a geografia e a linguagem cartogrÁfica: de nada adianta saber ler um mapa se nÃo se sabe aonde...

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  • 7/30/2019 A GEOGRAFIA E A LINGUAGEM CARTOGRFICA: DE NADA ADIANTA SABER LER UM MAPA SE NO SE SABE AONDE Q

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    Ensino Em Re-Vista, v. 19, n. 2, jul./dez. 2012

    A GEOGRAFIA E A LINGUAGEM CARTOGRFICA: DE NADA ADIANTA SABER

    LER UM MAPA SE NO SE SABE AONDE QUER CHEGAR

    GEOGRAPHY AND CARTOGRAPHIC LANGUAGE: THE PROFITS KNOWNOTHING TO READ A MAP IF NOT WANT TO KNOW WHERE TO GET

    Andrea Coelho Lastria1

    Silvia Aparecida de Sousa Fernandes2

    Introduo

    Qual o papel da Geograa nos anos iniciais? Por que ela no ensinada apenas a parr dosanos nais do Ensino Fundamental? possvel ensinar a linguagem cartogrca desde a EducaoInfanl? Estas questes, aparentemente simples, so frequentes nos cursos de formao deprofessores. Elas costumam surgir nos dilogos tanto dos professores em formao inicial como nasreexes dos que se envolvem com processos ou eventos de formao connuada.

    Os professores, de modo geral, possuem inmeras dvidas sobre a Geograa (enquantocincia) e sobre a prpria Geograa escolar. Muitas delas esto relacionadas prpria formao deprofessores que nem sempre possibilita uma adequada base para atuao na docncia da Educao

    1 Doutora em Educao. Professora da Faculdade de Filosoa, Cincias e Letras de Ribeiro Preto e do Programa de Ps-

    Graduao em Educao da Universidade de So Paulo - FFCLRP / USP. E-mail: [email protected] Doutora em Sociologia. Professora do programa de Ps-Graduao em Educao do Centro Universitrio Moura Lacerda.E-mail: [email protected]

    RESUMO: Neste argo, apresentam-se reexes so-bre as seguintes questes: a Geograa uma cincia?Qual o papel desta cincia nos anos iniciais? Por queela no ensinada apenas a parr dos anos nais doEnsino Fundamental? possvel ensinar a linguagemcartogrca desde a Educao Infanl? Uliza-se, paraisso, autores que ajudam a entender a complexidadeexistente nas mesmas. O objevo possibilitar umadiscusso sobre a Geograa nos anos iniciais toman-do como pressuposto sua nalidade como disciplinaescolar no currculo. A parr da, busca-se ressignicara importncia da linguagem cartogrca como uma

    das ferramentas essenciais ulizadas pelo professorde Geograa para educar na atualidade. Finaliza-seapresentando duas avidades prcas que envolvemo uso e construo de maquetes na sala de aula, comoexemplos que podem contribuir para a aprendizagemsignicava desta temca.

    PALAVRAS-CHAVE: Educao geogrca. Linguagemcartogrca. Anos iniciais do Ensino Fundamental.

    ABSTRACT: This arcle exhibits reecons about thefollowing quesons: Geography is a science? What isthe role of such a science in Early Years? Why is nottaught only from the Late Years of Elementary Scho-ol? Is it possible to teach the cartographic languageto learners in early years? In order to address suchquesons the work refers to authors who aempt toexplain the complexity to be found in them. The aimof the work is to promote a discussion about Geogra-phy in Early Years considering it as a discipline in thesyllabus. From then on it is aempted to reassess theimportance of the cartographic language as an essen-

    al tool on which Geography teachers can depend inorder to teach the subject nowadays. The work ni-shes by presenng two praccal classroom acviesthat involve the use and the construcon of models asexamples that can contribute to the meaningful lear-ning of this subject maer.

    KEYWORDS: Geographical Educaon. CartographicLanguage. Early Years of elementary school

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    Infanl e dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Observamos que tal fragilidade est relacionada,no a m vontade dos formadores, mas a vrios outros aspectos.

    No Brasil, o prossional que vai atuar na Educao Infanl e nos anos iniciais o pedagogo. Esseprossional formado nos cursos de Pedagogia e no nos cursos de Geograa. A licenciatura em

    Geograa habilita o prossional para atuar aos anos nais do Ensino Fundamental e Ensino Mdio.A formao inicial do pedagogo nem sempre permite uma consistente aquisio de conhecimentostericos e prcos relacionados ao campo disciplinar da Geograa. Por outro lado, nas licenciaturasem Geograa, o professor pouco (ou nada) preparado para compreender o complexo universo dascrianas no incio da escolarizao. Enm, h um hiato entre esses dois grupos de professores,tanto no processo de formao bsica, quanto no exerccio prossional e nos contextos de formaoconnuada. Poucos so os momentos em que esses grupos se encontram para reer e discursobre o currculo escolar de modo amplo e no seriado.

