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Revista Querubim revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e Ciências Sociais seção especial de artigos Ano 11/2015 ISSN 1809-3264 Página 1 de 23 ANÁLISE SOBRE O DESENVOLVIMENTO E A GESTÃO DO TURISMO NO INTERIOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE Mayara Ferreira de Farias Pós-graduanda lato sensu em Gestão Pública Municipal - UFPB Yure Silva Lima Professor da Especialização lato sensu em Gestão Pública Municipal UFPB Resumo O turismo como atividade dinâmica e essencialmente social, acaba por envolver uma rede de relacionamentos e Stakeholders sujeitos envolvidos na pesquisa, fundamentalmente ao que se refere aos aspectos que envolvem o âmbito econômico, sendo o turismo religioso marcado pelas manifestações de fé em detrimento da devoção aos santos padroeiros. Neste sentido, pode-se destacar que o Turismo Religioso se configura em uma atividade empreendida por pessoas que se deslocam por motivações religiosas, compreendendo romarias, peregrinações e visitação a espaços festas, espetáculos e atividades religiosas. Neste prisma, a pesquisa analisar o desenvolvimento e a gestão do Turismo Religioso em Santa Cruz/RN. Para tal, elencaram-se os seguintes objetivos específicos: historiar sobre o Turismo Religioso; levantar as especificidades da Construção do Complexo Turístico Religioso Alto de Santa Rita; identificar as práticas que surgem das relações, entre o sagrado e o profano, cruzadas pelas relações socioeconômicas e culturais que se entrelaçam nos eventos religiosos representados pelas romarias, procissões, peregrinações e festas profanas na cidade; diagnosticar os impactos causados pela inserção do Turismo Religioso na cidade de Santa Cruz. Ademais, será uma maneira de aproximar a academia do município referido, proporcionando, dessa maneira, um intercâmbio de experiências no momento da analise da problemática levantada com os conceitos teóricos expostos durante a pesquisa. Podendo servir, também, como subsídios para investigações na temática do Turismo Religioso. A pesquisa possuiu abordagem qualitativa, enfoque exploratório, com coleta de dados realizada através de entrevistas. Realizou-se levantamento bibliográfico sobre as temáticas que sustentam o referencial teórico do trabalho. Vale ressaltar que a pesquisa iniciou-se no mês de janeiro de 2013 e finalizando no mês de julho de 2014. Para isso, considerou-se, também, observações individuais e participativas com análises dos fatores de impactos socioeconômicos e culturais de todos os Stakeholders da pesquisa. Por fim, para análise e discussão dos resultados, utilizou-se o método do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Como principais resultados da pesquisa, constatou-se que a cidade de Santa Cruz é um dos destinos religiosos mais procurados do Estado do Rio Grande do Norte que, contudo, possui problemas de infraestrutura turística. Entretanto, há um reconhecimento e valorização por parte da população local ao ponto que o sentimento de pertencimento aflorou diante do novo título da cidade. Palavras-chave: Desenvolvimento Local. Gestão Pública. Turismo Religioso. Santa Cruz/RN. ANALYSIS ON THE DEVELOPMENT AND MANAGEMENT OF RELIGIOUS TOURISM INSIDE THE GREAT RIVER NORTH STATE (BRAZIL) Abstract The Tourism as a dynamic and essentially social activity, turns out to involve a network of relationships and stakeholders - subjects involved in research, mainly to the case of aspects involved in the economic sphere, and religious tourism marked by demonstrations of faith at the expense of devotion to the patron saints. In this sense, it can be noted that the Religious Tourism is configured in an activity undertaken by people moving by religious motivations, including festivals, pilgrimages and visits to parties spaces, shows and religious activities. In this light, the research was to analyze the development and management of Religious Tourism in Santa Cruz/RN. To this end, the following specific objectives are: chronicle on Religious Tourism; raise the specifics of the Construction of Tourist Complex Religious Alto de Santa Rita; identify practices that arise from relationships between the sacred and the profane, crossed by the socioeconomic and cultural relations that intertwine in religious events represented by pilgrimages, processions, pilgrimages and

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Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e Ciências Sociais – seção especial de artigos Ano 11/2015 ISSN 1809-3264

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ANÁLISE SOBRE O DESENVOLVIMENTO E A GESTÃO DO TURISMO NO

INTERIOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Mayara Ferreira de Farias Pós-graduanda lato sensu em Gestão Pública Municipal - UFPB

Yure Silva Lima Professor da Especialização lato sensu em Gestão Pública Municipal – UFPB

Resumo O turismo como atividade dinâmica e essencialmente social, acaba por envolver uma rede de relacionamentos e Stakeholders – sujeitos envolvidos na pesquisa, fundamentalmente ao que se refere aos aspectos que envolvem o âmbito econômico, sendo o turismo religioso marcado pelas manifestações de fé em detrimento da devoção aos santos padroeiros. Neste sentido, pode-se destacar que o Turismo Religioso se configura em uma atividade empreendida por pessoas que se deslocam por motivações religiosas, compreendendo romarias, peregrinações e visitação a espaços festas, espetáculos e atividades religiosas. Neste prisma, a pesquisa analisar o desenvolvimento e a gestão do Turismo Religioso em Santa Cruz/RN. Para tal, elencaram-se os seguintes objetivos específicos: historiar sobre o Turismo Religioso; levantar as especificidades da Construção do Complexo Turístico Religioso Alto de Santa Rita; identificar as práticas que surgem das relações, entre o sagrado e o profano, cruzadas pelas relações socioeconômicas e culturais que se entrelaçam nos eventos religiosos representados pelas romarias, procissões, peregrinações e festas profanas na cidade; diagnosticar os impactos causados pela inserção do Turismo Religioso na cidade de Santa Cruz. Ademais, será uma maneira de aproximar a academia do município referido, proporcionando, dessa maneira, um intercâmbio de experiências no momento da analise da problemática levantada com os conceitos teóricos expostos durante a pesquisa. Podendo servir, também, como subsídios para investigações na temática do Turismo Religioso. A pesquisa possuiu abordagem qualitativa, enfoque exploratório, com coleta de dados realizada através de entrevistas. Realizou-se levantamento bibliográfico sobre as temáticas que sustentam o referencial teórico do trabalho. Vale ressaltar que a pesquisa iniciou-se no mês de janeiro de 2013 e finalizando no mês de julho de 2014. Para isso, considerou-se, também, observações individuais e participativas com análises dos fatores de impactos socioeconômicos e culturais de todos os Stakeholders da pesquisa. Por fim, para análise e discussão dos resultados, utilizou-se o método do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Como principais resultados da pesquisa, constatou-se que a cidade de Santa Cruz é um dos destinos religiosos mais procurados do Estado do Rio Grande do Norte que, contudo, possui problemas de infraestrutura turística. Entretanto, há um reconhecimento e valorização por parte da população local ao ponto que o sentimento de pertencimento aflorou diante do novo título da cidade. Palavras-chave: Desenvolvimento Local. Gestão Pública. Turismo Religioso. Santa Cruz/RN.

ANALYSIS ON THE DEVELOPMENT AND MANAGEMENT OF RELIGIOUS TOURISM INSIDE THE GREAT RIVER NORTH STATE (BRAZIL)

Abstract The Tourism as a dynamic and essentially social activity, turns out to involve a network of relationships and stakeholders - subjects involved in research, mainly to the case of aspects involved in the economic sphere, and religious tourism marked by demonstrations of faith at the expense of devotion to the patron saints. In this sense, it can be noted that the Religious Tourism is configured in an activity undertaken by people moving by religious motivations, including festivals, pilgrimages and visits to parties spaces, shows and religious activities. In this light, the research was to analyze the development and management of Religious Tourism in Santa Cruz/RN. To this end, the following specific objectives are: chronicle on Religious Tourism; raise the specifics of the Construction of Tourist Complex Religious Alto de Santa Rita; identify practices that arise from relationships between the sacred and the profane, crossed by the socioeconomic and cultural relations that intertwine in religious events represented by pilgrimages, processions, pilgrimages and

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secular festivities in the city; diagnose the impacts caused by the insertion of Religious Tourism in the city of Santa Cruz. Moreover, it will be a way to approach the academy of the mentioned city, providing, thus, an exchange of experience at the time of analysis of the problems raised with the theoretical concepts exposed during the search. May also serve as input for further scientific research on the topic of religious tourism. Search owned qualitative approach, exploratory approach, with data collection conducted through oral interviews. We conducted literature on issues that support the theoretical work. Note that the search began in January 2013 and ending in July 2014. For this, it was considered, also, individual and participatory observations with analysis of socioeconomic and cultural impact factors of all Stakeholders research. Finally, for analysis and discussion of the results, we used the Collective Subject Discourse (CSD) method. The main results of the research, it was found that the city of Santa Cruz is one of the most popular religious destinations of the Rio Grande do Norte State, however, has tourist infrastructure problems to receive the pilgrims, pilgrims and tourists. However, there is a recognition and appreciation by the local population, to the point that the feeling of belonging touched on the city title with the GREATEST monument of Holy Catholic world. Keywords: Local Development. Public Management. Religious Tourism. Santa Cruz/RN. Introdução

O sistema turístico, como parte do sistema social geral, compreende um complexo de relações estabelecidas entre diversos agentes envolvidos, que acontecem ao se desenvolver a atividade turística, ao ponto que um dos segmentos econômicos que mais cresce no mundo é o Turismo Religioso. Segundo Dias e Silveira (2003), esse tipo de turismo é que aquele empreendido por pessoas que se deslocam por motivações religiosas e/ou para participação em eventos de caráter religioso, compreendendo romarias, peregrinações e visitação a espaços, festas, espetáculos e atividades religiosas.

Nesta perspectiva, pode-se lembrar que o turismo como atividade dinâmica e

essencialmente social, acaba por envolver uma rede de relacionamentos e Stakeholders1 (agentes interessados) fundamentalmente ao que se refere aos aspectos que envolvem o âmbito econômico, sendo o turismo religioso marcado pelas manifestações de fé em detrimento da devoção aos santos padroeiros.

O turismo religioso tem, pois, como principais motivações: a fé e a devoção religiosa

(DIAS e SILVEIRA 2003). Assim, reconhece a significância do tema do projeto no sentido de despertar a motivação atrelada ao destino escolhido.

