a gestão democrática da escola pública como um meio de … · 2018-04-30 · na tentativa de...
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CADERNO TEMÁTICO
GESTÃO ESCOLAR:
ENFRENTANDO DESAFIOS DO DIA A DIA DA ESCOLA
Ferreira et al (2012) considera que o termo gestão refere-se ao ato
de gerir, à maneira de administrar e de tomar decisões. O modo em que ocorre a
gestão escolar influencia diretamente na sociedade, uma vez que intervém nas
condições que propiciam oportunidades sociais, ocasionando uma forma de
organização que conduz a um caráter excludente ou includente. Dessa maneira, a
gestão escolar, dependendo da perspectiva que assume, pode favorecer na
construção de um caminho de participação e democracia, visando a melhoria da
qualidade do ensino público.
Conforme Paro (1998), a gestão escolar deve ser efetuada de
maneira que possibilite a efetivação dos objetivos da educação que são: emancipar
os indivíduos como cidadãos participantes de uma sociedade democrática; oferecer
aos alunos condições para viver bem usufruindo dos patrimônios culturais e para
cooperar na construção da realidade social.
O presente Caderno Temático discute temas relevantes no contexto
da Gestão Escolar, e intenciona subsidiar as discussões a serem realizadas na
implementação dos Projetos de Intervenção Pedagógica.
É composto por três Unidades Didáticas, elaboradas por docentes
da rede pública estadual que participam da edição 2016-2017 do Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE), ofertado pela Secretaria de Estado da
Educação do Paraná.
A primeira Unidade Didática, elaborada pela pedagoga Márcia
Regina Enferdi Tenereli, é intitulada “A articulação entre os anos iniciais e finais
do Ensino Fundamental: Organização do ensino e prática pedagógica”. Tem a
finalidade de investigar e diagnosticar a complexidade que envolve a passagem do
estudante do 5º para o 6º Ano do Ensino Fundamental, bem como o impacto dessa
transição no processo de ensino. Os eixos abordados são: infância e a
adolescência, um breve histórico sobre o ensino fundamental e sobre o currículo, os
quais serão organizados na forma de revisão bibliográfica. A partir das reflexões
realizadas, tem-se a intenção de levantar possibilidades de articulação pedagógica
na tentativa de intervir nesta ruptura e, consequentemente provocar impactos
positivos a serem evidenciados no processo de ensino e aprendizagem.
A segunda Unidade Didática – elaborada pela professora Maria
Cirlene Prandini Ricieri Ferraz – “A Gestão Democrática da Escola Pública como
meio de investigação dos processos democráticos que norteiam a gestão
escolar” tem o objetivo de investigar os processos democráticos que norteiam a
gestão escolar do colégio lócus do estudo. Teve como embasamento o aporte nas
teorias de autores que compreendem a gestão democrática como fundamental para
a melhoria no ensino público. Destaca a necessidade de fortalecer no âmbito da
escola, uma proposta alicerçada no diálogo e na prática democrática, na qual os
envolvidos sintam-se parte do todo e corresponsáveis no que se refere ao
comprometimento na participação e nas tomadas de decisões no cotidiano escolar.
A terceira e última Unidade Didática, intitulada “Conselho escolar:
instância significativa e fortalecedora de uma gestão democrática”, elaborada
pela professora Tânia Regina Francisco Pereira, aborda os problemas enfrentados
no ambiente escolar no que tange à ausência dos pais e a falta de objetivo dos
estudantes. A unidade pretende subsidiar a discussão, bem como os estudos dos
membros do Conselho Escolar, tendo como foco o papel do Conselho Escolar na
Gestão Democrática, o que estimula o debate entre os próprios membros da
importância desta instância colegiada na efetivação da gestão democrática na
escola. Assim, pretende-se contribuir para uma melhor atuação do Conselho
Escolar.
SUMÁRIO
Unidade Didática I - A articulação entre os anos iniciais e finais do ensino
fundamental: organização do ensino e prática
pedagógica________________________________________________________04
Unidade Didática II - A Gestão Democrática da escola pública como meio de
investigação dos processos democráticos que norteiam a gestão
escolar___________________________________________________________39
Unidade Didática III - Conselho escolar: instância significativa e fortalecedora de
uma gestão democrática______________________________________________67
Título: A articulação entre os anos iniciais e finais do Ensino Fundamental: Organização do ensino e prática pedagógica
Autora: Márcia Regina Enferdi Tenereli
Disciplina/Área: Gestão Escolar
Escola de Implementação do Projeto e sua localização:
C. E. Zulmira Marchesi da Silva Rua Portugal, 240, Centro
Município da escola: Cornélio Procópio - PR
Núcleo Regional de Educação: Cornélio Procópio – PR
Professora Orientadora: Roberta Negrão de Araújo
Instituição de Ensino Superior: UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná
Relação Interdisciplinar: Não há
Resumo: A presente unidade didática propõe estudos teóricos, cuja finalidade maior é investigar e diagnosticar a complexidade que envolve a passagem do estudante do 5º para o 6º Ano do Ensino Fundamental, bem como o impacto dessa transição no processo de ensino. Os eixos abordados serão: infância e a adolescência, um breve histórico sobre o ensino fundamental e sobre o currículo, os quais serão organizados na forma de revisão bibliográfica. A partir das reflexões realizadas, tem-se a intenção de levantar possibilidades de articulação pedagógica na tentativa de intervir nesta ruptura e, consequentemente provocar impactos positivos a serem evidenciados no processo de ensino e aprendizagem.
Palavras-chave: Infância; Adolescência; Ensino Fundamental; Currículo.
Formato do Material Didático: Unidade Didática
Público: Professores
A ARTICULAÇÃO ENTRE OS ANOS INICIAIS
E FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL:
ORGANIZAÇÃO DO ENSINO E PRÁTICA PEDAGÓGICA
APRESENTAÇÃO
A presente Unidade Didática – resultado de uma das etapas do Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE), ofertado pela Secretaria de Estado da
Educação do Paraná – constitui-se em um material composto por três eixos de
discussão, tendo o objetivo de subsidiar a implementação do Projeto de Intervenção
na Escola.
Os três eixos tratam da organização do Ensino Fundamental, aspectos da
infância e adolescência e currículo, como pressuposto para refletir sobre a
passagem entre o quinto e o sexto ano e suas possíveis rupturas.
Tal transição tem preocupado professores e pedagogos que atuam nas
respectivas etapas de escolaridade. Embora a articulação entre os anos iniciais e
finais do Ensino Fundamental esteja prevista pelas Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Básica (BRASIL/CNE/CEB, 2010), com o objetivo de assegurar a
continuidade dos processos de aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo,
afetivo, emocional, social e moral dos alunos, esta integração tem sido um ponto
vulnerável ao longo dos anos.
Considerando estes aspectos, ao elaborar tal material, optou-se por um
formato teórico: Unidade Didática, com base em revisão bibliográfica sobre os eixos
em questão, tendo em vista o público alvo a quem se dirige: professores. O material
será utilizado como base para as reflexões em torno do tema durante encontros de
formação com professores, equipe pedagógica e diretiva dos anos iniciais e finais do
Ensino Fundamental.
Para tanto, o texto sobre a infância e a adolescência pretende apresentar
aspectos destas fases de desenvolvimento humano como forma de conhecer melhor
quem são os estudantes do ensino fundamental, quais suas necessidades,
dificuldades e expectativas em relação à aprendizagem e à escola.
O texto sobre a organização do ensino fundamental busca apresentar
aspectos históricos de sua constituição no sentido de melhor compreendermos quais
os impactos destes aspectos na organização do ensino e dos conteúdos escolares.
E, por fim, o terceiro eixo de discussão tratará sobre aspectos da organização
curricular, abordando questões políticas, históricas, sociais e pedagógicas que
influenciaram e influenciam a seleção dos conteúdos, sua distribuição nos tempos e
espaços escolares e as práticas metodológicas.
A partir do problema “Quais são as implicações pedagógicas presentes na
transição do 5º para o 6º ano do Ensino Fundamental e que impactam diretamente
no processo de ensino dos conteúdos escolares?”, pretende-se refletir sobre as
especificidades desta etapa e as implicações pedagógicas na organização do
ensino, na tentativa de buscar propostas que suavizem esta ruptura.
1 A INFÂNCIA E A ADOLESCÊNCIA: DESENVOLVIMENTO HUMANO e
ORGANIZAÇÃO ESCOLAR
A cada idade corresponde uma forma de vida que tem valor, equilíbrio, coerência que merece ser respeitada e levada a sério; a cada idade correspondem problemas e conflitos reais (...), pois o tempo todo, ela (a criança) teve de enfrentar situações novas (...). Temos de incentivá-la a gostar da sua idade, a desfrutar do seu presente.
George Snyders
O adolescente vive o tempo presente, repleto de mudanças emocionais,
psicológicas e físicas. Sua visão de mundo é ampliada pela conquista de novas
competências e maior liberdade, que refletem fortemente em seu comportamento,
ou seja, trazem novas expectativas com relação à sexualidade, à necessidade de
liberdade e à vida afetiva e social. Tudo isso leva a uma extrema valorização do
convívio com os grupos de amigos, o que torna a sociabilidade central em sua vida.
Muitas vezes essas peculiaridades são desconsideradas pela escola, pois
tem-se a ideia de que precisam preparar o adolescente para a vida adulta e não se
atentam às suas necessidades em termos de vivência, valores e potencialidades. E,
por desconsiderá-las, a escola acaba por reduzir sua capacidade de diálogo com os
adolescentes.
Quando a escola se afasta das questões que são significativas para eles e
deixa de ser referência para os alunos, principalmente aqueles que vivem em
situação de vulnerabilidade, perde sua função. Ou seja, deixa de formá-los no
sentido de auxiliá-los na construção de sua identidade social e individual.
É, sem dúvida, por meio do ensino escolar que o desenvolvimento intelectual
e conceitual ocorre, pois esse processo proporciona a aprendizagem dos
conhecimentos científicos, que são base para dominar o pensamento teórico e
outras funções psicológicas superiores. Dessa forma, a escolarização, ao
estabelecer relações de conhecimento mediadas pelas relações com o grupo de
amigos e com os adultos, ocupa um lugar de destaque, pois proporciona a evolução
e a construção do pensamento crítico.
Na segunda etapa do ensino fundamental, do 6º ao 9º ano, esse momento
torna-se particularmente crítico pela possibilidade de ampliação da autonomia, dos
espaços de circulação e pelo desenvolvimento da capacidade reflexiva, que afetam
o modo como o adolescente compreende o mundo em que está vivendo. Ao lidar
com os adolescentes, a escola tem diante de si a possibilidade de fazer com que o
jovem utilize sua capacidade máxima de pensamento para realizar as atividades e
resolver determinados problemas que se apresentam diante dele.
Para que a escola compreenda sua função diante das diferentes fases do
desenvolvimento humano, é preciso ter clareza sobre os conceitos de infância e
adolescência e de como sua construção se deu ao longo dos anos permeados por
diferentes teorias e concepções.
Atualmente, observam-se profundas influências das concepções
psicanalíticas nas concepções dominantes de infância e adolescência, que
desconsideram a capacidade de construção do pensamento e dos conceitos e
universalizam a passagem de um estágio de desenvolvimento para outro,
compreendendo-os como naturais a um processo biológico, que por si só acarretam
mudanças ou crises nos jovens.
Houve um tempo no qual quando um aluno recebia um diploma de conclusão
do ensino primário, simbolicamente isso representava para a sociedade não só a
conclusão de um ciclo de escolaridade, mas marcava os limites entre a infância e a
adolescência. Estas marcas diluíram-se com o tempo e foi ficando difícil estabelecer
quando termina a infância e quando inicia a adolescência.
Atualmente há muitas interpretações, porém predomina a visão de que a
adolescência relaciona-se a um período de transição, ou seja, um momento de
passagem que antecipa uma plena vida social. Se olharmos para a adolescência
como período de transição, parece-nos que temos a ideia de um ser incompleto, que
não é nem criança nem adulto, porém é ainda dependente do mundo adulto e não
possui valores sociais solidificados.
No entanto, a infância e a adolescência só podem ser compreendidas no
contexto da sociedade em que estão inseridos: uma sociedade em que predomina a
indústria da informação, de bens culturais, de lazer e consumo, conhecimentos
tecnológicos, realidade virtual e o conhecimento científico como mais um dos
conhecimentos, tudo isso enfatizado pela velocidade do cotidiano, no aqui e agora e
na busca do prazer imediato.
Ainda que as concepções de criança e adolescente construídas anteriormente
não possam ser desconsideradas porque continuam a responder questões
presentes sobre seu estudo, precisamos problematizá-las.
Ao longo dos anos, o conceito de criança e adolescente foi gradualmente se
modificando. A infância consolidou-se na sociedade como uma etapa distinta da
vida, concomitante ao estabelecimento do estado nação, de uma nova organização
do trabalho e da família nuclear. Assim, a sociedade industrial inventou a definição
de infância e adolescência ligada às leis trabalhistas e ao sistema de educação,
tornando o jovem dependente dos pais.
A especificidade da adolescência foi reconhecida e emergiu com a escolarização, que supõe a separação entre seres adultos e seres em formação, com a família burguesa que separa o espaço familiar do exterior e com a progressiva exclusão da criança do mundo do trabalho. Esse processo que se iniciou nas classes sociais mais abastadas estendeu-se para toda a sociedade e se impôs como um modelo que atingiu toda a organização social (ARIÈS, 1986, apud SALLES, 2005, p. 35)
A criança foi então separada do adulto, excluída de atividades que até então
sua presença era comum, adquirindo um status de pureza e inocência. Por sua vez,
a adolescência foi se consolidando como uma fase da vida e se torna motivo de
preocupação moralista e política, pois passa a ser caracterizada a partir de fatores
de ordem individual (associada à maturação biológica) e de ordem histórica e social
(relacionada às condições específicas onde está inserido culturalmente).
Crianças, adolescentes e jovens adquirirem a condição de dependentes, sem
responsabilidade jurídica, política e emocional e, socialmente, devem ser
disciplinados para se tornarem adultos. Nesse contexto, a família e a escola
constituem-se como agências que irão socializar a transmissão de significado e
cultura por meio de processos disciplinadores, educativos e de guarda das crianças,
preparando-os até que se tornem adultos e adquiram razão e maturidade e, assim
assegurar a transmissão da cultura para que a sociedade tenha continuidade. Para
Bock,
Estavam dadas as condições para que se mantivessem as crianças mais tempo sob tutela dos pais, sem ingressar no mercado de trabalho. Mantê-las na escola foi a solução. A extensão do período escolar e o consequente distanciamento dos pais e da família, além da aproximação de um grupo de iguais, foram as consequências destas exigências sociais. A sociedade assiste então à criação de um novo grupo social com padrão coletivo de comportamento - a juventude/adolescência (BOCK, 2004, p.41).
Desta forma, ser escolarizado é uma forma de preencher a condição de ser
humano inacabado, em desenvolvimento e assim, a escola de forma organizada
seria a continuidade da dependência familiar das crianças e adolescentes. Estes
foram então construindo uma identidade autônoma nas relações com os adultos e
acabaram por dividir-se em dois espaços sociais: o espaço escolar e o espaço
familiar. Ao “ceder” os filhos para a escola, os pais delegaram seus poderes aos
professores, atribuindo a eles o status de substitutos especializados. E, assim, surge
um novo conceito para a criança, o adolescente e para o jovem, o de ser aluno.
Segundo Sacristan (2005) a escola e seus professores vão assumindo
diversos papéis: de pais no cuidado, de guia e educação dos filhos da burguesia e
das classes mais altas, de substitutos das famílias para vigiar e moralizar seus filhos,
de especialistas responsáveis, quase que inteiramente, pela transmissão dos
saberes considerados como úteis e legítimos e, por fim, como figura que assume,
em nome do Estado, a missão de educar e disseminar um projeto cultural a serviço
dos interesses gerais da sociedade.
A eclosão da percepção de criança como sujeito com necessidades e
especificidades próprias, resultou no surgimento de políticas sociais e educacionais
com o objetivo de orientar a família sobre como educar seus filhos e corrigir seus
erros. Assim, a infância e adolescência tornam-se objeto de estudo dos especialistas
(médicos, educadores, psicólogos, sociólogos).
A Psicologia do Desenvolvimento (área de estudo que começa a se
consolidar no início do século XX) vê as crianças e adolescentes como imaturos,
inacabados e devem, portanto, ser desenvolvidos para atingir a maturidade. “Isso
corrobora a definição de adolescência segundo a qual o adolescente está vivendo
uma etapa da vida considerada de transição entre o ser criança e o vir a ser adulto”
(SALLES, 2005, p. 36). Nessa perspectiva, esta fase é entendida como natural para
todos os seres humanos, uma vez que todos os indivíduos ao passar da infância
para a fase adulta, obrigatoriamente passam por uma fase intermediária que é a
adolescência, tornando-a como algo familiar e esperado.
Erickson (1976, apud Bock, 2004) instaurou a adolescência a partir do
conceito de moratória, de adiamento ou prorrogação, ou seja, o indivíduo estava em
um processo de transição, prorrogação da infância e adiamento da idade adulta,
permeado pela confusão de papéis e pelas dificuldades para firmar uma identidade
própria. E essa naturalização universal que foi dada a ela determinou então quais
são os modos de conduta previstos para esta fase, o que é normal e anormal,
bastando apenas esperar que a adolescência um dia chegue já que é algo
inevitável.
Para Salles (2005, p.37-38), “[...] a adolescência se configura, então, como
um período de experimentação de valores, de papéis sociais e de identidades e pela
ambiguidade entre ser criança e ser adulto”. Ou seja, o jovem está pronto para
procriar, para a produção social e para o trabalho, no entanto, como a sociedade
está em dúvida se ele pode ou não realizar tudo isso, o coloca em status de
provisoriedade, tratado ora como criança, ora como adulto. Apesar de possuir todas
as condições (fisiológicas, afetivas e cognitivas) para participar do mundo adulto,
não é autorizado a isso, tendo que permanecer à espera desse momento,
distanciando-se do mundo do trabalho e da possibilidade de adquirir autonomia e
condições de sustentar-se.
No entanto, a moratória na qual se encontram não é necessária para seu
desenvolvimento, mas um período considerado necessário para que os adultos
possam estar mais tempo no mercado de trabalho e para que os jovens sejam
preparados para responder, adequadamente, às exigências no novo mundo do
trabalho.
Isso tudo implica na separação entre as idades da vida e, ainda que hajam
diversas infâncias, adolescências e juventudes, devido às diferenças concretas das
condições de vida, a criança e o jovem devem ser tutelados pelo adultos já que não
são iguais a eles. O processo de “tornar-se adulto” implica uma longa educação que
leve a criança à autonomia e independência, superando a conduta de criança e
jovem, aproximando-se de características atribuídas aos adultos.
O tempo para estudar é prolongado, a entrada para o mundo do trabalho
ocorre mais tardiamente e até a constituição da própria família é adiada. E assim, a
adolescência se instala na sociedade de maneira equivocada e, os jovens que não
possuíam informações claras para seus comportamentos, passam a utilizar essas
características como referência adequada para identificarem-se: são agora
adolescentes.
A adolescência apresentada desta forma não possui gênese social, pois
nenhuma das características naturalizadas até então é constituída nas relações
culturais e sociais. É preciso superar estas concepções. A adolescência é social e é
histórica. Ela pode existir aqui e não existir em outro lugar, pode existir agora e
deixar de existir amanhã, pode existir de forma mais evidente em um grupo social e
não tanto em outros grupos.
Se antes a ordem do ciclo de vida era clara (primeiro se estudava, depois se
empregava e daí se casava), hoje há um prolongamento dessas fases, associado,
entre outros fatores, às dificuldades em obter um emprego e ao aumento do tempo
de estudo. Se o jovem não adquire autonomia financeira, acaba por permanecer
mais tempo com seus pais. Salles (2005, p. 37) considera que “[...] hoje os jovens
estudam, trabalham, se especializam, adiam a saída da família de origem e a
constituição da própria família”. Ainda que isso ocorra mais com os jovens da classe
média, existe uma tendência para que se generalize para todos.
Dadas essas condições, as marcas que estabeleciam o limite entre uma
idade e outra já não o definem mais de forma orgânica. Os ciclos de vida tornam-se
despadronizados como se as idades estivessem “bagunçadas” e, por isso, a própria
ideia de ser tutelado se modifica, já que o processo de socialização na sociedade
contemporânea é muito diferente do que ocorria anteriormente. Socialização
entendida aqui no seu sentido clássico, da ação do adulto (que sabe) sobre a
criança (que precisa ser preparada para ser adulto).
Essa ideia, então, passa a ser contestada, pois hoje as tecnologias de
comunicação, a mídia e as redes sociais promovem a possibilidade de acesso às
informações sem o controle dos pais e desde cedo, as crianças têm acesso à
informações sobre sexo, violência e exploração de conflitos íntimos. Na idade média
isso era comum, pois não havia separação entre coisas de adultos e coisas de
crianças e estas participavam de todas as atividades realizadas pelos adultos.
A rede de relações que se estabelecem entre os pares dão significado à sua
idade, faz com que as crianças cresçam e vão assimilando a cultura e as normas
que regulam a organização social onde estão inseridas. Isso evidencia a
necessidade de entender as crianças e adolescentes como sujeitos ativos, que
interagem e reagem, negociam e renegociam as relações e redefinem a realidade
social e não só como indivíduos submetidos ao processo de socialização.
Segundo Salles (2005, p.38) “[...] as relações de autoridade e os valores
sociais e morais estão sendo questionados e revistos”. De um lado temos a criança
e o adolescente, ambos seguros de como devem se comportar e, de outro, a
sociedade confusa quanto aos valores morais que deve adotar. Isso se reflete
também na atitude dos pais que não sabem mais como educar seus filhos, hesitam
quanto ao certo e o errado, impor ou não disciplina, enquanto que os filhos adquirem
o direito de serem respeitados.
A autoridade torna-se então democrática, pois os limites são passíveis de
discussão. A educação dada às crianças passa a ser supervisionada por
especialistas e os pais, na dúvida sobre a melhor conduta para educar os filhos,
deposita nas orientações dos especialistas uma dúvida que chega à dependência.
Torna-se muito importante a igualdade nas relações familiares que passa a ser uma
relação entre pares, sem exigências, sem normas de conduta rígidas.
Muitas das funções assumidas anteriormente pela família estão a cargo de outras instituições, de tal forma que a escola e as profissões assistenciais têm se encarregado das funções familiares, especialmente da função de socialização da criança [...] Nas escolas, mais que a aprendizagem dos conteúdos escolares, o importante é a qualidade das relações humanas que são estabelecidas (SALLES, 2005, p. 39).
Então a percepção da escola é ressignificada como o lugar de encontrar os
amigos, ainda que permaneça o objetivo de ir à escola para se preparar para o
futuro. Parece-nos que há uma indecisão da sociedade frente à criança e ao jovem:
ora tende a diluir as fronteiras entre as faixas etárias, ora perpetua as diferenças
atribuindo atividades e papéis específicos para cada idade. Porém, o que se observa
é a sobreposição das duas tendências.
