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A GESTÃO DO CONHECIMENTO COMO ESTRATÉGIA PARA A SUSTENTABILIDADE: UM ESTUDO DE UM PROCESSO DE RECAPAGEM DE PNEUS Fernanda Cristina dos Santos (UFOP) Jean Carlos Machado Alves (UFOP) Jéssica Cristina Alves (UFOP) Tomaz Pinto Coelho Franco (UFOP) Resumo Devido a crescente preocupação com as questões socioambientais, muitas empresas têm buscado soluções sustentáveis para seus negócios, e o que permite que a sustentabilidade se torne uma vantagem competivitiva é o conhecimento que essas emprresas possuem e como são capazes de geri-lo no âmbito organizacional. Dentre os vários impactos ambientais tem-se os vinculados aos produtos após o seu uso muitas vezes destinados incorretamente como os pneus. Porém, dentro de uma visão do conhecimento e sustentabilidade há algumas ações que podem amenizar estes problemas como o processo de recapagem. Assim, o objetivo do trabalho é identificar e analisar os processos de reconstrução/recapagem dos pneus sob a ótica da gestão do conhecimento para a sustentabilidade em uma empresa localizada no município de João Monlevade. Quanto aos procedimentos metodológicos foram utilizadas pesquisas bibliográficas, visitas in loco na organização, análise do processo de recapagem e análise dos dados. Constatou-se, dentre vários pontos, que os restos de borracha são encaminhados para um Ecoponto existente na cidade, onde são transformados em pó de borracha. As sobras de aço, assim como outros resíduos são vendidos, porém nenhuma ação ou processo mais inovador que transcenda o básico de destinação dos resíduos é realizada. Assim, analisando o processo na temática da gestão do conhecimento, foi possível concluir que a empresa não a utiliza como estratégia para a sustentabilidade, pois não há nenhum elemento voltado para gestão do conhecimento que proporcione redução no uso 20, 21 e 22 de junho de 2013 ISSN 1984-9354

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A GESTÃO DO CONHECIMENTO COMO

ESTRATÉGIA PARA A

SUSTENTABILIDADE: UM ESTUDO DE

UM PROCESSO DE RECAPAGEM DE

PNEUS

Fernanda Cristina dos Santos

(UFOP)

Jean Carlos Machado Alves

(UFOP)

Jéssica Cristina Alves

(UFOP)

Tomaz Pinto Coelho Franco

(UFOP)

Resumo Devido a crescente preocupação com as questões socioambientais,

muitas empresas têm buscado soluções sustentáveis para seus

negócios, e o que permite que a sustentabilidade se torne uma

vantagem competivitiva é o conhecimento que essas emprresas

possuem e como são capazes de geri-lo no âmbito organizacional.

Dentre os vários impactos ambientais tem-se os vinculados aos

produtos após o seu uso muitas vezes destinados incorretamente como

os pneus. Porém, dentro de uma visão do conhecimento e

sustentabilidade há algumas ações que podem amenizar estes

problemas como o processo de recapagem. Assim, o objetivo do

trabalho é identificar e analisar os processos de

reconstrução/recapagem dos pneus sob a ótica da gestão do

conhecimento para a sustentabilidade em uma empresa localizada no

município de João Monlevade. Quanto aos procedimentos

metodológicos foram utilizadas pesquisas bibliográficas, visitas in loco

na organização, análise do processo de recapagem e análise dos

dados. Constatou-se, dentre vários pontos, que os restos de borracha

são encaminhados para um Ecoponto existente na cidade, onde são

transformados em pó de borracha. As sobras de aço, assim como

outros resíduos são vendidos, porém nenhuma ação ou processo mais

inovador que transcenda o básico de destinação dos resíduos é

realizada. Assim, analisando o processo na temática da gestão do

conhecimento, foi possível concluir que a empresa não a utiliza como

estratégia para a sustentabilidade, pois não há nenhum elemento

voltado para gestão do conhecimento que proporcione redução no uso

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ISSN 1984-9354

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de matérias-primas e/ou redução dos resíduos do processo. Porém,

sabe-se que gerindo o conhecimento é possível otimizar processos,

inclusive o de recapagem, tornando-o ainda mais sustentável para o

meio ambiente.

Palavras-chaves: Gestão do conhecimento, Sustentabilidade,

Recapagem de Pneus.

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INTRODUÇÃO

A preocupação com as questões socioambientais tem ganhado importância no mundo e

muitas empresas têm buscado soluções sustentáveis para seus negócios. E o crescimento

econômico para ser sustentável e assim proporcionar melhores condições de vida no planeta,

precisa estar pautado em uma sociedade mais igualitária, visando qualidade de vida, melhor

distribuição de renda, saúde e educação para as pessoas; preservar o meio ambiente, afinal os

recursos naturais são escassos e é preciso reduzir a poluição e os resíduos para proteger o

meio ambiente; e claro ser viável economicamente visando o melhor aproveitamento dos

recursos financeiros como previsto pela filosofia do desenvolvimento sustentável.

Para Cavalcanti et al (1995) apud Epiphânio e Araujo (2008), pode-se definir

desenvolvimento sustentável como uma forma de desenvolvimento que considere a

necessidade das gerações futuras, buscando então atender às necessidades atuais, mas sem

comprometer os recursos para as próximas gerações.