Nesse prisma, Scheneider e Santos (2012), apontam que, por sua dinâmica e complexidade

integra diferentes formas de vivências, podendo reunir, ao mesmo tempo, em seus espaços, experiências diversas. Ao falarmos em turismo religioso, por conseguinte, há a necessidade de se pensar que as relações entre a religiosidade e o fazer turístico passam a imbricar-se mutuamente.

Nessa vertente, como objetivo central do trabalho teve-se: analisar o desenvolvimento e a

gestão do Turismo Religioso em Santa Cruz/RN. Ao ponto que, para atingir tal objetivo, elencaram-se os seguintes objetivos específicos: historiar sobre o Turismo Religioso em Santa Cruz; levantar as especificidades da Construção do Complexo Turístico Religioso Alto de Santa Rita em Santa Cruz identificar as práticas que surgem das relações, entre o sagrado e o profano, cruzadas pelas relações socioeconômicas e culturais que se entrelaçam nos eventos religiosos representados pelas romarias, procissões, peregrinações e festas profanas na cidade de Santa Cruz; diagnosticar os impactos causados pela inserção do Turismo Religioso.

O estudo realizado poderá ser utilizado como ferramenta de planejamento direcionado ao

setor turístico, servindo como orientação para detectar futuros erros que possam ser cometidos no desenvolvimento da atividade turística, gerando benefícios para a comunidade local, no sentido de despertar para o preservar e o conservar os bens histórico-culturais e religiosos do município de

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Santa Cruz. Podendo servir, também, como subsídios para posteriores investigações científicas na temática do Turismo Religioso.

Diante o que foi supracitado, levantou-se a seguinte questão central: De que forma está

ocorrendo o desenvolvimento e a gestão na cidade de Santa Cruz ao que se refere ao Turismo Religioso Local?

Para responder tal questionamento, serão utilizados Alves (2005 e 2007), Beni (2006),

Calvelli (2009), Dias e Silveira (2003), Ferretti (2007), Oliveira (2004), Pinto (2002), Santos (2010), Silva (2003), Schneider e Santos (2012), Teixeira e Romão Júnior (2011).

Turismo, mercado informal e desenvolvimento local: apontamentos gerais

O turismo hoje é uma das principais atividades econômica do município de Santa Cruz,

onde o desenvolvimento da atividade turística movimenta a cidade através da visitação de pessoas. Segundo Farias (2013), a atividade turística pode ser, neste olhar, considerada como uma importante forma de incentivo ao desenvolvimento regional quando associa as questões de justiça social, eficiência, eficácia, efetividade nas ações, viabilidade econômica, sustentabilidade ambiental e desenvolvimento equilibrado. Neste contexto, o turismo quando bem planejado deve, portanto, buscar maximizar impactos positivos e minimizar possíveis impactos negativos.

IMPACTOS DO TURISMO RELIGIOSO EM SANTA CRUZ/RN

Impactos políticos

Positivos Negativos

Notoriedade para algumas entidades políticas;

Convergência ideológica com a religiosa;

Aumento da visibilidade da cidade a nível nacional.

Aproveitamento midiático;

Passou-se para segundo plano a essência do monumento – a fé;

Sobreposição dos representantes políticos sobre os religiosos diante a repercussão da construção.

Impactos econômicos

Positivos Negativos

Criação de alguns empregos informais;

Aumento no número de vendas de ambulantes e alguns comerciantes locais em dias de grande movimentação na cidade – eventos religiosos;

Divulgação da imagem do Destino “Santa Cruz”.

Custo elevado aos cofres públicos – ao que se refere à construção;

Aumento do custo de vida da população em períodos de realização de eventos religiosos – em alguns lugares da cidade;

Mão-de-obra desqualificada a trabalhar com o Turismo Religioso – falta de guias especializados;

Dependência da realização de eventos para conseguir atrair pessoas a contribuírem financeiramente com a economia local.

Impactos sociais

Positivos Negativos

Melhorias em alguns elementos da infraestrutura local;

Diminuição no índice de desemprego com a criação de alguns empregos informais na cidade.

Congestionamento urbano em dias de procissões e peregrinações;

Problemas em alguns pontos em relação à infraestrutura geral da cidade;

Exploração financeira, em alguns momentos e lugares, dos visitantes/turistas.

Impactos culturais

Positivos Negativos

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Valorização da cultura religiosa;

Envolvimento da população local nos momentos religiosos.

Inserção de atividades distintas da cultura da população local;

Falta de incentivo ao artesanato local ao que se refere ao aperfeiçoamento da comunidade para realizar tais atividades;

Falta de implementação de políticas direcionadas à cultura local.

Impactos ambientais

Positivos Negativos

Utilização racional do espaço para a construção do Complexo Turístico e Religioso Alto de Santa Rita.

Poluição do solo por parte de turistas/peregrinos que visitam ao Complexo;

Falta de políticas de conscientização dos turistas e da comunidade ao que se refere à poluição local;

Erosão que será provocada com o passar dos anos caso não haja uma política voltada para a conservação e preservação do espaço do Complexo.

Quadro 01. Impactos ocasionados em Santa Cruz após a Construção do Complexo Alto de Santa Rita. Adaptado de Farias (2013).

Nesta perspectiva, pode-se inferir que o turismo é considerado uma atividade

transformadora dos espaços, pois a mesma proporciona parâmetros de desenvolvimento para uma região, ela estabelece níveis de crescimento desde que seja planejada por profissionais competentes para o mercado turístico. Fonte geradora de renda que aumenta a economia local do destino turístico. Barbosa (2005, p 108) comenta que o Turismo, é uma força econômica das mais importantes do mundo. Nele ocorrem fenômenos de consumo, originam-se rendas, criam-se mercados nos quais a oferta e a procura encontram-se. Os resultados do movimento financeiro decorrentes do turismo são por demais expressivos e justificam que esta atividade será incluída na programação da política econômica de todos os países, regiões e municípios.

Por isso que Vasconcellos e Carvalho (2006, p.10) afirma que o Sistema econômico é a

forma política, social e econômica pela qual está organizada uma sociedade. É um sistema particular de organização da produção, distribuição e consumo de todos os bens e serviços de que as pessoas lançam mão para melhorar seu padrão de vida e de bem-estar.

Devido às organizações prestadoras de serviços estarem vinculadas ao desenvolvimento da

economia (meios de hospedagens e equipamentos de restauração) e fazem parte do setor turístico, o turismo é considerado um forte influente para o desenvolvimento econômico de uma localidade que trabalha de forma correta com a atividade turística.

O turismo é, nesta perspectiva, fator relevante para o desenvolvimento das regiões, porque

a atividade vem se estabelecendo como um pratica que reestrutura os espaços, a atividade turística possibilita o crescimento econômico e o surgimento de trabalhos para a comunidade dos centros receptores.

Para Barbosa (2005, p.111) o desenvolvimento do turismo com base local representa uma

saída as tendências de produção de uma imagem estereotipada, evitando que haja devoção da paisagem, degradação do meio ambiente e descaracterização de culturas tradicionais. Além disso, o

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turismo pode ser considerado uma medida de sustentabilidade para as localidades, devido atividade possibilitar que evitem a degradação dos bens naturais e culturais, isso faz com que o turismo se torne o responsável pelo desenvolvimento local, porque a preservação das identidades culturais e naturais que representam a região é uma característica que impulsiona ainda mais o turismo.

Farias (2013, p.50) afirma que, a atividade turística é muito importante para impulsionar o

desenvolvimento regional, pois está vinculada as questões, justiça social, eficácia, efetividade, economia, sustentabilidade ambiental, para que isso ocorra é preciso que seja realizado um planejamento com todos os envolvidos, com o objetivo de incentivar o desenvolvimento do turismo e torna-lo um complemento a economia local.

Aponta-se que o turismo além de favorecer a economia local ele pode envolve diversos

fatores que contribuem para o crescimento social e econômico da região, pois para que ocorra da forma correta o planejamento da atividade deve estar ligada aos conceitos de sustentabilidade e proporcionar a comunidade local uma inclusão social com novas oportunidades de trabalhos que possam melhorar a qualidade de vida dos moradores.

Farias (2013, p.51) também mostra que o Desenvolvimento Regional precisa, portanto, ser

compreendido como uma consequência de um crescimento onde a sociedade tem a capacidade de gerar recursos financeiros de acordo com suas características preexistentes à inserção da atividade turística e de acordo com suas potencialidades.

A atividade turística é, porquanto, um setor no qual envolve trabalhos de prestação de

serviços, as empresas que interagem com esse mercado, proporcionam aos seus consumidores produtos intangíveis que para ser consumido o turista tem que se deslocar até o local onde se encontra o serviço, por isso que o turismo é uma atividade econômica que movimenta um fluxo elevado de pessoas que buscam usufruir desses produtos de maneira satisfatória.

Segundo Kruel e Klering (2011), o setor do turismo engloba serviços relacionados à

hospitalidade (recepção, acomodações e alimentação), a facilidades de acesso, à diversidade cultural das sociedades visitadas, bem como à oferta de produtos. Assim, o turismo movimenta desde a alocação de leitos em albergues ou hotéis de luxo, até a venda de lembranças de viagem ou protetores de sol; desde passeios e trilhas à oferta de produtos essenciais – como os de higiene e alimentação – e supérfluos.

Ou seja, o deslocamento de pessoas em busca de serviços como esses citados acima pelos

autores faz com que, o destino turístico aumento sua demanda e consequentemente a economia local da região, possibilitando assim maiores oportunidades de empregos para a comunidade envolvida.

Além disso, Barbosa (2005) menciona que os resultados que a atividade turística é capaz de

obter, decorrem da movimentação econômica financeira pelo deslocamento de pessoas de seu local habitual de residência para outros, desde que esse deslocamento seja espontâneo e de permanência temporária.

Entende-se, sob esta perspectiva, que o turismo movimentar uma demanda muito grande e

que tem um tempo de permanência para utilizar dos serviços que serão oferecidos pelo destino. No município de Santa Cruz, o Complexo de Santa Rita de Cassia, inaugurado em 27 de junho de 2010, alavancou o turismo religioso, e reestruturou o local para atender o turista, dessa forma surgiram oportunidades de trabalhos para a sociedade e o desenvolvimento de trabalhadores autônomos que movimentam a economia sem vínculos com outras organizações.

