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A GAZETA ESPÍRITA ANO I - NUMERO 01 - Junho de 2017 [email protected] ADEMAR FARIA ILUMINANDO VIDAS Num momento em que o mundo vive uma carência de valores éticos e morais, em que a desonestidade e a busca pela satisfação dos interesses materiais sobrepujam as atividades humanas, torna-se imprescindível destacar os valores de um homem que destinou a maior parte de seu tempo ao trabalho de socorro aos mais necessitados de todos os matizes. ALMIR SATER E MÚSICA PSICOGRAFADA NA CASA DE RENATO TEIXEIRA CONHEÇA A HISTORIA DE JOANA D’ARC A BIOGRAFIA DE BEZERRA DE MENEZES

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A GAZETAESPÍRITA

ANO I - NUMERO 01 - Junho de 2017

[email protected]

ADEMAR FARIAILUMINANDO VIDAS

Num momento em que o mundo vive uma carência de valores éticos e morais, em que a desonestidade e a busca pela satisfação dos interesses materiais sobrepujam as atividades humanas, torna-se imprescindível destacar os valores de um homem que destinou a maior parte de seu tempo ao trabalho de socorro aos mais necessitados de todos os matizes.

ALMIR SATER E MÚSICA PSICOGRAFADA NA CASA DE RENATO TEIXEIRA

CONHEÇA A HISTORIA DE JOANA D’ARC

A BIOGRAFIA DE BEZERRA DE MENEZES

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A Gazeta EspíritaO2 Junho de 2017

Diretor Responsável: Luiz Sérgio de Freitas Castro

Publicação da Editora Castro Circulação em todo o Brasil

Redação: Rua Jequitibá, 98 - Três Barras - Linhares-ES CEP.: 29.907-314 Cel. 999685641 - e-mail: [email protected]

As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião de A Gazeta Espírita

A GazetaEspírita

Por Ademar Faria Junior

arefa difícil descrever uma personalidade tão Tcomplexa e completa, no que se refere a um homem com padrões de comportamento tão difí-

ceis de achar na atualidade. Num momento em que o mundo vive uma carência de valores éticos e morais, em que a desonestidade e a busca pela satisfação dos interesses materiais sobrepujam as atividades huma-nas, torna-se imprescindível destacar os valores de um homem que destinou a maior parte de seu tempo ao trabalho de socorro aos mais necessitados de todos os matizes.

Recebeu ainda no ambiente doméstico as primeiras lições do Espiritismo, através de seu pai Armando José de Faria, que formariam a base sólida de um comporta-mento cristão que jamais se modificaria com o passar dos tempos. Com uma percepção muita apurada em relação às necessidade humanas tanto de pão material quanto de espiritual, pautou a sua vida no trabalho de divulgação da abençoada Doutrina Espírita, tendo a caridade como um dos seus lemas mais intensos.

Paralelamente, conheceu o movimento maçônico, que o levou a encontrar companheiros valorosos que o estimulavam também na execução dos seus labores. Nas lides maçônicas, encontrou também diversos com-panheiros espíritas que esposavam do mesmo ideal de amor e caridade por ele abraçados. Além de ser um amplo divulgador dos textos espíritas, psicografados ou não, assumiu o compromisso com outros compa-nheiros de ideal de disseminar a mensagem através de tarefas socorristas no campo do bem.

Na cidade de Colatina, ES, foi um dos fundadores do Lar Espírita Irmã Scheilla e do Lar do Idoso Vovô

Simeão, ambos em pleno funcionamento até os nossos dias. Colaborou também com a fundação do Centro Espírita Humberto de Campos, juntamente com uma escola de ensino curricular médio e do Centro Espírita Vicente de Paulo, que abriga até hoje diversas tarefas e uma creche. Paralelamente, colaborou com a fundação da Loja Maçônica Nilo Peçanha, tendo sido um dos seus veneráveis.

Ao transferir residência para a cidade de Vitória, ES, logo iniciou sua participação no movimento espí-rita local e também continuou seus labores maçônicos. Após um breve período de adaptação, iniciou algumas campanhas para a fundação de novas lojas maçônicas no município de Vila Velha, ES, sendo que as mesmas continuam suas atividades até a presente data. Partici-pou ativamente das tarefas junto a Federação Espírita do Estado do Espírito Santo e da construção do Ave-dalma – Abrigo a Velhice Desamparada Auta Loureiro Machado, localizado em Cariacica, ES

Após um período de atividades na capital do estado do Espírito Santo, transfere residência para a cidade de Linhares, ES, onde inicia suas tarefas maçônicas junto a loja Linhares Unido e encontra companheiros dedi-cados aos labores do Espiritismo cristão junto ao Grupo Espírita Joana D'Arc, tornando-se um dos seus mais intensos colaboradores. Aulas de Evangelização Espírita Infantil, reuniões mediúnicas, distribuição de sopa para as crianças aos domingos, confecção de enxovais para as gestantes carentes e as mais diversas tarefas começam a contar com a sua valorosa contribu-ição.

Mas a grande tarefa de exercício da caridade ainda estava por vir. Um grupo de pessoas da sociedade

linharense e também da loja maçônica, haviam inicia-do a construção de um abrigo para idosos cujas obras estavam paralisadas já há alguns anos. Durante uma reunião da Loja Maçônica Linhares Unido, um dos presentes, que também era o presidente do Asilo, resolveu oferecer a continuidade da construção dessa obra para quem assim o desejasse. Imediatamente, o Dr. Ademar Faria se manifestou e aceitou assumir tal incumbência, juntamente com os trabalhadores do Grupo Espírita Joana D'Arc.

Após um laborioso trabalho e com esforços incal-culáveis, o Asilo dos Velhos e Casa dos Cegos de Linhares foi inaugurado. Mais tarde, o nome fantasia “Lar da Fraternidade” começou a ser utilizado para identificar a instituição. Num segundo momento, a instituição começou a abrigar crianças órfãs em suas dependências, o que obrigou a ampliação das estrutu-ras físicas para acolher de forma mais apropriada seus internos.

Atualmente, a instituição passou a se chamar “Lar de Idosos Abrigo de Luz” e o atendimento das crianças dotadas de necessidades especiais no “Lar da Fraterni-dade”. Todo esse trabalho contou com o poder de aglu-tinação de trabalhadores realizado pelo Dr. Ademar Faria, carreando colaboradores de todos os credos e filosofias com o interesse primordial de amparar aos mais necessitados.

Exemplos, ensinamentos e luz, assim foi a trajetó-ria desse homem ímpar que primou pela predominân-cia do Espírito sobre a matéria e fez da caridade a sua bandeira.

ADEMAR FARIAILUMINANDO VIDAS

07/09/1926 - 03/06/2017

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Desde tempos imemoriáveis, a melhor medicina sempre foi a preventiva. O grande alquimista Paracelso insistia: "Não se deve tratar a doença;

deve-se tratar a saúde". Podemos dizer que, o melhor meio para não se apanhar uma doença, consiste em se manter saudável. Ou seja, proteger o sistema imunoló-gico, de forma a bloquear qualquer germe ou vírus que tentar invadir nosso organismo. Pode-se pensar que seja fácil atingir tal objetivo, através de uma boa dieta, escolhendo alimentos de baixo valor de colesterol, redu-zindo o consumo de carne, abstendo-se de consumir açúcar, realizando exercícios físicos, enfim, submeten-do-se a tudo aquilo que uma propaganda insistente nos propõe. Mas como explicar, nesse caso, o elevadíssimo número de pessoas que seguiram rigorosamente tais instruções, julgando estar assim protegidas contra os perigos das doenças para um dia, descobrir que seu organismo estava sendo minado pelo câncer?

André Luiz conta, através da psicografia de Chico Xavier que um Espírito ao preparava-se para reencar-nar, pediu para seu novo corpo físico uma úlcera que apareceria em sua madureza física e que não deveria encontrar cura até sua desencarnação, para que ele pudesse ressarcir um assassinato que cometeu ao esfa-quear um homem (que estava na sua madureza física) na região do estômago. Como vemos, mesmo que este Espírito cuide de sua saúde durante toda sua juventude, não fugirá da úlcera “moral” que “ele pediu”.

Então, câncer é uma enfermidade cármica?A experiência diz que sim. Estamos submetidos a

um mecanismo de causa e efeito que nos premia com a saúde ou corrige com a doença, de acordo com nossas ações.

O câncer seria então o resultado de um compor-tamento desajustado, em vidas anteriores?

Nem sempre. A causa pode estar nesta existência. Um exemplo: as estatísticas demonstram grande inci-dência de câncer no pulmão, em pessoas que fumam. Há elementos cancerígenos nas substâncias que com-põem o cigarro. Quem fuma, portanto, é sério candida-to a esse mal. Será o seu carma. Há uma charge ilustrati-va, em que um cigarro diz para o fumante: "Hoje você me acende. Amanhã eu o apagarei!" Certíssimo!

Está demonstrado que os fumantes passivos, pes-

soas que convivem com fumantes, também podem ter câncer. Como explicar essa situação?

E não há inocentes na Terra, um planeta de provas e expiações. O fumante passivo que venha a contrair cân-cer tem comprometimentos do passado que justificam seu problema. Aliás, o simples fato de aqui vivermos significa que merecemos (ou necessitamos) tudo o que aqui possa nos acontecer. Se não merecêssemos, esta-ríamos morando em mundos mais saudáveis.

Isso isenta de responsabilidade o fumante que polui o ambiente, situando-o como instrumento de resgate para alguém?

Ao contrário, apenas o compromete mais. Deus não necessita do concurso humano para exercitar a justiça. Além de responder pelos desajustes que provoca em si mesmo, responderá por prejuízos causados ao meio ambiente e às pessoas.

A medicina vem desenvolvendo técnicas para a cura do câncer. Concebe-se que dentro de algumas décadas será possível a cura radical em todas as suas manifestações. Como ficarão aqueles que estão se reajustando perante as leis divinas a partir de um carcioma?

A medicina vem fazendo grandes progressos, mas está longe de erradicar a doença. Males são superados; outros surgem, nos domínios da sexualidade, a sífilis era um flagelo, decorrente da promiscuidade. Hoje é a AIDS. A dor, a grande mestra, que tem na enfermidade um de seus aguilhões, continuará a nos corrigir, até que aprendamos a respeitar as leis divinas.

A pessoa que sofre bastante, vitimada por um câncer, resgatou seus débitos, habilitando-se a um futuro feliz na espiritualidade?

A doença elimina as sombras do passado, mas não ilumina o futuro. Este depende de nossas ações, da maneira como enfrentamos problemas e enfermidades. Quando o nosso comportamento diante da dor não opri-me aqueles que nos rodeiam, estamos nos redimindo, habilitados a um futuro glorioso.

Como funciona isso? Se o paciente tem câncer, suas dores implicarão em

sofrimento para a família. Tudo bem. Faz parte das

experiências humanas. Mas, dependendo da maneira como enfrentar seu problema, poderá gerar aflições bem maiores para todos, o que acontece com o paciente revoltado, inconformado, agressivo. Se humilde e resignado, a família lidará melhor com a situação. Paci-entes assim (resignados) estão "zerando o carma".

Observação de Raul Teixeira:A dor, a luta, o resgate, o acerto de contas também

nos impõe aprendizados. Muitos entram no caminho das expiações e não consegue expiar. Não é o fato de estarmos sofrendo que diz que já resgatamos. O que diz se já resgatamos ou não é o modo como estamos sofren-do. Há criaturas que sofrem revoltadas, biliosas, de mal com Deus, aborrecidas com a vida e quem passa pelo seu caminho é alvo de seu fígado estragado. Lógico que esta pessoa não dará conta do processo expiatório.

Como está no livro “Transição Planetária”: “Antes, porém, de chegar esse momento (de transição), a vio-lência, a sensualidade, a abjeção, os escândalos, a cor-rupção atingirão níveis dantes jamais pensados, alcan-çando o fundo do poço, enquanto as enfermidades dege-nerativas, os transtornos bipolares de conduta, as cardi-opatias, os cânceres, os vícios e os desvarios sexuais clamarão por paz, pelo retorno à ética, à moral, ao equi-líbrio (...).

A Gazeta Espírita 03Junho de 2017

O CÂNCER NA VISÃO ESPÍRITA Principais dúvidas sobre o tema

Reynaldo Gianecchini

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A Gazeta EspíritaO4 Junho de 2017

ascido na antiga Freguesia do Riacho do San-Ngue, hoje Solonópole, no Ceará, aos 29 dias do mês de agosto de 1831, e desencarnado no Rio

de Janeiro, a 11 de abril de 1900.Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, no ano de

1838, entrou para a escola pública da Vila do Frade, onde em dez meses apenas, preparou-se suficientemente até onde dava o saber do mestre que lhe dirigia a primeira fase de educação. Bem cedo revelou sua fulgurante inteligên-cia, pois, aos onze anos de idade, iniciava o curso de Huma-nidades e, aos treze anos, conhecia tão bem o latim que ministrava, a seus companheiros, aulas dessa matéria, substituindo o professor da classe em seus impedimentos.

Seu pai, o capitão das antigas milícias e tenente-coronel da Guarda Nacional, Antônio Bezerra de Mene-zes, homem severo, de honestidade a toda prova e de iliba-do caráter, tinha bens de fortuna em fazendas de criação.

Com a política, e por efeito do seu bom coração, que o levou a dar abonos de favor a parentes e amigos, que o procuravam para explorar-lhe os sentimentos de caridade, comprometeu aquela fortuna. Percebendo, porém, que seus débitos igualavam seus haveres, procurou os credores e lhes propôs entregar tudo o que possuía, o que era sufici-ente para integralizar a dívida. Os credores, todos seus amigos, recusaram a proposta, dizendo-lhe que pagasse como e quando quisesse.

O velho honrado insistiu; porém, não conseguiu demo-ver os credores sobre essa resolução, por isso deliberou tornar-se mero administrador do que fora sua fortuna, não retirando dela senão o que fosse estritamente necessário para a manutenção da sua família, que assim passou da abastança às privações.

Animado do firme propósito de orientar-se pelo caráter íntegro de seu pai, Bezerra de Menezes, com minguada quantia que seus parentes lhe deram, e animado do propó-sito de sobrepujar todos os óbices, partiu para o Rio de Janeiro a fim de seguir a carreira que sua vocação lhe ins-pirava: a Medicina.

Em novembro de 1852, ingressou como praticante interno no Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Douto-rou-se em 1856 pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendendo a tese “Diagnóstico do Cancro”.

Nessa altura abandonou o último patronímico, passan-do a assinar apenas Adolfo Bezerra de Menezes. A 27 de abril de 1857, candidatou-se ao quadro de membros titula-res da Academia Imperial de Medicina, com a memória

“Algumas Considerações sobre o Cancro encarado pelo lado do Tratamento”. O parecer foi lido pelo relator desig-nado, Acadêmico José Pereira Rego, a 11 de maio de 1857, tendo a eleição se efetuado a 18 de maio do mesmo ano e a posse a 1º de junho. Em 1858 candidatou-se a uma vaga de lente substituto da Secção de Cirurgia da Faculdade de Medicina. Por intercessão do mestre Manoel Feliciano Pereira de Carvalho, então Cirurgião-Mor do Exército, Bezerra de Menezes foi nomeado seu assistente, no posto de Cirurgião-Tenente.

Eleito vereador municipal pelo Partido Liberal, em 1861, teve sua eleição impugnada pelo chefe conservador, Haddock Lobo, sob a alegação de ser médico militar. Obje-tivando servir o seu Partido, que necessitava dele a fim de obter maioria na Câmara, resolveu Bezerra de Menezes afastar-se do Exército. Em 1867 foi eleito Deputado Geral, tendo ainda figurado em lista tríplice para uma cadeira no Senado.

Quando político, levantou-se contra ele, a exemplo do que ocorre com todos os políticos honestos, uma torrente de injúrias que cobriu o seu nome de impropérios. Entre-tanto, a prova da pureza da sua alma deu-se quando, aban-donando a vida pública, foi viver para os pobres, repartin-do com os necessitados o pouco que possuía.

Corria sempre ao tugúrio do pobre, onde houvesse um mal a combater, levando ao aflito o conforto de sua palavra de bondade, o recurso da ciência de médico e o auxílio da sua bolsa minguada e generosa.

Desviado interinamente da atividade política e dedi-cando-se a empreendimentos empresariais, criou a Com-panhia de Estrada de Ferro Macaé, a Campos, na então província do Rio de Janeiro. Depois, empenhou-se na cons-trução da via férrea de S. Antônio de Pádua, etapa necessá-ria ao seu desejo, não concretizado, de levá-la até o Rio Doce. Era um dos diretores da Companhia Arquitetônica que, em 1872, abriu o “Boulevard 28 de Setembro”, no então bairro de Vila Isabel, cujo topônimo prestava home-nagem à Princesa Isabel. Em 1875, era presidente da Com-panhia Carril de S. Cristóvão.

Retornando à política, foi eleito vereador em 1876, exercendo o mandato até 1880. Foi ainda presidente da Câmara e Deputado Geral pela Província do Rio de Janei-ro, no ano de 1880.