Observa-se que para a eficiência de um desenvolvimento sustentável são necessárias

várias ações por parte dos setores públicos, privados e civil, os quais têm debatido e criticado

sobre a necessidade de estratégias e pessoas qualificadas para desenvolver e gerar novos

conhecimentos em prol da sustentabilidade. Assim, a importância de uma nova visão da

gestão sustentável e do conhecimento está desse modo em pauta como estratégia para

sustentabilidade.

Segundo Angeloni (1999, p.4) gestão do conhecimento sendo um conjunto de atividades

e processos responsáveis por criar, disseminar, armazenar e utilizar de forma eficiente o

conhecimento nas organizações, capaz de gerar riquezas a partir do capital intelectual,

atentando para o aspecto estratégico e é, portanto, um elemento fundamental dentro das

organizações, principalmente, o que tange a sustentabilidade.

Para Takeuchi e Nonaka (2008) apud Razal (2011, p.2), “em uma economia onde a

única certeza é a incerteza, a fonte certa de vantagem competitiva duradoura é o

conhecimento.” De fato pode-se afirmar que o conhecimento que uma empresa detém é o que

permite à mesma ter a sustentabilidade como vantagem competitiva, isto é, a forma com que

administra as informações, ideias das pessoas, conhecimentos tácitos, explícitos, científicos

e/ou a rapidez com que criam inovações.

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Diante desse cenário, é possível apontar vários setores em que seus produtos, quando

produzidos ou destinados de forma inadequada, geram um grande impacto ambiental. Entre

eles está o setor de pneus, pois seu descarte inadequado pode desencadear vários malefícios

ao meio ambiente e para toda sociedade.

Assim, como diz Veloso (2008), os pneus usados quando enterrados, ocupam muito

espaço e dificultam a decomposição do lixo orgânico. Além disso, podem reaparecer na

superfície e servir de criatório e hospedagem de insetos e roedores transmissores de doenças.

Se jogados em rios, podem contribuir para o assoreamento e obstruir o fluxo causando

enchentes. Ainda reforça o autor, se a opção de eliminação dos pneus for a queima, essa libera

componentes químicos pesados, poluentes e altamente tóxicos, que podem influenciar

diretamente na saúde da população uma vez que quando liberados, não são degradados pela

atmosfera, nem pelo corpo humano, que pode desenvolver doenças como o câncer e a

infertilidade. A queima também pode causar contaminação da água através do contato com

materiais derivados do petróleo liberados nesse processo.

Uma forma de diminuir esses impactos consiste na reconstrução de pneus usados que

conta com a utilização de menos recursos naturais não renováveis, reduz a geração de

resíduos sólidos de difícil destinação, proporciona menor custo para o usuário final e contribui

para a sustentabilidade do planeta.

Em cidades onde há um grande fluxo de meios de transporte terrestres, por serem

exploradas economicamente ou simplesmente por terem uma localidade estratégica para

escoação de produtos, há muita utilização e desgastes de pneus como é o caso da cidade de

João Monlevade em Minas Gerais.

João Monlevade localiza-se cerca de 110 km da capital mineira Belo Horizonte, sua

economia é baseada na indústria e comércio, principalmente exploração e beneficiamento de

minério e ferro. Sua posição geográfica é estratégica, pois a região possui uma boa malha

ferroviária e rodoviária responsável por ligar a cidade aos principais mercados e pontos de

escoamento de produção no país atualmente.

Visto isso, na região há uma grande quantidade de veículos trafegando, o que alerta

ainda mais para a necessidade da destinação correta dos pneus utilizados por esses veículos,

que inevitavelmente, uma hora estarão impróprios para o uso. Dentre as possibilidades há o

processo de recapagem, que, segundo a Associação Brasileira do Segmento de Reforma de

Pneus (2011), consiste na reposição da banda de rodagem desgastada pelo uso e é uma prática

mundial que surgiu com o intuito de evitar o desperdício.

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Assim, o objetivo do trabalho é identificar e analisar os processos de

reconstrução/recapagem dos pneus sob a ótica da gestão do conhecimento para a

sustentabilidade em uma empresa localizada no município de João Monlevade.

Espera-se com este trabalho perceber os conhecimentos existentes e as possibilidades de

geração de novos conhecimentos baseados na sustentabilidade e competitividade

organizacional.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O Processo de Recapagem de Pneus

O processo de recapagem ou reconstrução de pneus consiste basicamente em aproveitar

a estrutura que sobrou do pneu usado (liso), desde que esteja em boas condições de

conservação e acrescentar-lhe uma nova camada superior de borracha de piso (banda de

rodagem) vulcanizada, permitindo aumentar a vida útil do pneu em até 100%.

Baseado na Resolução N° 416/2009 do Conselho Nacional do Meio Ambiente

(Conama), pode-se afirmar que “pneu reformado é um pneu usado que foi selecionado,

inspecionado e submetido a processo de reutilização da carcaça – recapagem, recauchutagem

ou remoldagem – com o fim específico de aumentar sua vida útil”.

Segundo Siqueira (2010) “o processo de recapagem de pneus pode ser realizado em

média uma vez para pneus de veículos ligeiros, duas a três vezes em pneus de veículos

pesados ou industriais e cerca de dez vezes em pneus de avião”.