    A falta de clareza a respeito da importncia dos saberes geogrcos no desenvolvimento dochamado raciocnio espacial tambm um dos responsveis pela fragilidade da formao deprofessores. No se ensina a raciocinar o espao, pois nem sempre o professor reconhece o prprio

    conceito de espao e suas principais categorias (ou recortes) que nos ajudam a entend-lo. Estamosnos referindo a paisagem, ao territrio, a regio e ao lugar.

    H dvida sobre o que e como ensinar nos anos iniciais tendo em vista a faixa etriadesses alunos. Encontramos planos de aulas para o quarto ano que so pautados em manuaisdidcos desnados aos anos nais do Ensino Fundamental. Este equvoco deve-se, dentre outrosmovos, ao fato de que, por muitos anos, a Geograa foi ensinada como um dos contedos dadisciplina escolar denominada de Estudos Sociais. A mudana realizada da dcada de 1980, queexnguiu os Estudos Sociais deixou uma lacuna a respeito de quais contedos geogrcos deveriamser ensinados nos anos iniciais. A diculdade em entender as novas propostas curriculares fez comque os professores seguissem diferentes caminhos. Alguns connuaram ensinando Estudos Sociaiscomo um conjunto desarculado de conhecimentos sobre Histria, Geograa, Educao Moral

    e Cvica, etc. Outros se apoiaram em livros de Geograa dos anos nais do Ensino Fundamentalbuscando garanr o ensino de contedos geogrcos. Tiveram, portanto, diculdades com aadequao da linguagem e complexidade dos conceitos e noes geogrcas. Outros, nalmente,buscaram entender a importncia de ensinar e aprender Geograa tendo em vista a construo deum novo currculo escolar no Brasil.

    A diculdade de compreender e, consequentemente, ensinar a linguagem cartogrca ,tambm, um dos principais problemas apontados pelos professores dos Anos Inicias. Alm dodesconhecimento sobre possibilidades concretas para alfabezar e, ao mesmo tempo, ensinarGeograa, Histria, Cincias, etc.

    Neste argo, reemos sobre essas questes. Ulizamos, para isso, autores que nos ajudama entender a complexidade existente nas mesmas. Nossa ideia possibilitar uma reexo sobre a

    Geograa nos anos iniciais tomando como pressuposto sua importncia como disciplina escolar nocurrculo. A parr da, buscamos ressignicar a linguagem cartogrca, apresentando-a como umadas ferramentas essenciais ulizadas pelo professor de Geograa para educar na atualidade.

    A cincia geogrca

    A Geograa passou por muitas alteraes em suas denies e formulaes at chegar aosdias de hoje. Tais mudanas foram necessrias para constuir seu prprio corpo epistemolgico.

    Em tempos passados, desde meados do sculo XVIII at meados do sculo XX, a Geograaestava relacionada aos estudos sobre os aspectos sicos de um dado espao territorial. Os

    gegrafos buscavam conhecer o relevo, o clima, a vegetao e outros elementos da natureza deum determinado lugar para, depois, idencar e classicar os aspectos relacionados ao chamado

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    quadro humano. Dentro desse, estudavam a histria dos habitantes, traavam suas rotas decomrcio ou navegao, deniam sua populao, etc. Paul Claval, gegrafo francs, ao reersobre as concepes atuais da Geograa, denomina esse modelo de concepo naturalista, poisbuscava inuncia das cincias naturais, para entender a natureza e a diversidade encontrada na

    supercie terrestre. A Geograa Humana nha a preocupao de entender as relaes entre osgrupos humanos e os ecossistemas (ou geossistemas) dos espaos em que vivem (CLAVAL, 2002).

    Nessa concepo, a Geograa era a responsvel pelo estudo e descrio dos lugares daTerra. O que explicava, inclusive, sua prpria denominao. Geo como prexo relavo Terra egraa era associado escrita e descrio.

