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A fraternidade do fole: uma história do esforço de guerra britânico no Brasil na
Segunda Guerra Mundial (1940-1945)
Joselia de Castro Silva1
Resumo: O presente texto aborda a criação da Fraternidade do Fole, uma organização não
governamental de caráter transnacional, constituída no decurso da Segunda Guerra
Mundial. A mesma tinha como objetivo a arrecadação de fundos financeiros para auxílio
ao esforço de guerra dos britânicos, especificamente para a compra de aviões. A
organização surgiu na Argentina em outubro de 1940, chegando ao Brasil no mês
seguinte. A partir de 1942, as arrecadações passaram a ser divididas igualmente entre a
Royal Air Force e a Força Aérea Brasileira. A base fundamental desta pesquisa foi a
documentação existente no National Archives UK, no Royal Air Force Museum e
periódicos brasileiros entre os anos 1942 e 1945.
A origem da organização
En origen de la gran idea
Era una noche del mes de Setiembre de 1940, y tres jóvenes
britânicos, en la vecina capital de Buenos Aires reunidos para
tomar un aperitivo, discutian como se podria poner fin a las
incursiones diurnas como se podria poner fin a las incursiones
diurnas y nocturnas del arma aérea de un enemigo inescrupuloso
que se descargaba su bombas mortiferas sobre ciudades
densamente pobladas, cone el único fin de aterrorizar a las
mujeres y niños britânicos, especialmente a los de Londres.
Y es el domínio de todos la resistencia heroica y estoica de esas
poblaciones, y el fracaso rotundo de la Luftwaffe de ganhar la
Batalla de Gran Bretaña de ese modo. Pero en aquellos
1 Doutoranda CPDOC/FGV. O texto aqui apresentado constitui uma parte da tese de doutorado intitulada
“A Fraternidade do fole: uma história social e transnacional do esforço de guerra britânico no Brasil
(1940-1945), em desenvolvimento e orientada pelo Prof. Dr. Alexandre Moreli.
momentos de dura prueba, estoso jóvenes se perguntaban: ¿
Como se podrían contener estos ataques ? y llegaban a la única
y únanime solucion que era preciso crear MAS FUERZA AEREA,
- pero ¿como? ... ¡Con un fuelle! fué la contestación de uno, con
la flema característica de su Pueblo, pues es la forma más
sencilla y más a mano para crear fuerza de aire (en inglês AIR
FORCE)2
Assim nascia a Fraternidade do Fole, uma organização não governamental de
caráter transnacional, criada com o objetivo de auxiliar os britânicos na luta contra a
aviação alemã nos céus da Europa durante a Segunda Guerra Mundial, através da
arrecadação de fundos financeiros que seriam doados para a Royal Air Force pois muitos
aviões britânicos estavam sendo derrubados. A organização adotou como símbolo um
fole, que, de acordo com seus organizadores, assopraria os céus auxiliando na derrubada
dos aviões inimigos.3 Na Argentina, sua inauguração ocorreu em 14 de outubro de 1940
na cidade de Buenos Aires e a ideia logo se espalhou por diversos outros países da região,
alcançando primordialmente membros da comunidades britânicas existentes na América
Latina.
Outra versão para o surgimento da Fraternidade na Argentina é a de que a mesma
se originou quando foi realizada a primeira reunião geral extraordinária no Clube Inglês
argentino. Outra versão aponta para sete membros originais da organização argentina que
estariam no anonimato e um deles, servindo como piloto oficial da RAF. 4 Enfatiza-se
ainda o caráter voluntário da organização – a Argentina, assim como todos os países do
Continente Americano, havia adotado a postura de neutralidade no conflito – e o valor
arrecadado por cada avião derrubado, que seria o equivalente a 5 pesos (aproximadamente
6 shillings). As contribuições eram efetuadas por argentinos e cidadãos das nações aliadas
que residiam na Argentina e pagas diretamente às sedes de foles em Buenos Aires ou
através de um dos duzentos e cinquenta agentes do fole, ou “bolsas de ar” espalhados por
2. RAFM, Fellowship of the Bellows. El origen de la Gran Idea. X001 – 3521/0001 – 025. 3 Idem, p.1 4 Cf. AIR 27.1158. The Fellowhip of the Bellows. p.4
toda a República da Patagônia até a fronteira boliviana. 5 Em 1943 a organização contava
com aproximadamente 50.000 membros. 6
Born at the time England so terribly short of Air Force and the
Battle of Britain was raging the fellowship of the bellows blew
itself into existence with the sole object of collecting funds to be
remitted to the Minister of Aircraft production for the purpose of
purchasing aircfat. The slogan adapted by6 the found Committee
was, of course, “More Air Force” – and thus it was that a humble
pair of Bellows became the emblem of this airy idea.7
As contribuições eram determinadas a partir do número de aviões alemães
abatidos pelos britânicos durante a guerra e para cada avião derrubado, o membro da
organização efetuaria uma doação correspondente. Mensalmente o quantitativo de aviões
abatidos seria anunciado e, assim, o contribuinte calcularia o valor que repassaria à
fraternidade.
Havia ainda uma hierarquia dentro da Fraternidade do Fole e conforme o valor das
doações, o associado “subiria” degraus dentro da organização até alcançar o grau da
Ordem do Fole, o grau mais alto da organização, que também se desmembrava em três,
A iniciativa nascida na Argentina logo se espalhou para outras regiões da
América do Sul. No Uruguai, foi inaugurada uma fraternidade idêntica em 12 de
dezembro de 1940 8 e contava com diversos voluntários que faziam o atendimento aos
colaboradores, diminuindo os custos para a manutenção da organização. Cada sócio
recebia um pequeno livreto, que contava a história da fraternidade e onde eram anotadas
suas contribuições. No mesmo, constavam informações básicas dos participantes tais
como seu nome, domicílio e seu número de sócio.9 Circulares e insígnias também eram
5 Idem. 6 Ibidem. 7 Cf. RAFM – Fellowship Archives. The Air-Nonymous society of The Fellowship of the Bellows.
Founded 14 th October 1940 (Still blowing strong) 8 Idem, p.2 9 Idem, p. 11.
disponibilizadas aos participantes e a organização contava com o apoio espontâneo da
imprensa e do rádio para a divulgação da causa.
Havia ainda um conjunto de hábitos que logo se tornavam comuns a todos os
participantes da organização e que consistiam em ter um bom gênio, saber soprar o fole,
usar a insígnia do fole na lapela de seus trajes, querer ser sempre o primeiro a obter a nova
insígnia, saber o significado da letra V, que significava vitória e era uma das formas que
os membros da fraternidade utilizavam para se cumprimentar, recordar as palavras da
Rainha Vitória de que não lhes interessava a possibilidade de derrotas porque elas não
existiam, saber rir quando as notícias não fossem aparentemente favoráveis, saber fazer a
saudação da fraternidade, recordar seu número de sócio, que constava na caderneta
recebida quando da entrada na fraternidade, e trazer mais amigos para o grupo de forma
a criar mais força aérea. 10
A circulação da ideia de auxílio ao esforço britânico ocorreu em grande parte da
América do Sul envolvendo vários países da região tais como Bolívia, Chile, Colômbia,
México, Brasil, Peru, Uruguai, Venezuela, Guatemala, Equador, Paraguai, Curaçau e
Aruba11 e os países envolvidos adotavam os mesmos critérios para a colaboração, gerando
a formação de fraternidades em diferentes países, o que não significa que havia
comunicação entre as mesmas.12 Em julho de 1942, 20 aviões de combate foram
incorporados à RAF sob o nome de Fellowship of the Bellows.13
É importante destacarmos que a criação da Fraternidade do Fole originou-se do
Sptifire Fund, fundo financeiro criado à época da Batalha da Inglaterra com o objetivo de
auxiliar os britânicos na aquisição de aviões para lutarem contra as forças alemãs. Após
o fim da guerra, iniciou-se uma competição para estabelecer quem foi o autor da proposta
para a criação desse fundo e quem ficaria com os créditos por essa criação, principalmente
pelo fato de que a iniciativa se espalhou não só pelas colônias britânicas como para
10 Cf. El origen de la Gran Idea. X001 – 3521/0001 – 025. Op Cit, p. 12. 11 Cf. NAUK, AIR 2.5480. ROYAL AIR FORCE. CS 17184, Fellowxhip of the Bellows Brazil, Gift of
Aircraft. Secret Cypher Q. T. P. Telegram. To: Air Ministral Whitehall, From Buenos Aires. 21 july 1943.