Esses aspectos da contemporaneidade trazem a necessidade de refletirmos
sobre os conceitos de infância e adolescência e idade adulta a partir do contexto
social e histórico no qual os indivíduos estão inseridos, pois para a teoria histórico-
cultural, a adolescência é uma construção social, significada, interpretada e
construída pelos homens e o desenvolvimento humano ocorre “por meio de
constantes interações com o meio social em que o sujeito vive e disso resulta o
desenvolvimento de formas psicológicas mais sofisticadas” (TOMIO, FACCI, 2009, p.
93), ou seja, por meio das relações com o outro o indivíduo se apropria dos
significados construídos pela humanidade e constrói sua identidade individual e
coletiva.
Segundo Leontiev (1978, p.313 apud Bock, 2004) o conteúdo do estágio de
desenvolvimento da criança não é sua idade, mas “[...] a idade da passagem de um
estágio a outro depende do seu conteúdo que muda com as condições sócio-
históricas”. Assim, é a própria vida nas condições concretas em que estamos
inseridos que exerce influências sobre o desenvolvimento do sujeito tanto quanto
sobre seu desenvolvimento psíquico. O autor afirma que
Quanto mais progride a humanidade, mais rica é a prática sócio-histórica acumulada por ela, mais cresce o papel específico da educação e mais complexa é a sua tarefa. Razão por que toda a etapa nova no desenvolvimento da humanidade, bem como nos diferentes povos, apela forçosamente para uma nova etapa no desenvolvimento da educação: o tempo que a sociedade consagra à educação das gerações aumenta; criam-se estabelecimentos de ensino, a instrução toma formas especializadas, diferencia-se o trabalho do educador do professor; os programas de estudo enriquecem-se, os métodos pedagógicos aperfeiçoam-se, desenvolve-se a ciência pedagógica. Esta relação entre o progresso histórico e o progresso da educação é tão estreita que se pode sem risco de errar julgar o nível geral do desenvolvimento histórico da sociedade pelo nível de desenvolvimento do seu sistema educativo e inversamente (LEONTIEV, 1978, p. 273, apud Bock, 2004, p.31).
Tal perspectiva não supõe um desenvolvimento natural do ser humano
(adolescência como consequência), mas que a diversidade que se apresenta como
riqueza humana é construída pela humanidade por meio de sua ação sobre o mundo
e, sendo assim, se a humanidade é transmitida e apropriada a partir do contato com
a cultura, fica evidente que as diferenças sociais produzem as diferenças no
desenvolvimento psicológico dos homens.
Vigostski (1996) destaca também um traço pouco frequente em outras etapas
do desenvolvimento infantil, porém muito importante e fundamental desta idade: o
espírito de contradição, que se manifesta no conteúdo do pensamento. Para as
concepções tradicionais, essas mudanças se davam apenas externamente no seu
estado emocional, negando-se o surgimento de novas formas de pensamento neste
período.
Ao contrário, para Vigostski (1996), o ponto essencial da adolescência reside
no fato de que é nesse período que se formam os verdadeiros conceitos e as
funções psicológicas superiores, tais como a memória lógica, a abstração, a atenção
voluntária, entre outras, e estas constituem-se o centro fundamental da formação da
personalidade, desenvolvendo-se na coletividade e a partir da apropriação de
conceitos pelo indivíduo. Então, não podemos negar a importância do outro e da
coletividade na construção da consciência humana, assim como a necessidade de
olhar o psiquismo humano como resultado da apropriação das produções culturais
da sociedade.
Se esse processo for vivido no período escolar, ele possibilita a
aprendizagem dos conhecimentos científicos, que são a base para o domínio do
pensamento teórico e de outras funções superiores, pois “é por meio do ensino
escolar que o indivíduo cria uma nova linha de desenvolvimento, acelerando-o e
promovendo-o. A escola é, portanto, fonte de seu desenvolvimento intelectual e
conceitual” (TOMIO; FACCI, 2009, p. 96). Além disso, a escolarização, ao mediar as
relações entre o conhecimento, os colegas e os adultos, proporciona o
desenvolvimento de um pensamento crítico. Facci (2004a), nesse sentido,
Enfatiza a necessidade de a educação escolar ser guiada de forma a dirigir regularmente o ritmo e o conteúdo do desenvolvimento por meio de ações que exerçam influência sobre este. A escola, ao lidar com os adolescentes, tem diante de si a possibilidade de levar os jovens a utilizarem essa capacidade máxima de pensamento na elaboração de atividades que promovam o seu desenvolvimento e da sociedade como um todo (FACCI, 2004a, apud TOMIO; FACCI, 2009, p. 98).
Além disso, é papel da escola ensinar todos os conteúdos considerados
valiosos para que os alunos possam entender o mundo, saber qual é o seu papel,
quais são as possibilidades que se abrem a eles e a diversidade de caminhos pelos
quais podem continuar aprendendo, ou seja, uma prática pedagógica que valorize o
papel mediador do professor, promova o desenvolvimento dos seus alunos, supere
visões negativas sobre essa fase de desenvolvimento e que seja capaz de
centralizar no ensino-aprendizagem toda a potencialidade dos jovens através do
processo de escolarização que se dá no encontro entre a subjetividade e a
educação.
2 OS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: BREVE HISTÓRICO
Em uma sociedade desigual, onde a cidadania é frágil, as políticas públicas (dentre as quais situamos a educação) baseiam-se em pressupostos defendidos ou aceitos por aqueles que detêm o poder político. Tais pressupostos não se limitam apenas aos compromissos políticos, envolvem também aspectos sociais, culturais e econômicos, locais, nacionais e internacionais.
Flach (2011, p.285)
Analisar de que maneira foi constituído o ensino fundamental nos leva a
compreender nossa forma de pensar a escola e a relação entre os diferentes
segmentos do ensino. Muitas são as raízes históricas identificáveis nas afirmações
de que os alunos chegam ao sexto ano sem saber os conhecimentos necessários
para continuidade dos estudos.
No Brasil, a história da educação escolar formal teve início em 1549, com a
chegada dos padres da Companhia de Jesus, designados para comandar a
educação brasileira. Nesse período, o país era uma colônia portuguesa, organizada
sob a monocultura da cana de açúcar para exportação, com base nas grandes
propriedades e no trabalho escravo.
De acordo com Romanelli (1992), a educação escolar não era uma
necessidade para o desenvolvimento da produção agrícola, portanto, permaneceu
nesse período à margem, servindo mais como símbolo de status para um pequeno
grupo de pessoas que pertenciam à classe dominante (os senhores de engenho e
donos da terra).
Assim, por mais de 200 anos o ensino no Brasil foi ministrado quase que em
sua totalidade pelos padres jesuítas, incentivados e subsidiados pela coroa
portuguesa. Foram responsáveis pela criação de nossas primeiras escolas (Escola
das primeiras letras e colégios, também denominados ginásios, ou liceus). Na escola
das primeiras letras ensinava-se a ler, escrever e contar para a população indígena
e branca (filhos dos colonos, exceto as mulheres). Esta escola poderia ser
comparada nos dias de hoje ao ensino fundamental. Nos colégios, mantinham-se os
cursos de Letras e Filosofia (ensino secundário), com a finalidade de preparar o
homem da classe dominante para estudos superiores em universidades europeias, e
os de Ciências Sagradas e Teologia (ensino superior) para a formação de
sacerdotes. Não havia relação entre o curso elementar e o secundário, já que o
primeiro não era pré requisito para ingresso no segundo, o que somente aconteceu
posteriormente.
Essa organização perdurou por mais de dois séculos, até a expulsão dos
jesuítas do Brasil pelo Marquês de Pombal. Durante um período, a educação
elementar e secundária, que até então possuía certa organização, foi substituída
pelas aulas régias, que eram ministradas por um único professor (em sua maioria
leigos e mal preparados) e não tinham relação uma com as outras. Para Fontes
(2013),
[...] a educação jesuítica foi um marco na história da educação da cultura e da civilização do Brasil, sua expulsão e a ruptura com seu modelo educacional representou na época um retrocesso sem precedentes para a história de nossa nação (FONTES, 2013, p. 4).
A vinda de D. João para o Brasil incentivou a abertura de mais escolas de
primeiras letras pois precisava suprir as lacunas deixadas com a expulsão dos
jesuítas e atender o aumento populacional. Era permitido a qualquer pessoa abrir
uma escola de primeiras letras, sendo que a maioria funcionava na própria casa do
professor. Já as famílias mais ricas contratavam um preceptor para tal ensino.
Nossa primeira lei nacional sobre a instrução pública, outorgada em 1827,
criou as escolas de primeiras letras em todas as cidades e lugares de maior
população. No entanto, esta lei não dispôs nada sobre as condições de sua
implantação e, desta forma, acabou fracassando ficando a educação pública do país
abandonada totalmente.
Os maiores investimentos desse período foram no ensino técnico e superior,
enquanto que os estudos primários e médios ficaram esquecidos, caracterizando um
período de poucos avanços educacionais. Mesmo com a criação de mais escolas de
primeiras letras, estas continuaram organizadas para ensinar a ler e escrever. Já o
ensino secundário permaneceu organizado com as aulas régias, com a criação de
mais 30 cadeiras de gramática latina (CARVALHO, 1982).
A constituição de 1824 limitou-se a estabelecer a gratuidade do ensino
primário para todos os cidadãos, o qual foi dividido, em 1854, em elementar e
superior. Porém, os orçamentos eram poucos, não tinham escolas para todos nem
em todos os lugares. A maioria da população era de escravos (não cidadãos) e o
contingente de analfabetos era grande nesse período, já que os escravos não
podiam frequentar a escola.
Embora D. João tenha instituído, por meio de um decreto, quatro graus de
instrução: Pedagogias (escolas primárias), Liceu, Ginásios e Academias, era um
sistema fragmentado de ensino, pois um não estabelecia articulação com o outro.
Para o acesso ao ensino secundário não havia exigência de ter concluído o primário
e, para o acesso ao ensino superior, o aluno poderia ou não ter concluído o
secundário, bastando que comprovasse suas condições através de um exame e
tivesse idade suficiente.
Pelo ato adicional à Constituição, em 1834, a educação superior de todo o
império ficou a cargo do poder central e a educação primária e secundária foi
delegada às províncias de cada jurisdição. Tal descentralização colocou sob
responsabilidade do poder central a educação das elites e a do povo para as
províncias, “que inteiramente entregues a si mesmas, desamparadas
financeiramente pelo governo central, pouco puderam fazer em benefício da”
educação primária e secundária (HAIDAR; TANURI, 1998, p. 64).
As autoras relatam ainda que nos anos que se seguiram, pouco avanço foi
registrado. Não ocorreram mudanças significativas que alterassem o cenário
educacional. Uma série de reformas educacionais aconteceu no país durante a
primeira república, mas não possuíam validade nacional, limitando-se quase que
exclusivamente ao Distrito Federal, sendo apresentadas como modelos aos estados,
que não tinham a obrigação de adotá-las.
Durante a década de 1930 a 1945, no período denominado Era Vargas, foi
criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, do qual Francisco Campos foi o
primeiro Ministro. Nesse período, vários decretos foram publicados (Reforma
Francisco Campos e Reforma Capanema) organizando o ensino superior e
secundário, por serem estes subordinados ao poder central, ficando “[...]
completamente marginalizados o ensino primário e os vários ramos do ensino
secundário profissional” (ROMANELLI, 1992, p. 134).
A educação passou a ser vista e discutida como força propulsora de
desenvolvimento e fundamental para inserção e ascensão social, tendo em vista a
transição econômica do modelo agrário para um modelo de produção industrial, que
favoreceu o desenvolvimento de algumas regiões do país e as transformações
urbanas. “Foi sem dúvida um momento em que predominou uma visão otimista em
relação à educação, como instrumento de democratização e equalização social”
(ANDREOTTI, 2006, p.105).
Embora a educação tenha sido determinada como direito de todos pela
Constituição de 1934 e o ensino primário como obrigatório e gratuito a todos, o
ensino secundário era limitado a uma elite já que até meados de 1940 a maioria das
escolas secundárias pertencia à iniciativa privada além de possuir um programa
rígido de avaliação e a obrigatoriedade de um exame de admissão para ingresso.
O secundário ficou organizado através de uma formação propedêutica para
acesso ao ensino superior, e uma formação profissional (curso comercial) que não
possibilitava o acesso dos alunos ao ensino superior. Ou seja, uma educação para
pensar e outra para produzir.
Entre 1942 e 1946, foram postas em execução as Leis Orgânicas do Ensino,
compostas por oito decretos-lei. O ensino primário até então deixado de lado,
recebeu diretrizes do governo central válidas para todo o país, destinado à
população de 7 a 12 anos, ficando assim organizado: primário elementar (4 anos) e
primário complementar (de 1 ano), além do ensino primário supletivo, com duração
de 2 anos, para aqueles que não receberam esta educação na idade prevista. Era
preciso reduzir a taxa de analfabetismo da população que era altíssima nesse
período.
No entanto, para ter continuidade no processo educativo, era preciso que o
aluno comprovasse conhecimento suficiente para passar do primário para o
secundário. Isso se dava através do chamado exame de admissão ao ginásio,
instituído legalmente pela Lei 4.024/61. Minhoto (2008) destaca o peso seletivo do
exame como mecanismo reprodutor de desigualdade social nas décadas de 1930 e
1940, tendo em vista a política pública do governo Vargas para o ensino secundário.
Para esta autora, em um momento no qual se propunha toda uma argumentação
progressista,
Constatou-se o papel contraditório do Estado no que se refere à articulação entre os Ensinos Primário e Secundário, à época, visto que à medida que instituiu um exame com o objetivo explícito de regular a progressão escolar do aluno em termos de mérito, buscando qualificar o Ensino Secundário, acabou preservando, e mesmo fortalecendo, a dualidade presente na escola elementar (MINHOTO, 2008, p.451).
Nesse sentido, o exame representava não só um impedimento legal para a
continuidade dos estudos como também estabelecia um obstáculo à articulação
entre o ensino primário e o secundário, uma contradição à própria Lei que
considerava os dois segmentos como um único processo educativo de formação
geral.
Após a conclusão do ensino primário havia uma significativa redução do
número de estudantes que alcançavam o ginásio ocasionando uma oferta de
oportunidades educacionais gravemente distorcidas, pois não proporcionava
equidade de oportunidades de escolarização a todos, restringindo a uma pequena
parcela da população o avanço em seus estudos e, basicamente as vagas ao
ginásio eram preenchidas por parte da população com melhores condições sociais e
econômicas.
Em 1971, com o advento da Lei n. 5692/71 (BRASIL, 1971) foi instituído o
ensino básico com oito anos de duração. O primário e o ginásio foram agrupados em
um mesmo nível de ensino, afastados do colegial, passando a denominar-se Ensino
de 1º grau. O exame de admissão foi abolido abrindo o ginásio para todos os
egressos da escola primária.
Para Romanelli (1992, p. 237), com a nova organização “eliminou-se um dos
pontos de estrangulamento do nosso antigo sistema representado pela passagem
do primário ao ginasial, passagem que era feita mediante os chamados exames de
admissão”.
No entanto, apesar de garantir a escolaridade básica de oito anos a todos,
(dos 7 aos 14 anos de idade), a integração entre o curso primário e ginasial não
aconteceu de forma efetiva. Como bem destaca Souza (2008), teriam que ser
considerados vários fatores como
[...] instituir uma nova concepção de escola fundamental destinada à Educação de crianças e adolescentes. Essa escola reuniria, em realidade, culturas profissionais historicamente diferenciadas – os professores primários e os professores secundaristas – com níveis diversos de formação e salários, status e modos próprios de exercício do magistério. Demandava também a articulação do currículo, a adaptação do espaço à clientela escolar e adequação da estrutura administrativa e pedagógica da escola para o atendimento de um grande número de alunos (SOUZA, 2008, p. 268).
Sem esse novo modelo de escola, que conseguisse integrar o ensino para
crianças e adolescente, o ensino de 1º grau tornou-se apenas a justaposição de uma
forma desarticulada do ensino primário e do ginasial. Mesmo que a Lei n. 5.692/71
determinasse que o ensino de 1º grau constituía um período escolar único e
contínuo de oito anos, isso nunca aconteceu. Não foi possível atingir nem a
integração curricular nem a integração entre ginásio e primário, que permaneceram
como realidades bem distintas.
Enquanto especialistas e políticos viam como positivo a expansão da
obrigatoriedade da escolaridade para 8 anos, os professores se viram frente a um
novo contingente de alunos que trouxeram desafios até então novos. Segundo
Azanha (1985)
A escola sofreu o impacto da presença de uma clientela nova que trouxe problemas pedagógicos até então inéditos. Antes disso, a escola pública vinha desempenhando, até com relativo êxito, a sua função de instituição social discriminadora da população segundo os interesses sociais e políticos prevalentes. Mas, acolhido o novo contingente populacional escolar, os parâmetros pedagógicos vigentes tornaram-se ineficazes para enfrentar a situação emergente (AZANHA, 1985, p.13).
Mesmo com algumas mudanças de ordem técnica, os problemas persistiam,
já que estes muitas vezes necessitavam de soluções que nem sempre estavam no
âmbito especificamente pedagógico. Mais do que soluções técnicas era preciso uma
mudança de mentalidade do magistério frente às novas responsabilidades
profissionais postas pela significativa expansão da população escolar.
E isso não aconteceu. Os professores opuseram-se firmemente à
democratização da escola pública possibilitada pela integração do ensino primário e
ginasial através do ensino de 1º grau. Para Azanha (1985), de lá para cá foi se
consolidando uma visão negativa da escola pública.
De um lado, temos o segmento médio da classe média que com a popularização da escola pública perdeu um poderoso elemento distintivo de status social. De outro, temos o grupo social constituído em torno dos interesses privatistas e confessionais – quase sempre conjugados em questões de educação. E, finalmente, temos o próprio magistério, profissionalmente aviltado e aturdido, e que, na sua confusão ideológica, foi levado a identificar-se com os dois grupos cujos interesses elitistas e privatistas haviam sido contrariados com a emergência de uma escola de 1º grau democratizadora pela expansão de oportunidades educacionais que representava (AZANHA, 1985, p.14).
Para o autor, esse cenário estabeleceu um processo de estigmatização da
escola pública e, suas consequências, tendo em vista o atual momento, dificilmente
serão minimizadas. O magistério, na confusão ideológica a que foi conduzido, não
se deu conta de que a instituição do ensino de 1º grau foi uma decisão política,
muito mais que pedagógica e, por não compreenderem isso, também não
compreenderam que estabelecer a continuidade da escolaridade para oito anos foi
uma decisão inédita, que trouxe dificuldades pedagógicas peculiares que
necessitavam de uma revisão de conceitos e atitudes, necessitavam de uma nova
escola.
Essa situação acontece, de um lado, porque as políticas educacionais limitam
os investimentos financeiros necessários à democratização do acesso e da
aprendizagem, pois está condicionada aos interesses políticos e de grupos que não
concebem a educação como direito. De outro modo, esse direito é negado pela
própria prática e organização escolar, pois, a escola não rompe com as práticas de
exclusão, mantendo ainda que de forma sutil, mecanismos de seleção e exclusão.
O mecanismo de normalização que define o êxito (para os que se incluem na norma) e a exclusão (para os que ficam fora da norma) se viu reforçado no momento em que a escolaridade tornou-se realmente obrigatória para todos. Quando a escolarização universal não é real, a exclusão dos que não superam a norma não é necessária, pois os candidatos à exclusão nem sequer comparecem às escolas. Mas quando a obrigatoriedade torna-se efetiva, aparece a ideia de fracasso escolar como marca interna, tornando-se uma espécie de atipicidade que se transforma em uma forma de exclusão que afeta, agora, os que permanecem dentro das escolas (SACRISTAN, 2001, p.79).
Segundo o relatório de uma pesquisa sobre os anos finais do ensino
fundamental, realizada pela Fundação Carlos Chagas (2012), “[...] essa ausência de
continuidade retratava-se, nos anos 1980 e 1990, na reprovação e evasão
generalizada entre a 4ª e a 5ª série”. E, mesmo após a aprovação da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) n.9394/96 que organizou a
educação nacional em dois níveis: Educação Básica (Ed. Infantil, Ensino
fundamental e Médio) e Ensino Superior, “não cabendo desagregação do
Fundamental para fins de concepção e organização”, a descontinuidade e o fracasso
escolar são problemas que ainda persistiram.
A Constituição Federal de 1988 discutiu a educação muito mais do que todas
as constituições brasileira, estipulou os direitos à educação, criou o Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação (FUNDEB) elevando os gastos do país com a educação,
previu a criação de programas suplementares como material didático-escolar,
alimentação e transporte, estabeleceu um regime de colaboração entre os níveis do
governo, o Plano Nacional de Educação, entre vários outros mecanismos, porém, o
desafio à democratização da educação, tendo em vista uma concepção de escola
para todos e de boa qualidade, por enquanto ainda não se efetivou.
Com a aprovação da LDBEN n. 9.394/96, novas mudanças ocorreram no
cenário da democratização do ensino. Ela alterou a nomenclatura do ensino (o
ensino de 1º grau tornou-se “Ensino Fundamental”, e o 2º grau, “Ensino Médio”) e
universalizou a educação básica garantindo o previsto na Constituição de 1988: a
gratuidade e obrigatoriedade do Ensino Fundamental e médio (art. 4º, inciso II), dos
7 ao 17 anos e, mais tarde, foi alterada pelas Leis n. 11.114/05 e n. 11.274/06 que
ampliam o ensino fundamental para nove anos, com matrícula aos seis anos de
idade.
Sob a atual lei, que define o regime de colaboração entre federação, estados
e municípios, os Estados devem oferecer com prioridade o ensino médio definindo
com os municípios formas de colaboração na oferta do Ensino fundamental. Aos
municípios cabe a oferta da educação Infantil e, com prioridade, o Ensino
Fundamental. No estado do Paraná, os municípios se responsabilizam, em sua
grande maioria, pelos anos iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano) e o
estado pelos anos finais (do 6º ao 9º ano). Para Barbosa (2008, p. 16)
Esse modelo de municipalização cria duas redes distintas, articuladas apenas por critérios técnicos e com medidas de enfrentamento unilaterais, longe de dar ao Ensino Fundamental uma unidade como sistema. Por isso, as alternativas acabam por expressar um caráter localista, fragmentado e unilateral, indicando a necessidade da construção de políticas educacionais articuladoras na passagem da 4ª para a 5ª, uma vez que são formatadas em duas redes distintas, bem como se materializa no binômio municipalização/estadualização do Ensino Fundamental.