    A parr da dcada de 1950, outros modelos de cincia geogrca tentam entender o espao.Inuenciada pelas cincias sociais, a Geograa passou a assumir outras nalidades e denies.Uma das mais recorrentes a que a dene como cincia da organizao do espao. O estudo dosgrupos humanos, e como estes organizam o espao geogrco, passam a ocupar o centro dasanlises. Assim, ganham importncia a dimenso econmica, o estudo das indstrias, das reasurbanas e das regies. Claval (2002) denomina essas abordagens de concepo funcionalista, em

    que o espao produto de uma histria.Conforme Troppmair (2004, p. 8):

    A Geograa a cincia que estuda a Organizao do Espao, suas estruturas (disposio dos elementos),suas interrelaes (todos os elementos so correlacionados e interdependentes) e sua dinmica (amudana do espao geogrco, da paisagem).

    Muitos professores que esto em pleno exerccio prossional veram, enquanto alunos, aulasde Geograa a parr da concepo naturalista e/ou funcionalista. Elas eram veiculadas nos livrose manuais didcos, nos discursos e prcas pedaggicas, at meados dos anos de 1980. A parrde ento, comearam a ocorrer mudanas. O perodo de redemocrazao polca no Brasil abriu

    possibilidades para professores reconstrurem os currculos escolares, os materiais de ensino, asprcas e aes educavas tendo em vista as novas demandas e necessidades sociais, polcas,culturais e econmicas. Os gegrafos e professores reconheceram que a Geograa estava em crise,pois seus mtodos e formulaes ciencas e escolares no serviam mais para atender a mudanaque o pas e o mundo estavam vivendo com o m do governo militar e o m da Guerra Fria.

    Para repensar a Geograa e o espao geogrco duas concepes que se desenvolveram naEuropa nos anos de 1970 inuenciam o pensamento geogrco brasileiro na dcada de 1980. Aprimeira denominada Geograa crca, de inuncia marxista, concebe o espao como espaoproduzido. A segunda, a Geograa cultural, insere na anlise geogrca a perspecva do indivduo,preocupa-se em desvendar como o espao percebido. Para Claval (2002, p. 32) a perspecvacultural parte do indivduo e de suas experincias porque atravs delas que os homens descobrem

    o mundo, a natureza, a sociedade, a cultura e o espao.A Geograa precisa ser compreendida pelos alunos e professores dos anos iniciais como uma

    cincia. Neste sendo, importante que os alunos e professores entendam que toda cincia possuium conhecimento temporrio. Nada considerado eterno para o ciensta dedicado a qualquerrea do saber. O fato da Geograa possuir uma trajetria no linear, repleta de diferentes vertentes(ou tendncias acadmicas que a disnguiram em termos de mtodos, denies, concepes,etc.), como apresentado acima, no signica que ela no uma cincia, ou ainda, que se trata deuma cincia menos importante ou de segunda categoria. Pelo contrrio, a trajetria da cinciageogrca nos revela que se trata de uma cincia viva, em constante transformao. Tal fatoevidencia seu compromisso com o mundo atual e a busca pelo entendimento de nossa sociedadecomplexa e desaadora.

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    O espao geogrco e suas subdivises: territrio, regio, lugar e paisagem

    A Geograa, como cincia, possui como objeto central (ou categoria principal) o espao

    geogrco. Para melhor compreend-lo, tal espao pode ser estudado como territrio, regio, lugar

    e paisagem(CAVALCANTI, 2001; JACINTHO, 2004).As quatro categorias citadas visam facilitar o nosso entendimento sobre o conceito de espao

    geogrco. Por mais de duas dcadas, o espao geogrco apareceu em livros didcos como

    sendo relavo ao espao do planeta Terra, tomado como parte do espao sideral. Esses manuais

    explicitavam a Geograa como estudo do planeta Terra e, portanto, como parte do Sistema Solar.

    Contriburam, portanto, para o equvoco que se formou a respeito das noes de Astronomia fazerem

    (ou no) parte das aulas de Geograa. Com a publicao dos Parmetros Curriculares Nacionais

    (PCN), em 1998, tal assunto foi amplamente esclarecido. As noes astronmicas passaram a ser

    atribudas disciplina de Cincias, tal como j havia ocorrido na Proposta Curricular do Estado de

    So Paulo, publicada em 1988.

    O espao geogrco no pode, simplesmente, ser tomado como sinnimo de espao terrestre.No espao geogrco a sociedade constri nossa Histria. H, portanto, relaes e avidades

    humanas desempenhando importante papel na congurao do espao. Ele no , puramente, um

    espao sico.

    O territrio compreendido pelos gegrafos como um espao apropriado num determinado

    perodo de tempo, numa relao de poder instucional, governamental, judicirio, econmico, etc.

