reportagem "médium"

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Produção Experimental Reportagem Individual “Médium” Acadêmico: João Ricardo Ribeiro Laboratório de Jornalismo Impresso II Professoras Responsáveis: Mara Regina Ribeiro Joseline Pippi Julho/2011 Psicopictografia Popularmente, é conhecida como pintura mediúnica. Os espíritos superiores trabalham na espiri- tualidade no desenvolvimento dessas obras, que transcendem a mera função de agradar os olhos dos que estão na Terra. A aquarela abaixo foi recebida no Centro Espírita Amor e Caridade, em Bauru-SP, 16 de maio de 2006. “Da mesma forma que a psicogra- fia e a psicofonia, nas expressões da mediunidade intelectual, contri- buem valiosamente para a compro- vação da imortalidade, ao lado de outras manifestações positivas do fenômeno mediúnico, a psicopicto- grafia é recurso nobre de arte para a confirmação da sobrevivência do Espírito à disjunção molecular do corpo. O estilo do pintor, suas características, sua mensagem ofe- recem expressivo contributo para a afirmação da Vida após o túmulo, como também pelo ensejo que ofere- ce de trazer beleza e harmonia para encanto das criaturas humanas.” Vianna de Carvalho, Espírito rentes à vida. “O Espiritismo propõe ao ser humano a reavaliação de seus atitu- des perante ele mesmo, à sociedade e a Deus, para que se coloque em prá- tica a Reforma Íntima”, segundo Bou- chet. A prova disso é o próprio Livro dos Médiuns, que explica de maneira lógica os fenômenos mediúnicos. Ge- raldo Campetti, diretor da Federação Espírita Brasileira, em entrevista, analisa, com ainda mais aprofunda- mento, tamanho mérito do trabalho de Allan Kardec. “A publicação de O livro dos médiuns foi tão importante, que no mesmo ano de 1861, quando a obra foi lançada, houve duas edi- ções. O público se interessou sobre- maneira em seu valioso conteúdo. Em 1858, Allan Kardec havia publi- cado a obra Instrução prática sobre as manifestações espíritas, depois substituída pelo livro base, no di- zer de Emmanuel, que é o segundo do Pentateuco Kardequiano. O livro dos médiuns é o guia mais completo e insubstituível em termos de estudo e prática da mediunidade, pois além de oferecer os elementos fundamen- tais para a aplicação da faculdade mediúnica, preocupa-se em apresen- tar a parte da filosofia espírita que se vincula com a questão do exercício, desenvolvimento e educação da me- diunidade, a fim de que os mesmos sejam efetuados com segurança. Hoje, pelo estudo dessa exuberante obra, acompanhada da leitura aten- ta de outros livros oriundos da me- diunidade de Yvonne Pereira, Chico Xavier e Divaldo Franco, principal- mente, pode-se ter o emprego sis- tematizado da força medianímica em benefício do próximo e em prol do equilíbrio do próprio médium”. Os espíritos aqui encarnados estão sendo convocados para um novo tempo. No horizonte, imensidão de luz alva banha os olhos dos esclareci- dos da realidade humana. A essência do homem será posta em xeque, e per- manecerão sobre a Terra os capazes de acompanhar a evolução moral dela. Je- sus convocou os espíritos regenerados para iniciar a transição do nosso mun- do, e, em larga escala, esses espíritos estão reencarnando para impulsionar os avanços intelectuais e morais do homem. É chegada a Era Regenerado- ra, onde a bondade e a justiça ganhará força para imperar as nações. Todos unidos. A ciência e a religião servirão de alicerce ao Novo Homem, uma sus- tentando a outra. O espírito de Chico Xavier, o cândido, exemplificou o ho- mem de bem e o seu papel neste orbe transcendeu a função da mediunidade. Maior que chegada a hora da transição planetária, é chegada a hora do refazi- mento da dignidade do homem, reves- tindo de valor o que lhe diz a consciên- cia diante do cotidiano. Aos médiuns, incumbe-se o trabalho, não mais da revelação do Plano Espiritual, mas da comunicação com ele, a fim de propor- cionar a abertura dos caminhos felizes até a elevação maior a qual todos os se- res humanos estão destinados a chegar. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. São Paulo: Boa Nova, 2004 KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. São Paulo,: Boa Nova, 2004

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Reportagem sobre os 150 anos de O Livro dos Médiun e Centenário de Chico Xavier.