Esse modelo não tem colaborado para a integração do ensino fundamental
como uma unidade pedagógica, pois a atual passagem do 5º para o 6º ano indica
uma transição entre duas redes (estadual e municipal) que possuem políticas
educacionais e processos pedagógicos distintos, com programas e currículos
também diferentes, ocasionando a separação desta etapa em dois blocos, o que
dificulta a organização de ações coordenadas no interior das escolas visando
objetivos comuns.
A LDBEN n.9394/96, em seu artigo 32 (BRASIL, 2014, p.22), estabelece que
o objetivo do Ensino Fundamental de nove anos é a formação básica do cidadão
mediante: a) o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios
básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo (inciso I), b) a
compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das
artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade (inciso II), c) o
desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de
conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores (inciso III), e d) o
fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de
tolerância recíproca em que se assenta a vida social (inciso IV).
Pela Resolução n. 04/2010, o Conselho Nacional de Educação normatizou as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica e a Resolução n. 07/2010
definiu diretrizes curriculares nacionais para o Ensino Fundamental de 9 anos. É
importante destacar que, embora esta etapa se apresente com características
distintas em seus anos iniciais e finais, ela se constitui como etapa única de ensino e
“deve comprometer-se com uma educação com qualidade social, igualmente
entendida como direito humano” (BRASIL, 2010, art. 5º, §1º).
Prescreve ainda que a qualidade da educação como direito fundamental deve
ser relevante (promoção de aprendizagens significativas do ponto de vista das
exigências sociais e de desenvolvimento pessoal), pertinente (possibilidade em
atender as necessidades e características dos estudantes de diversos contextos
sociais e culturais e com diferentes capacidades e interesses) e equitativa (tratar de
forma diferenciada o que se apresenta como desigual no ponto de partida), visando
o desenvolvimento e aprendizagens equiparáveis, assegurando a todos a igualdade
de direto à educação (§2º, incisos I,II e III).
Porém, mais uma vez a legislação determina uma mudança substancial na
educação, mas não oferece as condições estruturais e pedagógicas a fim de que
esse direito seja garantido em sua essência. Para Sacristan (2001).
O exercício do direito à educação, [...]. Exige condições materiais que o tornem
realidade: a) que seja possível o acesso material a uma vaga na escola, garantia
que compete ao Estado assegurar. Os Estados costumam aceitar o direito em
suas legislações antes de prever as condições necessárias para exercê-lo; b)
possibilidade de assistir regularmente às aulas e permanecer na escola durante a
etapa considerada como obrigatória, sem obstáculos provenientes das condições
de vida externas ou das práticas escolares internas que possam levar à exclusão
ou à evasão escolar (SACRISTAN, 2001, p.19).
Assim, garantir o direito à educação para todos passa pela efetivação de
condições pedagógicas e políticas no âmbito da esfera governamental e das práticas
escolares internas. É preciso buscar formas de superação dos mecanismos que
contribuem para perpetuar a exclusão, oferecendo boas condições de ensino para
que o aluno possa e queira aprender.
Existe uma relação de interdependência entre as políticas educacionais e as
práticas educativas, porém de forma relativa, pois tanto em uma como na outra, é
possível que existam práticas que resistam à educação como privilégio e busquem
efetivar a educação como direito.
Nesse sentido, é preciso superar a organização do ensino que favorece a
fragmentação dos conteúdos do ensino fundamental de forma estanque e
descontínua, estabelecendo os mesmos tempos, metodologias e formas de avaliar
sem considerar a diversidade e os processos individuais na construção do
conhecimento. A organização dos conteúdos e processos educativos a que toda
sociedade tem direito, deve responder aos preceitos do direito e da obrigatoriedade
da educação.
Nas últimas décadas, nas pesquisas desenvolvidas sobre a passagem do 5º
para o 6º ano (DIAS-DA-SILVA, 1997; LEITE, 1993; ROSA e PROENÇA, 2003,
BARBOSA, 2008), muitas são as críticas às rupturas no tratamento das disciplinas e
na interação dos alunos com novos professores em maior número e muito diferentes
entre si. Como cada professor responde por uma disciplina, a articulação entre elas
acaba sendo pouco planejada.
Dias-da-Silva (1997) observou que os professores não só desconsideram o
que os alunos já sabem a respeito dos conteúdos propostos como também
minimizam sua bagagem cultural e subestimam seus hábitos escolares e suas
atitudes, ignorando a importância de rever os conteúdos já trabalhados nos anos
iniciais.
Os docentes dos anos finais, preocupados em cumprir o programa,
constantemente percebem os alunos desta etapa como “imaturos, indisciplinados e
sem base” (CARVALHO e MANSUTTI, s/d). Nesse sentido, a estrutura na qual tem
funcionado o Ensino Fundamental, não tem favorecido a articulação necessária para
o planejamento e a execução de formas mais eficazes de ensino.
No decorrer dos séculos – desde a chegada dos jesuítas até os dias atuais –
observamos que ocorreram muitas mudanças na organização do ensino, em suas
finalidades e objetivos. Muitas leis foram criadas e modificadas. Algumas ficaram só
no papel, outras foram postas em vigor. O fato é que ainda temos muito a melhorar
quanto ao ensino no país.
Tal análise nos leva a compreender que a constituição do Ensino
Fundamental só se deu no processo de democratização do ensino público, no
aumento da oferta de vagas e na busca pela igualdade de direitos. Porém, como
bem visto, a previsão legal não garante que a realidade seja transformada. É
necessário um conjunto de fatores que contribuam para essa transformação. O êxito
legal só é possível quando se agregam ações extra e intraescolares
(governamentais, sociais e de organização interna do processo educativo) a favor de
objetivos que tenham o compromisso de interferir no contexto existente, ou seja, a
legislação só será eficaz se as pessoas envolvidas no processo estiverem realmente
comprometidas com a sua aplicação.
3 O CURRÍCULO PARA O ENSINO FUNDAMENTAL: UMA CONSTRUÇÃO
HISTÓRICA
Quando questões fundamentais de currículo não são dirigidas por educadores, os caprichos econômicos ou políticos formam o caminho e as práticas educacionais são governadas à revelia. Schubert (1986, p.1)
Ao analisar a história do ensino primário e secundário – com base na análise
da organização do currículo – podemos afirmar que seus objetivos estiveram
atrelados às funções mais amplas, vinculadas ao contexto socioeconômico-político
de cada período histórico, bem como ao papel que a educação deveria
desempenhar na conservação, ou na transformação da realidade, de modo geral.
No final do século passado e início deste, as políticas curriculares, sob a
ascensão das teorias neoliberais e efeitos da globalização, sofreram significativas
reformas nos objetivos e finalidades dos sistemas de ensino, as quais modificaram
conteúdos escolares e métodos de aprendizagem além de gerar novas formas de
avaliar seus resultados, tendo como referência competências definidas previamente
a serem adquiridas durante a escolaridade básica. Tudo isso produziu normas
comuns de gestão e referências para comparar as instituições escolares entre si e
os sistemas de ensino. A partir da avaliação dos resultados de uma suposta
aprendizagem, escolas e sistemas passaram a ser ranqueados.
Esse processo gerou uma padronização do que se consideram competências
fundamentais a serem adquiridas e um sistema de avaliação internacional que
intensificou a competição no âmbito educacional, trazendo o currículo para o centro
de uma intensa disputa política, econômica e cultural.
Em razão das novas exigências sociais e econômicas da globalização, a
educação é declarada como fundamental para garantir, por meio do currículo,
formação de indivíduos competentes e preparados para uma economia competitiva.
E dessa forma, os estados nacionais com o apoio de agências internacionais (como
UNESCO, OCDE, UNICEF, PNUD1, Banco Mundial, entre outras) passaram a
interferir diretamente no currículo escolar. Em 1987, essas agências patrocinaram
pesquisas sobre os currículos escolares por meio do Centro de Pesquisa e Inovação
em Educação. Em 1990 patrocinaram a Conferência Mundial de Educação para
Todos, com o objetivo de estabelecer um “Plano para Satisfazer as Necessidades
Básicas de Aprendizagem” que pretendia ampliar e renovar o alcance do currículo
da educação básica. Tal plano tornou-se referência para organizações não
governamentais internacionais e governos que se comprometeram com a meta de
educação para todos (CHIZZOTTI, PONCE, 2012).
As reformas curriculares e educacionais no Brasil partilharam desse
movimento mundial. Nos anos 1990, o Brasil participou na definição das
necessidades básicas de aprendizagem, sujeito às condições e exigências do Banco
Mundial, entre as quais o apoio financeiro ao ensino fundamental. Disso resultou a
uniformização curricular do ensino fundamental através dos Parâmetros Curriculares
Nacionais e a introdução do PISA na avaliação dos resultados escolares sob
patrocínio do INEP, introduzindo de forma decisiva a avaliação dos sistemas de
ensino e das instituições escolares a partir dos resultados de aprendizagem dos
alunos.
Tal modelo de centralização da avaliação gera uma regulação da educação
escolar, aproximando-se de modelos empresariais de gestão e incorporando
iniciativas privadas. Os resultados devem ser mensuráveis e rápidos a fim de manter
o país em condições de competir internacionalmente.
Além disso, esse modelo de inspiração liberal contempla ainda diretrizes
curriculares de caráter nacional, acesso à base nacional comum de conhecimentos e
escolaridade obrigatória, como elementos para garantir a manutenção e
aprimoramento do Estado de Direito e a coesão na nação.
1 UNESCO: Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. OCDE:
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. UNICEF: Fundo das Nações Unidas para a Infância. PNUD: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Os currículos brasileiros, contraditoriamente, estão condicionados por duas
tendências: formar indivíduos para as competências e habilidades requeridas pela
concorrência das instituições educativas e pela competição globalizada do
conhecimento, e formar cidadãos para a coesão social e convívio coletivo.
Nesse contexto, as reformas curriculares manifestam uma luta pela
hegemonia política, claramente revelada pelos conflitos e coexistência de diferentes
concepções de educação escolar e de conhecimento. “Como prática social de cunho
educativo e pedagógico, o currículo é expressão de natureza sócio-política, como
tem sido reconhecido pelas duas tendências” (CHIZZOTTI, PONCE, 2013, p. 32).
O impacto destas reformas é inevitável. Não há como pensar o currículo sem
os seus sujeitos, pois é na prática pedagógica que ele se concretiza.
O currículo é uma práxis, não um objeto estático. Enquanto práxis é a expressão da função socializadora e cultural da educação. Por isso, as funções que o currículo cumpre, como expressão do projeto cultural e da socialização, são realizadas por meio de seus conteúdos, de seu formato e das práticas que gera em torno de si. Desse modo, analisar os currículos concretos significa estudá-los no contexto em que se configuram e através do qual se expressam em práticas educativas (SILVA, 2006, p. 4820).
Então, ele é o contexto da prática pedagógica e, ao mesmo, é contextualizado
por ela. O papel da escola, do conhecimento e do currículo situa-se nesse contexto
e como construção histórico-cultural não fica imune a essas transformações,
passando a servir de controle para a eficácia social da escola. Se, por um lado, sua
história é marcada por decisões com intuito de adequá-lo às exigências sociais,
econômicas e culturais de cada época, por outro, apresenta a possibilidade de
criticar o status quo. Trata-se de uma dupla perspectiva na atuação da educação
escolar: perseguir as grandes mudanças, tendo em vista o desenvolvimento humano
(o que pode levar um longo prazo) e, ao mesmo tempo, colocar em prática uma
ação pontual, direta e imediata na realidade tal qual ela se apresenta.
Sua construção é, portanto, o resultado de um conjunto de interesses e forças
sobre o sistema educativo, que expressam e organizam os saberes, que por sua
vez, expressam as práticas escolares na formação dos sujeitos, que também são
históricos e sociais. Nesse sentido, deve possibilitar tanto os saberes nele inseridos
como também, os movimentos contraditórios enfrentados pela sociedade e de que
forma os sujeitos se inserem neles.
A ampliação do debate sobre currículo e sua prática têm revelado o quanto a
sociedade oculta e revela, ao mesmo tempo, as intencionalidades e pressupostos da
educação. Esse contexto torna mais urgente ainda que avancemos na reflexão
sobre a teoria e prática curriculares, analisando o currículo, tanto em seus conteúdos
como em sua forma, pois só assim compreenderemos a função e os fins da escola
em suas diferentes modalidades e níveis.
As reformas curriculares geralmente obedecem à lógica de que é através
delas que se pode dar uma resposta mais adequada à melhora das oportunidades
dos alunos e da sociedade, ou seja, propõem-se reformas muito mais para ajustar o
sistema educativo às necessidades sociais do que para mudá-lo. Por isso mesmo,
[...] entender o currículo num sistema educativo requer prestar atenção às práticas políticas e administrativas que se expressam em seu desenvolvimento, às condições estruturais, organizativas, materiais, dotação de professora, à bagagem de ideias e significado que lhe dão forma e que o modelam em sucessivos passos de transformação (SACRISTAN, 2000, p. 21).
A primeira e elementar compreensão que temos de currículo é a de uma
relação de conteúdos das diferentes ciências, das humanidades, artes, tecnologias,
ou seja uma seleção particular de cultura. Mas, não se esgota no rol dos conteúdos,
abrangendo objetivos, atividades, diretrizes e outros componentes que colaboram
para definir um projeto global de educação para os alunos. “O conteúdo é condição
lógica do ensino, e o currículo é, antes de mais nada, a seleção cultural estruturada
sob chaves psicopedagógicas dessa cultura que se oferece como projeto para a
instituição escolar” (SACRISTAN, 2000, p. 19). Se nos esquecermos disso, nos
distanciamos da função cultural da escola e do ensino e da relação que deve ser
estabelecida entre a prática escolar e o mundo do conhecimento. “Uma escola sem
conteúdos culturais é uma proposta irreal, além de descomprometida”.
A escola é o espaço privilegiado para a transmissão da cultura produzida
historicamente, sem desvincular-se da formação política. Formação essa que
pressupõe desenvolver capacidades para criticar a sociedade e o conhecimento
produzido por ela.
Então, o significado último do currículo é dado pelo contexto em que se
insere, seja da aula, o pessoal e o social, o histórico e o contexto político. Para dar
conta desse processo, a teoria possível deve ser crítica, pois evidencia as realidades
que o condicionam. Uma visão tecnicista não dá conta de explicar a realidade dos
fenômenos curriculares ou contribuir para mudá-los, porque desconsidera que o
mesmo depende dos contextos em que se desenvolve e ganha significado, ou seja,
apenas simplifica o currículo.
Conceber então o currículo como uma construção social, significa entender
que ele se configura dentro de um mundo de interações sociais e culturais. Grundy
(1987, p. 5, apud SACRISTAN, 2000, p.14), observa que
O currículo não é um conceito, mas uma construção cultural. Isto é, não se trata de um conceito abstrato que tenha algum tipo de existência fora e previamente à experiência humana. É antes, um modo de organizar uma série de práticas educativas.
Nessa perspectiva, ele constitui um dispositivo em que se concentram as
relações entre a sociedade e a escola, entre os saberes e as práticas socialmente
construídas e os conhecimentos escolares. Não há como negar sua importância no
processo educativo escolar. É através dele que tudo acontece na escola. Nele estão
sistematizados todos os esforços pedagógicos, ou seja, é o coração da escola, onde
todos atuam.
O documento “Subsídios para Diretrizes Curriculares Específicas da
Educação Básica” (2009) preconiza que
[...] faz-se míster enfrentar alguns entraves que se situam na escola e são de sua responsabilidade. Entre eles, vale destacar a formação e valorização dos docentes, assim como a construção de currículos que se mostrem mais adequados à realidade de nossos estabelecimentos escolares e às necessidades de todos os sujeitos envolvidos no processo educativo. Para isso, revela-se tarefa urgente a elaboração de subsídios para que a escola e os professores possam formular e desenvolver currículos atualizados, atraentes e capazes de facilitar o acesso de todos aos bens simbólicos produzidos na vida social. Além disso, urge que tais currículos tanto promovam a formação de uma base nacional comum quanto acolham a diversidade que caracteriza a sociedade brasileira e nossas escolas (BRASIL, 2009, p. 8).
É evidente nesse documento que o currículo escolar supõe a participação de
todos, sendo um instrumento social de responsabilidade coletiva. Quando o currículo
é pensado e elaborado pelo estado ou por outras agências, já é desqualificado em
seu ponto de partida, como prática social, pois desvaloriza os sujeitos no processo
curricular, reduzindo a autonomia dos educadores e restringindo os espaços
coletivos de formação e debate.
Como a palavra currículo tornou-se tão familiar aos que trabalham nas
escolas, passou a ser usada indistintamente em vários espaços e discursos e, por
vezes, não nos dispomos a refletir sobre o real sentido do termo. O termo curriculum
é derivado da palavra latina currerem, e significa caminho, trajeto, percurso. Os
registros em que aparece a palavra curriculum aplicada aos meios educacionais pela
primeira vez, remontam ao século XVI e traziam a ideia de terminalidade, de
sequência, de intencionalidade, em função de determinada eficiência social, já que
para que o aluno obtivesse o certificado de conclusão de um curso era necessário
completar o curriculum de seus estudos. Em outros termos, passa a associar-se à
ideia de organização.
Ainda que o termo remonte à Grécia de Platão e Aristóteles, seu uso se
encaixa perfeitamente quando a escolarização se volta para atender uma grande
parcela da população, necessitando estruturar-se em níveis e passagens e de certa
ordem e sequência na escolarização. Sobre isso, Sacristan observa que,
O currículo recebeu o papel decisivo de ordenar os conteúdos a ensinar; um poder regulador que se somou à capacidade igualmente reguladora de outros conceitos como o de classe (ou turma), empregados para classificar os alunos entre si e agrupá-los em categorias que os definam e classifiquem.[...] A partir do momento em que eles passaram a admitir um grande número de alunos, foi necessário estabelecer entre estes a distinção de graus, os quais organizados em sequência e de acordo com a complexidade de seus conteúdos, permitiram a transição ao longo da escolaridade sem etapas bruscas entre um curso e outro. Os graus se tornaram correspondentes às idades dos alunos, e assim o currículo se transformou em um importante regulador da organização do ensino, proporcionando coerência vertical em seu desenvolvimento (2013, p.17-18).
Sendo assim, passou a determinar quais conteúdos serão ensinados,
estabeleceu níveis e tipos de exigências para cada etapa de escolaridade e ordenou
o tempo escolar (o que ensinar e quando ensinar), tornando-se um regulador das
pessoas e, assim sendo, também passou a ser inevitavelmente controlado. Por tudo
isso, tornou-se uma invenção decisiva para a estrutura da escolaridade de hoje e de
como a entendemos e, a partir do conjunto de elementos regulados por ele,
constituiu-se um padrão do que será fracasso ou sucesso, normal ou anormal, se a
escola será satisfatória ou insatisfatória, quem cumpre o estabelecido e quem não.
Em nosso idioma esse termo bifurca-se em dois sentidos: por um lado refere-
se ao percurso e êxitos da vida profissional, ou seja, aquilo que denominamos
Curriculum Vitae. E de outro lado, refere-se à carreira do estudante, mais
concretamente aos conteúdos deste percurso e como estão organizados, ou seja,
aquilo que o aluno aprende e em que ordem deverá fazê-lo. Se a escolaridade é um
percurso, o currículo é seu recheio, seu conteúdo e guia do progresso do aluno.
Moreira e Candau (2008) afirmam que à palavra currículo são associadas
concepções resultantes dos diferentes modos sobre como concebemos a educação
historicamente, assim como das influências teóricas, sociais, econômicas, políticas e
culturais que a afetam e se fazem hegemônicas em um dado momento. Ainda que
nenhuma dessas concepções possa ser considerada a mais correta ou a mais
adequada, não há como negar que ao discutirmos sobre currículo, necessariamente
discutimos sobre os conhecimentos escolares, as metodologias de ensino, os
valores a serem aceitos, a construção das identidades por nossos alunos, ou seja,
aquilo que precisa ser considerado quando se quer organizar a escola ou o sistema
escolar.
Apesar da relevância do debate sobre o currículo da escola fundamental,
essa é uma questão que não ganhou força suficiente para questionar a estrutura
curricular de nossas escolas que, há muitas décadas tem permanecido com a
mesma configuração. Em termos de política pública, esse debate é de extrema
relevância, já que toda e qualquer política educacional só tem sentido se for para
prover um conteúdo cultural que proporcione aos alunos formar-se como cidadãos.
Não obstante, pouca atenção tem sido dada à importância do currículo para a
efetiva qualidade do ensino. Especialmente nos últimos anos, tanto as políticas
públicas quanto a academia tem preferido conduzir, quase que exclusivamente, suas
iniciativas e análises nos resultados das avaliações em massa, quando estas
priorizam os conhecimentos adquiridos e distanciam-se da cultura em seu sentido
pleno. Para além do real poder das avaliações externas em verificar a aquisição de
conhecimentos, será que seus resultados servem de parâmetros para apontar se o
Estado está provendo cultura às pessoas?
De outro modo, esse provimento não pode reduzir-se somente à apropriação
de conhecimentos mínimos necessários para que o indivíduo viva em sociedade,
siga os níveis de escolaridade ou esteja apto para um emprego. Tomar a educação
como apropriação da cultura vai muito além de cumprir essas metas, refere-se à
apropriação da cultura entendida como direito à própria humanização do indivíduo.
Para Mello e Souza (2004), humanização é entendida como
[...] o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como no exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa
disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso de beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor (MELLO; SOUZA, 2004, p. 144).
Essas características somente nos são dadas pela educação como
apropriação da cultura, ou seja, nos tornamos humanos à medida que nos
apropriamos dos conhecimentos que nossos antepassados nos deixaram por
herança histórica. Então, não é democrático que essa herança seja distribuída para
alguns e não para outros, de forma desigual e em pequenas porções, negando as
condições objetivas para que todos possam desenvolver-se culturalmente.
A partir desse discernimento, pode-se compreender que o currículo
corresponde ao conjunto de esforços pedagógicos promovidos na escola, com o
propósito de organizar e tornar efetivo o processo educativo, ou seja, para produzir
aprendizagem (MOREIRA e CANDAU, 2008). Não obstante, qual é a porção de
cultura que a escola possibilita enquanto se está nela? Como dividir socialmente a
cultura selecionada aos alunos que frequentam o sistema escolar em seus
diferentes níveis e modalidades? O que representa essa porção de cultura quanto
ao capital comum disponível em uma sociedade?
Saviani (1984. p.2) traduz essa função da escola quando diz que “[...] o
trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo
singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos
homens”. Por isso é objeto da escola identificar os elementos culturais (conteúdos
essenciais, fundamentais) que precisam ser apropriados pelos indivíduos a fim de
humanizá-los e, por outro lado, descobrir formas mais adequadas (organização dos
meios: conteúdos, tempos, espaços e procedimentos) para atingir esse objetivo.
É preciso insistir que a importância fundamental do currículo reside no projeto
social/cultural que a instituição de ensino idealiza para ser desenvolvido com os
alunos (e para eles), aquilo que considera adequado para o desenvolvimento do ser
humano como indivíduo e cidadão. Uma das formas para que isto se efetive de fato
é a construção de um projeto de escola elaborado por toda a comunidade escolar.
