadas à iluminação, com menos

investimento, menor manutenção e maior economia de energia elétrica. A

necessidade de luminárias de maior rendimento luminoso e equipamentos auxiliares

que forneçam às lâmpadas suas condições de funcionamento com eficiência, tudo

isso aliado a uma alta confiabilidade, baixa manutenção e vida longa conduz a um

conforto aos trabalhadores, trazendo uma diminuição de riscos acidentais e

ocupacionais e uma diminuição da fadiga.

1.2 JUSTIFICATIVA

Esta dissertação tem por objetivo mostrar a necessidade de um estudo da

análise ergonômica do trabalho, mais especificamente, como a intensidade de luz

dentro da sala de tratamento do paciente em um consultório odontológico pode

afetar o trabalho do Cirurgião-Dentista, levando a uma fadiga tanto muscular quanto

ocular.

1.3 OBJETIVOS

Objetivo geral:

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2

Identificar e analisar a adoção de um projeto adequado de conforto lumínico,

considerando a abordagem ergonômica do trabalho de um Cirurgião-Dentista.

Objetivos específicos:

a) Pesquisar bibliografias que possibilitem sustentar teoricamente as etapas

metodológicas do estudo e a argumentação a ser desenvolvida sobre ergonomia,

condições de trabalho e condições de trabalho específicas do Cirurgião-Dentista;

b) Realizar uma Análise Ergonômica do Trabalho, relacionando o ambiente de

um consultório odontológico com o Cirurgião-Dentista, fornecendo desta maneira

subsídios que contribuam para o melhor entendimento do trabalho profissional;

c) Diagnosticar os erros relativos à iluminação e onde fazer recomendações

para a melhoria da situação analizada.

1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

A pesquisa realizada dentro de um consultório odontológico, mais

especificamente na sala de tratamento do paciente, constituir-se-á em um estudo de

caso, como conceituado por Godoy (1995). Embora o estudo de caso apresente

como vantagem possibilitar uma análise aprofundada da situação, apresenta a

desvantagem de não permitir generalizações das conclusões do trabalho para outras

situações semelhantes.

1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

Este trabalho caracteriza-se como um estudo de um projeto adequado de

intensidade de luz, juntamente com as necessidades inerentes à tarefa exercida pelo

Cirurgião-Dentista, a fim de participar na melhoria da qualidade de vida do mesmo

em seu espaço de trabalho.

O estudo classifica-se como exploratório/descritivo. O estudo exploratório, de

acordo com Triviños (1992), possibilita aprofundar análises nos limites de uma

Page 19: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

3

realidade específica. Enquanto que o estudo descritivo, permite caracterizar uma

situação pela descrição de fatos e fenômenos que a compõem, indo além da coleta,

ordenação e classificação de dados ou fatos, com o objetivo de permitir o

estabelecimento e análise de relações entre eles.

Ainda, em função da necessidade de conhecer-se profundamente a realidade

estudada, fez-se a opção pelo estudo de caso. De acordo com Godoy (1995), é uma

estratégia que possibilita responder às questões relativas ao modo e causa de

acontecimento de certos fenômenos. Também é a estratégia escolhida quando há

pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e o foco de interesse é

sobre fenômenos visuais, só possíveis de serem analisados dentro de algum

contexto de vida real.

Em resumo, este trabalho caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa, um

estudo exploratório/descritivo, onde foi feita a opção pelo estudo de caso para

aprofundar o conhecimento da realidade focalizada.

1.6 ESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO DA DISSERTAÇÃO

O trabalho está estruturado em três capítulos:

O primeiro capítulo tratará do referencial teórico abordando:

� fatores de iluminação (Luminotécnica);

� questões da ergonomia, como histórico, definições, conceitos, e normas

regulamentadoras;

� revisão de literatura caracterizando a importância dos projetos e

iluminação para os estudos ergonômicos;

� importância da qualidade de vida no trabalho e a preocupação com a

satisfação das necessidades das pessoas a esta questão (suporte para a

realização do estudo de caso);

No segundo capítulo, apresentar-se-á a análise ergonômica do ambiente

odontológico e as necessidades das mudanças referentes à iluminação. Ainda neste

Page 20: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

4

capítulo, são apresentados os dados obtidos e a articulação deles com a literatura

de ergonomia;

No último e terceiro capítulo do trabalho correspondente a considerações

finais, incluem-se as conclusões sobre a pesquisa, relacionadas aos objetivos; à

abordagem utilizada; à escolha da situação referência para o estudo de caso; aos

aspectos cognitivos, organizacionais e ambientais, incluindo recomendações

buscando a melhoria das condições de saúde e trabalho do Cirurgião-Dentista.

Page 21: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

5

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 LUMINOTÉCNICA

CREDER (1986), diz que enxergamos os corpos pela luz que emitem. Esse

fluxo luminoso emitido pode ser próprio (fonte primária de luz), refletido ou

transmitido (fonte secundária de luz).

As fontes primárias podem ser naturais ou artificiais. A principal fonte

primária natural de luz para a terra é o sol. As primárias artificiais são geralmente

classificadas de acordo com o fenômeno que é a causa produtora do fluxo luminoso

(combustão, incandescência, descarga elétrica, eletroluminescência, etc..) e são

chamadas de lâmpadas.

A luz natural sempre foi a principal fonte de iluminação para a população.

Com a descoberta da eletricidade e a invenção da lâmpada por Thomas Edison, a

iluminação artificial se tornou cada vez mais inseparável das edificações, permitindo

ao homem utilizá-la tanto para iluminar alguns ambientes interiores, como à noite,

para dar continuidade às suas atividades. Portanto, um bom projeto de iluminação

deve garantir às pessoas a possibilidade de executar atividades visuais com o

máximo de precisão e segurança bem como com o menor esforço.

As lâmpadas fornecem a energia luminosa que lhes são inerentes com auxílio

das luminárias que são os seus sustentáculos, através dos quais se obtém melhor

rendimento luminoso, ligação à rede, além do aspecto visual agradável e estético.

Ainda de acordo com CREDER (1986), as lâmpadas pertencem basicamente a um

dos seguintes grupos:

a.Irradiação por efeito térmico (Incandescentes)

Incandescentes para iluminação geral: são as mais comuns. Seu princípio de

funcionamento é produzir luz pela elevação da temperatura de um filamento,

Page 22: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

6

geralmente de tungstênio, ao ser submetido à corrente elétrica. O tamanho reduzido,

o funcionamento imediato e o desnecessário uso de aparelhagem auxiliar são

algumas das principais vantagens deste tipo de lâmpada. Empregam-se em locais

nos quais se deseja a luz dirigida, portátil e com flexibilidade de escolha de diversos

ângulos de abertura de facho luminoso, como edificações residenciais e comerciais,

basicamente três tipos de lâmpada incandescentes: incandescente comum, refletora

(espelhadas) e halógena.

As incandescentes comuns são as mais conhecidas e de tecnologia mais

antiga. Apresentam-se em bulbos claros ou leitosos. Apesar do custo inicial baixo,

seu custo global (operação, manutenção e inicial) é alto.

As lâmpadas espelhadas possuem refletor interno para melhorar o

direcionamento da luz. A área espelhada funciona como uma luminária, com a

vantagem de não necessitar limpeza ou sofrer deterioração.

As lâmpadas halógenas possuem, além dos gazes tradicionais, um halogênio

(normalmente iodo) no interior do bulbo. Algumas lâmpadas halógenas são

equipadas com um refletor multifacetado coberto com uma película dicróica,

proporcionando desta forma, uma luz mais “fria” que aquela obtida com refletores

comuns.

b. Descarga em gases e vapores (Fluorescentes, vapor de mercúrio, de

sódio,etc..)

Fluorescentes: são lâmpadas que, pelo seu ótimo desempenho, são mais

indicadas para iluminação de interiores, como escritórios, lojas e indústrias, tendo

espectros luminosos indicados para cada aplicação. Devido ao seu princípio de

funcionamento, as lâmpadas com descarga gasosa requerem alguns dispositivos

auxiliares, como reatores e starters. Uma das desvantagens das lâmpadas de

descarga é o efeito estroboscópico que produzem. As lâmpadas piscam na mesma

freqüência da tensão de alimentação (60 hz). Um motor cujo eixo gire em velocidade

alta (3.600 rpm, por exemplo) pode parecer estar parado e causar algum acidente de

trabalho. Por este motivo, em locais onde haja a possibilidade de ocorrer este

problema, é recomendado o uso de pelo menos duas lâmpadas ligadas em circuitos

Page 23: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

7

diferentes ou com reator duplo, que terão suas piscadas defasadas, evitando o efeito

estroboscópico.

Luz mista: são utilizadas na iluminação de interiores - como indústrias,

galpões, postos de gasolina - na iluminação externa, etc.

Vapor de mercúrio: são empregadas em interiores de grandes proporções,

em vias públicas e áreas externas.

Vapor de sódio de alta pressão: utilizadas na iluminação de ruas, áreas

externas, indústrias cobertas, etc.

2.1.1 Objetivos da Iluminação

Segundo CREDER (1986), a iluminação de interiores é a instalação

executada para iluminar artificialmente locais fechados. Nos projetos de iluminação,

é preciso saber dosar entre o belo e as especificações para o conforto lumínico.

Para tanto, é necessário considerar alguns fatores fundamentais, como:

a) Conforto: para garantir ao usuário as condições ideais de bem-estar, deve-

se aplicar níveis adequados de luminosidade, evitando ofuscamentos e contrastes

muito acentuados na iluminação.

b) Atmosfera: para se criar o clima desejado, seja frio ou cálido, é preciso

descobrir a tonalidade adequada da luz através da escolha de lâmpadas específicas.

c) Orientação: para facilitar a compreensão do espaço, é fundamental a

correta distribuição dos pontos de luz e seus respectivos efeitos.

d) Composição: para compor um ambiente, é necessário encontrar o

equilíbrio no conjunto de luzes a partir de seus efeitos, cores, destaques e sombras.

e) Visibilidade: considerando que o homem percebe cerca de 80% das

informações através da visão, é importante assegurar que a iluminação proporcione

plena percepção dos elementos à sua volta.

f) Imagem: o resultado da boa aplicação dos fatores acima resultará na visão

de um quadro harmonioso.

Page 24: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

8

A. Aspectos que devem ser considerados no Estudo do Ambiente Lumínico:

a) Levantamento físico detalhado do espaço a ser trabalhado.

b) Pesquisar: largura, comprimento, pé direito, layout, cores, texturas,

materiais, material do rebaixo (se houver), profundidade do rebaixo (se houver),

posição de dutos, posição de vigas, posição de colunas, posição da alimentação

disponível (carga e tensão) e posição dos comandos ou seções disponíveis

(interruptores independentes).

c) Estudar: ventilação ou refrigeração, carga térmica de outros equipamentos,

horário de utilização e aproveitamento da iluminação natural.

Observação: as atividades que este espaço abrigará deverão ser também

conhecidas, assim como as características de seus futuros usuários.

d) Características do usuário: idade do usuário, tipo de atividade, prioridade

da atividade e prioridades do usuário.

B. Especificação da lâmpada e da luminária. Seguir os seguintes

procedimentos:

Para a escolha da lâmpada: avalie todas as características da lâmpada - que

sejam adequadas ao espaço, à atividade e ao efeito pretendido.

a) Parâmetros: temperatura de trabalho, dimensões, fluxo luminoso,

temperatura de cor, tempo de vida e necessidades funcionais (reator, transformador

etc);

b) Escolha da luminária: avalie o tipo de instalação (embutido, plafom,

arandela etc); curvas fotométricas, adequação funcional e adequação estética.

2.1.2 Efeitos da Luz

A luz se torna visível aos nossos olhos quando refletida em uma superfície. O

efeito produzido por esta reflexão varia em função das características da lâmpada

utilizada, da luminária e de sua posição em relação a essa superfície.

Page 25: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

9

O conceito de um projeto de iluminação só nasce a partir da definição dos

climas que queremos dar aos ambientes. Principais efeitos ou tipos de iluminação:

a) Luz de enchimento

Tem a finalidade de preencher todo o espaço de luz de forma abrangente e

difusa, proporcionando um resultado bastante uniforme. É o pano de fundo para

receber as luzes de destaque, que devem prevalecer sobre a luz de enchimento.

b) Luz chapada

É a luz jogada uniformemente em uma área, de maneira intensa e

abrangente.

c) Luz de marcação

Define o limite de um espaço e/ou ambientação. Exemplo: uma fileira de

plafons de embutir entre dois ambientes ajuda a definir a divisão entre eles.

d) Luz direta

É a luz direcionada para um objetivo, independente de reflexão de outra

superfície.

e) Luz pontual ou de destaque

Produzida a partir de um equipamento de iluminação, ou de uma lâmpada

refletora que, em função de suas características, produz um cone de luz bem

definido e restrito à área de interesse. Seu uso é conveniente quando se quer

destacar algum ponto específico.

f) Luz dramática

Utilizada para definir o resultado de um conjunto de luzes pontuais, que atuam

juntas, produzindo zonas de claros e escuros que acentuam, de forma muito

marcante, detalhes do espaço iluminado.

g) Luz indireta ou rebatida

É o resultado de uma luz projetada em uma superfície que a rebate para a

área de interesse. É muito comum se utilizar esta solução, quando se quer uma luz

Page 26: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

10

macia sem uma origem muito definida. As sombras ficam atenuadas e reduzem

reflexos indesejáveis em telas de vídeo, por exemplo.

h) Luz recortada

Recortar a luz é o mesmo que delimitar, definir com exatidão onde ela deve

parar. Só é possível quando se usa um equipamento dotado de conjunto ótico e

facas, ou aletas reguláveis.

2.1.3 Grandezas Fundamentais da Luminotécnica

Deve-se ter conhecimento das grandezas fundamentais, baseadas nas

definições da ABNT (vocabulário de termos de iluminação e NBR-5413):

2.1.3.1 Luz

CREDER (1986), define a luz como o aspecto da energia radiante que um

observador humano constata pela sensação visual, determinada pelo estímulo da

retina ocular.

SOARES (1991), diz que os órgãos dos sentidos são os canais que ligam os

seres vivos ao ambiente em que vivem. Particularmente para o homem, são as

sensações sonoras, luminosas, olfativas, gustativas e táteis que lhe trazem as

informações sobre o mundo. A falta de qualquer um dos órgãos dos sentidos causa

prejuízo ao homem, pois para ele o mundo se apresenta incompleto. Entretanto, a

falta da visão é a mais sentida, porque é através dos olhos que se recebe a maior

quantidade de informações. As sensações visuais são produzidas quando a luz que

vem dos objetos atinge nossos olhos. Portanto a luz é o agente da visão, isto é,

vemos um corpo porque ele envia luz para nossos olhos.

Segundo CREDER (1986), a faixa de radiações eletromagnéticas capazes de

serem percebidas pelo olho humano se situa entre os comprimentos de onda 3.800

a 7.600 Angstroms. O Angstrom, cujo símbolo é Å, é o comprimento de onda unitário

e igual a dez milionésimos do milímetro.

