a igreja e o esporte · reportagem entrevista arquivo e memÓria ... com esse novo sentimento de...

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vitória Ano IX Nº 107 Julho de 2014 Revista da aRquidiocese de vitóRia - es vitória REPORTAGEM ENTREVISTA ARQUIVO E MEMÓRIA Dom Décio e seus projetos para o futuro A Igreja e o Esporte OS DESLAÇOS DA GLOBALIZAÇÃO

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vitóriaAno IX • Nº 107 • Julho de 2014

Revista da aRquidiocese de vitóRia - es

vitória

reportagem

entrevista

arQUivo e memÓria

Dom Décio e seus projetos para o futuro

A Igreja e o Esporte

os deslaços da

globalização

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vitóriaRevista da aRquidiocese de vitóRia - es

vitóriaAno IX – Edição 107 – Julho/2014

Publicação da Arquidiocese de Vitória

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av. carlos lindemberg, 6231, loja 06, cobilândia, Vila Velha - escep: 29111-165 | Telefone: (27) 3286-0913

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Arcebispo Metropolitano: Dom Luiz Mancilha Vilela • Bispos Auxiliares: Dom Rubens Sevilha, Dom Joaquim Wladimir Lopes DiasEditora: Maria da Luz Fernandes / 3098-ES • Repórter: Letícia Bazet / 3032-ES • Conselho Editorial: Albino Portella, Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Gilliard Zuque, Marcus Tullius, Vander Silva • Colaboradores: Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Raquel Tonini, Pe. Andherson Franklin • Revisão de texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin • Publicidade e Propaganda: [email protected] - (27) 3198-0850 • Fale com a revista vitória: [email protected] • Projeto Gráfico e Editoração: Comunicação Impressa - (27) 3319-9062 • Ilustrador: Kiko, Rennan Mutz • Designer: Albino Portella • Impressão: Gráfica 4 Irmãos - (27) 3326-1555

05 Pensar

21 esPIrITUaLIDaDe

30 asPas

31 esPeCIaL

DiálogosA Igreja e o poder

arte sacraRosácea

micronotíciasEmpresas Juniores

munDo litúrgico As insígnias episcopais

comuniDaDe De comuniDaDesSão Cristóvão, aquele que carrega Cristo

atualiDaDe As bondades para o Brasil

entrevistaDom Décio fala sobre projetos para o futuro

reportagem Os deslaços da globalização

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34 IDeIas

38 reFLeXÕes

42 ensInaMenTOs

46 aCOnTeCe

caminHos Da BíBliaUma comunidade de Palavra e Vida

viver BemDo limão à limonada

prática Do saBerUniversidade leva a prática da cidadania a municípios

arQuivo e memÓriaA Igreja e o Esporte

cultura capiXaBaA festa da Carretela

Maria da Luz FernandesEditora

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O brasileiro cultiva com muito afinco os la-ços familiares e facilmente manifesta seu patriotismo acentuado. Mas a globalização

chegou à nação brasileira com a mesma intensidade que em outros países. Ser cidadão do mundo afeta a relação familiar e diminui o patriotismo? O ambiente de trabalho sofre com esse novo sentimento de “posso viver e trabalhar em qualquer lugar do planeta”? Conhecer pessoas, países, aprender outros idiomas, fazer novas experiências e atuar em áreas diferentes de trabalho provoca deslaços nos laços tradicionalmente intocáveis como família, país de origem e empresa de trabalho? A globalização faz-nos repensar a importância dos laços e a tendência dos deslaços que esta edição aborda na reportagem.

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Laços e desLaços

eDitorial

pensar

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grafi

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Diálogos

AIgreja de Jesus Cristo não se entende como instância

de poder conforme o mundo en-tende. O Mistério da Encarnação do Verbo de Deus deixa-nos bem claro que o conceito e a prática do poder no mundo é totalmen-

te diferente do conceito que Jesus ensinou aos apóstolos e recomendou que fizessem como Ele fez. O Lava-pés é

a expressão do conteúdo do “poder”. Lavar os pés do seme-lhante é um exercício de poder! Escândalo para os poderosos des-te mundo. Para enten-der o sentido profundo do poder, ensinado e exercido por Jesus, é

preciso mudar de men-talidade, mudar o coração. O adulto precisa aprender com Jesus como fazer-se criança, fraco, pequeno e despojado. A Igreja é convocada pelo Mestre, que é a sua Ca-beça, a entrar no mistério

a igreja e o poder“Entre vós não deverá ser assim. Ao contrário, aquele que quiser tornar-se grande entre vós seja aquele que serve, e o que quiser ser o primeiro dentre vós seja o vosso servo.”

(Mt.20,26-27)

da “kenosis”, do despojamento, para exercer, em nome de Jesus, o poder que vem do Alto e adentra a alma do homem e da mulher, nascidos no Batismo e elevados à dignidade de filhos de Deus, membros da Família de Deus. “Entre vós quem quiser ser o primeiro seja vosso servo”! (Mt 20, 27). Foi o que Jesus fez. Pala-vra Criadora que se fez obediente ao Pai Criador, Palavra Reden-tora que liberta toda a criação da escravidão do pecado através do Amor. É o que a Igreja deve fazer como continuadora da missão do Salvador. Igreja, digo, Corpo de Cristo, Povo de Deus, fiéis cristãos leigos ou membros da hierarquia. Todos somos irmãos e servos uns dos outros. A huma-nidade continua precisando do serviço sacramental libertador de Cristo na história, através da Igre-ja, serva da mesma humanidade. Mas, por que hierarquia na Igre-ja se somos todos servos? Porque a hierarquia não é uma instância de poder segundo a mentalidade

do mundo, mas segundo a Ca-beça dela que é Cristo Jesus. A hierarquia da Igreja não é uma instância de poder conforme é entendida num sistema monárqui-co, imperial onde manda o mais poderoso. A Igreja faz uso da cultura monárquica com um con-teúdo totalmente diferente, onde e quando o “poder” é “poder--serviço”. Serviço da unidade dos servos, da Comunhão dos servos no Servo Jesus Cristo. Tanto que o diácono, o presbítero e o bispo são escolhidos pela Igreja para prestarem um serviço específico, um “poder-serviço”, o sagrado serviço da proclamação da Pa-lavra e dos Sacramentos, como também o serviço da Comunhão eclesial, governando a Igreja em vista do Mistério de Unidade, da Comunhão como Sinal do Grande Mistério da Trindade. A partir da Santa Ceia Jesus manifestou sua autoridade lavan-do os pés dos apóstolos. É quando nasce a Igreja e sua hierarquia, todos como servos e servidores da Comunhão Libertadora. O Pri-meiro fez-se servo de todos. No interior da Igreja, não pode haver “imperador” ou “senhor e senho-ra” detentor do poder. Isto é sinal de pecado. Toda liderança, seja

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Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc.arcebispo Metropolitano de Vitória eS

do papa, bispo, padre ou leigo de uma pequena comunidade, de um movimento eclesial, é liderança de servidor e não de dominador. O poder ensinado e introduzi-do por Jesus é “poder-serviço”. Não existe dono de comunidade eclesial ou da igreja. Um só é o Senhor e Servo de todos, Nosso Senhor Jesus Cristo. Todos são irmãos por direito batismal e ser-vos por dever batismal. Todos, na Igreja, são convocados para o serviço da Comunhão. Porém, como estamos a ca-minho, em marcha para o céu, o testemunho de comunhão nem sempre tem sido vivido e teste-munhado como Jesus ensinou e recomendou aos discípulos e apóstolos. Por isso, a história da Igreja, além de ser história de comunhão e graça tem sido também história de pecado. Esta caminhada é bem parecida com a experiência dos hebreus que libertados da escravidão egípcia, ao experimentarem o deserto fica-ram com saudade das cebolas do Egito. A ingratidão e o desejo de poder figurado no bezerro de ouro elucida muitos sinais de pecado na nossa história eclesial. A Páscoa de Jesus vai acon-tecendo na história de todos os dias. Assim vemos entre nós a experiência libertadora do po-der que escraviza e também as recaídas na escravidão do poder

do mundo. A liberdade da cidadania do céu é, na história, tentada e com-batida pela cidadania do mundo do egoísmo escravista. Assim a Igreja, não poucas vezes, mani-festa o seu rosto de pecadora, seja entre os membros da hierarquia, seja entre os fiéis cristãos leigos, através de um “poder mundano,” dominador e destruidor. A Páscoa acontece nesta dia-lética entre o “poder do mundo”, satânico, divisor, destruidor, e o “poder do mundo” do amor, da gratuidade, do serviço libertador. Não se trata de luta entre os dois poderes porque Jesus já venceu o pecado, o poder do mundo, mas trata-se do acolhimento pessoal e livre à Graça Libertadora doa-da por Jesus. O cristão acolheu a Graça Libertadora e vive na história a missão de servidor do Reino e Reinado de Deus, uma novidade do exercício e testemu-nho do poder que liberta e produz somente amor e paz porque a sua raiz é o Amor, a sua força motriz é o Amor e o seu destino é o Amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Então, todos os serviços e funções na Igreja não são e, não podem ser, poder de dominação, opressão do semelhante, mas ser-viço de comunhão na fé libertado-ra de Jesus Cristo, nosso Salvador e único Senhor da História.

A concorrência na Igreja deve ser somente no amor como nos ensina São Paulo “Portanto, pelo conforto que há em Cristo, pela consolação que há no Amor, pela comunhão do Espírito, por toda a ternura e compaixão, levai à ple-nitude a minha alegria, pondo-vos acordes no mesmo sentimento, no mesmo amor, numa só alma, num só pensamento, nada fazen-do por competição e vanglória, mas com humildade, julgando cada um os outros superiores a si mesmo, nem cuidando um só do que é seu, mas também do que é dos outros. Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” ( Filip.2,1-5). “Irmãos eu vos exorto, pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, a que estejais todos de acordo no que falais e não haja divisões entre vós. Pelo contrário. Sede bem unidos no sentir e no pensar” (1cor 1,10). Portanto, o cristão esteja onde estiver só será verdadeiro discí-pulo ou discípula de Cristo, seja ele membro da hierarquia ou fiel cristão leigo, no mundo, se viver e der testemunho de servo ou servidor do Reino de Deus. Ele é filho ou filha de Deus, membro da Igreja de Cristo, convocada a ser na história da humanidade, Sinal do Reino de Deus e Sinal da Trindade.