O surgimento da informalidade no Complexo Turístico e Religioso derivou da atividade

turística, causando assim uma dependência as pessoas que realizam o trabalho informal devido ao turismo. O número de trabalhadores que utilizam da atividade informal para sobreviver é muito

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elevado, a informalidade se estabeleceu como forma de complemento de renda para os moradores de baixa renda do município de Santa Cruz que foram beneficiados pelo turismo. Assim, Anjos (2011) ressalta que no setor informal, além do tipo de atividade e dos custos de produção outros fatores determinam a renda; quais sejam; o tamanho do mercado, isto é, renda da clientela; o número de integrantes na atividade e o poder de barganha. Os ganhos do produtor informal enfrentam, além da eventual concorrência, a barreira de renda do cliente; por sua vez, os proventos dos ajudantes deste produtor são duplamente influenciados pela renda dos clientes e do produtor para quem trabalham. Turismo religioso: aspectos históricos e conceituais

O turismo é cada vez mais entendido como uma atividade econômica exercendo influência

em diversos setores: religioso, político, cultural, ecológico e rural. Segundo Teixeira e Romão Júnior (2011) essa atividade, em comparação com outras, necessita de menores investimentos, já que existe a possibilidade de aproveitar os recursos existentes nas próprias localidades como forma de investimento turístico, ao ponto que muitas cidades vivem da atividade turística, aproveitando todo o investimento deixado pelos visitantes para melhorias na localidade e para a população. E nesta perspectiva, vale inferir que um dos setores que tem conseguido um grande destaque no âmbito da atividade turística é o segmento religioso.

Outrossim, o destaque principal no Turismo Religioso são as peregrinações, caracterizado

pelo deslocamento temporário de pessoas para outras regiões ou países visando à satisfação de outras necessidades não decorrentes de atividades remuneradas. Por se tratar de um fenômeno espontâneo, as peregrinações também são movidas por aspectos profanos (TEIXEIRA; ROMÃO JUNIOR, 2011). Ou seja, muitas localidades recebem um grande número de peregrinos durante todo ano para visitação de várias cidades do Brasil e do mundo, sendo atraídos pela devoção religiosa.

Atualmente, as peregrinações mais conhecidas em nível mundial : Jerusalém2 (Israel),

Fátima3 (Portugal), Vaticano4 (Itália), e Assis5 (Itália). No Brasil, a maioria de centros de peregrinações surgiu no início da conquista portuguesa, especialmente nos séculos XVII e XVIII, mas podemos encontrar outros mais recentes. Dessa forma, as nossas peregrinações se dirigem para santuários ou locais próprios de adoração ou devoção. Esse tipo de peregrinação pode ser chamado de turismo religioso, estando atrelado a pessoas que procura fé e devoção religiosa (TEIXEIRA e ROMÃO JUNIOR, 2011).

Neste prisma, o local que mais recebe essa peregrinação no Brasil é a cidade de

Aparecida6/SP, onde esta localizada a imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do país. Destacam-se, ainda: no Norte, ocorre o Círio de Nazaré, em Belém do Pará e Padre Cicero

no Juazeiro do Norte (Ceará). Pode-se inferir, ainda, que o Círio de Nazaré é uma das maiores e mais belas procissões católicas do Brasil e do mundo. Reúne, anualmente, cerca de dois milhões de romeiros numa caminhada de fé pelas ruas da capital do Estado, num espetáculo grandioso em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré, a mãe de Jesus. procissão do círio é representada por muita fé e devoção dos residentes e visitantes na cidade de Belém/PA.

No estado do Rio Grande do Norte, as festas de cunho religioso estão associadas em sua

maioria a eventos dedicados a santos padroeiros. Muitas dessas festas recebem um grande número de visitantes, tantos nacionais como internacionais.

As festas religiosas se constituem como cenários de mobilização natural de um grupo e de

sua expressão por intermédio de uma sequência de rituais, onde agradecer, venerar e homenagear são termos que se vinculam ao ato de festejar, mantendo viva a memória de um povo, revelando solidariedade, união e receptividade (ALVES, 2005).

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Ferreti (2007), por sua vez, destaca que a cultura popular se exterioriza em grande parte por

meio das festas religiosas, escolhidas para o pagamento de promessas e momentos de lazer no desenvolvimento de laços de solidariedade popular, oportunizando expressões de organização, criatividade e devoção.

Figura 01. Momento de devoção à Santa Rita de Cássia. Fonte: Dados da pesquisa (2013-2014).

Silva (2004) complementa que a atividade turística, quando da posse das festas religiosas, usando-as como atrativo turístico, promovendo a cidade e/ou inserindo novos meios de lucratividade, modificando particularidades de festas.

Contudo, tais eventos não se constituem apenas dessas projeções de fé, já que incluem

momentos de lazer como os shows de músicas, bailes, rifas e leilões, os quais são compostos por momentos de caráter religiosos e “profano”, caracterizados pelos momentos de lazer, prazer, entretenimento e descontração. E deste modo, as festas não se caracterizam apenas por oferecerem homenagens a santos, mas também por servirem de momentos de confraternização entre as famílias e as demais comunidades vizinhas (PINTO, 2002).

A festa religiosa, por se constituir em rituais que se abrem para a recepção do estrangeiro,

que faz a acolhida do estranho, abriga em si a hospitalidade, ou seja, a capacidade de oferecer ao outro aquilo que se tem e se reconhece como o melhor, e a valorização dessa habilidade para bem receber o outro. Ao ponto que, os principais eventos no Rio Grande do Norte são: as festas de São Gonçalo do Amarante (Mártires de Cunhaú e Uruaçu), Carnaúbas dos Dantas (Monte do Galo), o Cruzeiro do Monte do Galo. Inaugurado em 25 de outubro de 1927, o Monte do Galo é a máxima expressão religiosa, recebendo fiéis em romarias, cujas bênçãos de Nossa Senhora das Vitórias enchem de fé o sertanejo, tornando-se o principal ponto turístico religioso do Rio Grande do Norte (ALVES e RAMOS, 2007).

Caicó e Currais Novos com a Festa de Santana – pois possuem a mesma padroeira, ainda

segundo Alves e Ramos (2007), sendo considerada uma das maiores do Nordeste. A cidade triplica sua população e mostra sua fé e tradições culinárias, artesanais e de hospitalidade, e Santa Cruz (Festa de Santa Rita de Cássia), a qual possui vários momentos de expressão de fé como procissões, romarias, pagamentos de promessa com subida, individual e coletiva, ao Complexo Turístico e Religioso Alto de Santa Rita e missas realizadas tanto na Igreja Matriz.

Complexo Turístico e Religioso Alto da Santa Rita e a Festa de padroeiro

O turismo no Brasil vem em um processo de transformação. Nesse processo vem o

Programa de Regionalização do Turismo do Ministério do Turismo que tem o objetivo o planejamento das regiões turísticas. Neste sentido, o processo de execução do Programa exigia o

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desafio de produzir orientações e ferramentas – que valorizassem o acúmulo das experiências organizativas – e iniciativas produtivas que possibilitassem o aprofundamento e disseminação do conhecimento referente à Política Pública de Regionalização do Turismo (BRASIL, 2010).

O Programa de Regionalização do Turismo com subtítulo Roteiros do Brasil, lançado em

abril de 2004, constitui-se em uma política pública, em âmbito territorial, a partir do Plano Nacional do Turismo 2003-2007, que determinou como macroprograma estruturante a “Estruturação e Diversificação da Oferta Turística”.

Para Farias (2013), o estado do Rio Grande do Norte é dividido em polos (Costa das

Dunas7, Serrano8, Seridó9, Costa Branca10, Agreste/Trairi11). Ao que se refere ao polo Agreste/Trairi – no qual localiza-se o Complexo Turístico e Religioso Alto de Santa Rita, atrai pela beleza desta porção de Sertão Nordestino, excelente para a prática do Turismo de Aventura pelas suas serras, rochas e lajedos. Os festejos juninos e religiosos, as tradicionais vaquejadas e a culinária são outros atrativos para quem visita uma das 13 cidades da Região.

Iniciado a construção no ano de 2008 e inaugurada no dia 27 de julho de 2010, o

Complexo Turístico e Religioso Alto de Santa Rita. O santuário é composto é composto de uma estátua com 56 metros de altura, sendo considerada a maior estátua cristã do mundo, uma capela, sala dos milagres, praça do romeiro, auditório, lojas de artesanato, mirante, restaurante, banheiros e estacionamento, além de ser o único a realizar quatro romarias durante o ano (no Brasil, o comum são as realizações de apenas uma romaria em homenagem ao Santo Padroeiro em cada município).

Em Santa Cruz, muitas das pessoas que participam dos momentos dos eventos em

homenagem a Santa Rita de Cássia, existindo, pois, o momento da festa em comemoração à devoção para com Santa Rita de Cássia, realizada no mês de maio na cidade. Momento de reencontros de amigos, familiares e conhecidos. Momentos de diversão e dança com músicas populares, em sua maioria, no ritmo tipicamente nordestino: o forró.

A festa de maio era de responsabilidade da Igreja, ao ponto que atualmente a festa é

vendida a empresários interessados (parte do lucro da venda de bilheteria e dos bares da festa são direcionados para a paróquia), sendo esta realizada em diversos espaços da cidade, na Matriz de Santa Rita são realizadas as novenas, nos clubes da cidade são realizadas as festas com bandas musicais e de fronte à Igreja Matriz a festa do comumente chamado de “Pavilhão”.

Evidenciou-se, ainda, que é intensa a movimentação de pessoas que visitam a cidade para

conhecer o Complexo Turístico e Religioso Alto de Santa Rita, especialmente em finais de semana, sendo no período de realização da Festa da padroeira o momento no qual que a cidade possui a maior circulação de visitantes, turistas, fiéis e peregrinos.

Realiza-se, pois, novenas todas às noites, ofício de nossa senhora, missa durante todas as

manhãs de comemoração da festa de maio, terço de Santa Rita ao meio-dia, missas e procissões durante os dez dias de festa. Além das quermesses todas as noites, leilão nos dias 22 de maio de cada ano, missas em homenagem aos vaqueiros devotos de Santa Rita, além das já mencionadas cavalgadas, forró para os idosos e ações de cidadania variadas.