    Por exemplo: a rua onde uma escola est instalada pode ser entendida como um territrio dos

    feirantes se em um determinado dia da semana ela ocupada pela movimentao e instalao

    de comrcio ao ar livre. Tal ocupao do espao temporria e denida a priori por pessoas

    que vendem e compram produtos alimencios, de limpeza e outras ulidades domscas, sob

    autorizao do governo municipal. Outro exemplo: o territrio de um estado brasileiro, denidono mapa polco, foi instudo pela unidade federava do Brasil. Parece imutvel, mas est sujeito

    aos critrios denidos pelo governo federal para uso e ocupao polca do territrio brasileiro.

    Assim, um estado pode ser dividido ou incorporado. O mais novo estado brasileiro criado foi o

    de Tocanns. Seu territrio era ocupado pelo estado de Gois e pertencia a regio Centro-Oeste.

    Atualmente, Tocanns um estado inserido na regio Norte do Brasil.

    O conceito de regio tambm nos ajuda a entender o espao geogrco. Nos anos iniciais,

    comum os professores apresentarem a diviso regional do Brasil, instuda pelo Instuto Brasileiro

    de Geograa e Estasca (IBGE). Este tem sido um contedo bastante usual nas salas de aula do

    nosso pas. No entanto, ao abordar a diviso regional, os professores nem sempre desenvolvem

    o prprio conceito de regio como um espao delimitado por critrios estabelecidos por diversosfatores (ambientais, polcos, socioeconmicos, etc.). Nem sempre a regio estudada a parr

    de suas contradies e diversidades. Pelo contrrio, o ensino das regies, numa perspecva mais

    tradicional da Geograa, parece buscar uma falsa homogeneidade. Por exemplo, na regio Nordeste

    predomina o sertanejo enquanto que na regio Sul do Brasil o po humano caractersco o gacho

    dos pampas.

    Dentre as categorias usadas para estudar o espao geogrco, o lugar e a paisagem so

    apresentadas, como as mais signicavas para o ensino de Geograa nas sries iniciais e, por isso,

    so mais conhecidas pelos professores dos anos iniciais. O lugartem sido muito explicitado nas

    variadas propostas curriculares dos lmos anos . Ele est relacionado ao espao de vivncia e

    entendido como a poro do espao onde as relaes humanas acontecem. Segundo Callai (2005,p. 236):

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    Compreender o lugar em que se vive encaminha-nos a conhecer a histria do lugar e, assim, a procurar

    entender o que ali acontece. Nenhum lugar neutro, pelo contrrio, os lugares so repletos de histria e

    situam-se concretamente em um tempo e em um espao sicamente delimitado. As pessoas que vivem

    em um lugar esto historicamente situadas e contextualizadas no mundo. Assim, o lugar no pode ser

    considerado/entendido isoladamente. O espao em que vivemos o resultado da histria de nossasvidas. Ao mesmo tempo em que ele o palco onde se sucedem os fenmenos, ele tambm ator/autor,

    uma vez que oferece condies, pe limites, cria possibilidades.

    Um desao a ser enfrentado pelos professores que o lugar apresentado pelo livro didco

    nem sempre o lugar real em que os alunos vivem. Os livros abordam um lugar ccio ou exibem

    exemplos de lugares inseridos nas grandes capitais do Brasil. Materiais didcos que trazem os

    lugares das diversas localidades brasileiras so raros. Entendemos, ainda, ser fundamental que o

    professor busque relacionar o lugar onde vivem seus alunos com o espao global. Essa busca pode

    ser mais bem entendida por meio do conceito de glocalidade,j amplamente estudado por SANTOS

    (2006).Sobre o referido conceito, Lastria e Mello (2008, p. 31) explicam:

    pensar o lugar como espao que est inmamente relacionado com o global glocalidade compreender

    a existncia de uma tenso dialca entre aquilo que se entende por mundo e como o prprio se mostra

    nos diversos lugares do globo. crer o local como muito mais que uma aldeia fechada em si mesma,

    mas uma aldeia que l o mundo de sua forma e devolve ao mundo a sua leitura apropriada, especca,

    ainda, creditar valor planetrio a uma dimenso que at ento era menosprezada pelos gegrafos.

    Apaisagem denida como o espao do visvel e envolve a dimenso da percepo subjeva

    de cada um de ns. A paisagem aparece em muitos livros didcos dos anos iniciais como sendo

    de dois pos: natural ou arcial (ou humanizada, ou ainda, produzida pelos seres humanos). A

    complexidade do nosso mundo exige que os professores ultrapassem essa diviso perpetuadaat ento para entender a paisagem como um conjunto de elementos heterogneos. O solo, os

    rios, a vegetao, dentre outros elementos de um dado espao esto sendo alterados pelas aes

    humanas. Estas produzem um espao com diferentes combinaes, ou seja, com pastos, cidades,

    fbricas, reorestamentos, etc. O estudo da paisagem permite que heranas herdadas por tempos

    passados sejam reveladas, e ajuda os professores a relacionar duas importantes categorias tericas

    para o ensino de Geograa e de Histria: o espao e o tempo.