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“bondades”

atualiDaDe

Da redação

Em meados de junho a presi-dente Dilma Rousseff surpre-

endeu o Brasil com o anúncio do “pacote de bondades” aos em-presários do país. Apontada por diversas categorias por ser de pouco diálogo, a presidente sur-preende o setor privado com três encontros no espaço de um mês. Dizem os analistas que a aproxi-mação do empresariado com os candidatos de oposição é a grande razão do empenho da presidente. Pode ser. Em tempo de pré-cam-panha talvez a presidente entenda que deve ouvir mais, afinal as críticas nesse sentido são fortes e não chegam apenas do lado empresarial. Seja como for vale o exercício da escuta mesmo que acompanhado da atitude política de “dar respostas” na hora das promessas em vista de reeleição.O Governo anunciou como me-didas para estimular a economia, mas a imprensa intitulou de “pa-cote de bondades” e “afagos”.

Não tem como criticar a presiden-te por fazer o que tem sido pedido, mas transformar o silêncio de três anos em diálogos intensivos em cinco meses talvez possa atender algumas categorias, mas não aten-derá as demandas no seu todo. Outra pergunta que se coloca é sobre a realidade social do país. De quais “bondades” o país pre-cisa? O Instituto Trata Brasil

as

QUe o Brasil precisa

Que BonDaDe poDeria ser feita para muDar esta realiDaDe?

Segundo o Ipea são cerca de 50 milhões de pessoas que passam por dificulda-des e vivem em situação de pobreza. Nesse total incluem-se os pobres e os que vivem do Bolsa Família (7 milhões de pobres e 40 milhões do Bolsa Família).

divulgou em março deste ano que: 52% dos municípios não têm coleta domiciliar de esgoto. Dos 48% coletados apenas 38% são tratados. Para Washington Novaes isso significa 25 mil tone-ladas diárias de dejetos nos rios, o que aponta um novo problema que empobrece o país e coloca a população em risco, o meio ambiente e a saúde pública.

o tamanho da poBreza no Brasil

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Que BonDaDe poDeria ser feita para muDar esta realiDaDe?

O mapa do Brasil, se comparado ao número de médicos por grupo de pacientes ideal, mostra um quadro difícil de ser modificado para atender a população.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/infograficos/2014/03/82356-radiografia-da-saude.shtml

o atendimento à saúde Em artigo publicado em 2009 intitulado “As Riquezas do meu país”, Giuseppe Martino, administrador, especialista em gestão, escreveu: “O Brasil é o quinto maior país do mundo em território e em população. Possui a maior floresta tropical, a maior biodiversidade, a maior reserva de água doce subterrânea cujos estudos indicam que abasteceria por 20 anos a população mundial; o maior rio em volume e em ex-tensão, a maior bacia hidrográfi-ca, possui a nona maior empresa de energia e a maior empresa de exploração de petróleo em águas profundas, a melhor instituição financeira em tecnologia, a dé-cima maior economia, o oitavo maior PIB, um litoral extenso, lindo e com águas quentes e ainda é um país com condições de cli-ma favoráveis ao turismo, à vida e ao cultivo, onde cresce quase tudo o que se planta. Mas por que será que o Brasil continua per-dendo infinitamente e em todos os setores (econômicos, sociais, políticos) para países onde mal se consegue andar na rua de tão frio, minúsculos, sem recursos naturais

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atualiDaDe

e que não tem nem metade das riquezas naturais do Brasil”? E continua: “Como explicar que depois da segunda guerra mundial, a Alemanha, Itália e Japão, países destroçados econo-micamente, fisicamente e moral-mente, em apenas 40 anos conse-guiram se reerguer e estar entre as maiores potências no cenário mundial? E o Brasil com mais de 500 anos de existência ainda não consegue alcançar o lugar de destaque mundial a exemplo dos países acima citados? A resposta é óbvia, somos um país muito mal administrado. Parafraseando (Vladimir Illi-tch Ulianov) Lenin: “a prática é o único critério para se avaliar a verdade”. Praticamente não sabemos administrar nossas dívidas, os Estados, a nossa previdência, a nossa educação, a nossa saúde

jurídica em que se assenta e cria seu arcabouço burocrático onde tudo emperra, não anda pela falta de uma rubrica, selo, carimbo, horas de recebimento, falta de funcionário, mau humor do ges-tor e grande parafernália de leis cheias de brechas e recursos de “ampla defesa” aonde todos são culpados, mas ninguém é conde-nado”. Alguns analistas considera-ram “as bondades” apresentadas pela presidente Dilma Rosseff à indústria recentemente, como medidas sem impacto. Referiram duas especificamente: a recriação do Reintegra (programa que dá aos exportadores um crédito de PIS/Cofins sobre as vendas de manufaturados no exterior) e, a remodulação do Refis (progra-ma que permite o pagamento de dívidas tributárias vencidas até dezembro de 2013 em condições favoráveis) para exemplificar. Elas trazem alguma compensa-ção, um pequeno agrado, mas não resolvem o problema. “Bondades” agradam aos grupos que são beneficiados, mas parece que as “bondades” que o Brasil precisa não podem ser oferecidas em dosagens espe-cíficas que atendam a algumas categorias. O pacote de bondades que o Brasil precisa está descrito no documento 91 da CNBB (Por uma Reforma do Estado com Par-ticipação Democrática) lançado em 2011.

pública e nem a nossa segurança”. E Martino atribui ao Estado a responsabilidade de enfrentar o problema e buscar a solução: “quando falamos de Estado, en-quanto organismos, verifica-se que possui duas faces: uma mu-tável e outra imutável. A face do governante, ocu-pante do cargo, muda de acordo com as decisões dos eleitores e dos colégios eleitorais, conforme suas próprias conveniências polí-ticas, sendo que os nossos gover-nantes não têm uma formação em administração e na maioria das vezes os escolhidos para compor o primeiro e segundo escalão da máquina administrativa pública são amigos de campanha ou co-legas da época estudantil que, certamente, tomam decisões por critérios políticos em detrimento à experiência administrativa. A outra face é a estrutura

o tamanho da BUrocracia

A economia brasileira desperdiça r$ 46 Bilhões por ano por causa do excesso de burocracia, segundo a Fiesp.

Desde a Constituição de 1988, foram editadas 4,4 milhões de normas, somando União, Estados e municípios.

apenas 13% dessas normas estão em vigor. Muitas servem apenas para revogar regras anteriores.

Em média, são editadas 776 normas por dia útil, ou 32 por hora.

Juntas, essas normas publicadas a cada dia têm mais de 2 milhões de palavras.

Existem hoje no Brasil, 86,6 milhões de processos judiciais pendentes de julgamento.

Fonte: Fundação das Indústrias de São Paulo (Fiesp)

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A rosácea, gran-de aber tu ra circular, é um

elemento arquitetônico ornamental próprio das catedrais do estilo góti-co, presente em quase todas as igrejas cons-truídas entre os séculos XII e XIV. Apresenta--se sobre o portal da fachada principal ou no transepto. Sua decora-ção é feita em sentido radial, com vidros co-

loridos, representando pétalas de rosa de for-ma estilizada, origem do nome. A arquitetura deste período, vertical e ma-jestosa, apresentando torres de pontas agu-lhadas e arcos ogivais, convida à união com o divino e se desenvolve a partir do surgimento das pequenas cidades, com a intensificação das relações de comércio. As inovações técnicas trazem grandes mudan-ças na construção das igrejas: na fachada, três portais de acesso às três naves, e na estrutura, abertura de grandes vãos para entrada da luz, antes impossível. A rosácea, com origem no “oculus” romano e tendo sido pequena ja-

Raquel Tonini, membro da Comissão de Arte Sacra da Arquidiocese de vitória e Grupo de Reflexão do setor espaço celebrativo da

Comissão Litúrgica da CNBB

arte sacra

rosácea

nela no estilo românico, pode, agora, abranger toda a largura da nave. Como os grandes vitrais deste período, a rosácea permite, atra-vés da luz e da cor, a ascensão ao sagrado e o conhecimento da Bíblia. Geralmente, no centro de sua composição, sur-ge uma figura: os mais retratados são a Virgem Maria com o Menino, cenas da vida de Cris-to e dos apóstolos ou outras histórias bíbli-cas. Durante o período do seu uso, passa por transformações na sua forma de representação

até chegar aos desenhos rendilhados em pedra (traceria) e usa vidros com cores fortes que acentuam o realismo da representação. No Brasil, temos alguns exemplos neo- góticos que também apresentam a rosácea em sua composição arquitetônica, como a Catedral da Sé – SP. De cores vibrantes e com forte atração pela luz filtrada, são ornatos belíssimos que ajudam a compor um ambiente favorável à oração pes-soal e comunitária em nossas igrejas.

“Enquanto as igrejas românicas eram escuras, lembrando cavernas, as catedrais góticas são

exuberantes, convidam a olhar para o alto e dão um sentido ascensional ao ato de estar na igreja. (...) Sem falar nas cores das rosáceas, em que o

vermelho se destaca. A intenção era que, durante as Vésperas e na Hora Mariana, a luminosidade

filtrada criasse a sensação de um incêndio, verdadeiro fogo iniciático”.

(E. Pellizari)

Estrutura de uma igreja Gótica

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Gerar profissionais diferenciados à sociedade

e oferecer serviços de qualidade por um custo abaixo do mercado, propiciando soluções acessíveis e a ajuda necessária para os desafios encontrados pelas micro e pequenas empresas. Esse é o contexto que insere as empresas juniores como desenvolvedoras de um importante papel socioeconômico.

seleção e participação

micronotícias

Qualquer estudante da graduação do ensino superior pode fazer parte de uma empresa júnior ligada ao seu curso, mas é preciso passar por um processo seletivo rigoroso, assim como as grandes empresas fazem para escolher seus estagiários e trainees, com provas de conhecimentos gerais, redação, dinâmicas de grupo e entrevistas. A busca é por pessoas dispostas a aprender e a ajudar a desenvolver a empresa.