Nas instituições escolares, o Projeto Político Pedagógico (PPP) é o
documento que cumpre esse papel, pois nele são detalhados os objetivos, diretrizes
e ações para o projeto educativo a ser desenvolvido, devendo constituir-se em uma
proposta de construção coletiva. As finalidades e necessidades dos alunos,
professores, funcionários e comunidade escolar, de modo geral, estão definidas
nele, dentro de um contexto próprio. Para Libâneo,
O Projeto, numa perspectiva progressista, é o meio pelo qual os agentes diretos da escola tornam-se sujeitos históricos, isto é, sujeitos capazes de intervir conscientemente e coletivamente nos objetivos e nas práticas de sua escola, na produção social do futuro da escola, da comunidade e da sociedade (2004, p.160).
Assim, pode-se dizer que construir um PPP e, consequentemente, uma
proposta curricular não é tarefa simples; é um exercício democrático que desafia
toda a comunidade escolar, pois requer tempo e implica em erros e acertos, avanços
e retrocessos, além do trabalho individual e coletivo.
Muitas vezes o ritmo no tratamento dos conteúdos é acelerado em justificativa
à sobrecarga dos programas escolares. Essa ação pode causar certa
superficialidade no tratamento de conteúdos essenciais, além de implicar à quais
aprendizagens deve-se dedicar mais tempo, qual o padrão de qualidade, níveis de
exigência, relação professor-aluno, no conteúdo da profissionalização docente.
Muitos problemas de aprendizagem são, muitas vezes, resultados da
descoordenação entre professores, descontinuidade de estilos pedagógicos, de
ausência de decisões coletivas por todos os professores.
Quando o aluno transita dos anos iniciais para os anos finais do ensino
fundamental, ele passa a conviver com uma organização escolar até então
desconhecida: diferentes disciplinas compartilham horários e professores com níveis
de exigência distintos, posições variadas com relação às regras em sala de aula e à
organização do trabalho escolar, diferentes concepções com relação ao ensino e
aprendizagem dos conteúdos e a relação professor-aluno.
A organização curricular dos anos finais do EF muitas vezes rompe com o
que vinha sendo ensinado anteriormente, realçando esse descompasso, já que os
conhecimentos passam a ser tratados em disciplinas distintas e abordados de forma
isolada. Algumas vezes, por falta de uma análise mais substancial sobre a
organização dos anos iniciais, o professor avalia que os alunos chegam ao 6º ano
com um domínio de conhecimentos muito inferior ao desejável. Isso leva também a
uma repetição de conteúdos ou ao ensino de conteúdos novos sem relação com o
que já foi estudado.
A dimensão coletiva do planejamento escolar possibilita que o currículo seja
mais adequado e tenha maior possibilidade de transformação social. Além disso,
Sacristan (2000) aponta que é preciso estimular a mediação do professor como
integrante de um coletivo por múltiplas razões:
1) Porque o aluno que recebe o currículo é uma unidade de aprendizagem que requer coerência de tratamentos. Diversos professores propõem, às vezes, tarefas contraditórias e com níveis de exigência que fazem com que o trabalho do aluno fique mais difícil.
2) Aprendizagens e conteúdos sem coordenação repercutem numa cultura pouco integrada por falta de relações entre seus componentes, reflexo direto de tratamentos pedagógicos distintos por parte dos professores.
3) O currículo para um curso, nível, etc. propõe objetivos ou habilidades que todos os professores têm que atender, à margem da matéria especializada que lecionam.
4) O currículo para o aluno exige uma continuidade sequencial no tempo que exige a coordenação dos professores dentro de um curso, ciclo, etapa, etc.
5) A educação dos alunos e das próprias exigências do currículo pedem a realização de atividades que ultrapassam o âmbito de áreas ou disciplinas concretas, caso de atividades culturais, saídas ao exterior, etc.
6) Um contexto organizativo favorável ao melhor ambiente de aprendizagem reclama decisões coletivas por parte de todos os professores que incidem sobre os mesmos alunos (SACRISTAN, 2000, p 197-198).
Considerando que o ensino fundamental possui especificidades e
características próprias que distingue os anos iniciais dos finais, sendo que a
primeira etapa (1º ao 5º ano) é caracterizada por um processo inicial da criança na
aquisição da língua escrita, da linguagem matemática formal, da introdução aos
conteúdos sistematizados e pelo desenvolvimento sociocognitivo da infância. Já a
segunda etapa (6º ao 9º ano) é a continuidade no desenvolvimento dos conteúdos,
aprofundamento e domínio destes. Assim, ambas as etapas devem levar o aluno ao
pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo, da compreensão do ambiente
natural e social, do sistema político, das tecnologias e das artes (BRASIL/LDBEN,
1996).
É preciso considerar que os estudantes que frequentam os anos finais estão
também em uma importante etapa de desenvolvimento, na qual desenvolvem novos
recursos de pensamento que são bases para que os conhecimentos e conteúdos
adquiridos nos anos iniciais sejam aprofundados e ampliados, passando a constituir
um conjunto de saberes que colaboram para que eles compreendam sua realidade e
a forma como nela se atua, o que permite também conquistar um novo grau de
autonomia.
Nesse sentido, é necessário uma construção de elementos articuladores
entre estas etapas recorrendo à ideia de unidade ainda que diante de realidades
diversas e, consequentemente, repensar essa organização nas propostas
curriculares das escolas, sem perder de vista o papel da docência e da escola na
transmissão-assimilação do saber sistematizado e as concepções de sociedade,
educação, conhecimento, cultura e de currículo que orientam a escolha das práticas
educativas.
4 ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS
Este material pedagógico, composto por três eixos teóricos, discute a
organização do ensino fundamental, o público que o frequenta e o currículo prescrito
para esta etapa da escolaridade. Desta forma, poderá ser utilizado em debates e
discussões com os professores, equipe pedagógica e diretiva do Ensino
Fundamental, tanto dos anos iniciais quanto finais, na forma de encontros de estudo.
No caso específico da implementação em curso, também serão utilizados
para as discussões os dados referente aos resultados de desempenho, evasão,
reprovação e aprovação da instituição de ensino envolvida, além dos resultados da
aplicação de instrumentos de coleta de dados juntos aos professores, equipe
pedagógica e alunos do quinto e sexto ano do Ensino Fundamental.
Pretende-se que o mesmo também provoque um debate em torno do Projeto
Político-Pedagógico da instituição, reestruturação de sua proposta curricular em
continuidade à dos anos iniciais e sugestões metodológicas.
Esse aporte servirá para investigar a transição entre os anos iniciais e finais
do EF e, a partir de seus resultados, apresentar propostas de articulação que
busquem suavizar as rupturas entre as etapas.
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Título: A Gestão Democrática da Escola Pública como meio de
investigação dos processos democráticos que norteiam a gestão escolar
Tema de Estudo: Gestão Democrática da Escola Pública
Autora:
Maria Cirlene Prandini Ricieri Ferraz
Disciplina/área:
Gestão Escolar
Escola de Implantação:
Colégio Estadual Alberto Carazzai
Município da Escola:
Cornélio Procópio
Núcleo Regional de Educação:
Cornélio Procópio
Professora Orientadora:
Roberta Negrão Araújo
Instituição de Ensino Superior: UENP/Campus de Cornélio Procópio
Resumo: A Gestão Democrática da Escola Pública foi o objeto de estudo deste trabalho, considerando seu princípio na legislação vigente. Objetivamos investigar os processos democráticos que norteiam a gestão escolar do Colégio Estadual Alberto Carazzai. Como ponto de partida, embasamos o estudo nas teorias de alguns autores, que compreendem a gestão democrática como fundamental para a melhoria no ensino público. Destacamos a necessidade de fortalecer no âmbito da escola, uma proposta alicerçada no diálogo e na prática democrática, na qual os envolvidos sintam-se parte do todo e corresponsáveis no que se refere ao comprometimento na participação e nas tomadas de decisões no cotidiano escolar. Portanto esta proposta está organizada em encontros com os professores para estudo e reflexão, com o propósito de apontar meios teóricos e práticos para fundamentar e promover a construção da gestão democrática do referido Colégio, visando contribuir com a melhoria da qualidade da educação.
Palavras Chave: Gestão Democrática, Conselho Escolar, Projeto Político Pedagógico.
Formato do Material Didático: Unidade Didática
A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA PÚBLICA COMO MEIO DE
INVESTIGAÇÃO DOS PROCESSOS DEMOCRÁTICOS QUE NORTEIAM A
GESTÃO ESCOLAR
APRESENTAÇÃO
A presente Unidade Didática discute os processos que conduzem a gestão
escolar, com o intuito de efetivar a gestão democrática na instituição de ensino
lócus. Este instrumento está na forma da lei em nossa Constituição Federal de 1988
e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) n. 9.394/96. Desse
modo, as escolas passaram a ter legitimidade para exercer a democratização da
gestão enquanto possibilidade de melhoria do processo educacional.
A gestão democrática implica na participação de todos os segmentos da
comunidade escolar e na construção de espaços dinâmicos, marcados pela
diversidade e pelos distintos modos de compreender a escola.
Entretanto, a participação política ativa e pedagógica ainda que garantida
pelos instrumentos/legais organizacionais escolares e dos sistemas de ensino, não
se efetiva apenas pela existência dos mesmos. Os colegiados: Conselho Escolar,
Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF), Grêmio Estudantil e os
documentos norteadores: Regimento escolar e Projeto Político Pedagógico (PPP),
isoladamente, não são suficientes para a implementação da gestão democrática.
Com certeza, a auxiliam, mas podem se tornar meras burocracias e pouco
democráticas. O seu exercício só se confirma quando as pessoas do universo
escolar tomam a democracia e o diálogo como princípio não apenas das suas
relações na escola, mas como fundamento de vida, em todas as esferas da
sociedade.
Um dos princípios apresentados no PPP e no Conselho Escolar, é a
autonomia, outorgada à comunidade por meio da gestão democrática, assim torna-
se instrumento que assegura a participação do coletivo da escola na construção de
sua proposta pedagógica e nas tomadas de decisões para solucionar os problemas
no âmbito escolar.
A participação coletiva possibilita examinar questões educativas e
administrativas em busca da qualidade da educação, com a intenção de construir
uma escola que cumpra seu papel social, formando cidadãos críticos para atuar na
sociedade.
É preciso ponderar ainda que a participação coletiva é um dos aspectos
fundamentais da gestão escolar democrática, pois propicia a construção da
autonomia e da identidade da escola.
Com vistas a identificar a proposta de gestão adotada no Colégio Alberto
Carazzai, conceituar o processo de gestão democrática e definir os instrumentos
para sua efetivação na escola, foi organizado um estudo e elaborado um projeto de
intervenção que constitui uma ação do Programa de Desenvolvimento Educacional
(PDE).
A Produção Didática Pedagógica, aqui intitulada “Unidade Didática”, é
composta por textos que fundamentam os temas específicos da gestão escolar e
pretende subsidiar as reflexões em torno da gestão democrática de forma a
contribuir para que os professores compreendam esse processo da prática
democrática, e assim, possam sentir-se sensibilizados e mobilizados à participação,
envolvimento e compromisso nas tomadas de decisões.
Este estudo fundamenta-se em outros, já desenvolvidos por diferentes
autores que abordam essa temática, entre os quais destacamos: Vitor Paro, Ilma
Passos A. Veiga, Moacir Gadotti. Foram analisados ainda os cadernos que
fundamentam o Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares e a
legislação vigente, no sentido de levantar contribuições necessárias para pensar o
papel das instâncias Colegiadas e dos documentos norteadores na gestão
democrática da escola, tendo como foco o Conselho Escolar e o Projeto Político
Pedagógico.
Para a consolidação desse estudo, organizamos a Unidade Didática em três
seções:
Gestão Democrática – discute o conceito de gestão escolar dentro da legalidade,
historicidade, respaldada em pensadores no assunto para que possamos
compreender a importância da gestão democrática na escola pública, considerando
a participação como condição necessária. E uma reflexão acerca dos termos
descentralização, autonomia e participação, por considerá-los essenciais ao
entendimento do processo.
Conselho Escolar – Por ser um órgão da gestão escolar que inclui representações
das demais instâncias colegiadas, apresentamos apontamentos da legislação que
consolida esse colegiado num instrumento para efetivação da gestão democrática e
o embasamento teórico que sustenta sua implantação e implementação.
Projeto Político Pedagógico – reflexão da legalidade desse documento norteador
das ações da escola e da sua importância na organização do trabalho pedagógico
pautada na gestão democrática. Compreendendo que esse documento que planeja
essas ações deve ser elaborado e organizado coletivamente, sendo um meio para a
participação de toda a comunidade escolar na gestão democrática para a construção
de uma educação de qualidade.
Esperamos que esta Unidade Didática possa subsidiar os estudos com os
professores do Colégio Estadual Alberto Carazzai, contribuindo para a compressão
da importância da participação de todos os segmentos na construção da gestão
democrática, entendendo o Conselho Escolar e o Projeto Político Pedagógico, como
importantes instrumentos de democratização do espaço escolar.
1 GESTÃO DEMOCRÁTICA
A consolidação da gestão democrática pressupõe o rompimento com velhos
paradigmas de administração e impõe transformações nos campos escolares e nos
sistemas de ensino.
A gestão democrática exige a compreensão em profundidade dos problemas postos pela prática pedagógica. Ela visa romper com a separação entre concepção e execução, entre o pensar e o fazer, entre a teoria e a prática. Busca resgatar o controle do processo e do produto do trabalho pelos educadores (VEIGA, 1997, p.18).
O entendimento de Veiga pontua alguns tópicos que se relacionam com a
importância da gestão democrática no atual cenário educacional.
Para uma melhor compreensão da proposta da gestão democrática é preciso
contextualizar com a história os processos democráticos na Educação. Essa questão
é importante, em razão da efetivação do que Fusari (1993, p.25) declarou em
relação às reflexões históricas. Para o autor é segundo essas reflexões que
“poderemos nos reconhecer na construção histórica, esclarecendo como estamos
atuando e como queremos construir essa nossa história”. Certamente, além da visão
crítica, a análise histórica e a contextualização do processo democrático na
Educação nos dão fundamentos para pensar a prática de gestão escolar que ocorre
nos estabelecimentos de ensino e apresentar possibilidades criativas e flexíveis na
implantação de um tipo de educação que busca a democratização participativa.
Verificamos que a gestão democrática na educação nacional está instituída
no artigo 206 da Constituição Federal de 1988, que a estabelece como um dos
princípios para que o ensino seja ministrado: “VI – gestão democrática do ensino
público, na forma da lei;” (BRASIL, 1988) e no artigo 3° da LDBEN n.9.394/96, que
estabelece como princípios para que o ensino seja ministrado: “VIII – gestão
democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de
ensino;” (BRASIL, 1996).
Apesar de tardia, a gestão democrática chegou ao Brasil entre as décadas de
1960 a 1980, tomando boa parte das discussões e dos debates pedagógicos, tanto
no setor público quanto no setor privado. Segundo Vianna (1986), “[...] experiências
isoladas de gestão colegiada de escolas sempre existiram, mas não tiveram um
impacto maior sobre os sistemas de ensino”. Ainda na década de 1980, o tema
relacionado a democratização da gestão foi debatido na luta pela constituinte de
1988, data da promulgação da Constituição Brasileira que consagrou o princípio da
“gestão democrática do ensino público”.
Na década de 1990 o trabalho do gestor escolar passou a ser objeto de
debate, atribuindo a importância da gestão escolar como instrumento para a
promoção da qualidade na educação. Durante esta época vários países tiveram a
pretensão de “modernizar” os sistemas educativos. O discurso da modernização
das escolas questionava os princípios e finalidades da educação, especialmente o
seu caráter público e democrático e não apenas sua eficácia. Assim,
[...] tornar as escolas eficazes torna-se então, a principal, meta das reformas, o que por sua vez, implicaria, adotar também uma outra visão de gestão escolar, que sinalizasse para a emergência de uma nova cultura na escola, ancorada em três eixos: a descentralização, a autonomia e a liderança escolar (FONSECA, 1995, p.53).
A LDBEN n. 9.394/96 (BRASIL, 1996), estabelece e regulamenta as diretrizes
gerais para a educação e seus respectivos sistemas de ensino. Com esta lei, a
educação passa por grandes mudanças e passa por resguardar os princípios
constitucionais, inclusive de gestão democrática.
Na atualidade existe uma vasta literatura sobre a temática gestão escolar
democrática. São resultados de pesquisas que procuram identificar os fatores que
dificultam sua efetiva implantação. Por meio de leituras de alguns autores, verifica-
se que são inúmeros os motivos dessas dificuldades encontradas nas escolas
públicas brasileiras.
Mendonça (2001) defende que as bandeiras levantadas pela democratização
já haviam sido vencidas em países democráticos e no Brasil, moldada a influência
liberal, surge para servir a elite. O autor mostra que a participação é o foco principal
da gestão democrática, seguido pelos instrumentos de escolha de diretores,
implantação e funcionamento de colegiados, descentralização e autonomia.
[...] a gestão democrática é uma diretriz de política pública disseminada e coordenada pelos sistemas de ensino. [...] as dificuldades e as resistências na implantação de processos de gestão democrática ainda são muito intensas. [...] de diferentes naturezas. Para alguns, as resistências estão na interferência política sobre a educação. Outros apontam o funcionamento do próprio sistema como um fator limitador da democratização [...]. As resistências dos professores são também consideradas, expressando-se em geral pelo corporativismo, ao autoritarismo e a formação acadêmica deficiente. Os diretores [...] pela sua compreensão equivocada do processo eleitoral, pela centralização de informações e decisões, pelas autoridades como resistentes às iniciativas do estado (MENDONÇA, 2001, p.94).
O enfoque confirma que a resistência ao implantar a gestão democrática na
escola possui várias origens. Já Paro entende a gestão democrática como algo
utópico, ressaltando que
A palavra utopia significa o lugar que não existe. Não quer dizer que não possa vir a existir. Na medida em que não existe, mas ao mesmo tempo se coloca como algo de valor, algo desejável do ponto de vista da solução dos problemas da escola (PARO, 2002, p.9).
Paro levanta vários conceitos importantes, porém observaremos o sistema
hierarquizado, que para Paro esse sistema é pretensamente colocado nas mãos do
diretor, levando a uma dupla contradição que vive o diretor de escola hoje.
Esse diretor, por um lado, é considerado a autoridade máxima no interior da escola: e isso, pretensamente, lhe daria um grande poder e autonomia; mas por outro lado, ele acaba se constituindo, de fato, em virtude de sua condição de responsável último pelo cumprimento da Lei e da Ordem na escola, [...], por um lado, ele deve ter uma competência técnica e um conhecimento dos princípios e métodos necessários a uma moderna e adequada administração dos recursos da escola, mas, por outro, sua falta de autonomia em relação aos escalões superiores e a precariedade das condições concretas em que se desenvolvem as atividades no interior da escola tornam uma quimera a utilização dos belos métodos e técnicas adquiridos (pelo supostamente) em sua formação de administrador escolar,
já que o problema da escola pública no país não é, na verdade, o da administração de recursos, mas o da falta de recursos (PARO, 2002, p.52).
A estrutura administrativa deve passar por transformações urgentes, desde a
forma da organização do poder e da autoridade no interior das escolas, fortalecendo
os órgãos colegiados, aos processos coletivos para a escolha dos gestores
escolares, para que as eleições sejam legitimadas, até o envolvimento da
comunidade externa à escola, mostrando a necessidade da escola neste
envolvimento, para fazer-se educativa.
A função principal da escola pública é de socializar o saber sistematizado, o
qual é relevante ao exercício da cidadania. Assim deveria garantir aos indivíduos
pertencentes a uma determinada sociedade conhecimento, enquanto instrumentos
necessários à participação e às transformações sociais. No entanto no dia a dia
escolar observa-se que as apropriações desses conhecimentos têm sido quase
exclusivas das classes dominantes. Esta situação tem trazido prejuízos às camadas
populares, porque a escola não garante a posse desse instrumento.
As causas desses prejuízos vão desde a negação ao atendimento dos níveis
mais elevados de escolarização pela seletividade interna na própria escola, até a
desqualificação do trabalho escolar, incluído entre outros aspectos a centralização
das tomadas de decisão e a prática pedagógica resultante desses processos
(PRAIS, 1994).
Desta forma, todos os relatos teóricos nos motivam a buscar a equidade na
educação pela gestão democrática. Há que se ter em mente que esta modalidade é
processual e, consequentemente, se avalia e se reorganiza a cada dia, com caráter
sobremodo pedagógico envolve, entre outros, o conhecimento da legislação e a
participação nas peculiaridades inerentes ao cargo de dirigente escolar, a
implantação e o fortalecimento de instrumentos de participação.
Dentre os principais instrumentos, o PPP é fundamental para a elaboração de
uma proposta respaldada em pressupostos democráticos. Segundo a LDBEN, em
seus artigos 13 e 14, a elaboração da proposta pedagógica deve contar com a
participação dos profissionais da educação. Com tais recursos, a lei concede
destaque à função da escola e dos educadores na construção de projetos
educacionais articulados às políticas nacionais e as diretrizes dos Estados e
Municípios, sendo capazes ao mesmo tempo de considerar a realidade específica de
cada escola.
Como afirma Freire (2001, p.84), “O mundo não é. O mundo está sendo. [...]
Não sou apenas objeto da história, sou sujeito igualmente. [...] caminho para a
inserção, que implica decisão, escolha, intervenção na realidade”. Este autor
representa a premissa emancipatória que viabiliza a visão de totalidade.
Portanto, a conquista da autonomia da escola é atingida quando se entende o
significado de sua proposta pedagógica, porque é fruto da ação de todos os
envolvidos na dinâmica do processo ensino-aprendizagem, participantes na
autorreflexão do trabalho educativo, ato político coletivo. Cada proposta pedagógica
retrata a identidade da escola, por isso a importância de construí-lo com a
participação de todos os que fazem parte da educação.
Com o propósito de que os instrumentos de participação como PPP e o
Conselho Escolar tenham respostas satisfatórias consolidando a gestão democrática
da escola, é preciso estar alicerçado na função social da educação e da escola, que
se pauta na “preparação do cidadão para sua inserção na sociedade, na qual viverá
como cidadão e como profissional de alguma área da atividade humana”
(MORRETO, 2005. p.73). O projeto da educação, considerando os alunos como
seres pensantes e que trazem uma história de vida, na medida em que se
compreende que este não é algo pronto e acabado.
Enfim, a educação é uma prática social e histórica e, por isso, revela
concepções e projetos de sociedade.
A educação é antes de mais nada, desenvolvimento de potencialidades e a apropriação de “saber social” (conjunto de conhecimentos e habilidades, atitudes e valores que são produzidos pelas classes, em situação histórica dada de relações para dar conta de seus interesses e necessidades). Trata-se de buscar, na educação, conhecimentos e habilidades que permitam uma melhor compreensão da realidade e envolva a capacidade de fazer os próprios interesses econômicos, políticos e culturais (GRYZYBOWSKI, 1986 apud FRIGOTO, 1996).