A partir dessa operação, mantêm-se as mesmas características técnicas, fisiológicas e

comportamentais, como por exemplo, a inscrição original, marca e modelo do pneu original, a

custos muito inferiores.

Atualmente a recapagem contribui, em larga escala, para uma requalificação dos

resíduos industriais, impedindo que sejam colocados nos aterros, incinerados ou espalhados

pela natureza.

O pó e os restos de pneus gerados pela recapagem podem ser aplicados na composição

de asfalto fazendo com que aumente seu nível de elasticidade e durabilidade. A possibilidade

é de que 15% a 20% do asfalto sejam feitos com o material, segundo dados do CEMPRE,

(1993).

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Isso se reflete no meio ambiente e na economia, criando uma poupança econômica e

ambiental. Para se compreender melhor o processo, antes se precisa conhecer as partes de um

pneu, listadas a seguir:

a) Banda de rodagem: Parte do pneu que toca diretamente o solo. Há vários tipos de

desenhos, para diferentes finalidades, oferecendo aderência, tração, estabilidade e

segurança.

b) Carcaça: O esqueleto do pneu resistente ao peso e choques, evitando a perda de

pressão do ar.

c) Cinta: São lonas dimensionadas a fim de suportar cargas em movimento. Garantem a

área de contato entre o pneu e o solo.

d) Flancos: As laterais da carcaça. São revestidas por um composto de borracha de alta

resistência.

e) Sulcos: Cavidades projetadas para evitar derrapagem, gerando tração entre o solo e o

pneu. É por onde se escoa água e detritos.

f) Talão: Fixa o pneu à roda. Feixe inelástico, porém flexível. Composto de arames de

aço de alta resistência isolados com borracha.

Existem dois processos de reforma de pneus: a quente e a frio. No processo a frio, são

utilizadas borrachas pré-moldadas como matéria-prima, ao passo que, no processo a quente é

usado o camelbeck, caracterizado pela borracha lisa aplicada ao pneu.

Na recapagem a frio, com a banda pré-moldada, a identificação de que foi reformado é

feita pela aplicação de um rótulo vulcanizado com a identificação do reformador no ombro do

pneu.

Já na recapagem a quente, são gravados na lateral do pneu a inscrição “REFORMADO”

e o CNPJ do reformador, em letras com tamanho 10 x 10 mm.

A recapagem pode ser dividida em 12 etapas, segundo a empresa estudada, sendo elas:

Limpeza, Exame Inicial, Raspagem, Escareação, Aplicação de concerto, Aplicação de cola,

Enchimento, Aplicação da Banda de Rodagem, Envelopamento, Montagem, Vulcanização e

Inspeção Final. Na sua maioria esses procedimentos são executados com máquinas e

equipamentos de alta tecnologia.

Atualmente o Brasil conta com avançada tecnologia voltada para a

área de recapagem, sendo que a maior parte das empresas é

informatizada, reformando assim cerca de 15 milhões de pneus por

ano, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, que atinge a casa dos

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18 milhões de unidades, só para o setor de transportes (TALIOTTO,

2009 ).

A recapagem de pneus é uma estratégia de desenvolvimento econômico aliado à

preservação do meio ambiente, fazendo com que a empresa invista continuamente no

desenvolvimento de sistemas de gestão tanto ambiental quanto tecnológico, lhe conferindo

uma posição de destaque na luta pela preservação ambiental.

Porém, um dos grandes desafios desse setor é o desenvolvimento de ações para geração

e manutenção do conhecimento que gere sustentabilidade e competitividade no negócio,

realmente transcendendo à visão capitalista de obter lucro a todo custo, e desenvolvendo

conhecimento que vise o econômico, social e o ambiental.

2.2 Gestão do conhecimento

Antes de explorar o conceito de gestão do conhecimento, é importante entender o que é

o conhecimento e como ele pode ser construído.

Para Cruz (2002) apud Santos (2005, p.10) “O conhecimento é o entendimento obtido

por meio da inferência realizada no contato com dados e informações que traduzam a essência

de qualquer elemento”.

Dessa forma, o conhecimento pode ser gerado através da interpretação de informações

criadas a partir da separação e análise de dados iniciais.

O conhecimento é algo íntimo e intangível que pode ser facilmente transmitido ou não

para Nonaka e Takeuchi (1997), existem dois tipos de conhecimento: conhecimento tácito e

conhecimento explícito. Quando é disseminado de forma clara e de fácil entendimento às

outras pessoas é denominado conhecimento explícito. Em contrapartida, o conhecimento de

difícil transmissão, onde não se consegue expor as informações necessárias para a construção

do conhecimento, recebe o nome de conhecimento tácito.

Antigamente, o conhecimento era visto como algo complementar e de menor

importância e sua disseminação entre os trabalhadores não era explorada. O homem e suas

habilidades se resumiam em “componentes das máquinas” e, a única forma de conhecimento

que realmente importava se concentrava somente na busca por novas tecnologias que

proporcionassem o aumento da produtividade. Nesse tempo, o que realmente gerava

lucratividade para as organizações eram os equipamentos aliados à tecnologia, inovações

produtivas e as atividades operacionais.