*Tecnologia da informação, biotecnologia, ciências e tecnologia e design de produtos

empresa juniorengenharias e ciências sociais aplicadas representam mais de 50% das eJs brasileiras

Fote

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o Que é uma empresa junior?

Empresa Júnior (EJ) é uma associação civil, sem fins eco-nômicos, constituída e gerida exclusivamente por alunos de graduação de estabelecimentos de ensino superior, que presta serviços e desenvolve projetos para empresas, entidades e so-ciedade em geral, nas suas áre-as de atuação, sob a orientação de professores e profissionais especializados.

revista vitória Julho/201412

O que te acrescentou essa experiência?Hoje me sinto totalmente diferente das outras pessoas da minha turma que não passaram por essa experi-ência. A Empresa Junior te prepara profissionalmente, proporciona aprendizado em outras áreas que o curso não oferece, ou seja, cada vez mais jovens estão abrindo seu próprio negócio e tornando-se empresários que fazem a diferença. Você se torna realmente um agente transformador da sociedade.

Abrem-se mais portas para quem participa de uma Empresa Junior?Sim, muitas. Muitas empresas reconhecem o estudante como um universitário diferen-ciado no mercado, quando tem no currículo essa atuação. A empresa acredita no potencial e no preparo que esse estudante teve durante os trabalhos na EJ, e por isso contratam mesmo. Atualmente empresas como Itaú, Falconi e Ambev já possuem processos seletivos específicos para empre-sários juniores. Hoje estagio na Red Bull, uma empresa mundialmente conhecida, e com toda certeza devo isso ao que aprendi na Empresa Junior, às pessoas que conheci e a todo o desenvolvimento a que fui submetida como empresária junior.

a eXperiência De Quem já passou por uma empresa juniorSamara Verneck é estudante de Publicidade e Propaganda da Ufes e vivenciou por 1 ano e meio a experiência da Empresa Junior de Comunicação (Ecos Jr.) da Universidade. Além disso, Samara atuou por dois anos na Federa-ção Capixaba de Empresa Junior.

O Brasil é o país com o maior número de empresas juniores do mundo. O Movimento Empresa Júnior (MEJ) no Brasil é repre-sentado por 27 mil universitários em 1,1 mil empresas juniores de diferentes atuações (comu-nicação, engenharia, medicina, psicologia, turismo, computação, administração, etc.) com um fa-turamento anual de R$ 8,5 mi-lhões, realizando mais de 2.500 projetos por ano, conforme dados da Confederação Brasileira de Empresas Juniores – Brasil Jr.

empresa junior no Brasil

revista vitóriaJulho/2014 13

entrevistaLetícia BazetMaria Da Luz Fernandes

“colatina vai sentir que este foi um momento de deus, não um moment o pessoal de dom décio.”Dom Décio Sossai Zandonade, bispo emérito da diocese de Colatina fala sobre seu novo momento, projetos futuros e sentimentos perante a situação atual

vitória - O senhor já pediu a renúncia em 2010. Se fosse hoje ainda pediria?Dom Décio - Talvez não. Há mo-mentos muito difíceis. Como alguém mesmo já comentou comigo, bispo tem que ter duas coisas: carisma e báculo. Eu adoro estar presente, tenho um jeito humano de me relacionar. O outro lado é o báculo do go-verno. Eu nunca me senti bem para governar. Ou seja, hoje se exige paciência, visão ampla, determinação, e isso não é mui-to do meu feitio. Eu sou muito contemporizador, deixo as coisas passarem, pra ver se resolvem. No momento que pedi, tinha problemas internos, eu não sabia por onde caminhar e isso me pressionou. Havia também situ-ações pessoais de saúde. Se eu estivesse no momento de hoje, talvez não pediria, porque me sinto bem. Mas, se o pedido foi feito e o Papa resolveu aceitar, é sinal que esse é o caminho que Deus quer para a Diocese de Co-

“colatina vai sentir que este foi um momento de deus, não um moment o pessoal de dom décio.”

latina. Vou cuidar daquilo que a Providência Divina me inspirar.

vitória - A providência já inspirou alguma coisa?Dom Décio - Eu sou como Dom Bosco, eu tento ser contempla-tivo na ação. Você tem que ter momentos de deserto, de retira-da, para que depois você facil-mente se coloque numa atitude contemplativa no cotidiano. O que o mundo de hoje precisa mais é disso.

vitória - Recentemente o senhor fez uma experiência de um retiro diferente pelas montanhas?Dom Décio - É um pouco isso. Entrar em contato com a nature-za, ter momentos de contempla-ção, de leitura orante. Mas não gostaria de viver isolado, acho que não é a minha vocação. Tal-vez isso se concentre melhor no projeto do Santuário Diocesano Nossa Senhora da Saúde, em Ibiraçu. Lá eu posso ter um lugar de contemplação e um lugar de atendimento. Junto com isso, tem o IESIS, Instituto Espírito Santo de Inovação Social. O se-

minário de Ibiraçu é um espaço que eu sempre vislumbrei como um espaço privilegiado da dio-cese, porque ele está colocado num centro estratégico.

vitória - O que se pensa em fazer lá? Dom Décio - A estrutura já foi reformada, agora é tentar montar cursos, encontros, para a forma-ção de lideranças com princípios cristãos e éticos, que possam transformar a sociedade. Eu que-ria focar minha vida nestes dois espaços, o espaço do Santuário Diocesano e o espaço do IESIS, no antigo seminário.

vitória - O senhor tramitou em várias áreas: comunicação, política, educação. Na relação Igreja/sociedade, onde a Igreja precisa atuar mais fortemente?Dom Décio - Esse campo educati-vo eu acho que seria importante. Uma educação num sentido mais amplo, que privilegie os mais pobres, tente buscar estruturas de formação de valores com crian-ças pequenas. Depois, as escolas, a Pastoral da Educação não atua para que os professores possam

realmente transmitir alguma coisa diferente para formar a sociedade. E a educação através dos meios de comunicação, que é outro grande desafio, porque tem a internet, esse mundo enor-me onde estão as crianças e a juventude, nós estamos ausentes.

vitória - No início de nossa conversa o senhor falou que lhe agrada o relacionamento humano, mas o bispo também tem que gerenciar pessoas, projetos e processos e o senhor buscou ajuda para gerenciar a diocese. Como se dá a relação carisma/vocação e carisma/gerente? Dom Décio - A minha dúvida foi sempre essa. Eu tentei fazer e há algumas análises exteriores de psicólogos que dizem que eu

“Eu não quero que a Diocese de Colatina volte para trás. Peço para o Espírito Santo, que suscite para a Igreja de Colatina, um bispo que seja o bispo do momento

revista vitóriaJulho/2014 15

teria o perfil ideal para o bispo que o mundo precisa hoje. Ou seja, um jeito de escutar, es-perar, de não tomar decisões repentinas. Mas isso me inco-modava, eu acho que isso tem certo limite, eu acho que em certos momentos tem que haver decisões, decisões precisas, que dêem limites, orientação, que façam as coisas acontecerem. Eu procurei aqui encontrar um jeito de unir carisma e poder. Senti dificuldade. Mas, é claro, hoje o poder se expressa muito mais numa preparação bem feita de um projeto pastoral diocesano. E isso nós procuramos fazer, também com o auxílio de espe-cialistas do SEBRAE, as equipes de planejamento de empresas, de tal maneira que as pessoas pudessem participar e sair um pouco dessa reclusão de um mundo puramente eclesial. Eu acho que, de fato, através do pro-jeto diocesano de evangelização, a gente conseguiu fazer com que muitas coisas caminhassem e se estruturassem melhor. O poder acaba suscitando uma certa di-mensão de “eu mando aqui”, “eu que mando, eu que sei” e não é isso. Hoje você tem que trabalhar muito a escuta, a observação, a riqueza do entorno. Hoje, o bispo tem que ser um bispo de muito relacionamento, de muita escuta, buscar assessoria, não tanto só interna, mas externa, para po-der tomar decisões que sejam oportunas, na hora certa, com

as características que o mundo de hoje precisa.

vitória - Durante as asses-sorias externas, em algum momento, o senhor teve que dizer “isso não pode ser feito na Igreja”? O que faz a dife-rença, onde está o limite da exigência de uma liderança da Igreja, de uma autoridade eclesiástica e de uma autori-dade empresarial?Dom Décio - A dimensão da ca-ridade, a dimensão do amor, a dimensão do transcendente. O objetivo da empresa é alcançar o lucro, o sucesso e assim por diante. E tudo isso é que deter-mina as decisões, se alguém se encaixa nisso, vai, se não encai-xa, é retirado automaticamente. Na Igreja, não. O relacionamento com pessoas, com o mistério das pessoas, envolve um modo diferenciado de tratá-las, de es-perar, de dialogar, de conversar. Se bem que isso também está sendo assumido por empresas hoje, o sistema dialógico, de escuta é muito mais forte. Na Igreja, aquilo que numa empresa se resolveria num toque, rapida-mente se tomaria uma decisão, você tem que respeitar a pessoa, você tem que escutar, tem que informar, é uma série de desafios diferentes.

vitória - O senhor continua na diocese? Dom Décio - Dom Wladimir (Lo-

entrevistaLetícia BazetMaria Da Luz Fernandes

“Que esse jeito de ser

da Diocese de Colatina

continue fortalecendo

as comunidades, voltar-

se para os mais simples,

multiplicar os ministérios

para que a Igreja se

torne mais presente

nas grandes periferias

urbanas. Continuar

nesse caminho, tendo

ousadia e coragem,

como diz o Papa, “dar

passos novos”. Eu não

quero que a Diocese de

Colatina volte para trás.