“The standard” Buenos Aires. July, 3 rd 1943. Sinclair greets the Bellows. 12 Até o momento não encontrei informações sobre comunicação entre os membros de Fraternidades dos
países da América Latina. 13 Idem.
diversas partes do mundo. Não havia dúvida de que a primeira contribuição foi recebida
pelo periódico Jamaica Gleaner14 e que indivíduos do país colaboraram com os britânicos
mesmo sendo os jamaicanos muito pobres.15 Existem dois nomes por trás da criação da
ideia original, Reggie Matcham e Alexander Gordon. De acordo com uma carta enviada
ao segundo secretário do Ministério da Produção Aeronáutica,16 Reggie Matcham sugeriu
a ideia para a criação do fundo e Alexander Gordon foi o doador primeiro cheque enviado
para o jornal alguns meses depois.
Fraternidade do Fole na América do Sul
As arrecadações de fundos na América do Sul estavam se estruturando de forma
organizada. Na Colômbia formou-se um comitê Central que estava sob a liderança de
Paske Smith, até aquele momento Ministro britânico de Bogotá, arrecadando recursos
para a Cruz Vermelha e outros fins bélicos. Este comitê opera em Barranquila, Bogotá,
Cali, Cucuta, Maizeles, Mariquite, Medelin, Santa Maria e no Centro. As remessas eram
feitas em cheques com valores em dólares estadunidenses, canadenses e esterlinos. As
remessas geralmente eram feitas através de escritórios estrangeiros, mas algumas vezes,
direto para as próprias organizações, incluindo a Cruz Vermelha. Também haviam
remessas para a M.A.P. (Ministry Production Aircrafts)17 de 8.000 libras incluindo 5.400
da Fraternidade do Fole.18
Na Venezuela, os colonos britânicos de Caracas têm enviado presentes em poucas
quantidades através do Bank of London e South America. Também 4.800 libras recebidas
pelo Ministério da Produção Aeronáutica. Os funcionários britânicos da Caribean
14 Cf. NAUK, AVIA 15.2486. Ministry of Aircraft Production. Mr. G. Calder, PAS (L) . through PS6.
Recognition of work by organizer of Spitifire Fund. 15 Idem. 16 Second Secretary. 12.7.45. NAUK, AVIA 15.2486. 17 Ministério da Produção Aeronáutica. 18 Cf. NAUK, T 160.1125. Financial Assistance to U.K. by British Communities Abroad. 12582 086
Petrolium Co. fizeram contribuições para o erário público e remessas também foram feitas
através da Parent Co. e da Anglo – Saxon Petroleum Co. London.19
No Brasil, tivemos em São Paulo a criação do Fundo Patriótico formado pelo
Conselho da Comunidade Britânica. Esperava-se coletar 12.000 libras no primeiro ano.
Os fundos estavam sendo usados tanto quanto possível para salvar as remessas para
dentro. Alguns pagamentos aqui também foram feitos ao Ministério da Economia de
Guerra, etc.. M.A.P. (Ministry Aircraft Production) recebeu 1.200 libras.20
No Rio de Janeiro, a comunidade britânica organizada sob o Consulado Geral H.
M.. enviou remessas para compra de aeronaves e consideráveis valores eram utilizados
para reparos em navios e pagar voluntários e eram feitas através do Royal Bank of
Canadá. O Ministério da Produção Aeronáutica recebeu remessas cariocas com montante
que soma 6.000 libras. 21
O comitê da comunidade britânica do Rio Grande do Sul compreendia o Rio
Grande, Pelotas, Bagé, Rosário e Livramento. As contribuições coletadas eram baseadas
nas porcentagens dos salários e remessas em dólares eram feitas através do Bank of
London and South America em cheques de dólares e contas. 22
Também existiu o fundo da comunidade britânica de Santos e remessas também
eram feitas através do Bank of London & South America em cheques de dólares e
depósitos em contas.
No Uruguai, a comunidade patriótica de britânicos de Montevideo abriu um
Fundo da Vitória antes de junho de 1940, contando com contribuições voluntárias de
membros da comunidade britânica do país. As remessas foram realizadas por um tempo
devido as dificuldades de câmbio. A primeira remessa de 7.000 libras recebida em
setembro de 1940 foi enviada para o Ministério da Produção Aeronáutica. Outros
19 Idem. 20 Ibidem. 21 Ibidem. 22 Cf. NAUK, T 160.1125. Op. Cit. F. 12582/054/2. 10th october, 1941.
montantes totalizando 10.767 libras, enviados igualmente entre 10 de outubro de 1940 e
abril de 1941. Remessas, aparentemente em libras esterlinas, foram enviadas ao MAP.
A comunidade britânica da Argentina também organizou um fundo britânico
patriótico e as remessas eram feitas através do Tesouro para diversos fins e em dado
momento ultrapassaram 260.000 libras. Os valores eram depositados em pesos no Banco
da Argentina e transferidos para libras esterlinas através do Banco da Inglaterra.
No Chile, a comunidade britânica em Concepcion também formou um fundo
patriótico. O Consul H.M. (não sei quem é) disse que os presentes eram muito generosos
em vista das circunstâncias da comunidade. Os pagamentos eram feitos em cheques de
libras esterlinas e, também, no Ministério das Relações Exteriores e também um crédito
através do departamento de fundo no exterior. A comunidade de Valparaiso também
remeteu cheques em libras através do departamento de comércio exterior e o MAP
recebeu desse grupo a quantia de 6.500 libras. Na cidade de Antofagasta, situada ao norte
do Chile, o Comitê do Serviço Nacional Britânico doou 1.100 libras e 665 libras foram
enviadas ao MAP em julho de 1940. O Ministro britânico falou disto como um esplêndido
presente da pequena e declinada colônia britânica naquela cidade. Ainda no Chile, a
cidade de Santiago também efetuou doações, remetendo 300 libras para o MAP.
Da Bolívia, o MAP recebeu remessas no valor de 5.500 libras esterlinas,
provenientes das cidades de Oruno e La Paz.
No Peru, o cônsul H. M. em Iquitos coletou 4.700 soles (moeda peruana), para a
compra de spitfires pelos membros da comunidade britânica e amigos de outras
nacionalidades. A quantidade foi, aparentemente, direcionada ao MAP. Também uma
remessa de 10.000 libras foi recebida pelo MAP proveniente de Lima.
Em 01 de agosto de 1940, a comunidade britânica de Salvador enviou 2.080 libras
para adquirir um avião de caça.
Em Cuba, uma comissão britânica de emergência esteve trabalhando desde
setembro de 1939 e lá existiu um mecanismo de contribuições mensais sobre uma base
de renda. O fundo pagava cerca de metade das despesas do bureau de informações
britânico. 5.000 dólares foram recebidos pelo Tesouro cubano e o MAP recebeu 8.400
libras.
O Paraguai não registrou doações ao MAP e nem ao Tesouro britânico.23
Quito, no Equador, enviou remessa de 1.500 libras para o MAP.24
A Patagônia enviou ao MAP uma remessa de 1.000 libras.25
A Costa Rica enviou remessa de 1.788 libras para o MAP.26
O Panamá enviou uma remessa de 100 libras para o MAP.27
Os registros acima efetuados chamam atenção para os esforços organizados em
todos os países da América do Sul, com exceção do Paraguai, e algumas repúblicas da
América Central e antes do levantamento de fundos para aquisição de aviões, os recursos
arrecadados eram destinados ao reparo de navios e a aquisição de provisões para os
mesmos.
Uma outra ideia: Empréstimos livres de juros na comunidade britânica
Outra forma encontrada pela comunidade britânica na Argentina para arrecadar
fundos no país para auxiliar o Reino Unido na guerra foi a confecção de uma nota de
crédito, um tipo de empréstimo livre de juros e que seria disponibilizado para todos que
desejassem contribuir com o governo britânico, reembolsáveis três meses após o fim da
guerra e o estabelecimento de tratados de paz. O certificado seria pagável no Banco da
Inglaterra, em Londres ou no Bank of the London and South America Limited e seu valor
23 Idem. 24 Idem. 25 Idem. 26 Idem. 27 Idem.
era de 10 libras esterlinas.28 O pagamento seria feito por meio de um cheque emitido à
ordem da pessoa indicada no certificado e seria enviado pelo correio para endereço do
beneficiário 29 e esse seria mais um reforço financeiro para o Reino Unido.
O Ministério das Relações Exteriores Britânico resolveu solicitar a todas as suas
embaixadas no estrangeiro que analisassem a possibilidade de implantação de
empréstimo sem juros como o proposto na Argentina, e articular a aplicação dos mesmos
nos respectivos países onde estivessem. Assim, a Embaixada britânica em Bagdá, em
resposta a Circular W 12244/271/4930 de 28 de outubro de 1941, informou que a
comunidade de descendentes britânicos lá existente não podia ser comparada em números
ou recursos aos argentinos e que já estava contribuindo suficientemente para instituições
de caridade de guerra britânicas, para o fundo sptifire local e para todo o conforto e apoio
às tropas britânicas estacionadas no Iraque e isso já seria suficiente para demonstrar o
apoio do país aos britânicos.