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Page 1: Reportagem "Médium"

Produção ExperimentalReportagem Individual

“Médium”

Acadêmico:João Ricardo Ribeiro

Laboratório de Jornalismo Impresso II

Professoras Responsáveis:Mara Regina Ribeiro

Joseline Pippi

Julho/2011

Psicopictografia

Popularmente, é conhecida como pintura mediúnica. Os espíritos superiores trabalham na espiri-tualidade no desenvolvimento dessas obras, que transcendem a mera função de agradar os olhos dos que estão na Terra.

A aquarela abaixo foi recebida no Centro Espírita Amor e Caridade, em Bauru-SP, 16 de maio de 2006.

“Da mesma forma que a psicogra-fia e a psicofonia, nas expressões da mediunidade intelectual, contri-buem valiosamente para a compro-vação da imortalidade, ao lado de outras manifestações positivas do fenômeno mediúnico, a psicopicto-grafia é recurso nobre de arte para a confirmação da sobrevivência do Espírito à disjunção molecular do corpo. O estilo do pintor, suas características, sua mensagem ofe-recem expressivo contributo para a afirmação da Vida após o túmulo, como também pelo ensejo que ofere-ce de trazer beleza e harmonia para encanto das criaturas humanas.”

Vianna de Carvalho, Espírito

rentes à vida. “O Espiritismo propõe ao ser humano a reavaliação de seus atitu-des perante ele mesmo, à sociedade e a Deus, para que se coloque em prá-tica a Reforma Íntima”, segundo Bou-chet. A prova disso é o próprio Livro dos Médiuns, que explica de maneira lógica os fenômenos mediúnicos. Ge-

raldo Campetti, diretor da Federação Espírita Brasileira, em entrevista, analisa, com ainda mais aprofunda-mento, tamanho mérito do trabalho de Allan Kardec. “A publicação de O livro dos médiuns foi tão importante, que no mesmo ano de 1861, quando a obra foi lançada, houve duas edi-ções. O público se interessou sobre-maneira em seu valioso conteúdo. Em 1858, Allan Kardec havia publi-cado a obra Instrução prática sobre as manifestações espíritas, depois substituída pelo livro base, no di-zer de Emmanuel, que é o segundo do Pentateuco Kardequiano. O livro dos médiuns é o guia mais completo e insubstituível em termos de estudo e prática da mediunidade, pois além de oferecer os elementos fundamen-tais para a aplicação da faculdade mediúnica, preocupa-se em apresen-tar a parte da filosofia espírita que se vincula com a questão do exercício, desenvolvimento e educação da me-diunidade, a fim de que os mesmos sejam efetuados com segurança.Hoje, pelo estudo dessa exuberante obra, acompanhada da leitura aten-ta de outros livros oriundos da me-diunidade de Yvonne Pereira, Chico Xavier e Divaldo Franco, principal-mente, pode-se ter o emprego sis-

tematizado da força medianímica em benefício do próximo e em prol do equilíbrio do próprio médium”.