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O oposto pode ser claramente observado nos dias atuais, onde a competitividade entre

as empresas é cada vez maior e a permanência no mercado está centrada na forma estratégica

de gerir os recursos da empresa. Dessa forma, há uma crescente valorização do conhecimento

e do chamado capital intelectual que segundo Lacombe e Heilborn (2003), é a soma dos

conhecimentos, informações, propriedade intelectual e experiências de todos em uma

organização, que podem ser utilizados para gerar riquezas e vantagens competitivas.

Mediante a este cenário, a gestão do conhecimento surge, como afirmam Angeloni et al

(1999, p.4), como um conjunto de atividades responsáveis por criar, disseminar, armazenar, e

utilizar de forma eficiente o conhecimento na organização, atentando para o aspecto

estratégico.

Assim como destacaram os autores Davenport e Prusak (1998) apud Albino et. al.

(2006) a gestão do conhecimento é uma coleção de processos que governa a criação,

disseminação e utilização de conhecimentos.

A Gestão do Conhecimento está ligada à capacidade das empresas em

utilizarem e combinarem as várias fontes e tipos de conhecimento

organizacional para desenvolverem competências específicas e

capacidade inovadora, que se traduzem, permanentemente, em novos

produtos, processos, sistemas gerenciais e liderança de mercado

(TERRA, 2000, p.70).

Assim, a gestão do conhecimento vem como uma forma de alavancar tanto os processos

da empresa na sua forma operacional, quanto traçar a melhor estratégia a ser seguida diante de

um cenário altamente competitivo.

Saber gerir seus recursos, sejam eles tangíveis ou intangíveis, da melhor maneira

possível poderá trazer sucesso a empresa e a gestão do conhecimento tem como intuito fazer

com que o conhecimento de todos dentro da organização seja transmitido e aproveitado de

forma a alcançar os melhores resultados visando a sustentabilidade do negócio.

2.3 A Sustentabilidade

Sustentabilidade sugere o uso consciente e controlado dos recursos garantindo que

permaneçam no longo prazo. Esse termo se aplica muito bem às questões ambientais, afinal

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os recursos naturais do planeta são limitados e não renováveis e, portanto, a exploração

exacerbada compromete a continuidade dos mesmos no futuro.

Sustentabilidade é a capacidade de se auto sustentar, de se auto

manter. Uma atividade sustentável qualquer é aquela que pode ser

mantida por um longo período indeterminado de tempo, ou seja, para

sempre, de forma a não se esgotar nunca, apesar dos imprevistos que

podem vir a ocorrer durante este período. Pode-se ampliar o conceito

de sustentabilidade, em se tratando de uma sociedade sustentável, que

não coloca em risco os recursos naturais como o ar, a água, o solo e a

vida vegetal e animal dos quais a vida (da sociedade) depende

(PHILIPPI, 2001).

São atitudes sustentáveis, por exemplo, o uso de energias limpas, consumo consciente

de água, diminuição da emissão de gases poluentes na atmosfera e combate ao desmatamento

das florestas.

O uso exacerbado dos recursos sem preocupação com os limites da natureza e a poluição

que só evoluiu principalmente desde que a revolução industrial iniciou-se e ganhou força pelo

mundo no século XVIII, fez com que com a população mundial sentisse nos últimos tempos

as consequências desse comportamento com a diminuição das áreas verdes, por exemplo. A

preocupação com a manutenção dos recursos naturais para as gerações futuras colabora,

portanto, para que ganhe destaque a busca por um desenvolvimento sustentável.

A sociedade, incluindo governos, civis e empresários, busca, portanto, um

desenvolvimento sustentável que seja viável economicamente e simultaneamente benéfico

socialmente, garantindo qualidade de vida a todos sem prejudicar o meio ambiente.

De acordo com Goldman (2010), a sustentabilidade vem sendo reconhecida em todas

suas dimensões – ambiental, social, cultural, econômica etc. – como condição sine qua non

para o desenvolvimento das empresas e demais sociedades.

Diante disso, as empresas, principalmente as cujos produtos quando produzidos ou

destinados de forma errada tem um grande impacto ambiental, precisam de ações efetivas em

busca desse desenvolvimento. Sabe-se que a gestão do conhecimento pode ser uma

ferramenta muito eficiente em busca de sustentabilidade.

De acordo com Aligleri et al 2009, a melhoria ambiental em uma organização

pode gerar benefícios para a produtividade dos recursos e dos processos, através da economia

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dos materiais e redução do lixo e resíduos, assim como ganhos econômicos devido à

substituição reutilização ou reciclagem dos insumos da produção e redução no uso de energia

durante o processo. É notória também a economia gerada junto aos trabalhadores quando se

proporciona um ambiente de trabalho mais seguro e pelas práticas da educação ambiental,

com a utilização de equipamentos de proteção individual (EPIs) e redução de acidentes.

O objetivo fundamental de qualquer organização é obter o maior

retorno possível sobre o capital investido. Para tanto, utiliza-se de

ferramentas disponíveis para estar à frente dos concorrentes, obtendo

maiores margens e fatias de mercado. No entanto, com as mudanças

em sentido global, além dos fatores econômicos e estruturais, outros

começam a fazer parte da responsabilidade das empresas, que são as

questões do meio ambiente natural e as questões sociais. Para que as

organizações possam contribuir para a sustentabilidade devem

modificar seus processos produtivos, quando for necessário, para se

tornarem ecologicamente sustentáveis. Isto implica em construir

sistemas de produção que não causem impactos negativos e mesmo

estejam contribuindo para a recuperação de áreas degradadas ou

oferecendo produtos e serviços que contribuam para a melhoria da

performance ambiental dos consumidores e clientes de uma indústria

(CORAL, 2002).