O Dr. Carlos Travassos havia empreendido a primeira tradução das obras de Allan Kardec e levara a bom termo a versão portuguesa de “O Livro dos Espíritos”. Logo que

esse livro saiu do prelo levou um exemplar ao deputado Bezerra de Menezes, entregando-o com dedicatória. O episódio foi descrito do seguinte modo pelo futuro Médico dos Pobres: “Deu-mo na cidade e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem de bonde. Embarquei com o livro e, como não tinha distração para a longa viagem, disse comi-go: ora, adeus! Não hei de ir para o inferno por ler isto… Depois, é ridículo confessar-me ignorante desta filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosóficas. Pen-sando assim, abri o livro e prendi-me a ele, como acontece-ra com a Bíblia. Lia. Mas não encontrava nada que fosse novo para meu Espírito. Entretanto, tudo aquilo era novo para mim!... Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se acha-va no “O Livro dos Espíritos”.

Preocupei-me seriamente com este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconscien-te, ou, mesmo como se diz vulgarmente, de nascença”.

No dia 16 de agosto de 1886, um auditório de cerca de duas mil pessoas da melhor sociedade enchia a sala de honra da Guarda Velha, na rua da Guarda Velha, atual Ave-nida 13 de Maio, no Rio de Janeiro, para ouvir em silêncio, emocionado, atônito, a palavra sábia do eminente político, do eminente médico, do eminente cidadão, do eminente católico, Dr. Bezerra de Menezes, que proclamava a sua decidida conversão ao Espiritismo.

Bezerra era um religioso no mais elevado sentido. Sua pena, por isso, desde o primeiro artigo assinado, em janei-ro de 1887, foi posta a serviço do aspecto religioso do Espi-ritismo.

Demonstrada a sua capacidade literária no terreno filo-sófico e religioso, quer pelas réplicas, quer pelos estudos doutrinários, a Comissão de Propaganda da União Espírita do Brasil, incumbiu-o de escrever, aos domingos, no “O País” tradicional órgão da imprensa brasileira, a série de “Estudos Filosóficos”, sob o título “O Espiritismo”. O Senador Quintino Bocaiúva, diretor daquele jornal de grande penetração e circulação, “o mais lido do Brasil”, tornou-se mesmo simpatizante da Doutrina Espírita.

Os artigos de Max, pseudônimo de Bezerra de Mene-zes, marcaram a época de ouro da propaganda espírita no Brasil. De novembro de 1886 a dezembro de 1893, escre-veu ininterruptamente, ardentemente.

Continua...

BIOGRAFIA

ADOLFO BEZERRA DE MENEZES

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A Gazeta Espírita 05Junho de 2017

Da bibliografia de Bezerra de Menezes, antes e após a sua conversão do Espiritismo, constam os seguintes trabalhos: “A Escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para extingui-la sem dano para a Nação”, “Breves considerações sobre as secas do Norte”, “A Casa Assombrada”, “A Lou-cura sob Novo Prisma”, “A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica”, “Casamento e Mortalha”, “Pérola Negra”, “Lázaro – o Leproso”, “História de um Sonho”, “Evangelho do Futuro”. Escreveu ainda várias biografias de homens célebres, como o Visconde do Uruguai, o Visconde de Carvalás, etc.

Foi um dos redatores de “A Reforma”, órgão libe-ral da Corte, e redator do jornal “Sentinela da Liber-dade”.

Bezerra de Menezes tinha a função de médico no mais elevado conceito, por isso, dizia ele: “Um médi-co não tem o direito de terminar uma refeição, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito qualquer lhe bate à porta. O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fati-gado, ou por ser alta hora da noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe ou no morro, o que sobretudo pede um carro a quem não tem com que pagar a recei-ta, ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro – esse não é médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos de formatura. Esse é um desgraçado, que manda para outro o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu Espírito, a única que jamais se per-derá nos vaivéns da vida.”

Em 1883, reinava um ambiente francamente dis-persivo no seio do Espiritismo brasileiro e os que dirigiam os núcleos espíritas do Rio de Janeiro senti-am a necessidade de uma união mais bem estruturada e que, por isso mesmo, se tornasse mais indestrutível.

Os Centros, onde se ministrava a Doutrina, traba-lhavam de forma autônoma.

Cada um deles exercia a sua atividade em um determinado setor, sem conhecimento das atividades dos demais. Esse sentimento levou-os à fundação da Federação Espírita Brasileira.

Nessa época já existiam muitas sociedades espíri-tas, porém, as únicas que mantinham a hegemonia de mando eram quatro: a “Acadêmica”, a “Fraternida-de”, a “União Espírita do Brasil” e a “Federação Espí-rita Brasileira”, entretanto, logo surgiram entre elas vivas discórdias.

Sob os auspícios de Bezerra de Menezes, e aca-tando prescrições das importantes “Instruções” rece-bidas do plano espiritual pelo médium Frederico Júnior, foi fundado o famoso “Centro Espírita”, o que, entretanto, não impediu que Bezerra desse a sua colaboração a todas as outras instituições. O entusi-asmo dos espíritas logo se arrefeceu, e o velho searei-ro se viu desamparado dos seus companheiros, che-gando a ser o único freqüentador do Centro. A cisão era profunda entre os chamados “místicos” e “cientí-ficos”, ou seja, espíritas que aceitavam o Espiritismo em seu aspecto religioso, e os que o aceitavam sim-plesmente pelo lado científico e filosófico.

Em 1893, a convulsão provocada no Brasil pela Revolta da Armada, ocasionou o fechamento de todas as sociedades espíritas ou não. No Natal do mesmo ano Bezerra encerrou a série de “Estudos Filosóficos” que vinha publicando no “O País”.

Em 1894, o ambiente mostrou tendências para melhora e o nome de Bezerra de Menezes foi lembra-do como o único capaz de unificar o movimento espí-rita.

O infatigável batalhador, com 63 anos de idade, assumiu a presidência da Federação Espírita Brasile-ira, cargo que ocupou até a sua desencarnação.

Iniciava-se o ano de 1900, e Bezerra de Menezes foi acometido de violento ataque de congestão cere-bral, que o prostrou no leito, de onde não mais se levantaria.

Verdadeira romaria de visitantes acorria à sua

casa. Ora o rico, ora o pobre, ora o opulento, ora o que nada possuía.

Ninguém desconhecia a luta tremenda em que se debatia a família do grande apóstolo do Espiritismo. Todos conheciam suas dificuldades financeiras, mas ninguém teria a coragem de oferecer fosse o que fosse de forma direta. Por isso, os visitantes deposi-tavam suas espórtulas, delicadamente, debaixo do seu travesseiro. No dia seguinte, a pessoa que lhe foi mudar as fronhas, surpreendeu-se por ver ali desde o tostão do pobre até a nota de duzentos mil reis do abastado!...

Ocorrida a sua desencarnação, verdadeira pere-grinação demandou sua residência a fim de prestar-lhe a última visita.

No dia 17 de abril, promovido por Leopoldo Cir-ne, reuniram-se alguns amigos de Bezerra, a fim de chegarem a um acordo sobre a melhor maneira de amparar a sua família, tendo então sido formada uma comissão que funcionou sob a presidência de Quinti-no Bocaiúva, senador da República, para se promo-ver espetáculos e concertos, em benefício da família daquele que mereceu o cognome de “Kardec Brasile-iro”.

Digno de registro foi um caso sucedido com o Dr. Bezerra de Menezes, quando ainda era estudante de Medicina. Ele estava em sérias dificuldades finance-iras, precisando da quantia de cinqüenta mil réis (an-tiga moeda brasileira), para pagamento das taxas da Faculdade e para outros gastos indispensáveis em sua habitação, pois o senhorio, sem qualquer con-templação, ameaçava despejá-lo.

Desesperado – uma das raras vezes em que Bezer-ra se desesperou na vida – e como não fosse incrédu-lo, ergueu os olhos ao Alto e apelou a Deus.

Poucos dias após bateram-lhe à porta. Era um moço simpático e de atitudes polidas que pretendia tratar algumas aulas de Matemática.

Bezerra recusou, a princípio, alegando ser essa matéria a que mais detestava, entretanto, o visitante insistiu e por fim, lembrando-se de sua situação desesperadora, resolveu aceitar.

O moço pretextou então que poderia esbanjar a mesada recebida do pai, pediu licença para efetuar o pagamento de todas as aulas adiantadamente.

Após alguma relutância, convencido, acedeu. O moço entregou-lhe então a quantia de cinqüenta mil réis. Combinado o dia e a hora para o início das aulas, o visitante despediu-se, deixando Bezerra muito feliz, pois conseguiu assim pagar o aluguel e as taxas

da Faculdade. Procurou livros na biblioteca pública para se preparar na matéria, mas o rapaz nunca mais apareceu.

No ano de 1894, em face das dissensões reinantes no seio do Espiritismo brasileiro, alguns confrades, tendo à frente o Dr. Bittencourt Sampaio, resolveram convidar Bezerra a fim de assumir a presidência da Federação Espírita Brasileira.

Em vista da relutância dele em assumir aquele espinhoso encargo, travou-se a seguinte conversa-ção:

Querem que eu volte para a Federação. Como vocês sabem aquela velha sociedade está sem presi-dente e desorientada. Em vez de trabalhos metódicos sobre Espiritismo ou sobre o Evangelho, vive a dis-cutir teses bizantinas e a alimentar o espírito de hege-monia.O trabalhador da vinha, disse Bittencourt Sam-paio, é sempre amparado. A Federação pode estar errada na sua propaganda doutrinária, mas possui a Assistência aos Necessitados, que basta por si só para atrair sobre ela as simpatias dos servos do Senhor.

De acordo. Mas a Assistência aos Necessitados está adotando exclusivamente a Homeopatia no tra-tamento dos enfermos, terapêutica que eu adoto em meu tratamento pessoal, no de minha família e reco-mendo aos meus amigos, sem ser, entretanto, médico homeopata. Isto aliás me tem criado sérias dificulda-des, tornando-me um médico inútil e deslocado que não crê na medicina oficial e aconselha a dos Espíri-tos, não tendo assim o direito de exercer a profissão.

E por que não te tornas médico homeopata? disse Bittencourt.

Não entendo patavinas de Homeopatia. Uso a dos Espíritos e não a dos médicos.

Nessa altura, o médium Frederico Júnior, incor-porando o Espírito de S. Agostinho, deu um aparte:

Tanto melhor. Ajudar-te-emos com maior facili-dade no tratamento dos nossos irmãos.

Como, bondoso Espírito? Tu me sugeres viver do Espiritismo?

Não, por certo! Viverás de tua profissão, dando ao teu cliente o fruto do teu saber humano, para isso estudando Homeopatia como te aconselhou nosso companheiro Bittencourt. Nós te ajudaremos de outro modo: Trazendo-te, quando precisares, novos discípulos de Matemática…

Godoy, Paulo Alves. Da Obra: Os Grandes Vultos do Espiritismo. Edições FEESP.

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A Gazeta EspíritaO6 Junho de 2017

(*) Américo D. Nunes Filho

que se conhecia, anteriormente, em Psiquiatria, Ocomo “Personalidade Psicopática”, é, no momento atual, denominado de “Transtorno da Personalida-

de Antissocial” ou “Transtorno da Personalidade Dissoci-al”.

Os indivíduos portadores dessa disfunção, por certo, sendo espíritos com graves transtornos de caráter e condu-ta, desprovidos da capacidade de sentimento do remorso, da culpa e do arrependimento pelos erros cometidos, impossibilitados de empatizar com o próximo, desrespei-tadores das regras de conduta moral, demonstrando falta de emoções e, em grande proporção, violentos, necessitam enfaticamente de uma internação na carne pela reencarna-ção compulsória.

Em verdade, ninguém é condenado, na espiritualidade, ao “sofrimento eterno”, “nenhuma ovelha se perderá”...”, surgindo sempre a valiosa oportunidade de retorno à dimensão física e granjear crescimento evolutivo, mesmo que, de início, muito incipiente ainda. A seguir, aprovei-tando as próximas reencarnações, começa a ascender aos demais degraus da incomensurável escadaria do aperfei-çoamento espiritual, conforme reafirmam as vozes dos antigos profetas, ressoando até hoje, clamando: “As mise-ricórdias do Senhor são a causa de não sermos consumi-dos, porque as suas misericórdias não têm fim, renovam-se cada manhã” (Lamentações de Jeremias 3:22-23) e “Disse o Senhor: Não contenderei para sempre, nem me indignarei continuamente; porque do contrário, o espírito definharia diante de mim e o fôlego da vida que eu criei” (Isaías 57:16).

Em O Novo Testamento, precisamente em I Pedro 3:19, é relatado que Jesus, já desencarnado, “visitou e pregou aos espíritos em prisão”, indicando claramente que haverá sempre a possibilidade da reabilitação espiritual, pois ninguém está condenado para todo o sempre.

BOX-1: A Vibração da Matéria bem mais grosseira cerceia o Espírito Encarnado:

Importante frisar que o corpo humano serve como um abrigo prisional, submetido o espírito a uma verdadeira tirania biogenética, limitando o máximo que puder suas ações manipuladoras e sádicas, dificultando muito pela sua própria resistência a facilidade marcante de esses espí-ritos serem causa de escândalos mais expressivos.

O grande impasse para o ser reencarnante, já no ventre materno, consiste em constatar que está enclausurado em

vigorosa teia carnal, tendo apenas como instrumento de manifestação no plano físico um engenhoso órgão: o cére-bro, ao qual estará subordinado e interagido de forma tão intensa, que confunde até mesmo os descrentes, acreditan-do que a mente provenha indispensavelmente do cérebro. Os ateus atestam tão-somente os efeitos ou conhecem aparentemente apenas o veículo, desconhecendo a verda-deira causa, como igualmente ignoram a presença indis-pensável do condutor. Observam a vida, pelo olhar míope do acaso. Veem o funcionamento de uma fábrica, justifi-cando-a somente pelo trabalho dos operários, ignorando a presença transcendental do agente diretor.

O estudo do Espiritismo enseja esclarecimentos impor-tantes que explicam insofismavelmente a presença de um agente transcendental, imortal, jungido ao corpo físico que lhe permite eficazmente o avanço evolutivo, sendo fator determinante do seu progresso. A Doutrina Espírita ensina que, encarnado, o ser espiritual tem o exercício de suas faculdades limitadas, porquanto “a grosseria da matéria as enfraquece” (OLE-Q 368). É enfatizado que “o invólucro material é obstáculo à livre manifestação das faculdades do Espírito, como um vidro muito opaco o é à livre irradia-ção da luz” (OLE-Q 368-a). Allan Kardec comenta que “pode-se comparar a ação que a matéria grosseira exerce sobre o Espírito à de um charco lodoso sobre um corpo nele mergulhado, ao qual tira a liberdade dos movimen-tos”. Na questão 369 de “OLE” é ressaltado que “os órgãos são os instrumentos da manifestação das faculdades da alma, manifestação que se acha subordinada ao desenvol-vimento e ao grau de perfeição dos órgãos, como a exce-lência de um trabalho o está à da ferramenta própria à sua execução”. Importante chamar a atenção novamente de que as faculdades da alma não são originadas dos órgãos; “cumpre, porém, se leve em conta a influência da matéria, que mais ou menos lhe cerceia o exercício de suas faculda-des” (Q. 370-a de “OLE”).

BOX-2: A Doutrina Espírita esclarecendo um Mis-tério na Neurociência:

Um acontecimento insólito e muito divulgado, no meio científico, aconteceu, em 1948, nos EUA, confirmando o ensino espírita assinalado acima. O operário ferroviário Phineas P. Gage teve o cérebro transpassado por uma barra de ferro de 1,10 metros de comprimento e pesando 1,5kg, resultante de um acidente, envolvendo uma explosão em uma rocha. O acidentado sobreviveu, mas, a seguir, para surpresa geral, apresentou um comportamento moral bem depreciativo, de teor psicopático, completamente diferen-

te do que possuía antes do acidente.Desconhecendo o ensinamento espírita de que a maté-

ria exerce influência de cerceamento nas faculdades da alma, os materialistas acreditavam, baseados no caso Gage, que tinham chegado à prova de que o cérebro seria a sede da personalidade. Contudo, um brasileiro, Eduardo Leite, há alguns anos, sofreu um acidente semelhante ao americano e não apresentou nenhuma alteração de com-portamento, estando absolutamente igual ao que ele sem-pre foi e causando perplexidade no meio acadêmico, con-siderado esse caso como um mistério da medicina e ser-vindo como ponto de reflexão a respeito de que a Ciência sem o Espiritismo é mesmo manca, aproveitando e atuali-zando a asserção explanada por um gênio, o cientista ale-mão Albert Einstein.

De acordo com os ensinamentos dos instrutores do além, pode-se concluir que o acidentado brasileiro, na hierarquia espiritual, está melhor situado, bem superior que o americano. A lesão sofrida por Gage fez com que suas faculdades morais inferiores, latentes e cerceadas, aflorassem, com grande expressão, devido à destruição de parte do cérebro, o qual era responsável pela supressão de suas faculdades morais mais depreciativas, enquanto o Eduardo, em se apresentando em estado evolutivo espiri-tual melhor, revela, apesar de a lesão orgânica ser seme-lhante à do americano, comportamento moral superior, já sendo vivenciado e conquistado antes da atual reencarna-ção.