O embaixador britânico em Washington, R. I. Campbell respondeu a circular
anteriormente citada sugerindo que outras comunidades, e a estadunidense poderia ser
uma delas, também fizesse uma campanha semelhante à Argentina com empréstimos sem
juros reembolsáveis três meses após a conclusão dos tratados de paz e feitos em moeda
local.31
A embaixada britânica em Ancara, Turquia, também respondeu ao despacho
anteriormente citado informando que todos os esforços estavam sendo feitos no sentido
de organizar um fundo patriótico naquela localidade. Alguns súditos britânicos estariam
segurando libras esterlinas para, possivelmente emprestar ao governo britânico, o que
necessitaria do aval do governo e o embaixador não tinha muita certeza se isso ocorreria.
28 Idem. 29 Cf. NAUK, T 160.1125. Op. Cit. Circular F12582/080. Foreign Office, October 28, 1941, enviada para
Anthony Edden. 30 A mesma circular foi enviada para todas as embaixadas pois todas as respostas das embaixadas
mencionadas na documentação analisada fazem menção à mesma. 31 Cf. NAUK, T 160.1125. Op. Cit. Circular F12582/086. Foreign Office, British Embassy, Washington
D.C. , 07 th, january, 1942.
Ele termina sua circular afirmando que a organização de um fundo patriótico não seria
possível no país.32
Em San José, na Costa Rica, o embaixador britânico informa que não visualiza
quaisquer possibilidades de oferta de empréstimo sem juros devido a “smalness and
relative poverty of the local British community”33. Apesar disso, a comunidade da Costa
Rica organizou um sistema de contribuições semanais e mensais que operou
continuamente e com sucesso. Remessas periódicas foram feitas a organizações tais como
a Cruz Vermelha e o Fundo St. John, que recebeu 1935 libras e para a Santa Casa de
Dunsta’s para cegos, que recebeu 37.10 libras.34 Cerca de um ano antes (1940), a
comunidade britânica criou o Fundo Winston Churchill e patrocinou uma noite de evento
social onde arrecadou cerca de 7.000 dólares.35 A Companhia United Fruits & Pacific
Coast também colaborou com a realização de festas sociais, doações para instituições de
caridade e donativos em espécie tais como sucatas de ferro e 200 sacas de café.36 O
embaixador britânico no país, G. Lyall, destaca ainda que presentes oriundos de trabalhos
patrióticos eram mais adequados à realidade do país do que empréstimos aos moldes dos
que ocorriam na Argentina. 37
Em Madri, na Espanha, o embaixador britânico Arthur Ferdinand Yencken
informou que a possibilidade de criação de um fundo patriótico britânico no país
esbarrava no fato de haver muitos prisioneiros de guerra britânicos em solo espanhol e a
necessidade de fornecer suprimentos para seu conforto durante tanto tempo de detenção
em campo espanhol. Yencken destacou ainda que a organização britânica de caridade de
guerra lida de forma muito eficiente com os vários problemas de fornecimento de
suprimentos para as necessidades desses prisioneiros na Espanha e recebeu o apoio
generoso e constante da comunidade britânica tanto em Madri quanto em outras
32 Cf. NAUK, T 160.1125. Op. Cit. Circular F12582/086. Foreign Office, British Embassy, Angara,
December, 19th, 1941. 33 “Pequenez e pobreza da comunidade britânica local”. 34 Cf. NAUK, T 160.1125. Op. Cit. Circular F12582/086. Nº 109. Foreign Office, British Legation, San
José, Costa Rica, December, 26th, 1941. 35 Idem 36 Ibidem. 37 Ibidem.
províncias. Além disso, destacou que foram feitas valiosas contribuições para o Fundo
Sptifire e alguns empréstimos e presentes foram recebidos. 38 A proposta seria
apresentada mas Yencken duvidava da possibilidade de implementação da mesma no
país.39
No Chile, a embaixada respondeu a circular informando que a principal
dificuldade de adaptar a proposta argentina ao país era porque, diferente da Argentina,
onde não havia dificuldades no controle de câmbio, no Chile até aquele momento, era
impossível obter permissão da comissão de controle de câmbio para remessas ao Reino
Unido para empréstimos de guerra. O embaixador informou que seu conselheiro
comercial recebeu algumas subscrições ocasionais de súditos britânicos, mas nenhuma
publicidade foi dada sobre isso e nem foi organizada uma campanha em grande escala. 40
Uma alternativa seria aceitar pesos da comunidade britânica no Chile para a manutenção
dos serviços da embaixada e em troca emitir declarações semelhantes aos certificados
argentinos, usando-os como referência. Tecnicamente, isso seria uma violação dos
regulamentos de controle cambial e acabou não se concretizando. 41
A embaixada britânica em Montevideo, no Uruguai, respondeu a circular sobre a
proposta argentina de empréstimos afirmando que era consenso entre eles que devido ao
tamanho reduzido e a falta de riqueza da comunidade britânica naquele país, a resposta a
ser dada era de que a implantação desse esquema poderia levar a uma diminuição no ritmo
razoavelmente satisfatório de contribuições para fundos de guerra operantes no país. O
embaixador britânico Ralph Skrine Stevenson recomendou então que nenhuma tentativa
de dar início ao esquema fosse feita naquele país.42
Na Guatemala, o embaixador britânico, após ponderar por vários meses,
considerou que as condições locais não eram adequadas a proposta de estabelecimento de
38 Cf. NAUK, T 160.1125. Op. Cit. Circular F12582/086. Nº 117. British Embassy, Madrid, April 10,
1942. 39 Idem. 40 Cf. NAUK, T 160.1125. Op. Cit. Circular F12582/086. Nº 16. British Embassy, Santiago, January,
20th, 1942. 41 Cf. NAUK, T 160.1125. Op. Cit. British Embassy, Santiago, January, 20th, 1942. 42 Cf. NAUK, T 160.1125. Op. Cit. Circular F12582/086. Nº 25. British Legation, Montevideo, 20th March,
1942.
empréstimos tais como o argentino e que o país continuaria efetuando contribuições
adequadas as suas condições. 43
No Nepal, conforme relato do embaixador britânico no país, Geoffrey Betham, a
comunidade britânica era muito pequena consistindo dele, sua esposa e alguns
funcionários, que doavam aproximadamente 10% de seus salários. Alguns deles
encaminham suas doações ao governo da Índia, para que fossem repassadas aos
britânicos, outros preferiam doar diretamente ao Reino Unido. Segundo o embaixador,
não existiam outros meios de levantar dinheiro no Nepal além de uma aproximação com
o Marajá e essa abordagem gerou resultados positivos tais como doações para a Cruz
Vermelha indiana, britânica e chinesas, para o fundo de fins bélicos do vice-rei, fundos
de apoio aos órfãos de soldados do exército indiano mortos durante a guerra e aquisição
de armamentos leves. 44
Um panorama geral da possibilidade de empréstimos sem juros na América
Central e do Sul revelou dificuldades para a efetivação dessa proposta devido,
principalmente, ao fato de que em vários dos países da região a comunidade britânica era
pequena ou pobre ou os mesmos já estavam colaborando com outras campanhas, o que
inviabilizava sua inclusão em novas propostas de auxílio. No caso do Brasil, aponta-se
que o fato de o reembolso ocorrer em libras esterlinas acabou sendo um empecilho para
a concessão dos empréstimos. 45
Destaca-se que diante dos limitados recursos financeiros que os países da América
do Sul e Central possuíam e do tamanho reduzido da comunidade britânica na região, a
possibilidade de criação de um esquema de arrecadação próprio em cada país seria mais
adequado do que a aplicação de um, como o da Argentina, para toda a região. 46
43 Cf. NAUK, T 160.1125. Op. Cit. Circular F12582/086. Nº 8. Departamental nº 1. From Guatemala to
Foreign Office. 29th April 1942. 44 Cf. NAUK, T 160.1125. Op. Cit. Circular F12582/086. Despatch nº 15 (271/W/1). The British Legation,
Nepal, 30th April, 1942. 45 Idem. 46 Cf. NAUK, T 160.1125. Op. Cit. Bank of England. 11th May 1942 e To Foreign Office , 6642/411/49,
19th May, 1942
O governo britânico buscava meios de estimular cada vez mais as doações pois
além de auxiliar financeiramente a RAF, elas consolidavam laços diplomáticos com os
países envolvidos na campanha. Uma das estratégias utilizadas era o envio de
informações sobre as ações dos esquadrões formados com os recursos oriundos das
doações como forma de mostrar como o dinheiro estava sendo empregado.47 Exemplo
disso foi a transmissão, via rádio, de uma entrevista com o piloto do Spitfire Fole Brasil
nº1. 48 Esse tipo de transmissão, do batismo de aviões adquiridos com recursos da
Fraternidade brasileira, era uma estratégia utilizada para ganhar cada vez mais a simpatia
dos doadores e aumentar sua colaboração para a causa. 49 Sempre que uma nova aeronave
era incorporada ao Esquadrão de foles brasileiros, seu batismo era irradiado para a
América do Sul e anunciado nos jornais para que todos pudessem acompanhar.