Tendo sido adicionada, em 2012, a Expo Santa Rita, evento realizado em parceria com a

Casa de Cultura, e recolocada na programação a chamada “Feirinha de Santa Rita”. Vale destacar, ainda, que no período da pesquisa, realizou-se, especialmente, o jantar dos santa-cruzenses ausentes (momento em que se reúnem familiares e toda a comunidade da cidade de Santa Cruz a saudar a presença de conterrâneos, parentes e amigos que nasceram ou moraram na cidade em anos anteriores) e a peregrinação dos quadros de Santa Rita de Cássia.

No contexto geral, Santa Rita de Cássia tornou-se tema para cordéis, músicas, poemas e

vídeos que complementam a produção de artesanatos, esculturas, pinturas, desenhos e fotografias,

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sendo a construção do Monumento de Santa Rita de Cássia no Complexo Turístico e Religioso Alto de Santa Rita sua obra mais representativa.

Turístico Religioso no Alto de Santa Rita

Como dever do governo federal, dos estados e dos municípios, destaca-se o papel de captar

e atrair investimentos para melhoria da infraestrutura básica, implantação de infraestrutura de apoio e dispor de uma estrutura jurídico-administrativa visando planejar e controlar os investimentos arrecadados pelo país para atingir o desenvolvimento econômico (BENI, 2006).

Neste sentido, programas de fomento turístico, destaca-se neste momento o Programa de

Regionalização do Turismo: Roteiros do Brasil (Programa do Governo Federal) os quais exigem profissionalismo nas duas bases estruturais: políticas públicas e iniciativa privada. De outra forma não se terão, pois, roteiros, aumento de permanência do turista e consequentemente não haverá crescimento do turismo nacional.

Neste prisma, destaca-se a divisão do Rio Grande do Norte em Polos, sejam eles: O Polo

Costa das Dunas, o Polo Serrano; o Polo Seridó; o Polo Costa Branca. Ao que se refere ao Polo Agreste/Trairi, segundo o site do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, o conselho regional de turismo foi criado com o objetivo de potencializar o desenvolvimento das localidades que fazem parte do Polo Agreste/Trairi, sob a ótica do empresariado, na busca de integrar as ações do Governo Federal, pautando-se com as políticas públicas do Governo Estadual e Governos Municipais e com a sociedade em geral, a partir do gerenciamento apropriado dos incrementos das receitas advindas da atividade turística.

Neste contexto, destaca-se a construção realizada na cidade de Santa Cruz, seja ela a do

Complexo Turístico Religioso Alto de Santa Rita com o monumento de Santa Rita de Cássia, considerada a maior construção religiosa das Américas. O complexo possui, ainda, em sua estrutura, uma praça de eventos, mirantes, uma capela para realização de missas, estação Via Sacra, auditório, banheiro, restaurante e estacionamento, entre outros.

A história de Santa Cruz sempre refletiu sobre a história de Santa Rita de Cássia, o que fez

com que a Santa Católica fosse uma referência para a cidade. A influência da Paróquia de Santa Rita de Cássia tornou-se mais evidente com a implantação do Santuário, quando antes existe apenas com a presença de uma Santa muito cultuada. A Estátua personifica a influência de Santa Cruz na região, quando tenta tomar para si a liderança religiosa, econômica e cultura.

Além disso, constatou-se que a administração paroquial acompanhou toda a parte da

construção, sendo responsável por ceder a imagem da padroeira Santa Rita de Cássia para que fosse feito o protótipo do monumento a ser criado, além disso, foi a Paróquia que cedeu o terreno para a construção do complexo.

Com a construção houve um crescimento do turismo religioso bastante expressivo na

cidade de Santa Cruz, no sentido de que foi entendida como uma personificação do poder que a fé em Santa Rita pode ocasionar. Ocorreram melhorias na infraestrutura local, maior acessibilidade a alguns pontos da cidade, melhoria no atendimento comercial, no sentido que foram apontados os pontos referentes à qualificação profissional e a diversificação das atividades no comércio local.

Outrossim, após a construção surgiram novas pousadas, restaurantes, lojas, bares,

supermercados, salões de beleza e aumento no número de meios de transportes a virem atender às necessidades criadas pelo desenvolvimento do turismo religioso local. Empreendimentos pré-existentes ampliaram seus espaços e investiram em qualificação profissional, aumentando a oferta de empregos e ampliaram as formas de movimentação da economia.

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Além disso, a visão de alguns comerciantes que tinham outra rotina de trabalho foi

modificada de forma a garantir uma melhor e ampliada forma de atendimento das necessidades dos clientes/turistas, principalmente ao que se refere a números de produtos serviços horários de atendimentos.

Foram realizados investimentos na ampliação de número de policiais que possibilitaram

uma maior segurança da comunidade e dos turistas, bem como foi realizado um trabalho concomitantemente com a saúde pública, no sentido de aumentar a capacidade física dos hospitais e de postos de saúde, com destaque para o início do trabalho da SAMU, que até então não existia na localidade.

Segundo Calvelli (2009), quando se evoca a tradição, os idealizadores fazem reviver um

estoque de referências religiosas que foram sendo acumuladas em torno de misticismo, onde polos turísticos religiosos são ressignificados através de identificação com os ideários de uma Nova Era, criando um novo produto a ser utilizado tanto para fins religiosos quanto para Turismo e Lazer.

Nesta perspectiva, o Santuário de Santa Rita de Cássia conseguiu unir sua imagem de

grande monumento católico e turístico, tanto que atualmente a imagem é uma referência regional, não ao ponto que se esperava, mas ao ponto de todo ou parte do Estado do RN, Ceará e Paraíba reconhecerem Santa Cruz como um ponto de peregrinação e de localização de um grande monumento.

Atualmente, a devoção leva milhares de peregrinos a Santa Cruz, oriundos de várias

paróquias da Arquidiocese e de outros estados e Santa Rita de Cássia dá mostras do porquê de ser conhecida como a santa das causas impossíveis. Uma estátua maior do que a estátua da liberdade, em pleno interior do Nordeste, construída com recursos vindos do estado do Rio Grande do Norte e do Ministério do Turismo, a despeito dos protestos e da pressão realizada pelo Ministério Público Estadual (FERRAZ, 2010).

Diante de tudo que foi mencionado até o momento, pode-se afirmar que, Santa Cruz

passou por algumas transformações desde a construção do Complexo Turístico e Religioso Alto de Santa Rita, dos quais os impactos diretos e indiretos serão melhor detalhados no campo dos resultados e discussões do presente trabalho.

Procedimentos metodológicos

Inicialmente, vale salientar que a natureza da presente pesquisa possuiu abordagem

qualitativa. Dessa forma, esta tipologia de pesquisa, segundo Veal (2011), envolve a coleta de uma grande quantidade de informações, porém, sobre um pequeno número de pessoas. A informação coletada geralmente não é apresentada de forma numérica.

Para Strauss (2008), a pesquisa qualitativa pode se referir à investigação sobre a vida das

pessoas, experiências vividas, comportamentos, emoções e sentimentos, também sobre o funcionamento organizacional e relacionado também a movimentos sociais.

Além disso, vale inferir que o delineamento da pesquisa refere-se a planejamento do estudo

em sua dimensão ampla, envolvendo a previsão de análise e interpretação dos dados. Sendo assim, o delineamento considera o ambiente em que são coletados os dados, também as formas de controle das variáveis envolvidas (GIL, 2008).

A pesquisa teve enfoque exploratório, que segundo Dencker (1998) a pesquisa exploratória

busca aprimorar ideias e descobrir instituições. Caracteriza-se também por possuir um planejamento flexível, envolvendo em geral levantamento bibliográfico.

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Segundo Severino (2007, p.123) “a pesquisa exploratória busca levantar informações sobre

um determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho, mapeando as condições de manifestações desse objeto”. Ou seja, busca-se um objeto de estudo para fundamentar-se em teorias que mostram a pertinência da pesquisa para a academia e comunidade local.

Para a coleta de dados primeiramente utilizou-se dados secundários e primários, onde

inicialmente foi realizada a técnica de pesquisa bibliográfica para obter conhecimentos e informações aprofundadas sobre a temática. Gil (2009) afirma que este tipo de pesquisa é desenvolvido a partir de material já elaborado, construído principalmente de livros e artigos científicos, entretanto fundamentam o objeto de estudo.

Sobre isso, Dencker (1998) afirma que a pesquisa bibliográfica consiste em utilizar material

já elaborado como livros e artigos científicos. Já Gil (2008) apresenta que a principal vantagem dessa técnica de pesquisa que reside no fato de permitir ao pesquisar a cobertura de uma gama de fenômenos mais amplo do que aquela que poderia pesquisar diretamente.

O supracitado autor afirma que a “pesquisa documental vale-se de materiais que não

receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa”. Segundo Dencker (1998) as fontes documentais podem ser documentos de primeira mão conversados em arquivos de instituições públicas ou privadas.

Neste sentido, pode-se afirmar que a entrevista é uma forma de interação social. Sendo

uma maneira de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados, no caso, o investigador e a outra se apresenta como fonte de informação, possuindo, segundo Gil (2008), vantagens como: a obtenção de dados referentes aos mais diversos aspectos da vida social; é uma técnica muito eficiente para a obtenção de dados em profundidade acerca do comportamento humano e os dados obtidos são suscetíveis de classificação e de quantificação.

A pesquisa contemplou os eventos religiosos entre os anos de 2013 e 2014, iniciando em

janeiro de 2013 e finalizando no mês de julho de 2014. Para isso, considerou-se observações individuais e participativas com análises dos fatores de impactos socioeconômicos e culturais individuais dos Stakeholders.

Além disso, o método de observação possibilitou perceber a realidade e obter dados à do

que está sendo estudado no espaço, pois é uma forma de conhecer como a atividade é desenvolvida.