BOX-3: Outra Sublime Oportunidade de Cresci-mento Espiritual pela Reencarnação:

Conforme ensina, igualmente, a codificação kardecia-na, o espírito sofre uma perturbação que só gradualmente se dissipa com o desenvolvimento do corpo infantil, facili-tando novos aprendizados e ensejando oportunidades valiosas e imprescindíveis de reabilitação e renovação espirituais. Não estando maturados e desenvolvidos os órgãos infantis, principalmente as funções neuropsicomo-toras, a individualidade extrafísica passa por um período de repouso, onde é mais receptível às impressões que rece-be da dimensão física, capazes de lhe auxiliarem o adianta-mento evolutivo. Daí a importância de serem os pais, parentes e professores profícuos educadores morais.

continua...

PERSONALIDADE PSICOPÁTICA SOB A ÓTICA ESPÍRITA

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A Gazeta Espírita 07Junho de 2017

O desabrochamento dos sentimentos nobres já deveria ser arquitetado por parte dos pais, principalmente pela amorosa mãe, durante o período gestacional, porquanto o ser espiritual, vivenciando um processo paulatino de entorpecimento, vivenciando vibrações de reconheci-mento, ligado por laços sublimes, está pronto para a acei-tação de princípios altruístas. O momento se torna favorá-vel para semear no coração do reencarnante as sementes da ética, da solidariedade e do amor, importantes para contrabalançar a falta de empatia com o semelhante e, igualmente, a impossibilidade de vivenciar emoções em relações a outrem. O transtorno de personalidade antisso-cial traduz anormalidades da psique, havendo desarmonia do afeto e da emoção, não sendo considerada doença men-tal, porém dissonância do caráter.

A fase infantil, portanto, é importantíssima para a mudança no desenvolvimento evolutivo do ser. A Doutri-na Espírita ensina que “os Espíritos só entram na vida corporal para se aperfeiçoarem, para se melhorarem. A delicadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devam fazê-los progredir. Nessa fase é que se lhes pode reformar os carac-teres e reprimir os maus pendores. Tal o dever que Deus impôs aos pais, missão sagrada de que terão de dar contas” (Q. 385 de “OLE”).

O indivíduo, portador de distúrbio psicopático, antes de reencarnar; por conseguinte, dependendo da educação moral que receba, em todas as fases de desenvolvimento no ventre materno e no período infantil, pode se apresen-tar, na fase adulta, com um quadro mais moderado. O importante, também, é os educadores imporem limites e ditarem regras claras diante de seres infantis que apresen-tam condutas maldosas, revelando desde cedo perversida-de com os familiares, colegas e animais, como também propensão para a violência e para o roubo. Seus primeiros sete anos de vida corporal são importantíssimos para que consigam granjear algum progresso espiritual, principal-mente a reforma do caráter, de permeio à repressão das más tendências, da má índole.

BOX-4: O que é “Transtorno da Personalidade Antissocial?

Quando passam pela infância sem a oportunidade da educação provida de amor, ou mesmo refratários a qual-quer mudança do seu comportamento áspero e intratável, os psicopatas revelam, na fase adulta, suas imperfeições, apresentando-se como indivíduos que não controlam seus instintos, quase sempre são falantes, sedutores, sem preju-ízo na cognição, porquanto a psicopatia difere da demên-cia e tampouco apresentam sintomas psicóticos (delírios e alucinações). Não são portadores de doença psiquiátrica, não são enfermos mentais, são doentes da personalidade conhecidos como maus-caracteres.

O psicopata é um ser frio, não vivenciando emoções; sentimentos como compaixão e solidariedade são inexis-tentes, assim como não apresentam sofrimentos emocio-nais, destacando a ausência de baixa autoestima, igual-mente de depressão e de[ADNF1] ansiedade. São aman-tes da mentira e da dissimulação. Cultores da megaloma-nia, do egocentrismo, da falta de afeto e da transgressão social. Não conseguem reconhecer o sofrimento alheio. Portanto, podem lesar o semelhante, sem vivenciar qual-quer sentimento moral. Igualmente, possuem a capacida-de de violar e desrespeitar os direitos das pessoas.

BOX-5: Enquadramento dos Seres Psicopatas na

Escala Hierárquica Espiritual:Consultando a Segunda Parte do Capítulo I de OLE, há

referência a respeito das diferentes ordens dos espíritos e chama a atenção à terceira categoria hierárquica, a dos seres imperfeitos, onde na décima classe estão situados os espíritos impuros. Ensina a codificação kardeciana, na questão 102 de OLE, que esses seres “são inclinados ao mal e o fazem objeto de suas preocupações. Como espíri-tos, dão conselhos pérfidos, insuflam a discórdia e a des-confiança, e usam todos os disfarces, para melhor enga-nar. Apegam-se às pessoas de caráter bastante fraco para cederem às suas sugestões, a fim de as levar à perda, satis-feitos de poderem retardar o seu adiantamento, ao fazê-las sucumbir

Nas manifestações, reconhecem-se esses espíritos pela linguagem: a trivialidade e a grosseria das expressões, entre os espíritos como entre os homens, e sempre um índice de inferioridade moral, senão mesmo intelectual.

“Suas comunicações revelam a baixeza de suas incli-nações e, se eles tentam enganar, falando de maneira sen-sata, não podem sustentar o papel por muito tempo e aca-bam sempre por trair a sua origem. Alguns povos os trans-formaram em divindades malfazejas – outros os designam como demônios, gênios maus, Espíritos do mal. Quando encarnados, inclinam-se a todos os vícios que as paixões vis e degradantes engendram: a sensualidade, a crueldade, a felonia, a hipocrisia cupidez e a avareza sórdida.

“Fazem o mal pelo prazer de fazê-lo, no mais das vezes sem motivo, e, por ódio ao bem, quase sempre escolhem suas vítimas entre as pessoas honestas. Constituem verda-deiros flagelos para a humanidade seja qual for a posição que ocupem, e o verniz da civilização não os livra do opró-brio e da ignomínia”.

Os psicopatas possuem muito espírito de liderança. Quando presos, são capazes de criar problemas, até mesmo rebeliões, sem que apareçam como mentores e líderes. Sabem muito bem manipular as pessoas, como

igualmente possuem grande poder de sedução. Mestres da dissimulação, dificultam muito sua identificação. São irresponsáveis no trato com os filhos, não gostando de compromissos, principalmente os ligados ao lar. Geral-mente são muito inteligentes e ardilosos. Prejudicam as pessoas sem demonstração de comoção. Muito frequente, nos portadores do transtorno, a irritabilidade, a impulsivi-dade e a agressividade.

Importante ressaltar que, na dimensão espiritual, esses seres, na maior parte das vezes, chefiam ou fazem parte das falanges das sombras, designados como “espíritos imundos” no Evangelho e citados muito bem, na obra Libertação, psicografada por Chico Xavier.

O conhecimento do assunto em tela proporciona momentos de reflexão, conscientizando-se o profitente espírita da incomensurável importância da Doutrina que professa. O Espiritismo foi codificado por um gigante do conhecimento, materializando as informações dos lumi-nares da dimensão extrafísica, no século XIX, e, tão atua-lizadas, que permitem explicar enigmas científicos hodi-ernos, deixando os cientistas espíritas boquiabertos e exta-siados, porquanto, em um mundo cada vez mais materia-lista, as luzes do Céu cada vez mais se apresentam e, cons-tantemente, sacodem os descrentes de todos os matizes, revelando que não existe o acaso, explicando que todos os infortúnios têm uma causa, inclusive o porquê do ateísmo.

A presença da Doutrina Espírita é cumprimento da profecia do amoroso Jesus, o qual afirmou que “O Conso-lador, que o Pai vai enviar em meu nome, ensinará a vocês todas as coisas e fará vocês lembrarem tudo o que eu lhes disse” (João 14:26).

(*) Américo Domingos Nunes Filho é um pediatra, escritor, conferencista e pesquisador espírita brasilei-ro

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A Gazeta EspíritaO8 Junho de 2017

Adelaide Augusta Câmara foi uma das mais devota-das figuras femininas do Espiritismo no Brasil, bem conhecida pelo seu pseudônimo de Aura Celeste.

Encarnou na cidade de Natal, Estado do Rio Grande do Norte, em 11 de janeiro de 1874, e desencarnou na cidade do Rio de Janeiro, em 24 de outubro de 1944.

Aura Celeste veio para a antiga Capital Federal em janeiro de 1896, graças ao auxílio de alguns militantes do Protestantismo, a cuja religião pertencia, os quais lhe pro-piciaram a oportunidade de lecionar no Colégio Ram Wil-liams, o que fez com muita proficiência, durante algum tempo, até que organizou em sua própria residência, um curso primário, onde muitos homens ilustres do meio polí-tico e social brasileiro aprenderam com ela as primeiras letras.

Foi nesse período de sua vida, no ano de 1898, que começou a sentir as primeiras manifestações de suas facul-dades mediúnicas. Nessa época, o grande Bezerra de Mene-zes dirigia os destinos da Federação Espírita Brasileira, revestido daquela auréola de prestígio e de respeito que crentes e descrentes lhe davam, e o Espiritismo era o assun-to de todas as conversas, não só pelos fenômenos e curas mediúnicas, como pela propaganda falada, pelos livros e pela imprensa.

Sob a sábia orientação de Bezerra de Menezes começou a sua notável carreira mediúnica como psicografa, no Cen-tro Espírita Ismael. O grande apóstolo do Espiritismo bra-sileiro, pela sua conhecida clarividência, prognosticou, certa vez, que Adelaide Câmara, com as prodigiosas facul-dades de que era dotada, um dia assombraria crentes e des-crentes. E essa profecia de Bezerra não se fez esperar, pois em breve Adelaide Câmara, como médium auditiva, come-çou a trabalhar na propagação da Doutrina, fazendo confe-rências e receitando, com tal acerto e exatidão, que o seu nome se irradiou por todo o País.

Com a desencarnação do inolvidável mestre, doutor Bezerra de Menezes, em 1900, Adelaide Câmara aproxi-mou-se do grande seareiro que foi Inácio Bittencourt e, nas sessões do Círculo Espírita “Cáritas”, passou a emprestar o seu concurso magnífico como médium e como propagan-dista de primeira grandeza.

Contraindo núpcias em 1906, os afazeres do lar, e a educação dos filhos mais tarde, obrigaram-na a afastar-se da propaganda ativa nos Centros, mas, nem por isso, ficou inativa. Nas horas de lazer, entrava em confabulação com os guias espirituais, e pôde receber e produzir páginas admi-ráveis, que foram dadas à publicidade na obra “Do Além”, em 21 fascículos, e no livro “Orvalho do Céu”.

Foi aí que adotou o pseudônimo de AURA CELESTE, nome com que ficou conhecida no Brasil inteiro.

Em 1920, retorna à tribuna e aos trabalhos mediúnicos, com tal vigor e entusiasmo, que o seu organismo de com-pleição franzina ressentiu-se um pouco, mas, nem por isso, deixou ela de cumprir com os seus deveres. O Dr. Joaquim Murtinho era o médico espiritual que, por seu intermédio, começou a trabalhar na cura dos enfermos e necessitados, diagnosticando e curando a todos quantos lhe batiam à porta, desenvolvendo-lhe, espontaneamente, diversas faculdades mediúnicas nesse período.

Além das mediunidades de incorporação, audição, vidência, psicográfica, curadora, intuitiva, possuía Adelai-de Câmara, ainda, a extraordinária faculdade da bilocação. Muitas curas operou em diferentes lugares do Brasil, a eles se transportando em “desdobramento fluídico”, sendo visível o seu corpo perispirítico, como aconteceu em Juiz de Fora e Corumbá (provadamente constatado), por enfer-mos que, sob os seus cuidados, a viram aplicar-lhes “pas-

ses”.Poetisa, conferencista, contista, e educadora sobretudo,

deixou excelentes obras lítero-doutrinárias, em prosa e verso, assinando-os geralmente com o seu pseudônimo. É assim que deu a público “Vozes d”Alma”, versos; “Senti-mentais”, versos; “Aspectos da Alma”, contos; “Palavras Espíritas”, palestras; “Rumo à Verdade” e “Luz do Alto”. Esparsos em revistas e jornais espíritas, há muitas poesias e artigos doutrinários de sua autoria.

O grande jornalista e literato Leal de Souza, referiu-se a Adelaide Câmara como “a grande Musa moderna, a Musa espiritualista”.

Em 1924, teve as suas vistas voltadas para o campo da assistência às crianças órfãs e à velhice desamparada. Cen-tralizou todos os seus esforços no propósito de materializar esse antigo anseio de sua alma. Pouco, entretanto, pôde fazer em quase três anos de lutas. Aconteceu, então, que um confrade, João Carlos de Carvalho, estava angariando donativos e meios para a fundação de uma instituição dessa natureza, e, um dia, faz-lhe entrega da lista de donativos a fim de que Adelaide Câmara arranjasse novos óbolos para tão humanitário fim. Dias depois, João Carvalho desencar-na, e ela fica de posse da lista e do dinheiro arrecadado.

Passados alguns meses, o Sr. Lopes, proprietário da Casa Lopes, que andava estudando a Doutrina, mostrou-se interessado na organização de uma instituição de amparo e assistência aos órfãos e Adelaide lhe informa possuir uma lista com alguns donativos para esse fim. A idéia foi recebi-da com entusiasmo e logo concretizada. Alugaram uma casa em Botafogo e aí foi instalado, no dia 13 de março de 1927, o Asilo Espírita “João Evangelista”, sendo ela a sua primeira diretora. Compareceu a essa festiva inauguração o doutor Guillon Ribeiro, então 2º . secretário da Federação Espírita Brasileira e representante desta naquela solenida-de. Adelaide Câmara, em breves palavras, exprimiu o júbi-lo de sua alma, afirmando realizado o ideal de toda a sua existência – “ser mãe de órfãos, graça do céu que não troca-ria por todo o ouro e todas as grandezas do mundo”.

Dedicou, daí por diante, todo o seu tempo a essa grandi-osa obra de caridade, emprestando-lhe as luzes do seu saber e de sua bondade até o dia em que serenamente entre-gou a alma a Deus.

Com extremosa dedicação, trabalhou Aura Celeste em várias sociedades espíritas beneficentes da cidade do Rio de Janeiro, dando a todas elas o melhor de suas energias e de sua inteligência.

ADELAIDE CÂMARA - AURA CELESTEPERSONALIDADES ESPÍRITAS

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A Gazeta Espírita 09Junho de 2017

r. Ed. Buguet, fotógrafo de Espíritos, Mera francês e visitou Londres em junho de 1874; em seu estúdio, situado em

Baker Street 33, houve muitas sessões notáveis. Mr. Harrison, redator de The Spiritualist, fala de um teste empregado por esse fotógrafo, que con-sistia em quebrar um canto da chapa e ajustar o pedaço, depois que aquela era revelada. Mr. Sta-inton Moses descreve Buguet como um homem magro e alto, de rosto inteligente e feições bem marcadas, com abundante cabeleira negra. Dizse que durante a exposição da chapa ele ficava em semitranse. Os resultados psíquicos obtidos eram de mais alta qualidade artística e de maior distin-ção que os obtidos por outros médiuns. Também uma grande percentagem de Espíritos era reco-nhecida. Um curioso aspecto com Buguet era que de conseguia numerosos retratos do “duplo” dos

assistentes, tanto quanto de pessoas vivas mas não presentes, aparecendo com ele no estúdio. Assim, enquanto se achava em Londres no estado de tran-se, o retrato de Stainton Moses apareceu em Paris quando Mr. Gledstones fazia uma experiência.

Em abril de 1875 Buguet foi preso e acusado pelo governo francês de produzir fraudulentas fotografias de Espíritos. Para salvar-se confessou que todos os resultados obtidos eram truques. Foi condenado a pagar quinhentos francos de multa e a um ano de prisão. Durante o processo um certo número de conhecidos homens públicos sustentaram a sua opinião quanto à autenticidade dos “extras” que haviam obtido, a despeito de se dizer que Buguet havia usado comparsas para fingirem de Espíritos. A verdade sobre fotografias espíritas não para aí: os que têm interesse em ler toda a história de sua prisão e seu

processo podem assim formar a própria opinião. Escrevendo depois do processo, diz Mr. Stainton Moses:

Não só acredito — mas sei, tão certo como sei outras coisas, que algumas das fotografias de Buguet eram autênticas.

Entretanto diz Coates que Buguet era um tipo sem valor. Certamente a posição de um homem que apenas pode provar que não é um patife pelo fato de haver feito uma falsa confissão por mêdo é um tanto fraca. O caso para a fotografia espírita, sem ele, ficaria mais valorizado. Quanto à sua confissão, foi ela arrancada criminosamente pelo Arcebispo da Igreja Católica de Toulouse, numa ação contra a Revue Spirite, quando seu redator, Leymarie, foi acusado e condenado. Disseram a Buguet que a sua salvação estava em confessar.