Aligleri et al (2009), enfatizam a importância de considerar que a cadeia produtiva não

se encerra com a venda do produto ao consumidor final. A cadeia produtiva deve assumir a

preocupação com a vida útil e o descarte do produto, pensando inclusive nas embalagens que

o compõem se essas existem. Esse entendimento de responsabilidade ambiental que abrange o

que está além da empresa possibilita uma sustentabilidade no próprio conceito, tendo em vista

que apresenta uma rede de negócios que lança a preocupação ambiental em todas as etapas do

processo produtivo e de comercialização de maneira efetiva e multidirecional.

2.4 Gestão do Conhecimento como estratégia para a sustentabilidade

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Atualmente, devido ao dinâmico meio em que as organizações estão inseridas, há a

necessidade das mesmas se adaptarem constantemente. Para isso, é necessário apostar em

inovação e uma boa utilização dos seus recursos e a gestão do conhecimento é fundamental na

realização dessas atividades.

A gestão do conhecimento está intimamente relacionada à estratégia da organização e

de acordo com a realidade atual é de extrema importância nas questões relacionadas a

sustentabilidade que por sua vez, também tem influência direta na definição da estratégia das

empresas.

Segundo Loures (2008), “negócios sustentáveis são aqueles que criam valor econômico

financeiro sem causar danos ao meio ambiente ou a terceiros (...) capaz de atender a uma

necessidade, gerar lucro e, simultaneamente, causar um impacto positivo nas dimensões

socioambiental e política.”

Dessa forma, a gestão do conhecimento aplicada às práticas de sustentabilidade, tem

como foco o aumento da responsabilidade social perante todos os envolvidos e não apenas a

preocupação com a viabilidade econômica, como afirma Wada (2010).

O conhecimento é uma ferramenta capaz de ajudar as organizações a alcançarem

sucesso a partir de práticas sustentáveis.

Atualmente, o conhecimento e a capacidade de criá-lo e utilizá-lo são

considerados as mais importantes fontes de vantagem competitiva,

sustentável de uma empresa (...). Parece, no entanto, que estamos

longe de entender o processo pelo qual as organizações criam e

utilizam o conhecimento. Necessitamos de uma teoria baseada no

conhecimento que seja diferente das teorias econômicas e

organizacionais já existentes. (TAKEUCHI e NONAKA, 2008)

Para Melo (2003), a gestão do conhecimento “contribui na busca não apenas de

estruturar mecanismos de armazenamento e disseminação, mas também prover recursos para

que no futuro seja possível quantificar e valorizar o chamado patrimônio intelectual”.

Dessa forma, é possível perceber a importância de gerenciar o conhecimento dentro

das organizações buscando resultados satisfatórios e reais voltados para a sustentabilidade.

Outro aspecto importante em gerir o conhecimento é a capacidade de reter as idéias

sustentáveis dentro da empresa quando os principais envolvidos não fazem mais parte da

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organização. Isso garante a permanência e desenvolvimento das ideias nessa linha e evita a

perda de tempo.

A fim de contribuir para uma mensuração, através de indicadores, e para o

desenvolvimento da sustentabilidade em uma organização, existem ainda ferramentas de

gestão, dentre elas o Balanced ScoreCard (BSC), o Desdobramento da função qualidade

(QFD) e a Matriz de SWOT.

A ferramenta BSC, segundo Kaplan e Norton (2001) apud Machado (2011), “é um

método que auxilia os gestores a desenvolver uma estratégia de forma sistêmica fazendo com

que cada indivíduo dentro da empresa empregue seus esforços na consecução dos objetivos

traçados”.

Algumas políticas e medidas podem ser adotadas através de ações

estratégicas dentro do entendimento do Balanced Scorecard visando

agregar valor à empresa e consequentemente gerar retorno para os

acionistas, compondo a base estrutural dos processos regulatórios.

Tendo como foco o meio ambiente, medidas como o consumo de

energia, resíduos sólidos e desempenho do produto, ou no âmbito da

segurança e saúde dos colaboradores, práticas trabalhistas corretas e

investimentos no campo social no qual a empresa se insere

(MACHADO, 2011)

Com relação ao QFD, segundo Fialho at al (2007, p. 145),

Esse método transforma as exigências dos usuários dos produtos da

empresa em características substitutivas (características de qualidade),

define a qualidade do produto ou serviço prestado e desdobra essa

qualidade em qualidade de outros itens, tais como a qualidade de cada

parte do processo e dos elementos do processo, apresentando

sistematicamente a relação entre os mesmos.

Já a Matriz SWOT é uma ferramenta de baixo custo que promove o compartilhamento

de conhecimentos sobre a empresa e disseminação desses conhecimentos para stakeholders e

funcionários, e que visa identificar pontos de melhoria e fatores fortes a serem trabalhados,

assim como oportunidades e ameaças, permitindo à empresa uma análise de seu ambiente

externo e interno.