    A Geograa ascolar nos anos iniciais

    A ideia de que a cincia geogrca importante para a formao de alunos crcos e atuantesna nossa sociedade brasileira j um consenso entre os professores. No entanto, qual o papel dessa

    cincia nos anos iniciais do Ensino Fundamental?

    Uma boa resposta apresentada por Callai (2005, p. 229), quando arma que o papel

    aprender a pensar o espao. No entanto, concordamos com Castellar (2004, p. 17) quando ele

    arma que,

    Na grande maioria das escolas, o ensino de Geograa nas sries iniciais ainda marcado por um contedo

    estruturado em informaes descontextualizadas, ou seja, sem qualquer signicado, sustentado apenas

    pela crena de que a Geograa nas sries iniciais serve somente para ensinar algumas denies como

    as de planalto e plancie, foz e nascente, margem direita e esquerda, cidade e campo etc., destudas,no entanto, de quaisquer signicados.

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    Entendemos, portanto, que a Geograa pracada nos anos iniciais do Ensino Fundamentalprecisa ser mais explicava do que informava. Um documento que nos ajuda nessa tarefa so osParmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Histria e Geograa (BRASIL, 1997; BRASIL, 1998).

    Entendemos que ensinar Geograa nos anos iniciais signica poder desenvolver conhecimentos

    tendo em vista nosso compromemento com a educao de modo mais amplo. Se pretendemoseducar para a parcipao cidad no mundo atual devemos educar para gerar autonomia ecriavidade perante a ao junto aos complexos processos que envolvem as relaes da nossasociedade com a natureza.

    Como arma Callai (2011) a capacidade de perceber como o lugar e sua relao com omundo fundamental para que possamos fazer escolhas, denir formas de ao, organizao ecompreenso do mundo.

    Essa Geograa, compromeda com tais ideais, possibilita o desenvolvimento de vriashabilidades, dentre elas as de observao, de descrio, de registro, de anlise e, ainda, detransformao. No , portanto, uma disciplina escolar que apenas possui contedos conceituaispara transmir.

    A Linguagem cartogrca nos anos iniciais e na Educao Infanl

    As crianas na faixa dos seis aos dez anos de idade, aproximadamente, esto em processo

    de desenvolvimento e apropriao de diversas linguagens. A linguagem escrita e a linguagem

    matemca, sem dvida, so reconhecidamente valorizadas pelos professores, pais e at mesmo

    pelas crianas. Os pais preocupam-se quando o lho de sete anos ainda no l palavras ou copia

    frases. Eles dizem que a criana ainda no foi alfabezada.

    A falta de entendimento a respeito da aquisio da leitura e da escrita como um processo

    constante e complexo, e no como um ato de decodicao do alfabeto, a principal causa de tal

    preocupao. Segundo (ALMEIDA, 1999, p. 131),

    O ensino da leitura e escrita, geralmente chamado de alfabezao que signica ao de ensinar ocdigo alfabco - no consiste apenas em levar o aprendiz a codicar a lngua escrita. Nesse processointeragem fatores pedaggicos, psicomotores, lingscos e sociais cuja abrangncia reveste o domnio dalngua escrita de maior complexidade. Essa uma das razes de encontrarmos, na literatura estrangeiraespecca da rea, a expresso: leitura e escrita com maior freqencia do que alfabezao, quepredomina em portugus.

    Para a autora, ser alfabezado no se limita a possuir habilidade em decodicar palavras, jque envolve uma maior complexidade. A referida preocupao dos pais nos revela, portanto, que a

    aquisio de diferentes linguagens pouco reconhecida nos anos iniciais do Ensino Fundamental.Callai (2005) coloca que a Geograa precisa ser compreendida como parte do processo dealfabezao, pois ela importante para aprender a ler o mundo. Para compreender as relaesentre as aes humanas e os fenmenos naturais. Tambm Fonseca (2009) enfaza sobre omesmo tema em seu texto possvel alfabezar sem Histria? Ou... como ensinar Histriaalfabezando?Essas duas autoras, nos explicam que no faz sendo separar a leitura e a escritada palavra, da leitura do mundo se pretendemos educar para a atualidade.