Peço para o Espírito

Santo, que suscite para

a Igreja de Colatina, um

bispo que seja o bispo do

momento.”

revista vitória Julho/201416

pes Dias) continua bispo auxi-liar de Vitória, portanto, ele tem obrigações lá. Ele perguntou se eu podia ajudá-lo até chegar o outro bispo, mas depois que o bispo definitivo estiver aqui eu quero vivenciar realmente essa liberdade que me traz a renúncia. Até chegar lá, exerço a função de vigário geral da diocese, uma espécie de substituto do admi-nistrador apostólico.

vitória - E essa nova condição dentro da Cúria? Já entrou na sala errada?Dom Décio - Não, desde o dia que eu renunciei deixei a sala. Lá é o bispo, é o administrador diocesano, é o administrador apostólico.

vitória - Qual foi o sentimen-to na hora que o Papa aceitou sua renúncia?Dom Décio - Veio-me muito o sentimento de covardia. Então bateu aquela dúvida: “Você não está tendo uma atitude ‘covarde’, se acomodando a um projeto pes-soal e não ao amor à Igreja como tal?”, mas uma mudança numa diocese também, eu acho que faz bem. Eu estou assimilando como uma graça de Deus. Não para mim só, mas uma graça de Deus para a Diocese de Colatina. Ela vai sentir que foi um momento de Deus, não foi um momento pessoal de Dom Décio.

vitória - O que o senhor diz

uma pessoa que não tem difi-culdade de se relacionar, que não tem muita força decisória, mas fortalece a comunhão, é um alguém muito ligado à base das comunidades rurais, é alguém que cresceu formado na Escola Salesiana, portanto, do jeito de ser dos Salesianos, sobretudo, com a formação de Dom Bosco. Ele podia ser proposto como mo-delo de um padre diocesano, era criativo, experiente, comunica-dor, criador. Eu tentei procurar realizar em mim um pouco desse jeito de Dom Bosco, ser um ho-mem de Deus. Mas, é claro, um cara ainda com muito limite no sentido de relacionamento com as pessoas e que pode crescer mais.

nesse momento para a Diocese de Colatina e para a Igreja do Espírito Santo?Dom Décio - Que esse jeito de ser da Diocese de Colatina continue fortalecendo as comunidades, voltar-se para os mais simples, multiplicar os ministérios para que a Igreja se torne mais presen-te nas grandes periferias urbanas. Continuar nesse caminho, tendo ousadia e coragem, como diz o Papa, “dar passos novos”. Eu não quero que a Diocese de Colati-na volte para trás. Peço para o Espírito Santo, que suscite para a Igreja de Colatina, um bispo que seja o bispo do momento.

Para o Espírito Santo, nós preci-samos compreender que temos essa peculiaridade diferente das outras Igrejas do Brasil e que talvez ainda não foi suficiente-mente valorizada. Temos que exportar esse rosto capixaba de ser Igreja, onde as quatro dio-ceses se irmanam, onde nós nos encontramos numa formação permanente e continuada, onde a gente tem que se aprofundar em nível de relação com o geren-ciamento público, crescer nisso. O governo civil e o religioso precisam andar juntos.

vitória - Se o senhor pudesse resumir, definir quem é Dom Décio?Dom Décio - É um homem que não tem características excep-cionais, é um ser comum, é

revista vitóriaJulho/2014 17

tempo por meio do seu Espírito Santo. Somente na presença do Senhor no Santíssimo Sacramen-to o bispo se apresenta de cabeça descoberta. Como guardião da fé, a mitra é sinal do capacete espi-ritual do bispo para a defesa da verdade. Para tanto sua cabeça foi un-gida com o óleo do crisma no dia da orde-nação episco-pal e recebeu

insígnias,“Onde comparecer o

Bispo, aí se deve juntar a multidão, tal

como, onde estiver Jesus Cristo, aí está a Igreja católica”, sen-tença ensinada por Santo Inácio de Antioquia ainda no primeiro século da era cristã. Santo Agos-tinho escreveu também que para o seu povo ele era bispo e com o povo ele era um cristão. De fato, o Bispo é um discípulo de Jesus Cristo, humano, semelhante a todos os fiéis, mas o ministério episcopal faz dele sinal sacra-mental. O que ele significa para nós, por desígnio divino, vai além da frágil figura humana. Ele é o elo da Igreja com Cristo, pois através da sucessão dos apósto-los transmitida aos bispos somos guiados pelos mesmos pastores escolhidos pelo Senhor. O bispo é o sinal visível de comunhão da Igreja Particular em si e dela com a Igreja universal. Toda

munDo litúrgico

sinais do ministério episcopal

essa realidade verdadeiramen-te espiritual ganha visibilidade pelas suas vestes, paramentos e insígnias com que foram hon-rados ao longo da história. No dia da Ordenação Episcopal, o eleito recebe algumas insígnias que embora de uso consagrada-mente litúrgico, não se limitam às celebrações e revelam outros atributos do ministério do Bispo.

A primeira é o solidéu (que significa “só para Deus”), pe-quena cobertura redonda usada sobre a cabeça de cor violácea e quando cardeal vermelha, e sobre o solidéu a mitra, tipo de chapéu pontiagudo com duas tiras (ínfo-las) que pendem nas costas. Os grandes mestres usavam desde a antiguidade algum tipo de chapéu ornando a cabeça. Para o bispo, além de por em relevo a sabedoria recorda que ela não vem de si, mas de quem está acima dele, o próprio Deus que o assiste a todo

revista vitória Julho/201418

o QUe é a missa estacional do Bispo diocesano?

É chamada Missa Esta-cional a celebração presidi-da pelo Bispo Diocesano, principalmente na Igreja Catedral, em momentos especiais no Ano Litúrgico, como a Missa para a consa-gração dos óleos, o padro-eiro da diocese, aniversário de sua ordenação ou dedi-cação da catedral dentre outras. Além de manifestar a unidade visível da Igreja, apresenta a diversidade de ministérios em torno da Eucaristia, na qual o Bispo, pastor que guia o rebanho, celebra em comunhão com o seu presbitério, levando os fiéis a uma participação ativa, plena e consciente.

Pe. Renato Paganini Mestre de Cerimônias do Arcebispo de Vitória

o livro dos Evangelhos para seu ensino.

No dedo anelar da mão direi-ta, o bispo recebe também o anel, símbolo da fidelidade à Igreja, esposa de Cristo, a quem ao bispo é confiada a guarda e proteção. Com essa mesma mão ele passará abençoando seu povo e na mão esquerda, enquanto caminha, o bispo portará o báculo pastoral, talvez, de todas as insígnias, a mais significativa e que facilmen-te as pessoas identificam como o cajado do pastor. De fato, o bispo revelará em si as feições de Je-sus, o Bom Pastor, que dá a vida por suas ovelhas (cf. Jo 10,11). Os arcebispos metropolitanos, bispos de Igrejas mais antigas e de grande importância, são in-cumbidos de zelo, em situações muito especiais, pelas dioceses vizinhas que formam a Província Eclesiástica (as chamadas dio-ceses sufragâneas). Em função disso recebem uma distinção com o uso do pálio: uma tira de lã que envolve o pescoço e pende no peito e nas costas com cinco cruzes pretas e recorda o Bom Pastor que leva em seus ombros a ovelha tresmalhada. As 5 cruzes fazem referência às 5 chagas do

Salvador, sendo que 3 delas, a da frente, do ombro esquerdo e das costas podem ser perpassadas por 3 cravos, lembrando aqueles que prenderam o Senhor ao madeiro. O Pastor Divino também se fez ovelha, o Cordeiro imolado, úni-co capaz de salvar os homens de seus pecados (cf. Jo 1,29).

O ministério do bispo, longe de ser uma honra, é na verdade uma verdadeira cruz, onde ho-mens chamados pelo Senhor para suceder seus apóstolos tomam com coragem em seus ombros as ovelhas feridas e sobre si a cruz e as marcas da paixão.

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e a solidÃo sonora

espiritualiDaDe

um jornalista foi entrevistar o poeta vietnamita Ho chi minh que ficou vários anos preso. perguntou ao poeta como ele conseguiu fazer poesias tão belas, suaves e amplas vivendo em lugar tão estreito e injusto como era aquela prisão comunista. o poeta respondeu com extrema simplicidade: “eu só desvalorizei as paredes!”.

Dom Rubens Sevilha, ocdBispo auxiliar da

arquidiocese de Vitória

Também São João da Cruz ficou preso nove meses

no cárcere conventual de Toledo, Espanha, em 1578. Nove meses sem permissão para celebrar a Santa Missa, nem to-mar banho ou trocar a roupa... Naquele cárcere escreveu suas mais be-las e profundas poesias místicas: “No Amado acho as montanhas, os vales solitários, os bosques, as ilhas mais estranhas, o barulho dos rios e o sussurro dos ares amorosos, a noite sossegada, o raiar da aurora, a música cala-da, a solidão sonora, a ceia que recreia e que enamora”.

humana, isto é, olhar a vida com os olhos da fé. A contemplação é olhar a realidade com os olhos de Deus. O cristão pensa e age de acordo com o pensar e agir do divino Mestre: Jesus. Somos discípulos e, concomitantemente, missionários. A fé nos faz enxergar um hori-zonte infinito, além das paredes da realidade humana. A realidade humana é a caverna de Platão. Há vida além da caverna. Cristo ressusci-tado literalmente saiu da caverna e nos mostrou a luz da vida!

Precisamos con-tinuamente reeducar o nosso olhar (conver-são!) para enxergarmos a vida com os olhos de Deus. Termino, com um singelo relato verdadei-ro: Depois de uma noite de vento e chuva, uma menina, ao ver a calçada forrada de folhas e péta-las de flores, exclamou: “mãe, essa noite choveu flores!”.

“A sabedoria está em

desvalorizar as paredes. Olhar além das paredes da condição

humana, isto é, olhar a vida com os olhos da

fé.”

Todo ser humano sente-se aprisionado por alguma coisa em algum momento da vida. A prisão do trabalho e do trânsito; está preso às contas para pagar no fi-nal do mês, aos deveres familiares... Talvez, a prisão maior seja a pró-pria condição humana: estamos presos à nossa fragilidade, pequenez, impotência diante de problemas ou circuns-tâncias da vida que são maiores do que nós. Estamos todos presos ao tempo que passa e à morte que se aproxima!

A sabedoria está em desvalorizar as pa-redes. Olhar além das paredes da condição

as paredes

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são cristóvão:aQUele QUe carrega cristo

Apesar de ser um dos santos mais populares do mundo, muito pouco

se sabe ao certo sobre a vida de São Cristóvão. Celebrado em 25 de julho é considerado o padroeiro dos caminhoneiros e dos viajantes.