Outro exemplo foi a proposta de envio, para Buenos Aires e Rio de Janeiro, de
duas porções de asas de uma aeronave alemã destruída para que a mesma fosse utilizada
como estímulo para o aumento das arrecadações. As duas peças tinham aproximadamente
3,6 x 3,6 polegadas e permaneceram por algum tempo aguardando instruções para o envio
às capitais. 50 As peças foram despachadas para Buenos Aires e, posteriormente, foi feita
uma solicitação para que as mesmas também pudessem vir para o Rio de Janeiro.
A Fraternidade do Fole desembarca no Brasil
A Fraternidade do Fole chegou ao Brasil a partir de uma visita de Tom Sloper à
Argentina onde conheceu a iniciativa51, um mês após sua criação naquele país. Sloper era
47 NAUK – AIR 2.5480 - Fellowship of the bellows in Brazil. Gift of Aircraft. From H. M. Attaché, Britsh
Embassy, Rio de Janeiro To Assistent Chief of Air Staff. (Inteligence) Air Ministry, London, Subject
Fellowship of the Bellows. 48 “FRATERNIDADE DO FOLE” – Irradiação da entrevista do piloto do nosso “Spitifire” Fole Brasil nº1”.
Correio da Manhã, 06 de janeiro de 1943 e RADIO, Várias. Correio da Manhã, 08 de janeiro de 1943. 49 “FRATERNIDADE do Fole. Aviso a todos os felobelistas”. Correio da Manhã, 10 de abril de 1943. 50 Cf. NAUK, AIR 2.5480. ROYAL AIR FORCE. CS 17184. 5 th July, 1943. Fellowship of the Bellows
in Brazil and Argentina. Não temos certeza se as peças foram realmente embarcadas. Informação ainda a
ser conferida. 51 Cf. Aviões para a RAF e para a FAB. Correio da Manhã, 05 set 1942.
um proeminente comerciante carioca, dono das Casas Sloper, famosa loja de
departamentos no Rio de Janeiro. Descendente de britânicos, TomSloper se identificou
com a proposta e, assim que retornou ao país, iniciou campanha semelhante.
Devido ao momento político da época, - o Brasil adotara a política de neutralidade
na Segunda Guerra, - o começo da organização foi um pouco difícil, mas ainda assim, o
esquema foi desenvolvido entre membros da comunidade britânica brasileira e seus
amigos, que incluía muitos proeminentes cidadãos. 52 Sloper uniu-se a Lionel Cole e
Thomas Impey, ambos membros da diretoria da Companhia Telefônica Brasileira (CTB)
e juntos, começaram a divulgar a campanha e angariar cada vez mais adeptos no país. I
Em janeiro de 1942, o Brasil rompeu relações diplomáticas com a Alemanha e a
Itália e a situação da organização também começou a mudar. Em abril daquele mesmo
ano, a Fraternidade do Fole requeria seu status de sociedade civil, obtido com a aprovação
do governo brasileiro e em abril de 1942 foi publicado no Diário Oficial da União os
Estatutos de formação da Fraternidade do Fole, conforme informação abaixo.
Sociedade Civil fundada em 20 de abril de 1942, com sede e foro nesta
cidade do Rio de Janeiro, por tempo indeterminado de duração e
número de sócios não limitado. Tem por fim angariar fundos para
aquisição de aviões destinados à defesa da Grã-Bretanha, sendo a
receita constituída pelas contribuições expontâneas (sic) das pessoas
que se inscreverem na Sociedade. A Sociedade tem um Conselho de
Administração permanente, constituído de dez membros, dentre os
quais é escolhida a Diretoria, composta no mínimo de três e no máximo
de seis diretores, funcionando os restantes membros do Conselho como
fiscais. A assinatura de dois diretores obriga a sociedade para todos os
efeitos, não respondendo os associados subsidiariamente pelas
obrigações contraídas pela mesma. Os estatutos não poderão ser
reformados antes de cinco anos, salvo para atender exigências legais
ou motivo de absoluta força maior. Em caso de dissolução, o
patrimônio social será doado a um instituto brasileiro de caridade, a
critério da diretoria. A diretoria atual consta dos estatutos.
Rio de Janeiro, 22 de abril de 1942. – T. E. R. Impey. – T. W. Sloper
Junior. – Lionel Robert Crosbie Cole.
52 Cf. AIR 271158. London, 6th February, 1943. Relatório sobre as atividades da Fraterinidade do Fole
Brasil.
(N. 6697 – 24-4-42 – 28$6).53
Ao registrar seu Estatuto, a organização tornava-se oficial e atraía ainda mais
participantes para sua causa. Até então, operava sem esse status e isso deveu-se a
recomendações do Consul Geral britânico, pois devido a política de neutralidade
brasileira, era recomendável que não houvesse publicidade na imprensa ou através da
BBC de Londres, que transmitia informações para o Brasil dos trabalhos efetuados pelo
que ele denominou de conselhos comunitários. As informações deveriam seguir para o
escritório de assuntos estrangeiros. 54
Para tornar-se sócio, o futuro contribuinte deveria comparecer à sede da
organização, na Travessa do Ouvidor, e adquirir uma caderneta da sociedade, que custava
5$000 (cinco mil réis).55 Na mesma constavam informações sobre o associado tais como
seu nome e endereço e nela todos os valores doados eram devidamente registrados.
As contribuições para a Fraternidade ocorriam em nosso país da mesma forma
que em todos os outros: para cada avião derrubado, o membro da fraternidade efetuava
uma doação. Mensalmente, jornais de grande circulação56 noticiavam o número de aviões
abatidos, também chamados de SCORE (placar) e informavam acerca dos valores que
deveriam ser doados e a data limite para o recolhimento das doações. Os contribuintes se
dirigiam à instituição e efetuavam seus pagamentos, consolidando suas doações para
aquele período. Inicialmente, a proposta era ter apenas súditos britânicos entre os
doadores, mas as dimensões adquiridas pela campanha e o desejo de angariar mais
recursos fez com que a mesma fosse disponibilizada para adesão por qualquer cidadão
que desejasse contribuir. 57 A mudança de categoria na Fraternidade do Fole acontece da
53 Cf. FRATERNIDADE DO FOLE. EXTRATO DOS ESTATUTOS. Diário Oficial (Seção) Sábado 25
Abril de 1942. 54 Cf. NAUK T 160.1125 – Financial Assistance to U.K by British Comunities Abroud. 55 Cf. Soprando, os felobelistas trabalham pela democracia. Diretrizes, 15 out 1942, p.11 56 Como exemplo podemos citar o Correio da Manhã, Diário de Notícias, Diário de Notícias, Folha de
São Paulo, Voz do Povo, O Globo, 57 Cf. A Aviação. Heróis que falam de si mesmos. Correio da Manhã, 11 de abril de 1943.
seguinte maneira: após o indivíduo entrar na organização e um determinado quantitativo
de aviões fossem derrubados e o mesmo tiver contribuído com o valor pertinente a esse
quantitativo de aeronaves, ele alcançaria um determinado posto na organização. 58
A primeira doação era de 5.000 cruzeiros e correspondia a filiação dos
contribuintes à organização e ao preço da caderneta. Ao comprar, o felobelistas tornava-
se um SOPRO, seguindo-se a ordem abaixo:
QUANTIDADE DE AVIÕES
ABATIDOS
GRAU NA ORGANIZAÇÃO
1000 SOPRO
2.500 VENDAVAL
5.000 FURACÃO
6.500 TORNADO
8.000 TUFÃO
10.000 ORDEM DO FOLE
Após chegar a ordem do fole, o contribuinte subia mais degraus até atingir o grau
ouro, material do qual seu pin, uma espécie de broche a ser colocado de forma visível em
sua vestimenta, era confeccionado. Ao alcançar determinado número de contribuições,
o membro da Fraternidade mudava de status e recebia um novo pin para colocar em sua
lapela, que o identificava entre seus pares. O pin usado por homens e mulheres era
diferente devido a forma como ele era preso na vestimenta, mas a mudança de status e o
recebimento de novos pins funcionava da mesma forma tanto para um grupo quanto para
outro.
As informações referentes aos valores doados e grau do contribuinte na
Fraternidade eram anotados na caderneta que o mesmo adquiria, bem como lhe era
entregue seu pin, que conforme citado anteriormente, deveria estar sempre visível e ser
motivo de orgulho para o participante e status na organização.