Page 27: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

11

2.1.3.2 Cor

SOARES (1991), diz que consegue-se explicar a variabilidade das cores

quando se considera que a luz é constituída por ondas emitidas pelas fontes

luminosas. Cada cor corresponde, então, a ondas de determinada freqüência. Para

as diferentes ondas luminosas, a freqüência costuma ser medida em vibrações por

segundo. Essa unidade é denominada hertz (símbolo: Hz ), em homenagem ao

físico alemão Heinrich Rudolf Hertz (1857-1894). A determinação da freqüência das

ondas luminosas é feita através de aparelhos eletrônicos.

CREDER (1986) e SOARES (1991), referem que a freqüência da luz

vermelha é a de maior comprimento de onda visível, entre 6.400 a 7.600 Angstroms

e vale 375 trilhões de vibrações por segundo, ou 375 trilhões de hertz. No outro

extremo, a luz violeta apresenta a mais alta freqüência 750 trilhões de vibrações por

segundo, ou 750 trilhões de hertz. As outras luzes, intermediárias no espectro

(alaranjada, amarela, verde, azul e anil), apresentam freqüências com valores

situados entre o da luz vermelha e o da luz violeta.

ANGSTROMS

3800 4000 5000 5550 6000 7000 7600

VIOLETA AZUL VERDE AMARELO LARANJA VERMELHO

FIGURA I – Espectro da luz visível em função do comprimento de onda.

CREDER, H. (1986)

GUIMARÃES (2000), relata que o fisiologista inglês Thomas Young (1783-

1829) determinou, em 1802, com base na idéia da redução das cores, três tipos de

receptores em nossa retina: vermelho, amarelo e azul. O fisiologista alemão

Hermann Ludwig vol Helmholtz (1821-1894), por sua vez, em 1852, determinou três

espécies de fibrilas nervosas na retina: a primeira estimulada principalmente pelas

Page 28: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

12

ondas longas (vermelho), a segunda pelas ondas médias (verde) e a terceira pelas

ondas curtas (azul-violeta). Com as experiências de James Clerk Maxwel, em 1861,

usando filtros vermelho, verde e violeta, comprovou-se a síntese aditiva da

percepção visual.

Para GUYTON (1993), a cor é inicialmente detectada por meio dos

contrastes de cores. Atuam, nessa análise, um processamento seriado das células

simples às mais complexas, no qual vão sendo “decifrados progressivamente mais

detalhes” e um processamento paralelo das diversas informações da imagem em

diversas localizações cerebrais. “É a combinação de ambos os tipos destas análises

que proporciona a interpretação completa de uma cena visual”.

2.1.4 Intensidade Luminosa

CREDER (1986), define como intensidade luminosa, na direção perpendicular

de uma superfície plana de área igual a 1/600.000 metros quadrados, de um corpo

negro à temperatura de solidificação da platina, e sob a pressão de 101.325 newtons

por metro quadrado.

GUIMARÃES (2000), afirma que o olho tem alguns instrumentos para

compensar a diferença de luminosidade ambiente e manter a boa recepção da

informação. Esse controle é realizado pela íris. Quando a luz é insuficiente, os

músculos da íris se contraem, alargando a pupila e, quando a luz é mais forte,

distendem-se, restringindo o seu diâmetro, variando a entrada da luz em até 30

vezes. Assim se explica por que as imagens com maior iluminação exigem menos

esforço da visão do que imagens com baixa iluminação. E menor esforço significa,

naturalmente, mais prazer.

2.1.5 Iluminamento

CREDER (1986), define que para a obtenção do nível de iluminamento de um

local deve-se observar a utilização do mesmo. Esses valores são orientativos, pois

variam bastante com as normas técnicas regionais. Também a idade média dos

Page 29: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

13

ocupantes de um recinto influenciará a determinação de seu nível de iluminamento.

MOREIRA (1983), observou pesquisa de Weston e Fortuin que verificaram que, se

um homem de quarenta anos realiza uma tarefa de leitura com 200 lux, uma criança

só necessita de 30% desse iluminamento, um jovem de 20 anos de 50% e um

homem de 60 anos, de 500% de seu valor básico.

2.1.5.1 Escolha da Luminária

Segundo CREDER (1986), a escolha da luminária depende de diversos

fatores: objetivo da instalação (comercial, industrial, domiciliar, etc.), fatores

econômicos, razões da decoração, facilidade de manutenção, etc.

Sendo a iluminação parte de um projeto global, deve-se harmonizar com o

mesmo. Ela define, em muitos casos, as características de um ambiente: se ele é

alegre ou circunspecto, frio ou quente, comercial ou íntimo. Deverá também

acentuar suas qualidades, valorizando-as ao máximo.

Em suma, ao se projetar a iluminação de um ambiente, não se deve levar em

conta unicamente os aspectos quantitativos, mas também os qualitativos, de modo a

criar uma iluminação que responda a todos os quesitos que o usuário exige do

espaço iluminado.

2.1.6 Avaliação Qualitativa das Lâmpadas

É comum, em iluminação, de acordo com CREDER (1986), confundir

qualidade com quantidade. Para avaliar a qualidade de uma lâmpada, deve-se

observar quatro características básicas: índice de reprodução de cor - IRC,

eficiência, temperatura de cor e curva espectral.

2.1.6.1 Índice de reprodução de cores – IRC

CREDER (1986), diz que as lâmpadas apresentam características de

reprodução de cor muito variadas. A expressão “qualidade de luz” muitas vezes é

Page 30: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

14

relacionada a esta característica. O IRC é uma escala percentual que indica o nível

de distinção das cores iluminadas, em uma determinada superfície padrão.

OBS: A avaliação acima não tem relação com a brancura da luz. A forma

correta para determinar a tonalidade de uma luz é através da temperatura de cor.

A tabela III nos indica os índices de reprodução de cores mínimos

recomendados dos diversos tipos de lâmpadas.

Reprodução de

cores desejada

Índice Temperatura

da cor (K)

Exemplos de

recintos

6 000 a 7 500 Indústrias têxtil, de tintas e gráfica. Excelente 80

4 000 Museu, indústria gráfica, terapia médica.

4 000 Escritórios, lojas. Boa 80

3 000 Salas de reunião, residências.

Razoável 80 - Corredores, escadas, trabalho mais pesado.

Nenhuma - - Iluminação pública.

TABELA III – Índice de reprodução de cores. Ref.: MOREIRA (1987).

2.1.6.2 Eficiência

Para CREDER (1986), eficiência é a relação entre a potência ou consumo e o

fluxo luminoso (ou quantidade de luz) emitido por uma lâmpada.

É bom salientar que a eficiência de uma lâmpada, embora seja muito

importante, não é suficiente para determinar sua superioridade sobre outra em uma

determinada aplicação.

Page 31: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

15

FIGURA II - STANDARD 150W - 2.000 LUMENS

FIGURA III - POWERSTAR HQIT 150W - 12.000 LUMENS

Assim temos: eficiência = fluxo luminoso/potência ou k = lm/w

Fonte: CREDER (1986).

2.1.6.3 Temperatura da cor

Esta forma de avaliação, segundo CREDER (1986), foi determinada a partir

da comparação da cor da luz emitida por um corpo sólido negro e de sua

temperatura em graus Kelvin. Ou seja, aplicou-se calor neste corpo sólido, que em

determinado momento começou a emitir uma cor laranja amarelada. Medindo-se sua

temperatura (t) encontrou-se 2000 graus Kelvin (k). Aplicando-se mais calor chegou-

se a uma variação desta cor na direção do branco azulado, atingindo temperatura (t)

na faixa dos 6000 graus Kelvin (k).

Após esta medição, faz-se uma comparação associativa com as diversas

lâmpadas e é instituída, em caso de semelhança na cor, a temperatura

correspondente. Quanto mais baixa for a temperatura de cor, mais avermelhada será

Page 32: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

16

a luz, e quanto mais alta for a temperatura de cor, mais azulada será a luz. Atenção:

É importante não confundir temperatura de cor da luz, com temperatura de trabalho

da lâmpada.

A lâmpada fluorescente luz do dia de 40W tem, por exemplo, apresenta

temperatura de funcionamento de aproximadamente 35ºC e temperatura de cor de

aproximadamente 5000ºK.

2.1.6.4 Curva espectral

Neste processo de avaliação, segundo CREDER (1986), cada uma das cores

que compõem uma determinada luz, é considerada através da medição específica

da intensidade de cada uma das cores de uma determinada fonte luminosa,

determina-se um gráfico que chamamos de curva espectral.

Desta forma é possível escolher a lâmpada que melhor destaque uma

determinada cor ou um determinado conjunto de cores.

2.1.7 Tipos de Luminárias

Serão analisadas as lâmpadas fluorescentes, as quais são comumente

usadas em praticamente todos os consultórios odontológicos.

TIPO POTÊNCIA (watts) FLUXO LUMINOSO

Trimline T8 Bulbo T8 32 2.950

Watt-Miser Bulbo T12 34 2.850

Staybright XL Watt-Miser Bulbo T12 34 2.975

Convencional Bulbo T8 30 1.850

Convencional – Special Bulbo T12 20 875

TABELA IV – Lâmpadas Fluorescentes (potência e fluxo luminoso). Fonte:

CREDER (1986).

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17

2.1.8 Formas de Iluminação para Consultório Odontológico

SAQUY (1994), sugere como deve ser iluminado corretamente um

consultório odontológico. Discutem a forma correta de iluminação, e que o

profissional de odontologia adquira conhecimentos básicos das regras de iluminação

para colaborar na concepção de um ambiente de trabalho que se coadune à terapia

dos pacientes. Enfatizam os locais dentro de um consultório odontológico com

funções diferentes: sala de recepção, sala de consulta e sala de tratamento, que

devem ter iluminação diferenciada por serem ambientes diferentes. Chegaram à

seguinte conclusão:

a) Se o ambiente não dispõe de luz natural ou só é utilizado durante a noite,

deve-se utilizar lâmpadas fluorescentes do tipo “quente”, com “excelente reprodução

de cores”.

b) Se o ambiente é servido com pouca quantidade de luz natural (uma

pequena janela ou clarabóia), utilizar lâmpadas fluorescentes do tipo “fria”, com “boa

reprodução de cores”.

c) Se o ambiente dispõe de luz natural abundante (uma grande janela ou área

aberta), utilizar, como complemento de luz, lâmpadas fluorescentes do tipo que

acompanham a luz natural, com “boa” ou “excelente reprodução de cores”.

2.2 ERGONOMIA

Após a leitura de SANTOS & FIALHO (1997), WISNER (1987) e IDA (1992),

chegou-se a um apanhado de conhecimentos gerais de Ergonomia. Assim sendo, a

ergonomia é, por definição, a adaptação do trabalho ao homem. Constitui-se num

arcabouço de disciplinas voltadas à estruturação dos conhecimentos sobre o homem

e a dinâmica de seu trabalho.

A Ergonomia é considerada como uma ciência – por ser geradora de

conhecimentos - e como tecnologia, por seu caráter aplicativo, de transformação.

Apesar das divergências conceituais, alguns aspectos são comuns às várias

definições existentes:

Page 34: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

18

a) a aplicação dos estudos ergonômicos;

b) a natureza multidisciplinar, o uso de conhecimentos de várias disciplinas;

c) o fundamento nas ciências;

d) o objeto: a concepção do trabalho.

No período pós-administração científica, o trabalho tem apresentado grande

tendência à prescrição, conseqüência da separação que esta forma de organizar

propõe.

Ao mesmo tempo em que a separação do trabalho retira dos trabalhadores o

conhecimento sobre a transformação de materiais, passando estes a ser apenas

realizadores de tarefas prescritas e de baixo conteúdo cognitivo, está sofrendo, este

trabalho, um grande isolamento do ambiente social onde acontece.

Sobre o trabalho de uma maneira geral, atuam várias condicionantes:

tecnológicas, pessoais e ambientais. A ergonomia, pelo seu caráter multidisciplinar e

antropocêntrico, apresenta condições de coordenar os efeitos dessas diversas

condicionantes sobre um projeto de trabalho.

A ergonomia está preocupada com os aspectos humanos do trabalho em

qualquer situação onde este é realizado. Em qualquer situação onde existe o

trabalho humano, a ergonomia encontra campo para aplicar seus conhecimentos,

colhidos das diversas disciplinas que a apóiam e fornecem o embasamento que

permite sua intervenção com o fim de modificar a situação de trabalho em prol do

homem.

A incorporação da ergonomia no projeto e gerenciamento das organizações é

fundamental para que esta possa atingir seus objetivos de adequação e adaptação

do trabalho ao homem e para que o trabalho nas organizações seja então realizado

de forma mais satisfatória, segura e eficiente.

Desta forma, é fundamental que o trabalho incorpore o conceito ergonômico,

e assim seja possível obter níveis de qualidade de vida no trabalho satisfatórios a

toda a sociedade.

Page 35: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

19

A ergonomia evoluiu dos esforços do homem em adaptar ferramentas, armas

e utensílios às suas necessidades e características. Porém, é a partir da Revolução

Industrial - que propiciou o surgimento da fábrica e a intensificação do trabalho - que

a ergonomia vai encontrar sua maior aplicação.

A posição e o papel da ergonomia têm mudado ao longo dos anos, na medida

em que os sistemas ganham maior complexidade. Hoje é mais comum o

ergonomista estar mais envolvido em uma larga faixa de objetivos organizacionais,

incluindo desde o projeto de operações até o treinamento de pessoal.

A ergonomia, por seu caráter antropocêntrico, tem seus princípios voltados

para os homens destacando a antropocentricidade da ergonomia, o homem no

centro dos interesses de seus princípios, e fazendo base neste destaque e nas

experiências práticas mencionadas, pode-se afirmar que os ambientes que tiverem

alastrado o conhecimento dos princípios ergonômicos junto ao seu corpo de

trabalhadores, apresentarão melhores condições para que ali se processe uma

gestão com melhor qualidade de vida no trabalho e conseqüentemente maior

produtividade.

Esta posição de certa forma apresenta o caráter participativo que deve ter a

ergonomia para que seja praticada na plenitude de seus conceitos. Por isso, a

ergonomia é participativa na essência. Isto é, a eficiência da aplicação de seus

conceitos só acontecerá se houver um ambiente participativo.

Por outro lado, também se percebe que o desejo ou a necessidade de ser

promovida a implantação de conceitos ergonômicos em um ambiente pode

proporcionar características participativas a este ambiente.

2.2.1 Histórico da Ergonomia

Segundo Schruber (2000), o termo “Ergonomia” foi usado pela primeira vez

em 1857, pelo polonês W. Jastrezebowski, que publicou um artigo intitulado “Ensaio

de Ergonomia ou Ciência do trabalho baseada nas leis objetivas da ciência da

natureza”.

Page 36: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

20

Quase 100 anos mais tarde, em 1949, um engenheiro inglês, chamado

Murrel, criou, na Inglaterra, a primeira Sociedade Nacional de Ergonomia, a

“Ergonomic Research Society”. Posteriormente, a ergonomia desenvolveu-se em

outros países industrializados, como França, EUA, Alemanha, Japão e países

escandinavos. Em 1959, foi fundada a “International Ergonomics Association”.

Em 1955, é publicada a obra "Análise do Trabalho", de Obredane & Faverge,

que se torna decisiva para a evolução da metodologia ergonômica. Nesta publicação

é apresentada de forma clara a importância da observação das situações reais de

trabalho para a melhoria dos meios, métodos e ambiente do trabalho.