Viveu provavelmente na Síria e sofreu o martírio no sé-culo III. “Cristóvão” significa “Aquele que carrega Cristo” ou “porta-Cristo”. Cristóvão foi um dos santos cuja história de vida gerou diversas lendas e, assim como outros na mesma época, foi proclamado santo por aclamação popular.

De acordo com uma dessas lendas, Cristóvão era um gi-gante com mania de grandezas. Imaginava que o rei a quem

comuniDaDe De comuniDaDes

servia era o maior do mundo. Com o tempo, teve a certeza de que o maior rei do mundo era Nosso Senhor e que uma das coisas que mais agradavam era a bondade. Cristóvão resolveu trocar a mania de grandeza pelo serviço aos semelhantes.

Valendo-se da imensa for-ça, certo dia, fez a travessia de uma criança que ficava cada vez mais pesada, de tal maneira que ele sentia como se o mundo inteiro estivesse sobre os seus ombros. Diante de seu espanto, o menino lhe disse: “Tiveste às costas mais que o mundo inteiro. Transportaste o Criador de todas as coisas. Sou Jesus, aquele a quem serves”.

E servir parece ser a missão da dona Tereza Alves de Lima

Girelli, de 90 anos, moradora do Bairro São Cristóvão, e uma das fundadoras da comunidade dedicada ao santo na capital. Quando chegou, em 1962, co-meçou com as primeiras turmas de catequese na região. “Não tinha igreja por aqui, só cen-tros espíritas e o padre Dario Kill me perguntou se eu podia rezar com as crianças. Disse que sim. Depois fiz uma lista-gem dos católicos que moravam por aqui, entreguei pra ele, que decidiu fundar a comunidade, em 1964”, contou ela.

De lá para cá, assim como o bairro que antes se chamava Barreiros e ganhou o nome do santo, a comunidade cresceu, e em 2014 celebra seu Jubileu de Ouro. Segundo uma das in-tegrantes da comissão de festa, Cleia Bezerra Monteiro, este ano será feito um resgate da tradição das antigas comemora-ções. “Além da missa do padro-eiro com benção das carteiras

“Dai-me Senhor, firmeza e vigilância no volante, para que eu chegue ao meu destino sem acidentes. Protegei os que viajam comigo. Ajudai-me a respeitar a todos e a dirigir com prudência. E que eu descubra vossa presença na natureza e em tudo o que me rodeia. Amém”.

Oração

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ÁREA VITóRIAComunidade no bairro São Cristovão

ÁREA SERRANAComunidades nos bairros Floresta (Afonso Claudio) e no Trevo de Parajú (Marechal Floriano)

ÁREA BENEVENTEComunidade em Pau d’óleo (Guarapari)

Onde celebrar SãO criStóvãO

NA ARQUIDIOCESE DE VItóRIA, 04 COMUNIDADES SãO DEDICADAS AO SANtO.

da habilitação e da carreata com a imagem do santo pelas ruas da região, faremos um grande almoço comunitário, no dia 27 de julho.”

Cada um de nós seja um pouco de Cristóvão na própria vida: aquele que ‘carrega Cris-to’. Que nosso corpo e coração sejam suporte para a mensagem de amor e paz que ele deixou para o mundo. Que na oração, no empenho e na dedicação de cada devoto de São Cristóvão, padroeiro dos caminhoneiros e dos viajantes, esteja também um pedido de paz nas estradas. Que nossas rodovias conduzam o desenvolvimento de nosso país. Que famílias não carreguem a dor de terem seus parentes vitimados em acidentes. São Cristóvão, rogai por nós.

Gilliard Zuque

revista vitóriaJulho/2014 23

Letícia BazetMaria Da Luz Fernandes

reportagem

globaliz açãoos deslaços da

revista vitória Julho/201424

globaliz açãoos deslaços da

A globalização que inicial-mente trouxe as possi-bilidades de integração

econômica, cultural, social e política, aos poucos vai fazen-do surgir outras possibilidades e também criando novos desafios. Entre os muitos, que algumas vezes são antagônicos, temos a possibilidade de viver e trabalhar em qualquer canto do mundo e, ao mesmo tempo, as consequên-cias dessa possibilidade que é o que chamaremos de “deslaços”. As facilidades profissionais e de conhecimento que a globa-lização oferece são um atrativo e ganham, principalmente en-tre os jovens, uma importância tamanha que, conhecer outras realidades e outros idiomas tornou-se quase um requisito para uma carreira de sucesso. Do outro lado, surge um novo questionamento sobre a fragilização dos laços familia-res, o sentido de pertença a uma pátria e a estabilidade profissio-

nal dentro de uma empresa. Os mais novos, seja para atingir metas pessoais ou profissionais arriscam-se como cidadãos do mundo, partem para experiên-cias e, se não obtiverem êxito, retornam e partem de novo para outras tentativas. Acima de tudo, não se prendem a pessoas, em-prego ou qualquer outro víncu-lo social para realizarem o que desejam. Marcela Bastos tem 26 anos e é psicóloga. Após uma viagem pela Europa em outubro do ano passado, encantou-se por Londres e decidiu, então, fazer um mestrado naquele país. “Já estava pensando em fazer um mestrado, só não sabia se seria no Brasil mesmo ou fora. Con-versei com meus pais, vi que tinha disponibilidade de conse-guir e vim tentar!”, diz ela com a leveza de quem está apenas em uma cidade vizinha. A prova para o Mestrado será apenas no mês de julho, mas desde então ela está no país

aperfeiçoando o inglês. “Eu não tenho certeza de nada, vim tentar meu Mestrado, se vou ser acei-ta pela Universidade já é outra história. Eu consigo fazer um mestrado no Brasil que também vai preencher meu currículo. Mas viver em Londres, outra cultura e outra língua, isso mexe bastante”. Sobre o futuro, ela garante que é incerto, mas o pre-sente está sendo bem vivido. “Viver em Londres é algo que todo mundo sonha. Essa cidade é muito estruturada. Gente do mundo inteiro vem para cá em busca de uma melhor condição de vida, sinto aqui maior liber-dade de expressão, ando sem ter medo de ser assaltada, posso conhecer outras cidades viajando de trem, enfim. A forma que se vive aqui é muito boa mesmo”, afirma. Antes da viagem, Marcela atuava na Prefeitura de Caria-cica, mas sabia que era algo momentâneo. “Com a Psico-

revista vitóriaJulho/2014 25

logia Social ganhei bagagem profissional. O salário não era atraente e, além disso, eu já havia absorvido todo o conhecimento que eu gostaria daquele trabalho e eu sempre busco mais e mais”. Com a globalização, as em-presas locais tornam-se pequenas diante dos sonhos e aspirações de muitos, como no caso de Mar-cela. Essa realidade torna-se um desafio para os empregadores que precisam apresentar interes-ses para que os jovens queiram permanecer nelas. O restaurante Outback oferece muitas oportu-nidades para jovens que buscam o primeiro emprego, pelo fato de não exigir experiência na fun-

reportagem

todo o Brasil e já se expande para o exterior. “Nós sabemos que não é rápido criar uma em-presa, ela se tornar sólida, sair da inércia. Hoje, em todos os negócios, pensamos ações locais, a nossa base é no Espírito Santo, mas buscamos sempre atingir o Brasil e o mundo”. Hoje empregador, Hudson afirma que a meritocracia ainda é o melhor método de reconhe-cer o trabalho do profissional e mantê-lo interessado no projeto da empresa. Diz ainda que é pre-ciso que os funcionários sintam a experiência do que a empresa oferece ao público para também se sentir parte daquela ideia. E assim mudam as referên-cias do trabalho. Aquilo que no passado recente era considerado bom, hoje é visto com descon-fiança. Afirmar que trabalha na mesma empresa há muitos anos deixou de ser prova de bom pro-fissional. Fala-se até em 3 anos como um tempo bom para atuar na mesma empresa, depois disso é necessário partir para outras experiências e, portanto, quanto mais experiência em empresas diferentes melhor para o currícu-lo. Será que no futuro os custos de treinar pessoas e perda de conhecimento empírico afetarão o mundo do trabalho? Conversando com as pes-soas capta-se que o lado pro-fissional é o que mais pesa na hora de fazer escolhas por outros países e é nesse quesito que as relações familiares se

ção. Por isso, o sócio proprietá-rio de Vitória, Terence Rangel afirma que estimulando a ação empreendedora e ao apresentar possibilidades reais de desen-volvimento dentro da empresa, foi possível perceber um maior comprometimento do funcioná-rio em crescer e se desenvolver junto com ela. “O principal de-safio é desenvolver boas práticas de gestão de pessoas que devem ser aplicadas em conjunto com um bom planejamento. Além do plano de carreira, que deixa clara a estabilidade, já que possibilita ao funcionário ter uma visão dos passos que deverá traçar dentro da empresa, atualmente, temos diversos programas para os profissionais que trabalham em nossos restaurantes”, disse. Se de um lado a empresa precisa criar atrativos para fi-delizar o funcionário, ao mesmo tempo ela precisa abrir-se para o mercado globalizado, consi-derar o mundo o seu espaço de atuação e oferecer ao empregado o mundo como limite para sua expansão. O empresário Hudson Chamon, aos 34 anos, administra três empresas ao lado de sócios. Viaja pelo Brasil e pelo mundo em busca de novos negócios e garante que ainda não alcançou tudo o que deseja. Em 2005 abriu a primeira empresa no ramo de tecnologia e, em 2011, após uma viagem para a Europa, conhe-ceu um produto diferenciado e abriu uma nova empresa na área esportiva, que está presente em

“A gente conversa muito, e meus filhos participam das decisões; o que é melhor para eles? Ficar pertinho da gente ou explorar esse mundo?”