MR. ED. BUGUET, FOTÓGRAFO DE ESPÍRITOSGERAL

Contato: (27) 9 9968-5641 e-mail: [email protected]

Por Sir Arthur Conan Doyle

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A Gazeta Espírita10 Junho de 2017

Não se pode separar o conceito doutrinário do todo para uma das partes: ele vale, no caso do Espiritis-mo, para seu tríplice aspecto e, como Doutrina dos

Espíritos, não há que duvidar que a unanimidade das infor-mações que trazem até nós, em qualquer parte do mundo, é que fundamenta seus princípios e neles incluídos os religi-osos.

A Codificação é única e fundamenta-se nas obras de Kardec. Qualquer inovação que não seja coerente com seus postulados e que se restrinjam a grupos, não represen-ta o Espiritismo. Não se admitem diversificações como Espiritismo-cristão (o roustaingismo), Espiritismo Ciên-cia[1], Espiritismo de Mesa, Alto Espiritismo – principal-mente estes últimos, por serem aberrações – e que mais, com introdução de obras inovadoras que modifiquem seus conceitos ou que introduzam novas idéias que não tenham o amparo no fenômeno, na sua comprovação ou na razão.

SÓ HÁ UM E ÚNICO ESPIRITISMO, O CODIFICADO POR ALLAN KARDEC.

Também não é válido diversificar as partes do tríplice aspecto, moldando aquela que não agrade porque Doutri-na é um todo sem mutilações. Até mesmo as presente s considerações estão sujeitas ao mesmo crivo.

Nenhuma corrente doutrinária anterior a Kardec pode ser tida como sua predecessora: o Espiritismo nasceu com Kardec e, pelo fato de ser mediunista, nenhuma outra simi-lar poderá ser considerada espírita; este neologismo nas-ceu para definir apenas o que advém da análise do mestre lionês atualizado pelos novos conhecimentos que o homem adquira, sempre coerente com sua base e nunca diversificado dela. Portanto, não existe Espiritismo antes de Allan Kardec.

O fundamento doutrinário do Espiritismo, sem dúvida está inserto no primeiro livro escrito pelo codificador, que é O Livro dos Espíritos (LE), um acervo geral que mostra, a partir de Deus e da Criação, todo o aspecto filosófico-religioso dos ensinamentos dos Espíritos.

Segue-se a ele O Livro dos Médiuns (LM) que contém os principais tópicos da fenomenologia e esgota o assunto com grande profundidade de conhecimento; é, assim, o segundo mais importante livro da codificação porque nos dá o conhecimento do processo de intercomunicação com o Além. Como tal, é, sem dúvida, o tratado científico da fenomenologia dita paranormal.

Contudo, o livro onde Kardec conceitua a doutrina dos espíritos é o mais ignorado por todos porque estabelece fundamentos que contrariam muita tendência religiosa existente. É ele O Que é o Espiritismo, onde define, sem contestações, o que vem a ser a obra por ele codificada, exemplificando sua explanação e estabelecendo seus prin-cípios.

Reponde a uma série de indagações; nele, Kardec con-

firma a existência da parte religiosa, afirmando categori-camente, em diálogo com um padre, que a Codificação possui todos os fundamentos religiosos essenciais para substituir qualquer outra religião, como será dito adiante. E é, segundo o próprio Kardec, a principal obra dele, neste campo.

O quarto livro, sem ser considerado básico, O Evange-lho Segundo o Espiritismo (ESE), estuda um pouco da filosofia do Novo Testamento, mostrando a beleza dos ensinamentos de Jesus, chamando a atenção para algumas sérias contradições de prováveis interpolações havidas no interesse à manipulação dos que pregavam um Cristianis-mo conveniente a eles. É polêmico e diverge dos que acei-tam a Bíblia na íntegra, sem qualquer análise. Este livro encerra, apenas parte da moral espírita, mas era por demais importante à época porque toda sociedade européia estava enraizada nos fundamentos ditos cristãos e repudiaria qualquer outra ideia que não se estribasse nesses princípi-os. Além disso, nos fala do Cristo, nosso guia, a quem seguimos.

Contudo, até hoje, muitos adeptos ou possíveis segui-dores do Espiritismo não conseguiram se libertar dos lia-mes eclesiásticos e ainda mantêm a ideia do perjúrio e do pecado contra Deus o fato de divergir das Escrituras Sagradas. É o desconhecimento doutrinário.

Ainda, numa abordagem religiosa, vamos encontrar o quinto livro, O Céu e o Inferno, falando a respeito da Justi-ça de Deus sem as contrastantes conotações da Teodicéia e, apesar disso, é a obra menos conhecida pelos ardorosos adeptos da parte religiosa do Espiritismo, até mesmo nos que tentam transformar a Codificação em mais uma seita cristã, senão, estes tomariam uma outra posição, antagôni-ca ao seu evangelhismo canônico.

Complementando a série de livros tem-se A Gênese, por demais polêmico e Obras Póstumas, como o próprio nome indica, publicada após o desencarne do seu autor.

Não pára aí, contudo, o trabalho da Codificação. Kar-dec reformulou alguns pontos, ampliou outros através de uma série de artigos editados em vários periódicos, desta-cando-se a Revue Spirite que ele próprio geriu. E desses artigos, vários foram os livros editados, juntando assuntos, como é o caso do Desobsessão, impresso pela Federação Espírita da Bélgica.

É preciso que se conheça toda essa matéria para que se possa ter uma ideia do que seja a Codificação. Assim nas-ceu o Espiritismo hoje acrescido de um sem número de depoimentos dos mais diversos observadores, alguns, até, inteiramente insuspeitos porque não eram seguidores de Kardec nem desejavam sê-lo. Só que nenhum deles conse-guiu implantar novos princípios, até mesmo cientifica-mente, capaz de interferir nas bases doutrinárias; e note -se que, ao tempo de Kardec, segunda metade do século XIX, os ditos conhecimentos científicos eram parcos em relação

ao que hoje se sabe; ainda se tinha a molécula como indivi-sível.

A comprovação dos fatos, a verdade de suas teses, o rigor da análise e uma fenomenologia que resiste às pes-quisas até de fraudadores, formam o pedestal onde assen-tam os ensinamentos dos Espíritos e é nisso que reside a confiança de suas mensagens.

O MISTIFICADOR POR SI SÓ SE TRAI E TORNA-SE FÁCIL BANI-LO DO MEIO.

Muita coisa já existia, quando Léon Hyppolite Deni-zard Rivail, o grande educador, discípulo emérito de Pes-talozzi, foi convocado à sua missão na Terra. Ele era pro-fessor de renome, mestre em metodologia e autor da pri-meira gramática da língua sob forma didática, para sua aprendizagem. Não podia supor que acabasse se envol-vendo com aqueles fenômenos de mesinhas girantes que possuíam personalidade, inteligência e capacidade infor-mativa.

A pureza d'alma e a honestidade foram os predicados que levaram este mestre que adotou o pseudônimo de Allan Kardec a aceitar as comunicações mediúnicas e as determinações dos mentores espirituais atribuindo-lhe a função codificadora. A literatura a esse respeito é vasta.

Na época de Kardec, na Europa, imperava a Igreja, que ditava os princípios religiosos, do que, a sociedade não podia afastar. A Santa Inquisição deixara marcas indeléve-is e não se podia fugir a seus princípios sem escandalizar a sociedade. A imagem de Jesus crucificado representava o Senhor na Terra, dogma que não podia ser contestado. E, apesar da liberté, egalité et fraternité, ainda, na França imperava ou crê ou morre, se não na fogueira, pela conde-nação social. Assim mesmo, este país é tido como o mais liberal entre os demais.

Jesus era Deus na Terra e seus signatários de alguns países europeus pregavam sua doutrina à moda de seus interesses, manipulando a lei de Deus de forma que fossem os grandes detentores das pseudodeterminações emanadas do Criador. Eram senhores absolutos da fé e da crença; mandavam no Céu e determinavam na Terra e o condena-do não alçaria aos páramos celestes. E todos criam; e todos temiam. O medo ao desconhecido ajudava a impor esse regime.

Pobre Jesus, que veio ensinar o bem, o amor e a miseri-córdia, transformado em aval ao despotismo.

Tornava-se preciso que surgisse algo sem ferir tais preceitos, que fosse capaz de abalar a sociedade, chaman-do sua atenção para a verdade das coisas o que talvez tenha levado Kardec a acomodar certos pontos doutrinários.

Continua...

A COLABORAÇÃO DOS ESPÍRITOS

POR CARLOS DE BRITO IMBASSAHY NA OBRA: E DEUS, EXISTE?

A COLABORAÇÃO DOS ESPÍRITOS

POR CARLOS DE BRITO IMBASSAHY NA OBRA: E DEUS, EXISTE?

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A Gazeta Espírita 11Junho de 2017

O ranço do falso cristianismo imposto pelas castas domi-nantes que acabaram se transformando em religiosas, legando-nos o que hoje existe, foi tão prepotente que impôs à razão os seus preceitos e que imperam até então. As pala-vras de Jesus foram modificadas, em parte, pela conveniên-cia, outras foram devidamente supressas e algumas que mais acrescentadas para que o Cristianismo pudesse repre-sentar os interesses das castas dominantes e que acabaram se tornando as senhoras poderosas da religião.

A Igreja de Pedro, inicialmente condenada às catacum-bas, tendo seus adeptos perseguidos pelos poderosos, foi assimilada por Constantino, o grande, de Naissus (306), imperador romano que a adaptou às necessidades do impé-rio, em vez de transformar seu poder público pelas benesses dos ensinos legados pelo Mestre da Galiléia.

Enfim, a deturpação tomando conta da ideia, daí a necessidade do Consolador Prometido, para reconstituir a verdadeira doutrina do Cristo e essa reconstrução veio atra-vés das mensagens mediúnicas e dos ensinamentos através delas trazidos pelos grandes mentores.

E esses Espíritos Superiores falam de Jesus como lumi-nar e como mensageiro do Alto para ensinar o amor às cria-turas, como mentor em quem se inspiram e a quem servem como discípulos na Espiritualidade. Esse, porém, é o lado filosófico da nossa existência.

É o que muitos chamam de “Cristianismo redivivo”.A confusão religiosa não tem limites: várias são as cor-

rentes de pensadores dentro de um mesmo grupo ou linha de pensamento e cada qual, julgando-se infalível, tenta impor sua “verdade” como absoluta, do que não escapa o meio espírita. Dentro dele vamos encontrar os que comba-tem a parte científica, alegando que a era da fenomenologia espírita já passou; esquecem-se de que os fenômenos exis-tem, existiam e existirão por toda a eternidade da nossa vida, independentemente da sua natureza e os paranormais não fazem exceção.

Além disso, o progresso caminha a passos largos e as descobertas no campo espirítico nos são deveras favoráve-is, ampliando os conhecimentos e, cada vez mais, compro-vando os estudos do mestre lionês.

Outros são radicais e querem banir a parte religiosa do

Espiritismo, alegando (ou confundindo) que religião seja uma seita com dogmas, rituais, c ultos, sacerdotes, infalibilidades, enfim, tudo aquilo que Kardec provou que não tem fundamento nem necessidade para se compreender Deus, não pelo lado filosófico da vida, mas por sua Criação e inter-ligá-Lo a ela, o que nem a ciência nem a filosofia o faze m. Portanto, a religião é, sem dúvida uma parte integrante do tríplice aspec-to do Espiritismo e é este o campo que será desenvolvi-do no presente trabalho, mostrando sua facetas na tentativa de banir as incoerências, e purificar os conceitos pelo conhecimento da Verdade.

Eis, pois, o motivo pelo qual a parte religiosa do Espiri-tismo existe sem dogmas, sem mentores absolutos, sem infalibilidades, residindo na coerência das informações e na sua universalidade. Não é uma religião estruturada, senão, uma parte correlata com o estudo relativo ao Criador, sua obra e seus fundamentos.

Essa parte religiosa do Espiritismo não é o evangelhis-mo que muitos tentam impor, nem tampouco tem funda-mento nesse Cristianismo como é infligido por herança dos imperadores através da s Igrejas tradicionalistas ou mesmo, as transformadas que insistam em se manterem no mesmo pedestal estabelecido pelos antigos Poderes constituídos em Estados. Não parte da premissa de que Cristo seja Deus nem que Jesus seja o filho de Deus na Terra, formando com um Espírito Santo uma santíssima trindade na qual uma só pessoa é verdadeira, ferindo todos os princípios matemáti-cos existentes.

Contudo, o que advém dos ensinamentos evangélicos, verdadeiramente cristãos, está contido no livro de Kardec,

com toda sua pureza, com toda sua beleza, expressando uma filosofia de vida, como já foi dito, mas que só fala em parte nos preceitos religiosos por nós adotados.

Esta é a contribuição dos Espíritos; cabe agora, a nós, que também somos espíritos só que encarnados, dar prosse-guimento à nossa parte porque nós, encarnados, é que somos os grandes responsáveis pelos acontecimentos terre-nos e, como tal, pelo conhecimento doutrinário.

E é bom lembrar que o processo encarnatório é uma necessidade: para uns como resgate de seus erros, para outros, missão; de uma forma ou de outra, cada qual dá sua contribuição à formação social do mundo e é responsável pelo seu progresso.

É preciso que se pense nisso antes de achar que, sendo a Doutrina dos Espíritos, só eles sejam os responsáveis pelo seu progresso e capazes de ditar seus preceitos.

A verdade será sempre a verdade.

Fonte: Jornal Ciência Espirita

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A Gazeta Espírita12 Junho de 2017

O mundo vive situação crítica, com confrontos por toda parte.

Além das guerras no oriente, ações terroristas, demons-tração de armamentos letais entre os Estados Unidos da América do Norte e a Coréia do Norte, a fome e a miséria campeiam em países pobres como, também, na periferia dos países do chamado primeiro mundo.

A sociedade brasileira tem sido sacudida por escânda-los de desvios milionários de verbas públicas, concorrênci-as fraudadas e superfaturamento em licitações para obras públicas, corrupção ativa e passiva de agentes públicos e grandes empresas.

O noticiário na mídia denunciando tais desvios na monta de bilhões, milhões de dólares envolvendo agentes públicos dos poderes: Legislativo, Executivo e grandes empresas chega a ser assustador.

Por outro lado reportagens nos canais de televisão mos-tram a carência de recursos públicos nas áreas da saúde, da educação e da segurança.

Hospitais mal equipados, com falta de aparelhagem necessária ou instrumentos parados por falta de conserto, falta de recursos para aquisição de remédios e procedi-mentos médicos em quantidade e qualidade para atender os cidadãos.

Cadeias, presídios e penitenciarias insuficientes no atendimento minimamente humano no atendimento às suas populações, com lotações muito além do legalmente permitido em que as pessoas, ainda que infratores, têm tratamento inferior ao de muitos animais chamados irraci-onais. Se a pena não é um castigo do Estado, nem pode sê-lo, o processo de reeducação e ressocialização desses deti-dos é totalmente inexistente. São tratados pior que feras, e

como feras agirão, quando novamente, puderem retornar à sociedade.

Estados e Prefeituras “falidos” por malversação da receita pública e desvios criminosos de recursos existentes para o atendimento dos cidadãos nas referidas áreas admi-nistrativas.

É um panorama tenebroso.As pessoas atônitas, em sua análise, se estendem ideo-

logicamente da extrema direita à extrema esquerda, geran-do conflitos de relacionamento, chegando âmbito da pró-pria família.

Na apreciação adequada desse panorama é necessário ter valores éticos e consciência política bem definidos e, sobretudo, o suporte de valores cristãos.

Os espíritas têm diretrizes precisas para a compreensão dos momentos difíceis que a sociedade brasileira e o mundo estão atravessando.

Quanto à situação mundial sabemos que a humanidade está em fase de transição para o mundo de Regeneração.

Observemos o esclarecimento de Allan Kardec em A Gênese: “ A humanidade progride, por meio dos indivídu-os que pouco a pouco se melhoram e instruem. Quando estes preponderam pelo número, tomam a dianteira e arrastam os outros. De tempo a tempos, surgem no seio dela homens de gênio que lhe dão impulso, vêm depois, como instrumentos de Deus, os que têm autoridade e, nal-guns anos, fazem-na adiantar de muitos séculos.” ( Comentário de Allan Kardec à questão nº 789 de O Livro dos Espíritos.”)

Há que se entender, então, que o progresso é da própria condição humana, por isso o homem não pode opor-se-lhe. A ignorância e a maldade e até mesmo leis injustas, podem retardar seu desenvolvimento, mas não anulá-lo.

Quando instituições e leis se tornam incompatíveis com ele, a própria evolução geral se incumbe de aniquilar tais organizações e revogar ordenamentos anacrônicos.

A voz da Espiritualidade Superior esclarece e consola: “ O século XX surgiu no horizonte do globo, qual arena ampla de lutas renovadoras. As teorias sociais continuam seu caminho, tocando muitas vezes a curva tenebrosa dos extremismo, mas as revelações do além-túmulo descem às almas, como orvalho imaterial, preludiando a paz e a luz de uma nova era.

