a hereditariedade, a educação e o meio em os maias

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A Hereditariedade, a Educação e o Meio em Os Maias Resumo dos capítulos III e IV Capítulo III Este capítulo inicia-se com a chegada de Vilaça a Santa Olávia, onde é recebido com muita alegria. Vê então Carlos da Maia maior e mais esplendoroso. Vilaça toma conhecimento da rígida educação de Carlos e logo se opõe a tal. Entretanto todos jantam, e Carlos faz notar todas as suas capacidades ensinadas por Brown. No fim do jantar, vão para a varanda tomar café, onde o assunto de conversa é a educação de Carlos, em que tanto Brown como Afonso a defendem, e Vilaça e o abade Custódio se opõem. Por fim, chegam também as senhoras com o Eusebiozinho e a noiva de Carlos. Durante esta presença, há um contraste entre a educação à inglesa de Carlos e a educação tradicional de Eusebiozinho, que é notório ao longo de todo o episódio. Após o jantar e a retirada de todos, Vilaça e Afonso conversam no escritório, e Afonso recebe notícias sobre Maria Monforte e sua derradeira vida. Afonso decide então que irá pedir que lhe dêem notícias mais pormenorizadas acerca dela, do seu paradeiro actual e sobre sua neta. Após uns dias Vilaça abandona Santa Olávia e regressa a Lisboa. Entretanto promete voltar, mas acontece uma desgraça, e Vilaça acaba por morrer, instalando-se assim um ambiente de tristeza e luto em Santa Olávia. O capítulo termina, já com o primeiro exame fantástico de Carlos e seu festejo. Capítulo IV Neste capítulo, Carlos opta pelo curso de Medicina para o seu futuro. O avô compra-lhe uma casa em Coimbra, onde faz os seus

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Page 1: A hereditariedade, a educação e o meio em os maias

A Hereditariedade, a Educação e o Meio em Os Maias

Resumo dos capítulos III e IV

Capítulo III

Este capítulo inicia-se com a chegada de Vilaça a Santa Olávia, onde é recebido com muita

alegria. Vê então Carlos da Maia maior e mais esplendoroso. Vilaça toma conhecimento da

rígida educação de Carlos e logo se opõe a tal. Entretanto todos jantam, e Carlos faz notar todas

as suas capacidades ensinadas por Brown. No fim do jantar, vão para a varanda tomar café,

onde o assunto de conversa é a educação de Carlos, em que tanto Brown como Afonso a

defendem, e Vilaça e o abade Custódio se opõem. Por fim, chegam também as senhoras com o

Eusebiozinho e a noiva de Carlos. Durante esta presença, há um contraste entre a educação à

inglesa de Carlos e a educação tradicional de Eusebiozinho, que é notório ao longo de todo o

episódio. Após o jantar e a retirada de todos, Vilaça e Afonso conversam no escritório, e

Afonso recebe notícias sobre Maria Monforte e sua derradeira vida. Afonso decide então que

irá pedir que lhe dêem notícias mais pormenorizadas acerca dela, do seu paradeiro actual e

sobre sua neta.

Após uns dias Vilaça abandona Santa Olávia e regressa a Lisboa. Entretanto promete voltar,

mas acontece uma desgraça, e Vilaça acaba por morrer, instalando-se assim um ambiente de

tristeza e luto em Santa Olávia. O capítulo termina, já com o primeiro exame fantástico de

Carlos e seu festejo.

Capítulo IV

Neste capítulo, Carlos opta pelo curso de Medicina para o seu futuro. O avô compra-lhe uma

casa em Coimbra, onde faz os seus serões com os amigos. É também em Coimbra que Carlos

vai viver os seus primeiros amores, com a espanhola e com Hermengarda. Após terminar o seu

curso Carlos parte para Inglaterra, onde vai ter ideias para o seu futuro. Quando volta para

junto de seu avó, Carlos abre um consultório médico no Rossio, e monta um laboratório. O seu

eterno amigo Ega, também já está em Lisboa, e valoriza muito a ideia de Carlos, como adora o

seu consultório.

Entretanto, pensam em reunir a sociedade lisboeta no Ramalhete, e pensam quem iram

convidar para os seus serões de como irão passar os mesmos. O capítulo termina com a notícia

de Ega a Carlos, de seu livro As Memórias de um Átomo.

Confronto entre a educação tradicional de Eusebiozinho e a educação à inglesa de Carlos da Maia:

Page 2: A hereditariedade, a educação e o meio em os maias

CARLOS DA MAIA – À INGLESA EUSEBIOZINHO – TRADICIONAL

Pedagogo Inglês – Brown Pedagogo Português – Abade Custódio

Contacto com a Natureza

“... Correr, cair, trepar às árvores, molhar-se, apanhar

soalheiras, como um filho de caseiro...” (p.57)

Permanecia em casa

“... Passava os dias nas saias da titi...” (p.78)

Aprendizagem de línguas vivas: Inglês

“... Mostrou-lhe o neto que palrava inglês com o

Brown...”