Lucienne

Lucienne pensa sempre no crescimento e felicidade de seus filhos

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apoiam na tecnologia que en-curta as distâncias e cria a ilu-são da proximidade. Marcela tomou a decisão junto com os pais. Assim também Lucienne Bastos incentivou dois filhos a fazerem intercâmbio e está nos preparativos para encaminhar a mais nova. A filha mais velha foi para a Austrália, onde conheceu o atual marido, e hoje mora lá; já o do meio foi para o Canadá. “A gente fica com o coração aper-tadinho, mas eu não bloqueio esse desejo deles, incentivo. O mundo tem tantas possibilidades profissionais, eles saem daqui, conhecem outra cultura, abrem as oportunidades e a sua visão sobre a vida. Hoje eu tenho cer-teza do quanto a minha filha mais velha cresceu depois que saiu de casa. Meu filho do meio a mesma coisa, foi um, voltou outro. Até o compartilhamento das questões familiares, antes não se envolviam muito e hoje nos ajudam nas tomadas de deci-sões, opinam. A menor a mesma coisa. Ela quer mais e aqui tem menos, ela não se sente motivada na escola. Quer buscar outras possibilidades”. Lucienne garante que não há arrependimentos, pois tudo que faz é pensando no crescimento e felicidade de seus filhos. Afirma ainda que apesar da distância e da saudade, o sentimento é de missão cumprida, ao ver os filhos encaminhados no cami-nho correto. “A gente conversa muito, e meus filhos participam

das decisões; o que é melhor para eles? Ficar pertinho da gente ou explorar esse mundo? Quando colocamos a razão na frente, te-mos a resposta do que queremos para o futuro deles”. Marcela vai aguardar o re-sultado da aprovação no mestra-do aqui no Brasil, mas garante que não sabe o que vai fazer após. “Todos os dias penso nisso e todos os dias tenho uma res-posta diferente. Hoje eu diria que quero voltar imediatamente, mas amanhã eu não sei! Até porque a validação da prova é de até 2 anos.. Então tenho a oportuni-dade de fazer um mestrado aqui até 2016, se eu passar”. A globalização proporciona essa facilidade de ir e vir, estar aqui e conectado acolá, e, ao mesmo tempo que provoca a fragilidade dos projetos dura-douros, encurta as distâncias entre pessoas que estão distantes, tornando-se uma aliada seja na busca por informações, que se atualizam a todo instante, seja para matar a saudade de quem está longe, assim como faz Lu-cienne com a filha que está na Austrália. “Os laços não se rom-pem. Minha filha está há três anos lá e eu falo com ela todo

“Todos os dias penso nisso e todos os dias tenho uma resposta diferente. Hoje eu diria que quero voltar imediatamente, mas amanhã eu não sei!”

Marcela

dia, é raro quando eu não falo. A tecnologia nos ajuda muito. Por telefone a gente não se vê, então a gente se comunica muito por Whatsapp, mandando fotos; Skype, que a gente conversa se vendo mesmo, colocamos na te-levisão e a família toda interage; e email”. A dosagem do uso das tec-nologias e da influência da glo-balização nas relações é relativa e possui lados diferentes. Como bem resumiu Lucienne, “a tec-nologia de um modo geral afasta as pessoas que estão perto, pois cada um se isola no seu universo particular, mas aproxima as que estão longe, pois facilita o con-tato e diminui as distâncias”.

revista vitóriaJulho/2014 27

Uma comUnidade de

caminHos Da BíBlia

palavra e vidaOtexto dos Atos dos Apóstolos, em várias passagens,

apresenta quadros que indicam como viviam as primeiras comunidades cristãs, fundadas sobre a profissão de fé

de Pedro e dos apóstolos. Uma destas passagens se encontra em At 2,42-47, na qual se vê, bem descrita, uma comunidade funda-mentada em suas quatro “colunas”: “Mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do Pão e às orações” (At 2,42). Em dois artigos apresentaremos cada uma destas características fundamentais deste texto do livro dos Atos dos Apóstolos e o quanto elas se tornam necessárias para nossas comunidades ainda hoje.

Parte I

revista vitória Julho/201428

A primeira “coluna” é o encon-tro fecundo com a Palavra de Deus, a pregação da mesma, uma voz que parte da Igreja e a todos propõe o primeiro anúncio: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo, arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Os após-tolos proclamam a decisiva inter-venção divina na história humana, a morte e ressurreição de Cristo, que inaugura o Reino de Deus (At 4,12), convidando a todos a acolhe-rem a fé e a se tornarem também anunciadores desta boa nova - dis-cípulos missionários. Tal dimensão catequética presente na comunidade deve propor o primeiro anúncio da salvação a todos, ajudando aos irmãos e irmãs a entrarem em co-munhão com o mistério do Amor de Deus. A intenção é a de formar discípulos missionários, à luz da Palavra de Deus, introduzindo-os no mistério de Cristo. Somente a Palavra de Deus encarnada na vida da pessoas, pro-clamada com autoridade, compe-tência e simplicidade é capaz de iluminar a realidade e a história de cada discípulo. Essa faz brotar no coração de cada um a mesma

pergunta que foi feita aos após-tolos depois da pregação no dia de Pentecostes: “Irmãos, que devemos fazer?” (At 2,37). Ao mesmo tempo, a Palavra anun-ciada revitaliza os passos dos discípulos ao longo do caminho, pois é o sinal claro da presença de Cristo que “sopra as cinzas do coração dos seus discípulos” como também aconteceu com os discípulos de Emaús (cf. Lc 21,32-33). A comunhão fraterna, a ca-ridade ativa, é a segunda “colu-na” que sustenta a comunidade dos discípulos missionários. Esta se verifica na vida daqueles que se tornam discípulos de Cristo, “aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8,21), se atualiza naqueles que “têm fome e sede de justiça” (Mt 5,6; 6,33) e se torna realidade na opção preferencial pelos pobres, a fim de que tenham vida, e a tenham em abundância, como nos indica o próprio Senhor (Jo 10,11; 15,13). A escuta autêntica e verdadeira da Palavra de Deus deve con-duzir à sua observância e à sua

Pe. andherson Franklin, professor de Sagrada escritura no iFTaV e doutor em

Sagrada escritura

prática, fazendo desabrochar na vida a justiça e o amor, a solida-riedade e a partilha, a comunhão e o compromisso, particularmente com os empobrecidos e excluídos da sociedade. Esse clamor da Pa-lavra deve chegar lá onde existe o sofrimento e a dor, a angústia e a falta de esperança, a pobreza e a exclusão, a desigualdade e a corrupção, levando um sopro de vida que cura as feridas e uma luz que indica o caminho. Cris-to é a Palavra Viva do Pai, em suas feições, em seu olhar, em suas palavras e em seus gestos, a comunidade dos discípulos deve contemplar o rosto de cada irmão e irmã — semblantes alegres e cheios de esperança, mas muitas vezes sofridos e marcados pelas dores e angústias, rostos de cada criança, jovem, adulto e idoso. Ao acolher o Senhor, cada discípulo é chamado a acolher também as dores de cada irmão e irmã neste mundo, deve se tornar um Bom Samaritano, isto é, próximo de seu próximo.

revista vitóriaJulho/2014 29

Como muitos irmãos e irmãs esperam do Ar-cebispo uma orientação

para votar bem, com modéstia, exponho sucintamente o que me parece importante para o exercí-cio da cidadania através do voto livre consciente.

especial

refletindo soBre política

Dom Luiz Mancilha Vilela, ssccArcebispo Metropolitano

Na hora de votar você sabe-rá escolher o cidadão candidato que der exemplo de vida destes princípios e cujo projeto de go-

o Que é voto livre?

É um ato de cidadania, responsável e consciente, na escolha de um cidadão candidato a servir o povo. O cidadão escolhe livremente outro cidadão em vista do Bem Comum.

para Que votar?

Pelo voto, o eleitor pode es-colher o melhor candidato para servir o povo. Pode im-pedir a ditadura de algum aventureiro, pessoa não pre-parada para o cargo ou de algum partido inconveniente.

o Que o ciDaDão Deve levar em consiDeração ao eXercer o seu Direito De votar?

Vamos usar uma palavra fácil na linguagem dos candidatos po-líticos e a partir dela pontuar o que queremos ver acontecer em nossa sociedade.

Cultivar os valores família e pessoa. Revitalizar a família com seus valores humanos de ternura, respeito, capacitar para o diálogo e o perdão. Investir nos formadores de opinião para que possam colaborar na forma-ção ética e moral das pessoas. Investir nos professores e escolas para que sejam parceiros na formação dos cidadãos ajudando-os a alicerçarem suas convicções em princípios norteadores da vida e cidadania. Investir na mídia para que comunique valores aos cidadãos e à família e seja parceira das escolas. Cuidar da saúde da pessoa em todas as etapas da vida. Investir na mobilidade urbana e nas estradas como instrumentos que facilitem a vida dos cidadãos no seu direito de ir e vir e no aprendizado constante dos direitos e deveres no trânsito. Investir na segurança do cidadão, residência, ruas, vilas e estradas. Uma sociedade que desenvolve valores humanos e cristãos vai con-quistando o que tanto deseja: a paz. Para isso precisa de INVESTIMENTO.