Os espíritos aqui encarnados estão sendo convocados para um novo tempo. No horizonte, imensidão de

luz alva banha os olhos dos esclareci-dos da realidade humana. A essência do homem será posta em xeque, e per-manecerão sobre a Terra os capazes de acompanhar a evolução moral dela. Je-sus convocou os espíritos regenerados para iniciar a transição do nosso mun-do, e, em larga escala, esses espíritos estão reencarnando para impulsionar os avanços intelectuais e morais do homem. É chegada a Era Regenerado-ra, onde a bondade e a justiça ganhará força para imperar as nações. Todos unidos. A ciência e a religião servirão de alicerce ao Novo Homem, uma sus-tentando a outra. O espírito de Chico Xavier, o cândido, exemplificou o ho-mem de bem e o seu papel neste orbe transcendeu a função da mediunidade. Maior que chegada a hora da transição planetária, é chegada a hora do refazi-mento da dignidade do homem, reves-tindo de valor o que lhe diz a consciên-cia diante do cotidiano. Aos médiuns, incumbe-se o trabalho, não mais da revelação do Plano Espiritual, mas da comunicação com ele, a fim de propor-cionar a abertura dos caminhos felizes até a elevação maior a qual todos os se-res humanos estão destinados a chegar.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. São Paulo: Boa Nova,

2004

KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. São Paulo,: Boa

Nova, 2004

Page 2: Reportagem "Médium"

MédiumMédiumMédiumMédium

Médium

MédiumMédium

Em 150 anos de “O Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec, o que mudou na

compreensão sobre o assunto? Fé e ciência ainda

são inimigas?

João Ricardo Ribeiro

Era 1915. Ele já não tinha o abraço da mãe, consolo de amor. Do pai, guardou a lembrança e a ânsia por revê-lo. Seus oito irmãos estavam distribuídos pelo restante da família. Aos cuidados de uma mulher trans-tornada, de comportamento apático, recebia os piores tratamentos. Tinha cinco anos quan-do fora morar com a madrinha. “Esse garoto tem o diabo no corpo”, era o que ela viva resmungando pelos cantos. Em paralelo, ele conversou, pela primeira vez, com o espírito de sua bondosa mãe, que o aconselhava. O carinho ausente no plano físico se revelou não apenas tão real quanto no plano dos espíritos, mas, sobretudo, maior e verdadeiro. Amor de mãe, que transpõe todos os limites tempo-rais, espaciais, e qualquer outro obstáculo que se lhe venha opor. Sim, era Amor de mãe. Sentiu dor. Sentiu medo. Sentiu os desgostos da humilhação. Sentiu a injusti-ça sobre o seu corpo todas as vezes que era açoitado pela vara de marmelo da madrinha. Pelas vezes em que fora vestido de menina, pelo prazer alheio em lhe ter em humilhação.Pelos garfos que perfuravam seu frágil abdô-men de criança, sem a liberdade de poder, se quer, retirá-los. Pelas três vezes, em jejum, que foi obrigado a lamber a ferida da perna do outro filho adotivo de sua madrinha, por uma simpatia indicada pela curandeira lo-cal. Ouviu do espírito da mãe diversas vezes, “Paciência. Enfrenta com resignação, meu filho. Tenha fé em Jesus”. Suas provações duraram 2 anos, até voltar a morar com seu pai, agora casado com uma nova mulher, com a qual desfrutou do amor similar ao emanado sempre pelo espírito iluminado de sua mãe. Ele estava junto de seus oito irmãos mais uma vez, e, por pedido da madrasta, fora matriculado no colégio. Entretanto, assim como na igreja, as manifestações espirituais passavam a ser mais frequentes, fazendo-o, por vezes, entrar em situações problemáticas. Foi o que aconteceu na 4ª série. Contou à professora que escreveu uma redação com auxílio de al-guém. Ela e os seus colegas não davam crédito para o que o menino dizia. Uma de suas re-dações ganhou mensão honrosa num concurso estadual. A partir de então, passou a enfrentar a incredulidade dos colegas e de muitas ou-tras pessoas que viriam a passar pela sua vida.

Ele se chamava Francisco Cândido Xavier. O Chico Xavier.

Médium

Page 3: Reportagem "Médium"

MédiumMédiumMédium Há muitas Moradas

Durante séculos a mediunidade foi incompreendida tanto pe-los que a possuíam aflorada,

quanto para os que se relacionavam de alguma maneira com essas pessoas. Os médiuns foram, dentre muitos outros personagens na história da humanidade ao longo das épocas, grandes sacerdo-tes adorados, influentes, mas viveram também sob densa e negra era em que foram condenados à chama das foguei-ras, diante da acusação de bruxos pac-tuantes com o demônio. Foram tidos como loucos. Sucumbiram à obsessão de espíritos vingativos e imperfeitos.