O surgimento da ergonomia decorreu da verificação da existência da

incompatibilidade entre uma máquina e o seu operador. Os primeiros estudos sobre

o homem e a atividade profissional foram realizados por engenheiros, médicos do

trabalho e pesquisadores. Os engenheiros procuravam melhorar o desempenho do

homem no trabalho. Os médicos do trabalho procuravam estabelecer uma proteção

à saúde dos trabalhadores e os pesquisadores buscavam compreender o

funcionamento do homem em atividade de trabalho. Neste pouco tempo que nos

separa de seu surgimento, a ergonomia teve um grande crescimento. Em geral, sua

utilização está vinculada à busca de maior conforto do trabalhador na realização de

suas tarefas.

A ergonomia no Brasil começou a ser evocada na USP, nos anos 60, pelo

Prof. Sergio Penna Khel, que encorajou Itiro Iida a desenvolver a primeira tese

brasileira em Ergonomia: a Ergonomia do Manejo. Também na USP, Ribeirão Preto,

Paul Stephaneek introduzia o tema na Psicologia. Nesta época, no Rio de Janeiro, o

Prof. Alberto Mibielli de Carvalho apresentava Ergonomia aos estudantes de

Medicina das duas faculdades mais importantes do Rio, a Nacional (UFRJ) e a

Ciências Médicas (UEG, depois UERJ); O Prof. Franco Seminério falava desta

disciplina, com seu refinado estilo, aos estudantes de Psicologia da UFRJ. O maior

impulso se deu na COPPE, no início dos anos 70, com a vinda do Prof. Itiro Iida

para o Programa de Engenharia de Produção, com escala na ESDI/RJ. Além dos

cursos de mestrado e graduação, Itiro organizou com Colin Palmer um curso que

deu origem ao primeiro livro de Ergonomia editado em português.

Page 37: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

21

2.2.2 Definições

“A ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho,

equipamento e ambiente e particularmente à aplicação dos conhecimentos de

anatomia, fisiologia e psicologia na solução surgida nesse relacionamento”

(Ergonomics Research Society).

“É o estudo da adaptação do trabalho às características fisiológicas e

psicológicas do ser humano” (ABERGO).

" A e r g o n o m i a é o c o n j u n t o d e c o n h e c i m e n t o s c i e n t í f i c o s r e l a t i v o s a o h o m e m e n e c e s s á r i o s p a r a a c o n c e p ç ã o d e f e r r a m e n t a s , m á q u i n a s e d i s p o s i t i v o s q u e p o s s a m s e r u t i l i z a d o s c o m o m á x i m o d e c o n f o r t o , s e g u r a n ç a e e f i c á c i a . A e r g o n o m i a c o n s t i t u i u m a p a r t e i m p o r t a n t e , m a s n ã o e x c l u s i v a d a m e l h o r i a d a s c o n d i ç õ e s d e t r a b a l h o e m s e u s e n t i d o r e s t r i t o . A l é m d i s s o , c o n s i d e r a o s d a d o s s o c i o l ó g i c o s e p s i c o s s o c i o l ó g i c o s q u e s e t r a d u z e m n o c o n t e ú d o e n a o r g a n i z a ç ã o g e r a l d a a t i v i d a d e d e t r a b a l h o . " W I S N E R ( 1 9 6 7 ) .

“ A u t i l i z a ç ã o d o s c o n h e c i m e n t o s e m e r g o n o m i a e s t á l i g a d a a o s o b j e t i v o s d a s e m p r e s a s , d a s p o p u l a ç õ e s q u e a s c o m p õ e m e d a s o c i e d a d e o n d e e s t ã o s i t u a d a s . E s s e s c o n h e c i m e n t o s p o d e m s e r v i r t a n t o p a r a a u m e n t a r a e f i c á c i a d o s i s t e m a d e p r o d u ç ã o c o m o p a r a d i m i n u i r a c a r g a d e t r a b a l h o d o o p e r a d o r . O s o b j e t i v o s n ã o s ã o , p o r n a t u r e z a , s e m p r e c o n t r a d i t ó r i o s . E n t r e t a n t o , é f r e q ü e n t e c o n s t a t a r q u e a m e l h o r i a d e u m p o s t o d e t r a b a l h o f e i t a a p a r t i r d e " d a d o s e r g o n ô m i c o s " n ã o é s i m u l t a n e a m e n t e a c o m p a n h a d a d e u m a a t e n u a ç ã o d a c a r g a d e t r a b a l h o p a r a o t r a b a l h a d o r . " L A V I L L E ( 1 9 7 3 ) .

“É a aplicação das ciências biológicas juntamente com as ciências da

engenharia, para lograr um ótimo ajustamento do homem e seu trabalho e assegurar

simultaneamente eficiência e bem-estar”. Organização Internacional do Trabalho –

OIT (1960 ).

“ A e r g o n o m i a d i a g n o s t i c a o q u e p o d e s e r m e l h o r a d o n o a m b i e n t e d e t r a b a l h o . O s e s t u d o s p o s s i b i l i t a m o b s e r v a r s e o m o b i l i á r i o , o s e q u i p a m e n t o s , a s m á q u i n a s , a s f e r r a m e n t a s e o s i n s t r u m e n t o s e s t ã o d e a c o r d o c o m a s f u n ç õ e s d o t r a b a l h a d o r , s e o s t e m p o s d i s p o n í v e i s p a r a e x e r c e r s u a s t a r e f a s s ã o s u f i c i e n t e s . E n f i m , d á u m a v i s ã o g e r a l d o a m b i e n t e , d e t e c t a a s f a l h a s e p r o p õ e a s m u d a n ç a s c o m p a t í v e i s ” ( L e d a F e r r e i r a – F U N D A C E N T R O )

Page 38: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

22

“A Ergonomia é a tecnologia das comunicações homem-máquina”

MONTMOLLIN (1971).

“ A E r g o n o m i a é u m a c i ê n c i a i n t e r d i s c i p l i n a r . E l a c o m p r e e n d e a f i s i o l o g i a e a p s i c o l o g i a d o t r a b a l h o , b e m c o m o a a n t r o p o m e t r i a é a s o c i e d a d e n o t r a b a l h o . O o b j e t i v o p r á t i c o d a E r g o n o m i a é a a d a p t a ç ã o d o p o s t o d e t r a b a l h o , d o s i n s t r u m e n t o s , d a s m á q u i n a s , d o s h o r á r i o s , d o m e i o a m b i e n t e à s e x i g ê n c i a s d o h o m e m . A r e a l i z a ç ã o d e t a i s o b j e t i v o s , a o n í v e l i n d u s t r i a l , p r o p i c i a u m a f a c i l i d a d e d o t r a b a l h o e u m r e n d i m e n t o d o e s f o r ç o h u m a n o ” . G R A N D J E A N ( 1 9 6 8 ) .

“A Ergonomia é uma tecnologia e não uma ciência, cujo objeto é a

organização dos sistemas homens-máquina” LEPLAT (1972).

“A Ergonomia pode ser definida como o estudo científico das relações entre o

homem e o seu ambiente de trabalho” MURREL (1965).

“A Ergonomia reúne os conhecimentos da fisiologia, da psicologia e das

ciências vizinhas aplicadas ao trabalho humano, na perspectiva de uma melhor

adaptação ao homem dos métodos, meios e ambientes de trabalho” (SELF).

2.2.3 Tipos de Ergonomia

Ainda Schruber (2000), discorre sobre os tipos de Ergonomia como:

Ergonomia de concepção: permite agir precocemente sobre uma máquina,

local de trabalho e até mesmo sobre uma fábrica inteira, na definição de como serão

implantados os sistemas de modo a melhorar o ambiente de trabalho para o

trabalhador;

Ergonomia de correção: corresponde diretamente às anomalias que se

traduzem por problemas de segurança e no conforto do trabalhador ou na

insuficiência da produção, em qualidade e em quantidade.

Page 39: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

23

2.2.4 Objetivos da Ergonomia

FONSECA (1995), diz que o objetivo principal dos trabalhos nesta área é

transferir tecnologia para a sociedade, através da capacitação profissional e da

prestação de serviços em ergonomia.

Ergonomia é o estudo anatômico, fisiológico e psicológico do homem no seu

ambiente. Esta ciência procura estabelecer uma melhor relação entre o homem e o

ambiente de trabalho. Ela não é apenas um estudo físico do ambiente de trabalho do

homem, mas também um estudo psicológico, ou seja, aspectos como cansaço

mental ou perturbações mentais também são estudados.

Dentre seus principais objetivos, podemos destacar:

a) Adequação do trabalho às capacidades naturais do homem, pela

organização de métodos e construção de máquinas e equipamentos que se aderem

às características de cada pessoa ( exigência técnica );

b) Aumentar a eficiência do trabalhador ao longo do tempo, pois trabalhador

doente não gera lucro, e sim prejuízo ( exigência econômica );

c) Prevenção de acidentes e doenças profissionais, doenças músculo-

esqueléticas (exigência social);

d) Redução da fadiga e desconforto físico e mental do trabalhador.

Todos estes objetivos têm a função de proporcionar um aumento da

produtividade, procurando não ultrapassar as capacidades do ser humano.

A atuação em ergonomia é basicamente multiprofissional, uma vez que os

conhecimentos necessários para projetar e/ou transformar uma situação de trabalho

ou um produto são oriundos de diversos campos da ciência. Nesta equipe há

ergonomistas, engenheiros, médicos, psicólogos, sociólogos, fisioterapeutas e

terapeutas ocupacionais.

Esta área tem desenvolvido trabalhos especialmente em:

Trabalho com sistemas informatizados no setor de serviços;

Ergonomia e projeto do trabalho;

Page 40: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

24

Ergonomia na Informática;

Saúde do trabalhador;

Ergonomia de produto.

Fonseca (1995), também aponta para novas áreas de atuação:

Seja quanto à expansão vertical, do sistema homem-tarefa-máquina ao

sistema homens-tarefas-máquinas ou homens-homens, - da estação de trabalho, à

fabrica, à organização de trabalho e à organização como um todo;

Seja quanto às formas de atuação, quando se busca uma participação mais

efetiva do usuário / operador / trabalhador / consumidor;

Seja no que se refere ao objeto de trabalho, o estudo das comunicações dos

homens com computadores, sobre diálogo entre o homem e a máquina, através de

hipertextos e softwares.

O procedimento ergonômico é orientado pela perspectiva de transformação

da realidade, cujos resultados obtidos dependerão em grande parte da necessidade

da mudança. Mesmo que o objetivo possa ser diferente de acordo com a

especialização de cada pesquisador, o objeto do estudo não pode ser definido a

priori, pois sua construção depende do objetivo da transformação.

Em ergonomia o objeto sobre o qual se pretende produzir conhecimentos,

deve ser construído por um processo de decomposição/recomposição da atividade

complexa do trabalho, que é analisada e que deve ser transformada.

O objetivo é ocultar o mínimo possível a complexidade do trabalho real.

Quanto mais a ergonomia aprofunda o seu questionamento sobre a realidade, mais

ela é interpelada por ela mesma.

2.2.5 Métodos e Técnicas

No site www.ergonomia.com.br encontramos o artigo sobre os métodos e

técnicas utilizados pela Ergonomia.

Page 41: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

25

A Ergonomia utiliza métodos e técnicas científicas para observar o trabalho

humano.

A estratégia utilizada pela Ergonomia para apreender a complexidade do

trabalho é decompor a atividade em indicadores observáveis (postura, exploração

visual, deslocamento).

A partir dos resultados iniciais obtidos e validados com os operadores, chega-

se a uma síntese que permite explicar a inter-relação de vários condicionantes à

situação de trabalho.

Como em todo processo científico de investigação, a espinha dorsal de uma

intervenção ergonômica é a formulação de hipóteses.

Segundo LEPLAT (1998) "o pesquisador trabalha em geral a partir de uma

hipótese, é isso que lhe permite ordenar os fatos". São as hipóteses que darão o

status científico aos métodos de observação nas atividades do homem no trabalho.

A organização das observações em uma situação real de trabalho é feita em

função das hipóteses que guiam a análise, mas também, segundo GUERIN (1991),

em função das imposições práticas ou das facilidades de cada situação de trabalho.

Os comportamentos manifestos do homem são freqüentemente observáveis pelos

ergonomistas. Os deslocamentos dos operadores, por exemplo, podem ser

registrados a partir do acompanhamento dos percursos realizados pelo operador em

sua jornada de trabalho. O registro do deslocamento pode explicar a importância de

outras áreas de trabalho e zonas adjacentes. Em uma sala de tratamento de um

consultório odontológico, o deslocamento do Cirurgião-Dentista até a mesa de

operação está relacionado à exploração de certas informações visuais que são

fundamentais para o controle de processo.

Pode-se agrupar as técnicas utilizadas em Ergonomia em técnicas objetivas e

subjetivas.

1- Técnicas objetivas ou diretas:

Registro das atividades ao longo de um período, por exemplo, através de um

registro em vídeo. Essas técnicas impõem uma etapa importante de tratamento de

dados.

Page 42: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

26

A observação é o método mais utilizado em Ergonomia, pois permite abordar

de maneira global a atividade no trabalho.

A partir da estruturação das grandes classes de problemas a serem

observados, o Ergonomista dirige suas observações e faz uma filtragem seletiva das

informações disponíveis.

Observação assistida – inicialmente, considera-se uma ficha de observação,

construída a partir de uma primeira fase de observação "aberta".

A utilização de uma ficha de registro permite tratar estatisticamente os dados

recolhidos, as freqüências de utilização, as transições entre atividades, a evolução

temporal das atividades.

Em um segundo nível utilizam-se os meios automáticos de registro, áudio e

vídeo. O registro em vídeo é interessante à medida que libera o pesquisador da

tomada incessante de dados - que são, inevitavelmente, incompletos - e permite a

fusão entre os comportamentos verbais, posturais e outros. O vídeo pode ser um

elemento importante na análise do trabalho, mas os registros devem poder ser

sempre explicados pelos resultados da observação paralela dos pesquisadores.

Os registros em vídeo permitem recuperar inúmeras informações

interessantes nos processos de validação dos dados pelos operadores. Essa

técnica, entretanto, está relacionada a uma etapa importante de tratamento de

dados, assim como de toda preparação inicial para a coleta de dados (ambientação

dos operadores) e uma filtragem dos períodos observáveis e dos operadores que

participarão dos registros.

Alguns indicadores podem ser observados para melhor estudo da situação de

trabalho (postura, exploração visual, deslocamentos etc).

� Direção do olhar:

A posição da cabeça e orientação dos olhos do indivíduo permitem inferir para

onde este está olhando. O registro da direção do olhar é amplamente utilizado em

Ergonomia para apreciação das fontes de informações usadas pelos operadores. As

observações da direção do olhar podem servir como indicador da solicitação visual

da tarefa.

Page 43: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

27

� Posturas:

As posturas constituem um reflexo de uma série de imposições da atividade a

ser realizada. A postura é um suporte à atividade gestual do trabalho e às

informações obtidas visualmente. Ela é influenciada pelas características

antropométricas do operador e características formais e dimensionais dos postos de

trabalho.