Aprendizagem de línguas mortas: Latim

“...a instrução para uma criança não é recitar Tityre, tu

patulae recubans...”

Brincadeiras e divertimento

“Estou cansado, governei quatro cavalos...” (p.73)

Contacto com velhos livros

“... Admirar as pinturas de um enorme e rico volume,

«Os costumes de todos os povos do Universo»...”

(p.69)

Rigor, método e ordem

“...tinha sido educado com uma vara de ferro!...”,

“...não tinha a criança cinco anos já dormia num quarto

só, sem lamparina...” (p.57)

Super protecção

“...levava ao colo o Eusebiozinho, que parecia um fardo

escuro, abafado em mantas, com um xale amarrado na

cabeça...” (.76), “...nunca o lavavam para o não

constiparem...” (p.78)

Valorização da criatividade e juízo crítico Valorização da memorização

“...Que memória! Que memória... É um prodígio!...”

(p.76)

Submissão da vontade ao dever

“...Ainda é muito cedo, Brown, hoje é festa, não me

vou deitar!... Carlos tenha a bondade de marchar já para

a cama!” (p.73)

Suborno da vontade pela chantagem afectiva

“...e a mamã prometeu-lhe que, se dissesse os

versinhos, dormia essa noite com ela...” (p. 76)

Desprezo da Cartilha e do conhecimento teórico

“... É saber factos, noções, coisas úteis, coisas

práticas...” (p.63)

“...e pedira-lhe que lhe dissesse o Acto de Contrição. ...

Que nunca em tal ouvira falar...” (p.67)

Estudo da Cartilha

“...a decorar versos, páginas inteiras do «Catecismo de

Perseverança»...” (p.78)

Exercício físico: ginástica ao ar livre

“...a remar, Sr. Vilaça, como um barqueiro! Sem contar

o trapézio, e as habilidades de palhaço...” (p.58)

Débil na sua saúde e não tinha actividade física

“...Não tem saúde para essas cavaladas...” (p.73)

COMO CONSEQUÊNCIA DESSA EDUCAÇÃO

Page 3: A hereditariedade, a educação e o meio em os maias

Carlos Eusebiozinho

Conhecimento prático Conhecimento teórico

Aprendizagens de línguas vivas: Inglês Aprendizagem de línguas mortas: Latim

Formatura em Medicina Bacharelato em Direito

Abertura, convivência e tolerância Isolamento e intolerância

Quem apoiava essa educação:

- Afonso da Maia

- Brown

Quem apoiava essa educação:

- Vilaça

- As Senhoras

- Abade Custódio

Quem era contra essa educação:

- Vilaça

- As Senhoras

- Abade Custódio

Quem era contra essa educação:

- Afonso da Maia

- Brown

CARACTERIZAÇÃO DA BURGUESIA PROVINCIANA DE SANTA OLÁVIA

Burguesia provinciana de Santa Olávia - era uma sociedade fútil, sem cultura, que se

preocupava demasiado com as crianças, com a vida alheia, fazendo da mesma tema das

conversas, e sobretudo, valorizavam a educação tradicional portuguesa.

 As personagens que representam essa mesma burguesia são:

A titi e a mamã de Eusebiozinho, que representavam as senhoras da época, que não

trabalhavam, só cuidavam das crianças e eram senhoras sem cultura e interesses sociais;

Eusebiozinho, que representava a educação retrógrada portuguesa, e sua influência no

carácter das pessoas.

Para caracterizar essa mesma burguesia, Eça vai recorrer à utilização de uma linguagem

específica:

Linguagem familiar;

Rica em diminutivos: “perninhas flácidas...”; ”dissesse os versinhos...”; ”mãozinhas

pendentes...”; ”pregados na titi...”;

Ironia: “- Mas é muito esperto, minha rica senhora! – acudiu Vilaça. -É possível –

respondeu secamente a inteligente Silveira...”;

Caricatura.