Numerosas transformações são aguardadas e o Espiri-tismo esclarece os corações, renovando a personalidade espiritual das criaturas para o futuro que se aproxima. (A C a m i n h o d a L u z , E m m a n u e l / F. C . X a v i e r, pags.207/208, ed. FEB,15ª edição.)

Estamos em um momento de intensa alfabetização política e nesse processo o espírita conta a iluminação espi-ritual que emerge de As Leis Morais de O Livro dos Espí-ritos, de Allan Kardec, especialmente: Da Lei de Socieda-de, Da Lei do Progresso, Da Lei de Igualdade, Da Lei

de Liberdade, Da Lei de Justiça, de Amor e de Carida-de.

Esse o nosso roteiro iluminador para mais serena, tran-quila e otimista visão nessa surpreendente e dolorosa qua-dra de vida que coletivamente estamos vivendo.

(*) Aylton Paiva (Lins/SP)Agente fiscal de rendas aposentado,

ex-diretor da Câmara Municipal de Lins,escritor e dirigente espírita em Lins/SP

[email protected].

AS CONVULSÕES SOCIAIS E POLÍTICASSOB A ÓTICA ESPIRITUAL

Por Aylton Paiva (*)

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A Gazeta Espírita 13Junho de 2017

Nada no Universo ocorre como fenômeno caóti-co, resultado de alguma desordem que nele pre-domine. O que parece casual, destrutivo, é sem-

pre efeito de uma programação transcendente, que obje-tiva a ordem, a harmonia.

De igual maneira, nos destinos humanos sempre vige a Lei de Causa e Efeito, como responsável legítima por todas as ocorrências, por mais diversificadas apre-sentem-se.

O Espírito progride através das experiências que lhe facultam desenvolver o conhecimento intelectual enquanto lapida as impurezas morais primitivas, trans-formando-as em emoções relevantes e libertadoras.

Agindo sob o impacto das tendências que nele jaz, fruto que são de vivências anteriores, elabora, inconsci-entemente, o programa a que se deve submeter na sucessão do tempo futuro.

Harmonia emocional, equilíbrio mental, saúde orgâ-nica ou o seu inverso, em forma de transtornos de vária denominação, fazem-se ocorrência natural dessa elabo-rada e transata proposta evolutiva.

Todos experimentam, inevitavelmente, as conse-quências dos seus pensamentos, que são responsáveis pelas suas manifestações verbais e realizações exterio-res. Sentindo, intimamente, a presença de Deus, a con-vivência social e as imposições educacionais, criam condicionamentos que, infelizmente, em incontáveis indivíduos dão lugar às dúvidas atrozes em torno da sua origem espiritual, da sua imortalidade.

Mesmo quando se vincula a alguma doutrina religio-sa, com as exceções compreensíveis, o comportamento moral permanece materialista, utilitarista, atado às pai-xões defluentes do egotismo.

Não fosse assim, e decerto, muitos benefícios adviri-am da convicção espiritual, que sempre define as con-dutas saudáveis, por constituírem motivos de elevação, defluentes do dever e da razão. Na falta desse equilí-brio, adota-se atitude de rebeldia, quando não se encon-tra satisfeito com a sucessão dos acontecimentos tidos como frustrantes, perturbadores, infelizes...

Desequipado de conteúdos superiores que proporci-onam à autoconfiança, o otimismo, a esperança, essa revolta, estimulada pelo primarismo que ainda jaz no ser, trabalhando em favor do egoísmo, sempre transfere a responsabilidade dos sofrimentos. Dos insucessos momentâneos aos outros, às circunstâncias ditas azia-

gas, que consideram injustas e, dominados pelo deses-pero fogem através de mecanismos derrotistas e infeli-zes que mais o degrada, entre os quais o nefando suicí-dio.

Na imensa gama de instrumentos utilizados para o autocídio, o que é praticado por armas de fogo ou medi-ante quedas espetaculares de edifícios, de abismos, desarticula o cérebro físico e praticamente o aniquila...

Não ficariam aí, porém, os danos perpetrados, alcan-çando os delicados tecidos do corpo perispiritual, que se encarregará de compor os futuros aparelhos materia-is para o prosseguimento da jornada de evolução.

É inevitável o renascimento daquele que assim bus-cou a extinção da vida, portando degenerescências físi-cas e mentais, particularmente a anencefalia. Muitos desses assim considerados, no entanto, não são total-mente destituídos do órgão cerebral. Há, desse modo, anencéfalos e anencéfalos. Expressivo número de anen-céfalos preserva o cérebro primitivo ou reptiliano, o diencéfalo e as raízes do núcleo neural que se vincula ao sistema nervoso central…

Necessitam viver no corpo, mesmo que a fatalidade da morte, após o renascimento, reconduza-os ao mundo espiritual. Interromper-lhes o desenvolvimento no útero materno é crime hediondo em relação à vida. Têm vida sim, embora em padrões diferentes dos considera-dos normais pelo conhecimento genético atual...

Não se tratam de coisas conduzidas interiormente pela mulher, mas de filhos, que não puderam concluir a formação orgânica total, pois que são resultado da con-cepção, da união do espermatozóide com o óvulo. Fal-tou na gestante o ácido fólico, que se tornou responsá-vel pela ocorrência terrível.

Sucede, porém, que a genitora igualmente não é víti-ma de injustiça divina ou da espúria Lei do Acaso, pois que foi corresponsável pelo suicídio daquele Espírito que agora a busca para juntos conseguirem o inadiável processo de reparação do crime, de recuperação da paz e do equilíbrio antes destruído.

Quando as legislações desvairam e descriminam o aborto do anencéfalo, facilitando a sua aplicação, a soci-edade caminha, a passos largos, para a legitimação de todas as formas cruéis de abortamento. E quando a humanidade mata o feto, prepara-se para outros hedion-dos crimes que a cultura, a ética e a Civilização já deve-riam haver eliminado no vasto processo de crescimento

intelecto-moral.Todos os recentes governos ditatoriais e arbitrários

iniciaram as suas dominações extravagantes e terríveis, tornando o aborto legal e culminando, na sucessão do tempo, com os campos de extermínio de vidas sob o açodar dos mórbidos preconceitos de raça, de etnia, de religião, de política, de sociedade...

A morbidez atinge, desse modo, o clímax, quando a vida é desvalorizada e o ser humano torna-se descartá-vel. As loucuras eugênicas, em busca de seres humanos perfeitos, respondem por crueldades inimagináveis, desde as crianças que eram assassinadas quando nasci-am com qualquer tipo de imperfeição, não servindo para as guerras, na cultura espartana, como as que ainda são atiradas aos rios, por portarem deficiências, para morrer por afogamento, em algumas tribos primitivas.

Qual, porém, a diferença entre a atitude da civiliza-ção grega e o primarismo selvagem desses clãs e a moderna conduta em relação ao anencéfalo?

O processo de evolução, no entanto, é inevitável, e os criminosos legais de hoje, recomeçarão, no futuro, em novas experiências reencarnacionistas, sofrendo a frieza do comportamento, aprendendo através do sofri-mento a respeitar a vida...

Compadece-te e ama o filhinho que se encontra no teu ventre, suplicando-te sem palavras a oportunidade de redimir-se.

Considera que se ele houvesse nascido bem formado e normal, apresentando depois algum problema de idio-tia, de hebefrenia, de degenerescência, perdendo as funções intelectivas, motoras ou de outra natureza, como acontece amiúde, se também o matarias?

Se exercitares o aborto do anencéfalo hoje, amanhã pedirás também a eliminação legal do filhinho limita-do, poupando-te o sofrimento como se alega no caso da anencefalia.

Aprende a viver dignamente agora, para que o teu seja um amanhã de bênçãos e de felicidade.

(*) [1] Página psicografada pelo médium Dival-do P. Franco, na reunião mediúnica da noite de

11 de abril de 2012, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.

ANENCEFALIA

Por Joanna de Ângelis(*)

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A Gazeta Espírita14 Junho de 2017

Há dois mil anos, Jesus anunciou que “há muitas moradas na Casa do meu Pai”[2]. Presentemente, não é difícil compreendermos que Deus criou Sua

Casa (Universo), em cuja morada estão os incontáveis planetas. Astrônomos detectaram atmosfera ao redor de GJ 1132b, um exoplaneta rochoso de um tamanho próximo ao da Terra, o que representa um passo significativo na busca de vida fora do nosso Sistema Solar.

“É a primeira vez que se detecta uma atmosfera ao redor de um planeta com uma massa e um raio semelhantes aos da Terra”, disseram os cientistas, cuja descoberta foi publi-cada na revista Astronomical Journal[3]. Esta detecção faz do planeta GJ 1132b um alvo prioritário de observações para o telescópio espacial Hubble, o telescópio gigante europeu de Observação Austral (ESO), que está no Chile, assim como para o futuro James Webb Space Telescope, cujo lançamento está previsto para 2018[4].

Há duas décadas, a Astronomia tem registrado a desco-berta de centenas de novos planetas, pertencentes a outros sistemas planetários. Na conferência anual da Sociedade Astronômica Norte-Americana, em cada descoberta, envolvendo os planetas de fora do nosso Sistema Solar (exoplanetas), apontam para a mesma conclusão: orbes, como a Terra, são, provavelmente, abundantes, apesar do violento Universo de estrelas explosivas, buracos negros esmagadores e galáxias em colisão.

O Sistema Solar possui 9 planetas com 57 satélites. No total, são 68 corpos celestes. E, para que tenhamos noção de sua insignificância, diante do restante do Universo, “nosso Sistema compõe um minúsculo espaço da pequena da Via Láctea”[5] , ou seja, um aglomerado de, aproxima-damente, 100 bilhões de estrelas, com, pelo menos, cem milhões de planetas, que, segundo Carl Seagan, no míni-mo, 100 mil deles com vida inteligente e mil com civiliza-ções mais evoluídas que a nossa[6].

Segundo Allan Kardec , “repugna à razão crer que esses inumeráveis globos que circulam no espaço não são senão massas inertes e improdutivas.”[7] A Ciência vem desco-brindo, incessantemente, planetas situados em outros sis-temas estelares. No campo das pesquisas científicas “o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem estar em erro, acerca de um ponto qualquer, ele se modificará nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.”[8]

Aqueles seres, explica o mentor de Chico Xavier: “an-gustiados e aflitos, que deixavam, atrás de si, todo um mundo de afetos, não obstante os seus corações empeder-nidos na prática do mal, seriam degredados na face obscura do planeta terrestre; andariam desprezados na noite dos milênios da saudade e da amargura; reencarnariam no seio das raças ignorantes e primitivas, a lembrarem o paraíso perdido nos firmamentos distantes. Por muitos séculos, não veriam a suave luz da Capela, mas trabalhariam na Terra acariciados por Jesus e confortados na sua imensa misericórdia”[9]. Sobre isso Agostinho afirmou no século XIX que “não avançar é recuar, e, se o espirito não se hou-ver firmado bastante na senda do bem, pode recair nos mundos de expiação, onde, então, novas e mais terríveis provas o aguardam”[10].

Na Revista Espírita de Agosto/1858, publicou um dese-nho psicopictografado (desenho mediúnico) e assinado pelo Espírito Bernard Palissy, célebre oleiro do século XVI, referente “a uma habitação em Júpiter, que seria a casa de Mozart. Somos também informados de que Cer-

vantes seria vizinho de Mozart e que por lá também viveria Zoroastro”[11].

Em 1938 o Espírito Emmanuel informou que na “Cons-telação do Cocheiro, cerca de 42 anos luz distante de nós, há o sistema de Capela, de onde milhares de anos atrás alguns milhões de Espíritos rebeldes que lá existiam, foram deportados para o nosso planeta. Aqui aprenderiam a realizar, na dor e nos trabalhos penosos, as grandes con-quistas do coração, impulsionando simultaneamente o progresso dos seres terrestres”[12].

Na questão 172 de O Livro dos Espíritos, Kardec per-guntou: “As nossas diversas existências corporais se veri-ficam todas na Terra?”, ao que os Espíritos responderam: “Não; vivemo-las em diferentes mundos. As que aqui pas-samos não são as primeiras, nem as últimas; são, porém, das mais materiais e das mais distantes da perfeição”[13].

Sabe-se hoje em dia existirem, pelo Universo observá-vel, pelo menos 10 bilhões de galáxias. Em 1991, em Gre-enwich, na Inglaterra, o observatório localizou um quasar (possível ninho de galáxias) com a luminosidade corres-pondente a 1 quatrilhão de sóis [isso mesmo, 1 quatri-lhão!].

Acreditar que somente a Terra tenha vida é supor que todo esse imensurável Universo tenha sido criado sem utilidade alguma, e seria uma impossibilidade matemática que num Universo tão inimaginável não se tivesse desen-volvido vida inteligente, senão neste pequeno planeta. Aliás, seria um incompreensível desperdício de espaço.

[1]https://gecasadocaminhosv.blogspot.com.br/2017/05/vida-inteligente-so-existe-na-terra.html

[2] João 14:2.[3] https://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/afp/2017/04/07/detectada-atmosfera-ao-redor-de-exoplaneta-do-tamanho-da-terra.htm[4] https://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/afp/2017/04/07/detectada-atmosfera-ao-redor-de-exoplaneta-do-tamanho-da-terra.htm[5] As últimas observações do telescópio Hubble (em órbita), mostram o número de galáxias conhecidas de 50 milhões.[6] XAVIER, Francisco Cândido. Carta de uma morta, ditado pelo Espirito Maria João de Deus, São Paulo: LAKE, 1999.[7] XAVIER, Francisco Cândido. Novas Mensagens, ditado pelo espírito Humberto de Campos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1940[8] FLAMMARION Nicolas Camille. Urânia, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1990.[9] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, perg. 55.[ 1 0 ] D i s p o n í v e l e m http://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com.b r / 2 0 1 0 / 0 1 / a r g u m e n t o s - e s p i r i t a s - s o b r e -existencia.html[11] KARDEC, Allan. Na Revista Espírita de Agosto/1858, Brasília: Editora EDICEL, 2002.[12] XAVIER, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, RJ: Ed. FEB, 2002.[13] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 172, RJ: Ed FEB, 2002.

VIDA INTELIGENTE SÓ EXISTE NA TERRA?Por Jorge Hessen - Fonte: Laboratório Espirita

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A Gazeta Espírita 15Junho de 2017

Por André Parente ostaríamos de trabalhar com a hipótese do Colégio GAllan Kardec, fundado por Eurípedes Barsanulfo em 1907, em Sacramento, ter sido o primeiro colé-

gio espírita do mundo, por ter a proposta mais original, ou melhor, a que mais se aproxima do Espiritismo em sua proposta inicial. O Colégio Allan Kardec era um estabele-cimento de ensino popular, não era pago, e chegou a ter em seus quadros um pouco mais de 200 educandos matricula-dos. Esse colégio apresentava algumas ideias avançadas, em uma época em que castigos ainda eram aplicados e o sistema de classe mista era difícil de encontrar no Brasil, em função do dogmatismo religioso, cuja proposta de educação se baseava na visão do pecado original, na qual o homem deveria expiar eternamente o erro de Adão que tinha sido corrompido por Eva, concebida como a princi-pal causa dos problemas humanos. Segundo Tomás Nove-lino, discípulo de Eurípedes, e ex-aluno do Colégio Allan Kardec, nesse estabelecimento de ensino, meninos e meni-nas conviviam sem problema algum. Acreditava que isso era muito positivo para a formação dos educandos. Vale destacar que no Colégio Allan Kardec, a avaliação era contínua, isto é, não havia notas e, sim conceitos atribuí-dos com base na observação diária do educador. Também nesta escola havia aula de religiões comparadas, a partir da qual a dimensão transcendente do ser humano pudesse ser observada e respeitada. Havia, também, a educação ética, porém não uma ética paternalista, dizendo aos outros o que eles têm de fazer, mas despertando o sentimento de huma-nidade nos educandos, por meio da prática de algum proje-to de cunho social. Exemplo: quando alguém morria em Sacramento Eurípedes estimulava seus alunos a prestarem solidariedade à família. Tudo era concebido dentro da liberdade de consciência, princípio máximo espírita, e adotado por Eurípedes como mola mestra de seu trabalho. Havia, também, as aulas de astronomia, resgatando a tradi-ção astronômica espírita, vinda do conhecido astrônomo Camille Flamarion; aulas-passeio, e aulas in loco, isto é, no mesmo local onde o desenvolvimento intelectual e ético fossem melhor aproveitados. Podemos citar alguns exemplos: aula de botânica, dada em um jardim (o que lembrava muito Rousseau e Pestalozzi) e aula de astrono-mia com um binóculo de alta potência que Eurípedes tinha adquirido. Todas essas práticas pedagógicas, vale destacar mais uma vez, eram muito semelhantes ao que Pestalozzi fazia no Instituto Yverdun, na Suíça. Não existe, ainda, uma prova de que Eurípedes tenha conhecido as experiên-cias do educador suíço.