No trabalho em salas cirúrgicas de um consultório odontológico, a postura é

condicionada à oscilação do volume de trabalho. A alternância postural servirá como

escape à monotonia e reduzirá a fadiga do operador. Em períodos perturbados, a

postura será condicionada pela exploração visual que passa a ser o pivô da

atividade.

� Estudo de traços:

A análise é centralizada no resultado da atividade e não mais na própria

atividade. Ela permite confrontar os resultados técnicos esperados e os resultados

reais. Os dados levantados em diferentes fases do trabalho podem dar indicação

sobre os custos humanos no trabalho, entretanto, não conseguem explicar o

processo cognitivo necessário à execução da atividade. O estudo de traços pode ser

considerado como complemento e é usado, com freqüência, nas primeiras fases da

análise do trabalho. O estudo de traços pode ser fundamental no quadro

metodológico para análise dos erros.

2- Técnicas subjetivas ou indiretas:

Técnicas que tratam do discurso do operador, são os questionários, os check-

lists e as entrevistas. Esse tipo de coleta de dados pode levar a distorções da

situação real de trabalho, se considerada uma apreciação subjetiva. Entretanto, tais

dados podem fornecer uma gama de dados que favoreçam uma análise preliminar.

Deve-se considerar que essas técnicas são aplicadas segundo um plano

preestabelecido de intervenção em campo, com um dimensionamento da amostra a

ser considerado em função dos problemas abordados.

� Questionário

Page 44: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

28

O questionário é pouco utilizado em Ergonomia pois requer um número

importante de operadores. Contudo, em um grupo restrito de pessoas pode ser

aplicado para hierarquizar um certo número de questões a serem tratadas em uma

análise aprofundada.

As respostas dos questionários podem contribuir para uma classificação de

tarefas e de postos de trabalho. O questionário, entretanto, deve respeitar a amostra

e as probabilidades de aplicação.

Deve-se ressaltar que com o questionário se obtêm as opiniões, as atitudes

em relação aos objetos as quais não permitem acesso ao comportamento real.

Segundo PAVARD & VLADIS (1985), o questionário é um método fácil e se

presta ao tratamento estatístico, e, se corretamente utilizado, permite coletar um

certo número de informações pertinentes para o Ergonomista.

� Tabelas de avaliação

Esse tipo de tabela permite que os próprios operadores avaliem o sistema

que utilizam. O objetivo é apontar os pontos fracos e os fortes do caso. No caso de

avaliação de programas, uma tabela de avaliação deve cobrir os aspectos funcionais

e conversacionais.

� Entrevistas e verbalizações provocadas

A consideração do discurso do operador é uma fonte de dados indispensável

à Ergonomia. A linguagem, segundo MONTMOLLIN (1984), é a expressão direta dos

processos cognitivos utilizados pelo operador para realizar uma tarefa.

A entrevista pode ser consecutiva à realização da tarefa (pede-se ao operador

para explicar o que ele faz, como ele faz e por quê).

� Entrevistas e verbalizações simultâneas

As entrevistas podem ser realizadas simultaneamente à observação dos

operadores trabalhando em situação real ou em simulação.

A análise se concentra nas questões sobre a natureza dos dados levantados,

sobre as razões que motivaram certas decisões e sobre as estratégias utilizadas.

Page 45: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

29

Desta maneira, o Ergonomista revela a significação que os operadores têm do

seu próprio comportamento. As verbalizações devem ser aplicadas com cuidado e

de maneira a não alterar a atividade real de trabalho.

2.3 IMPORTÂNCIA DOS PROJETOS DE ILUMINAÇÃO PARA OS ESTUDOS ERGONÔMICOS

2.3.1 Ergonomia

FALZON (1996), descreve no capítulo “Os Objetivos da Ergonomia” que a

maioria das definições de ergonomia colocam em questão dois objetivos

fundamentais.

De um lado, o conforto e a saúde dos trabalhadores: eles se inquietam para

evitar os riscos (acidentais e ocupacionais) e para minimizar a fadiga (ligada ao

metabolismo do organismo, ao trabalho dos músculos e das articulações, ao

tratamento da informação e à vigilância).

Do outro lado, a eficácia, através da qual a organização mede suas diferentes

dimensões (produtividade e qualidade). Esta eficácia é dependente da eficiência

humana – em conseqüência, a ergonomia visa a conceber sistemas adaptados à

lógica de utilização dos trabalhadores.

A idéia central do texto é discutir a pertinência destes dois objetivos, ou mais

precisamente, ampliar sua importância. FALZON (1996), considerou, primeiramente,

as relações entre saúde e trabalho, posteriormente, a questão da eficiência no

trabalho e, em último lugar, as conseqüências destes pontos sobre a atividade do

próprio ergonomista, sob o ponto de vista de um trabalhador particular.

2.3.2 Projeto de Iluminação

PORTO (1997), mostra um estudo sobre a importância do aproveitamento da

luz natural para diminuir custos e obter melhor qualidade de iluminação ao ambiente.

A escolha de sistemas de iluminação natural, de suas orientações e complementos

Page 46: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

30

de sombreamento e redirecionamento de fluxo luminoso é um passo determinante

na iluminação ambiental.

Outro aspecto a ser considerado, ainda segundo PORTO (1996), é a correta

distribuição da cor, como um dos fatores de qualidade do quadro visual, contribuindo

para a melhoria das condições físicas do trabalho e para a adequação do homem à

máquina, sendo um fator preponderante, que pode auxiliar na saúde, segurança e

bem-estar das pessoas que nele trabalham. Além do benéfico efeito psicológico

devido às boas condições ambientais, há uma diminuição no risco de fadiga visual e

conseqüente diminuição de trabalhos falhos.

2.3.3 Caracterização do Trabalho do Cirurgião-Dentista

LUSVARGHI (1999), publicou uma matéria sobre saúde profissional e, com a

colaboração do oftalmologista Jaime Roisenblatt, alertou a classe dos Cirurgiões-

Dentistas do risco de trauma ocular. O dentista, por ter uma profissão detalhista, fixa

o olhar em um detalhe da boca por um tempo prolongado – problema análogo ao do

ourives e ao do digitador. Conseqüentemente, ele pisca menos e fica com os olhos

ressecados e ardendo podendo ocorrer espasmos. Esse espasmo de acomodação

da musculatura ciliar pode se tornar um problema seriíssimo, causando lesões nos

olhos; pode ser classificado como LER/DORT, embora não esteja incluído na

legislação.

LUSVARGHI (1999) ainda diz que outro aspecto importante é a ação dos

raios ultravioleta. Existe um componente dentro de muitos focos de luz que permite

radiação nessa faixa, constituindo enorme fator de risco para o desenvolvimento ou

a aceleração de catarata e degeneração macular (ponto central da retina). A

incidência de problemas de mácula é maior em quem se expõe sem proteção

adequada. A pupila dos olhos claros filtra menos os raios solares e protege menos,

portanto inspira mais cuidado. O míope também é tradicionalmente mais sensível.

Page 47: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

31

2.3.4 Saúde Ocular dos Odontólogos

SIMURRO (2000), publicou uma matéria sobre a “Saúde Ocular dos

Odontólogos e Auxiliares”, em que discorre que acidente de trabalho é o

acontecimento súbito, de regra imprevisível e até certo ponto inesperado,

determinando uma lesão ou alteração funcional que pode ser momentânea ou

definitiva.

Doença profissional ainda SIMURRO (2000), é o estado patológico que se

instala insidiosamente em um ou vários indivíduos que executam uma mesma tarefa,

no mesmo local ou região de trabalho.

No que concerne a acidente de trabalho, vários são os fatores

desencadeantes:

� Material desgastado, submetido a forças superiores à sua resistência

estrutural;

� Manobras inadequadas efetuadas por profissionais pouco experientes;

� Circulação embaraçosa ou inadequada no espaço, mau arejamento e

iluminação imprópria do ambiente de trabalho.

Estes acidentes de trabalho podem acarretar ao globo ocular lesões como:

� Corpo estranho ocular externo;

� Erosões e/ou úlceras corneanas infectadas ou não;

� Corpo estranho intra-ocular associado à perfuração do globo ocular.

Prevenção indireta: ambiente de trabalho dotado de dispositivos de proteção,

arejado, bem iluminado, amplo e higiênico.

2.3.5 Iluminação Geral

No site http://sesc.uol.com.br/sesc/convivencia/ler, no texto sobre ergonomia,

há um trabalho sobre iluminação o qual diz que a iluminação geral deve ser

uniformemente distribuída e difusa. A iluminação geral ou suplementar deve ser

projetada e instalada de forma a evitar ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e

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32

contrastes excessivos. Os níveis mínimos de iluminamento a serem observados nos

locais de trabalho são estabelecidos pela Norma Brasileira Registrada e o Inmetro.

Dentre as causas de iluminação inadequada está a iluminação excessiva,

produzida por luz natural, em uma sala com grandes janelas e sol.

2.4 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

Segundo RODRIGUES (1994), a Qualidade de Vida no Trabalho (Q V T) tem

sido uma preocupação do homem desde o início de sua existência, com outros

títulos, em outros contextos, mas sempre voltada para facilitar ou trazer satisfação e

bem-estar ao trabalhador na execução de sua tarefa.

Com a sistematização dos métodos de produção, nos séculos XVIII e XIX, as

preocupações com as condições de trabalho e a influência destas na produção e

moral do trabalhador vieram a ser estudadas de forma científica.

A QVT busca humanizar as relações de trabalho na organização, mantendo

uma relação estreita com a produtividade e principalmente com a satisfação do

trabalhador no seu ambiente de trabalho. Constitui-se, ainda, em condição de vida

no trabalho, associada ao bem-estar, à saúde e à segurança do trabalhador.

A satisfação no trabalho, segundo Vianna (1994), Rodrigues (1994) e Demo

(1995), não pode estar isolada da vida da pessoa. Rodrigues (1994:95) admite que

“a QVT é um ponto vital, não só para a realização do homem no trabalho, mas,

também, em toda sua existência”. É no trabalho que o homem passa a maior parte

de suas horas úteis do dia e, a partir daí, cria laços de amizade e expectativas de

uma vida melhor com qualidade. Khon e Schooler e Sheppard e Herrick (citados por

Rodrigues 1994:94) associam as experiências de trabalho e a qualidade perceptível

de vida, sugerindo que “a insatisfação com o trabalho influencia a alienação e

insatisfação com os outros domínios da vida”.

A QVT, na função de tema de pesquisa e de estudos organizacionais, busca

humanizar as relações de trabalho como alternativa para rever efeitos negativos do

Page 49: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

33

taylorismo, como a sistematização, não só quanto às tarefas, mas também quanto

ao trabalhador e ao ambiente de trabalho.

Para Moraes (1990), o referencial mais remoto é encontrado na década de

30, na Escola de Relações Humanas. Já naquela época, era a que possuía uma

maior identificação com a QVT, demonstrada na busca que empreendeu de algumas

teorias que enfatizavam os aspectos psicossociais e motivacionais, a fim de

proporcionar maior bem-estar ao trabalhador e sua adaptação à tarefa executada. A

Escola Comportamental, desmembramento da Escola de Relações Humanas,

através de Herzberg, destaca-se como pioneira da QVT, ao propor a teoria dos

fatores higiênicos e motivacionais, e a abordagem do enriquecimento da tarefa.

O termo QVT, como nova abordagem em administração, apareceu na

literatura somente no início da década de 50, na Inglaterra, com Eric Trist e

colaboradores, que estudavam um modelo macro para agrupar o trinômio

pessoa/trabalho/organização. Nessa perspectiva foi desenvolvida uma abordagem

sócio-técnica, almejando compreender a organização do trabalho a partir da análise

e reestruturação da tarefa.

Na década de 60 o movimento QVT tomou impulso com iniciativas de

cientistas, líderes sindicais, empresários, governantes e dirigentes organizacionais,

na busca de pesquisar melhores formas de realizar o trabalho. Seguindo a linha

sócio-técnica impulsionada pela perspectiva de uma sociedade progressista, a QVT

teve como base a saúde, a segurança e a satisfação dos trabalhadores.

Até o final da década de 70 ocorreu uma estagnação no desenvolvimento da

QVT e nas preocupações com ela, em virtude da alta inflação, da crise do petróleo e

da competição internacional acirrada pelas novas forças industriais, como o Japão.

Em 1979 a preocupação com a QVT entra numa nova fase, induzida pelo

fascínio das técnicas de administrar utilizadas pelo Japão, como por exemplo, o

Ciclo de Controle de Qualidade, que se disseminou nas organizações do ocidente. A

partir de então, a QVT passa a ser vista como um conceito global, como uma forma

de enfrentar os problemas de qualidade e produtividade. Parte-se, assim, do

pressuposto que as necessidades e aspirações humanas do trabalhador também

fazem parte da responsabilidade social do empregador.

Page 50: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

34

A década de 80 foi marcada pela idéia de uma maior participação do

trabalhador nas decisões das organizações. Diante deste fato, as organizações

sentiram-se compelidas a repensar suas condutas e a buscar soluções

participativas.

Nos anos 90, a QVT tornou-se foco de programas que estudam a saúde na

organização, resgatando valores ambientais e humanísticos negligenciados em favor

do avanço tecnológico. Ressalta-se, porém, a preocupação dos que buscam a QVT,

de que ela não seja tratada como mais um modismo administrativo, mas

internacionalizada como processo necessário e conceitualmente considerado pelos

gerentes e trabalhadores das organizações (Nadler e Lawler, 1983; Fernandes.

1989).

Atualmente a QVT está sendo difundida e desenvolvida em muitos países da

Europa, além dos Estados Unidos, Canadá e México, visando atender as

necessidades psicossociais dos trabalhadores, de forma a elevar seus níveis de

satisfação no trabalho (Moraes, 1990; Fernandes, 1996).

No Brasil, algumas pesquisas nesta área vêm sendo desenvolvidas para

ampliar o conhecimento sobre o tema e abrir novas discussões. No final da década

de 80, os estudos sobre QVT se intensificaram, e a Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária (EMBRAPA), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) constituíram-se em organizações

pioneiras nas pesquisas que vieram contribuir com a comunidade científica.

Podem ser citados alguns pesquisadores brasileiros que contribuíram

construtivamente com o avanço da pesquisa sobre o tema, através do

desenvolvimento de estudos sobre QVT em organizações das mais variadas áreas.

Destacam-se Quirino e Xavier (1987), Fernandes e Becker (1988), Siqueira e Coleta

(1989), Moraes (1990), Macedo (1992), Lima (1994), Rodrigues (1994), Fernandes

(1996) e Vieira (1996).

O elemento central das pesquisas na área de QVT advém da importância que

o trabalho desempenha na vida das pessoas e da constatação de que a forma como

o trabalho está estruturado e organizado apresenta um impacto direto sobre o

Page 51: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

35

trabalhador, podendo levá-lo à satisfação ou frustração com outros fatores da vida

que estão relacionados com a QVT.

2.4.1 Concepções Sobre o Trabalho

CONCEPÇÕES

EVOLUTIVAS DA QVT

CARACTERÍSTICAS

QVT como uma

variável (1959 a 1972)

Reação do indivíduo ao trabalho. Era investigado como

melhorar a qualidade de vida no trabalho para o indivíduo.