A luta por uma escola cada vez mais democrática, com a participação de toda
a comunidade escolar é o compromisso que deve ser assumido por todos os
profissionais da educação.
Refletir algumas concepções como autonomia, descentralização e
participação, faz-se necessário, pois são marcas da gestão democrática e muito
utilizadas a partir da década de 1980 no âmbito da gestão e administração, no
sentido de democratização da escola. No contexto educacional esses termos
podem ser compreendidos de diferentes maneiras, como:
a) Descentralização: este termo vem sendo utilizado na educação nas
discussões em relação a democratização da gestão pública. Porém, pode
ser compreendido de maneiras diversas. Para Souza (1997),
descentralização se exprime como um conceito vago e polissêmico, por
essa razão pode ser interpretado e utilizado de maneiras diversificadas.
Segundo Perez (1994), descentralização pode se caracterizar como:
desconcentração, delegação, devolução e privatização;
b) Desconcentração: indica a delegação de autoridade de competência do
governo central para as regiões e localidades, todavia o governo central
mantém o controle do poder;
c) Delegação: indica a transferência de algumas responsabilidades
pertencentes à educação para um agente paraestatal, mas controladas e
reguladas pelo governo central;
d) Devolução: se expressa através do fortalecimento e autonomia dos
governos regionais e locais e não requer controle direto do governo
central;
e) Privatização: consiste na progressiva transferência do controle
governamental para o controle privado.
Diante do exposto entendemos o prejuízo desta ação implícita no termo ao
transferir para a sociedade a responsabilidade pela gerência da educação, passando
a ideia para a comunidade que ela pode identificar melhor os problemas e solucioná-
los. Assim o Estado encobre seu interesse em privatizar alguns setores públicos,
diminuindo suas responsabilidades econômicas e sociais.
A descentralização pode ser também compreendida segundo (VEIGA, 1988)
como poder de deliberar, com a criação de órgãos colegiados, oportunizando a
comunidade de atuar nas decisões da escola, ficando ciente dos seus direitos e
deveres. Deste modo, a implantação do Conselho Escolar se manifesta como um
meio inédito de conduzir uma instituição pública numa proposta de construção
coletiva da melhoria do ensino.
A descentralização só existe no momento em que as decisões locais possuem uma certa autonomia e emanam de uma coletividade e não do Estado. O ponto central a ser considerado no processo de descentralização é que este pode estimular e abrir oportunidades para a participação social mediante o deslocamento dos centros decisórios, a descentralização é um
meio para favorecer a participação. Por outro lado, a descentralização só se torna possível pela participação (ABRANCHES, 2003, p. 18).
No entendimento de Abranches a descentralização é tida como um
instrumento para a construção de um projeto social com participação coletiva. Logo,
o Conselho escolar, como componente de uma prática social descentralizadora,
consolida a construção de um projeto social comprometido com a expectativa da
maioria que, para Bastos (2002) a gestão democrática da educação possibilita
resgatar o caráter público da administração pública, garantindo a liberdade de
expressão, diante do controle estabelecido pela sociedade civil sobre a escola
pública e a educação.
Por considerar relevante, ressalta-se que a descentralização resulta na
suplantação da gestão centralizadora por uma gestão colegiada, em que as
decisões são tomadas nas discussões dos segmentos escolares, tendo forte impacto
na construção da autonomia da escola.
1.1 AUTONOMIA
O que é autonomia? A palavra autonomia vem do grego, e significa
autogoverno, governar-se a si próprio. Neste sentido uma escola autônoma é
aquela que governa a si própria. No âmbito da educação este termo vai além do
processo dialógico de ensinar presente na filosofia grega que pregava a capacidade
do aluno de buscar a resposta aos seus questionamentos, exercitando, portanto, sua
formação autônoma. A ideia de uma educação antiautoritária, vai construindo ao
longo dos séculos, a noção de autonomia dos alunos e da escola, muitas vezes
compreendida como autogoverno, autodeterminação, auto formação, autogestão, e
construindo uma forte tendência na área (GADOTTI, 1992).
Os educadores comprometidos com a democratização da educação pública
associam a autonomia à ideia de participação social, mas é também utilizada pelo
neoliberalismo que passa a defender reformas educacionais, concedendo um poder
relativo às escolas com ordens administrativas pautadas na lógica do mercado
conferindo um poder relativo às escolas, as quais, assumem responsabilidades que
em regra é competência do Estado.
Para Oliveira (1999), na concepção neoliberal de autonomia atribui-se um
relativo poder às escolas, para resolver sozinha seus problemas, não deixando outra
alternativa, se não a busca de parceria com empresas e outros meios de
manutenção, assim o Estado diminui suas obrigações perante a escola e vai se
eximindo em seu papel de oferecer serviços de direitos sociais de sua
responsabilidade, entre os quais a educação.
Já a autonomia, aquela defendida pelos educadores se fundamenta na
concepção de fortalecer a democracia no sentido legítimo, buscando a formação de
seres humanos autônomos, emancipados e envolvidos com a causa pública.
Macedo (1991, p.131) declara que a autonomia pressupõe auto-organização
“Ao auto organizarem-se, isto é, ao estruturar-se na realização de objetivos que
define o sistema diferencia-se de outros sistemas, com quem está em inter-relação,
criando a sua própria identidade. É um sistema autônomo.” Assim, presume-se que
a autonomia seja capaz de identificar-se e diferenciar-se dos outros. Porém esta
capacidade de diferenciação só é provável que ocorra na inter-relação com os
outros. “Quanto mais são as trocas de energia, informação e matéria que um
sistema estabelece com o “meio”, maior é a sua riqueza, a sua complexidade, as
possibilidades de construção da autonomia” (p. 132). De acordo com a autora, a
base da autonomia da escola passa pela habilidade de fazer trocas com os outros
sistemas que envolvem a escola. A autonomia não é algo que se encontra pronto,
mas um processo que se constrói na inter-relação, porque somente desta maneira a
escola cria a sua própria identidade.
Barroso afirma que “[...] a escola não será apenas uma instância hetero
organizada para a reprodução, mas também uma instância auto organizada para a
produção de regras e tomada de decisões” (1996, p.31).
Nesta compreensão, podemos considerar que a construção da autonomia da
escola deve acontecer pela interação dos diferentes sujeitos/segmentos que compõe
a unidade escolar, na qual existe interesses diversos que precisamos conhecer e
saber relacionar com as relações sociais mais amplas, respondendo às
necessidades da escola.
Desta maneira, entende-se que a autonomia possibilita a manifestação de
uma democracia legítima, pela atuação objetiva dos segmentos da escola, contra a
lógica dos ordenamentos administrativos que estão postos, que não consideram os
sujeitos envolvidos, seus desejos e suas necessidades.
Sabemos que a tão propagada democratização das escolas públicas está
sujeita às mudanças que estão ocorrendo em nosso cenário político, desde a época
da queda da ditadura militar. Os reformadores dos sistemas de ensino, muitas
vezes, respondem a esta demanda transferindo responsabilidades para as escolas,
tarefas que eram concentradas na própria administração do sistema de ensino.
Diante das considerações apresentadas nota-se que a autonomia, muitas
vezes, consta em documentos, mas na prática, cumprimos determinações, não
estamos vivenciando uma escola totalmente autônoma, pois tido depende de algo
que não está ao nosso alcance.
A autonomia existe na mesma dimensão que as relações sociais em que ela
acontece, é construída tanto individual, quanto coletiva e institucionalmente por esse
caminho. A luta, portanto, é por uma escola cada vez mais autônoma, pela inserção
dos sujeitos, dando-lhes vez e voz em sua participação.
1.2 PARTICIPAÇÃO
Neste contexto complexo em que se formam as discussões da gestão
democrática da escola, referente ao conceito de participação, as apropriações e
entendimentos não são os mesmos que podem ser observados sob duas
perspectivas diferentes: de um lado, os defensores da ordem neoliberal, para não se
opor às reivindicações de democratização da educação pública passam a utilizar os
mesmos termos, mas com outros significados, assumindo a participação no sentido
de desobrigar o Estado de suas responsabilidades históricas e assim transferir a
terceiros (sociedade civil, igreja, empresa) a competência de programas que
deveriam ser do Estado.
De outro lado os educadores comprometidos com a construção da escola
democrática concebem a participação como um dos elementos essenciais à
democratização da escola pública, oportunizando a participação da sociedade, pela
ampliação dos direitos de cidadania e pela inclusão social.
De acordo com Lima (2001, p.69), “participação é hoje uma palavra chave
onipresente nos discursos político, normativo e pedagógico.” Todavia essa
participação cidadã fica muitas vezes no discurso, pois encontra dificuldades em
efetivar-se, devido as contradições no interior da escola entre grupos antagônicos.
Dentre os mecanismos de participação destaca-se o Conselho Escolar, por
reunir representações que criam condições para a abertura de processos mais
democráticos na escola. Porém, a participação só se efetiva quando as pessoas
que são chamadas a participar são colocadas em condições adequadas para tal.
(BOBBIO, 2000). A fim de que isso aconteça, é preciso que os envolvidos tenham
conhecimento de toda a organização escolar e dos documentos que normatizam a
instituição escolar.
Como argumenta Freire (1995, p.91)
É preciso e até urgente que a escola vá se tornando em espaço escolar acolhedor e multiplicador de certos gostos de democráticos como o de ouvir os outros, não por puro favor, mas por dever, o de respeitá-los, o da tolerância, o do acatamento e que não falte, contudo o direito de quem diverge de exprimir sua contrariedade.
Nesta lógica, as escolas precisam avaliar suas práticas enquanto espaços
acolhedores, de discussão e de tomadas de decisões e mesmo de discordar das
decisões da maioria.
Contudo, são muitos os desafios para a efetivação da participação no dia a
dia da escola ao que se estabelece nos documentos que regulamentam e pregam a
gestão democrática, um deles é diminuir significativamente a distância entre a teoria
e prática, construindo na escola movimentos democráticos concretos.
Segundo Antunes (2002, p.35), “[...] democracia é algo que se aprende e se
aprende, principalmente praticando-a, vivenciando-a”. Se o que pretendemos é uma
sociedade justa, igualitária e isso se dará se a mesma for democrática, temos que
ser capazes de transpor o discurso da democracia, vivenciando-a em todos os
espaços possíveis. O espaço escolar é o local onde os educadores podem contribuir
efetivamente para esta prática. Nesta perspectiva superam-se concepções
meramente burocráticas e dificuldades, que não devem ser vistas como obstáculos e
sim como desafios a serem vencidos.
Considerando neste estudo que a gestão democrática se efetiva nas ações da
escola, as quais precisam ser projetadas, implementadas e avaliadas, com a
participação da comunidade escolar e local, investigamos os processos
democráticos que conduzem a gestão escolar pública na construção de meios para
a efetivação da democracia.
Tanto na legislação quanto na literatura da área, as instâncias colegiadas são
importantes instrumentos para a democratização do espaço escolar. Assim, dentro
dos colegiados, pontuamos o Conselho Escolar para discussão, uma vez que o
mesmo compõe todos os segmentos da escola e também da comunidade local.
2 CONSELHO ESCOLAR
A escola pública tem a função social de formar o cidadão solidário, crítico,
ético e participativo em sua comunidade. Para isso é necessário a socialização do
saber que se acumula historicamente e que se transforma em patrimônio universal
da humanidade, o qual deve ser levado a conhecimento do aluno que traz da sua
vivência o saber popular. A junção desses saberes torna-se instrumento para a
democratização da sociedade.
Considerando que o objetivo essencial da educação é a formação de
cidadãos, então a qualidade da educação está diretamente ligada ao exercício da
cidadania, o que estabelece uma dimensão social a essa qualidade, que está
presente na LDBEN, ao definir como diretrizes para os sistemas de ensino a
participação da comunidade escolar e local nos Conselhos Escolares (art.14) e a
progressiva autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira das
escolas (art.15). Para Pepe & Mercado (2005, p. 38)
A criação do conselho escolar, neste contexto torna-se fundamental, pois o processo de discussão nas comunidades escolares pode possibilitar a implantação da ação conjunta com a co-responsabilidade de todos no processo educativo, o que se constitui num mecanismo de ação coletiva, que canaliza os esforços da comunidade escolar em direção a uma escola renovada.
O Conselho Escolar é uma instância colegiada formada por todos os
segmentos que representa a comunidade escolar (pais, alunos, professores,
funcionários, sociedade civil e direção) é, portanto, o acesso que a comunidade tem
para atuar na gestão.
Na década de 1980 a sociedade brasileira – por meio de ações coletivas dos
sindicatos, dos movimentos sociais e dos partidos políticos – buscou superar o
período de ditadura, visando fortalecer o processo democrático. Este tipo de gestão
colegiada foi adotado nas administrações públicas com o objetivo de favorecer a
democratização da gestão.
A Constituição de 1988, em seu Art. 205, expressa os princípios que devem
nortear a educação nos estabelecimentos de ensino da rede pública, onde diz que:
“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade (...)” e no Art. 206, inciso VI expressa a
participação da comunidade escolar, “Gestão democrática do ensino público, na
forma da lei” (BRASIL, 1988, p.128).
Na década de 1990 surgiu a LDBEN n. 9.394/96, que fortaleceu a
participação de diferentes segmentos nas discussões da escola, em seu Art. 14,
inciso II, institui a: “[...] participação das comunidades escolar e local em conselhos
escolares ou equivalentes” (BRASIL, 1996, p.35).
Conforme o referido artigo, as instâncias colegiadas precisam se constituir
como espaços de representação e participação legítimos na gestão escolar, pois se
instituem em instrumentos para a efetivação do processo democrático nas
instituições escolares, de acordo com a legislação vigente da esfera federal ou
estadual, que normatiza as práticas de gestão das instituições de ensino.
Pelas orientações expressa na legislação, o Conselho Escolar se constitui
num instrumento fundamental para a efetivação da gestão democrática, exatamente
por trazer a participação de todos os segmentos da comunidade escolar e local para
dialogar e deliberar nas decisões referentes ao cotidiano escolar.
Em conformidade com o Ministério da Educação (MEC), os Conselhos
Escolares são instrumentos utilizados como meio para a efetivação da participação
nas escolas, sendo esses “[...] a voz e o voto dos diferentes atores da escola, interno
e externos, desde os diferentes pontos de vista, deliberando sobre a construção e a
gestão de seu projeto político pedagógico” (BRASIL, 2004, p.37), ainda os conselhos
escolares são
Órgãos colegiados compostos por representantes das comunidades escolares e local, que têm como atribuição deliberar sobre questões político pedagógicas, administrativas, financeiras, no âmbito da escola. Cabe aos conselhos, também, analisar as ações e empreender os meios para utilizá-los para o cumprimento das finalidades da escola. Eles representam as comunidades escolares e locais, atuando em conjunto e definindo caminhos para tomar as deliberações que são de sua responsabilidade. Representam, assim, um lugar de participação e decisão, em espaço de discussão, negociação e encaminhamento das demandas educacionais, possibilitando a participação social e promovendo a gestão democrática. São, enfim, uma instância de discussão, acompanhamento e de liberação, na qual se busca incentivar uma cultura patrimonialista pela cultura participativa e cidadã (BRASIL, 2004, p. 32).
Os Conselhos Escolares foram instituídos no Paraná em 1991, pelo Conselho
Estadual da Educação do Paraná (CEE/PR), por meio da Deliberação n. 020/91,
tendo suas normas legitimadas pela Resolução n. 4.839/94, da Secretaria de Estado
da Educação (SEED). Assim surgiu os Conselhos Escolares com caráter
deliberativo, que posteriormente foram revogados e substituídos pela Deliberação n.
16/99 do CEE/PR e Resolução n. 2122/00 da SEED.
Por meio de um processo de discussão com os profissionais da educação,
iniciado em 2004, o Estatuto do Conselho Escolar sofreu alterações e foi aprovado
em 2005 pela Resolução n. 2.124/05 (PARANÁ/SEED, 2005), estabelecendo a
prática e procedendo ao documento que rege legalmente o funcionamento do
Estatuto do Conselho Escolar. Neste contém as artigos que se referem ao Conselho
da Escola, estabelecendo as funções, os objetivos, os direitos e os deveres que
cabem a cada segmento pertencente ao Conselho Escolar.
Em 2008 a SEED/PR, pela Resolução n. 4.649/08, expandiu a competência
dos Núcleos Regionais de Educação para aprovarem os Estatutos do Conselho
Escolar dos estabelecimentos de ensino de educação básica do Paraná, revogando
a Resolução n. 2.124/05 (PARANÁ, 2009).
O Estatuto do Conselho Escolar (PARANÁ, 2009), em seu Art. 2º, define-o
como um órgão máximo de decisão, um espaço de discussão referente às variadas
situações da escola, cabendo-lhes exercer as funções consultivas, deliberativas,
avaliativas e fiscalizadoras das questões pedagógicas, administrativas e financeiras.
Assim esclarece a função do Conselho Escolar, como segue
a) A função deliberativa se refere a tomada de decisões a respeito das diretrizes e linhas gerais das ações pedagógicas, administrativas e financeiras quanto ao direcionamento das políticas públicas desenvolvidas no âmbito escolar; b) A função consultiva, no que diz respeito aos pareceres e tomadas de decisões, sobre questões pedagógicas, administrativas e financeiras no âmbito de sua competência; c) A função avaliativa, em relação ao acompanhamento das ações educativas desenvolvidas na escola, no sentido de identificar problemas e indicar alternativas para melhoria do processo de ensino; d) A função fiscalizadora diz respeito ao acompanhamento e fiscalização da gestão pedagógica, administrativa e financeira da escola.
Como o Conselho Escolar é um órgão deliberativo, cabe a seus membros
analisar as verbas oriundas do governo estadual através do fundo rotativo e do
governo federal o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), aplicá-los e fiscalizá-
los para que ocorra transparência na administração financeira da gestão pública.
Cabe ressaltar que o documento destaca como principal atribuição do
Conselho Escolar a aprovação e o acompanhamento da efetivação do PPP da
escola.
Conforme o Art. 11 do Estatuto do Conselho Escolar (PARANÁ, 2009), as
ações dos estabelecimentos de ensino devem estar fundamentadas nos seguintes
pressupostos:
I realizar a gestão escolar, numa perspectiva democrática e coletiva, de acordo com as propostas educacionais contidas no Projeto Político Pedagógico da escola; II Constitui-se em instrumento de democratização das relações no interior da escola, assegurando os espaços de efetiva participação da comunidade escolar nos processos decisórios sobre a natureza e a especificidade do trabalho pedagógico; III promover o exercício da cidadania no interior da escola, articulando a integração e a participação dos diversos segmentos da comunidade escolar na construção de uma escola pública de qualidade, laica, gratuita e universal; IV estabelecer políticas e diretrizes norteadoras da organização do trabalho pedagógico na escola a partir dos interesses e expectativas histórico sociais, em consonância com as orientações da Secretaria de Estado da Educação e a legislação vigente; V acompanhar e avaliar o trabalho pedagógico e desenvolvido pela comunidade escolar, realizando as intervenções necessárias, tendo como pressuposto o Projeto político Pedagógico da escola; VI garantir o cumprimento da função social e da especificidade do trabalho pedagógico da escola, de modo que as organizações das atividades escolares estejam pautadas nos princípios da gestão democrática.
Desta forma, tendo conhecimento de todos esses objetivos, faz-se necessário
um exercício contínuo da participação de todos os segmentos no processo de
gestão escolar, caracterizando-se como um instrumento de democratização da
escola pública.
Esta participação corrobora não somente com a gestão democrática da
escola pública, como também com a qualidade da educação buscando, pela
construção coletiva, um plano de ação que cumpra a função social da escola. Assim,
o coletivo escolar e a comunidade local devem participar das decisões
administrativas e pedagógicas, sendo corresponsáveis pelas ações da escola.
A construção de uma cidadania participativa passa pela contribuição da
escola pública, desta forma vemos que o Conselho torna-se o sustentáculo do
projeto pedagógico que se propõe a definir os rumos e as prioridades das escolas
considerando os interesses e as necessidades da maioria.
O PPP deve representar os anseios da comunidade escolar, sendo construído
com base em discussões sobre os objetivos e os problemas que precisam ser
superados, através de práticas pedagógicas coletivas e da responsabilidade de
todos os membros da comunidade escolar. Tal processo deve ser coordenado e
acompanhado pelos Conselhos Escolares.
Embora a legislação institua esse órgão, sozinha não garante sua efetivação
em relação à participação do coletivo. Os membros participam apenas por uma
questão burocrática e não como participantes conscientes que devem fazer parte da
construção de uma educação mais sólida e verdadeira, por isso a escola deve fazer
esse trabalho de conscientização e de formação de todos os envolvidos no seu
cotidiano no que se refere a participação da própria comunidade escolar e local.
Na busca pela democratização da escola observamos um posicionamento
favorável dos partícipes, porém levando em conta a prática de cada um, o alerta é
de que esse processo ainda em construção merece empenho de todos. E cabe aos
Conselhos Escolares serem incentivadores desse empenho, buscando consolidar
um ambiente acolhedor das participações para assegurar as condições necessárias.
Segundo Pepe & Macedo (2005, p.38)
A criação do Conselho escolar, neste contexto torna-se fundamental, pois o processo de discussão nas comunidades escolares pode possibilitar a implantação da ação conjunta com a responsabilidade de todos no processo educativo, o que se constitui em mecanismo de ação coletiva, que canaliza os esforços da comunidade escolar em direção a uma escola renovada.
O Conselho Escolar é, portanto a porta de entrada da comunidade para
exercer na gestão seu direito de participação com práticas democráticas objetivando
a melhoria na educação. Para Hora (1994, p. 134), este avanço da participação
coletiva é fundamental porque
a) Para a comunidade, participar da gestão de uma escola significa inteirar-se e opinar sobre assuntos para os quais muitas vezes se encontra despreparada; significa todo um aprendizado político e organizacional (participar de reuniões, dar opiniões, anotarem, fiscalizar, cumprir decisões); significa mudar sua visão de direção de escola, passando a não esperar decisões prontas a serem seguidas; significa, enfim, pensar a escola não como um organismo governamental, portanto externo, alheio e sim como um órgão público que dever ser não apenas fiscalizado e controlado, mas dirigido pelos seus usuários; b) A direção vê-se colocada diante das tarefas eminentemente políticas, pois assume o papel de dirigente técnico e político. A abertura não acontece para um todo homogêneo e sim para uma população dividida, socialmente estratificada e ideologicamente diferenciada; significa lidar com inúmeras expectativas e projetos políticos diferenciados;
c) Para os alunos, a principal mudança refere-se à sua relação com os professores e com a direção: assumir sua parte de responsabilidade na direção da escola e do processo pedagógico, deixando de esperar soluções acabadas e de esperar apenas a punição como saída; compreender que transitar na difícil fronteira entre “liberdade e segurança” Exige um compromisso com o projeto educacional, com princípios e também com uma visão mais global, menos fragmentaria da escola (HORA, 1994, p.134).