A Igreja acredita e ensina que tanto o eleitor quanto o candidato devam ter como pilares os seguintes princípios:1. A dignidade do ser humano.2. A igualdade do ser humano nos seus direitos e deveres. 3. A subsidiariedade. 4. O bem comum.

a palavra chave é inveStiMentO. inveStir na peSSOa que naSce eM uMa FaMília.

verno contemple investimentos para realizá-los. Se o candidato já exerceu algum mandato ou serviço público no passado será aconselhável verificar se ele ob-servou estes quatro princípios fundamentais. Portanto: Por uma Sociedade Justa e Fraterna é absolutamente necessário INVESTIR. Deus abençoe a todos os cidadãos e cidadãs.

revista vitóriaJulho/2014 31

viver Bem

limonadado limÃo à

como tirar proveito das sitUações rUins

revista vitória Julho/201432

ednéa Firme Rosalém

Transformar situações difíceis ou impossíveis em situações simples e descomplicadas pode, muitas vezes, parecer falta de compromisso, indiferença ou falta de interesse pelo problema, mas, para muitas

pessoas, essa é a única forma que existe para viver, pois de outro modo, seria insuportável a vida. Mãe – Como foi na prova de matemática? Filha, despreocupadamente, responde: – Fui muito bem! Só deixei duas em branco. Não ter respondido 100% na prova, não se configura em algo negativo, por conta do olhar de se fazer o necessário para manter-se acima do exigido. Outro exemplo desta personalidade foi vista após o primeiro jogo do Brasil contra a Croácia, na Copa do Mundo 2014: Repórter – Marcelo, como ficou a sua cabeça após o gol contra? Marcelo – Tranquilo! Tranquilo! Se eu venho abaixo, eu prejudico o time. São dois exemplos de comportamento em que uma situação extrema-mente estressante pode se desfazer como um torrão de açúcar, quando se é capaz de olhar positivamente. Existe outro grupo de pessoas que foi se aprimorando em ver o lado positivo numa situação negativa, à medida que foi exercitando ouvir opiniões diferentes, mudar o foco do desagradável para o agradável, visualizar outras soluções, outras alternativas. Ainda na Copa do Mundo, após um jogo do Brasil, ouviu-se de um comentarista: “Foi bom o Brasil passar por toda esta dificuldade no 1º jogo porque assim vai mais preparado para os próximos”. Falando dessa forma, ele sinaliza necessidades de mudanças, desviando o olhar da crítica que desmotiva. Mudar o ângulo de visão, trocar de lugar para ver e sentir o mesmo objeto pode ajudar-nos a enxergar o copo quase cheio ao invés de quase vazio, ou, se preferir, fazer uma limonada ao saborear o limão na sua forma original.

limonadarevista vitóriaJulho/2014 33

Subir uma velha montanha, perdida num deserto povo-ado por muitas histórias

acompanhando Moisés, pode ser uma fértil experiência espiritual--existencial numa manhã de do-mingo. Mas se fértil, do mesmo modo exaustiva, angustiante. Lá no sopé ficam os nossos mun-dos - tanto o dele como o meu - marcados pelas dificuldades,

iDeias

Hei de ser,

pelas incertezas, pelo medo. A violência cresce entre os nossos, a confusão e o individualismo sola-pam sonhos, os que deveriam unir forças ferem-se insensatamente. Soluções precárias e nostálgicas se erguem em bandeiras vistosas, as forças se esgotam, os corações se endurecem. De nossa parte car-regamos montanha acima nossas fragilidades, nossas impaciências,

nossos estresses. Subo com Moisés, a princí-pio por dever. Logo me envol-vo. É preciso avistar lá do alto o que os meus próprios esquemas mentais não mais me oferecem. É preciso avistar horizontes, ou-tras possibilidades, ganhar novas disposições para a luta, instar-me a novos passos. Subo com Moi-sés sem que ele suba comigo,

preciso ser, nÃo há alternativa senÃo ser...

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sem que me note. Na verdade o diálogo entre nós só pode exis-tir pelo fato de fazermos parte de uma mesma linha narrativa, aquela em que vidas se marcam e se constituem por alguns refe-renciais comuns. Nossas vidas e mundos são distantes e bem diferentes, mas alguns elementos nos põem em diálogo. O Deus a quem me dirijo é o dele, o mesmo Deus que se apresenta na história em capítulos de discreta presença e sutil participação. Um Deus grande em silêncios, em demoras, em ausências, mas insuflador de sonhos, inspirador de grandes projetos e incitador de desafiantes jornadas. É uma outra vez esta que

cólera, compassivo, rico em bondade, fiel, misericordioso... Fiquei ali quieto, observando, pensando. A estola para a festa, com enfeites de leve dourado, pendia para um lado, acertei-a. E aquelas palavras começaram a entrar nos meus ouvidos com suavidade e força; minha própria boca não resistiu à repetição: misericordioso, lento na cólera, compassivo, rico em bondade, fiel, misericordioso, lento na cólera, compassivo, rico em bondade, fiel, misericordioso... Moisés dirigia aquelas pa-lavras para Deus, chamava-o, dava-lhe nomes, dava-lhe belos nomes, mas ao mesmo tempo ele como que aguardava o crescimen-to no seu coração daquelas mes-mas forças e delicadezas presen-tes nos nomes. Era para si próprio que ele também pronunciava os nomes - e para mim - como con-vite. Nem sempre conseguimos - como ele não conseguiu - mas o desejo de incorporar em nós o que afirmamos de Deus será sempre um bom jeito de fazer as coisas. Hei de ser, preciso ser, não há alternativa senão ser... Para que a vida coletiva faça surgir comu-nidades, para que as comunidades tornem-nos cada vez mais huma-nas é preciso ser misericordioso, lento na cólera, compassivo, rico em bondade e fiel ao sonho de uma terra nova.

dauri Batisti

Moisés sobe à montanha. Tenho especial apreço por esta outra vez. Talvez por isso o acompanhe com especial atenção. As leis que favorecem a convivência feliz já lhe tinham sido entregues na primeira vez. Mas a comunidade se enfraqueceu nos anos que se sucederam diante do deserto que se agigantou em problemas. Que-rem voltar ao Egito. Mas já que não podem voltar imediatamente, imediatamente retomam o culto ao touro Ápis. E para complicar ainda mais a situação Aquele que o chamou ao monte não se apressa em se mostrar. Meu Deus, penso, de que somos feitos na fé senão de desafios? Deus se esconde. Um soprar de vento aqui, um pássaro quieto ali, uma peque-na vegetação tremulando acolá. Moisés parece não saber o que fazer. Observo-o e também não sei. Falta-me também o discurso. Minha missão imediata, a missa. O que dizer? É festa da Santíssi-ma Trindade. Então Moisés começou a andar como se procurasse algo que tivesse perdido, e enquanto olhava aqui e acolá com olhos carregados de distâncias, entre curioso e assustado, destituí-do das belezas e dos perfumes dos templos egípcios, repetia misturando palavras e línguas: misericordioso, lento na cólera, compassivo, rico em bondade, fiel, misericordioso, lento na

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prática Do saBer

Levar a Universi-dade e seus co-nhecimentos a

cada canto do Estado é o principal objeti-vo do programa Ufes Presente, desenvolvi-do por acadêmicos dos cursos de Engenharia Ambiental, Direito, Psicologia, Pedagogia e Química. A intenção é buscar a aproximação entre a universidade e a sociedade, aplicando

ufes soliDária

Diante das chuvas que atingiram o Espírito Santo no final de 2013, a Ufes se tornou um ponto de apoio com o recolhimento de donativos para as vítimas das enchentes. De acordo com Maurice Costa, a Universidade planeja a criação de um grande programa chamado Ufes Solidária, no qual o Ufes Presente também estaria inserido para auxiliar nessas questões de amparo aos que necessitam. “A ideia é levar apoio e a prática da cidadania para esses lugares, onde muitas pessoas não tem documento, não possuem uma identidade mesmo como cidadão. A tentativa é conscientizar e levar às pessoas essa condição. Com o apoio da Universidade, proporcionar uma nova direção para a vida da sociedade”.

cidadania e serviços Universidade leva

a mUnicípios do estado

Letícia Bazet

o conhecimento univer-sitário para auxiliar as questões sociais de municípios do Espírito

Santo, principalmente nas áreas de educação, saúde, direitos huma-nos e justiça, cultura e

meio ambiente. A proposta surgiu a partir do interesse de universitários em criar algo semelhante ao pro-jeto Rondon, desenvol-vido a nível nacional, envolvendo a participa-ção voluntária de estu-dantes universitários na busca de soluções que contribuem para o de-senvolvimento susten-tável de comunidades carentes e ampliem o bem-estar da população.

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A primeira ação do projeto aconteceu em Mucurici, em janeiro deste ano, onde os uni-versitários ministraram minicursos, palestras, oficinas, realizaram mutirões jurídicos, além de uma gincana cultural e cinema na praça. “A extensão faz parte do tripé da formação universitá-ria, e é extremamente necessária para levar a universidade à comu-nidade. O que a gente está buscando, neste momento, é ampliar a divulgação sobre esse projeto, que é ainda recente, para chamar estudantes, técnicos e professores para se in-serirem nele, amplian-do a área de atuação do projeto, já que a uni-versidade possui essa

porque sabe que pode ajudar ali, não só pela experiência que vai ga-nhar. Essa é uma forma de darmos um retorno à população sobre o serviço oferecido pela Ufes. Estimulamos, também, a formação de jovens que desejam se inserir na Universida-de e não sabem como, não têm informação. A gente vai, dentro das nossas possibilidades, desenvolver esse papel da melhor maneira”.

diversidade de cursos e áreas de formação”, afirmou o coordenador do projeto, professor Maurice Costa. Nesse momen-to inicial, participam cerca de 20 estudantes, sendo um bolsista e os demais atuando volun-tariamente. A reitoria da Ufes e a prefeitura garantem o apoio com o material necessário, transporte, estadia e alimentação. Segundo o professor Maurice, a equipe está empenha-da na construção da continuidade do pro-jeto, juntamente com a administração central da Universidade, que está oferecendo o apoio necessário para o de-senvolvimento da ação. “Tendo essa vivência, desde o planejamento,

cidadania e serviços passando pelas reuniões com prefeitos e secre-tários para apresentar o projeto, até a experiên-cia do dia a dia direto com a comunidade, lidando com conflitos, é uma oportunidade muito interessante para quem pode se inserir nessa ação, e colocar em prática a teoria que aprendeu em sala de aula”, afirmou. De acordo com o professor, no início do ano que vem, é pro-vável que novos mu-nicípios já estejam na agenda de presença do projeto. “O projeto já é uma realidade, fizemos o piloto e foi um suces-so, o município já pediu o retorno, e precisamos apenas finalizar e ajus-tar alguns pontos. O es-tudante quer participar

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refleXões

Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias

Bispo auxiliar da arquidiocese de Vitória

o mensageiro enviado

Iniciamos nossa refle-xão com as palavras de Jesus: “Ide pelo

mundo inteiro e anun-ciai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Um belo mandato im-perativo de Cristo aos seus apóstolos para que preguem o evangelho sem discriminação. Não só eles, porém, toda a Igreja e cada um de nós. Destacamos São Paulo, que em sua convicção e exemplo missionário, exclamava: “ai de mim se eu não evangelizar” (1 Cor 9,16). Ele de-clara que sua missão é um encargo recebido de Deus. Assim pro-cederam os apóstolos, apoiados pelas primei-ras comunidades; elas eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão

amor. “A nós cabe a responsabilidade de transmitir aquilo que recebemos por graça” (CNBB, doc. 94, 4.1). É preciso anunciar pela Fé.