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para desenvolver o presente trabalho, foram realizadas inicialmente pesquisas

bibliográficas paralelamente aos estudos, escolheu-se uma empresa do município de João

Monlevade/MG que trabalha com o processo de recapagem de pneus a fim de tentar

identificar os elementos da gestão do conhecimento que a empresa utiliza, ou poderia utilizar,

a favor de sua atuação sustentável.

As visitas foram realizadas no mês de fevereiro de 2013, tendo a primeira duração de

pouco mais de uma hora. Este primeiro contato teve por objetivo conhecer todas as etapas do

processo produtivo da empresa, que foi explicado pelo responsável pela programação e

controle da produção. A partir das informações obtidas, pode ser realizada uma analise inicial

sobre o processo de recapagem da empresa e suas ações voltadas principalmente para a

formação e o descarte dos resíduos.

Diante disso, foi marcada uma nova visita a fim de entender melhor as etapas do

processo que geram resíduos: raspagem, aplicação de cola e preparação da banda de rodagem.

A partir dessa segunda visita com duração de uma hora, aproximadamente, frente às respostas

dadas pelos operários do processo de recapagem e pelo responsável pela programação e

controle da produção, foi possível completar as análises e relatar os resultados obtidos.

4 A EMPRESA DE RECAPAGEM EM JOÃO MONLEVADE

A empresa atua no comércio varejista e atacadista de pneus a mais de 20 anos no

mercado mineiro, tendo sua sede administrativa localizada na cidade de João Monlevade com

oito filiais, na mesma e em Muriaé, Juiz de Fora, Coronel Fabriciano, Timóteo, Ipatinga e

Itabira. Há quase três anos inaugurou uma reformadora de pneus em sua sede, objeto central

do estudo apresentado neste trabalho.

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Figura 1: Estrutura Hierárquica

Fonte: Empresa estudada

Esta empresa, cuja estrutura hierárquica está ilustrada na figura 1, oferece serviços de

alinhamento, balanceamento, freios, suspensão, escapamentos, troca de óleo e filtros, rodízios

de pneus, palhetas; e produtos para automóveis (passeio, pick-ups e suv's, vans, furgões e

comerciais leves), veículos de uso profissional (caminhões e ônibus, agricultura, industrial,

fora de estrada), motos, peças e reformas.

A empresa desenvolve suas atividades com 204 funcionários em suas diversas áreas de

atuação sendo 18 os que trabalham diretamente no processo de recapagem de pneus (11

funcionários na equipe operacional, 6 na equipe comercial e 2 na equipe administrativa). Do

total de empregados, 10% atuam na parte gerencial da empresa, 19% cuidam das questões

comerciais, 23% trabalham na administração e 48% atuam na parte operacional onde os

serviços são realizados.

Dentre o total de funcionários que atuam na empresa, 36% são do sexo feminino e a

grande maioria 64% são do sexo masculino. Isso se reflete na realidade da empresa pelo fato

de atuar principalmente com mecânica automotiva onde culturalmente operam mais homens.

A faixa etária dos trabalhadores varia de 17 a 36 anos, onde 18% possuem entre 17e 21

anos; a maior parte deles, 26% tem entre 22 e 26 anos e 25% de 27 a 31 anos; e a minoria

representada por 6% apresenta idade entre 32 e 36 anos.

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5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

O sistema produtivo de recapagem de pneus na empresa estudada tem como

entradas, pneus de carga, ou seja, com raio acima de 15 cm, como o das vans e com no

mínimo 1,6 mm de espessura de borracha.

Os pneus a serem recapados, a partir da demanda dos clientes, vêm das lojas

com todas as especificações: série, medida, cliente, tipo de reforma e de coleta, e são

colocados na “Recepção de pneus”.

Dentro da empresa, os pneus passam pelo processo de recapagem que pode ser

descrito pelas fases abaixo.

1. Limpeza: Nessa primeira etapa, o pneu passa por uma máquina que com o

auxílio de uma escova faz a limpeza da lateral do pneu, retirando todos os resíduos

para evitar danos que poderiam prejudicar a reconstrução. Essas impurezas poderiam

comprometer a etapa do envelopamento do pneu. Além disso, essa etapa ajuda na

identificação das condições do mesmo no exame inicial;

2. Exame inicial: Após a Limpeza, o pneu é submetido a um exame inicial, que

se procede visualmente, avaliando as reais condições do pneu a ser reformado.

Preocupa-se em analisar as cinco principais partes de um pneu: a parte interna, o

flanco ou lateral, o ombro, a banda de rodagem e o talão, a fim de avaliar se há alguma

avaria que impossibilite a reforma do pneu, como aço enferrujado ou “buracos” na

parte interna;

3. Raspagem: Após o exame inicial, o pneu passa à máquina de raspagem, onde

a banda de rodagem será desgastada até chegar à carcaça do pneu. Neste processo,

identifica-se o raio do pneu, bem como o perímetro da banda que será aplicada. A

partir dessas indicações, o raspador encaminha uma ficha com os dados do pneu para a

área onde ficam estocadas as bandas, e lá ela é preparada enquanto o pneu passa pelas

próximas fases;

4. Escareação: Até essa etapa é possível avaliar se o pneu a ser reformado pode

ou não ser reconstituído, sendo essa etapa de extrema importância para o processo;

Nesse momento são evidenciados e tratados os pequenos cortes encontrados no

piso da carcaça. É preciso que cada ponto danificado seja corrigido individualmente.