QVT como uma

abordagem (1969 a

1974)

O foco era o indivíduo antes do resultado organizacional, mas, ao

mesmo tempo, tendia a trazer melhorias tanto ao empregado como à

direção.

QVT como um

método (1972 a 1975)

Um conjunto de abordagens, métodos ou técnicas para melhorar o

ambiente de trabalho e tornar o trabalho mais

produtivo e mais satisfatório. QVT era visto como sinônimo

de grupos autônomos de trabalho, enriquecimento de cargo ou desenho de

novas plantas com integração social e técnica.

QVT como um

movimento (1975 a

1980)

Declaração ideológica sobre a natureza do trabalho e as

relações dos trabalhadores com a organização. Os termos

administração participativa e democracia industrial eram

freqüentemente ditos como ideais do movimento de QVT.

QVT como tudo

(1979 a 1982)

Como panacéia contra a competição estrangeira, problemas de

qualidade, baixas taxas de produtividade, problemas de queixas e outros

problemas organizacionais.

QVT como nada

(futuro)

No caso de alguns projetos de QVT fracassarem no futuro, não

passará apenas de um modismo passageiro.

TABELA VI – Concepção Evolutiva de QVT

Fonte: Nadier e Lawler (1983).

A concepção de trabalho foi evoluindo com a história. Passou de uma

concepção de sobrevivência, em busca de meios para satisfazer as necessidades

básicas, até o dia de hoje, como vital e fundamental para todo ser humano,

essencial à vida e a própria felicidade. É inegável sua importância para o homem,

Page 52: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

36

pois através dele a pessoa se sente útil à sociedade e à vida (Bastos, 1995; Silva,

1996; Zanelli e Silva, 1996).

O termo “trabalho” vem do latim tripalium, ou “três paus”, instrumento de

tortura para castigar escravos. Isto reflete a noção de empenho, sacrifício, tortura

para se atingir determinado objetivo através do trabalho. KRAWULSKI (1991), pelo

estudo da evolução do conceito de trabalho através da história, concluiu que muito

lentamente o trabalho vem perdendo esta conotação, pois permite ao trabalhador

vantagens dificilmente substituíveis no tempo livre, como identidade e

autoconsciência, status e reconhecimento, contato com outras pessoas, satisfação

das necessidades, responsabilidade pelo conteúdo de suas atividades e do uso do

seu tempo.

Segundo KANAANE (1995:19), “através do trabalho, o homem pode modificar

seu meio e modificar-se a si mesmo, à medida que possa exercer sua capacidade

criadora e atuar como co-partícipe do processo de construção das relações de

trabalho e da comunidade na qual se insere”.

O trabalho exerce um forte potencial motivacional sobre a pessoa, a

organização e as outras esferas da vida. Este potencial motivacional é traduzido

fundamentalmente pelo trabalhador gostar do que faz e transformá-lo em fonte de

satisfação e prazer.

Há também o extremo do trabalho, praticado por aquelas pessoas que não

trabalham para viver, mas vivem para trabalhar. São os chamados workaholics,

expressão americana usada para designar aqueles para quem o trabalho é um vício.

Há algumas organizações e sociedades onde este vício de trabalhar

compulsivamente é aceito, como é o caso da sociedade japonesa em que o excesso

de dedicação ao trabalho pode levar à morte - Karashi (Moraes, 1994; Silva, 1996).

Este descompasso em relação ao trabalho e a outras esferas da vida gera

sérios problemas aos trabalhadores. A excelência nas atividades de trabalho com

certeza é de fundamental importância, porém a obstinação pelo trabalho como

centro de tudo pode comprometer o conceito de equilíbrio. Esta obstinação pelo

trabalho muitas vezes é estimulada no seio da própria organização como meio de

competitividade, de assegurar cargos e posições que gerem status e poder.

Page 53: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

37

MORAES (1992), ressalta que a relação do homem com o trabalho às vezes

é conflituosa: ao mesmo tempo em que o trabalho é um fardo, dá sentido à vida; ao

mesmo tempo em que ele dá status, define a identidade pessoal e o crescimento

humano.

Porém, acredita-se que, de posse do conhecimento desta relação conflituosa

com o trabalho, o trabalhador possa achar o seu ponto de equilíbrio, buscando uma

melhor QVT e, conseqüentemente, um equilíbrio deste com as outras esferas da

vida.

2.4.2 Modelos e Fatores Determinantes de QVT

Uma das dificuldades para investigar a qualidade de vida nas organizações

reside na “diversidade das preferências humanas e diferenças individuais dos

valores pessoais e o grau de importância que cada trabalhador dá às suas

necessidades, implicando provavelmente em denotado custo operacional” QUIRINO

E XAVIER (1986).

Autores clássicos, como MASLOW (1954) e HERZBERG (1968), se ocuparam

com os fatores motivacionais ligados às necessidades humanas, com reflexos no

desempenho e na auto-realização do indivíduo.

WALTON (1973), LIPPIT (1978), WESTLEY (1979), BELANGER (1973),

WERTHER & DAVIS (1983), HACKMAN & OLDHAM (1975), entre outros,

estruturaram modelos que identificam fatores determinantes da QVT nas

organizações.

Operacionalmente os termos do modelo de WALTON (1973) podem ser

definidos da seguinte forma:

1 - Compensação Justa e Adequada: categoria que visa a mensurar a

Qualidade de Vida no Trabalho em relação à remuneração recebida pelo trabalho

realizado, desdobrando-se em três critérios:

Page 54: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

38

a) Remuneração adequada: remuneração necessária para o empregado viver

dignamente dentro das necessidades pessoais e dos padrões culturais, sociais e

econômicos da sociedade em que vive.

b) Eqüidade interna: eqüidade na remuneração entre outros membros de uma

mesma organização.

c) Eqüidade externa: eqüidade na remuneração em relação a outros

profissionais no mercado de trabalho.

2 - Condições de Trabalho: categoria que mede a Qualidade de Vida no

Trabalho em relação às condições existentes no local de trabalho, apresentando os

seguintes critérios:

a) Jornada de trabalho: número de horas trabalhadas, previstas ou não pela

legislação, e sua relação com as tarefas desempenhadas.

b) Carga de trabalho: quantidade de trabalho executado em um turno de

trabalho.

c) Ambiente físico: local de trabalho e suas condições de bem-estar (conforto)

e organização para o desempenho do trabalho.

d) Material e equipamento: quantidade e qualidade de material disponível

para a execução do trabalho.

e) Ambiente saudável: local de trabalho e suas condições de segurança e de

saúde em relação aos riscos de injúria ou de doenças.

f) Estresse: quantidade percebida de estresse a que o profissional é

submetido na sua jornada de trabalho.

3 - Uso e Desenvolvimento de Capacidades: categoria que visa à mensuração

da Qualidade de Vida no Trabalho em relação às oportunidades que o empregado

tem de aplicar, no seu dia-a-dia, seu saber e suas aptidões profissionais. Entre os

critérios, destacam-se os seguintes:

a) Autonomia: medida permitida, ao indivíduo, de liberdade substancial,

independência e descrição na programação e execução de seu trabalho.

Page 55: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

39

b) Significado da tarefa: relevância da tarefa desempenhada na vida e no

trabalho de outras pessoas, dentro ou fora da instituição.

c) Identidade da tarefa: medida da tarefa na sua integridade e na avaliação do

resultado.

d) Variedade da habilidade: possibilidade de utilização de uma larga escala de

capacidades e de habilidades do indivíduo.

e) Retroinformação: informação ao indivíduo acerca da avaliação do seu

trabalho como um todo, e de suas ações.

4 - Oportunidade de Crescimento e Segurança: categoria que tem por

finalidade medir a Qualidade de Vida no Trabalho em relação às oportunidades que

a instituição estabelece para o desenvolvimento e o crescimento pessoal de seus

empregados e para a segurança do emprego. Os critérios que, neste trabalho,

expressam a importância do desenvolvimento e as perspectivas de aplicação são os

seguintes:

a) Possibilidade de carreira: viabilidade de oportunizar avanços na instituição

e na carreira, reconhecidos por colegas, membros da família, comunidade.

b) Crescimento pessoal: processo de educação continuada para o

desenvolvimento das potencialidades da pessoa e aplicação das mesmas.

c) Segurança de emprego: grau de segurança dos empregados quanto à

manutenção dos seus empregos.

5 - Integração Social na Organização: categoria que objetiva medir o grau de

integração social existente na instituição. Fazendo uma adaptação a partir de

Walton, para este trabalho foram definidos os seguintes critérios:

a) Igualdade de oportunidades: grau de ausência de estratificação na

organização de trabalho, em termos de símbolos de “status” e/ou estruturas

hierárquicas íngremes; e de discriminação quanto à raça, sexo, credo, origens,

estilos de vida ou aparência;

b) Relacionamento: grau de relacionamento marcado por auxílio recíproco,

apoio sócio-emocional, abertura interpessoal e respeito às individualidades.

Page 56: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

40

c) Senso comunitário: grau do senso de comunidade existente na instituição.

6 - Constitucionalismo: categoria que tem por finalidade medir o grau em que

os direitos do empregado são cumpridos na instituição. Os critérios dessa categoria

são os seguintes:

a) Direitos trabalhistas: observância ao cumprimento dos direitos do

trabalhador, inclusive o acesso à apelação;

b) Privacidade pessoal: grau de privacidade que o empregado possui dentro

da instituição;

c) Liberdade de expressão: forma como o empregado pode expressar seus

pontos de vista aos superiores, sem medo de represálias;

d) Normas e rotinas: maneira como normas e rotinas influenciam o

desenvolvimento do trabalho.

7 - Trabalho e Espaço Total de Vida: categoria que objetiva mensurar o

equilíbrio entre a vida pessoal do empregado e a vida no trabalho. Os critérios são

os seguintes:

a) Papel balanceado no trabalho: equilíbrio entre jornada de trabalho,

exigências de carreira, viagens, e convívio familiar.

b) Horário de entrada e saída do trabalho: equilíbrio entre horários de entrada

e saída do trabalho e convívio familiar.

8 - Relevância Social da Vida no Trabalho: categoria que visa mensurar a

Qualidade de Vida no Trabalho através da percepção do empregado em relação à

responsabilidade social da instituição na comunidade, à qualidade de prestação dos

serviços e ao atendimento a seus empregados. Entre os critérios foram destacados

os seguintes:

a) Imagem da instituição: visão do empregado em reação à sua instituição de

trabalho: importância para a comunidade, orgulho e satisfação pessoais de fazer

parte da instituição.

Page 57: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

41

b) Responsabilidade social da instituição: percepção do empregado quanto à

responsabilidade social da instituição para a comunidade, refletida na preocupação

de resolver os problemas da comunidade e também de não lhe causar danos.

c) Responsabilidade social pelos serviços: percepção do empregado quanto à

responsabilidade da instituição com a qualidade dos serviços postos à disposição da

comunidade.

d) Responsabilidade social pelos empregados: percepção do empregado

quanto à sua valorização e participação na instituição, a partir da política de

Recursos Humanos.

Sobre este modelo, pode-se sublinhar que, embora não se desconheçam a

diversidade das preferências e às diferenças individuais ligadas à cultura, classe

social, educação, formação e personalidade, tais fatores são intervenientes, de

modo geral, na qualidade de vida do trabalho da maioria das pessoas. Ou seja,

quando tais aspectos não são bem gerenciados, o nível de satisfação

experimentado pelos trabalhadores em geral deixa muito a desejar, repercutindo nos

níveis de desempenho.

No modelo de análise de experimentos importantes sobre a qualidade de vida

do trabalho, WALTON (1973) propõe oito categorias conceituais, incluindo critérios

de QVT, ilustrados na Tabela VII.

Page 58: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

42

CRITÉRIOS INDICADORES DE QVT

COMPENSAÇÃO JUSTA E

ADEQUADA

Eqüidade interna e externa

Justiça na compensação

Partilha dos ganhos de produtividade

Proporcionalidade entre salários

CONDIÇÕES DE TRABALHO Jornada de trabalho razoável

Ambiente físico seguro e saudável

Ausência de insalubridade

USO E DESENVOLVIMENTO DE

CAPACIDADES

Autonomia

Autocontrole relativo

Qualidades múltiplas

Informações sobre o processo total do trabalho

OPORTUNIDADE DE CRESCIMENTO

E SEGURANÇA

Possibilidade de carreira

Crescimento pessoal

Perspectiva de avanço salarial

Segurança de emprego

INTEGRAÇÃO SOCIAL NA

ORGANIZAÇÃO

Ausência de preconceitos

Igualdade

Mobilidade

Relacionamento

Senso comunitário

CONSTITUCIONALISMO Direitos de proteção ao trabalhador

Privacidade pessoal

Liberdade de expressão

Tratamento imparcial

Direitos trabalhistas

O TRABALHO E O ESPAÇO TOTAL

DE VIDA

Papel balanceado no trabalho

Estabilidade de horários

Poucas mudanças geográficas

Tempo e lazer da família

RELEVÂNCIA SOCIAL DO TRABALHO

NA VIDA

Imagem da empresa

Responsabilidade social da empresa

Responsabilidade pelos produtos

Práticas de emprego

TABELA VII – Categorias Conceituais de Qualidade de Vida no Trabalho -

QVT

Page 59: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

43

Outro modelo que tem sido apontado pela literatura é o de WESTLEY (1979),

segundo o qual a avaliação da qualidade de vida nas organizações pode ser

examinada basicamente através de quatro indicadores fundamentais:

1. Indicador econômico, representado pela eqüidade salarial e eqüidade no

tratamento recebido;

2. Indicador político, representado pelo conceito de segurança no emprego, o

direito a trabalhar e não ser discriminatoriamente dispensado;

3. Indicador psicológico, representado pelo conceito de auto-realização;

4. Indicador sociológico, representado pelo conceito de participação ativa em

decisões diretamente relacionadas com o processo de trabalho, com a forma de

executar as tarefas, com a distribuição de responsabilidade dentro da equipe.

A Tabela VIII apresenta o modelo de Westley, adaptado por RUSCHEL

(1993). De acordo com este autor, os problemas políticos trariam a insegurança; o

econômico, a injustiça; o psicológico, a alienação, e o sociológico, a anomia. Para

Westley, “a insegurança e a injustiça são decorrentes da concentração do poder e

da concentração dos lucros e conseqüente exploração dos trabalhadores. Já a

alienação advém das características desumanas que o trabalho assumiu pela

complexidade das organizações, levando a uma ausência do significado do trabalho,

e a anomia, uma falta de envolvimento moral com as próprias tarefas”.

INDICADORES DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

ECONÔMICO POLÍTICO PSICOLÓGICO SOCIOLÓGICO

Equidade salarial;

Remuneração adequada;

Benefícios;

Local de trabalho;

Carga horária;

Ambiente externo.

Segurança no emprego;

Atuação sindical;

Retroinformação;

Liberdade de expressão;

Valorização do cargo;

Relacionamento com a

chefia.

Realização potencial;

Nível de desafio;

Desenv. Pessoal;

Desenvolvimento

Profissional;

Criatividade;

Auto-avaliação;

Variedade de tarefa;

Ident. com tarefa.

Participação nas

decisões;

Autonomia;

Relacionameto

interpessoal;

Grau de

responsabilidade;

Valor pessoal.