A sensibilidade social e um profundo respeito à dor alheia também foi usado por Eurípedes no Colégio Allan Kardec, porém com a visão reencarnacionista, esclarecen-do que a criança não é uma tábua rasa, porque traz expe-riências múltiplas de outras vidas, pelo fato de ser um ser palingenésico, atuando em diferentes grupamentos socia-is, em diferentes tempos, na busca da autoconstrução. O Colégio Allan Kardec ficou muito conhecido na sociedade mineira e não tardaria a ser fiscalizado por autoridades da

época. O escritor Jorge Rizzini reproduz o parecer de Ernesto de Melo Brandão, um dos cinco inspetores que fiscalizaram o Colégio Allan Kardec:

“Visitei hoje o colégio Allan Kardec dirigido pelo com-petente e dedicado Eurípedes Barsanulfo, encontrando presentes às lições 94 alunos dos 113 atualmente matricu-lados. Acompanhei os trabalhos escolares, e pude verificar que o método de ensino adotado é racional e que os alunos vão assimilando bem todas as matérias lecionadas neste colégio, que, se impõe ao conceito dessa cidade, não só pela boa disciplina, mas também, pela dedicação desinte-ressada do seu diretor e seus dignos auxiliares, aos quais deixo consignados nestas linhas os meus aplausos pelos bons resultados que vão colhendo, e meus agradecimentos pelo modo gentil com que me receberam no seu estabeleci-mento de ensino.” (BRANDÃO, in RIZZINI, 2004: 65)

No Colégio Allan Kardec, não havia punições nem recompensas. Quando os alunos cometiam alguns desvios, Eurípedes corrigia-os amigavelmente. Suas palavras tinham muita força e cativavam os educandos a partir de seu exemplo. Ninguém queria desapontar o educador mine-iro. Sobre isso conta-nos Corina Novelino:

“Numa fase em que a palmatória era voz mais que ativa no ambiente escolar, dominando as mais difíceis situa-ções, mas afastando mais e mais o aluno do professor, Eurí-pedes inaugurou a era do entendimento e do diálogo. O aluno passou a ser respeitado em potencial, pois o mestre conhecia-lhe as faculdades racionais, as percepções, idei-as, hábitos e reações condicionadas. Isto vinha estreitar o relacionamento entre professor e seus discípulos, criando entre eles os laços de mútua confiança.” (NOVELINO, 2003: 116)

Das pesquisas feitas com educadores ligados a alguma concepção de mundo que não fosse a materialista, Eurípe-des foi um dos que mais estiveram de acordo, existencial-mente falando, com o discurso adotado. Os alunos do Colé-gio Allan Kardec não gostavam de entrar de férias. Era um lugar feliz. Alessandro Cesar Bigueto, educador e especia-lista em educação, em uma importante obra sobre Barsa-nulfo, assim se expressa:

“De acordo com os documentos, Eurípedes criou no colégio um ambiente vivo, de alegria, apropriado às crian-ças se desenvolverem. Além de professores consciencio-sos, de materiais adequados, o professor achava que o colégio tinha que ter um ambiente de felicidade, de vida, de acolhimento que contribuía para o desenvolvimento dos alunos.” (BIGHETO, 2006: 210)

Sobre esse clima familiar e alegre, conta-nos Germano, ex-aluno e ex-professor do Colégio Allan Kardec:

“Nenhum aluno gostava de entrar de férias no colégio, porque ficávamos longe do amor do professor e dos estu-dos, no período de férias não convivíamos juntos. Os alu-nos e o mestre ficavam com os olhos rasos de lágrimas, já não queriam as férias para não se separarem do mestre. As pessoas que assistiam as festas de despedida se sentiam tão comovidas que choravam com os discípulos. Em geral, todos procuravam ver o mestre nesse período. Eram dois

meses custosos para passar, todos ficavam ansiosos para que chegasse logo o dia de recomeçar as matrículas do colégio.” (GERMANO, in BIGHETO, 2006: 212)

A partir dessa experiência pedagógica, muitas outras surgiram, naturalmente sem que existisse nenhum corpo de ideias a respeito de uma possível Pedagogia Espírita. Por exemplo, o educandário Pestalozzi, que consideramos um dos pontos altos da educação espírita no mundo, foi fundado pelo casal: dr. Tomás Novelino, ex-aluno do Colé-gio Allan Kardec, e de sua esposa, a professora Maria Apa-recida. Em um contexto histórico adverso, durante a Segunda Guerra, o casal Novelino foi procurado por um pai que lhe havia contado sobre a expulsão de seu filho de uma escola dirigida por um ex-seminarista. O motivo da expulsão? O fato de ele ser identificado com a Doutrina Espírita. Novelino contou à esposa, a professora Dona Aparecida, e, com o apoio da maçonaria, estabeleceram o ideal de fundar uma escola que respeitasse todas as visões de mundo. Nascia, assim, o Educandário Pestalozzi, em Franca, São Paulo. Em 1º de agosto de 1944, numa casa alugada, a professora Aparecida e Tomás Novelino inicia-ram as atividades na Escola Pestalozzi, que não buscava formar espíritas, pelo fato de a liberdade de pensamento e, consequentemente, de escolha estarem nas diretrizes peda-gógicas da mundividência espírita. Essa experiência, embora farta em termos de estrutura, dando ênfase à parte estética, propiciando um ambiente adequado para uma boa prática pedagógica, em termos de originalidade, não avan-çou com relação à contribuição de Eurípedes Barsanulfo. Talvez pela imensa quantidade de alunos, tenha sido difícil manter uma especificidade da Educação Espírita. Porém, outro fato que pode ser destacado é que essa experiência possibilitou indícios de engajamento social que a Pedago-gia Espírita possui, nas linhas de Rivail, mais tarde Allan Kardec, que chegou dar aula de graça em sua casa. E, tam-bém, na linha de Léon Denis, em seu livro, Socialismo e Espiritismo, mostra-nos a proposta social do Espiritismo, a partir do aprimoramento ético do homem, para evitar a transferência de poder, um despotismo de baixo que venha substituir o de cima.

Diante do que foi exposto neste artigo, vale citar um fato que fundamenta a nossa hipótese de trabalho. Sem simplificar, gostaríamos de aproximar as experiências de Eurípedes, que exerceu grande influência na experiência de Tomás Novelino, com a experiência de José Herculano Pires. Desse tripé surge uma Pedagogia Espírita no Brasil. Em um diálogo com o professor José Herculano Pires, na década de 1970, Tomás Novelino se queixava da falta de uma sistematização da concepção espírita de mundo em sua faceta pedagógica. Isso nos leva a supor que Hercula-no tinha consciência de que toda prática de alguma doutri-na ou teoria precisa ser discutida e reelaborada para o bem de si mesma. Então, buscou preencher essa lacuna e orga-nizar em um corpo de ideias o que, de fato, seria e preten-dia a Educação Espírita.

Fonte: Correio Espírita

O COLÉGIO ALLAN KARDEC E SUA INFLUÊNCIA NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

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A Gazeta Espírita16 Junho de 2017

cantor e compositor Almir Sater, ao ser per-Oguntado no programa setarnejo da TV Cultu-ral, em São Paulo, de como compôs a música

Tocando em Frente, foi objetivo ao responder que só poderia se tratar de uma psicografia, dada as condi-ções especiais de como foi concebida na casa de Rena-to Teixeira, antes do jantar.

Conta que ele havia chegado na casa do amigo e parceiro, um pouco antes, e que pegou um violão do filho do amigo – faltando uma corda – e começou a tocar, quando aos poucos uma melodia e letra come-çaram a tomar contornos de uma canção, numa velo-cidade pouco comum à natureza criativa de ambos. No momento, diz não ter percebido o seu conteúdo, porque logo foram chamados para o jantar.

Ao chegar em casa foi perguntado como foi o jan-tar e ele disse à esposa que havia sido muito legal e que até comporam juntos uma música muito interessante. Todos então ficaram curiosos e quiseram ouvi-la, coisa que o Almir Sater em seguida apresentou em primeira mão, visando a apreciação de seus familia-res. Todos ficaram maravilhados pela beleza da músi-ca e da letra.

Após alguns dias, ele recebeu uma ligação da can-tora Maria Bethânia, artista que ele conhecia apenas do cenário musical, mas que nunca havia tido qual-quer tipo de contato com ela.

Conta que a cantora sem delongas lhe pediu uma música para então fazer parte do seu novo disco. Lisonjeado pelo telefonema e pelo pedido da artista em gravar uma de suas composições, cantou de imedi-ato pelo telefone a música Tocando em Frente. No final, a cantora muito impressionada com a qualidade e a beleza da música, pediu para gravá-la. Um pouco atrapalhado, disse a ela que o Renato Teixeira faria isso. Porém, Maria Bethânia do outro lado da linha não perdeu tempo e disse que a música seria gravada por ela.

O resto da história todos sabem, do grande sucesso que essa música fez na voz de Maria Bethânia, além da grande repercussão em todo Brasil.

Depois, é claro, não somente o Renato Teixeira gravou essa música, bem como outros intérpretes importantes da música sertaneja.

Retomando ao seu depoimento no programa serta-nejo da TV Cultura, a apresentadora perguntou-lhe, como haviam conseguido compor uma música tão bela e especial assim?

A resposta sincera e até certo ponto corajosa, tomou ares de expectativa quando, com naturalidade, respondeu com convicção que aquela música não podia ser uma composição deles, visto tratar-se de uma composição incomum à capacidade de realiza-ção da dupla.

A apresentadora do programa, querendo saber mais sobre a composição e a forma da concepção cria-tiva, quis saber mais e o porquê de não julgá-lo capa-zes?

O cantor se comportando de modo simples e sem nenhuma afetação, disse que só poderia se tratar de uma psicografia.

É muito gratificante saber que um cantor da gran-deza de Almir Sater, num canal de televisão aberta, reconheceu a posibilidade de ter sido o veículo mediú-nico para que se materializasse uma mensagem de tamanha complexidade criativa. Porque de modo geral, quando o médium se coloca disponível ao inter-câmbio, a produção é sempre ligeira e completa, não precisando de retoques.

Outra prova de que a espiritualidade organizou a produção, é considerar a repercursão que teve esse trabalho através da cantora Maria Bethânia, que sem-pre tem demonstrado ao longo de sua carreira a mode-ração com que se apresenta e a qualidade do seu reper-tório, além da sua identificação pública religiosa, em que procura manter viva sua fé inabalável em sua cren-ça e devoção.

Embora o Espiritismo nos oriente sobre essa cone-xão, muitos ainda ignoram a interferência dos Espíri-tos em nossa vida.

ALMIR SATER E MÚSICA PSICOGRAFADA NA CASA DE RENATO TEIXEIRA

Por Gilberto LepenisckFonte: Correio Espirita

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A Gazeta Espírita 17Junho de 2017

A primeira bailarina clássica negra do Teatro Munici-pal do Rio de Janeiro, Mercedes Batista, desencar-nou aos 93 anos, no dia 19 de agosto de 2014. Não

deveria virar notícia ser uma bailarina negra, mas é. E fatos de intolerância racial continuam acontecendo. Esse tema merece dos espíritas uma reflexão. Vamos pensar: Uma negra no balé clássico? Como aceitar isto? O palco do teatro não é só para os brancos? Que fato lamentável e também desafiador, não acham? Precisamos derrubar este muro de ilusão. Somos espíritos imortais, ou não nos reconhecemos como tal? Podemos renascer em corpos femininos ou mas-culinos, negros, brancos... E em qualquer parte deste lindo planeta Terra! Mas, de preferência, pensam alguns em rela-ção aos negros: “eles lá e eu aqui”. Mas, espírita pensa assim também? Fica aí uma excelente oportunidade de análise. Com tantos casos de racismo e tantos outros tipos de intolerância, este é o momento de passarmos tudo a lim-po, estudando os fatos, à luz dos ensinamentos da Doutrina Espírita. Ou fazemos uma análise de nossas ações ou pensa-mos que tipo de espírita somos nós?

Em memória a Mercedes Batista, que está na nossa lem-brança pela conquista extraordinária de seu espaço na soci-edade, é que dedicamos a matéria deste mês.

Trajetória de vidaA sua história é fantástica porque em 1945 Mercedes

passou em concurso público e ingressou no Corpo de Baile do Theatro (com th, mesmo!) Municipal do Rio de Janeiro. O teste de seleção, realizado em 5 etapas, foi seu primeiro desafio, pois Mercedes, após aprovação nas quatro primei-ras, não foi avisada para a última prova para mulheres e teve que disputar com os homens a última parte da seleção, demonstrando seu talento e perseverança.

Nasceu em 20 de maio de 1921 em Campos dos Goyta-cazes. Ainda jovem, mudou-se para o Rio de Janeiro onde trabalhou em diversas profissões, inclusive como emprega-

da doméstica. Iniciou seus estudos de balé clássico e na dança folclórica com Eros Volúsia, no Serviço Nacional de Teatro. Em 1946 ingressou na Escola Estadual de Dança Maria Olenewa. Foi aluna do coreógrafo estoniano Yuco Lindberg.

Era viúva e não tinha filhos. Em 1948 conheceu o jorna-lista, escritor e sociólogo Abdias Nascimento (1914-2011), diretor-fundador do Teatro Experimental do Negro. Em 1952 foi para Nova York trabalhar com Katherine Dunham, antropóloga e pesquisadora de danças de origem afro.

Também foi figura importante no carnaval carioca. Em 1963 desfilou pelo Salgueiro, com o tema “Xica da Silva”. Coreógrafa da Comissão de Frente, que dançou o minueto na avenida, sua inovação passou a influenciar os desfiles das escolas de samba.

O professor Manoel Dionísio, da Escola de Mestre-Sala, Porta-Bandeira e Porta-Estandarte declarou ao site da glo-bo.com: “Fomos muito criticados pela crítica carnavalesca como a coreografia maldita do carnaval. Dois anos depois começaram a copiar a gente”.

Livro de Paulo MelgaçoA vida de Mercedes Batista está contada no livro Merce-

des Baptista – A criação da identidade negra na dança, do escritor Paulo Melgaço. Sua trajetória de sucesso também muito contribui para a valorização da cultura brasileira na reafirmação do negro como artista.

Que dívida enorme a sociedade brasileira contraiu com os negros! Uma sociedade colonizada pelo modelo europeu e construída pelas mãos, suor e sangue dos negros, não os reconhece e nem lhes dá valor. Onde estão nossos heróis negros nos livros de história? Livros escritos pela ótica do branco, inclusive os de histórias infantis o negro, muitas vezes, é mostrado como indolente, ignorante, ou nem apa-rece. Atualmente, registramos algumas mudanças, mas precisamos rever urgentemente esses valores.

Meu aprendizadoInteressante, porque descendo de espanhóis e portugue-

ses, por parte de mãe e de franceses e portugueses, por parte de pai. Quando criança eu ouvia de mamãe algumas históri-as típicas de racismo. Uma delas aconteceu, certa vez, quan-do uma tia de minha mãe chegou em casa indignada por ver na rua uma negra vestindo uma roupa com a mesma estam-pa do seu vestido. Ela então destruiu seu próprio vestido com uma tesoura porque “uma negrinha estava vestindo uma roupa igual à sua”. Pois bem, meus quatro tios, irmãos de minha mãe, já desencarnados, resolveram “colorir a família”, como dizemos. Tenho primos de pele clara, outros morenos, outros bem morenos, da cor do chocolate para contrastar com nossa brancura. Que ótimo!

Cresci assim, todos juntos e misturados, como dizem. Certa vez, na hora do almoço, passava pela Rua República do Líbano, perto da sede antiga do Lar Fabiano de Cristo, onde trabalho, e ouvi um alegre: - Oi, prima, bom te ver! E meus amigos ficaram surpresos, quando apresentei meu primo, com nome espanhol e pele cor de chocolate, aquele bem escuro, e nós, muito felizes, nos abraçamos, emociona-dos pela alegria do reencontro.

Bendita Doutrina Espírita que conheci criança, e bendita lei de reencarnação que fazem quebrar as nossas arrogânci-as, poses e ignorâncias quanto à bondade de Deus que nos coloca como irmãos, iguais e diferentes ao mesmo tempo. Tudo é tão passageiro nesta vida! Somente o amor é verda-deiro, eterno e real construtor da felicidade! Vivamos, por-tanto, como espíritos imortais e seremos sempre felizes!

Obrigada Mercedes Batista e parabéns pela sua negritu-de!

Muita paz para todos!

Mercedes Batista, a primeira bailarina negra do Teatro Municipal

Por Ângela DelouFonte: Correio Espírita

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A Gazeta Espírita18 Junho de 2017

Para a Medicina, o sonambulismo é uma doença. Porém, quando perguntou aos Espíritos a relação existente entre o sonambulismo e os sonhos, Allan

Kardec recebeu a resposta de que aquele "é um estado de independência do Espírito, mais completo do que no sonho, estado em que maiores amplitudes adquirem suas faculda-des". Sendo assim, colocou-o dentre as capacidades natura-is do ser humano, como uma das potencialidades do encar-nado.