58 Idem, p.7
A partir daquele momento e diante do bom desenvolvimento e aceitação da
organização, toda a campanha, que até então havia sido conduzida em inglês, passou a
ser feita em língua portuguesa. Ao invés de simples imitações dos folhetos argentinos, a
Fraternidade do Fole brasileira criou folhetos com linguagens próprias. Foi iniciada toda
uma propaganda direcionada para a sociedade brasileira e vários centros de operação
foram criados em diferentes cidades do Brasil.59
Em agosto de 1942, submarinos alemães e italianos torpedearam navios de
passageiros na costa brasileira, causando grande número de mortos e intensa comoção
nacional (SILVA, 2005). Em 25 de agosto de 1942, a diretoria da organização se reuniu
e decidiu alterar seus estatutos. Os recursos arrecadados passariam a ser divididos em
partes iguais entre a RAF e a Força Aérea Brasileira. Ao final daquele mês, o Brasil
declarou estado de guerra em território nacional.60
A decisão de dividir as contribuições entre a RAF e a FAB foi considerada um
bom método para promover ainda mais a campanha. Os pedidos de adesão aumentaram
para a casa das centenas ao dia, alcançando um público cada vez maior. Em fevereiro de
1943, a Fraternidade do Fole contava com aproximadamente 28.000 membros e a
Comunidade da Campanha do Fole, em São Paulo, tinha 11.500 membros, totalizando
aproximadamente 40.000 membros. 61
As remessas brasileiras para a RAF eram feitas mensalmente em forma de cheques
e algumas dessas entregas eram fotografadas e enviadas ao Brasil para que fossem
disponibilizadas à imprensa. Cem por cento do dinheiro arrecadado era aplicado no “Mais
Força Aérea” e também para pagamento de todas as despesas como livretos, emblemas,
pagamento de salários, etc.62 As prestações de contas da organização eram apresentadas
em forma de balancete e anualmente publicados no Diário Oficial da União. Incluíam os
custos com a organização, confecção de emblemas, folhetos, de brindes para serem
59 Ibidem. 60 Cf. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 10 setembro 1942. 61 Cf. AIR 271158. London, 6th February, 1943. Op. Cit. 62 Idem.
vendidos, gastos com propaganda, salários, aluguéis, material de consumo e despesas
mensais, e, também, havia a receita decorrente de juros bancários, o que lhes garantia
razoável soma de recursos.
Com a declaração de guerra do país ao Eixo, o entusiasmo dos brasileiros
aumentou significativamente e a organização se aproveitou disso. Os jornais foram
apontados como a melhor ferramenta de propaganda para a disseminação da proposta de
contribuições. A imprensa foi de grande ajuda assim como o Departamento de Imprensa
e Propaganda, junto com estações de rádio e imprensas locais. Essas atividades e as que
ocorriam de forma esporádica, no entanto, não foram consideradas suficientes para a
organização. Era necessário que todos os contribuintes sentissem o desejo de pagar sua
contribuição mensal porque eles, ao mesmo tempo formavam a base da organização e
eram a causa dela. Estas duas condições eram as premissas básicas de todo o esforço de
propaganda do esquema. 63
O número de sócios da organização no Brasil cresceu mensalmente e, após a
entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, o número de contribuintes aumentou ainda
mais. Isso pode ser explicado pelo elevado grau de comoção da sociedade brasileira diante
dos atentados ocorridos no país em agosto de 1942 e que estamparam as capas dos
principais jornais do país. Nota-se ainda que, aos membros da Fraternidade do Fole do
Rio de Janeiro somavam-se os de outros Estados enquanto os de São Paulo apresentam-
se separados. 64
As cadernetas
63 Cf. AIR 271158. London, 6th February, 1943. Relatório sobre as atividades da Fraterinidade do Fole
Brasil. Op. Cit. 64 Idem, p. 7
Os valores doados eram anotados em uma caderneta de acordo com o mês, o placar e
a posição que o doador alcançava dentro da organização e a partir dessas informações,
sua colocação dentro da Fraternidade passava por avanços. Através da caderneta,
identificamos que a organização objetivava estimular o felobelista a manter suas doações
sempre, ainda que não pudesse, por questões financeiras, os valores pertinentes ao score
daquele período. Também reforçava que o contribuinte não deveria deixar de contribuir
mesmo que não fosse com os valores pertinentes ao score do referido mês.
Uma das cadernetas utilizadas nessa pesquisa estava inglês e trazia um conjunto de
dicas para futuros contribuintes, denominados Furacões. Inicialmente, era um
cumprimento pela entrada em um seleto grupo que estava sobre as nuvens e sua altitude
era de 5000 cents acima dos outros. Afirmava-se que holofotes estariam direcionados para
os participantes e um bom fellowship faria de tudo para alcançar a ordem do fole. O
contribuinte então deveria estar atento à pontuação (scores –número de aviões abatidos)
e continuar sua escalada. A ideia de que a contribuição de centavos era extremamente
importante tornou-se um argumento forte para os felobelistas, estando presentes na
caderneta de forma clara e precisa.
Também a astronomia e astrologia foram utilizadas como forma de inserir ainda
mais o contribuinte no universo da organização. No caso da astronomia, havia o estímulo
para que os contribuintes adquirissem um telescópio e observassem o céu, enxergando a
luz da lua, a aurora boreal e quaisquer outros corpos celestes. Igualmente importantes
eram os estudos de astrologia, uma ciência de saber o que estava no vento e que consistia
em ter nascido sob uma estrela da sorte. Devido à grande expansão dos céus, astrólogos
seriam geralmente homens do time do colégio e, as vezes, vulgarmente referidos como
neckromancers65.
Havia ainda referência aos signos do zodíaco, apontando as características de cada
um, suas possíveis profissões e sugestões de vida para os participantes, mas sem fazer
menção direta às doações. Acreditamos que essa era uma forma de tornar o processo de
participação na fraternidade mais “divertido”, atraindo também os mais jovens e
65 De necromancia, arte de adivinhação.
reforçando o hábito da leitura. A caderneta apresentava-se em dois idiomas, com o
objetivo de alcançar os que dominassem o inglês e os que compreendiam o espanhol.
Utilizando uma linguagem simples, mas carregada de simbologias para que o
contribuinte se sentisse parte do grupo, os “agentes do fole” alertavam constantemente
para a necessidade de manutenção das contribuições, uma forma de não deixar que os
valores “despencassem para o abismo, engatando os foles ao furacão”.
Os felobelistas – denominação dada aos que participavam da organização - tinham
uma forma de saudação muito peculiar, utilizada sempre que os mesmos se encontravam
em quaisquer ocasiões. Giravam o dedo indicador da mão direita rapidamente para cima
numa série de parafusos dos Spitfires”, afim de evitar qualquer similaridade com os
cumprimentos fascistas e arranjado de modo que o braço não subisse muito alto. 66
As primeiras publicações sobre o número de aviões inimigos abatidos pelos
ingleses começaram a aparecer na imprensa brasileira em junho de 1942, seguindo-se mês
a mês de forma a divulgar os scores publicamente. Essas publicações eram uma forma de
dar visibilidade à organização e ao mesmo tempo, informar para os contribuintes a
quantidade de aviões derrubados e permitir que ele calculasse o valor de suas
contribuições. Ao se dirigir à sede da organização, o felobelista já sabia o valor que
deveria levar. Destacamos que até abril de 1943, a Fraternidade do Fole havia doado cerca
de 250 mil libras esterlinas somente para a RAF, o que demonstra o alcance da
organização entre os membros brasileiros.67
A primeira contribuição para a FAB ocorreu em 13 de outubro de 1942, em
cerimônia ocorrida na nova sede da organização, situada no Edifício da Associação dos
Empregados do Comércio. A mesma iniciou-se com o Brigadeiro Armando Trompovsky,
chefe do Estado Maior da Aeronáutica, sendo convidado à cortar as fitas com as cores da
bandeira nacional, seguindo-se um discurso de Edgar Beauclair, um dos organizadores da
Fraternidade do Fole, onde o mesmo reforçou os objetivos da organização e sua luta pela
66 Idem. 67 Ibidem.
liberdade e paz. Logo após o Visconde Carlow, adido aeronáutico da Embaixada
Britânica no Rio de Janeiro, entregou ao brigadeiro Trompovsky um cheque no valor de
60.000 cruzeiros e o mesmo agradeceu. 68
A organização passou a atuar abertamente e dialogava com diversos atores estatais
e figuras importantes da sociedade brasileira. Foi ofertado à Darcy Vargas um broche
emblema da organização feito em platina e ouro e lhe entregue pela esposa do Ministro
da Aeronáutica, Salgado Filho69, agraciando-lhe com o título de sócia honorária da
organização, que passou a contar com três pessoas nessa condição: Franklin Delano
Roosevelt, Winston Churcill e Darcy. Na cerimônia de entrega, a mesma fez questão de
afirmar que, como todos os sócios da organização, contribuía todo mês com valor
correspondente ao número de aviões abatidos. 70
A homenagem concedida a Darcy é importante para dimensionarmos o papel
ocupado pela Fraternidade do Fole do Brasil diante das outras fraternidades e o caráter
“oficial” que a organização passa a ter afinal, Darcy Vargas era esposa de Getúlio e sua
presença como sócia honorária era o que podemos caracterizar como o mais alto grau
alcançado dentro da fraternidade e que não dependia de valores de contribuição. Na época
de sua condecoração, o jornal A Cruz relatou que o número de contribuintes da
organização aumentava na proporção de 100 novos associados por dia.