Eis que em 1861, o estudioso e reno-mado professor Hippolyte Rivail, codi-ficou uma das obras mais importantes relacionada à fenomenologia espiritu-al e a comunicação entre os diferen-tes planos. O Livro dos Médiuns, um aprofundamento do segundo capítulo de O Livro dos Espíritos (Mundo Es-pírita ou dos Espíritos), revolucionou a compreensão de um tema revestido de misticismo, divergência de crenças, e preconceito. A lógica apresentada na obra transformou toda uma realidade ainda obscura aos olhos do homem, abrindo caminhos pelos quais a huma-nidade jamais percorreu. Desbancando charlatões, renovando a fé esquecida do homem, hasteando o emblema da trindade – Filosofia, Ciência e Religião -,a Doutrina Espírita ou Dos Espíritos toma maior proporção a cada dia que passa. Chico Xavier, um expoente espírita, foi o responsável pela dissemi-nação em mas-sa da doutrina, escrevendo,

sob a tutela de seu mentor espiritual Emmanuel, nada menos que 451 livros ao longo de sua vida como médium. Mas como podem os espíritos existir? E, estando eles fora do nosso alcance dos sentidos comuns, como podería-mos nos comunicar com esses homens que viveram em épocas tão diferentes? Como estariam organizados? Todas es-tas questões foram respondidas em O Livro dos Espíritos, a primeira obra es-piritista do mundo. Deus, causa primei-ra de todas as coisas, soberanamente justo e bom , criou o universo com seus mais variados elementos, dentre eles o fluido cósmico universal, que seria ca-paz de animar os espíritos. Estes, seus filhos, nascidos simples e ignorantes, com a mesma propensão para o bem e para o mal – de acordo com o seu livre arbítrio -, estão agora numa longa jor-nada em busca do crescimento para a obtenção da sublime perfeição do ser. Divididos entre ca-tegorias – variáveis, pois que a classifi-cação dos espíritos é proveniente da neces-sidade do homem em querer qualificar os elementos para com-preendê-los melhor -, os espíritos povoam diversos planetas que se lhe estão adequados à moral e inte-lectualidade, a fim de que estejam no ambiente correto para o seu progresso. Os ainda atrasados necessitam despo-

jar de um corpo denso, material, sobre o qual impera os instintos do homem. Paulatinamente, a necessidade do meio material é menor, conforme a progres-são moral de nós, espíritos. Há muitos de nós. Em todos os graus possíveis. Os homens da Terra não são os primeiros e não serão os últimos. Mas foi dado saber que o homem muito já progrediu, e que é chegada a hora da transição para um novo tempo onde o mal ainda existirá, contudo, tão pequeno a ponto de se envergonhar diante do tamanho bem a ser colocado em prática pelos espíritos que habitarão este mundo.

Mais que palavras esparsas

“A mediunidade existe em todos os Se-res humanos, em alguns de uma forma mais ostensiva e em outros não, mas somos todos Médiuns”. Essas foram as palavras do representante da União Municipal Espírita (São Borja-RS),

Lúcio Munhoz. A discussão em tor-no do assunto sem-pre provoca muitos questionamentos, e a quantidade de assun-tos que se anexam à eles são igualmente inúmeros. Oceano vasto a desvendar, o espiritismo é uma

doutrina em constante atualização, de-vido às informações mediúnicas origi-nária dos planos mais elevados. A esse sistema, Munhoz chama de “processo

Das Leis DivinasO Codificador Hippolyte Léon Denizard Rivail (Lyon, 03 de outubro de 1804, Paris), codificou a Doutrina Espírita há mais de 150 anos. Proveniente de uma famí-lia tradicionalmente de mestres, ainda muito jovem realizou seus estudos na Escola de Pestalozzi, no Castelo de Zahringenem (Suíça). Destacou-se pelo brilhante intelectual e, aos quatorze anos já promovia grupos de estudos para ajudar outros alunos. Bacharelou-se em Letras e Ciências aos dezoito anos.