O Codificador conhecia essa faculdade graças aos seus estudos teóricos e práticos como magnetizador durante mais de três décadas. Compreensível que ele quisesse apro-fundar o conhecimento buscando nos Espíritos superiores o apoio para a compreensão de tão importante fenômeno psicofisiológico. Facultando uma certa liberdade ao Espíri-to encarnado, o sonambulismo possibilita a manifestação de seus potenciais anímicos de diversas formas. A sua análi-se complementa o entendimento a respeito do próprio ser humano, pois que é a alma que se revela.

Durante o transe sonambúlico, o sonâmbulo expressa ideias que estão, muitas vezes, bem acima da sua capacida-de intelectual ou que lhe são desconhecidas quando desper-to. Isso chamou a atenção do Marquês de Puységur, insigne discípulo de Franz Anton Mesmer e magnetizador brilhan-te, quando o jovem paciente Víctor, durante o tratamento por magnetismo animal passou a orientá-lo sobre a sua doença (de Víctor) demonstrando conhecimentos que não condiziam com a sua condição de pastor de ovelhas iletra-do.

Somente com o Espiritismo é que essa e outras caracte-

rísticas sonambúlicas puderam ser perfeitamente esclareci-das. Kardec solicitou explicação sobre isso aos Espíritos, cuja resposta foi registrada n'O Livro dos Espíritos, na ques-tão 431:

“É que o sonâmbulo possui mais conhecimentos do que os que lhe supões. Apenas, tais conhecimentos dormitam, porque, por demasiado imperfeito, seu invólucro corporal não lhe consente rememorá-lo. Que é, afinal, um sonâmbu-lo? Espírito, como nós, e que se encontra encarnado na maté-ria para cumprir a sua missão, despertando dessa letargia quando cai em estado sonambúlico. Já te temos dito, repeti-damente, que vivemos muitas vezes. Esta mudança é que, ao sonâmbulo, como a qualquer Espírito ocasiona a perda material do que haja aprendido em precedente existência. Entrando no estado, a que chamas crise, lembra-se do que sabe, mas sempre de modo incompleto. Sabe, mas não pode-ria dizer donde lhe vem o que sabe, nem como possui os conhecimentos que revela. Passada a crise, toda recordação se apaga e ele volve à obscuridade”.

O sonâmbulo quando em transe revela os conhecimen-tos que possui e que se encontram guardados na sua memó-ria, aprendidos em encarnações passadas. Desprendendo-se parcialmente do corpo e de modo relativamente profun-do, o Espírito consegue acessar o conteúdo aprendido em outras existências e assim revelá-lo a quem lhe ouve. Dessa maneira fala de assuntos que não fazem parte do cortejo de pensamentos com os quais lida no cotidiano enquanto des-perto. Através do sonambulismo, mostra-se a alma a desco-berto, desvenda-se os potenciais anímicos que farão parte da rotina futura do homem, quando a força da matéria sobre

o Espírito for abrandada pela evolução dos seres e das coi-sas.

Após a resposta acima, Kardec achou por bem fazer uma complementação baseada nas suas experiências explicando que os Espíritos desencarnados também podem se comuni-car com o sonâmbulo suprindo as lacunas intelectuais exis-tentes. Se dá então a chamada mediunidade sonambúlica, um misto de fenômeno anímico (sonambulismo) e mediu-nidade. Assim o sonâmbulo tem ampliada a sua capacidade de percepção das coisas e dos Espíritos, bem como expressa os conhecimentos guardados na memória perispiritual, os quais podem ser complementados pela ajuda dos desencar-nados, naquilo que ele não compreende.

Há uma diferença básica entre a mediunidade sonambú-lica e a psicofonia. Nesta, o Espírito fala através do médium e se expressa em primeira pessoa: eu estou aqui, meu nome é fulano de tal... Já na mediunidade sonambúlica o Espírito fala para o sensitivo em transe o qual retransmite para quem lhe ouve em terceira pessoa: tem alguém aqui que disse se chamar fulano de tal... Escreveu Allan Kardec que "Essa dupla ação é às vezes patente e se revela, além disso, por estas expressões muito frequentes: dizem-me que diga, ou proíbem-me que diga tal coisa".

"A verdade liberta", disse Jesus. Dessa forma é que o conhecimento destes fenômenos, bem como a sua identifi-cação adequada, ajuda num melhor aproveitamento dos potenciais do ser humano, direcionados de forma positiva, podendo ser a solução para diversos impasses que enfrenta hoje o ser humano mormente no que diz respeito às ques-tões relativas à saúde e à doença.

ORIGEM DAS FACULDADESDO SONÂMBULO

Por Adilson Motta de Santana

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A Gazeta Espírita 19Junho de 2017

O espiritismo é a religião mais bíblica, enquanto que as demais, que se dizem tam-bém bíblicas, na realidade são mais dog-

máticas, ou seja, seguidoras dos dogmas.Entre todas as igrejas cristãs existem divergên-

cias que as separam umas das outras, como há tam-bém entre o espiritismo e elas. Mas há mais coisas que nos unem do que as que nos separam! As exce-ções, geralmente, são justamente os dogmas. E dizemos contra a opinião de muitos teólogos cris-tãos que Kardec é o verdadeiro reformador do cris-tianismo e não bem Lutero.

E o espiritismo é também mais bíblico por mais dois motivos que reforçam essa afirmação. Com o Velho Testamento, a doutrina espírita está muito identificada pela riqueza dos fenômenos mediúni-cos nele registrados. Já com relação ao Novo Tes-tamento, ela identifica-se muito com ele pelo fato de ela adotar, na íntegra, a moral dele. Realmente, como disse Kardec, a moral espírita é a do Novo Testamento, porque ele representa o melhor códi-go de moral da história da humanidade. Além dis-so, o Novo Testamento possui também muitos fenômenos mediúnicos, principalmente no Livro

de Atos dos Apóstolos. E os dois testamentos bíbli-cos possuem também vários exemplos do fenôme-no da reencarnação, que as igrejas cristãs fazem de conta que a ignoram, quando não a condenam!

Mas o fato de a doutrina espírita ser uma reli-gião mais bíblica não significa que os espíritas aceitem que a Bíblia seja, literalmente, a palavra de Deus, e que ela não tenha erros, pois ela os tem, principalmente, quando alguns textos dela são interpretados, de modo abusivo, ao pé da letra e figuradamente. De fato, pode-se dizer que muitos erros bíblicos estão justamente nas interpretações forçadas e irracionais de seus textos, ora de modo literal, ora de modo figurado.

Mas há também na Bíblia erros de traduções com o objetivo de ocultar algumas ideias que não estão de acordo com as tradicionais e dogmáticas do cristianismo. E os líderes religiosos, geralmen-te, nunca abordam algumas partes bíblicas que não estão também de acordo com o ensino de sua igre-ja, ignorando-as, totalmente.

E eis uma passagem bíblica, que, de uns 80 anos para cá, teve sua tradução alterada para ocultar a ideia da reencarnação. Mas primeiramente, uma

explicação: a primeira geração numa família é a do pai; a segunda é a dos filhos; a terceira é a dos netos; e a quarta é a dos bisnetos. “... sou o Senhor teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos 'na' terceira e quarta geração daque-les que me aborrecem” (Êxodo 20: 5). De 1930 para trás, esse texto, no lugar de “até”, havia “na”, ou seja, “em” mais o artigo “a”. Portanto, o texto antigo dizia “na” terceira e quarta geração. A alte-ração foi feita, porque nos netos (terceira geração) e, principalmente, nos bisnetos (quarta geração), o “mesmo espírito” do “pai” que pecou no passado (agora já avô ou bisavô desencarnado) pode reen-carnar num de seus netos ou bisnetos, recebendo, pois, ele próprio, seu “castigo” ou seu carma de sofrimento, que é a colheita da semeadura da ini-quidade que ele fez no passado.

A falsificação desse texto da Bíblia é mais uma das provas de que o espiritismo é mesmo bíblico e de que os tradutores dela sabem disso muito bem!

Fonte: O Tempo

Por José Reis Chaves

ENTENDENDO POR QUE É UMA RELIGIÃO MAIS BÍBLICA O ESPIRITISMO

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A Gazeta Espírita20 Junho de 2017

1 - O que dizer do casamento gay?Entendo que duas pessoas que decidam viver jun-tas têm o direito de formalizar sua ligação, medi-ante um contrato em cartório, até por uma questão prática envolvendo sucessão, herança, pensão, bens adquiridos em comum. Antes a lei determi-nava que esse contrato fosse celebrado por um casal. Hoje, em muitos países, inclusive no Brasil, essa exigência foi abolida.

2 - Pode-se situar esse contrato como um casa-mento?Sim, se considerarmos que o substantivo casa-mento, como ocorre frequentemente com expres-sões idiomáticas portuguesas, tem várias acep-ções: pode ser vínculo conjugal entre um homem e uma mulher, mas também uma associação ou aliança entre duas ou mais pessoas.

3 - De qualquer forma, não soa estranho falar em casamento gay, porquanto o termo reporta-se a união entre um homem e uma mulher?Se considerarmos o assunto sob o ponto de vista espiritual, não há nada de estranho. Conforme está na questão 200, de O Livro dos Espíritos, o Espírito tem sexo como condição psicológica, podendo ser eminentemente masculino ou femi-nino. Sempre encontraremos entre casais gays, sejam de homens ou mulheres, o ascendente mas-culino e o feminino.

4 - Partindo desse princípio, poderíamos dizer que os casais gays se formam por atração entre um Espírito de ascendência psicológica mascu-lina com outro de ascendência psicológica femi-nina?Embora não possamos generalizar, acredito que isso ocorra na maior parte dessas uniões, conside-rando que o sexo, sob o ponto de vista físico, é identificado pelos órgãos sexuais, mas sob o ponto de vista espiritual prevalece a identidade psicológica.O Espiritismo não celebra casamentos, explican-

do-nos que toda comunhão com Deus é um ato pessoal que dispensa ritos e rezas, ofícios e ofici-antes. Duas pessoas que decidam viver juntas, numa ligação homossexual ou heterossexual, devem pedir as bênçãos divinas a partir de sua própria iniciativa, em oração nos redutos do cora-ção.

6 - E quanto ao casamento gay nas igrejas tradi-cionais?É um assunto para ser resolvido por comunidades religiosas que adotam o casamento religioso, o que não é o caso do Espiritismo.

7 - As religiões tradicionais não aceitam que os casais gays adotem filhos, sob a alegação de que dois pais ou duas mães vão confundir a cabeça da criança. É razoável considerar assim?O que devemos preferir: que a criança experimen-te o trauma doloroso de viver em orfanato e, não raro, na rua, ou que seja cuidada e educada num lar, tendo dois pais ou duas mães? Pesquisas com

crianças educadas por gays revelam que não apre-sentam problemas de relacionamento social. Mui-tas se saem até melhor nos estudos. Tudo o que a criança precisa é de um lar ajustado, onde receba muito amor, não importando se é educada por homo ou heterossexuais.

8 - O que dizer do forte preconceito contra uniões dessa natureza? Em alguns países o rela-cionamento homossexual é punido com a prisão e até com a morte.Quando foi abolida a escravidão em nosso País, muita gente achava que era anormal negros des-frutarem da mesma liberdade dos brancos. Nos Estados Unidos aconteceu uma sangrenta guerra civil para libertar os escravos. No futuro, pessoas que vivem experiências homoafetivas deixarão de sugerir anormalidade ou preconceitos. São apenas diferentes, com todos os direitos de qual-quer cidadão, inclusive de constituir família, de acordo com sua maneira de ser.

CASAMENTO GAY

Por Richard Simonetti

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A Gazeta Espírita 21Junho de 2017

Para o psiquiatra assistente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP, Cris-

tiano Cardoso Moreira, o aumento do suicídio na população jovem hoje é um fenômeno mundial e uma questão de saúde pública. O psiquiatra afir-ma que atualmente um dos principais fatores de risco para o suicídio é o consumo de drogas. “Existe uma ligação muito grande entre o aumento de suicídio e o aumento do consumo de drogas e também do bullying.”

Dados divulgados recentemente pela Organi-zação Mundial da Saúde (OMS) indicam que o Brasil é o país com maior número de pessoas com transtorno de ansiedade e o quinto em número de pessoas com depressão.

E um dos resultados desses recordes é outro número assustador. A BBC Brasil divulgou, recentemente, que, entre 1980 e 2014, a taxa de suicídio entre jovens no País aumentou 27,2%.

Segundo o médico Cristiano Cardoso Morei-

ra, o estilo de vida atual, como o maior acesso a meios letais, como medicamentos e armas, facili-ta de alguma forma comportamentos como o sui-cídio. “As pessoas estão cada vez mais individua-lizadas e se juntam em grupos e redes que autoali-mentam esse pensamento de morte e deixam os jovens mais vulneráveis à questão do suicídio.”

Para o médico, a rede social pode ser usada tanto para o bem, como encontrar profissionais para ajudá-los, como para o mal, quando da inser-ção em grupos que induzem o jovem a ter atitudes autodestrutivas. Moreira lembra que os jogos virtuais que ganharam os noticiários nos últimos dias atingem pessoas que já se encontram em vul-nerabilidade e aquelas que estão em situação de risco, como pessoas com depressão.

Para o psiquiatra, é importante que os pais sai-bam o que os filhos estão fazendo na internet e fiquem atentos a comportamentos de isolamento e a mudanças abruptas de atitudes, por exemplo. “Os pais hoje estão correndo muito e não vendo o

que os filhos estão fazendo, especialmente na internet.” Lembrou que é possível prevenir o sui-cídio, observando o comportamento dos jovens e incentivando-os a buscar ajuda: “90% dos suicí-dios têm ligação com algum transtorno mental passível de tratamento”.

Para o profissional, a rede pública de saúde, principalmente no Brasil, tem poucos serviços e o profissional de forma geral é pouco capacitado no assunto. “O suicídio não deveria ser um assun-to exclusivo da psiquiatria. A formação dos pro-fissionais da saúde deveria focar a prevenção e como lidar com alguém que tentou ou que tem a ideia de querer suicidar-se ou machucar-se. Ainda temos um tabu muito grande sobre esse assunto, mesmo entre os profissionais de saúde.”

Fonte: Jornal da USP

SUICÍDIO ENTRE JOVENS É UM PROBLEMADE SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL

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A Gazeta Espírita22 Junho de 2017

variedade envolvendo a fenomenologia mediú-Anica tem sido motivo de assombro para todos os que se interessam pelo intercâmbio entre o

mundo material e o espiritual. A diversidade dos talentos mediúnicos pode ser verificada mediante consulta aos mais diferentes relatos que compõem a literatura voltada para o tema, seja ou não de origem espírita.

Surpreendem-nos as levitações de religiosos católi-cos durante a Idade Média. Espantam-nos os relatos da execução de instrumentos musicais em pleno ar, distan-tes das mãos dos médiuns ou de qualquer pessoa, durante a fase experimental do Espiritualismo Moderno, na pri-meira metade do século XIX. Assombram-nos as materi-alizações espirituais, realizadas em ambientes controla-dos, acompanhadas por cientistas, quando estes se inte-ressaram pela investigação dos fenômenos mediúnicos, no século XIX e início do século XX. Enfim, o sem-número de médiuns e mediunidades, já catalogados ou não, instiga nossa sede de entender os mecanismos pelos quais se processam as relações interdimensionais.

Os acontecimentos envolvendo as irmãs Fox, ocorri-dos em Hydesville, localidade situada no estado de Nova Iorque, em solo norte-americano, constam entre os mais famosos de toda a literatura voltada para a mediunidade, não só pela forma como o intercâmbio mediúnico se deu, mas também pelo fato de ter envolvido expressivo núme-ro de pessoas, testemunhas oculares e auditivas de todo o processo. Aquele episódio foi para nós outros, os espíri-tas.

Aliás, é interessante notar que os registros históricos dão conta de que o estado de Nova Iorque, em meados do século XIX, experimentou significativo número de mani-festações mediúnicas, em diversas pequenas cidades ali localizadas. A médium inglesa Emma Hardinge Britten (1823–1899), tendo vivido na época de tais fenômenos, aproveitou suas viagens e realizou um meticuloso traba-lho de pesquisa que resultou na publicação, em 1870, do livro Modern american spiritualism. Nesse trabalho, ela reporta eventos anteriores aos ocorridos em Hydesville, mas que foram relativamente ofuscados em virtude da grandeza do ocorrido no seio da família Fox. Dentre os episódios parcialmente obscurecidos, um em especial desperta a nossa atenção: o que se deu no distrito de Watervliet, perto de Albany, vizinha de New Lebanon.

Em Watervliet, vivia um grupo que sofrera persegui-ções na Inglaterra por conta de suas crenças religiosas, em mais um dos diversos embates envolvendo religião naquela nação, a exemplo da Revolução Puritana de Oliver Cromwell (1599–1658). Esse grupo tinha cone-xões com os quakers, e eram conhecidos como shakers.

Assim que a perseguição se intensificou, os shakers migraram para a colônia inglesa Province of New York, que mais tarde originaria o estado de Nova Iorque. Foram para lá atraídos pela promessa de oportunidades e de relativa tolerância. Ali se instalaram e progrediram.

Apesar da imprecisão de datas, considerando a reser-va com que o grupo tratava do assunto, procurando evitar excessiva exposição, sugerem os relatos que os primei-ros fenômenos mediúnicos envolvendo os shakers se iniciaram em meados de 1837, ou seja, 11 anos antes do fato histórico ocorrido em Hydesville.