Assim, a organização passou a envolver importantes atores da sociedade civil
brasileira e não apenas descendentes de britânicos. Qualquer um que desejasse, poderia
contribuir. Ofertar um pin especial para Darcy era o mesmo que falar com todas as
mulheres do país e usar a primeira dama como exemplo reforçava a ideia de que todos,
68 A Fraternidade do Fole coopera com a FAB. A entrega da sua primeira contribuição para a nossa
aviação. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 14 out 1942, pg 3. Disponível em
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=089842_05&PagFis=13830 . Acesso em 03 fev 2016 69 Oferta do emblema da Fraternidade do Fole á sra. Darcy Vargas. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 08
dez 1942, p. 9. Disponível em
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=089842_05&PagFis=14402. Acesso em 03 fev
2016. 70 Idem.
sem distinção, deveriam se envolver na organização. O Brasil estava em guerra contra o
Eixo e as contribuições, a partir daquele momento, não eram apenas para auxiliar os
ingleses na luta mas, também, para fortalecer a luta dos brasileiros contra as agressões
ocorridas em águas nacionais contra navios de passageiros.
Para angariar novos membros, a organização utilizava propagandas em jornais e
revistas, enfatizando a importância da luta pela liberdade e o significado da contribuição
de cada indivíduo para a causa, o que aumentava consideravelmente o número de pessoas
envolvidas na campanha. Em reportagem de jornal O Globo Esportivo, vemos um convite
para a participação de voluntários na “Campanha do Goal”. A mesma funcionava dentro
do sistema da Fraternidade do fole e os que aderissem contribuiriam com cinco cruzeiros
para cada gol efetuado pelos jogadores durante a partida e o total obtido seria distribuído
entre os jogadores que participaram da partida. O uso da campanha como referência
demonstra o alcance da mesma na sociedade do Rio de Janeiro.
A Fraternidade do Fole do Rio de Janeiro não foi a única existente em nosso país,
conforme já citado anteriormente. A Comunidade do Fole de São Paulo também cresceu
e colaborou intensamente, conforme percebemos ao analisar a documentação britânica.
No entanto, nos balancetes oficiais apresentados nos DOUs, diversos Estados não citados
nos documentos britânicos aparecem como contribuintes também como contribuintes.
Doações foram efetuadas pelos Estados de Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais,
Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, sendo o total das
arrecadações distribuído entre a RAF e a FAB, o que aponta para uma interligação entre
os Estados e a Fraternidade do Rio de Janeiro. A de São Paulo recebeu o nome de
Comunidade do Fole e as pesquisas desenvolvidas até o presente momento apontam para
o fato de que as doações eram recolhidas dentro do próprio Estado e doadas para uma
comunidade central, que então efetuava o repasse para o comandante da 4ª Zona Aérea
de São Paulo, para que as doações fossem repassadas para a RAF e para a FAB. Em abril
de 1943, o então comandante da 4ª Zona Aérea, brigadeiro do ar Gervasio Duncan,
recebeu da Comunidade do Fole paulista um cheque no valor de cento e vinte mil
cruzeiros, que foram doados para a FAB.71
Em reportagem do Diário de Notícias, datada de 11 de agosto de 1944, afirma-se
que a Fraternidade de São Paulo entregou ao ministro da Aeronáutica, Salgado Filho, sua
décima contribuição para a FAB, cento e sessenta mil cruzeiros, que somadas às
contribuições anteriores, perfez um total de um milhão, quatrocentos e setenta mil
cruzeiros. Uma outra quantia igual foi doada pela Fraternidade de São Paulo para a RAF.
O referido cheque foi entregue pelo Presidente da Fraternidade de São Paulo, R. M. Pryor,
constando ainda na reportagem os nomes de Odilon de Souza, C. O. Frank e T. W. S.
Inight, apontados como diretores do Fole de São Paulo.72 Em outra reportagem, sem data,
identificamos nova doação da Fraternidade de São Paulo à RAF e a FAB.
A Fraternidade de São Paulo apresentava diretores distintos da do Rio de Janeiro.
Junte-se à isso o fato de que essa fraternidade não consta dos balancetes dos Diários
Oficiais identificados nessa pesquisa ao lado de outros estados que colaboraram com o
esforço de guerra dos britânicos. Acreditamos que isso possa estar relacionado a um certo
grau de independência que o Estado de São Paulo procurava ter em relação ao governo
federal, montando uma estrutura de doações própria73 o que pode estar relacionado ao
contexto político da época e as divergências existentes entre o Estado de São Paulo e o
Governo Federal. Apesar disso, a parcela de arrecadação destinada à FAB foi entregue
diretamente nas mãos do Ministro da Aeronáutica, Salgado Filho, e do Brigadeiro
Trompovsky.
71 Cf. “Cr$ 120.000,00 do “Fole” paulista para a FAB. Diário da Noite, 02 abr 1943. 72 Cf. “MAIS cento e sessenta mil cruzeiros do Fole para a F.A.B – São Paulo”. Diário da Noite, 11 ago
1944. Na referida reportagem, aparece uma foto dos membros da Fraternidade de São Paulo entregando o
cheque ao Ministro Salgado Filho. 73 Em todos os periódicos consultados para essa pesquisa nos quais apareciam os nomes das regiões
brasileiras que contribuíam para a causa, São Paulo não aparecia.
Em julho de 1942 o coronel Llowellin, Ministro da Produção Aeronáutica
britânica, recebeu da Fraternidade do Fole do Rio de Janeiro um cheque no valor de 2.500
libras esterlinas e em resposta enviou um telegrama acusando o recebimento do valor e
agradecendo a todos os sócios pelo apoio à causa.74 Em resposta, Llowellin enviou um
telegrama informando:
Grato, acuso o recebimento de sua primeira remessa direta de 2.500
libras para a produção aeronáutica. Queiram transmitir os meus mais
calorosos agradecimentos a todos os seus sócios pela sua generosidade,
a qual exprime a confiança no poder da “Royal Air Force” e nos anima
na nossa tarefa de lhe fornecer os aviões de que necessita.75
Em 22 de agosto de 1942, o jornal Correio da Manhã comentou acerca do envio,
para o Ministro da Produção Aeronáutica, Coronel Llowellin, o segundo cheque oriundo
das arrecadações da Fraternidade do Fole. Em resposta, o ministro enviou um telegrama
de agradecimento pela remessa de 2.500 libras para a organização, felicitando todos os
sócios pelo resultado da arrecadação. 76
Identificamos os primeiros pedidos de contribuições nos jornais para a RAF e a
FAB em agosto de 1942. A chamada afirmava o Brasil estava em guerra e que esse
acontecimento apressaria a vitória da causa de todos os homens livres a Fraternidade
havia alterado seus estatutos para contribuir com a RAF e a FAB. 77 No entanto não
podemos deixar de ressaltar, como colocado aqui em páginas anteriores, que o pedido
para alteração dos estatutos da Fraternidade é de abril de 1942 e não encontramos
explicações para o fato acima relatado.
Em dezembro de 1942, Stafford Cripps enviou à Fraternidade do Rio de Janeiro
um telegrama onde agradecia a contribuição de 2.500 libras ofertada para a RAF. Segundo
74 UM CHEQUE de 2500 libras esterlinos da “Fraternidade do Fole”. Correio da Manhã, Rio de Janeiro,
29 jul 1942, pg. 3. 75 A PRIMEIRA contribuição dos brasileiros para a RAF. Folha da Manhã, São Paulo, 29 jul 1942.