Por fim, para análise e discussão dos resultados, utilizou-se o método do Discurso do

Sujeito Coletivo (DSC), o qual consiste em uma técnica de tabulação e organização de dados qualitativos e tem como fundamento a teoria da representação social (FIGUEIREDO et. al., 2013). É por meio desse procedimento que foi possível identificar as opiniões dos principais sujeitos da pesquisa (Pároco, Secretária de Turismo, Blogueiros/Jornalistas, líderes comunitários, comerciantes e trabalhadores informais) de forma a determinar os resultados da pesquisa. Resultados e discussões

A peregrinação, a Santa Cruz possui fluxo regular de pessoas, sendo este o primeiro

trabalho a mostrar os impactos da gestão e do desenvolvimento da atividade de turismo religioso na localidade.

Na perspectiva da realização de eventos religiosos, existe uma programação permanente no

Complexo Turístico e Religioso Alto de Santa Rita:

Evento/atividade Horário Intensão

Missas12 Todos os domingos 10h00 Celebrar Jesus e Maria

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Bênção do Santíssimo Todos os domingos 11h30 Representa o sentimento de cura

através da fé na presença de Jesus representado pela hóstia consagrada

Romaria Eucarística 21 e 22 de abril Durante o período matutino

Memória à primeira missa celebrada no Santuário

Romaria de Santa Rita de Cássia

13 a 22 de maio Durante o período matutino

Devoção e adoração à Santa Rita de Cássia

Romaria Mariana 17 a 22 de julho Durante o período matutino

Festa de Nossa Senhora do Carmo

Romaria da Gratidão 11 e 12 de outubro Durante o período matutino

Celebração do aniversário de criação do Santuário

Romaria da Coroa Todo dia 22 de cada mês

Durante o período matutino

Adoração à Padroeira Santa Rita de Cássia através da coroação

Missa do Vaqueiro 22 de maio Geralmente pela manhã

Homenagem aos vaqueiros devotos da Padroeira Santa Rita de Cássia

Cavalgada 22 de maio Logo após a missa do Vaqueiro

Homenagem dos vaqueiros devotos à Padroeira Santa Rita de Cássia

Leilão 22 de maio Geralmente no horário vespertino

Arrecadar dinheiro para realizar melhorias na Paróquia de Santa Rita de Cássia

Quadro 02. Eventos religiosos em Santa Cruz. Fonte: Elaborada pela autora (2014). Na última Cavalgada de Santa Rita, o número de vaqueiros que participaram deste

momento aumentou em decorrência de ter sido realizada na abertura da festa de Santa Rita, de ter coincidido com o dia das mães e por ter ocorrido o período de seca na zona rural – o momento foi de preces ao fim da seca.

Pode-se afirmar, pois, que as homenagens à Santa Rita de Cássia demonstram as variadas

formas que os peregrinos utilizam para expor sua devoção e sua gratidão ante os pedidos realizados a ela. Constatou-se, portanto, que nessas homenagens existe grande participação da comunidade e de turistas dos mais diversos lugares do Brasil, com destaque para o mês de maio.

Diante do estudo dos impactos do turismo religioso em Santa Cruz através da visão dos

Stakeholders, foram constatados os dados adiante. Vale ressaltar, ainda, que apesar de o Complexo Turístico Religioso Alto de Santa Rita ser uma construção recente, já existem alguns impactos visíveis, devendo existir estudos em longo prazo a fim de detectar as novas relações sociais, (culturais, econômicas e políticas) que venham a surgir a partir do desenvolvimento turístico local.

Constatou-se, ainda, que a construção atraiu devotos à Santa Rita a voltar para visitar ao

monumento e, em especial, a suas famílias, fazendo surgir novas possibilidades de emprego em dias de maiores movimentos na cidade aos moradores locais e de cidades circunvizinhas, bem como de ambulantes dos mais variados lugares do país, ocasionando, por conseguinte, aumento no número de vendas na cidade em detrimento dos dias de peregrinações e eventos religiosos em homenagem à Santa Rita de Cássia.

Os Stakeholders destacam, também, que a cidade cresceu em número de casas e habitantes e

novos comércios, pousadas e restaurantes foram construídos. Identificou-se, além disso, que o turismo religioso modificou alguns rituais religiosos que existiam antes da construção do Complexo.

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Em sua maioria, os sujeitos da pesquisa possuem o conhecimento de que a

responsabilidade de administrar o Complexo é da Paróquia, mas afirmam que deveriam ocorrer responsabilidades múltiplas, com direitos e deveres das partes, criticando a falta de participação governamental na manutenção e gestão do local.

Evidenciou-se, também, que o Santuário foi implantado em uma época de implantação de

universidades na cidade, além de várias outras instituições e empresas que se fixaram e fortaleceram , o que criou, segundo os entrevistados, uma “falsa ideia de desenvolvimento” proporcionado pela implantação da Estátua na cidade.

O Complexo ainda não conseguiu provocar as mudanças anunciadas pela classe política e

empresarial, contudo, existe a falta do planejamento para determinar prioridades de diversas áreas necessárias para fortalecer o turismo, a geração de renda, criação de empregos e fluxo econômico maior. Sendo a presença da imagem marca o cenário do semiárido potiguar, se tornando um marco de religiosidade: “A grande marca do Santuário ainda é o uso católico e cultural, além do marketing político dos seus idealizados” (AZEVEDO, 2013).

Além disso, constatou-se que ocorreu em alguns estabelecimentos, aumento no preço de

produtos vendidos em farmácias, lojas, supermercados e mercadinhos locais, um dos reflexos da falta de planejamento participativo local inexistente, antes e depois da construção (VICENTE NETTO, 2013).

Em relação aos impactos positivos que ocorreram em Santa Cruz após a construção do

Complexo, afirmou-se, ainda, que novos leitos em pousadas foram criados, surgiram novos restaurantes e ocorreu aumento no número de turistas e visitantes na cidade, não havendo levantamento oficial sobre o número desses leitos. Quanto aos negativos, destaca que o maior deles se dá na falta de credibilidade da comunidade em pensar que o Complexo possui potencial turístico que se sustente ao longo dos anos.

Ao que se refere aos investimentos governamentais, o Pároco destaca que se espera que a

gestão municipal iniciada em 2012 invista de forma mais arrojada na cidade, em especial ao que se refere à divulgação do Complexo que, segundo ele, é visitado por pessoas de várias classes sociais, lugares, nacionalidades, escolaridades e idades.

A cidade de Santa Cruz é diferencial diante às demais cidades que compõe o Polo Agreste

Trairi pelo seu tamanho e por ser uma cidade polo, possuindo comércio variado e, agora, por possui o Complexo. Afirma que há a necessidade, porém, de haver uma maior divulgação do Complexo tanto pela Paróquia quanto pela Prefeitura através da Secretaria de Turismo da cidade, além de existir um maior acolhimento por parte da população e melhoria na infraestrutura geral da cidade, para que, só assim, o destino se sustente em longo prazo (VICENTE NETTO, 2013).

Ao que se refere à economia local, configura-se que a situação atual do município, ao que

se refere a investimentos governamentais após a construção do Complexo, está evoluindo gradativamente, sendo que alguns projetos estão em andamento como a Vila do Artesão, Praça da Bíblia e o teleférico.

Pessoa (2013), através de entrevista, afirma que existe um estudo do primeiro ano após a

construção que revelou que mais de 500 mil pessoas passaram pelo Santuário, porém não possui cópia do mesmo e nem tão pouco se houve falar de tal estudo. Segundo a referida secretária, “Santa Cruz é a cidade polo do Trairi, ao ponto que a construção do monumento da Santa trouxe muito mais destaque para a cidade”. Em relação a quais fatores existem que impossibilitam a criação de um Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável (PDITS) no município de Santa Cruz/RN, ela ressalta, por conseguinte, que “a secretaria ainda é muito nova, com apenas 3 anos de criação. Estamos trabalhando e esperando apoio do Ministério do Turismo para realizarmos o PDITS”.

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Quando questionada sobre quantos turistas em média visitam o Complexo de Santa Rita de

Cássia por mês e por ano a mesma, Pessoa (2013) afirmou que: “Não temos este dado preciso nos últimos anos, pois não foi feito o estudo de fluxo turístico até o momento”. Em relação às cidades que mais emitem turistas a visitarem a cidade de Santa Cruz/RN, ela destaca as cidades dos estados do Rio Grande Norte, em sua maioria, seguido das cidades da Paraíba e Pernambuco.

Em relação ao que poderia ser feito para que o Polo Agreste Trairi fosse mais reconhecido

e inserido com mais ênfase nas políticas de incentivo do Governo Federal, Pessoa (2013) afirmou que: “Seria mais reconhecido de conseguisse ser inserido no PRODETUR o Polo Agreste Trairí, considerado o mais novo Polo, não podendo ser incluído no Programa”.

Quanto à capacitação da comunidade local para receber o turismo Religioso na cidade de

Santa Cruz/RN, constatou-se, através da fala dos Stakeholders, que “Trabalhamos desde 2010 com cursos de qualificação profissional através do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). Já foram ministrados os cursos de garçom, recepcionista, qualidade no atendimento para taxistas e moto taxistas, orientador turístico, recepcionista, camareira, dentre outros” (PESSOA, 2013).

Quando às perspectivas de criação de planos de promoção turísticas ao que se refere ao

Complexo para os próximos anos, Marcela Pessoa afirma que: “Perspectivas existem, mas estamos esperando chamadas públicas no Ministério do Turismo”.

Quanto às possíveis formas de minimização de impactos negativos que poderiam ser

realizados no município de Santa Cruz/RN para que não haja comprometimento da realização do Turismo Religioso no município ao longo dos anos, destaca que deve ocorrer um planejamento sólido a médio e longo prazo, juntamente com o Plano Municipal de Turismo (PESSOA, 2013).

Ao que se refere à Santa Cruz se configurar ou não como Turismo Religioso, a referida

secretária inferiu que: “Sim, isto é Turismo Religioso, pois os fiéis vêm a Santa Cruz por uma devoção a nossa padroeira Santa Rita de Cássia” e que o desenvolvimento local através de estratégias da Secretaria ainda está em construção, tendo em vista que o turismo se faz a médio e longo prazo, mas que já existia uma grande diferença de crescimento no comércio local e construção civil.

Detectou-se, segundo relatos dos Stakeholders, que Santa Cruz/RN passou por muitas

transformações ao longo destes quase três anos de inauguração do Complexo do Alto de Santa Rita. Dentre estas transformações ressalta-se a construção de novos postos de saúde e ampliação dos já existentes, melhoria no estádio de futebol, reformas de praças públicas, construção de novas moradias, restaurantes e pequenas pousadas.