Rivail retornou à França após o término de seus estudos, e traba-lhou como tradutor, especialmente, de obras relacionadas à educação e

moral. Poliglota, Rivail falava fluentemente alemão, espanhol, holan-dês, italiano e inglês. Posteriormente, veio a transformar o mé-

todo educacional francês e alemão através de seus estudos.Muitos anos depois, através de seu amigo Fortier, que, pela pri-meira vez, Rivail teve conhecimento do fenômeno das Mesas Gi-rantes. Os estudos aprofundados ligados à médiuns de todo o mundo propiciou a codificação da Doutrina Espírita.

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Conhecimento. Sentimentos. Ex-piações. Missões. Todos estão relacionados à vida em coletivo. Pois que não há evolução disso-ciada das relações entre os indi-víduos. Todos caminhamos juntos, rumo ao encontro do nosso amado mestre Jesus. O médium tem o im-portante papel de interligar duas sociedades distintas, porém nada distantes: a física e a espiritual. É através das boas orientações que os espíritos superiores conduzem es-ses intermediários a propagar o co-nhecimento da moral e da ciência.

Nada mais que a transformação, a Lei de Destruição é fundamental para a renovação. Os elementos em se reagrupando poderão revigorar a matéria. Os processos pelo qual a natureza e o homem passam, fa-zem parte deste ciclo, que propor-ciona o aprimoramento da huma-nidade em todos os âmbitos que lhe cabe. Aquilo que é destruído se reestrutra de forma melhor ou é sobreposto por algo mais adian-tado. Eis o exemplo: nascer, viver, fenecer, reencarnar. E daí até a su-blimação dos sentidos humanos.

“Ao fazer compreender o bem e o mal, o homem, então, pode es-colher”. Essa foi a resposta do es-pírito Verdade, ao ser questionado por Kardec sobre como o avanço intelectual pode gerar o progres-so moral. As obras espíritas estão repletas de ensinamentos morais e, sobretudo, científico em torno da existência de outros planos. O homem, por si só, compreen-derá, quando chegar o momen-to, a maior complexidade que é a vida e fará sobre suas vonta-des reinar o desejo da perfeição.

Jesus Cristo, Governador espiritual da Terra. O espírito mais evoluído que já caminhou sobre nosso mundo

do intercâmbio de um Mundo visível com um invisível, chamado Espiritual”.

Chico Xavier já estava muito bem fa-miliarizado com esse mundo Espiritual, desde a infância. Fez da sua vida labor em prol do espiritismo e da caridade. Nem mesmo a venda de mais de 50 milhões de exemplares de todos os seus livros lhe chegavam ao bolso. Ao contrário, toda arrecadação era doada para fundações de assistência a diversas pessoas. “Quem busca um viver voltado para o crescimento in-

terior e dedicando-se à Caridade, com certeza, encontra legado na Vida de Chico Xavier”, me dizia Munhoz com ar sereno. E se Chico sofrera as humi-lhações dos encarnados, basicamente por ainda não compreender sua mediu-

nidade aflorada, outros médiuns sofre-ram – e ainda sofrem muito – com a ob-

sessão de espíritos desencarnados. Foi o caso de Gercy Gonçalves dos Santos, hoje uma das médiuns mais antigas da sua casa espírita, a Associação Espírita José Ferreira de Moraes.

Ainda muito jovem, o desequilíbrio de sua mediunidade proporcionou uma situação de saúde debilitada. “Eu não tinha uma pessoa que me dissesse o que estava acontecendo. Eu tinha 18 anos e fiquei magrinha,

fraca, pesei 52 quilos. Eu sofri muito, fiquei doente”. Apesar da demasiada

As Leis Divinas - 12 ao todo - compõem a lógica da vida. Todas estão relacionadas à mediunidade, mas destacam-se as seguintes.