Assim, a participação da comunidade escolar no Conselho Escolar é um
exercício de cidadania e democracia. Segundo Gadotti e Romão (2004, p. 16)
A participação possibilita à população um aprofundamento do seu grau de organização [...] ela contribui para a democratização das relações de poder no seu interior, consequentemente para a melhoria da qualidade do ensino. Todos os segmentos da comunidade podem compreender melhor o funcionamento da escola, conhecer com mais profundidade todos os que nela estudam e trabalham, intensificar seu envolvimento com ela e, assim, acompanhar melhor a educação ali ofertada.
.
Deste modo, o Conselho Escolar pode promover a gestão democrática da
escola com a participação do coletivo escolar e da comunidade local, onde todos
têm a oportunidade de juntos, construir uma educação de qualidade.
No centro das discussões em torno da gestão democrática da escola pública,
estão as questões referentes aos documentos norteadores do trabalho escolar e das
ações nela desenvolvidas, tais como: o Regimento Escolar, a Proposta Pedagógica
Curricular (PPC), o Plano de Trabalho Docente (PTD) e o PPP.
3 PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO (PPP)
Um dos fatores imprescindíveis das políticas educacionais é o novo
paradigma de gestão que deve ser efetivado nas escolas. No Estado do Paraná, a
Instrução n. 007/2010 SUED/SEED regulamenta a legalidade e a legitimidade do
Projeto Político Pedagógico (PPP), estando em consonância com a LDBEN/96.
O Projeto Político Pedagógico expressa a autonomia e a identidade do estabelecimento de ensino sendo esta amparada pelas legislações vigentes, pelas necessidades históricas da escola pública e pelos direitos garantidos constitucionalmente a toda população (PARANÁ, 2010, p.01).
Porém, não é porque esse modelo de gestão democrática com base na
participação foi oficializado na legalidade que ele se efetiva no cotidiano escolar.
Mesmo que já tenha sido incorporado teoricamente por muitos profissionais da
educação, ainda não se constitui numa prática efetiva. São muitos os desafios para
materializar em ações concretas no dia a dia da escola no que se estabelece nos
documentos que regulamentam e normatizam o ensino das escolas públicas, que
preconizam a gestão democrática.
Um deles é a falta de consciência de toda a comunidade escolar da
importância da participação para garantir a construção de uma escola de qualidade,
que cumpra seu papel social, outro desafio é a participação de todos os professores,
sendo que nem todos conseguem participar das discussões de interesses do
coletivo escolar, uma vez que a sua grande maioria tem a carga horária dividida em
diversas escolas.
Na verdade além dos professores terem essa dificuldade, eles não são os
únicos, os professores pedagogos e os diretores também enfrentam obstáculos, pois
seu trabalho se divide entre atividades burocráticas, pedagógicas e em outras
atividades de “apagar incêndios”, desviando de suas reais funções. Somando-se a
isso: as dificuldades da escola quanto a sua diversidade, a falta de pessoal
administrativo e de apoio, também dificulta a organização escolar.
Neste contexto, é necessário considerar se
A ênfase no “administrativo” apresenta-se assim, ao mesmo tempo, como opção preferencial face às peculiaridades da disciplina e também como “proteção” face ao complexo universo teórico-metodológico em que a discussão sobre a educação se desenvolve (SILVA JR, 1993, p. 73).
Nessa perspectiva, a escola ainda tem objetivos que deseja alcançar, metas a
cumprir e sonhos a realizar. O conjunto desses anseios, bem como os meios para
concretizá-los, é o que dá forma e vida ao Projeto Político Pedagógico, que nada
mais é que um documento norteador que define, projeta e organiza as ações da
escola.
Ele é projeto porque propõe ações concretas a serem executadas por um
determinado período de tempo. É político por caracterizar a escola um espaço de
formação de cidadãos conscientes, responsáveis e críticos, que vão atuar
coletivamente e individualmente na sociedade, modificando seu destino. É
pedagógico por definir e organizar as atividades e os projetos educativos
necessários ao processo ensino e aprendizagem.
O PPP representa a escola, ou seja, manifesta a sua organização, a sua
prática pedagógica e administrativa numa dinâmica constante que abarca todos os
profissionais da educação e comunidade escolar firmada num determinado tempo e
local. Contudo, apresenta os interesses da comunidade escolar e local, bem como
suas esperanças, buscando a gestão democrática nas ações individuais e coletivas.
Assim, sua construção será sempre política. “Por isso, todo projeto pedagógico da
escola é, também, um projeto político por estar intimamente articulado ao
compromisso sociopolítico com os interesses reais e coletivos da população
majoritária” (VEIGA, 1995, p.13).
O PPP adquire a força de uma bússola - aquela que aponta a direção a seguir
não apenas para gestores e professores, mas também para funcionários, alunos,
pais e toda a comunidade local.
Ele precisa ser pleno o suficiente para não deixar dúvidas quanto à rota e
flexível o bastante para se adaptar às necessidades da comunidade e da
aprendizagem dos alunos. Por isso, de acordo com Veiga (2003, p.23-27), para a
sua construção é indispensável levar em conta elementos constitutivos do projeto
como: Marco Referencial que compreende, marco situacional (onde estamos, como
vemos a realidade); Marco Doutrinal ou Filosófico (para onde queremos ir); e o
Marco Operativo (que horizonte queremos para nossa ação).
Marco Situacional: Como compreendemos / vemos / sentimos o mundo atual? O
País/Estado/Cidade onde vivemos? Como percebemos / vemos o bairro em que fica
inserida a nossa escola? Quais são os sinais no mundo atual que nos mobilizam?
Por quê? Qual a concepção de educação? Conhecimento? Escola? Comunidade?
Sala de aula? Professor? Aluno?
Marco Filosófico ou Doutrinal: Que tipo de sociedade queremos construir? Que tipo
de Home/Pessoa humana queremos colaborar na formação? Qual finalidade
queremos para a Escola? Qual papel desejamos para a Escola em nossa realidade?
Marco Operativo: Dimensão pedagógica, dimensão comunitária e dimensão
administrativa.
O CEE/PR, por meio da Deliberação n. 014, de 08 de outubro de 1999, (item
4) determina que o Projeto Político Pedagógico reúna: explicitação sobre a
organização da entidade escolar; filosofia e os princípios didático-pedagógicos da
instituição; conteúdos, competências e habilidades propostas e os respectivos
encaminhamentos metodológica; atividades escolares, em geral, e as ações
didático-pedagógicas a serem desenvolvidas durante o tempo escolar; matriz
curricular específica e a indicação da área ou fase de estudos a que se destina;
processos de avaliação, classificação, promoção e dependência; regimento escolar;
calendário escolar; condições físicas e materiais; relação do corpo docente e
técnico-administrativo; plano de formação continuada para os professores; plano de
avaliação interna e sistemática do curso (PARANÁ, 1999).
Diante dessas informações, que são relevantes, o Projeto político pedagógico
se configura num instrumento de planejamento e avaliação que propicia a
organização e a participação de toda a comunidade escolar. Deve-se lembrar que o
mesmo é contínuo e inacabado, pode ser reformulado quando necessário, e
principalmente não deve ser arquivado esquecido.
Para Veiga (2003) quando o PPP é construído enquanto inovação regulatória,
ele é voltado para a burocratização, cumprindo normas técnicas, de cunho político-
administrativo, que geram um produto, no caso, um documento pronto e acabado, já
enquanto inovação emancipatória com a participação dos diferentes atores, num
contexto histórico e social, propicia a argumentação, a comunicação e a
solidariedade.
Neste sentido, o PPP possibilita a execução de um trabalho comprometido
com as ações definidas no coletivo, cessando com um trabalho isolado e dividido,
provocando mudanças na organização do trabalho pedagógico.
Sob esta ótica, o projeto é um meio de engajamento para integrar ações dispersas, criar sinergias no sentido de buscar soluções alternativas para diferentes momentos do trabalho pedagógico-administrativo, desenvolver o sentimento de pertença, mobilizar os protagonistas para a explicitação de objetivos comuns, definindo o norte das ações a serem desencadeadas, fortalecer a construção de uma coerência comum, mas indispensável, para que a ação coletiva produza seus efeitos (VEIGA, 2003, p. 275).
O PPP como instrumento de planejamento coletivo, demonstra sua
contribuição na democratização da escola, quando acontece o resgate do trabalho
escolar e a garantia que não haja divisão entre as pessoas que planejam e as que
executam. Já que deve ser construído em conformidade com seus representantes,
onde todos os segmentos planejam e todos executam, preservando a visão da
coletividade. Assim a comunidade escolar, através de seus representantes se
apropriando do conhecimento do trabalho escolar cumprem suas funções
específicas, mas com conhecimento de todas as decisões tomadas. Sendo todos
partícipes da prática educativa, consequentemente todos educadores.
Daí a importância e necessidade da construção da proposta pedagógica da
escola pelos educadores que nela atuam. Isso significa resgatar a escola enquanto
espaço público, pelo processo da discussão aberta e séria que recupera a
capacidade de reflexão por parte dos professores, alunos e pais no interior dos
coletivos pluralmente organizados e com identidades próprias.
Fica claro que o espaço público se constitui no lugar do embate de ideias,
posturas e entendimentos na direção do esclarecimento necessário. O espaço se
faz público quando “habitado” por homens esclarecidos, o que resulta de um longo
processo de interlocução em reciprocidade de condições, e como consenso de
opiniões publicamente confrontadas, ou seja, da publicidade crítico-reflexiva.
A escola, assim definida, institui o princípio e a prática de que todos os
integrantes do processo educativo têm a capacidade de ouvir e serem ouvidos na
disposição de participar da livre discussão na busca da elaboração das propostas
pela explicitação conjunta de todas as explicações e concepções.
O PPP sempre em construção, cria possibilidades de definição de metas
coletivas que possam conduzir à busca da elaboração de um “patrimônio ideal
comum” e não exclusivamente baseado na participação comum nos processos
técnicos, burocráticos ou instituído (VATTIMO, 1992, p.11).
É um permanente processo de discussão das práticas, das preocupações
(individuais e coletivas) dos obstáculos aos objetivos da escola e da educação e de
seus pressupostos de atuação. É a identidade da escola, é sua vida concretizada na
dinâmica do projeto, que institui no âmbito educativo, possibilidades, motivações e
ações concretas, otimizando o tempo, recursos, meios e procedimentos.
[...] em seu projeto pedagógico, consubstancia-se a escola em sua especificidade do conjunto das condições para a organização do coletivo dos educadores e dos educandos em relação de reciprocidade e como condução de ações sistemáticas de contínua reflexão sobre processos da educação e revisão permanente dos objetivos pretendidos, das práticas em desenvolvimento e da processual apreciação e avaliação da aprendizagem coletiva e individual (MARQUES, 1990, p. 137).
O PPP deve contextualizar a escola, num universo, onde o aluno tem uma
participação construtiva, mediada pelo professor. O aprendizado deve contribuir para
a aquisição e o desenvolvimento das capacidades do aluno, tornando-o sujeito de
sua própria formação. A sociedade passa por constantes transformações,
requerendo da escola, instituição criada e vinculada à estrutura social e econômica
vigente, reflexão e nova conduta, frente a essas múltiplas realidades. Segundo
Veiga (2010, p.20), “O conhecimento escolar é dinâmico e não uma mera
simplificação do conhecimento científico, que se adequaria à faixa etária e aos
interesses dos alunos”.
Firmado esses princípios, a escola precisa pensar e reproduzir as relações
presentes na sociedade que representa, sendo o propósito pedagógico escolar, a
orientação dos significados e os valores sociais e culturais do aluno, referindo-se à
apreensão do que a sociedade reconhece como verdadeiro e correto, bem como
desvendar as relações de poder impregnados nos discursos que acirra as
desigualdades sociais.
Para Souza Santos (1997, apud MOREIRA, 2008, p.44), “As pessoas têm
direito a igualdade sempre que a diferença as tornar inferiores, mas têm direito à
diferença sempre que a igualdade ameaçar suas identidades”. Nessa concepção, a
escola deve organizar suas ações no projeto político pedagógico, preservando e
valorizando a identidade do aluno.
De acordo com Paro, não é possível medir com precisão os resultados
obtidos no processo de ensino e aprendizagem, conhecida a subjetividade do ser
humano. Assim,
[...] para saber se ele foi ou não bem educado, para saber se a escola foi produtiva (se teve ou não êxito em sua intenção de educá-lo convenientemente), é possível planejar e dispor os processos pelos quais se produz essa educação de uma forma na qual se possa apostar, com certa segurança, que se conseguirão os resultados almejados (PARO, 2006, p. 22).
Desse modo, é essencial ter clareza do que se deseja ensinar o que é
imprescindível que o aluno aprenda para seu crescimento pessoal e coletivo.
Refere-se aqui a busca do princípio da qualidade de ensino, definir seus objetivos
educacionais e educar para a democracia.
Portando, o aluno precisa tomar consciência dos processos sociais que
ocorre nas relações, as diferenças individuais, as oportunidades de participação e o
exercício da cidadania. Libâneo enfatiza que “[...] na organização escolar devem
incluir a interculturalidade: o respeito e a valorização da diversidade cultural e das
diferentes origens sociais dos alunos, o combate ao racismo e a outros tipos de
discriminação e preconceito” (2003, p.365).
A aprendizagem, a formação global do aluno, o conhecimento do meio e a
integração na vida social, acontecem numa construção favorável da relação
pedagógica aluno/professor/conhecimento. Para tanto o PPP deve priorizar o
trabalho interdisciplinar. Para Zabala, a interdisciplinaridade é
[...] a interação entre duas ou mais disciplinas, que pode ir desde a simples comunicação de ideias até a interação recíproca dos conceitos fundamentais e da teoria do conhecimento, da metodologia e dos dados da pesquisa. Estas interações podem implicar transferências de leis de uma disciplina para outra (1998, p.143).
Entendemos que o trabalho interdisciplinar concretiza-se por projetos
estruturados a partir de um tema significativo e relevante para o grupo, no qual o
conteúdo abordado transpõe as várias disciplinas, para ter significado numa
dimensão global. A escola é responsável pela forma com a qual o conhecimento é
transmitido ao aluno. Requer, juntamente com seus profissionais, a proposição de
ações que apontem para um ensino interdisciplinar.
Deve estar previsto no PPP o planejamento das ações do professor, num
trabalho coletivo, primado pelas necessidades e pretensões dos alunos e da
comunidade escolar. Para tal, deverá ressaltar a pesquisa e produção do
conhecimento científico. Nesse ponto de vista, a avaliação precisa ser processual e
contínua, servindo como instrumento de reavaliação.
A escola precisa conhecer a comunidade em que está inserida, sua
necessidades, anseios e propostas, assumindo uma postura democrática, com a
participação de todos os seus segmentos, para que haja respeito, objetividade,
clareza de ideias, da concepção à execução do projeto político pedagógico.
REFERÊNCIAS
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Título: Conselho Escolar: Instância significativa e fortalecedora de uma
gestão democrática
Autora: Tânia Regina Francisco Pereira
Disciplina/Área: Gestão Escolar
Escola de Implementação do Projeto e sua localização:
Colégio Estadual Castro Alves-EFMP-
Cornélio Procópio- PR
Município da escola: Cornélio Procópio
Núcleo Regional de Educação: Cornélio Procópio
Professora-Orientadora: Roberta Negrão de Araújo
Instituição de Ensino Superior: UENP/CCP
Resumo: Devido aos problemas enfrentados no ambiente escolar no que tange à ausência dos pais e a falta de objetivo dos estudantes. A presente Unidade Didática pretende subsidiar a discussão, bem como os estudos dos membros do Conselho Escolar. O estudo tem como foco o papel do Conselho Escolar na Gestão Democrática, estimulando o debate entre os próprios membros da importância desta instância colegiada na efetivação da gestão democrática na escola. Assim, pretende-se contribuir para uma melhor atuação do Conselho Escolar, que de maneira democrática, faça-se um acompanhamento responsável na prática educativa que é desenvolvida na escola.
Palavras-chave: Gestão democrática; Conselho Escolar;
trabalho coletivo.
Formato do Material Didático:
Unidade Didática.
Público: Pedagogos, professores
CONSELHO ESCOLAR:
INSTÂNCIA SIGNIFICATIVA E FORTALECEDORA DE UMA GESTÃO
DEMOCRÁTICA
APRESENTAÇÃO
O objetivo desta Unidade Didática é auxiliar o Conselho Escolar da
instituição de ensino em que atuo no aprofundamento dos conhecimentos
necessários aos membros do Conselho Escolar, bem como à comunidade escolar.
São inúmeros os problemas enfrentados no ambiente escolar no que tange à
ausência dos pais e à falta de objetivo dos estudantes. Desta forma, esta UD
intenciona dar suporte ao desenvolvimento do Projeto de Intervenção, promovendo
um espaço que propicie as reflexões, construindo conceitos, trocas de experiências,
no sentido de estimular, valorizar e permitir aos profissionais envolvidos a
ressignificação e a revalidação da sua prática.
Pretende-se organizar as reuniões em horários que oportunizem a
participação de todos. Com o objetivo de garantir o mesmo espaço, os membros
serão estimulados a manter um diálogo com seus representados. Assim,
apresentaremos a proposta de organizar um encontro com outros conselhos para
que haja troca de experiências, na busca de soluções para os problemas em
comuns. Por meio de reuniões serão investigados o conhecimento dos membros
sobre sua função e significância, com a função de esclarecer e motivar sua
participação no colegiado da instituição, fortalecendo suas ações e cada vez mais
apoiando uma gestão democrática.
Historicamente, os objetivos de ensino têm assumido diferentes formas de
elaboração (tendo em vista as Tendências da Educação: Tradicional, Escolanovista,
Tecnicista e Histórico-Cultural). A partir da década de 1970, após o modelo de
desenvolvimento econômico de 1964, pôde-se perceber, no sistema educacional
brasileiro, uma grande ênfase na proposta behaviorista de formulação de objetivos
educativos, presente no modelo pedagógico tecnicista, objetivos estes, que possam
ser previstos, observados, medidos e comparados.
Segundo Castanho (1989), o movimento chegou logo à educação e com
ele, primando pela eficiência na escola, à semelhança do que acontecia na fábrica.
A visão da escola como empresa, predominando pela eficiência, fabricando em
séries, aceitando comportamentos esperados e repulsando comportamentos que
fogem dos padrões, passando a dominar em tal perspectiva.
Esta exibição exagerada com a formulação precisa dos objetivos educativos,
parecendo se tornar suficiente para garantir a ação do desenvolvimento do processo
de ensino, por meio do desenvolvimento de processos de aprendizagem
fundamental, como o
[...] primeiro passo para estudar a ação que os processos de ensino têm que distender para que, estimulando e guiando os processos de aprendizagem, o estudante consiga, de alguma forma, os objetivos apresentados. O processo de ensino mais adequado para despertar o processo de aprendizagem nas condições precisas para que o estudante alcance as finalidades. Partir de objetivos claros e definidos não é somente o primeiro passo para apropriar o que pressupõe tanto no processo de ensino como o de aprendizagem (SACRISTAN apud MERCHAN, 2000, p.37).
A crítica realizada pelo autor, estabelece que esta pedagogia visa, pela
educação, a mudança direcionada de comportamento, definida com precisão nos
objetivos operacionais que devem ser alcançados para favorecer estas mudanças.
Boa parte dos professores fundamenta sua prática pedagógica em
prescrições que viram senso-comum, aquelas mesmas incorporadas ao longo da
vida estudantil ou pela transmissão informal dos mais velhos. Saviani (1981)
descreve sobre uma confusão que os professores vivenciam nesta época.
Caracterizando a pedagogia tradicional e a pedagogia nova, indica o aparecimento
da tendência tecnicista e das teorias crítico-reprodutivistas, todas incidindo sobre o
professor.
Os professores têm na cabeça o movimento e os princípios da escola nova. A realidade, porém, não oferece aos professores condições para instaurar a escola nova, porque a realidade em que atuam é tradicional. [...] o professor se vê pela pedagogia oficial que prega a racionalidade e a produtividade do sistema e do seu trabalho, isto é: ênfase nos meios (tecnicismo). [...] E não aceita a linha crítica porque não quer receber a denominação de agente repressor (SAVIANI, 1981, p.2).
Não é possível discutir gestão da escola pública sem citar as reformas do
Estado, considerando que seu processo de implantação estava imerso nesse
contexto. Assim, a partir da década de 1990 com a Declaração Mundial de
Educação para todos de Jomtien na Tailândia, organizações internacionais propõem
documentos que seriam aceitos e seguidos por países em desenvolvimento para
uma educação pública de qualidade. Vários documentos internacionais como a
Declaração Mundial de Educação para todos (UNESCO, 1990) e Prioridades y
estrategias para la educacion (BANCO MUNDIAL, 1996) trazem muitas
contribuições para pensarmos a educação no Brasil, nesses últimos dias.
O atual modelo de escola capitalista predominante resulta de um intenso
movimento estruturado de produção de conhecimentos e de teorias, onde objetiva
compreender, analisar e criticar o trabalho educativo desenvolvido pela instituição
escolar, visando à educação formal do cidadão através de opções metodológicas e
técnicas definidas por meio de processos e de ambientes criados pelo professor.
O ato de ensinar, no que diz respeito à definição de seus métodos e técnicas,
apresenta-se como desafio para os profissionais que se dedicam à educação
escolar, onde decidir sobre a seleção, organização e o desenvolvimento de estudos
e experiências de educação formal se constituem em tarefa pedagógica complexa
para o professor. Um denominador comum desses estudos pode ser encontrado na
busca constante de técnicas que possam contribuir para ajudar o professor na
definição do ensino que organiza, desenvolve e avalia.
O contexto atual da educação debate sobre uma escola preparada para
proporcionar um ensino de qualidade, respeitando a heterogeneidade e a
individualidade da comunidade escolar. Uma escola que proporcione educação de
qualidade para todos, visto que todo ser humano tem a capacidade de aprender de
acordo com seus interesses e seu ritmo.
Os artigos 14 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN)
n.9394/96 e 22 do Plano Nacional de Educação (PNE) indicam que os sistemas de
ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação
básica obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na
elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação das comunidades
escolares e locais em conselhos escolares (BRASIL, 1996).
Na gestão democrática deve haver compreensão da administração escolar
como atividade meio e reunião de esforços coletivos para o complemento dos fins da
educação, assim como a compreensão e aceitação do princípio de que a educação
é um processo de emancipação humana; que o Projeto Político Pedagógico (PPP)
deve ser elaborado pela construção coletiva e que além da formação deve haver o
fortalecimento do Conselho Escolar.