Observou-se, ainda, na fala dos sujeitos da pesquisa supracitados, que através da

construção do Complexo Turístico Alto de Santa Rita de Cássia o município de Santa Cruz implementou o turismo religioso possuindo ambientes direcionados como a sala de ex-votos e memorial de Santa Rita com a vida da Santa e a história da construção do santuário, sala de promessas, sala de realização das missas, loja de produtos religiosos e restaurante.

Identificou-se, além disso, que a administração paroquial anterior acompanhou toda a parte

da construção do Complexo sendo responsável por ceder a imagem da padroeira Santa Rita de Cássia para que fosse feito o protótipo do monumento criado, além do terreno para sua construção – o terreno pertencia à Igreja.

Alguns dos Stakeholders, os comerciantes locais, acrescentam que a cidade hoje se projeta

para o mundo como “A Cidade Santuário” com a maior imagem católica do mundo que é capaz de

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atrair romeiros das mais variadas partes do país, colocando Santa Cruz na rota do turismo religioso brasileiro.

Apontou-se, porém, a necessidade de desenvolver o potencial turístico de uma localidade

no sentido de construir outros atrativos turísticos visando à diversificação turística para que assim o turista possa ficar mais tempo na localidade, gerando mais emprego e renda locais.

Averiguou-se que inicialmente os romeiros realizavam suas refeições, em sua maioria, no

restaurante do Complexo, sendo que atualmente, segundo alguns comerciantes ambulantes que trabalham no trajeto que se destina ao Complexo, os peregrinos não almoçam mais na cidade e sim na cidade vizinha que fica a 28,9 Km de Santa Cruz/RN- a chamada Tangará/RN, na sua própria cidade ou trazem sua alimentação.

A população local destaca que além do turismo religioso representado pelo Complexo,

Santa Cruz possui outras potencialidades turísticas como a realização do turismo de eventos e do turismo cultural, como a Festa da Padroeira de Santa Rita de Cássia, o Moto Fest, o Festival de Quadrilhas, a Casa de Cultura, o Teatro “Candinha Bezerra” e o Museu “Auta Pinheiro”.

Outros Stakeholders comentam que é perceptível o aumento na demanda de pessoas que

vem em ônibus durante os finais de semana, aquecendo, consequentemente o comércio local, existindo estabelecimentos criados para receber estes turistas como restaurantes e pousadas e outros ampliados para melhor receberem os turistas e peregrinos que chegam a Santa Cruz.

Como referenciado anteriormente, a chegada das Universidades (Universidade Federal do

Rio Grande do Norte – UFRN e Universidade Estadual do Rio Grande do Norte – UERN) e do Instituto Federal do Rio Grande do Norte – IFRN em Santa Cruz contribuiu significativamente para a o desenvolvimento da cidade. Além disso, novos estabelecimentos comerciais foram construídos, houve maior valorização no preço de casas e terrenos, além de aumento de preços de aluguéis, mercadorias em geral. Apontando, também, o aumento no número de assaltos e pequenos furtos, podendo estes estarem ou não relacionados com a construção do Complexo tendo em vista o surgimento, quase que concomitantemente, de todos estes estabelecimentos de ensino supracitados.

Alguns dos Stakeholders, empresários locais, afirmam que possuem receio de investir em

seus estabelecimentos para receber turistas e não receberem um retorno, afirmando que a cidade, de forma em geral, não ter sido preparada para este crescimento. Já os moradores de Santa Cruz pontuaram que a Paróquia vendeu a festa social da padroeira para empresários não residentes na cidade, dificultando a geração de renda para alguns comerciantes ambulantes que dependiam do ambiente para comercializar seus produtos.

Visitantes do Complexo reclamaram, em sua maioria, do pequeno espaço direcionado para

o estacionamento (percebido em dias de comemorações e grande movimentação no ambiente) sendo fundamental sua ampliação, bem como mencionaram a necessidade de guias especializados no Complexo que pudessem dar maiores informações sobre a construção, sobre Santa Rita e sobre a devoção a ela.

Verificou-se que, no geral, há o pensamento de que a falta de um plano de

desenvolvimento do turismo local pode comprometer a continuação da atividade turística atual, onde mesmo sem haver um planejamento direcionado, a cidade recebe peregrinos, romeiros e turistas diariamente, modificando, consequentemente, as tradições, rituais e organização espacial da cidade.

Diante da presente pesquisa, contatou-se que, o atual Pároco tem contato constante com

turistas que visitam ao Complexo Turístico e Religioso Alto de Santa Rita, influenciando diretamente na inserção de alguns momentos religiosos aos já existentes eventos da cidade de Santa

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Cruz como celebrações religiosas semanais com devoção direcionada aos devotos que vão ao Santuário.

A principal modificação que a construção do Complexo ocasionou para a igreja foi que a

mesma - enquanto templo de fé - passou a receber visitas constantes de fiéis, devotos e turistas de todo lugar do país e, em consequência disso, aumentou o número de pessoas que frequentam a Igreja Matriz da cidade, a qual, após a construção, passou a ficar aberta diariamente para receber todos que desejam participar das celebrações e admirar sua beleza arquitetônica (VICETE NETTO, 2013).

Como principal atividade desenvolvida pela igreja, destaca-se a realização de atividades de

orações diárias que levam a palavra de Deus à comunidade e aos visitantes. Outrossim, em relação aos eventos religiosos, destaca que as principais comemorações realizadas na cidade de santa cruz são: Semana Santa, Festa de Maio (em homenagem à Padroeira da cidade – Santa Rita de Cássia), Semana missionária, Retiro de Carnaval, Romarias, Festas de Padroeiras nas bairros, Micareta “Fest Crist” e o Natal (VICETE NETTO, 2013).

Dentre estes eventos religiosos, o que mais se destaca, segundo o Pároco, é a “Festa de

Maio”: período muito movimentado na cidade, onde a sociedade se reúne com o objetivo principal de louvar a deus e à Maria.

O Complexo possui apoio da Prefeitura Municipal para pagar pessoas que auxiliam na

limpeza e a segurança do Complexo, além das despesas de energia e água. Além disso, verificou-se que a Secretaria Municipal de Turismo atua como parceiro do Complexo em atividades de divulgação do mesmo (VICETE NETTO, 2013).

Moradores e comerciantes locais afirmam que o Turismo Religioso atual não é o

responsável pelo desenvolvimento que vem ocorrendo em Santa Cruz, contribuindo sim para a divulgação e marketing da cidade, mas que necessita modificar o desenvolvimento atual, pois os turistas só passam pelo Complexo e logo se vão, deixando pouco capital econômico circulando.

A comunidade ressalta que em relação às mudanças espaciais, a cidade de Santa Cruz

cresceu em número de novas construções, com destaque para estabelecimentos em que homenagearam Santa Rita de Cássia como pousadas, salões de belezas, lanchonetes e restaurantes. Afirmaram, ainda, que houve aumento no valor de venda de imóveis nos mais variados lugares da cidade, com especulação imobiliária forte em terrenos próximos à construção do Complexo. Constatou-se, por conseguinte, que as tradições de homenagem à Santa Rita continuam avivadas na memória popular, e que a construção do Complexo fortaleceu os rituais religiosos e que só lamentam a festa em sua homenagem, a de padroeiro, ter sido vendida para empresários.

Pode-se afirmar, portanto, que a mudança em rituais e tradições ocorreram em Santa Cruz

de maneira em questões pontuais e que a nova organização espacial da cidade foi modificada sim em consequência da construção do Complexo Turístico Religioso Alto de Santa Rita.

Os Stakeholders afirmam que ocorreram impactos em todos os âmbitos da realidade de

Santa Cruz, tendo sido destacado, em especial, no presente trabalho os impactos socioeconômicos e culturais.

Além disso, mencionam que a construção do Complexo Turístico Religioso Alto de Santa

Rita possibilitou geração, mesmo de forma incipiente, de emprego, ocasionou maior movimentação de pessoas na cidade, provocou crescimento da cidade no sentido de extensão territorial, possibilitou receber turistas com o monumento construído, aumentou o número de pessoas frequentando a missas, tanto na Matriz quanto na igreja do Complexo.

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Cursos gratuitos foram direcionados para a comunidade através de parcerias com o

SEBRAE da cidade Permitiu-se, ainda na visão dos Stakeholders, que Santa Cruz fosse reconhecida em nível de Estado e de Brasil, ocasionando um sentimento de orgulho por parte dos moradores em residirem na cidade da maior Santa católica do mundo em tamanho.

Figura 02 – Foto comparativa da Estátua de Santa Rita de Cássia.

Fonte: Site oficial da prefeitura de Santa Cruz (2014). Quanto aos impactos negativos, a comunidade apontou para a falta de um planejamento

direcionado ao Turismo Religioso inserido na comunidade, tendo sido o motivo principal para a Construção, segundo a comunidade local, uma estratégia política para conseguir votos da população, em função da religiosidade dos autóctones – comunidade local.

Constatou-se, por conseguinte, que a construção não gerou empregos como divulgam, que

existem momentos em que ocorre de receberem na cidade um grande número de pessoas para se locomoverem em um espaço reduzido no Complexo, o qual possui número insuficiente de banheiros em sua estrutura física, além de não ser considerado um local adaptado para a visitação de portadores de necessidades especiais.

Averiguou-se que Santa Cruz não possui infraestrutura turística adequada a um destino

turístico religioso, sendo de prioridade ocorrer mudanças para o desenvolvimento do turismo religioso no município seria a Infraestrutura local, o sistema de transporte, a segurança e a questão histórico-cultural, de identidade histórica da cidade, bem como dos atrativos e potencialidades da cidade.

Segundo o Pároco, a construção do Complexo modificou a cultura local, a economia, o

número de empregos locais e trouxe mais mudanças positivas que negativas para a cidade de Santa Cruz.

Além disso, pontuou que a referida construção não modificou índices de poluição local

tendo em vista considera os turistas ambientalmente educados, destacando que a maioria deles chegam de ônibus, vans ou carros - com exceção de dias de procissões, momento em que não é permitida a subida de veículos até o final do percurso até o monumento de Santa Rita de Cássia.