A mediunidade existe em todos os seres humanos, em alguns de forma

mais ostensiva e em outros não

Legado de Chico Xavier:almejar o crescimento

dedicando-se à caridade

Page 4: Reportagem "Médium"

Psicofonia

A psicofonia é o processo de comunicação verbal do espírito através do corpo do médium. As-sim como a psicografia, a psico-fonie pode ser classificada como consciente ou sonambulímica.

Durnte o processo de comunicação psicofônico consciente, o médium pode ouvir o que lhe diz o espíri-to e reproduzir a mensa-gem independentemente. Esta percepção pode ser mental ou espcial, isto é, o médium pode rece-ber a mensagem em sua mente ou escutá-la no es-paço em que se encontra.

Do segundo meio, o sonambulímico ou in-consciente, o aparelho fonador do médium é conduzido pelo es-pírito que se aproxima d o médium, podendo este, mudar asex-

pressões faciais, o tom, o timbre, e todas as outras características de sua personalidade na sua voz, dando lu-gar às características comuns do es-pírito que necessita se comunicar.

Psicografia

A psicografia é uma das muitas habilidades que um médium pode desenvolver. Este mecanismo co-municacional consiste em redigir mensagens ditadas pelos espíritos. O caso mais conhecido é o de Chico.

A psicografia pode acontecer de três maneiras diferentes: sendo conscien-te, mecânico ou semi-mecânico, No primeiro, o médium dispõe de plena consciência do que está escrevendo, podendo até mesmo selecionar e al-terar os escritos ao seu bel-prazer.

O segundo mecanismo bloqueia as vontades do médium, isto é, ele pode

ter consciência do fluxo de ideias que lhe percorre a mente, sabendo que não é seu, mas é incapaz de alte-rar a mensagem que o espírito dita.

No método semi-mecânico, a psicografia acontece indepen-dente da mente, quer dizer, o espírito age diretamente so-bre a mão do médium, deixan-do a sua cosnciência inalterada.

Em quatro casos de homicí-dio, as psicografias contribu-íram como prova no tribunal brasileiro. Um desses casos é re-tratato no filme “Chico Xavier”.

ração a partir dele e várias gerações após sua edição. Co-meça porque as fo-gueiras da intolerância e da ignorância foram apagadas. Após o Li-vro dos Médiuns não mais se cogitou de se queimarem as pessoas a pretexto de bruxa-rias ou de terem parte com o demônio, esta figura mitológica que a crendice e a ignorân-cia inventaram, já que os fenômenos naturais da mediunidade passaram a ser conhecidos e aceitos por todos em face da concretude dos mesmos e das insofismáveis informações tra-zidas pelo notável Codificador Allan Kardec e pelos Espíritos Superio-res que o guiaram neste trabalho.O Livro dos Médiuns se constitui o manual indispensável a todos aqueles que desejam tratar com a mediunida-de ou mesmo aqueles que desejam conhecer as relações que regem o mundo espiritual e o mundo corpo-ral. Assim, se mudaram as gerações,

é natural que os indivíduos também mudaram. Aliás, esta é, em síntese, a pro-posta da Doutrina Espírita: mudar a criatura para melhor, fazendo-a compre-ender que o mundo espiritual é uma re-alidade inatacável”

Desperta tu que dormes

Pedro Bouchet, presidente da Associa-ção Espírita Ferreira de Moraes, carac-teriza a Mesa Mediúnica como uma espécie de evangeliza-ção. “É lá que o espí-rito recebe o auxílio necessário para que dê continuidade a sua caminhada. Muitos que chegam, são espíritos confusos,

que não sabem o que está acontecen-do com eles. Da mesma forma, aten-de-se aqueles espíritos ditos obsesso-res, os que perseguem outro espírito por vingança, raiva, inveja, etc”. Mas também é nessas reuniões que os es-píritos de luz manifestam os avisos e conselhos da espiritualidade superior, a serviço de Jesus Cristo. Não é raro também, pessoas queridas e próxi-mas dos médiuns, que já deixaram este mundo material, aparecerem.