    Para aprender a ler o mundo de hoje fundamental o desenvolvimento de diversaslinguagens, dentre elas, a cartogrca. A linguagem cartogrca popularmente conhecida comoa linguagem dos mapas, mas no se restringe apenas a eles. As plantas, os croquis, os grcos, osglobos terrestres, as anamorfoses (representaes com formas alteradas), as fotograas areas e as

    imagens de satlite, so alguns exemplos de materiais que envolvem tal linguagem. Os mapas so,contudo, os mais usuais nas prcas escolares.

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    Castellar (2005, 2007) uliza o termo letramento cartogrco para se referir ao processo

    de aquisio da linguagem cartogrca na escola de Ensino Fundamental. Outros pesquisadores (LE

    SANN, 2009; SIMIELLI, 2007; PASSINI, 1994; ALMEIDA, 1999) ulizam outros diversos termos para

    se referirem ao mesmo processo. So eles: alfabezao cartogrca, educao cartogrca ou

    iniciao cartogrca. Todos giram em torno da valorizao de se trabalhar a Cartograa para e

    com as crianas e escolares.

    Os pesquisadores brasileiros da rea da Cartograa escolar tm destacado a importncia que

    o ensino de mapas (e no apenas o ensino com mapas) possui nos anos iniciais e na Educao

    Infanl. Alguns destes estudos buscam novas metodologias para se trabalhar a Cartograa com

    crianas. Vrias questes esto ocupando a ateno desses pesquisadores. Algumas delas so:

    como ensinar a pensar o espao por meio das maquetes, plantas e mapas? Como ler o mundo por

    meio da leitura dos mapas? possvel trabalhar a linguagem cartogrca desde a Educao Infanl?

    A prca educava apresentada3 a seguir foi desenvolvida na Espanha para crianas da

    Educao Infanl e dos anos iniciais. Trata-se de um exemplo simples que permite desenvolver

    as noes de localizao e orientao espacial de modo ldico. Possibilita, ainda, que as crianascomecem a entender a passagem da tridimensionalidade para a bidimensionalidade por meio da

    observao de maquete e sua representao no plano bidimensional.

    A maquete apresentada na FIG. 1, construda com madeira e tecido, representa um dormitrio

    completo com cama, armrio, espelho, penteadeira, cadeira, mesa, etc. Apenas trs lados do

    dormitrio foram construdos, buscando facilitar o manuseio dos objetos pelas crianas.

    FIGURA 1: Maquete de um dormitrio.

    FOTO de Daniel Bueno Junta.

    3 Esta prca foi desenvolvida pela professora Dra. Mara Del Rosario Pineiro Peteleiro da Universidad de Oviedo, em Oviedo,Principado de Asturias, Espanha. Tal experincia foi readaptada por Daniel Bueno Junta, sob orientao da primeira

    autora, durante o Projeto Produo de materiais didcos para o ensino de Histria e Geocincias, desenvolvido noLaboratrio Interdisciplinar de Formao do Educador (LAIFE), na FFCLRP/USP. Projeto nanciado pelo Programa Aprendercom Cultura e Extenso da USP, durante os anos de 2008 e 2009.

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    Cada um dos objetos foi representado numa base plana, respeitando seu exato tamanho e suaforma do ponto de vista vercal, ou seja, de cima da maquete, num ngulo exato de 90 graus. AFIG. 2 exibe tal base.

    FIGURA 2: Representao do dormitrio em um plano.

    FOTO de Daniel Bueno Junta.

    A inteno da prca parr de uma histria infanl. Ela pode ser criada pelo professor e pelosalunos, com personagens ccios. No exemplo que criamos, dois pequenos bonecos so ulizadospara ocupar tal maquete. Um deles possui uma pequena bolsa que perdida no dormitrio paraque o outro possa procur-la. Uma das crianas, fazendo o papel da boneca, esconde tal objeto emqualquer lugar do dormitrio e as demais devem procurar. A brincadeira de esconder e procurar abolsa realizada na maquete. possvel esconder encima do armrio, embaixo da cama, atrsda porta, em frente o abajur, etc. Assim, a ordem espacialde direita/esquerda, frente/atrs e acima/abaixo so desenvolvidas a parr da maquete.