TABELA VIII – Indicadores da QVT

Fonte: Westley (1979) adaptado por Rushel (1993)

Page 60: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

44

Por sua vez, LIPPITT (1978) considera que são favoráveis, para melhor

qualidade de vida no trabalho, situações em que se oferece oportunidade para o

indivíduo satisfazer a grande variedade de necessidades pessoais, ou seja,

sobreviver com alguma segurança, interagir, ter um senso pessoal de qualidade, ser

reconhecido por suas realizações e ter uma oportunidade de melhorar sua

habilidade e seu conhecimento.

Pode-se, sem dúvida, aceitar que um modelo de melhoria de qualidade de

vida no trabalho, construído com base em tais fatores-chave oferece possibilidade

de atendimento tanto das necessidades do indivíduo como da organização, vindo ao

encontro das expectativas dos empregados.

Citem-se, ainda, WERTHER & DAVIS (1983) que estruturaram um modelo no

qual especificam elementos organizacionais, ambientais e comportamentais como

aspectos que influenciam o projeto de cargos em termos de qualidade de vida no

trabalho, de acordo com a Tabela IX.

Elementos

Organizacionais

Elementos

Ambientais

Elementos

Comportamentais

Abordagem mecanística;

Fluxo de trabalho;

Práticas de trabalho.

Habilidade e disponibilidades de

empregados;

Expectativas sociais.

Autonomia;

Variedade;

Identidade de tarefa;

Retroinformação.

TABELA IX – Modelo de Werther & Davis ( Elementos de QVT ).

Fonte: Werther & Davis (1983).

Especificamente, os elementos organizacionais do projeto do cargo dizem

respeito ao fluxo de trabalho e às práticas de trabalho, evitando-se uma abordagem

mecanicista.

Os elementos ambientais, conforme estes autores, não podem ser ignorados,

pela sua significação nas condições de trabalho, envolvendo habilidade e a

disponibilidade de empregados, e as expectativas sociais.

A qualidade de vida no trabalho é afetada, ainda, segundo WERTHER &

DAVIS (1983), por elementos comportamentais que dizem respeito às necessidades

humanas, aos modos de comportamentos individuais no ambiente de trabalho, que

Page 61: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

45

são de alta importância, tais como: autonomia, variedade, identidade de tarefa e

retroinformação, entre outros.

O modelo de BELANGER (1973) aponta os seguintes aspectos para a análise

da qualidade de vida nas organizações, como ilustra a Tabela X: trabalho em si,

crescimento pessoal e profissional, tarefas com significado e funções e estruturas

organizacionais abertas.

1 - O TRABALHO EM SI

- Criatividade

- Variabilidade

- Autonomia

- Envolvimento

- Feedback

2 - CRESCIMENTO PESSOAL E PROFISSIONAL

- Treinamento

- Oportunidades de crescimento

- Relacionamento no Trabalho

- Papéis organizacionais

3 - TAREFAS COM SIGNIFICADO

- Tarefas completas

- Responsabilidade aumentada

- Recompensas financeiras / não-financeiras

- Enriquecimento

4 - FUNÇÕES E ESTRUTURAS ABERTAS

- Clima de criatividade

- Transferência de objetivos

TABELA X - Modelo de Belanger (1973).

HACKMAN & OLDHAM (1975) propõem um modelo que se apóia em

características objetivas do trabalho, como mostra a Tabela XI. De acordo com tais

autores, a qualidade de vida no trabalho pode ser avaliada quanto a:

a) dimensões da tarefa, identificando seis atributos importantes para a

satisfação no trabalho: variedade de habilidades, identidade da tarefa, significado da

Page 62: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

46

tarefa, inter-relacionamento, autonomia e feedback (do próprio trabalho e

extrínseco).

b) estados psicológicos críticos, envolvendo a percepção da significância do

trabalho, da responsabilidade pelos resultados e o conhecimento dos reais

resultados do trabalho;

c) resultados pessoais e de trabalho, incluindo a satisfação geral e a

motivação para o trabalho de alta qualidade, bem como o absenteísmo e a

rotatividade baixa.

DIMENSÕES DA

TAREFA

ESTADOS

PSICOLÓGICOS

CRÍTICOS

RESULTADOS

PESSOAIS E

DE TRABALHO

Satisfação Geral

com o trabalho

(SG)

Variedade de Habilidades

(VH)

Identidade da Tarefa

(IT)

Significado da Tarefa

(ST)

Percepção da

Significância

do Trabalho

(PST)

Motivação Interna

Para o Trabalho

(MIT)

Inter-relacionamento

(IR)

Autonomia

(AU)

Percepção da

Responsabilidade

pelos Resultados

(PRT)

Produção de Trabalho

De alta qualidade

(PTQ)

Feedback do próprio

Trabalho (FT)

Feedback

Extrínseco (FE)

Conhecimento dos

reais Resultados

do Trabalho

(CRT)

Absenteísmo e

Rotatividade baixas

TABELA XI – Modelo de Dimensões Básicas da Tarefa, segundo Hackman &

Oldham (1975).

Fonte: Walton (1973)

Concorda-se, em última análise, com autores como QUIRINO E XAVIER

(1987), ao afirmarem que “...a Qualidade de Vida no Trabalho veio apenas

sistematizar e enfatizar pesquisas e estudos sobre a satisfação e a motivação no

Page 63: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

47

trabalho”. Ou seja, esta nova abordagem introduziu aos estudos de satisfação e

motivação uma nova visão, pelo fato de existirem argumentações teóricas mais

modernas e coerentes com a realidade, entretanto já definidas pelas tradicionais

teorias motivacionais.

Uma pesquisa realizada por tais autores, com base em aspectos sugeridos

pela literatura, em que analisaram 30 fatores que são apontados por se relacionarem

com a melhoria da Qualidade de Vida no Trabalho. Os resultados de tais estudos

indicaram os fatores que revelaram maior representatividade: realização do trabalho,

oportunidade de aprender, informação científica para realizar o trabalho,

equipamentos para o trabalho, segurança no emprego e proporções justas na

compensação.

É possível que outras variáveis intervenientes na QVT possam ser agregadas

às citadas nos modelos selecionados, como, por exemplo, a “participação”, que é

considerada por FERNANDES (1996), como um dos mais importantes elementos

comportamentais intervenientes na Qualidade de Vida no Trabalho.

2.4.3 Produtividade X Qualidade de Vida no Trabalho

No início da década de 50, ERIC TRIST iniciou estudos de um modelo que

pudesse agrupar indivíduo / trabalho / organização. Esta técnica recebeu o nome de

Qualidade de Vida no Trabalho.

SMITH ( 1993 ), fazendo referência a HACKMAN e SUTTLE, disse que:

Qualidade de Vida no Trabalho “é o quanto as pessoas na organização estão aptas

a satisfazer suas necessidades pessoais importantes, através de suas experiências

de trabalho e de vida na organização. Quando a satisfação é alta, o compromisso

com os objetivos do grupo e da organização também é alto”. Referenciando

BELCHER, SMITH ( 1993 ) descreveu um ambiente com alta qualidade de vida no

trabalho como “aquele onde as pessoas são membros essenciais de uma

organização que desafia o espírito humano, inspira o desenvolvimento e o

crescimento pessoal, e faz com que as coisas sejam realizadas”.

Os ambientes de alta qualidade de vida no trabalho apresentam:

Page 64: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

48

a) Input do empregado nas decisões;

b) Participação do empregado na solução de problemas;

c) Compartilhamento de informações;

d) Feedback construtivo;

e) Trabalho em equipe e colaboração;

f) Trabalho desafiador e significativo;

g) Segurança no emprego.

O caminho da qualidade de vida no trabalho tem sido colocado como a

grande esperança das organizações para atingirem altos níveis de produtividade,

pensando em atender as questões de motivação e satisfação do indivíduo.

A Qualidade de Vida no Trabalho tem, ao longo do tempo, apresentado

diversas abordagens, que refletem muito do interesse do trabalhador em cada

momento; entende-se o grau de bem-estar material pelo que dispõe uma pessoa,

classe social ou comunidade para sustentar-se e desfrutar sua existência. Portanto,

o nível de vida de um cidadão está diretamente associado ao que pode adquirir com

seus recursos e ao que o Estado pode lhe oferecer.

Quando se trabalha na dissecação da produtividade, percebe-se que a sua

constituição apresenta um conjunto de variáveis sociais. Além disso, ela mostra

também que o seu crescimento proporciona um retorno à sociedade, fazendo com

que muitas destas variáveis sociais também cresçam. Assim fica clara a

correspondência entre produtividade e qualidade de vida. É biunívoca e diretamente

proporcional; isto é, a qualidade de vida sendo alta, os valores para produtividade

também são altos; baixa qualidade de vida provocará baixos índices de

produtividade.

A Qualidade de Vida no Trabalho é construída internamente a partir de ações

sobre as condições e a organização do trabalho e, externamente, com o melhor

atendimento de questões como saúde, educação, habitação, transporte, lazer, etc.

As preocupações devem ser para além da qualidade produtiva; deve-se

definir prioridades para conquistar a qualidade de vida. Os processos participativos

Page 65: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

49

se caracterizam como excelentes formas para as práticas administrativas e políticas

no estabelecimento de sociedades que tenham preocupações não só baseadas no

crescimento material da produção, mas, prioritariamente, considerando os índices

humanos.

2.4.4 O Taylorismo e a Ergonomia

Taylorismo é o termo que deriva de Frederick Winslow Taylor ( 1856-1915 ),

um engenheiro americano que iniciou, no final do século passado, o movimento de

“administração científica” do trabalho e se notabilizou pela sua obra “Princípios de

Administração Científica”, publicada originalmente em 1912. Taylor defendia que o

trabalho deveria ser cientificamente observado de modo que, para cada tarefa, fosse

estabelecido o método correto para executá-la, com um tempo determinado, usando

as ferramentas corretas. Haveria uma divisão de responsabilidades entre os

trabalhadores e a gerência da fábrica, cabendo a esta determinar os métodos e os

tempos, de modo que o trabalhador pudesse se concentrar unicamente na sua

tarefa produtiva. Os trabalhadores deveriam ser controlados, medindo-se a

produtividade de cada um e pagando-se incentivos salariais àqueles mais

produtivos. Ele explica, dizendo que até o mais simples trabalho como carregamento

com uma pá deve ser cuidadosamente estudado de modo a determinar o seu

tamanho adequado para cada tipo de material ( antes se utilizava a mesma pá, tanto

para carregar o carvão como a cinza ) e descobrir o melhor método de realizar o

trabalho, de modo que nada fosse deixado ao livre arbítrio do operário. As idéias de

Taylor se difundiram rapidamente nos Estados Unidos. Em praticamente todas as

fábricas foram criados departamentos de análise do trabalho para fazer

cronometragens e desenvolver métodos racionais de trabalho, e isso provavelmente

contribuiu para a grande hegemonia mundial da indústria norte-americana na

produção massificada de bens.

2.4.4.1 A Resistência dos Trabalhadores ao Taylorismo

Pelo lado dos trabalhadores, houve, desde o início, uma certa resistência à

aceitação da cronometragem e dos métodos definidos pela gerência. Os

Page 66: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

50

trabalhadores achavam que isto os oprimia e reagiram, descumprindo regras

estabelecidas, desregulando máquinas e prejudicando intencionalmente a qualidade.

Partindo do nível de resistência individual, chega-se aos movimentos coletivos e

sindicais que questionam, em menor ou maior grau, o poder gerencial dentro das

fábricas, que lhes determina o que deve ser feito, nos mínimos detalhes, sem dar-

lhes a menor satisfação. Assim, os trabalhadores, de certa forma sentem-se

moralmente desobrigados a seguir estes padrões, visto que não participaram de

nenhuma etapa de sua elaboração.

Evidentemente, decorrido quase um século a partir das idéias iniciais do

taylorismo, muita coisa modificou-se. Os trabalhadores hoje são mais instruídos,

mais bem informados e mais organizados e não aceitam passivamente as decisões

da gerência.

2.4.4.2 A Transformação do Taylorismo

O taylorismo surgiu dentro das fábricas através da observação empírica do

trabalho. Os estudos científicos, relacionados com o trabalho, continuaram a se

desenvolver em laboratórios, acumulando conhecimentos sobre a natureza do

trabalho humano. Esses conhecimentos contribuíram para transformar,

gradativamente, os conceitos tayloristas.

O taylorismo atribuía a tendência de vadiagem dos trabalhadores, e os

acidentes de trabalho à negligência dos mesmos. Hoje já se sabe que as coisas não

são tão simples assim. Há uma série de fatores ligados ao projeto de máquinas e

equipamentos, ao ambiente físico (iluminação, temperatura, ruídos, vibrações), ao

relacionamento humano e a diversos fatores organizacionais, que podem ter uma

forte influência sobre o desempenho do trabalho humano.

Outro conceito taylorista cada vez mais questionado é o do homem

econômico. Segundo ele, o homem seria motivado a produzir simplesmente para

ganhar dinheiro e, então, cada trabalhador deveria ser pago de acordo com sua

produção. Hoje se admite que isso nem sempre é verdadeiro. Há, de fato, certas

pessoas que se motivam mais pelo dinheiro. Mas estas se incluem entre os

Page 67: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

51

trabalhadores de menor renda e aqueles de temperamento individualista, que são

mal vistos e isolados pelos próprios colegas.

Outros serão motivados por fatores diversos como a auto-estima e o

reconhecimento do trabalho que realizam. Um psicólogo norte-americano que

estudou o comportamento dos trabalhadores, convivendo com eles, chegou à

conclusão de que muitos preferem “manter a cabeça erguida que o estômago cheio”,

referindo-se à questão do dinheiro, que nem sempre era considerado o mais

importante.

Portanto, estas duas vertentes - de um lado, a resistência dos próprios

trabalhadores e, de outro, o enriquecimento dos conhecimentos científicos sobre a

natureza do trabalho - influenciaram a gerência empresarial a rever suas posições.

Hoje há um respeito maior às necessidades do trabalhador e às normas de

grupo e, na medida do possível, procura-se envolver os próprios trabalhadores nas

decisões sobre o seu trabalho. Uma das conseqüências desta nova postura foi a

gradativa eliminação das linhas de montagem, em que cada trabalhador deveria

realizar tarefas simples e altamente repetitivas, definidas pela gerência. Essas

linhas, consideradas até pouco tempo atrás como supra-sumo do taylorismo, parece

que estão condenadas a serem substituídas por equipes menores, mais flexíveis,

chamadas de células de produção. Cada célula se encarrega de fazer um produto

completo e a distribuição de tarefas de cada trabalhador é feita pelos próprios

elementos da equipe. Portanto, há mais liberdade para cada um escolher as suas

tarefas, podendo haver rodízios periódicos dentro da equipe para combater a

monotonia e fadiga. Evidentemente, não se trata de cair no extremo oposto do

laissez-faire. Os controles continuam existindo. Mas, em vez de se controlar

individualmente cada trabalhador, eles foram direcionados para os aspectos mais

globais da produção e da qualidade. Essa mudança trouxe mais liberdade e

responsabilidade aos trabalhadores, dando maiores oportunidades às manifestações

dos talentos de cada um. Assim, os resultados globais podem ser melhores do que

no caso anterior, em que todos os detalhes eram rigorosamente controlados.