“Eu quase nunca falto as reuniões mediúnicas, só em casos de muita necessidade... Eu havia perdido uma tia e fiquei duas semanas sem vir. Eu precisava daquele momento. E quan-do retornei ao trabalho na casa, aten-

dendo as p e s s o -as. Uns três ou q u a t r o m e s e s depo i s , n u m a

reunião mediúnica, eu senti uma apro-ximação e fechei meus olhos em pre-ce. Foi uma coisa muito bonita. Mi-nha tia veio me visitar... estava com saudades...”, lembra-se, emocionada, Dona Gercy. Sensitiva, a senhora mi-úda revela que, na verdade, gostaria de ser “médium de comunicação”, es-ses que manifestam através de som, imagem ou escrita as mensagens da espiritualidade superior. Pedro Bou-chet, experiente espírita, aponta al-guns dos muitos tipos de mediuni-dade, “A mediunidade de tarefa são

as mais comuns. Audiência - ouve vozes; Vidência - enxerga vultos; Psicografia - de escrita; Psicopic-tografia - pintura; Psicofonia - de exposição; Xenoglossia - falar e escrever línguas estrangeiras.

O Espiritismo, de acordo com o último Censo Demográfico de 2000, do IBGE, apresenta um nú-mero em torno de 9 anos de es-tudo, onde, as demais religiões apresentam, no máximo, 7. Con-sequentemente, a renda desse grupo tende a ser maior. Isso sig-nifica a importância do valor do

aprofundamento nas questões refe

O Epiritismo é o segmento com maior número de pessoas estu-dadas, consequentemente, tam-bém com a maior renda salarial

mudar a criatura para me-lhor, fazendo-a compreender que

o mundo espiritual é uma realidade inata-

cável

atenção que dispu-nha a mim e pela doçura em sua voz, Dona Gercy pare-cia resgatar na me-mória os tempos de descoberta de uma vida que transcen-dia tudo que ela já conhecia. “E depois eu tive uma pessoa que me ajudou mui-to, ela era vidente, e me disse: ‘minha filha, você tem uma mediunidade muito grande, muito bo-nita”, seguiu ela. A partir de então a veterana, de 72 anos hoje, nunca mais abandonou a doutri-na que muitas vezes se referiu como “prática de muito amor”, “doutrina da caridade”. Com 34 anos de espiritua-lidade, Dona Gercy coordena o grupo da Mesa Mediúnica das terças-feiras.

O Livro dos Médiuns contém os pas-sos básicos e avançados para a reali-zação e o conhecimento aprofunda-do da comunicação com os espíritos desencarnados. A mediunidade não pode ser bloqueada, mas adestrada ou mesmo ter o seu processo amenizado. Ainda assim, Dona Gercy regozija-se reafirmando a todo instante o quão gratificante é o trabalho mediúnico, sincronizando uma profunda humilda-

de em suas pala-vras leves. Nessa conversa, as pa-lavras de Lúcio Munhoz foram c o n f i r m a d a s , quando colocou-se em questão a realidade de hoje dos médiuns. “A Doutrina Espí-rita descortinou os problemas de-correntes do en-volvimento com o Mundo Espiri-tual, e que hoje, com a Leitura

,com o Estudo, com a vida de equilíbrio e a Prática, o médium se encontra melhor preparado para exercer a sua importante tarefa”. E o reflexo de todo esse estudo e dedicação se mostra na Mesa Me-diúnica, onde são atendidos diver-sos espíritos que necessitam do auxílio de seus irmãos encarnados.

Ainda na busca pelo maior esclare-cimento das transformações que O Livro dos Médiuns provocou nes-tes 150 anos, indaguei, em entre-vista, o departamento doutrinário da Federação Espírita do Paraná, o qual respondeu-me da seguinte maneira: “É inegável que o Livro dos Médiuns mudou toda uma ge-