Page 4: A hereditariedade, a educação e o meio em os maias

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E PSICOLÓGICA DE CARLOS DA MAIA

Protagonista

Filho de Pedro da Maia e Maria Monforte

Após do suicídio do pai foi viver com o avô em Santa Olávia

Educação britânica

Tirou em Coimbra um curso de medicina

Interessa-se por medicina, literatura, cavalos, armas e bricabraque

Superioridade e distância em relação ao meio lisboeta, traduzido pela ironia

Auto marginalização em relação à sociedade

Fisicamente atraente: formoso, alto, bem feito, ombros largos, cabelos pretos, olhos de

negro líquido

Culto da imagem, atitude de dândi

Cosmopolita, sensual, luxuoso, diletantismo

Projectos não cumpridos

Paixões: Gouvarinho e Maria Eduarda

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E PSICOLÓGICA DE JOÃO DA EGA:

Amigo inseparável de Carlos

Papel de confidente

Trazia Carlos de volta à realidade, nos momentos mais difíceis e mais dolorosos

amparava-o e ajudava-o não só em termos práticos como também em termos espirituais

Grande cumplicidade com Carlos devido à afinidade em termos culturais e mentais.

Andava-se formando em Direito

Ateu e demagogo

Estatura fraca e esguia

Considerado excêntrico, demolidor, enérgico da politica e da sociedade

Possuía “faísca, rasgo, estilo e coração”

“Um romântico e sentimental, um desses indivíduos inferiores que governam a vida pelo

sentimento e não pela razão”

Crítico acérrimo da sociedade burguesa

“Quer” a revolução

Projectos não cumpridos: a revista, livro, e peça de teatro

Paixão por Raquel Cohen

Defensor do Realismo/ Naturalismo

Ateu e demagogo

Page 5: A hereditariedade, a educação e o meio em os maias

INFLUÊNCIA DA HEREDITARIEDADE, DA EDUCAÇÃO E DO MEIO NO CARÁCTER E NO COMPORTAMENTO DE CARLOS

Pedro da Maia Carlos da Maia

Vida dissoluta Vida dissoluta

Encontro fortuito com Maria Monforte Encontro fortuito com Maria Eduarda

Paixão por ela Paixão por ela

Pedro procura um encontro com Maria Carlos procura um encontro com Maria

Encontro através de Alencar Encontro através de Dâmaso

Elemento de oposição ao romance: ela ser uma

negreira (oposição real de Afonso)

Elemento de oposição ao romance: ela ser a

amante (oposição real de Afonso)

Encontros e casamento Encontros e relações

Vida de casados: viagem ao estrangeiro, vida

social em Arroios, nascimentos dos filhos

Vida de relações: viagem ao estrangeiro e

casamentos adiados, vida social na Toca

Retardamento do encontro com Afonso Retardamento por causa de Afonso

Elemento desencadeador do drama: o

NapolitanoElemento desencadeador do drama: Guimarães

Infidelidade e fuga de Maria

Reacções atónicas de Pedro

Descoberta do incesto

Reacções de Carlos

O drama instala-se A iminência da tragédia

Regresso de Pedro ao Ramalhete, diálogo com

Afonso e suicídio de Pedro

Encontro de Carlos com Afonso, mudo, sem

diálogo, e motivação para o suicídio de Carlos

Motivação para a morte de Afonso Morte de Afonso

 

A partir da análise deste quadro, em que estão dispostas as evoluções da vida de Pedro e

Carlos da Maia, podemos observar que tanto Pedro como Carlos falharam na sua vida, não

cumpriram os seus desejos e sonhos, os seus projectos e não ficaram com o seu amor. Assim

podemos dizer que apesar das diferentes educações - a de Pedro valorizando a aprendizagem

teórica e de línguas mortas, a de Carlos valorizando o saber prático e o bem-estar físico -,

estas não alteraram o comportamento de Carlos em relação à vida que o diferencia de Pedro.

Page 6: A hereditariedade, a educação e o meio em os maias

Podemos também observar que Carlos herdou as características do pai, a fraqueza e cobardia,

e as características da mãe, a vida boémia, o egoísmo e futilidade. Estas características

alteram o comportamento de Carlos na sua vida, este reage como o pai às situações

complicadas que lhe aparecem, não tendo reacção, ficando atónico e fraquejando, e também

tem uma vida boémia como a mãe, cheia de serões, festas e jantares com os amigos, era fútil

nas suas decisões e talvez um pouco egoísta.

Mas estas características herdadas não são suficientes para explicar as reacções e evolução da

vida de Carlos. A principal influência que Carlos teve foi, a influência do meio em que este

estava inserido. Meio este que era o mesmo em que seu pai estivera também inserido,

explicando assim o fraquejar dos dois. Podemos concluir então que a influência da sociedade

fútil, sem estímulos, de luxos e vida boémia, vai ser superior a qualquer factor no

comportamento de Carlos, superior à educação sobretudo.

Concluímos então que a influência do meio, apesar de educações diferentes, de caracteres

diferentes, é sempre superior e imponente, criando, assim, pessoas fracas, sem reacção,

boémias e com gosto pelo luxo.