Caso os cortes tenham atingido o pacote de cintas, o pneu receberá ainda um conserto

especial, capaz de restabelecer a resistência da carcaça.

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5. Aplicação de conserto: Depois da Escariação, se as condições do pneu não suportam

consertos, o pneu vai para a área de “despacho” de onde será devolvido ao cliente. Caso o

pneu possa ser recuperado e submetido a consertos, ele passará para essa etapa. Cada ponto

danificado evidenciado pela raspagem é reconstruído, a fim de se manter a integridade da

carcaça. A carcaça é preparada internamente para a aplicação do reparo, que varia de acordo

com o tamanho do dano seguindo as determinações técnicas. Se o pneu a ser reformado se

encontrar em um estado muito deplorável, aplica-se um bojo, uma espécie de camada extra

para o pneu, a fim de retocá-lo;

6. Aplicação de cola: Depois de todo o preparo inicial do pneu para receber a reforma,

é nesta etapa que realmente se inicia a fase de reconstrução do pneu. Devido ao fato da cola

ser altamente tóxica, o responsável por essa etapa deve fazer uso de equipamentos de EPI,

como máscaras e luvas, para evitar intoxicação. Aplica-se cola sobre a carcaça tratada e

depois é retirado seu excesso, isolando-a para ajudar na adesão da banda de rodagem;

7. Enchimento: Nesta etapa, uma borracha especial, com sua temperatura variando

entre 80°C e 85ºC, é aplicada para tampar todas as imperfeições encontradas no processo de

escariação do pneu. Depois disso, o pneu está pronto para que a nova banda de rodagem seja

aplicada;

8. Aplicação da banda de rodagem: Nesta etapa a banda já cortada previamente de

acordo com as especificações de cada pneu, é disponibilizada com um número de

identificação próprio. Também foi aplicada nela uma borracha de ligação, responsável pela

adesão à carcaça durante o processo de vulcanização.

Toda essa preparação é feita quando o raspador encaminha uma ficha com todos os

dados correspondentes de cada pneu para a área de estoque das bandas. Quando o pneu chega

à máquina de aplicação, a banda de rodagem é colocada. A seguir é a vez do processo de

roletamento, que irá retirar o ar que pode ter restado entre a banda e o piso da carcaça.

São dois tipos de processos de aplicação da banda de rodagem realizados na empresa: o

convencional, que é feito com a banda em tiras, e o mais moderno, que é feito com a banda

em formato de anéis.

Para complementar esta operação, aplica-se uma etiqueta de identificação na lateral do

pneu ela informa o número e a data das reconstruções já aplicadas nele.

9. Envelopamento: O pneu recebe um envelope de borracha na parte externa, que

posteriormente será succionada durante o processo de vulcanização, causando uma pressão de

fora para dentro sobre o pneu durante 30 minutos.

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Cada envelope pode ser utilizado de 150 a 200 vezes e qualquer impureza no pneu pode

danificá-lo.

10. Montagem: Essa etapa diferencia-se de acordo com o tipo de pneu: tubeless

(sem câmara) e pneus tube type (com câmara). Os pneus sem câmara utilizam um

envelope interno e externo. Já nos pneus com câmara, utilizam-se roda, saco de ar e

protetor.

11. Vulcanização: O pneu é colocado na autoclave, equipamento com a

finalidade de vulcanizar a nova banda sobre a carcaça utilizando temperatura, pressão

e tempo. Para garantir a segurança e a qualidade da operação durante este processo, é

imprescindível o uso de recursos eletrônicos para controlar o tempo, a temperatura e

os níveis de pressão que serão aplicados ao pneu, sendo a pressão entre 6 Kg/cm² e 8

Kg/cm² e o tempo de 4 horas.

12. Inspeção final: Terminada a vulcanização, o pneu é desmontado e

encaminhado para a inspeção final, em que se verifica a parte interna, a parte externa,

a nova banda e a integridade da carcaça, ou seja, é analisado se o pneu está realmente

em perfeitas condições de utilização. Se o pneu for aprovado, é emitida uma nova

etiqueta de identificação referente às especificações e dados cadastrais do cliente. Se

não aprovado o pneu será retrabalhado.

Figura 2: O processo de recapagem

Fonte: Os autores

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Concluído o processo de recapagem, o pneu está disponível para ser entregue ao cliente

e é encaminhado para a área de “despacho” separado por regiões: Santa Bárbara, João

Monlevade, Nova Era e Itabira.

Além dos pneus recapados a empresa tem como saídas pneus inservíveis (que não tem

condições de serem reformados) e que também são devolvidos aos clientes.

Para realizar as tarefas no processo de recapagem, não é necessário que o funcionário

tenha competência técnica. Quando um trabalhador entra na empresa ele recebe treinamento e

vai agregando novas funções até ficar saturado. O supervisor conhece e entende bem todas as

etapas do processo e já participou de vários cursos em diversas localidades.

Além disso, todos os postos de trabalho possuem um mapeamento das atividades

daquela etapa, para ser consultado pelo funcionário, seguindo as normas do INMETRO e

ABNT. Dessa forma, qualquer dúvida a respeito de como o trabalho deve ser executado pode

ser facilmente esclarecida através desses documentos.