A fé é uma chama que se faz tanto mais viva quanto mais é partilhada, transmitida, para que todos possam conhecer, amar e pro-fessar que Jesus Cristo é o Senhor da vida e da história. Essa experiên-cia implica em irradiar a presença de Deus aos que são próximos ou partir em missão, com a força do Espírito Santo, para evangelizar lugares onde Jesus ainda não é conhecido.

Todo discípulo de Jesus deve ser mis-sionário, onde estiver, quer com sua família,

fraterna, na fração do pão e nas orações,” (At 2,42). A própria exis-tência da comunidade era essencialmente mis-sionária: “Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E, cada dia, o Senhor acrescen-tava a seu número mais pessoas que eram sal-vas”. (At 2,47).

Os apóstolos tor-naram-se mensageiros da Palavra de Jesus porque se tornaram, an-tes de tudo, testemunhas daquilo que viram e ou-viram, do que encontra-ram e experimentaram.

A Igreja nasce da missão e existe para a missão. A essência da Igreja é a missão de anunciar o amor de Je-sus. Todas as pessoas têm o direito de co-nhecer e vivenciar esse

em seu trabalho, passe-ando, participando dos jogos da copa, etc. Em cada ambiente, o cris-tão é convidado a ser o mensageiro enviado, a se fazer presente, cheio de graça e verdade, não só com palavras, mas, com uma vida honesta.

O Papa Francisco insiste que Jesus ao dizer: “Ide e fazei dis-cípulos entre todas as nações” nos chama a ser discípulos em mis-são. Para onde Jesus nos manda? Não há frontei-ras, não há limites: Je-sus envia-nos para todas as pessoas. O Evange-lho é para todos. “Não tenham medo de ir e le-var Cristo para todos os lugares, incluindo quem parece mais distante e mais indiferente”, re-pete o Papa. A missão de Jesus é a missão da Igreja “até que Ele ve-nha”.

“A Igreja nasce da missão e existe para a missão. A essência da Igreja é a missão de anunciar o amor de Jesus. Todas as pessoas têm o direito de conhecer e vivenciar esse amor.

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Revista da aRquidiocese de vitóRia - esvitória

Ao longo de sua trajetória, a Igreja compreendeu e valorizou a prática de esportes. Em várias paróquias,

jovens, adultos e crianças associaram a espiritualidade ao esporte como forma de promover a solidariedade, o desenvolvi-mento saudável e a cidadania. O Papa Pio XII em 1945 discursando aos jovens fa-lou:... afinal, que coisa é o esporte, senão uma das formas de educação do corpo? Ora esta educação está em estreita relação com a moral. Como poderia, portanto, a Igreja dela desinteressar-se? Nesse tempo em que a Copa do Mundo acontece aqui no Brasil e quando uma grande parcela da população está torcendo, vibrando e envolvida pelo futebol, mostramos uma foto de Dom João Batista da Motta e Albuquerque, 6° Bispo do Espírito Santo, dando o pontapé inicial numa partida de futebol no interior do Estado.

Giovanna Valfrécoordenação do cedoc

arQuivo e memÓria

a igreja e o esporte

Jogo de futebol em Domingos Martins, Festa do Trigo em 1960

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ensinamentos

à democracia participativada democracia representativa

A superação da crise da civilização atual, que colocou a ciência e a tecnologia a serviço do lucro, mas não combateu a miséria, a fome e o desemprego, depende

de decisões políticas.Em razão do imperativo da vida plena para todos colocado

por Jesus Cristo, a Igreja sente-se interpelada a pensar uma res-posta eficaz no âmbito da política para essa crise que ameaça, sobretudo, os mais fracos e desprotegidos.

O Estado Nacional parece não ter forças para fazer frente aos poderes paralelos e às armadilhas do capital globalizado. Embasado na ética da modernidade, protege o indivíduo pro-prietário, prevalecendo o ter sobre o ser.

Os bispos defendem a radicalização da Democracia. A Democracia Representativa tem seu ponto alto quando o elei-tor vota na urna eletrônica, não esgotando todas as formas de vivência democrática. Ela precisa ser complementada com a Democracia Participativa, ultrapassando o individualismo e adotando a solidariedade, para a construção do bem comum, traduzindo-se numa Democracia Econômica.

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à democracia participativa

Vitor nunes RosaProfessor de Filosofia na Faesa

Neste contexto, emerge a importância da afirmação do povo como soberano no proces-so de construção da sociedade e do Estado. Mas, a Democracia plena passa pela formação de agentes políticos que tomem em suas mãos o processo de construção da Democracia, requerendo postura ética dos indivíduos.

A Constituição Federal de 1988 garantiu direitos e deveres universais aos cidadãos e apre-senta importantes instrumentos na busca de um novo Estado e de uma nova Democracia.

Os cristãos precisam aprovei-tar os espaços conquistados e participar nesses mecanismos políticos visando à solução dos graves problemas sociais.

Como passos práticos para a efetivação dessa refor-ma, o Documento ressalta ex-periências exitosas, como por exemplo, as Semanas Sociais Brasileiras, as Comunidades Eclesiais de Base, a participa-ção popular na elaboração orça-mentária e no acompanhamento

de sua execução. Destacam-se ainda a am-

pliação das oportunidades de trabalho, com a valorização da formação da juventude, política agrícola com Reforma Agrária e incentivo à agricultura familiar e a valorização da economia solidária; a visão de desenvol-vimento sustentável; a demo-cratização da comunicação; e a Reforma Política não limitada às regras eleitorais.

Em suma, a CNBB propõe a opção por um Estado voltado para o equilíbrio ecológico, a justiça social e a paz mundial.

O Documento 91 da CNBB, apoiado na Doutrina Social da Igreja, expõe a necessidade da Reforma do Estado para a construção de uma sociedade efetivamente democrática e participativa, do qual extraímos algumas ideias básicas.

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Diovani FavoretoHistoriadora

carretela del vinA

região de San-ta Teresa, berço da colonização

italiana no Brasil, pre-serva suas tradições desde a chegada dos primeiros imigrantes que aqui aportaram, em fevereiro de 1874, a bordo do navio La So-fia. Esse navio trazia, além de novos braços para trabalhar na la-voura, o sonho da Terra Prometida para aquelas 386 famílias vindas do norte da Itália.

Depois de 140 anos da chegada dos pioneiros ao Vale do

festa da Imigração Ita-liana de Santa Teresa com a confraternização dos moradores e o aco-lhimento dos visitantes, curiosos pelas manifes-tações culturais que en-volvem danças típicas, cantoria, serenatas, elei-ção de musas da festa, barracas de comidas e, especialmente, a Carre-tela del Vin.

Em sua essência a Carretela é um grande desfile cultural criado para homenagear a me-mória dos antepassados. Seus descendentes (em trajes típicos e cantando cantigas italianas) desfi-lam pelas ruas do centro histórico, contando a saga dos trabalhadores, todas as dificuldades, os fracassos e as conquis-

Canaã, seus descen-dentes cantam as gló-rias dos antepassados festejando pelas ruas da cidade com muita polenta e vinho.

Nessa cidade, tra-dicionalmente, no mês de junho, acontece a

cultura capiXaBa

tas por que passaram as primeiras famílias. Os moradores enfeitam suas casas e ornamen-tam carros alegóricos num grande cortejo a céu aberto que conta, em detalhes, essa his-tória.

Mas, o bom da festa está em degustar uma das maiores con-tribuições desse povo festeiro, sua culinária. De dentro dos carros alegóricos os morado-res oferecem ao público participante porções de polenta, queijo, lingui-ça, salames e muito vinho (produzidos na região mesmo) regando de alegria os participan-tes.

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acontece

Encontro Nacional dos editores de Folheto Litúrgico

Encontro de secretários e secretárias

De22a24de julho, realiza-seemAparecida (SP)oEn-controNacionaldoseditoresdeFolhetoLitúrgico,promovidopelaCNBB.Anualmente,coordenadoresdeLiturgiareúnem-separapartilharassuasexperiênciasedebateremumtema,quenesteanoserásobreos‘RitosIniciaisdaCelebraçãoLitúrgica’.Nesteano,tambémaconteceumapalestrasobreos50anosdaConstituiçãoConciliarDeiVerbum.OsparticipantesaindavãorealizarumestudosobreoEvangelhodeSãoMarcosemúsicaslitúrgicas(RitosIniciaiseCampanhadaFraternidade2015).OencontroseráassessoradoporFreiFaustino.AArquidiocesedeVitóriaserárepresentadaporMargarethAlbani.

Para investir na quali-f icação dos profissionaisque atuamnas paróquias,aMitra realizapelo8º anooencontrodesecretáriosesecretárias paroquiais, nodia7dejulho,de8hàs16h,emPontaFormosa.OgruposeráassessoradopelopadreHelderSalvador,daDiocesede Cachoeiro de Itapemi-rim,queiráabordarotema‘Matrimônioà luzdoDirei-toCanônico’.Duranteodia,tambémhaveráparticipaçãodaPastoraldeComunicação,debatendosobreotema‘Oquefazercomoquecheganaminhamesa?Passosparaumaboacomunicação’,eacoordenadora do CEDOC,GiovanaValfré, irá esclare-cerasdúvidasarespeitodosassentamentosdebatismoecasamentosnosnovoslivros,sobreasnotificaçõesneces-sárias nos livros antigos etécnicasdearquivamentoeguardadeacervodepapel.

Encontro Nacional de Pascom Comotema‘Comunicação,desafiosepos-sibilidadesparaevangelizarnaeradaculturadigital’,jornalistas,religiososeleigosreúnem-sede24a27dejulho,emAparecida(SP)parao4ºEncontroNacionaldaPastoraldaComunicação.Seminários,painéis,celebraçõeseplenáriasfazempartedaprogramação,refletindosobreousodasredes,avivênciadafé,asperspecti-vaseaçõesparaaevangelização,aatuaçãodejornalistasnasdiocesesdoBrasil,entreoutrosassuntos.

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acontece

Festa de Corpus Christi

ParajuVila Velha Viana