A gestão democrática da educação está vinculada aos mecanismos legais e
institucionais e à coordenação de atitudes que propõem a participação social: no
planejamento e elaboração de políticas educacionais; na tomada de decisões; na
escolha do uso de recursos e prioridades de aquisição; na execução das resoluções
colegiadas; nos períodos de avaliação da escola e da política educacional. Com a
aplicação da política da universalização do ensino deve-se estabelecer como
prioridade educacional a democratização do ingresso e a permanência do estudante
na escola, assim como a garantia da qualidade social da educação (BRASIL, 1988,
1996).
A escola passa a ser administrada por toda a comunidade, buscando
caminhos para torná-la capaz de cumprir seu papel na sociedade. Os profissionais
da área da educação buscam uma escola que esteja preparada para proporcionar
um ensino de qualidade social, respeitando a heterogeneidade e a individualidade
da comunidade escolar.
A Gestão Democrática é uma forma de gerir uma instituição de maneira que
possibilite a participação, transparência e democracia. Esse modelo de gestão,
segundo Vieira (2005), representa um importante desafio na instrumentalização das
políticas de educação e no cotidiano da escola.
1 DEMOCRACIA: APRESENTANDO CONCEITOS
De acordo com o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (2003), democracia
quer dizer: governo do povo; soberania popular. Doutrina ou regime político baseado
nos princípios da soberania popular e na distribuição equitativa do poder.
Contribuir para o desenvolvimento da autonomia dos sujeitos e dos grupos
sociais não basta apenas pelo discurso. A prática política efetiva é relevante para a
construção da democracia na medida em que questionando, empenhando-se e
democratizando mecanismos de legitimação e de exercícios do poder em nossa
sociedade podemos contribuir para o desenvolvimento da consciência e da
autonomia dos diversos grupos em interação. A tarefa desta luta é a criação de
mecanismos e normas de interação fundamentadas na gestão democrática dos
conflitos.
1.1 Democracia e Educação
O direito à educação é parte de um conjunto de direitos chamados de direitos
sociais, que têm como inspiração o valor da igualdade entre as pessoas.
No Brasil este direito apenas foi reconhecido na Constituição Federal de
1988, antes disso o Estado não tinha a obrigação formal de garantir a educação de
qualidade a todos os brasileiros, o ensino público era tratado como uma
assistência, um amparo dado àqueles que não podiam pagar. Durante a
Constituinte de 1988 as responsabilidades do Estado foram repensadas e promover
a educação fundamental passou a ser seu dever:
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988, art.205).
De acordo com Cury (2002), um momento em que a cidadania enfrenta novos
desafios, busca novos espaços de atuação e abre novas áreas por meio das
grandes transformações pelas quais passa o mundo contemporâneo. É importante
ter o conhecimento de realidades que, no passado, significaram e, no presente,
ainda significam passos relevantes no sentido da garantia de um futuro melhor para
todos. O direito à educação escolar é um desses espaços que não perderam e nem
perderão sua atualidade.
Hoje, praticamente, não há país no mundo que não garanta, em seus textos
legais, o acesso de seus cidadãos à educação básica. Afinal, a educação escolar é
uma dimensão fundante da cidadania, e tal princípio é indispensável para políticas
que visam à participação de todos nos espaços sociais e políticos e, mesmo, para
reinserção no mundo profissional.
A participação é uma característica fundamental na gestão democrática, pois
por ela busca-se alcançar os objetivos com uma colaboração mais ampla e com
maiores possibilidades de obter sucesso naquilo que procura. É indispensável que o
professor tenha consciência da importância desse tipo de gestão, pois o docente é
uma peça chave para um ensino de qualidade, logo sua colaboração e participação
são essenciais em meio a uma administração escolar democrática.
Para Paro (2008), é preciso propor e levar avante uma verdadeira
reformulação do atual padrão de escola, que esteja de acordo com uma concepção
de mundo e de educação comprometida com a democracia e a formação integral do
ser humano-histórico – e que se fundamente nos avanços da pedagogia e das
ciências e disciplinas que lhe dão subsídios.
1.2 Gestão Escolar
A Gestão Escolar, anteriormente nomeada Administração Escolar, embora
muitas de suas funções que hoje lhe são atribuídas já existissem, é um termo
recente. A mudança de denominação não foi apenas na escrita, mas também de
concepções teóricas a respeito dessa atividade, e, além disso, reflete as
transformações vindas de um determinado contexto histórico.
No Brasil, um marco normativo foi a Constituição Federal (1988) que
institucionalizou a Gestão Democrática do Ensino Público, sendo dessa forma
assegurada como o princípio da educação pública. A partir dessa lei a organização
escolar ganha um novo perfil, agora não mais embasada nas especulações da
administração, mas, nos princípios da Gestão, possuindo um caráter mais
democrático.
Outro marco foi a LDBEN n. 9.394/96, que ratificou o apregoado pela
Constituição (1988). É a primeira das leis de educação que dispensa atenção
particular à gestão escolar, situando no âmbito da escola e diz respeito a tarefas que
estão na esfera de abrangência.
A Gestão Escolar trata das obrigações que as instituições de ensino
possuem, respeitando as normas comuns dos sistemas de ensino. Cada escola
deve elaborar e executar sua proposta pedagógica; administrar seu pessoal e seus
recursos materiais e financeiros; cuidar do ensino e aprendizado do estudante,
proporcionando meios para a sua recuperação; articulando com as famílias e a
comunidade, proporcionando um processo de integração.
Ao estudar a educação nos seus aspectos sociais, políticos, econômicos e
psicológicos, para descrever e explicar o fenômeno educativo, a Pedagogia recorreu
à contribuição de outras ciências como a Filosofia, a História, a Sociologia, a
Psicologia, a Economia. Esses estudos acabaram por reunir-se na Didática, uma vez
que esta reúne em seu campo de conhecimentos objetivos e modos de ação
pedagógica na escola. Além disso, sendo a educação uma prática social que
acontece numa grande variedade de instituições e atividades humanas (na família,
na escola, no trabalho, nas igrejas, nas organizações políticas e sindicais, nos meios
de comunicação de massa.) podemos falar de uma pedagogia familiar, de uma
pedagogia política e, também, de uma pedagogia escolar.
O trabalho docente é parte integrante do processo educativo mais global pelo
qual os membros da sociedade são preparados para a participação na vida social. A
educação – a prática educativa – é um fenômeno social e universal, sendo uma
atividade humana necessária à existência e funcionamento de todas as sociedades.
Cada sociedade pode cuidar da formação dos indivíduos, auxiliar no
desenvolvimento de capacidades físicas e espirituais, prepará-los para a
participação ativa transformadora nas várias instâncias da vida social. Não há
sociedade sem prática educativa nem prática educativa sem sociedade. A prática
educativa não é apenas uma exigência da vida em sociedade, mas também o
processo de prover os indivíduos dos conhecimentos e experiências culturais que os
tornam aptos a atuar no meio social e a transformá-lo em função de necessidades
econômicas, sociais e políticas da coletividade.
A educação é um fenômeno social. Isso significa que ela é parte integrante
das relações sociais, econômicas, políticas e culturais de uma determinada
sociedade. Na sociedade brasileira atual, a estrutura social se apresenta dividida em
classes e grupos sociais com interesses distintos e contrários; esse fato tanto na
organização econômica e política quanto na prática educativa. Assim, as finalidades
e meios da educação dependem-se da estrutura e dinâmica das relações entre as
classes sociais, ou seja, são socialmente determinados.
As relações sociais no capitalismo são, assim, fortemente marcadas pela
divisão da sociedade em classes, onde capitalistas e trabalhadores ocupam lugares
opostos e antagônicos no processo de produção. A classe social proprietária dos
meios de produção retira seus lucros da exploração do trabalho da classe
trabalhadora. Esta (70% da população brasileira) é obrigada a trocar sua capacidade
de trabalho por um salário que não cobre as suas necessidades vitais e fica privada,
também, da satisfação de suas necessidades espirituais e culturais. A alienação
econômica dos meios e produtos do trabalho dos trabalhadores, que é ao mesmo
tempo uma alienação espiritual, determina desigualdade social e consequências
decisivas nas condições de vida da grande maioria da população trabalhadora. Este
é o traço fundamental do sistema de organização das relações sociais em nossa
sociedade.
A educação que os trabalhadores recebem visa principalmente prepará-los
para trabalho físico, para atitudes conformistas, devendo contentar-se com uma
escolarização deficiente. Além disso, a minoria dominante dispõe de meios de
transmitir a sua própria concepção de mundo (ideias, valores, práticas sobre a vida,
o trabalho, as relações humanas) para justificar, ao seu modo, o sistema de relações
sociais que caracteriza a sociedade capitalista. Tais ideias, valores e práticas,
apresentados pela minoria dominante como representativos dos interesses de todas
as classes sociais, são o que se costuma denominar de ideologia. O sistema
educativo, incluindo as escolas, as igrejas, as agências de formação profissional, os
meios de comunicação de massa, é o um meio privilegiado para o repasse da
ideologia dominante.
O campo específico de atuação profissional do professor é a escola, à
instituição cabe a tarefa de assegurar aos estudantes um sólido domínio de
conhecimentos e habilidades, o desenvolvimento de suas capacidades intelectuais,
de pensamento independente, crítico e criativo. Tais tarefas representam uma
significativa contribuição para a formação de cidadãos ativos, criativos e críticos,
capazes de participar nas lutas pela transformação social. Podemos dizer que,
quanto mais se diversificam as formas de educação extraescolar e quanto mais a
minoria dominante refina os meios de difusão da ideologia burguesa, tanto mais a
educação escolar adquire importância, principalmente para as classes
trabalhadoras.
O caráter pedagógico da prática educativa se verifica como ação consciente,
intencional e planejada no processo de formação humana, através de objetivos e
meios estabelecidos por critérios socialmente determinados e que indicam o tipo de
homem a formar, para qual sociedade, com que propósitos. Vincula-se, pois, a
opções sociais e políticas referentes ao papel da educação num determinado
sistema de relações sociais. A partir daí a Pedagogia pode dirigir e orientar a
formulação de objetivos e meios do processo educativo.
Libâneo (2005) afirma que a escola bem organizada é aquela que garante
condições pedagógicas e operacionais para que os professores desempenhem um
bom trabalho a ponto de promover uma aprendizagem satisfatória a todos os
estudantes.
Desta forma, abordamos outro ponto: o que é uma aprendizagem
satisfatória? Certamente não são apenas os bons resultados obtidos em avaliações.
Afinal, documentos formais e certificados não estão relacionados diretamente à
formação crítica do ser, à sua argumentação de ideias ou criatividade em situações
cotidianas (CHAN, 2013).
Assim, para que a escola tenha um ensino de qualidade, deve-se considerar
que o estudante aprenda com criticidade, que tenha a oportunidade de refletir sobre
os conteúdos de cada disciplina (e o professor, com orientação do coordenador
pedagógico, precisa proporcionar estes momentos de reflexão). O estudante
também precisa saber se relacionar em grupo e buscar a solução de problemas
(encontrando estratégias para a resolução de atividades em classe ou recursos que
solucionem questões cotidianas da vida escolar ou pessoal). O estudante necessita
aprender a respeitar as individualidades alheias ao mesmo tempo em que respeita e
fortalece a sua individualidade. Além de ter autonomia e assumir responsabilidades
por suas próprias atitudes.
Nos dias de hoje, a avaliação da aprendizagem não é algo meramente
técnico. Envolve autoestima, respeito à vivência e cultura própria do indivíduo,
filosofia de vida, sentimentos e posicionamento político. Embora essas dimensões
não sejam percebidas por todos os professores, observa-se, por exemplo, que um
professor que usa o erro do estudante como ponto inicial para compreender o
raciocínio desse educando e rever sua prática docente, e se necessário, reformulá-
la, possui uma posição bem diversa daquele que apenas atribui zero aquela questão
e continua dando suas aulas da mesma maneira.
Do mesmo modo, o educador que faz uso de instrumentos de avaliação
diversos para, ao longo de um período, acompanhar o ensino e aprendizagem, é
diferente daquele que se restringe a dar uma prova ao final do período.
Segundo Canen (2001), Gandin (1995) e Luckesi (1996), a avaliação é um
julgamento sobre uma realidade concreta ou sobre uma prática, através de critérios
claros, estabelecidos prévia ou concomitantemente, para tomada de decisão. Desse
modo, três elementos se fazem presentes no ato de avaliar: a realidade ou prática
julgada, os padrões de referência, que dão origem aos critérios de julgamento, e o
juízo de valor.
Luckesi (2005), com base na consonância entre o que caracteriza a
avaliação da aprendizagem e a observação das experiências vividas nas nossas
escolas, considera que, em vez de avaliação, o que se pratica nas escolas são os
exames, uma vez que as dificuldades apresentadas pelos estudantes não são
diagnosticadas para subsidiar uma intervenção adequada, mas são classificadas,
tendo em vista a aprovação ou a reprovação. Para o autor, "a prática do exame,
devido a operar com os recursos de aprovação/reprovação, obrigatoriamente conduz
à política da reprovação, que tem se manifestado como o mais consistente álibi para
o fracasso escolar" (LUCKESI, 2005, p. 19). Em avaliação não se julga nem se
classifica, mas, sim, se diagnostica e se intervém em favor da melhoria dos
resultados do desempenho dos educandos.
A avaliação não é um processo técnico, é um procedimento que inclui
opções, escolhas, ideologias, crenças, percepções, posições políticas,
representações, que informam os critérios através dos quais será julgada uma
realidade. A avaliação do aproveitamento de estudantes, por exemplo, pode basear-
se em critérios reduzidos, apenas à memorização de conteúdo ou pode basear-se
em critérios que visem ao crescimento pessoal dos estudantes, no que diz respeito
às suas atitudes, liderança, conscientização crítica e cidadã. Esses critérios se
originam de opiniões acerca do que se entende por educação, e vão direcionar o
julgamento de valor acerca do desempenho daqueles estudantes.
A questão da relação entre alcançar as notas propostas como metas pelo
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e a gestão democrática é
um ponto que pode ser discutido, pois reflete aquilo que Paro (2001) dizia a respeito
de como a participação da comunidade pode ser benéfica aos estudantes,
principalmente na aprendizagem dos conteúdos necessários: “[...] os avanços da
pedagogia vem demonstrando exaustivamente a vinculação entre a aprendizagem
significativa e a adoção de relações que afirmem o estudante como sujeito do ato de
aprender” (PARO, 2001, p.25).
2 CONSELHO ESCOLAR: ATRIBUIÇÕES E IMPORTÂNCIA
Na atualidade, as escolas brasileiras acentuam de forma positiva que a
presença dos Conselhos Escolares tem contribuído para aprimorar a gestão
democrática como espaço de decisão e deliberação das questões pedagógicas,
administrativas, financeiras e políticas da escola. Dessa forma, o Conselho Escolar
se torna um aliado na luta pelo fortalecimento da unidade escolar e na
democratização das relações de ensino.
O Conselho Escolar é o órgão máximo para a tomada de decisões realizadas
no interior de uma escola. Este é formado pela representação de todos os
segmentos que compõem a comunidade escolar, como: alunos, professores, pais ou
responsáveis, funcionários, pedagogos, diretores e comunidade externa
(PARANÁ/SEED, 2015).
Compete ao Conselho Escolar debater e tornar claros suas atribuições,
objetivos e valores que devem ser coletivamente assumidos, definindo prioridades e
ajudando o cotidiano escolar; suas reuniões devem ser de estudos e reflexões
contínuas, que incluam, principalmente, a avaliação do trabalho escolar.
As atribuições do Conselho Escolar são definidas em função das condições
reais da Unidade Educativa, na organização do próprio Conselho e das
competências dos profissionais em exercício na Unidade Educativa (BRASIL, 2004).
Dentre estas atribuições destaca-se:
- Estabelecer e acompanhar o projeto político-pedagógico da Unidade
Educativa; - Analisar e aprovar o Plano Anual da Unidade Educativa, com base no projeto político pedagógico da mesma; - Acompanhar e avaliar o desempenho da Direção e da Unidade Educativa face às diretrizes, prioridades e metas estabelecidas no seu Plano Anual, redirecionando as ações quando necessário; - Definir critérios para a cessão do prédio escolar para outras atividades que não as de ensino, observando os dispositivos legais emanados da mantenedora; - Analisar projetos elaborados e/ou em execução por quaisquer dos segmentos que compõem a comunidade escolar, no sentido de avaliar a importância dos mesmos, no processo ensino aprendizagem; - Arbitrar sobre o impasse de natureza administrativa e/ou pedagógica, esgotadas as possibilidades de solução pela equipe escolar; - Propor alternativas de solução dos problemas de natureza administrativa e/ou pedagógica, tanto daqueles detectados pelo próprio órgão, como dos que forem a ele encaminhados por escrito pelos diferentes participantes da comunidade escolar; - Fazer cumprir as normas disciplinares relativas a direitos e deveres de todos os elementos da comunidade educativa, dentro dos parâmetros do Regimento Escolar e da legislação em vigor; - Articular ações com segmentos da sociedade que possam contribuir para a melhoria da qualidade do processo ensino-aprendizagem; - Discutir sobre a proposta curricular da Unidade Educativa, visando ao aperfeiçoamento e enriquecimento desta, respeitadas as diretrizes emanadas da Secretaria Estadual de Educação; - Assessorar, apoiar e colaborar com o Diretor em matéria de sua competência e em todas as suas atribuições.
O Conselho Escolar é, portanto, um componente que prima três setores:
cidadania, participação e democracia. Para Silva (1998) a cidadania expressa um
conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida
e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído
da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade
dentro do grupo social.
O termo cidadania está ligado à liberdade, à igualdade, a segurança e a
participação. Esse direto, muitas vezes, pode retroceder em períodos de gestores
autoritários. A cidadania vem se tornando alvo de profundas reflexões das mais
“diferentes matrizes do pensamento sociológico, político, filosófico, dada à
complexidade e a estreita vinculação que mantém com as diversas formas de
organização social” (COSTA, 2000, p.52).
Nesse contexto, o papel do Conselho Escolar é o de ser o órgão consultivo,
deliberativo e de mobilização mais importante do processo de gestão democrática,
não como instrumento de controle externo, como eventualmente ocorre, mas como
um parceiro de todas as atividades que se desenvolvem no interior da escola.
Diante de tamanha importância, lamenta-se que alguns conselhos escolares
existem apenas para cumprir formalidade legal, seus conselheiros não entendem
sua função e alguns gestores de escolas acham que os conselheiros podem
atrapalhar sua administração em razão da divergência de ideias quanto ao processo
pedagógico, administrativo e financeiro. Por isto, nem todos os assuntos são levados
ao Conselho Escolar; apenas aqueles que requerem aval formal do Conselho.
A constituição destes conselhos, em algumas vezes, acontece de "forma
arranjada", com representantes pré-escolhidos, levando em conta o interesse da
diretoria, que teme membros "polêmicos", que apresentem pontos de vista que
ferem os interesses da administração.
Alguns conselheiros não se sentem preparados e fazem parte do Conselho
Escolar apenas porque alguém lhes disse que era "apenas para participar de
reuniões e assinar documentos".
Também acontece a dificuldade de reunir os membros, já que as reuniões
nem sempre ocorrem em horários que favoreçam a participação de todos. Com isto,
muitos faltam e outros se evadem, levando em consideração também que o trabalho
no Conselho Escolar é voluntário e muitos acreditam que o Governo ou a direção da
escola, "que ganha para isso", é quem deve tomar as providências.
Os pais nem sempre são estimulados a participar das decisões da escola e
são chamados apenas para ouvirem sobre as dificuldades financeiras da instituição
de ensino ou relatos de indisciplina de seus filhos ou das turmas onde estão
frequentando.
Como a escola está ligada ao aprimoramento dos processos de organização
de gestão democrática, é fundamental buscar a participação dos pais e da
comunidade nos interesses sócio educacionais para o alcance de uma formação
escolar adequada e de qualidade.
Os conceitos de gestão democrática e autonomia da escola são tratados
com o objetivo de abrir o leque do entendimento sobre essas práticas, ao mesmo
tempo em que reforça a análise das práticas administrativas para a sociedade de
hoje que precisa aprender a priorizar a democracia e o direito de atuar participativa
mente dos processos de decisão.
A abordagem do trabalho de gestão com a participação dos diferentes
segmentos da escola e da família demonstra as mudanças que se processam na
sociedade atual e que a escola tem de acompanhar. É com base nestes novos
paradigmas da sociedade democrática, que se fundamenta melhor a compreensão
sobre a realidade e os processos que a constroem.
É compreensível que os pais têm pouco tempo com a vida estressante
diária de trabalho o que faz com que muitos fiquem sem condições de participar
mais efetivamente da vida escolar dos filhos. Mesmo assim, reitera-se a importância
de a família participar dos processos escolares seja no acompanhamento
pedagógico dos filhos, e mais efetivamente nas tomadas de decisões para aplicação
dos recursos destinados às ações desenvolvidas pela unidade escolar.
Segundo a Constituição Federal, em seu art. 205,
A educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será promovido e incentivo com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania é sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988).
Contudo, a escola assumiu ares de segunda casa e a maioria das famílias
transferiu a responsabilidade para os professores em educar suas crianças. É
evidente que a escola é responsável por dar continuidade na formação moral,
conceitual e atitudinal dos estudantes. Mas a base de sustentação pertence à família
que acompanhou as primeiras situações de manifestação de querer e poder da
criança.
Sobre a questão dos recursos e a qualidade do ensino, sabe-se que as
escolas recebem de acordo o quantitativo de estudantes que possuem matriculados,
o que na maioria das vezes é insuficiente para atender as necessidades. O que
consequentemente dificulta a melhoria condições estruturais (cercas ou muros,
bibliotecas, pequenos laboratórios, salas suficientes, outros) para a demanda.
A família deve priorizar a formação com respeito aos valores inerentes a
toda convivência social e entre pares. Por isso a escolha deste tema, em razão de
que na família, na sociedade ou escola devemos estar atentos para buscarmos ser
capazes de compreender a complexa dialética da convivência social (BRASIL,
2004). Para que isso ocorra é necessário que a escola tenha como objetivos:
• integrar a escola à comunidade para desenvolver uma boa qualidade de ensino. • envolver os pais nas atividades e eventos da escola, bem como, propor a participação deles nas ações do projeto político pedagógico. • orientar os pais quanto aos direitos e deveres dos responsáveis. • proporcionar à comunidade local espaços de discussões para que venha ajudar a ampliar a participação deles nas ações escolares. • discutir com os pais e a comunidade caminhos que possam nos levar a solucionar problemas enfrentados na Unidade Educativa. • orientar todos de que é dever da família acompanhar a educação escolar do filho. • informar a todos de como estão sendo avaliados os seus filhos e como será de grande importância que eles estejam acompanhando essa avaliação. • fazer reuniões sempre que houver necessidade buscando a participação efetiva de todos. • fazer com que os pais se sintam parte integrante da escola com o compromisso de zelar por ela. • conscientizar a todos que devem frequentar a escola sempre, não só nas atividades festivas.