Ao que tudo indica, a mediunidade era pródiga entre os shakers, pois que, em vez de um ou outro médium manifestar a presença de um Espírito, durante os traba-lhos religiosos era significativo o número de membros que entrava em transe mediúnico. O número relevante de médiuns em transe guardava relação direta com o núme-ro não menos significativo de Espíritos comunicantes. Os Espíritos manifestantes haviam pertencido a um grupo de nativos que habitavam aquela região à época da chegada dos conquistadores europeus.

A partir do relato da médium e escritora Emma Har-dinge, o médico e escritor escocês Arthur Conan Doyle (1859–1930) nos apresenta fragmentos da história dos shakers, fornecendo-nos informações interessantíssi-mas. No relato de Conan Doyle, um detalhe se torna digno de nossa atenção: a forma como os Espíritos se anunciavam, quando pretendiam manifestar-se.

Contudo, para conhecer melhor tal detalhe, vale a pena recorrer ao texto fascinante do famoso escritor e pesquisador da mediunidade e do Espiritualismo, que nos fornecerá uma ideia mais exata sobre os aconteci-mentos envolvendo a mediunidade coletiva dos shakers.

Escreve Conan Doyle, no cap. 2 – Eward Irving: os shakers, p. 54:

[…] Os principais visitantes eram Espíritos de Peles Vermelhas, que vinham em grupos, como uma tribo. Um ou dois presbíteros deveriam estar na sala de baixo, aí batiam à porta e os índios pediam licença para entrar. Dada a licença, toda a tribo de Espíritos de índios invadia a casa e em poucos minutos por toda a parte ouvia-se o seu “Whoop! Whoop!” Os gritos de “whoop”, aliás, ema-navam dos órgãos vocais dos próprios “shakers”. Mas, quando sob o controle dos índios, conversavam na lín-gua destes, dançavam as suas danças e em tudo mostra-vam que estavam realmente tomados por Espíritos de Peles Vermelhas. (Grifo nosso.)

Pelo que pudemos observar, os Espíritos dos nativos pediam licença para adentrar o culto religioso shaker. Concedida a autorização, eles se aproximavam dos médi-

uns e os influenciavam de tal forma que os religiosos se comportavam à maneira dos nativos quando realizavam seus rituais religiosos.

Esse contato durou cerca de sete anos, até que a expe-riência mediúnica cessou, tendo os Espíritos, antecipa-damente, anunciado o fim daqueles trabalhos.

Quatro anos depois do encerramento dos assombro-sos fenômenos ocorridos em Watervliet, iniciaram-se os emblemáticos eventos em Hydesville, envolvendo a família Fox. Ao saber do fato, o shaker Elder Evans orga-nizou um grupo de correligionários e foram visitar as irmãs Fox. Segundo Conan Doyle, quando se reuniram com as meninas médiuns, os visitantes foram saudados por Espíritos, e surpresa: alguns desses Espíritos eram os nativos que haviam estado em Watervliet alguns anos antes.

Esses relatos são, de fato, instigantes, e nos convidam a aprofundar na pesquisa acerca da história da mediuni-dade. Principalmente, nos dão a oportunidade de relem-brar os fenômenos coletivos de mediunidade que, embo-ra raros, têm como acontecimento maior os episódios ocorridos no dia de Pentecostes, quando os apóstolos do Mestre Jesus começaram a falar em outras línguas. Obvi-amente, não se pode fazer um paralelo entre o ocorrido com os apóstolos e o que se deu entre os shakers, sobre-tudo no que se refere à mensagem decorrente dos fenô-menos. Mas é inegável que a fenomenologia é a mesma: um transe mediúnico coletivo.

Enfim, quem quer que se interesse pelo estudo da mediunidade e do Espiritismo constatará pela simples observação que, com o passar do tempo, a manifestação mediúnica perdeu muito de suas características físicas, assumindo, cada vez mais, qualidades intelectuais. Assim, não é de se admirar que fenômenos semelhantes aos apresentados pelos shakers sejam cada vez menos comuns. Aliás, a “intelectualização” da mediunidade guarda sintonia com o desenvolvimento intelectual da Humanidade e, por consequência, dos médiuns. Apesar disto, não podemos deixar de nos surpreender com os acontecimentos daquele início de século, por nos terem permitido entrar em contato com outras dimensões da vida, provando que o Espírito não somente sobrevive à morte do corpo físico, mas também é capaz de manifes-tar-se aos que ainda permanecem na retaguarda, encar-nados na Terra.

FONTE: Revista Reformador.

FENÔMENOS ASSOMBROSOS EM WATERVLIET

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A Gazeta Espírita 23Junho de 2017

Por Nelson Travnik

Há mais de dois mil anos o homem acreditou ser a Terra o centro do universo. Todos os corpos celestes giravam ao seu redor. Tudo fora criado para ele.

Com Aristarco de Samos (310 -230 a.C.) e mais tarde com Nicolau Copérnico (1473-1543), ficou demonstrado que a Terra e os outros planetas giravam ao redor do Sol e que o movimento das estrelas à noite era aparente, causado pela rotação da Terra. Ao deslocar a Terra do centro do sistema solar e do universo, era desferido o primeiro grande golpe na vaidade humana. O seguinte viria com Galileu Galilei (1564- 1542) ao apontar pela primeira vez em 1609, uma luneta para o céu. Além de comprovar o heliocentrismo de Copérnico, ele realizou descobertas notáveis, mas que iam de encontro às concepções dos doutores da Igreja. Para eles, destronar a Terra do centro do universo, da criação, era inad-missível, uma heresia. Ciente do risco que corria e não que-rendo virar churrasco a exemplo de Giordano Bruno (1550-1600), optou por se retratar perante o Tribunal da Santa Inquisição reunido no Convento de Santa Maria Sopra Minerva em 22/06/1633.

Dizem que ao se retirar do Tribunal teria dito baixinho: E pur si muove! No entanto [a Terra] se move! O golpe final viria com Edwin Hubble (1889- 1953) descobrindo que a Via Láctea, a nossa Galáxia, não era mais do que uma entre muitas bilhões. Até então acreditava- -se que todo o univer-so estava contido na Via Láctea. Um fato novo contudo começou nos últimos 23 anos com a descoberta dos primei-ros exoplanetas em torno de uma estrela, um pulsar. Satéli-tes com precisões altíssimas, telescópios com dezenas de metros de diâmetro e os satélites CoRoT (europeu) e o nor-te-americano Kepler, destinados a detectar exoplanetas, permitiram atualmente aumentar seu número em mais de 4.000. Acredita-se que existam milhões, bilhões a serem descobertos em nossa galáxia. É a coroação do que disse-ram entre outros, Giordano Bruno e Camille Flammarion (1842-1925), ao defender a pluralidade dos mundos habita-dos. Agora através dos radiotelescópios, os esforços con-centram-se na recepção da tão aguardada mensagem : tam-

bém estamos aqui ! Acreditar que não existem mundos habi-tados na amplidão cósmica, é algo que atualmente soa como anti-científico. Isto indica que estamos no limiar de descobertas passíveis de provocar um impacto filosófico na humanidade de consequências imprevisíveis ! Quem viver verá.

EVOLUÇÃOHá 206 anos nascia o inglês Charles Darwin (1809-

1882), autor da “Origem das Espécies”. Nele Darwin diz que somos descendentes de vermes e moluscos que surgi-ram nas tépidas águas dos mares primitivos há 3,5 bilhões de anos. A comunidade científica e o clero estremeceram. A teoria evolucionista afrontava a Bíblia. Seu colega Alfred Russel paralelamente havia chegado à mesma conclusão em suas pesquisas. A diferença entre um e outro é que Rus-sel quis ir além. Conhecendo a lógica, o raciocínio e razão sobre uma evolução também espiritual presente em algu-mas filosofias orientais e nas obras de Allan Kardec, encon-trou assim como seu colega Robert Owen, uma resposta para o que buscava e ambos se tornaram espíritas. A ação da seleção natural na origem das espécies é ponto fundamental da teoria da evolução que viria a ser comprovada cientifica-mente. Embora tardiamente, João Paulo II em 1996 decla-rou que a Teoria da Evolução era “mais do que uma hipóte-se, um fato efetivamente comprovado”. O papa Francisco, sobre a criação, argumentou o risco de imaginar que “Deus tenha agido como um mago, com uma varinha mágica”. Em tom conciliatório, tanto a evolução como a Teoria do Big Bang são hoje corretos para a Igreja. Mas apesar disso, vári-as religiões e crenças não se rendem, negam a evolução e mantém ainda a varinha mágica do Criador. Arrebanham pessoas que submetidas a uma lavagem cerebral, vivem batendo à nossa porta no afã de nos convencer dessas con-cepções arcaicas e anticientíficas. Há cerca de 3,5 milhões de anos, um primata meio homem e meio chipanzé deu inicio a uma evolução lenta e progressiva, pois a natureza não dá saltos. Isto é comprovado pela descoberta de inúme-ras ossadas com datação pelo C-14. O que a ciência procura numa tarefa quase inatingível é o elo de uma para outra espécie : quando teria ocorrido a mutação genética nos nos-

sos parentes mais próximos. Apoiados nas descobertas astronômicas, os cientistas concordam que somos subpro-duto de água, terra, luz e outros elementos gerados no inte-rior de uma estrela : o Sol. A descoberta de diversas molécu-las orgânicas no meio interestelar, gelo e carbono nos come-tas e astros assemelhados, reforça a idéia de que o universo é um celeiro de vida. Somos portanto poeira cósmica evolu-ída. A nucleossíntese primordial e a nucleossíntese estelar produziram elementos que fazem parte dos nossos corpos; o nitrogênio em nosso DNA, o cálcio em nossos dentes, o ferro em nosso sangue e o carbono em nossas células.

SOBREVIVÊNCIAHá exatamente 133 anos, depois do impacto da teoria de

Darwin, em plena Era Espacial, ainda questionamos como podemos descender de seres inferiores se somos tão inteli-gentes, possuímos um sistema nervoso da mais alta com-plexidade e uma consciência agregada a uma variedade enorme de correntes filosóficas. A sobrevivência do ser humano em que pesem as eras glaciais, sempre foi mantida graças a sua inteligência, resistência e ao equilíbrio ambi-ental no qual as algas e não as florestas continentais são as principais protagonistas da fotossíntese. A história da Terra pela geologia nos mostra a importância dos oceanos como “a mãe da vida”. É do espaço que sentimos quão frágil é o planeta azul, já alvo de cinco extinções em massa. Agora somos nós com desmesurada agressão ao meio ambiente, os protagonistas de um futuro sombrio. Para a atual gera-ção, vale sempre lembrar as sábias palavras do chefe Seatle, índio americano do século passado : “o que acontecer com a Terra, recairá sobre os filhos da Terra. O homem trançou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo que fizer ao tecido, fará a si mesmo”.

(*) Nelson Travnik é astrônomo em Campinas, dire-tor do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.

UNIVERSO, EVOLUÇÃO E SOBREVIVÊNCIA

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A Gazeta Espírita24 Junho de 2017

Joana d'Arc era uma camponesa de Lorena, nascida na pequena aldeia de Domrémy e, a partir dos treze anos, segundo o seu testemunho, começou a ter visões nas

quais São Miguel, Santa Catarina (de Alexandria) e Santa Margarida (de Antioquia) lhe apareciam, insistindo para que colaborasse na obra de libertação da França, oprimida pela ocupação dos ingleses e seus aliados borgonheses.

Joana não vacilou em procurar o capitão Baudricourt, que lhe forneceu uma pequena escolta para a viagem a Chinom (onde se encontrava o delfim Carlos, futuro Car-los VII), nem hesitou em vestir-se com roupas masculinas o que sempre foi visto com naturalidade pelos seus compa-nheiros de armas, mas lhe valeu severas críticas dos inimi-gos, especialmente ingleses. Por estar freqüentemente entre os combatentes franceses, não foram poucas as vezes em que Joana foi chamada de prostituta.

Em 1429 aconteceu a famosa entrevista, onde a donzela reconheceu o delfim entre todos os homens presentes, sem nunca antes ter-lhe visto. Foi então que o convenceu a dar-lhe permissão para participar das operações que visavam levantar o cerco que os ingleses faziam a Orleans, com palavras reveladoras de uma estranha premonição: - "Só viverei pouco mais de um ano. Neste tempo, temos de rea-lizar uma grande obra."

Carlos deu uma armadura de ferro polido a Joana. Esta pediu que, numa capela consagrada a Santa Catarina, se procurasse uma espada que devia ali estar enterrada. Leva-ram-lha, com efeito, coberta de ferrugem, mas uma vez na sua mão, começou a brilhar como se fosse nova. Depois mandou fazer um estandarte branco debruado a seda e sal-picado de flores de lis onde figurava a imagem do Reden-tor.

Orleans foi libertada e, no mesmo ano de 1429, os com-panheiros de Joana derrotaram os ingleses na batalha de Patay. Mas a jovem não considerava a sua missão termina-da. Ela desejava ver o delfim coroado em Reims, como a

tradição impunha, e Paris retomada. A donzela viveu a grande emoção de assistir a coroação do rei, após a longa viagem que o levou até Reims por um trajeto que atravessa-va, em parte, o território dos inimigos borgonheses. Ele não havia conseguido, porém, entrar em Paris.

A tentativa de retomar a cidade, ainda em 1429, pelo exército francês, havia redundado em fracasso, e o sobera-no ordenou o retorno dos soldados ao Vale do Loire. Joana nunca se conformou muito com a interrupção das opera-ções militares nem com as tentativas feitas pelos conselhe-iros reais de negociar a paz com os borgonheses. Assim no ano seguinte, ela seguiu para o norte, a frente de uma pequena tropa, e acabou chegando a Compiéne.

Um dia, ao tentar libertar uma ponte que se encontrava em mãos inimigas, nas redondezas da cidade, foi capturada e entregue a João de Luxemburgo, comandante da tropa borgonhesa. Este cede-a aos ingleses, que a levaram para Rouen e submeteram-na ao julgamento da Igreja. Neste julgamento tendencioso, Joana visivelmente hostil a seus inquisidores, por vezes deixava de responder às perguntas. A rebeldia de Joana não provinha da formação de seu cará-ter, mas da firme convicção de que as revelações obtidas através das visões não poderiam ser questionadas, pois prometera silêncio sobre muitas coisas que lhe haviam sido reveladas nas visões. Mas, das 15 sessões a que foi subme-tida deixou respostas célebres que atordoaram seus verdu-gos e passaram à história como argumentos iluminados pronunciados por alguém tão jovem e carente de ensina-mentos teológicos.

Reconhecida como adversária que dificilmente se dobraria ante a erudição, a corte tentou repetidas vezes fazê-la cair em contradição através de armadilhas verbais e perguntas dúbias. Em uma das sessões, o bispo de Beauva-is, Pierre Cauchon, homem astuto e ambicioso, fez-lhe esta pergunta ardilosa tentando confundi-la: "São Miguel te aparece desnudo? Prontamente ela respondeu com uma

interrogação tão profunda e sutil que desconcertou seus algozes. - "Pensa que Deus não tem com que vesti-lo?" De outra feita lhe foi perguntado: "Estava ela na graça de Deus?" O ardil tornava-se evidente, dentro dos conceitos da Igreja da época: a resposta afirmativa caracterizaria a presunção e a negativa, o reconhecimento de estar em peca-do. Surpreendendo a corte, Joana respondeu: "Se não estou, que Deus nela me aceite; se estou, que Deus nela me guarde." Em nenhum momento admitiu ter cometido here-sias e sempre manteve que tudo quanto tinha feito respon-dia à vontade divina. Cada pergunta e cada resposta consta-ram por escrito, o que permite ouvir a sua voz através dos séculos.

Joana foi condenada. Na manhã de 30 de maio raparam-lhe a cabeça, puseram-lhe uma túnica e levaram-na para a praça do mercado de Rouen, que estava apinhada de gente. Depois que Cauchon leu a sentença, puseram-lhe na cabe-ça uma mitra de papel, onde se lia: "Herege, Pecadora, Apóstata, Idólatra". Pediu uma cruz e um dos arqueiros ingleses, com dois ramitos, improvisou uma, que Joana levou ao peito, enquanto outro homem corria à igreja em busca de um crucifixo, que ela beijou. Depois, na alta pilha de lenha, as chamas se ergueram e a envolveram. A sua voz chegava até à silenciosa multidão, que escutava, aterrada, as suas preces e gemidos. Por fim, num último grito de agonia de amor, Joana disse: - "Jesus".

Conta-se que um dos soldados, lançando-se entre a multidão gritou: "Estamos perdidos! Queimamos uma santa!"

Posteriormente, a Igreja que a condenou e à qual Joana sempre foi fiel, declarou-a inocente. Foi canonizada, final-mente, em 1920, na basílica de São Pedro, em Roma. Cinco séculos atrás, no entanto, houve quem soubesse que no meio deles vivia uma santa.

CONHEÇA A HISTÓRIA DE JOANA D’ARC

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