Disponível em http://acervo.folha.uol.com.br/fdm/1942/07/29/1/. Acesso em 03 fev 1942. 76 NOVA contribuição dos amigos da RAF, no Brasil. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 22 ago. 1942,
pg. 5. 77 UNIDOS pelo mesmo ideal. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 29 ago 1942, pg. não identificada.
ele, essa era uma bela homenagem e uma inspiração para a continuidade na derrubada de
aviões. 78
Em 05 de setembro de 1942, uma ampla reportagem no jornal Correio da Manhã
procurava explicar detalhadamente o que era a organização, seus objetivos e os critérios
para a ascensão dentro da Fraternidade. A reportagem destacou que cerca de dez cidadãos
brasileiros e ingleses, quase todos ocupando posições de destaque no comércio, eram os
responsáveis por organizar os trabalhos e encaminhar as arrecadações para seu destino e
que nenhum deles recebia algum tipo de remuneração. Destacou ainda que o escritório da
organização se mantinha com a taxa de 5$000 (cinco mil réis) paga pelo sócio no
momento da inscrição na Fraternidade do Fole. As outras contribuições eram todas
destinadas à causa da organização.79 A mesma reportagem destacou ainda que a
Fraternidade do Fole era uma nova organização oficialmente legalizada no Brasil.80
Os recursos doados pelos brasileiros para a RAF foram utilizados na aquisição de
aviões, que posteriormente foram incorporados ao Esquadrão 193. A aquisição dessas
aeronaves e seu batismo foram amplamente noticiadas pela imprensa, tornando-se motivo
de orgulho para os felobelistas de nosso país.
No final do mês de outubro de 1942, a imprensa brasileira noticiou a entrega dos
dois primeiros aviões adquiridos com os recursos arrecadados pela Fraternidade
brasileira. Eram duas aeronaves modelo Spitfire. A entrega dos aviões foi feita em uma
base da RAF nos arredores de Londres, estando presentes além do embaixador brasileiro
em Londres, vários oficiais superiores da RAF, todo o pessoal da embaixada e várias
autoridades britânicas. Ao chegar no local, o embaixador passou por uma guarda de honra
formada no local, a qual passou em revista, e, após, dirigiu-se para um grande hangar
78 STAFFORD Cripps agradece à Fraternidade do Fole do Rio. Folha da Manhã, São Paulo, 30 dez 1942.
Disponível em http://acervo.folha.uol.com.br/fdm/1942/12/31/1/. Acesso em 03 fev 2016. 79 Aviões para a FAB e para a RAF. A “Fraternidade do Fole”, uma campanha que se desenvolve na
proporção dos fracassos eixistas. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 05 set 1942, p. 3. Dispoível em
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=089842_05&PagFis=13406. Acesso em 03 fev
2016. 80 Idem.
onde os dois spitfires estavam postados para a cerimônia.81 Pilotos de caça de todo o
império britânico estavam no local, junto à vários outros oficiais superiores da RAF e
membros da delegação brasileira de imprensa que estavam no país 82. O embaixador,
falando em português declarou:
“Tenho novamente a honra de fazer entrega à RAF de dois aparelhos
construídos e adquiridos com o produto das subscrições feitas em meu
país. Este fato ainda uma vez causou agradável impressão na Inglaterra
e contribue para afirmar o nosso espírito de amizade e de colaboração
nesta campanha em que estamos empenhados contra o inimigo comum.
Estou certo de que esses aviões, da mesma forma que os precedentes,
inscrever-se-ão entre aqueles que honraram seus nomes heroicos (sic) e
gloriosos e no ardor das batalhas em curso, serão apontados como
símbolo da participação direta de nossa pátria, contribuindo
eficazmente para a vitória da causa que defendemos com todo
entusiasmo e que deve assegurar a liberdade do mundo. Esses
“Spitfires” representam mais um elo da verdadeira amizade e aliança
que une os nossos dois países nestes tempos duros. Que sejam
afortunados nos combates como seus predecessores e que seus pilotos
tenham sempre aterrisagens felizes. “83
Em resposta, o Comandante de Aeronáutica, Harccurt Smith, agradeceu ao
embaixador e aos doadores, pronunciando as seguintes palavras:
“Expresso o nosso grande apreço por estes presentes que representam
expressões da nossa antiga amizade e aliança. Estas unidades estão
agora nas mãos de uma famosa esquadrilha de caça, que possue uma
crônica magnífica e confio que hão de haver-se tão bem como os seus
predecessores nos combates que se nos anteparam. “84
A Fraternidade do Fole paulista doou dois aviões, o Bandeirantes e o Guarani. O
batismo acima citado é do Guarani. O bandeirante foi uma aeronave adquirida com
recursos oriundos da Comunidade do Fole de São Paulo.
81 Entregas á RAF de 2 “spitfires” oferecidos pelo Brasil. Correio Paulistano, São Paulo, 30 out 1942.
Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=090972_09&PagFis=12797. Acesso
em 03 fev 2016. 82 Idem. 83 Ibidem. 84 ENTREGAS á RAF de 2 spitfires “oferecidos” pelo Brsil. Op. Cit.
Acerca da Fraternidade, Alfredo Pessoa, chefe da delegação de jornalistas
brasileiros na Inglaterra, entregou à Churchill uma carta da organização e um exemplar
de seus estatutos. Churchill pediu detalhes sobre a instituição, que foram fornecidos tanto
por Pessoa quanto pelo embaixador Moniz Aragão.85 Os foles brasileiros começavam a
alçar novos voos.
As aeronaves doadas pela Fraternidade do Fole brasileira foram incorporadas ao
Esquadrão 193, cuja criação remonta aos anos finais da Primeira Guerra Mundial,
constituindo-se como um esquadrão de treinamento da RAF. Foi formado em Amriya, no
Egito, em 09 de agosto de 1917 e era equipado com os lentos, mas estáveis Airco DH¨,
aeronaves de treinamento e foi dissolvido um ano depois, em 22 de julho de 1919, sendo
oficialmente retomado em 18 de dezembro de 1942, em Harrowbeer, um campo de
aviação da RAF situado em Denvor, próximo a cidade de Yelvelton, na Inglaterra.
Em correspondência secreta enviada do Quartel General Grupo Nº 10 para o
Esquadrão 193, datada de 12 de outubro de 1943 e denominada “Presentation or
Aircfraft”, G. Rosullivan86 afirmou que recebeu informações do Headquartes, Fighter
Command, de que dois ramos da Fraternidade do Fole brasileiras, a de São Paulo e Rio
de Janeiro, teriam subscrições de fundos suficientes para alocar aviões em um esquadrão
e o selecionado seria o Esquadrão Nº 193. Informou ainda que seriam tomadas medidas
entre o Ministério do Ar e a Embaixada do Brasil para uma cerimônia que ocorreria no
sábado, 16 de outubro, em Harrowbeer, onde o subsecretário de Estado, Lord Sherwood,
apresentaria as aeronaves para a esquadra e o embaixador brasileiro seria convidado a
85 CHURCHILL interessado pela “Fraternidade do Fole” do Brasil. Correio Paulistano, São Paulo, 06 dez
1942. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=090972_09&PagFis=12870.
Acesso em 03 fev 1942. 86 Deduzimos ser este o nome que aparece assinando a carta. Pesquisas iniciais ainda não nos permitiram
confirmar essa informação.
batizá-las. 87 No dia 16 de outubro, ocorreu a entrega de 9 Typhoons, identificados como
Bellows Brazil. Era o início da atividade dos foles brasileiros, que passaram a compor
oficialmente o Esquadrão 193. Os aviões doados foram assim identificados:
Bellows Fund, Brazil, South America. £45,000. [Presented 9 Typhoons to Nº193
(Fellowship of the Bellows) Sqn, Harrowbeer in 1943].
JP784 BELLOWS BRAZIL I
JP918 BELLOWS BRASIL II
? BELLOWS BRAZIL III TO VIII
EK172 BELLOWS BRAZIL IX 88
Rio de Janeiro Aircraft Fund, Brazil (British Community), South America. [The British
Community in Rio de Janeiro subscribed £40,137 for aircraft, including four from the
“Women’s War Effort”]
BM161 BOTAFOGO*
JG875 BEM-TE-VI*
? BELO HORIZONTE
? CARIOCA*
? CASCADURA*
? FLUMINENSE
? PALMEIRA
? SERRA DA CARIOCA89
Sobre o Bellow Brazil Nº 1, BS545, este foi a primeira aeronave doada pelos
brasileiros. Ele tinha a palavra Brazil sobre o símbolo do Fole. Após a guerra, a aeronave
passou por vários esquadrões até ser vendido para o Armée de l’Air em 24 de maio de
1946, servindo pelo BE708 Meknes (Código B), caindo em 19 de maio de 1949 e sendo
então destruído. 90
87 Cf. NAUK. AIR 27/1158. SECRET. From Headquarters, Nº10 Group. To Nº 193 Squadron, R.A.F.
Station, Harrowbeer. “Presentation of Aircraft”. 12 th October, 1943. Ref. 10G/S.9163/1/ORG/5. 88 BOOT, Henry, STURTIVANT, Ray, ISSO. Gifts of War. Spitifires and other Presentation Aircraft in
Two World Wars. Published in the United Kingdom by Air-Britain (Historians) Ltd, 2005, p. não
identificada. 89 Idem. 90 Ibidem, p. 62
Acerca dos Bellows Brazil II e III, não conseguimos, até o presente momento,
encontrar informações que nos auxiliassem em suas identificações.