    Essa avidade pode ser juscada pela ideia de Le Sann (2007, p. 117) a respeito da noo delocalizao anteceder a de espao. Segundo a autora A localizao o conjunto das caracterscasde um ponto preciso no espao. A noo de espao suporte para qualquer estudo geogrco: no

    h geograa sem espao, assim como no h escala sem espao.Aps esta fase, as crianas so convidadas a reorganizaro dormitrio, alterando a localizao

    de seus mveis, diminuindo ou aumentando a quandade deles no restrito espao sico do mesmo.Essa brincadeira permite que a criana estabelea critrios para organizar tal espao de acordocom seus interesses imediatos ou de acordo com as sugestes do professor e dos outros alunos.Entendemos que essa uma maneira de explorar ludicamente o conceito de espao como lugardevivncia. Assim como, introduzir a ideia de que um determinado territrio pode ser reorganizadoe alterado. Outra possibilidade que a prca com a referida maquete permite a associaoque a criana pode fazer com os objetos (que so tridimensionais) e os da base plana (que sobidimensionais). A pergunta para desenvolver tal associao pode ser: se a bolsa da boneca estsobre a cama no dormitrio onde ela estaria nessa representao? Salientamos que a inverso

    facilita a descoberta, ou seja, colocamos a bolsa sobre um objeto da representao plana epedimos para a criana coloc-lo no lugar equivalente na maquete.

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    A prca colabora com o ensino e a aprendizagem de uma dicil compreenso a respeito dapassagem de algo que est no mundo tridimensional (vivido por ns) para o bidimensional (que o dos mapas) com crianas da Educao Infanl e dos anos iniciais. Sobre essa passagem e aimportncia de se trabalhar as noes de lateralidade e referncia Simielli (2007, p. 92) explica que:

    O conceito de orientao espacial deve, antes de qualquer coisa, ser trabalhado pelas noes delateralidade e referncias. Muitas vezes, o problema do aluno no est na orientao espacial e sim nasnoes que antecedem esse conceito, ou seja, nas noes de lateralidade e referncias. Outro problemaque o aluno enfrenta no aprendizado dessas noes que o professor trabalha muitas vezes, logono incio, no espao bidimensional, quando na realidade esse item deveria ser trabalhado no espaotridimensional, e somente aps o aluno ter efevo domnio das referncias e de lateralidade.

    Outra prca que remete construo da noo de espao por meio do estudo do lugar devivncia, a parr do ensino de cartograa nos anos iniciais, a produo de maquetes do espaoescolar. A representao tridimensional da sala de aula sugerida por vrios autores (dentre eles:ALMEIDA; PASSINI, 1991) como uma das avidades que permitem codicar o codiano, a parr do

    exerccio da funo simblica. A construo de uma maquete como prca que considere, almda representao dos objetos, a proporcionalidade entre o objeto a representao na maquete,contribui para que as crianas dos anos iniciais do Ensino Fundamental percebam noes dedistncia e lateralidade, tal como proposto por Simielli (2007).

    A maquete da sala de aula apresentada na FIG. 3 foi elaborada por alunas do curso dePedagogia, durante a disciplina de Metodologia do Ensino de Geograa4. A prca realizada iniciou-se com a medida da sala de aula, a representao bidimensional em escala de 1:100 e, a parrdela, a construo da maquete. Deve-se ressaltar que a representao em desenho exige umaorganizao mental que levar construo grca. Tal ao parte importante no processo deeducao cartogrca. Independente da idade dos alunos, muitos, mesmo j estando na idadeadulta, passaram por este processo no decorrer da prca aqui descrita. No caso das alunas da

    Pedagogia, cada grupo elaborou estratgias prprias e usou materiais disntos para a confecoda maquete. Os materiais usados foram papel carto, papel sulte, lme plsco, papelo e ntaguache. Essa avidade durou quatro aulas de cinquenta minutos.

    FIGURA 3: Maquete da sala de aula.

    FOTO de Silvia Ap. Sousa Fernandes, fev. 2010.

    4

    Alunas do 4 semestre do curso de Pedagogia, do Centro Universitrio Moura Lacerda. As maquetes foram elaboradas noprimeiro semestre de 2010, sob responsabilidade da segunda autora, durante a disciplina de Metodologia do Ensino deHistria e Geograa.

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    Durante o processo de elaborao da maquete, foi possvel idencar algumas diculdadescomuns e outras prprias de cada grupo de alunas. Uma delas foi o uso da escala, pois apenas algumasalunas nham habilidades e noes sobre o uso do sistema mtrico e converso de medidas.