Page 68: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

52

2.4.5 Eficácia e Trabalho

A ergonomia defende, desde longo tempo, uma visão do trabalhador como

criador de seu próprio trabalho. É isto o fundamental da distinção entre tarefa e

atividade. A eficácia no trabalho depende da ação criativa do operador, do ajuste do

funcionamento da tarefa. Mais recentemente, novas perspectivas foram

acrescentadas a esta visão clássica. Os objetivos da eficiência, qualidade, etc.,

dependem, também, das contribuições dos próprios trabalhadores: esta construção

espontânea de novas ferramentas ou saberes é que contribui para a transformação

do sistema de produção.

As atividades meta-funcionais são as atividades não diretamente orientadas

para a produção imediata, que resultam na construção de conhecimentos ou de

ferramentas (materiais ou cognitivas ), destinados a uma utilização posterior

eventual e visando a facilitar a execução da tarefa ou a melhoria da performance.

Estas atividades, individuais ou coletivas, situam-se à margem do trabalho

(vêm se inserir sobre o tempo de trabalho, em paralelo à atividade funcional, ou no

momento da fase de menor carga ) e são os acontecimentos que se realizam na

hora do trabalho que provocam a aparição de atividades meta-funcionais. Estes dois

aspectos conferem um caráter “parasitário” ( parasitismo temporal e genético )

relacionado à atividade.

Estas atividades meta-funcionais são, às vezes, mais raramente, formalizadas

e reconhecidas. Na maioria das vezes, são espontâneas e ignoradas. Em certos

casos, são escondidas e combatidas pela organização. Elas são atividades

necessárias, bem mais sob o ponto de vista do desenvolvimento individual e do

interesse do trabalhador do que do ponto de vista da eficiência da qualidade do

trabalho. A eficácia, a qualidade, etc., são resultantes de uma co-produção (

operador de um lado, organização do trabalho e o ambiente de trabalho do outro ).

Estas atividades meta-funcionais devem, então, ser estimuladas e,

eventualmente, assistidas ( não sabemos por quanto tempo ).

A ergonomia parte do princípio de que a atividade de trabalho constitui a

trama que estrutura, preserva e permite a evolução da produção.

Page 69: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

53

Reconhecendo que em qualquer sistema de produção há sempre uma

distância entre trabalho prescrito e trabalho real, a ergonomia explora o espaço de

auto-organização existente no interior das organizações formais; mostra, por

exemplo, como a concepção de produtos se prolonga até a sua utilização. Em tudo

isso, questiona a divisão social do trabalho entre planejadores e executantes,

buscando na compreensão da atividade de trabalho a chave para desvendar o

funcionamento real dos sistemas de produção.

A abordagem dos sistemas de produção via atividade de trabalho não se

limita a afirmar a primazia da prática real dos homens (seria esquecer todo o peso

estrutural dos processos sociais que operam de forma alienada à vontade dos

indivíduos), mas procura revelar as contradições que atravessam a produção social,

cujos produtos negam e obscurecem - através de uma racionalidade objetivamente

inscrita nas coisas - as relações e atividades vivas dos homens reais. Procura,

assim, entender a natureza contraditória do trabalho: da produção é possível originar

riquezas simultaneamente à despossessão e ao desgaste dos produtores,

contradição que se expressa na negação da efetividade real de suas atividades

concretas, e na impossibilidade de reapropriação dos produtos criados e das

riquezas geradas pelos próprios produtores.

Estas contradições se manifestam em vários fenômenos do mundo do

trabalho, que são objetos de pesquisas específicas no domínio da Ergonomia e da

Organização do Trabalho:

a) processos sociais de produção das doenças ocupacionais e dos acidentes

de trabalho; formas de desgaste do corpo, patologias e sofrimento mental dos

trabalhadores em relação com a organização do processo de trabalho e introdução

de novas tecnologias;

b) gênese e limites do desenvolvimento das potencialidades cognitivas dos

trabalhadores, (aprendizagem, formação e qualificação, carreira e realização

profissional, ética e dimensões afetivas no trabalho);

c) natureza dos conflitos e formas de cooperação horizontal (entre

trabalhadores e funções da empresa) e vertical (entre trabalhadores e a hierarquia);

trabalho coletivo e novas formas de organização do trabalho;

Page 70: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

54

d) concepção de novas tecnologias e de sistemas

informatizados/automatizados, com ênfase na interface entre operadores e

tecnologia; processos de transferência de tecnologia e suas condições de sucesso;

desenvolvimento de softwares ergonômicos, através de metodologias participativas

de concepção;

e) racionalidade produtiva em sistemas informatizados complexos;

organização qualificante e novos conceitos de produtividade e de eficiência.

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55

3 ESTUDO DE CASO: A ANÁLISE ERGONÔMICA DO AMBIENTE LUMÍNICO NO TRABALHO DO CIRURGIÃO-DENTISTA

3.1 INTRODUÇÃO

O projeto de iluminação na análise ergonômica do trabalho, para PORTO et al

(1997), tem por objetivo mostrar aspectos de relevância da iluminação natural e

artificial para a atividade humana, como meio de obtenção das condições de

conforto no ambiente de trabalho.

Ainda de acordo com os autores acima, a escolha de sistemas de iluminação,

de suas orientações e complementos de sombreamento e redirecionamento de fluxo

luminoso é um passo determinante na iluminação ambiental. A correta distribuição

da cor, como um dos fatores de qualidade do quadro visual, contribui para a

melhoria das condições físicas do trabalho e para a adequação do homem à

máquina, sendo um fator preponderante, que pode auxiliar na saúde, segurança e

bem-estar das pessoas que nele trabalham.

Em colaboração com o Oftalmologista Jaime Roisenblatt, LUSVARGHI

(1999), alertou a classe dos Cirurgiões-Dentistas do risco do trauma ocular. Por esse

motivo, a indústria odontológica, preocupada em quebrar a monotonia e a

austeridade dos consultórios odontológicos, usa atualmente uma combinação

adequada de cores que ajuda a concentração do profissional sobre determinadas

partes do equipamento, que além do benéfico efeito psicológico devido às boas

condições ambientais, há uma diminuição no risco de fadiga visual e conseqüente

diminuição de trabalhos falhos.

De acordo com SIMURRO (2000), a intensidade de iluminação e a coloração

da luz devem combinar com a coloração da luz ambiental. São aconselhadas, para a

iluminação, lâmpadas fluorescentes de luz natural branca, com coloração a mais

semelhante à temperatura cromática. As janelas, em horas noturnas, não devem

aparecer como áreas escuras, devem ser aclaradas pela instalação de cortinas

Page 72: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

56

claras ou envidraçamento especial, apoiado por uma irradiação de luz de cima, de

modo que não cause qualquer ofuscamento pelas luminárias.

A iluminação do lugar de tratamento, ainda de acordo com SIMURRO (2000),

deve possibilitar ao Cirurgião-Dentista a realização de trabalhos de precisão fora do

campo de operações propriamente dito. Entende-se como lugar de tratamento todos

os aparelhos terapêuticos, bem como os demais acessórios de uso imediato do

profissional e de sua auxiliar. As luminárias devem estar instaladas na cobertura por

sobre e em frente ao paciente, para que se consiga uma direção de luz apropriada

para providências terapêuticas em pacientes deitados ou sentados. Para se manter

tão baixa quanto possível a ofuscação do paciente, são preferidas as luminárias de

grande área. O teto sendo a principal superfície refletora da luz que provém do

exterior, é responsável pelo redirecionamento da luz aos planos verticais e

horizontais mais distantes das janelas, não podendo causar ofuscamento,

fornecendo condições lumínicas necessárias para o bom desempenho da atividade

visual. Outro aspecto a ser considerado é o formato. Grandes quantidades de

reentrâncias dificultam o redirecionamento da luz natural, visto que obstruem o

caminho usual da reflexão do feixe lumínico. A disposição do menor número possível

de cavidades e a simples inclinação do teto de forma descendente até a janela,

proverão uma distribuição de luz mais eficaz e uniforme no ambiente interno.

FALZON (1996) observa que o nível de iluminação interfere diretamente no

mecanismo fisiológico da visão e também na musculatura que comanda os

movimentos dos olhos, levando com isso à fadiga visual. Para evitá-la, deve haver

um cuidadoso planejamento da iluminação, assegurando a focalização do objeto a

partir de uma postura confortável. A iluminação adequada diminui a fadiga ocular e

aumenta a velocidade e eficiência da leitura. Luz fraca não causa doença ocular,

mas aumenta o cansaço ocular.

De acordo com VAUGHAN (1983), as lâmpadas incandescentes simulando a

luz do dia, proporcionam um fluxo de luz forte e difuso. Os tubos fluorescentes

comuns operam com corrente alternada e causam tremulação, mas é possível ligar 2

tubos fluorescentes de tal forma ajustada, que haja desencontro das fases,

eliminando assim o tremor.

Page 73: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

57

VAUGHAN (1983) e SAQUY (1994) afirmam que um requisito básico na

iluminação é ter luz suficiente para ver. Uma vez que isto seja realizado, a

intensidade de iluminação e o aumento (o uso de óculos) podem ser ajustados para

aumentar a eficiência visual. Em geral, a iluminação deve ser suficiente para permitir

o trabalho, de forma eficiente e confortável.

Segundo ITIRO (1992), um projeto de iluminação tem por objetivo mostrar

aspectos a serem considerados na análise ergonômica do trabalho, dentro do

espaço que se quer trabalhar e a relevância da iluminação natural para a atividade

humana, como meio de obtenção das condições de conforto no ambiente de

trabalho. A escolha de sistemas de iluminação natural, de suas orientações e

complementos de sombreamento e redirecionamento de fluxo luminoso, é um passo

determinante na iluminação ambiental. A iluminação geral deve ser uniformemente

distribuída e difusa. A iluminação geral ou suplementar deve ser projetada e

instalada de forma a evitar ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes

excessivos. Os níveis mínimos de iluminamento a serem observados nos locais de

trabalho são estabelecidos pela Norma Brasileira Registrada e o Inmetro. Dentre as

causas de iluminação inadequada está a iluminação excessiva, produzida por luz

natural, em uma sala com grandes janelas e sol.

3.2 ANÁLISE DE DADOS

Este estudo de caso foi realizado em uma sala de tratamento do Cirurgião-

Dentista, na Clínica Odontológica do autor, situada na cidade de Curitiba. A situação

de trabalho a ser analisada é sobre o que é exigido, em termos de desgaste visual

do Cirurgião-Dentista, durante o desenvolvimento de seu trabalho e também à

descrição das condicionantes físico-ambientais que lhe são oferecidas para a

realização do mesmo, a fim de propor orientações no sentido de garantir a saúde,

segurança e desempenho desse profissional.

Utilizar-se-á como metodologia a Análise Ergonômica do Trabalho, com o

intuito de estudar como o Cirurgião-Dentista desenvolve suas atividades com as

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58

condições de trabalho que lhe são oferecidas, pretendendo-se ainda fornecer

recomendações ergonômicas para o seu trabalho.

3.2.1 Procedimentos Metodológicos

Partindo dos objetivos propostos, realizou-se a Análise Ergonômica do

Trabalho, seguindo as etapas contidas no Referencial Teórico, para determinar os

fatores que interferem no conforto e desempenho do Cirurgião-Dentista.

3.3 APLICAÇÃO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

3.3.1 Análise da Demanda

A sala de tratamento do paciente em um Consultório Odontológico é o

ambiente em que o Cirurgião-Dentista passa a maior parte do tempo, por isso,

deverá ser um ambiente com luminosidade suficiente para que este profissional

desenvolva seu trabalho profissional com saúde (aspecto importante a ser

considerado) e ótima produtividade (uma das exigências da profissão).

Considerando este contexto, a demanda foi formulada pelo pesquisador no

sentido de analisar as condições de trabalho do Cirurgião-Dentista em seu ambiente

de trabalho, ou seja, na sala de atendimento do paciente, com o objetivo de levantar

dados para melhorar a situação existente. Para tanto, decidiu-se pela Análise

Ergonômica do Trabalho no referido local.

3.3.2 Características do local de trabalho

O Cirurgião-Dentista dispõe, para o desenvolvimento de suas atividades, de

ambientes convencionais de uma clínica odontológica: sala de recepção, sala de

entrevistas, sala pré e pós operatória, sala de esterilização, banheiros e a sala de

atendimento do paciente que é o objeto deste estudo. (FIG. IV - layout 1)

Page 75: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

59

3.4 ANÁLISE DA TAREFA

Procedeu-se a uma análise sobre o que é exigido do Cirurgião-Dentista, no

desenvolvimento de seu trabalho e também à descrição das condicionantes físico-

ambientais que lhe são oferecidas para a realização do mesmo.

3.4.1 Descrição da tarefa

De uma forma geral, a tarefa a ser realizada distribui-se em um conjunto de

ações que destaca-se a seguir:

� Recepção do paciente pela atendente odontológica;

� Leitura e análise do tratamento a ser realizado ou em andamento;

� Procedimentos odontológicos diferenciados a cada paciente dependendo

da especialidade:

- Cirurgia;

- Periodontia;

- Implantodontia;

- Endodontia;

- Dentística Operatória;

- Ortodontia;

- Oclusão;

- Prótese Dental;

- Odontopediatria;

- Radiologia.

Tarefas do Cirurgião-Dentista no atendimento ao paciente:

- após o posicionamento do paciente na cadeira odontológica pela

atendente, o profissional senta-se no mocho odontológico;

- ajuste da luz do refletor posicionando-a corretamente;

Page 76: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

60

- posicionamento da mesa auxiliar;

- início do procedimento.

� Orientação ao paciente quanto a procedimentos de manutenção;

� Preenchimento da ficha do atendimento realizado;

� Consulta de tabelas de preço para orçamento ou pagamento;

� Preenchimento de receituários, se for o caso;

� Acompanhamento do paciente até a recepcionista da Clínica para os

agendamentos futuros e emissão de recibos;

� Desenvolvimento de atividades específicas conforme calendário anual

(recadastramento de pessoal, imposto de renda, pagamento de taxas e

emolumentos) sendo que tais atividades, modificam o seu ritmo de

trabalho.

3.4.2 Características físico-ambientais do espaço de trabalho:

O Cirurgião-Dentista dispõe, para o desenvolvimento de suas atividades, de

uma sala de atendimento do paciente que é o objeto deste estudo.

� Ambiente físico da sala de atendimento:

A estrutura física estudada é formada basicamente de um setor, denominado

de sala de atendimento do paciente. Esta sala tem a dimensão de 8,64 m2,

medindo 2,40 m por 3,60 m. (FIG. V - layout 2).

As paredes são pintadas com tinta lavável na cor branca fosca. O piso é de

lajota vitrificada na cor cinza claro.

Existência de uma janela do sistema basculante medindo 2 m de largura x 1

m de altura, fornecendo luminosidade natural à sala e boa ventilação; duas portas,

uma, dando acesso à sala de esterilização e outra, com acesso à sala de espera do

paciente. (FIG. VI e VII).