Sob esta perspectiva, o diretor precisa ter uma equipe comprometida sendo
importante, a participação dos conselhos escolares para auxiliar de forma
democrática a organização do grupo de sistematização dos recursos, selecionando
as prioridades para investimento da verba recebida pela escola. O projeto político
pedagógico estabelece a identidade da escola, ações e projetos, que valores e
conteúdos os pais em conjunto com professores consideram relevantes para a
formação dos estudantes. Este é o papel do conselho escolar intermediar situações
que necessitam mediação entre as partes e que seja prático para analisar os pontos
fundamentais para a dinâmica da gestão e da qualidade do ensino e aprendizagem
escolar.
É necessário cuidado quanto à prestação de contas à comunidade. Que
como toda medida de bom senso deve ser feita de forma transparente, e seu
planejamento feito em condições democráticas baseadas em ampla conversação
com os membros da comunidade e pais para que não haja dúvidas na participação
da coletividade na tomada de decisões sobre a aplicação e controle do dinheiro
gasto, e muita clareza com relação à quais ações podem ser atendidas para a
melhoria da instituição escolar.
O Conselho Escolar é um mecanismo que se bem utilizado serve para
investigação dos problemas existentes na escola e em sala de aula. Possibilitando
através do levantamento das situações-problemas, colocadas pela equipe escolar, a
busca de soluções possíveis para as questões administrativas e pedagógicas. O
conselho não é quem aponta as respostas, mas ele deve ser capaz de estimular o
grupo escolar a encontrar caminhos para os problemas existentes. Nesse sentido, é
importante serem considerados os fatores culturais, sociais, econômicos e políticos
relativos ao contexto a que a escola pertence, em virtude que eles incidem
diretamente na educação e cultura de cada povo.
O Conselho deve estar atento para orientar a equipe administrativa escolar
quanto à qualidade do acompanhamento pedagógico dado aos professores no
momento do planejamento para que o que seja ensinado seja coerente e tenha
continuidade para desenvolver a aprendizagem objetivada. Mas, para isso, o
conselho deve ser atuante, participativo e frequente na escola.
Sendo o Conselho Escolar uma instância colegiada, trabalha a favor da
melhoria da qualidade social da escola. Assim, oportuniza discussões e propostas
de atividades de ensino educacional que estabeleçam os objetivos e delimitem o tipo
de educação almejada pelos pais e que atenda às reais necessidades da sociedade
atual. Mais do que dar respostas, o colegiado favorece a conscientização política
dos processos democráticos que são complexos, mas produzem o amadurecimento
da equipe para as formas de trabalho com responsabilidades partilhadas.
Considerando os estudos realizados, a educação emancipadora vem ao
encontro de auxiliar as necessidades da escola, pois, focaliza o processo de ensino
aprendizagem como sustentáculo das atividades escolares, tem o estudante como
um dos elementos básicos, pois a prática educativa inclui a aprendizagem, mas não
se limita a ela. Ela considera como atributos de uma escola
Ser pluralista - correntes de pensamentos divergentes e respeito à diversidade, ao diferente; ser humanista – por identificar o homem como foco do processo educativo; ter consciência de seu papel político com instrumento para emancipação, combate às desigualdades sociais e desalie nação dos trabalhadores (GUTIERREZ; RODRIGUES, 1986, p. 82).
Os autores afirmam que a participação da comunidade escolar, por meio da
atuação em conselhos escolares ou equivalentes, gere benefícios a própria escola,
além de estabelecer a relação de respeito e confiança com a escola e promover sua
valorização junto à sociedade, melhorando desta maneira também seus indicadores
de qualidade. Como afirma Cury (2006, p. 9).
A qualidade do ensino supõe, então, a busca do melhor, de um padrão científico e fundamentado dos conteúdos acumulados e transmitidos. Mas ela é também uma forma de responsabilidade face aos desafios da sociedade contemporânea. Essa exige um conjunto de conhecimentos e habilidades capazes de possibilitar a todos o acesso a formas de ser e de se comunicar como um participante do mundo.
O Conselho Escolar deve atuar em parceria com todos os segmentos que
compõem a escola, bem como com as demais instâncias colegiadas: Conselho de
Classe, Grêmio Estudantil e Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF). As
instâncias devem agir somando forças, investigando pontos que emperram a
qualidade do ensino e dificultam a gestão participativa podem juntos levantar
propostas e estudar juntos caminhos que contribuam para a aprendizagem
satisfatória.
Por meio da Resolução n. 2000/91, do Conselho Estadual de Educação
(CEE/PR), foram instituídos os Conselhos de Classe. Este é um órgão colegiado, de
natureza consultiva e deliberativa. Sua finalidade é intervir em tempo hábil no
processo ensino e aprendizagem indicando alternativas que busquem sanar as
dificuldades e garantir a aprendizagem dos estudantes. A coleta e organização dos
dados a serem analisados durante a reunião do colegiado é de responsabilidade da
equipe pedagógica.
Para que o Conselho de Classe se aproxime da sua função: proporcionar
crescimento intelectual para os estudantes com dificuldades, é necessário que a
discussão esteja voltada para a avaliação do trabalho pedagógico, visando à
recondução das ações pedagógicas de forma planejada.
O referencial teórico da perspectiva histórico-cultural, baseado em Vigotski,
dá base para a compreensão do processo de aquisição do conhecimento. Essa
concepção de aprendizagem norteia o processo de organização do currículo, do
planejamento das aulas e da avaliação, interferindo nas decisões do Conselho de
Classe. Para Vigotski (2001), a aprendizagem é um processo histórico e social, não
inato, e a escola, bem como o professor, são mediadores essenciais entre a
aprendizagem escolar e o desenvolvimento intelectual do estudante.
O Conselho de Classe é um dos órgãos colegiados que possibilitam
a gestão democrática na instituição escolar.
De acordo com o art. 14 da LDBEN n.9394/96, os sistemas de ensino
definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica,
de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios
I – Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL, 1996).
A finalidade primeira dos Conselhos de Classe é diagnosticar problemas e
apontar soluções tanto em relação aos estudantes e turmas, quanto aos docentes.
Na prática acaba por avaliar alguns estudantes e/ou turmas e a própria prática
pedagógica da escola. Normalmente os conselhos acontecem nos fins de bimestres,
trimestres ou semestres, onde são discutidos encaminhamentos pedagógicos, notas
e comportamento de estudantes. Quando necessário o conselho de classe decide se
um estudante será retido ou não.
Se não for bem conduzido, o Conselho acaba se atendo somente a questões
dos estudantes e suas notas e comportamentos, sem avaliar a própria prática
educativa da escola. Ao invés de discutir o estudante de modo integral, os
professores acabam acentuando apenas seus pontos negativos.
Em uma escola onde a gestão democrática é realidade, o Conselho de
Classe desempenha o papel de avaliação dos estudantes e de auto avaliação de
suas práticas, com o objetivo de diagnosticar a razão das dificuldades dos
estudantes, e apontar as mudanças necessárias nos encaminhamentos
pedagógicos para superar tais dificuldades. Para tanto, as reuniões do Conselho não
devem se ater somente aos momentos de “fechar as notas”.
Importante salientar que a gestão democrática garante à equipe pedagógica
e aos professores da escola o direito de estabelecer os princípios, finalidades e
objetivos de seu Conselho de Classe e dos outros mecanismos que a possibilitam.
A Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF), é definida como “[...]
órgão de representação dos pais e professores na gestão da escola (...)” (PARANÁ,
2008, p.18) não tendo fins lucrativos. O objetivo da APMF deve ser a contribuição na
elaboração e discussão da proposta pedagógica da escola buscando sempre a sua
melhoria. Mas essa associação vai além dessa atividade, pois é onde pais,
professores, funcionários, ex-alunos e comunidade em geral podem e tem espaço
permitindo maior participação na escola.
A concepção democrática de escola respeita o educando como ser único que
constrói seu aprendizado, e é capaz de encontrar a melhor maneira para construir
seus conhecimentos. O professor nessa concepção é o mediador, que proporciona
vários meios de aprendizagem, caminha junto, e interfere nas horas necessárias.
Outra instância de auxílio na participação é o Grêmio Estudantil, pelo qual há
a possibilidade dos alunos se envolverem com a direção da escola e reivindicar
melhorias naquilo que é considerado importante para eles. “A consciência dos
direitos individuais vem acoplada à ideia de que estes se conquistam numa
participação social e solidária” (VEIGA, 2001, p.120-121).
2.1 Estatuto do Conselho Escolar
O Estatuto dispõe sobre a estruturação e funcionamento do Conselho Escolar
que, como já evidenciamos, é um órgão colegiado de natureza deliberativa,
consultiva e fiscal, não tendo caráter político-partidário, religioso, racial e nem fins
lucrativos, não sendo remunerados seus conselheiros.
O Conselho Escolar tem por finalidade efetivar a gestão escolar, na forma de
colegiado, promovendo a articulação entre os segmentos da comunidade escolar e
os setores da escola, constituindo-se no órgão máximo de direção. Gestão Escolar
é o processo que rege o funcionamento da escola, compreendendo tomada de
decisão, planejamento, execução, acompanhamento e avaliação das questões
administrativas e pedagógicas, efetivando o envolvimento da comunidade, no âmbito
da unidade escolar, baseada na legislação em vigor e nas diretrizes pedagógicas
administrativas fixadas pela Secretaria de Educação.
Os representantes do Conselho Escolar são escolhidos entre seus pares,
mediante processo eletivo, de cada segmento escolar, garantido a
representatividade de todos os níveis e modalidades de ensino. No ato de eleição,
para cada membro será eleito também, um suplente.
O Conselho Escolar, de acordo com o princípio da representatividade que
abrange toda a comunidade escolar, terá assegurada na sua constituição a paridade
(número igual de representantes por segmento) e a seguinte proporcionalidade:
I – 50% (cinquenta por cento) para a categoria profissionais da escola: professores, equipe pedagógica e funcionários; II - 50% (cinquenta por cento) para a categoria comunidade atendida pela escola: Grêmio e/ou estudantes, pais de estudantes, Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF) e movimentos sociais organizados da comunidade (PARANÁ, 2015, p.4).
O Conselho Escolar, de acordo com o princípio da representatividade e
proporcionalidade, previstos nos artigos 14 e 15 do Estatuto, é constituído pelos
seguintes conselheiros: (a) diretor; (b) representante da equipe pedagógica; (c)
representante do corpo docente (professores); (d) representante da equipe
agentes educacionais; (e) representante da equipe auxiliar operacional; (f)
representante dos pais de discentes ou responsáveis; (g) representante do Grêmio
Estudantil ou estudantes (apenas quando o Grêmio não estiver instituído); (h)
representante da APMF; (i) representante dos movimentos sociais organizados da
comunidade (Associação de Moradores, Sindicatos, Instituições Religiosas,
Conselhos Comunitários, Conselho de Saúde, entre outros).
Cabe ao diretor da instituição de ensino suscitar a participação de
representantes dos movimentos sociais organizados da comunidade, no Conselho
Escolar, que se comprometam com a efetivação da função social e específica da
escola pública.
As eleições dos membros do Conselho Escolar, titulares e suplentes, realizar-
se-ão em reunião de cada segmento convocada para este fim, para um mandato de
2 (dois) anos, admitindo-se uma única reeleição consecutiva. As datas, horários e
locais das reuniões para as eleições dos representantes, serão estabelecidas pelos
respectivos segmentos, sob a coordenação de um Conselheiro indicado pelo seu
segmento, para encaminhar o processo de eleição, com registro em Ata.
No caso do segmento dos estudantes, os mesmos poderão ser orientados e
assessorados pelos membros da equipe pedagógica. Para cada Conselheiro será
eleito um suplente, que o substituirá em suas ausências ou vacância do cargo.
O Edital de convocação para as eleições dos representantes de cada
segmento será expedido pelo Presidente do Conselho, com antecedência nunca
inferior a 30 (trinta) dias, antes do término da gestão e fixará o período destinado ao
pleito eleitoral.
Havendo segmento (s) composto (s) por um só profissional da escola este
será automaticamente Conselheiro, devendo tal condição ser observada na Ata de
posse. No caso de afastamento e licenças do Conselheiro citado, este será
representado pelo profissional designado para sua função.
A eleição dos representantes dos segmentos da comunidade escolar que
integrarão o Conselho Escolar, deverá ocorrer mediante votação direta e secreta e
o seu resultado lavrado em Ata. Tem direito a voto os profissionais da educação em
efetivo exercício na escola, alunos matriculados com frequência regular, pais e/ou
responsáveis dos alunos e representantes dos movimentos sociais organizados da
comunidade local.
São considerados em efetivo exercício, portanto, com direito a voto, os
servidores que estiverem afastados com amparo da Lei n. 6.174/70 (licença-gala,
férias, licença-nojo, licença-prêmio, licença para tratamento de saúde, licença-
gestação). Os servidores substitutos terão direito a voto desde que não estejam em
substituição a servidores 16 afastados em decorrência da Lei n. 6.174/70: férias,
licença-prêmio, licença para tratamento de saúde (a partir de trinta dias) e licença-
gestação. No segmento dos professores, o integrante do Quadro Próprio do
Magistério detentor de dois padrões na mesma unidade escolar, terá direito a um
único voto. Cada membro do Conselho Escolar somente poderá representar um
segmento da comunidade escolar. Os cargos de Conselheiros serão preenchidos
por profissionais da educação em exercício no próprio estabelecimento de ensino.
No segmento dos pais e/ou responsáveis, o voto será um por família (pai ou mãe
ou representante legal), independentemente do número de filhos matriculados na
escola. O segmento dos alunos terá igualmente direito a voz e voto, observando o
contido no Art. 37, em seu § 1º.
No caso de vacância do cargo de qualquer um dos Conselheiros e não
havendo mais suplentes, serão convocadas novas eleições de representante do
respectivo segmento, para complementação do mandato em vigor, obedecidas as
disposições deste Estatuto, no Art. 17. Nenhum dos membros da comunidade
escolar poderá acumular voto, não sendo também permitidos os votos por
procuração.
Os membros do Conselho Escolar que se ausentarem 03 (três) reuniões
consecutivas ou 05 (cinco) intercaladas serão destituídos, assumindo os
respectivos suplentes. As ausências deverão ser justificadas, por escrito ou
verbalmente, em reunião do Conselho e serão analisadas pelos Conselheiros,
cabendo-lhes a decisão da aceitação ou não da justificativa apresentada.
O mandato será cumprido integralmente, no período para o qual os
representantes foram eleitos, exceto em caso de destituição ou renúncia. Todavia,
o conselheiro representante do segmento dos pais, em caso de transferência do
aluno, não poderá permanecer no Conselho até o final do período para o qual foi
eleito, sendo substituído automaticamente pelo suplente.
Em relação à posse dos representantes eleitos, acontecerá em reunião
especialmente convocada pelo Presidente do Conselho para esse fim e será no dia
imediatamente subsequente ao término da gestão anterior. O ato de posse dos
Conselheiros consistirá de: (a) ciência do Estatuto, mediante leitura do mesmo; (b)
ciência do Regimento Escolar; (c) ciência do Projeto Político-Pedagógico da escola;
(d) assinatura da Ata e Termo de Posse.
No desenvolvimento de suas ações, o Conselho Escolar deve evitar
burocratizar o desenvolvimento da ação pedagógica e administrativa da escola e
deliberar sobre aspectos corporativistas.
As reuniões do Conselho Escolar poderão ser ordinárias e extraordinárias. As
reuniões ordinárias serão mensais ou bimestrais, convocadas pelo Presidente do
Conselho ou Vice-presidente e, no seu impedimento, por representante designado,
dentre os seus componentes, com no mínimo 72 (setenta e duas) horas de
antecedência, com pauta claramente definida no Edital de convocação. Já as
reuniões extraordinárias serão convocadas, no mínimo, com 48 (quarenta e oito)
horas de antecedência, com pauta claramente definida e por solicitação: (a) do
Presidente ou Vice-presidente do Conselho; (b) da maioria simples de seus
membros, através de requerimento dirigido ao Presidente do Conselho
especificando o motivo da solicitação.
As reuniões serão realizadas, em primeira convocação, com quórum mínimo
de maioria simples (metade mais um) ou em segunda convocação, 30 (trinta)
minutos após, com 1/3 (um terço) de seus membros. Não havendo quórum
suficiente, cancela-se a reunião e registra-se a ocorrência em Ata assinada pelos
presentes. É permitida a participação de pessoas integrantes da comunidade
escolar nas reuniões do Conselho Escolar, com direito a voz e sem direito a voto,
quando constar da pauta assunto de seu interesse.
As reuniões do Conselho Escolar serão lavradas em Ata, por Secretário “ad
hoc”, em livro próprio. As deliberações do Conselho Escolar poderão ser tomadas
por consenso e/ou voto após esgotadas as argumentações de seus membros.
Entende-se por consenso, para efeito deste Estatuto, a unanimidade de opiniões.
Não havendo o consenso previsto no § 1º, a matéria será adiada, visando a
estudos que embasem a argumentação dos Conselheiros, em busca do consenso.
Caso não haja consenso, na segunda apreciação da matéria adiada, a deliberação
será tomada por votação da maioria de 2/3 (dois terços) dos seus representantes.
Os Conselheiros eleitos ou seus suplentes, em caso de substituição, terão
direito a voz e voto. Os estudantes terão igualmente direito a voz e voto, salvo nos
assuntos que, por força legal, sejam restritivos aos que não estiverem no gozo da
capacidade civil. Não serão permitidos votos por procuração.
2.2 Projeto Político Pedagógico (PPP)
O PPP é um instrumento que reflete a proposta educacional da escola. Por
meio dele que a comunidade escolar pode desenvolver um trabalho coletivo, cujas
responsabilidades pessoais e coletivas são assumidas para execução dos objetivos
estabelecidos. Evidencia-se a importância do Projeto Político Pedagógico na
democratização da escola, haja vista este sustentar o caráter democrático da
gestão.
A LDBEN n. 9394/96 trouxe profundas mudanças para o Sistema
Educacional Brasileiro, tanto em relação à gestão e à organização, quanto à ação
educativa, ao consagrar como princípios: a liberdade, a autonomia, a flexibilidade e
a democracia. Segundo Veiga,
[...] a autonomia é, pois, questão fundamental numa instituição educativa envolvendo quatro dimensões, relacionadas e articuladas entre si: administrativa, jurídica, financeira e pedagógica. Essas dimensões implicam direitos e deveres e, principalmente, um alto grau de compromisso e responsabilidade de todos os segmentos da comunidade escolar. As diferentes dimensões da autonomia são interdependentes (VEIGA,1998,p.14).
Em seu art. 12, inciso I, a LDBEN prevê que os as instituições de ensino,
respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência
de elaborar e executar sua proposta pedagógica.
O PPP deve possibilitar aos membros da escola, uma tomada de consciência
dos problemas e das possíveis soluções, estabelecendo as responsabilidades de
todos. A presença do debate democrático possibilita a produção de critérios
coletivos no seu processo de elaboração, assimilando significados comuns aos
diferentes agentes educacionais e colaborando com a identificação desses com o
trabalho desenvolvido na escola. É baseado na construção de parcerias com a
comunidade que mostramos o êxito de qualquer projeto educacional que tem como
meta o desenvolvimento da cidadania e a construção da identidade da escola. O
PPP define a intencionalidade e as estratégias da escola. Porém, só poderá ser
percebido dessa maneira, se assumir uma estratégia de gestão democrática, isso se
for baseado na coletividade. Ele será eficaz na medida em que gera o compromisso
dos pares da escola com a proposta educacional e com o destino da instituição.
Apesar das escolas se basearem em normas gerais da educação, as
unidades escolares se diferenciam entre si, pois cada instituição tem suas
necessidades e princípios específicos. Outro ponto que as diferenciam é a região em
que cada escola se situa, bem como os desejos de cada membro envolvido na
construção do projeto educativo (PORTELLA et al, 2001).
O Projeto Político-Pedagógico é o resultado dos valores que os membros da
unidade escolar têm. As escolas com uma prática qualitativamente superior são
aquelas que construíram tal documento de maneira coletiva e participativa. Colocar
em prática o Projeto Político-Pedagógico da unidade escolar é um processo de
ação-reflexão-ação que exige a participação de todo o colegiado.
2.2 Regimento Escolar
O Regimento Escolar é o documento que estrutura, define, regula e
normatiza as ações da instituição de ensino. A construção deve ser coletiva e em
consonância com o Projeto Político Pedagógico. Tudo o que ocorre na prática deve
ser regulamentado neste documento.
O Regimento Escolar deve conter os itens apresentados na Deliberação
n.16/99 do Conselho Estadual de Educação do Paraná (PARANÁ, 2015).
As experiências têm mostrado que as redes trabalham para cumprir os
princípios de gestão democrática das políticas educacionais. Mas outro desafio entra
em cena para a consolidação dessa prática. O regimento é pouco conhecido nas
escolas, embora, ao fazer a matrícula, os pais assinem que concordam com seu
conteúdo, podemos ter um documento juridicamente perfeito, mas pouco discutido.
Então, as regras podem acabar criando certa aversão na escola.
O Regimento Escolar é um documento no qual constam as regras que
contemplam as áreas: administrativa, pedagógica, didática e disciplinar da escola,
deve ser construído coletivamente, nele constando os direitos e deveres de todos
(as) que convivem no ambiente escolar, especificando o que compete a cada um
conforme a função que desempenha; é da competência do diretor a gestão
democrática da escola. O Regimento precisa contemplar as especificidades da
Instituição Escolar, sem deixar de atender a legislação vigente, pois o mesmo
deverá contribuir para o êxito no processo de ensino e aprendizagem.
Na elaboração do Regimento Escolar, conforme orientações da Secretaria de
Estado da Educação do Paraná, deve constar informações referentes à Instituição
escolar: identificação, localização, finalidades e objetivos, organização do trabalho
pedagógico (Conselho escolar, direção, órgãos colegiados, conselho de classe,
equipe docente, pedagogos e demais funcionários da escola), da organização
didático pedagógica (níveis de ensino ofertados, calendário escolar, matrícula,
transferência, frequência, avaliação e outros) e dos direitos, deveres e sanções da
comunidade escolar (professores, direção, funcionários, pais, alunos e comunidade
em geral) (PARANÁ, 2015).
O Regimento Escolar e o Projeto Político Pedagógico são, portanto, os
documentos norteadores de toda ação pedagógica e administrativa, de toda ação da
gestão escolar. Logo, precisam estar em consonância com a legislação vigente,
serem constantemente readequados, reescritos, reconstruídos com a participação
de toda comunidade escolar: alunos, pais, professores, funcionários e comunidade
em geral. Vale lembrar que a escola não pode existir sem estar em constante
contato com seu entorno (Secretarias Municipais de Saúde, de Educação, de Ação
social, Conselho Tutelar, entre outras), para ter o apoio da rede no sentido de
ampliar atendimentos e encontrar soluções de problemas que não competem
somente à escola.
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