O Pároco infere, também nesta perspectiva de negativa, que não houve aumento no

número de casos de prostituição e de uso de drogas na cidade que possa ser direcionada como consequência da construção do Complexo.

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Reafirma, por conseguinte, que é da Paróquia a responsabilidade de administrar o

Complexo, mas que conta com apoio da Prefeitura Municipal nesta tarefa. Afirma, também, que a após construção do Complexo a cidade de Santa Cruz está “mais movimentada”, tendo impulsionado o Turismo Religioso Local, que, de contrapartida, estimulou o aumento na especulação imobiliária local.

Quanto à principal modificação que ocorreu na cidade após a construção do Complexo, o

Pároco destaca que foi na estética, por se tratar de um monumento grandioso, visto antes mesmo de chegar ao município de Santa Cruz. Sendo este monumento, divulgado em vários lugares do Brasil.

Em média, segundo Vicente Neto (2013), o Santuário recebe 10 mil visitantes ao mês e

uma média de 200 mil por ano. Com destaque para as cidades de natal, Ceará-Mirim, Parnamirim, João Câmara e Mossoró e de municípios do estado da Paraíba e Pernambuco. Necessitando, para que o Polo Agreste Trairí possa ser mais conhecido e inserido com mais ênfase nas politicas públicas de incentivo ao turismo do Governo federal, que haja maior vontade e interesse da comunidade e dos gestores em detrimento de uma sociedade mais desenvolvida em todos os seus aspectos.

Ao que se refere à capacitação da população, afirma que muito pouco foi feito, em especial

por falta de interesse da própria comunidade em participar destas ações. Há, sob este prisma, uma perspectiva de criação de planos de promoção turística pela igreja, ao que se refere, principalmente, a realizações voltadas para o Complexo para os próximos anos, em especial às parcerias que estão sendo realizadas com a Prefeitura Municipal (VICENTE NETO, 2013).

Para o não comprometimento do desenvolvimento turístico com o passar dos anos,

acredita que deve ser melhorada e adequada continuadamente a infraestrutura local e, principalmente, que haja uma sensibilização da comunidade em se tratando de entender a importância do turismo religioso para o desenvolvimento responsável na cidade em que eles vivem (VICENTE NETO, 2013).

Pessoa (2013) considera que, após a construção do Complexo Turístico e Religioso Alto de

Santa Rita, houve modificação da cultura e da economia locais, não tendo havido aumento no índice de poluição local, nem aumento no uso de drogas, nem de prostituição.

Outrossim, o turismo religioso não modificou de forma negativa os rituais religiosos que

existiam antes da construção do Complexo Turístico Religioso do Alto da Santa e que o mesmo possibilitou aumento do número de empregos locais. Afirma, por conseguinte, que o Complexo Turístico Religioso do Alto da Santa trouxe mais mudanças positivas que negativas para Santa Cruz, não tendo sido o mesmo, uma idealização política e que será conservado a longo tempo (PESSOA, 2013).

Quanto aos impactos positivos que ocorreu em Santa Cruz após a construção do

Complexo, a secretária supracitada destaca: “Geração de emprego e renda; Orgulho da população em dizer que mora na Cidade Santuário. Cidade que tem a maior imagem católica do mundo. Modificou muito com o ego dos Santacruzense”. Sobre a principal modificação que a construção do Complexo, Pessoa (2013) ressalta, ainda, que a “cidade ganhou destaque regional e nacional trazendo mais renda para o município”. Quanto às principais atividades desenvolvidas na Secretaria de Turismo que são direcionadas ao Complexo destacou-se a promoção e divulgação do Santuário.

Diante de tudo que foi exposto, em detrimento da perspectiva dos Stakeholders, pode-se

afirmar que o Turismo Religioso na cidade de Santa Cruz ainda está consolidando sua efervescência, contudo, os motivos pelos quais os peregrinos a escolhem como destino já estão traçados, sejam eles as práticas do Turismo Religioso motivado pela fé. Ao ponto que, se existem

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pessoas que visitam Santa Cruz para a prática do turismo Religioso realizam outras atividades, isso será discutido e comprovado em outra abordagem e pesquisa.

Neste prisma, o Turismo, enquanto atividade humana capaz de transformar o espaço, é

facilitador em uma nova construção e reconstrução do lugar turístico, sendo o Estado um precursor para que isso ocorra, utilizando, para esta finalidade, políticas públicas direcionadas. Ao ponto que, em Santa Cruz o que existiu foi uma articulação entre o poder público local com a Igreja católica com a utilização de investimentos do Governo Federal para a construção do Complexo Turístico Religioso Alto de Santa Rita, onde anteriormente existia o Monte Carmelo, como forma de atrair visitantes, fiéis e peregrinos para a cidade e dinamizar a economia local.

Por conseguinte, pode-se afirmar que o Turismo Religioso pode beneficiar tanto a

comunidade de Santa Cruz quanto às comunidades circunvizinhas, no sentido de modificar de forma positiva e significativa os aspectos políticos, ambientais, econômicos, culturais e, fundamentalmente, sociais, melhorando, de certa forma, o nível da qualidade de vida das pessoas que estejam interligados ao desenvolvimento da atividade turística de forma planejada.

Constatou-se que a maioria dos turistas/peregrinos são do próprio Estado do Rio Grande

do Norte, tendo como segundo maior emissor o Estado da Paraíba seguido de Pernambuco, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás, sendo a maioria casados, utilizando como veículo de locomoção para o Complexo o ônibus de excursão, que possuem casa própria, em sua grande maioria do sexo feminino, na faixa etária entre 26 a 50 anos, com ganho de até três salários mínimos, com destaque para um grande número de pessoas aposentadas (FARIAS, 2013).

Além disso, quase que a totalidade destes turistas afirmam ter contato com a comunidade

somente no momento da visitação ao Complexo e consideram que o turismo impacte diretamente na cultura e economia local e 93% afirmam que a atividade do turismo religioso na cidade é autêntica.

Sobre os impactos positivos que podem ter ocorrido após a construção do Complexo

Turístico Religioso do Alto da Santa, os turistas destacaram: maior divulgação da cidade em âmbito nacional; Geração de emprego e renda; Movimentação de capital humano e econômico; Crescimento da cidade; Possibilidade de atrair turistas do mundo inteiro; Fortalecimento da fé em Maria; Ter um atrativo turístico chamativo.

Ao que tange aos impactos negativos que existem em Santa Cruz/RN após a construção

do Complexo Turístico Religioso do Alto da Santa, os turistas pontuaram que: faltam de guias de turismo no local; Falta de acessibilidade para cadeirantes; Cobrança de valores altos em refeições e água; Pouco espaço para circular em dias de grande movimentação; Estacionamento com pouco espaço ao considerar que nem todos vêm de ônibus, nem todos vem acompanhado em carros e nem todos conseguem deixar o veículo longe e ir andando até o final do percurso ate o monumento; Muito lixo no chão em dias de romarias; Falta de orientadores turísticos especializado no Complexo; Espaço pequeno para todo mundo conseguir ficar sentado na capela em dia de grandes monumentos; Falta de corrimão ao longo do trajeto até o final do percurso.

Sobre as principais modificações que a construção do Complexo Turístico Religioso do

Alto da Santa propiciou para a cidade de Santa Cruz/RN, diante de tudo o que o turista viu na mídia de seu local de origem, eles destacaram que soube que ocorreu: A cidade está mais movimentada, recebeu mais moradores de outras cidades, recebe muitos turistas todos os meses, possui a maior santa católica do mundo.

Perguntou-se, também, se era a primeira vez que o turista visitava ao Complexo Turístico

Religioso Alto de Santa Rita, e se era, por que voltaria ou não e eles responderam, genericamente, que: A maioria era a primeira vez e que voltariam sempre que tivessem oportunidade, dinheiro e tempo.

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O Turismo Religioso na cidade de Santa Cruz se revela, pois, como um agente

transformador do lugar haja vista a construção de novos espaços como restaurantes, pousadas, pontos comerciais, entre outros.

Além disso, surgiram algumas problemáticas apontadas ao longo deste trabalho como a

falta de uma infraestrutura adequada para receber turistas, sinalização precária, transporte público incipiente, profissionais não qualificados a atender a demanda turística, e diversos problemas ocasionados em dias de grande movimentação na cidade e em visita ao Complexo Turístico Religioso Alto de Santa Rita.

Nesta ótica, o envolvimento comunitário deve ocorrer de diferentes formas, no qual os

benefícios necessitam propiciar maior conhecimento e estímulo para um envolvimento baseado no comprometimento no desenvolvimento sustentável da atividade turística em Santa Cruz. Despertando, neste sentido, para um planejamento participativo baseado em um aprendizado recíproco no qual os envolvidos devem entender as dificuldades a serem enfrentadas ao longo do desenvolvimento do Turismo Religioso na localidade.

Reafirma-se que ocorreram melhorias em alguns quesitos da infraestrutura local,

possibilitando maior acessibilidade a alguns pontos da cidade, melhoria no atendimento de alguns comércios, aumento na procura por qualificação profissional e a diversificação das atividades no comércio local. No sentido de que, a construção possibilitou que a cidade ganhasse um cartão postal chamando a atenção de todos que trafegam pela BR-226 e que novos ambientes comerciais e receptivos fossem construídos.

Além disso, empreendimentos já existentes na cidade procuraram por ampliar seus espaços

bem como aumentaram o número de empregos diretos para atender a demanda turística, mesmo que mais notadamente em dias de realização de eventos religiosos na cidade. Ao ponto que, devem ser criadas, fundamentalmente, medidas direcionadas a busca por atrair de forma mais eficiente e efetiva os fiéis e peregrinos para permanecerem por mais tempo na cidade de Santa Cruz, usufruindo de outros equipamentos turísticos e contribuindo com mais veemência com o desenvolvimento sociocultural e econômico local. Considerações finais

A partir de tudo o que já foi levantado e analisado no presente trabalho, pode-se concluir

de que a cidade de Santa Cruz é um dos destinos religiosos mais procurados do Estado do Rio Grande do Norte, contudo, problemas de infraestrutura turística para receber os romeiros, peregrinos e turistas (FARIAS, 2013; FARIAS, MEDEIROS, SILVA e FARIAS, 2014a; MEDEIROS, FARIAS, MARACAJÁ e ALEXANDRE, 2013; FARIAS, MEDEIROS, SILVA e FARIAS, 2014b.