    Para auxiliar a compreenso das diculdades apresentadas na construo da maquete, cabe

    descrever o espao representado. A sala de aula mede 7m x 12,9m x 3,5m, possui na frente, umdegrau (tablado) para que o professor se posicione num patamar mais elevado, caractersca picade salas de aula construdas at a dcada de 1970. Tomando como referncia a frente da sala,denida pela posio do quadro negro, esta possui armrios ao fundo, trs janelas na parede lateraldireita, trs janelas e duas portas na lateral esquerda. A diculdade em denir a escala vercaldo tablado e o material mais adequado para represent-lo, foi expressa do seguinte modo: oque fazemos com esse degrau a na frente? Ele torto e baixinho. Neste caso o grupo estava sereferindo irregularidade na forma a ser representada. Outro grupo concluiu que se tratava de umpolgono irregular e que teramos que medir todos os lados para represent-lo. Outra diculdade foia diferena na medida das janelas da sala, pois, em cada parede as janelas nham medidas disntas.

    Como arma Silva (2006), os professores que iro trabalhar com o ensino de Geograa

    necessitam compreender que, alm de deter o domnio da linguagem cartogrca, necessrioconsiderar as habilidades e esquemas cognivos especcos dos quais as crianas dispem em cadanvel de ensino e que possibilitam compreender as relaes espaciais, as noes de orientao elocalizao espacial. Ressaltamos que a prca pedaggica de construo da maquete possibilitou acompreenso de noes de lateralidade, escala e orientao entre as futuras professoras, para queestas possam, no exerccio da docncia, valorizar a educao cartogrca.

    A avidade de construir maquetes da sala de aula nha o intuito de oferecer s futuraspedagogas condies de ler o espao (lugar de vivncia) e retomar (ou construir) as noesespaciais vivenciadas em seus anos escolares. Aps o desenvolvimento das maquetes da sala deaula, os alunos da Pedagogia reeram sobre as tcnicas ulizadas, o tempo que levaram paradesenvolver toda a avidade, as aprendizagens alcanadas e as diculdades que, sob a ca

    delas, os alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental teriam. Com base nessas diculdades,retomamos nas aulas seguintes a importncia dos professores em sua prca pedaggica codiana,ao valorizarem e oferecerem avidades que permitam a iniciao, o desenvolvimento e a aquisioda linguagem cartogrca na escola. Concordamos com Romano (2006) quando arma que aampliao do repertrio de conhecimentos geogrcos permite aos professores oferecer aulasmais movadoras, facilitando ao aluno a leitura e anlise de mapas e, com isso, a compreenso da

    produo e transformao do espao.

    Consideraes nais

    Neste argo apresentamos questes que nos convidam a reer sobre a provocao expressano tulo diz que de nada adianta saber ler um mapa se no se sabe aonde quer chegar.

    Entendemos queo papel da Geograanos anos iniciais e na Educao Infanlmerece serressignicado nas prcas escolares e nos processos de formao de professores tendo em vistasuas potencialidades como cincia da organizao do espao. De nada adianta ensinar Geograa seno se tem claro a concepo de escola, de ensino, de mundo e de sociedade que se quer ajudar aconstruir.

    Consideramos que se soubermos aonde queremos chegar com a escola que ajudamos aconstruir, poderemos planejar um ensino de Geograa na Educao Infanl e nos anos iniciais maiscondizente com as necessidades de nossos alunos na atualidade.

    Um caminho que tem se mostrado muito promissor o que valoriza a construo de prcas

    escolares compromissadas com uma educao cidad, isto , prcas planejadas e executadastendo em vista os objevos da prpria Geograa como cincia social.

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    As prcas educavas com as maquetes (do quarto de dormir e da sala de aula), mostradasneste captulo, nos convida a criar novas brincadeiras e possibilidades de desenvolver noes econceitos relavos ao espao. Anal, concordamos com Almeida (2007, p. 159) que enfaza:

    Considerando que a maestria sobre o espao surge da ao sobre ele, os procedimentos que melhorcontribuem para sua aquisio so aqueles que permitem manipulao e, ao mesmo tempo, insgama reexo sobre como represent-lo atravs de diferentes meios. Maquetes, desenhos (ou fotos) dasmaquetes, sob diversas perspecvas, e projees desses modelos no plano so procedimentos queatendem essas exigncias.

    A educao geogrca, nesse sendo, deve valer-se de diferentes materiais didcos e recursospedaggicos auxiliares na leitura do mundo. Como aponta Callai (2011) ler o mundo signicacompreender e estabelecer relaes entre o espao local, o lugar, o territrio e o espao global.Entendemos que a linguagem cartogrca por meio da elaborao e interpretao de maquetes e

    mapas, possibilita esse olhar integrador e amplo sobre o espao.

    REFERNCIAS

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    Recebido em: 21 de setembro de 2011.Aprovado em: 28 de novembro de 2011.