� Equipamentos:

Page 77: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

61

Os principais equipamentos utilizados pelo Cirurgião-Dentista são:

- cadeira odontológica - 01

- equipo odontológico composto por mesa auxiliar, refletor e cuspideira -

01

- aparelho de RX - 01

� Mobiliários

- armários de fórmica – 03

- lavatório para degermação das mãos – 01

- cadeira (mocho) com assento e encosto reguláveis – 01

Para melhor compreensão, a disposição da estrutura e dos equipamentos

para a realização das atividades está representada na FIG. VIII (foto dos

equipamentos do consultório) e FIG. IX- layout 3.

� Iluminação

Além da janela, que fornece luminosidade natural à sala, no teto, está

colocado um conjunto de luminárias com 4 (quatro) lâmpadas

fluorescentes de 40 W, formando um desenho quadrado. As lâmpadas

fluorescentes sendo a melhor escolha para iluminação artificial de

ambientes, possuem um ótimo desempenho e conforto lumínico,

garantindo aos usuários condições ideais de bem estar, evitando

ofuscamentos e contrastes na iluminação. (FIG. X).

3.5 ANÁLISE DA ATIVIDADE

A observação das atividades realizadas pelos Cirurgiões-Dentistas foram

classificadas em períodos diversificados, acompanhando o desenvolvimento de seus

trabalhos, assim distribuídos: dois dias no período da manhã, dois dias no período

da tarde e dois dias no período da noite. Desta forma, pôde-se observar as

atividades que os profissionais realizam.

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62

Com o intuito de facilitar a compreensão dos resultados obtidos com a análise

das atividades, procurar-se-á dividi-los em condicionantes físicos e gestuais,

cognitivos e ambientais.

3.5.1 Análise das atividades em termos gestuais e posturais

O Cirurgião-Dentista realiza sua atividade diária alternando-se entre a posição

sentado e postura em pé. A postura em pé, em equilíbrio dinâmico, é adotada pelo

profissional ao andar pela sala de atendimento e as dependências do consultório

para realização das atividades profissionais. A posição sentada, é adotada pelo

profissional durante quase toda a realização de seu trabalho. Seus movimentos são

constantes, realizados com tronco, região cervical, membros inferiores e membros

superiores. Observou-se que a rotação forçada, realizada pelo tronco e região

cervical, são posições que irão lhe causar problemas ortopédicos futuros e que o

esforço visual realizado para poder visualizar uma área muito pequena e restrita que

é a boca, também irão lhe causar um desgaste visual.

ANTES DO ESTUDO

ATUALMENTE

Iluminação natural

Luminosidade da janela com entrada de luz solar direta (posição leste) sem proteção de cortinas. Pela manhã – abundância de luz ocasionando ofuscamentos indesejados. À tarde – iluminação mais confortável, mas ainda com ofuscamento. À noite – aspecto de um “quadro negro” causado pelo escuro da noite.

Iluminação natural

Luminosidade da janela com entrada de luz solar amenizada pela instalação de cortinas do tipo persiana. Pela manhã – luz natural com harmonia, diminuindo sensivelmente o ofuscamento oferecendo um conforto lumínico tanto ao profissional como para o paciente. À tarde – iluminação confortável oferecendo um ambiente agradável. À noite – aspecto do “quadro negro” melhorado pela instalação da persiana que apesar de não contribuir para a iluminação, oferece um ambiente mais agradável.

Page 79: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

63

Iluminação artificial

Instalação no meio do teto de uma luminária dupla com lâmpadas fluorescentes de 40 W, causando com isso, uma luz direcionada por trás do paciente, levando o profissional para uma melhor visualização do seu trabalho, a utilizar sempre o meio auxiliar de iluminação do equipo.

Iluminação artificial

Instalação de uma luminária com quatro lâmpadas de 40 W, com formado de um quadrado, abrangendo todo o teto. As lâmpadas fluorescentes sendo a melhor escolha para iluminação artificial de ambientes, possuem um ótimo desempenho e conforto lumínico, garantindo aos usuários condições ideais de bem estar, evitando ofuscamentos e contrastes na iluminação.

3.5.2 Análise das atividades em termos cognitivos

As atividades realizadas pelos profissionais são fundamentalmente cognitiva e

os aspectos exigidos são:

- conhecimento do equipamento existente na sala e habilidade em

manuseá-lo;

- conhecimento profissional dos serviços a serem realizados em seu

paciente (inerentes à profissão);

- habilidade para lidar com os pacientes (aspectos psicológicos);

- planejamento do tempo e organização das atividades realizadas;

- conhecimento dos materiais utilizados.

3.6 DIAGNÓSTICO

Tomando como ponto de partida as observações efetuadas nos profissionais

nos três turnos, obtém-se uma visão geral dos problemas relacionados aos mesmos,

aos quais sintetizou-se observações para embasar o diagnóstico a seguir citados:

1. Procedimentos de Trabalho

- maior desgaste físico e psicológico para pacientes novos (diagnóstico

diferenciado imediato);

- mobiliário padrão;

Page 80: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

64

- ergonomia do consultório satisfatória.

2. Indicadores Gerais Físicos

- dor e desconforto na região cervical e membros superiores de

intensidade moderada:

As tarefas executadas pelos profissionais, embora guardem um alto

grau de regulação, são realizadas tanto sentados como em pé. Os

profissionais fazem referência a cansaço físico e dores nas costas

bem como nos membros superiores e inferiores no final do período de

trabalho.

- problemas de visão no trabalho noturno relatados por todos os

profissionais envolvidos:

LUSVARGHI (1999), relatou que o Cirurgião-Dentista, por ter uma

profissão detalhista, fixa o olhar em um detalhe da boca por um tempo

prolongado. Conseqüentemente, ele pisca menos e fica com os olhos

ressecados e ardendo. Trabalhando sem pausas, o dentista entra

num quadro de espasmo de acomodação da musculatura ciliar –

sente cansaço, apresenta os olhos vermelhos, não consegue

enxergar e sente coceira. Isso favorece o desenvolvimento de

problemas refracionais, como a presbiopia, mais conhecida como

vista cansada. “É importante fazer pausas e fixar os olhos num ponto

distante para relaxar”.

LUSVARGHI (1999) ainda diz que o dentista trabalha com um

gradiente de iluminação intenso – ele tem uma área iluminada sob

foco de luz intensa e uma área ao redor com luz bem mais fraca – o

que é muito cansativo, para isso, o ambiente deve estar

uniformemente iluminado.

2. Indicadores Gerais Físicos

De acordo com GRANDJEAN (1998), permanecer em pé por tempo

prolongado, além da fadiga muscular, causa desconforto devido às

condições adversas do fluxo de retorno do sangue, responsável pela

Page 81: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

65

incidência de varizes e edema de tornozelos. Além disso, no trabalho

sentado por longo tempo, o autor adverte para os sintomas dolorosos de

fadiga no sistema nuca-ombros-braços, uma vez que esse sistema

suporta o trabalho estático realizado.

A prática freqüente de atividades mobilizando os aspectos citados, sem a

adoção de medidas para alteração das situações geradoras, pode

desencadear problemas de saúde aos profissionais.

3. Aspectos Gerais do Trabalho

Quanto aos aspectos físico-ambientais:

- O ambiente físico da sala de tratamento do paciente é, de forma geral,

um local de trabalho agradável para o desenvolvimento das atividades

que lhes são pertinentes;

- O nível de iluminação natural que antes da análise deste caso era de

uma intensidade exagerada, causando desconforto para o profissional

e ao paciente, após a mudança na luminosidade pela instalação de

cortinas do tipo persianas, houve uma melhora considerável no

aspecto lumínico, causando um conforto aos profissionais.

3.7 CADERNO DE ENCARGOS E RECOMENDAÇÕES ERGONÔMICAS

De acordo com Santos e Fialho (1997), a transformação da situação de

trabalho analisada é o principal objetivo da intervenção ergonômica.

O caderno de encargos foi constituído a partir da análise ergonômica do

trabalho. As especificações nele contidas visam contribuir para a melhora das

condições de trabalho e saúde dos profissionais do presente estudo, levando-se em

conta as alterações das suas condições de trabalho advindas da modificação da

luminosidade em seu ambiente.

Para atender as características levantadas e analisadas no diagnóstico,

sugere-se:

Page 82: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

66

1. Implementar um programa de saúde profissional, direcionado aos

Cirurgiões-Dentistas, envolvendo profissionais de saúde e tecnológicos. A

partir de referências da situação concreta vivida por esses profissionais,

convidar profissionais de ergonomia, fisioterapeutas e terapeutas

ocupacionais, para orientações quanto à adoção de hábitos posturais e

técnicas de iluminação.

2. Proceder orientações, sobre a importância de alternar atividades durante o

horário de trabalho para evitar esforços decorrentes de sobrecargas

posturais, de origem estática ou dinâmica. Ainda, elucidar efeitos possíveis

sobre a correta padronização do ambiente lumínico.

3. Tendo em vista os dados acima, pode-se dizer que o Cirurgião-Dentista

sofre diversos desgastes, tanto físico como psicológico, mas o que mais

enfocamos foi o desgaste visual durante o seu desempenho profissional,

causado pela falta de conhecimento de técnicas de iluminação e a correta

utilização das mesmas, bem como um melhor conhecimento da atuação

ergonômica para obtenção de uma melhoria da qualidade de vida,

aumento da produtividade e eficácia no trabalho.

Desta maneira, através destas técnicas e do interesse da aplicação dos

Cirurgiões-Dentistas nesta área para solucionar os problemas relativos ao cansaço

visual e, às vezes, à perda significativa da visão é que se faz necessária a avaliação

da iluminação do local de trabalho e das técnicas ergonômicas que nele devem ser

aplicados.

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67

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para a apresentação da conclusão da presente dissertação, inicialmente

deve-se retomar alguns tópicos importantes já descritos anteriormente no que se

refere à iluminação e ergonomia, relacionados em um ambiente odontológico.

O nível de iluminação interfere diretamente no mecanismo fisiológico da visão

e também na musculatura que comanda os movimentos dos olhos, levando à fadiga

visual. Para evitá-la deve haver um cuidadoso planejamento da iluminação,

assegurando a focalização do objeto a partir de uma postura confortável.

A claridade do ambiente é determinada não apenas pela intensidade de luz,

mas também pelas distâncias e pelo índice de reflexo das paredes, tetos, pisos,

máquinas e mobiliário. Portanto, um bom sistema de iluminação, com o uso

adequado de cores e a criação dos contrastes, pode produzir um ambiente

agradável, onde as pessoas trabalhem confortavelmente, com pouca fadiga,

monotonia e acidentes além de produzir com maior eficiência.

Existem, porém, dois grandes problemas relacionados com a luz: o primeiro

deles é a iluminação inadequada, que dificulta a realização de um trabalho mais

minucioso, como é o caso da odontologia; e o segundo são os reflexos, que surgem

nos vidros ou espelhos mal posicionados.

Dentre as causas de iluminação inadequada está a iluminação excessiva,

produzida por luz natural, em uma sala com grandes janelas e sol.

Uma outra desvantagem da luz natural é a criação de focos de reflexão da luz

da janela, nos instrumentais utilizados. Os reflexos forçam a vista e obrigam o

Cirurgião-Dentista a desviar a cabeça para poder enxergar, ocasionando sobrecarga

da região cervical.

Buscando a melhoria das condições de saúde e trabalho do Cirurgião-

Dentista, foram elaboradas possíveis recomendações:

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68

1. Envolvimento das Associações de Classe Odontológicas para, em conjunto

com os Conselhos de Engenharia e Arquitetura criar um intercâmbio para a

realização de estágios e palestras sobre Ergonomia e Luminotécnica, permitindo a

esses profissionais, a adquisição de conhecimentos básicos das regras de

iluminação para colaborar na concepção de um ambiente de trabalho que se

coadune à terapia dos pacientes. Assim, o Cirurgião-Dentista promoverá uma melhor

iluminação do consultório odontológico, diminuindo a fadiga, prevenindo também a

deficiência visual.

2. Estender a aplicação do presente estudo à Faculdade de Odontologia da

Universidade Federal de Santa Catarina.

3. Conscientizar, através de campanhas direcionadas aos Cirurgiões-

Dentistas, da necessidade de realizar pausas entre um paciente e outro ou a cada

período de tempo, para que possa praticar atividade laboral e solucionar os

problemas relativos ao cansaço visual bem como a perda significativa da visão.

Page 85: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

69

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Page 90: A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.pdf

74

ANEXOS

ANEXO I - NR 17 .......................................................................................................75

ANEXO 2...................................................................................................................77

ANEXO 3...................................................................................................................78

ANEXO 4...................................................................................................................79

ANEXO 5...................................................................................................................80

ANEXO 6...................................................................................................................81

ANEXO 7...................................................................................................................82

ANEXO 8...................................................................................................................83

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75

ANEXO I - NR 17

Visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de

trabalho às condições psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar

um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. A fundamentação legal,

ordinária e específica, que dá embasamento jurídico à existência desta NR, está nos

artigos 198 e 199 da CLT.

Normas Regulamentadoras da Secretaria de Segurança e Saúde no

Trabalho:

NR 17 - Ergonomia (117.000-7)

17.5. Condições ambientais de trabalho.

17.5.1. As condições ambientais de trabalho devem estar adequadas às

características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser

executado.

17.5.3. Em todos os locais de trabalho deve haver iluminação adequada,

natural ou artificial, geral ou suplementar, apropriada à natureza da atividade.

17.5.3.1. A iluminação geral deve ser uniformemente distribuída e difusa.

17.5.3.2. A iluminação geral ou suplementar deve ser projetada e instalada de

forma a evitar ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes excessivos.

17.5.3.3. Os níveis mínimos de iluminamento a serem observados nos locais

de trabalho são os valores de iluminâncias estabelecidos na NBR 5413, norma

brasileira registrada no INMETRO (117.027-9 / I2).

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76

17.5.3.4. A medição dos níveis de iluminamento previstos no sub-item

17.5.3.3 deve ser feita no campo de trabalho onde se realiza a tarefa visual,

utilizando-se de luxímetro com fotocélula corrigida para a sensibilidade do olho

humano e em função do ângulo de incidência (117.028-7 / I2).

17.5.3.5. Quando não puder ser definido o campo de trabalho previsto no sub-

item 17.5.3.4, este será um plano horizontal a 0,75m (setenta e cinco centímetros)

do piso.

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77

ANEXO 2

FIGURA IV – LAYOUT DA CLÍNICA ODONTOLÓGICA

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78

ANEXO 3

FIGURA V – LAYOUT DA SALA DE ATENDIMENTO (LUMINÁRIA)

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79

ANEXO 4

FIGURA VI – FOTO DA JANELA DA SALA DE ATENDIMENTO

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80

ANEXO 5

FIGURA VII – FOTO DA JANELA DA SALA DE ATENDIMENTO EM OUTRO

ÂNGULO

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81

ANEXO 6

FIGURA VIII – FOTO DOS EQUIPAMENTOS DO CONSULTÓRIO NA SALA

DE ATENDIMENTO

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82

ANEXO 7

FIGURA IX – LAYOUT DA DISPOSIÇÃO DOS EQUIPAMENTOS NA SALA

DE ATENDIMENTO

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83

ANEXO 8

FIGURA X – FOTO DAS LUMINÁRIAS NO TETO NA SALA DE

ATENDIMENTO