A cidade modificou, de forma geral, questões de espacialidade, rituais religiosos e culturais

bem como dinamicidades das atividades econômicas realizadas no cotidiano dos santa-cruzenses, especificamente em dias de grande movimentação de pessoas em detrimento da realização de eventos ou momentos religiosos como romarias, procissões, pagamento de promessas, dias santos e dias de missa em devoção à Santa Rita de Cássia (FARIAS, 2013; FARIAS, MEDEIROS, SILVA e FARIAS, 2014a; MEDEIROS, FARIAS, MARACAJÁ e ALEXANDRE, 2013; FARIAS, MEDEIROS, SILVA e FARIAS, 2014b.

Diante da inserção do turismo religioso ocorreu, por conseguinte, um reconhecimento e

valorização da população local com o sentimento de pertencimento da cidade com a maior Santa católica do mundo em forma de monumento, passando a cidade de Santa Cruz a ser mais reconhecida como a Cidade da Santa, tanto por quem visita a cidade quanto pelos moradores que utilizam tal referência para informar o local onde mora (FARIAS, 2013; FARIAS, MEDEIROS,

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SILVA e FARIAS, 2014a; MEDEIROS, FARIAS, MARACAJÁ e ALEXANDRE, 2013; FARIAS, MEDEIROS, SILVA e FARIAS, 2014b.

Espera-se que o trabalho aqui exposto seja visto como início de uma reflexão sobre o que

pode ser melhorado e modificado através de observações e estudos sobre a realidade de desenvolvimento da atividade turística na cidade de Santa Cruz, levando em consideração, pois, a inserção do Turismo Religioso, o qual deve possuir políticas direcionadas a manutenção e divulgação de formas adequadas tanto para os turistas e principalmente para a comunidade, no sentido de que, se um destino não é satisfatório a atender as necessidades ao menos da população local, ao ponto que a mesma não está preparada para receber turistas (FARIAS, 2013; FARIAS, MEDEIROS, SILVA e FARIAS, 2014a; MEDEIROS, FARIAS, MARACAJÁ e ALEXANDRE, 2013; FARIAS, MEDEIROS, SILVA e FARIAS, 2014b.

Atualmente, a cidade de Santa Cruz está inserida como roteiro turístico do Estado do Rio

Grande do Norte e, apesar de não ter tido a participação direta da comunidade no planejamento para a inserção do Turismo Religioso na localidade, está sendo divulgada como um destino que tem a tendência de crescer com o passar dos anos, atraindo, porquanto, fiéis e peregrinos de todas as partes do Brasil, motivados, fundamentalmente, pelo sentimento fundante do Turismo Religioso, a fé (FARIAS, 2013; FARIAS, MEDEIROS, SILVA e FARIAS, 2014a; MEDEIROS, FARIAS, MARACAJÁ e ALEXANDRE, 2013; FARIAS, MEDEIROS, SILVA e FARIAS, 2014b. Notas Explicativas 1 Em inglês stake significa interesse, participação, risco. Holder significa aquele que possui. Assim, stakeholder também significa parte interessada ou interveniente. 2 A cidade de Jerusalém em Israel entra nesse cenário por ser considerado um lugar sagrados por todos os católicos, devido ser o local da morte de Jesus Cristo. A cidade sagrada de Jerusalém possui cerca de 3 mil anos de história e é o centro espiritual das três principais religiões monoteístas: Judaísmo, Islamismo e Cristianismo. Possui numerosos pontos históricos e vários santuários. A cidade recebe peregrinos de todo o mundo. 3 Situada ao norte de Lisboa, perto da cidade de Leiria, Fátima é um dos centros religiosos mais estimados do mundo, onde os três pastorinhos alegadamente testemunharam a aparição de Nossa Senhora, a 13 de Maio de 1917, tendo seu maior número de visitantes é durante os dias das peregrinações, meses de maio e de outubro, altura em que os peregrinos enchem as ruas, ansiosos por cumprir as promessas feitas a Nossa Senhora ou por viver o ambiente espiritual único sentido nestas ocasiões. 4 Menor país do mundo. É a sede da Igreja Católica e residência oficial do papa. Seu nome é uma referência a uma das sete colinas da capital italiana. A população do Vaticano é composta apenas por membros da Igreja Católica e da seleta guarda suíça. No entanto, o país recebe milhares de turistas diariamente, o principal atrativo são os afrescos com cenas do Velho Testamento, pintados por Michelangelo no teto da Capela Sistina. O Vaticano mantém-se com donativos, investimentos de capital e rendas obtidas com o turismo. 5 Cidade na região da Umbria, famosa por ter sido o berço de São Francisco de Assis e Santa Clara. Entre seus principais monumentos da cidade esta destacada a Basílica de São Francisco de Assis, um conjunto de duas igrejas superpostas em estilo gótico, que abrigam o túmulo do santo, muitas de suas relíquias, como seu hábito e cartas autografadas, e uma esplêndida decoração em afrescos, dos quais os mais famosos são a série pintada por Giotto na igreja superior, e que ilustram cenas da vida do santo. 6 Considerada a capital ritual do Brasil, com turismo religioso de massa, recebendo anualmente milhões de peregrinos. A cidade apresenta uma programação de eventos que estimula os visitantes a permanecerem na cidade. 7 Formado pelos municípios: Macaíba, Pureza, Ares, Baía Formosa, Canguaretama, Ceará-Mirim, Extremoz, Goianinha, Maxaranguape, Natal, Nísia Floresta, Parnamirim, Pedra Grande, Rio do Fogo, São Gonçalo do Amarante, São José de Mipibu, São Miguel de Touros, Senador Georgino Avelino, Touros, Tibau do Sul e Vila Flor.

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8 Formado pelos municípios: Viçosa, Alexandria, Doutor Severiano, Apodi, Caraúbas, Felipe Guerra, Luís Gomes, Martins, Patu, Pau dos Ferros, Portalegre, São Miguel e Venha-Ver. 9 Formado pelos municípios: Lagoa Nova, Florânia, Ouro Branco, Santana do Seridó, Ten. Laurentino, Serra Negra do Norte, Timbaúba dos Batistas, São João do Sabugi, Equador, Jucurutu, Cerro Cora, Currais Novos, Acari, Carnaúba dos Dantas, Parelhas, Jardim do Seridó e Caicó. 10 Formado pelos municípios: Serra do Mel, Carnaubais, Assú, Angicos, Areia Branca, Caiçara do Norte, Galinhos, Grossos, Guamaré, Itajá, Lajes, Macau, Mossoró, Porto do Mangue, São Bento do Norte, São Rafael e Tibau. 11 Formado pelos municípios: Coronel Ezequiel, Jaçana, Japi, Montanhas, Monte das Gameleiras, Nova Cruz, Passa e Fica, Santa Cruz, São Bento do Trairi, Serra Caiada, Serra de São Bento, Sitio Novo e Tangará. 12 O que ocorre em Santa Cruz pode e deve ser considerado como turismo religioso: “Os eventos religiosos em na cidade, em especial as missas dominicais, que ocorrem às 10:00 horas da manhã na Capela do Complexo, são algo esplendoroso! Verdadeiras obras de Deus! Por fim afirma que, enquanto comunidade católica, configura-se que a cidade de Santa Cruz é um local especial onde se pode sentir algo diferente, por ser este “um ambiente de paz e de Deus!”(VICENTE NETTO, 2013). Referências ALVES, M. L. B. Turismo e Peregrinação Religiosa: A Festa de Sant'Ana de Caicó- RN. Anais - Encontro Nacional de Turismo com Base Local, Anais ENTBL, v. II, p. 45-67, 2005. ALVES, M. L. B.; RAMOS, S. P. Turismo religioso no Rio Grande do Norte: as múltiplas faces dos “encontros” no Sertão do Seridó. Revista Hospitalidade, São Paulo, ano IV, n. 2, p. 35-50, 2. sem. 2007. ANJOS, M. A. D. Trabalho Informal e Sazonalidade: uma análise na festa de nossa senhora da abadia em romaria – mg. Cadernos da Fucamp, v 10 n.13 p.11-36, 2011. AZEVEDO, W. M. Entrevista concedida à Mayara Ferreira de Farias. Datada em dezembro de 2013. BARBOSA, F. F. O Turismo como um Fator de Desenvolvimento Local e/ ou Regional. Caminhos de Geografia - Revista Online. V 10. n.14 p 107-114, fev, 2005. BENI, M. C. Análise estrutural do turismo. São Paulo, Editora SENAC, 11º Ed. 2006. BRASIL. Ministério do Turismo. Segmentação do Turismo: Experiências, Tendências e Inovações - Artigos Acadêmicos / Ministério do Turismo, Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico, Coordenação Geral de Segmentação. – Brasília: Ministério do Turismo, 2010. CALVELLI, H. G. Turismo Religioso no caminho da fé. In: Revista de Turismo Cultural. V. 3. Nº 1, 2009. Disponível em: <http://www.eca.usp.br/turismocultural/05_Caminho_da_f%C3%A9-Haudrey.pdf>. Acesso em outubro de 2014. DENCKER, A. F. M. Pesquisa em turismo: planejamento, métodos e técnicas. São Paulo: Futura, 1998. ______. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo. 5. Ed. São Paulo: Editora Futura, 2001. p. 90 a 125. DIAS, R.; SILVEIRA, J. S. Turismo religioso: ensaios e reflexões. São Paulo: Alínea, 2003. FARIAS, Mayara Ferreira de. Turismo Religioso na Cidade da Santa: a percepção da comunidade sobre a construção do Complexo Turístico e Religioso Alto de Santa Rita, Santa Cruz/RN. Dissertação (Mestrado em Turismo). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2013. FARIAS, Mayara Ferreira de ; MEDEIROS, Janaína Luciana de ; SILVA, J. D. J. ; FARIAS, Mayane Ferreira de. . Desenvolvimento turístico através do turismo religioso na Cidade da Santa (Santa Cruz, rio Grande do Norte). Revista Querubim, v. E, p. 79-87, 2014a. ______ . Políticas, planos e programas do turismo: apontamentos sobre o Turismo Religioso em Santa Cruz (Rio Grande do Norte). Revista Querubim, v. E, p. 32-46, 2014b.

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