Os funcionários na equipe operacional seguem as normas preestabelecidas e não há

espaços para trocas de conhecimento no que diz respeito à sustentabilidade durante os

trabalhos na reformadora. Não foi identificado nenhum aspecto, como uso de ferramentas ou

práticas que favoreçam a criação de novas ideias e novos conhecimentos, que contribua a

sustentabilidade do processo de recapagem.

Uma forma de tornar todas as etapas do processo interligadas se dá a partir de um

equipamento denominado Coleter, instalado em todos os setores, que funciona como um meio

de comunicação dentro do sistema produtivo. Nesse aparelho, os funcionários digitam

informações a respeito das condições do pneu em questão e sobre o que já foi trabalhado nele.

Essas informações são atualizadas a cada etapa e disponibilizadas a todos os segmentos do

processo tornando mais fácil a continuidade do procedimento. O sistema que armazena essas

informações se chama Recalmax.

No que diz respeito aos resíduos gerados pelo processo de recapagem, todos eles são

devidamente descartados.

Os restos de borracha são encaminhados para o Ecoponto existente na cidade, onde são

transformados em pó de borracha, que pode ser utilizado em asfaltos e quadras de soçaite, por

exemplo. As sobras de aço retiradas das estruturas dos pneus são vendidas para uma empresa

que trabalha com sucatas. Já os plásticos de proteção da cola nas bandas de rodagem são

doados para uma associação de catadores de materiais recicláveis no município.

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Quanto à cola que cai durante a aplicação na carcaça do pneu, esta não é reaproveitada,

pois possui um solvente muito volátil em sua composição que evapora rapidamente, fazendo

com que ela se solidifique ao cair. É usada uma pistola para aplicação da cola a fim de evitar

desperdícios em excesso.

Foi identificado um gargalo na fase de raspagem de pneus, quando o funcionário para o

serviço para varrer o excesso de borracha. O mesmo disse que o tempo gasto varrendo é entre

5 e 10 minutos apenas, e que no fim do dia usa uma mangueira para sugar os resíduos.

Existem máquinas no mercado que são mais eficientes para coletar os restos de borracha, que

possuem, por exemplo, 2 canos de sucção (mangotes), porém essas são mais caras.

A empresa possui uma máquina com apenas um cano de sucção, que não está funcionando

muito bem no momento, precisando ser trocado.

Quando questionado o fato de que durante o processo de preparação da banda de

rodagem ocorre grande sobra de material, a justificativa foi que cada pneu, de diversos tipos

e/ou marcas, tem um tamanho diferente e comprar as bandagens seguindo esses critérios seria

economicamente inviável. Portanto, a empresa compra as bandagens do maior tamanho

possível atendendo a todos os tipos de pneus, o que resulta em sobras.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabe-se que a reforma de pneus é uma atividade bastante favorável ao meio ambiente,

afinal renova o tempo de vida útil dos pneus. Segundo informações disponibilizadas pela

Pneus Ost, quando um pneu é reformado através da substituição da banda de rodagem, ou

seja, pelo processo de recapagem, aproveita-se 75% da estrutura original do pneu que pode

ser reformado por até três vezes dependendo do nível de desgaste sofrido. Cada pneu

reformado chega a economizar, em média, 57 litros de petróleo, um recurso não renovável.

Cerca de mil reformas economizam, portanto, petróleo para abastecer 2000 caminhões. A

recapagem proporciona também uma economia de 80% de energia e matéria-prima em

relação à produção de pneus novos.

Através deste estudo em uma empresa do setor de pneus, foi possível concluir que a

mesma não utiliza a gestão do conhecimento como estratégia para a sustentabilidade. Não há

nenhum elemento relacionado à gestão do conhecimento que proporcione a redução no uso de

matérias-primas e/ou redução dos resíduos do processo.

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Apesar de a empresa estudada não utilizar esse recurso para contribuir com a

sustentabilidade percebe-se que gerindo o conhecimento é possível otimizar o processo de

recapagem tornando-o ainda mais sustentável para o meio ambiente.

O uso de ferramentas de gestão tais como o BSC_ Balanced Score Card, o QFD_

Desdobramento da Função Qualidade e a Matriz SWOT, pode ser de grande valia para as

empresas com o objetivo de ter um empreendimento sustentável, atendendo às expectativas

dos acionistas, colaboradores, da sociedade e do mercado.

É importante que as empresas também saibam usar o conhecimento de seus

colaboradores transformando-o em ações sustentáveis, e que estas estimulem o aprendizado

desses profissionais através de cursos, palestras, treinamentos e propagandas de

conscientização ambiental e sustentabilidade.

Existem regulamentações legais para o setor de pneus que uma empresa deve seguir,

mas o grande diferencial se encontra no que ela faz além de sua obrigação em busca da

sustentabilidade.

O conhecimento para a realização de ações que contribuam para a sustentabilidade está

muitas vezes na própria empresa, nas experiências dos trabalhadores e na troca de

experiências que podem ser realizadas com outras empresas presentes no mercado.

Portanto, a gestão do conhecimento como estratégia para a sustentabilidade é um

elemento importante para as empresas atualmente, pois através dela é possível que estas se

desenvolvam utilizando das melhores práticas possíveis de modo sustentável e garantindo não

apenas vantagem competitiva como também responsabilidade social.

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