Sobre as aeronaves Bellow Brazil IV e V , as mesmas foram batizadas em abril
de 1943, contando com a presença do Ministro da Aeronáutica, Archibald Sinclair, e do
embaixador Moniz Aragão, que na ocasião enfatizou que o Brasil já havia contribuído
com a quantia de 250 mil libras esterlinas e naquela semana foram enviadas mais 4 mil
libras para a produção aeronáutica.91
Ainda nesse período foi inaugurada a nova sede da Fraternidade do Fole,
localizada no edifício da Associação dos Empregados do Comércio. A cerimônia contou
com a presença do Brigadeiro Armando Trowpovsky, do Ministro da Aeronáutica
Joaquim Pedro Salgado Filho, do diretor do DIP Major Coelho dos Reis e do capitão
Dutra Menezes, diretor da Divisão de Rádio.92 Cinejornal do DIP produzido em 194293,
registrou o evento e mostrou imagens da nova sede da organização. Na sala principal
havia uma foto do presidente Getúlio Vargas, um símbolo da RAF e um da FAB, junto a
imagens de aviões na parede, que cremos ser dos aviões doados à RAF e batizados na
Inglaterra. Nessa cerimônia foi entregue a primeira contribuição da Fraternidade à FAB.
Em outra cena do cinejornal vemos felobelistas contribuindo com a organização.
Identificamos também cadernetas em cima do balcão na sede e intenso movimento de
contribuintes.94
Em outro cinejornal, encontramos imagens do batismo do bombardeiro Britânia I,
doado adquirido com recursos oriundos da Fraternidade do Fole e doado para a Força
Aérea Brasileira. Seu batismo contou com a presença do embaixador britânico no Brasil,
Noel Charles, do ministro da Aeronáutica Salgado Filho, e autoridades da Força Aérea
91 BRAZILIAN bombed Berlin. Times, 10 apr 1943. Fellowship of the Bellows in Brazil. Gift or Aircraft.
C.S. 17184. NAUK AIR 2.5480 92 MAIS AVIÕES para a vitória. Diário de Notícias, 06 out 1942, pg 3 93 “O ESFORÇO para a vitória comum – Rio: A Fraternidade do Fole coopera com a F.A.B”.
CINEJORNAL Brasileiro. V. 2, Nº. 158, Cinejornal/Sonoro/Não ficção. 29 out 1942. Rio de Janeiro. DF.
Cinemateca de São Paulo. Filmografia ID=014327 94 Idem.
Brasileira.95 Os aviões de tipo bombardeiros leves doados para a FAB seriam utilizados
para patrulhar as costas brasileiras em busca de submarinos inimigos.96
O registro das atividades da Fraternidade exibidas nos cinejornais era um
demonstrativo claro da intenção do governo de dar visibilidade a sua parceria com os
britânicos na luta pela vitória e consolidar a posição do governo brasileiro ao lado dos
aliados.
O envio de fotografias dos batismos das aeronaves para o Brasil era um meio de
reforçar a importância das contribuições, divulgar as ações do Ministério da Produção
Aeronáutica e, ao mesmo tempo, servir como elemento de propaganda para a organização.
Ao divulgar as imagens na imprensa, os organizadores reforçavam os fins aos quais o
dinheiro arrecadado era destinado.
Algumas destas fotografias eram enviadas diretamente para o embaixador Moniz
de Aragão. Em correspondência enviada ao líder o esquadrão 193 Petre, Aragão informou
que havia ficado muito satisfeito em receber uma carta escrita pelo tenente Beake a pedido
de Petre, incluídas na mesma três fotografias do Esquadrão e informando que duas delas
seriam enviadas para a Fraternidade do Fole do Brasil.97 Em outra correspondência.
Moniz de Aragão escreveu para David Ross, outro líder do esquadrão, lamentando saber
das perdas do 193 e informou saber ser impossível visitar o esquadrão em seu quartel.
Informou ainda esperar que mesmo diante das dificuldades ocasionadas pelas ações no
conflito, ele não deixaria de notificar sobre as atividades do esquadrão. O embaixador
encerrou informando estar ansioso para conhecê-lo em um futuro próximo e desejando
tudo de bom para o esquadrão. 98
95 “ASAS para o Brasil – Rio: o batismo do Bombardeiro Britania I. Cinejornal brasileiro. V. 2, Nº 190.
Cinejornal/Sonoro/Não ficção. Rio de Janeiro, 1943, DF. ID=014359. Disponível para consulta em
Cinemateca Brasileira. São Paulo. 96 Cf. CHRISTENING of aircraft by the secretary of State for air and his excellency the brazilian
ambassador at Hendon on April 10th 193. Fellowship of the Bellows in Brazil. Gift or Aircraft. C.S.
17184. Op Cit 97 Cf. AIR/27/1158. Londres, 08 dezembro 1943. Carta enviada pelo Embaixador Moniz de Aragão para
Squadron Leader G.W. Petre. 98 Idem. Londres, 03 abril 1944. Carta enviada por Moniz Aragão para Squadron Leader David G. Ross.
A esposa de Moniz Aragão também escreve para Petre desejando-lhe feliz natal e
informando que estará enviando um pequeno presente de natal para o esquadrão e seus
melhors desejos e pensamentos. 99 Em fevereiro de 1944, nova carta de Isabel Moniz de
Aragão para Petre desejando tudo de bom e informando que envia uma caixa de vinho e
duas latas de café, desejando que esses presentes possam ajudar a dissipar as dificuldades
do mês de fevereiro. A embaixatriz se despede informando que seu marido se junta a ela
enviando-lhe calorosas saudações e aguardando novas notícias. 100 Em 08 de dezembro
de 1943, Petre envia uma carta para o tenente coronel Growdon informando que
finalmente as fotografias do esquadrão estavam em suas mãos e ele estava encaminhando
cinco cópias para uso. Informa ainda que se Growdon precisasse de mais cópias, o
avisasse que ele providenciaria. 101
Em 08 de dezembro de 1943, nova carta de Moniz de Aragão para Petre infomando
que havia ficado muito satisfeito em receber uma carta escrita pelo tenente Beake a pedido
de Petre, incluídas na mesma três fotografias do Esquadrão e informando que duas delas
seriam enviadas para a Fraternidade do Fole do Brasil. O embaixador continuou sua
escrita lamentando que o líder do Esquadrão não estivesse bem de saúde e informando
que estva muito interessado em receber novas informações sobre as missões aéreas
efetuadas pelo 193 e que apreciava a disponibilidade de Petre em mantê-lo informado dos
acontecimentos. 102
Ainda sobre o bombardeiro Britania, seu batismo ocorreu no Aeroporto Santos
Dumont, contando com a presença do embaixador britânico Noel Charles e Assis
Chateaubriand, representando os membros da Fraternidade do Fole. A cerimônia foi
presidida pelo ministro Salgado Filho e Noel Charles discursou acentuando o papel da
FAB no patrulhamento da costa brasileira contra os submarinos nazistas e enfatizou as
contribuições recolhidas pela organização e doadas para a RAF. 103 Na mesma cerimônia,
tivemos ainda o batismo de outra aeronave, o avião Embaixador Mello Franco, doado
99 Idem. Londres, 22 dezembro 1943. Carta de Isabel M. de Aragão para Squadron Leader G.W. Petre. 100 Idem. Londres, 03 de fevereiro 1944. Carta de Isabel M. de Aragão para G.W. Petre. 101 Idem. Nº 193 Squadron (Brazilian Bellows) Squadron. RAF Station. Harrowbeer. 08 dezembro 1943.
Carta de Petre para Wing Comander Growdon. 102 Idem, London, 08th december, 1943. Carta de Moniz Aragão para Squadron Leader G.W. Petre. 103 BATISADOS o “Britania I” e o “Embaixador Mello Franco”. Correio da Manhã, 03 abr 1943.
pela Companhia Singer à Campanha Nacional da Aviação e destinado ao aeroclube de
Sergipe. O padrinho desse batismo foi o embaixador estadunidense Jefferson Caffery,
contando ainda com a presença do ministro Osvaldo Aranha, os brigadeiros Heitor
Varady e Newton Braga, além de várias outras autoridades civis e militares104.
Ainda sobre o batismo do Britânia I, o jornal Times mencionou o acontecimento e
informou sobre as contribuições oriundas do Brasil para a aquisição do aviões, afirmando
que as mesmas eram divididas entre a RAF e a FAB e comentando que desde os dias da
Batalha da Inglaterra, a guerra aérea tinha interessado muito ao Brasil pelo fato de que o
país, que estava usando o transporte marítimo em uma escala considerável para
transportar suprimentos às nações aliadas, temia a ação dos U-boats, que estariam
operando ao largo das costas. As aeronaves de comando da RAF auxiliariam os brasileiros
à manterem a integridade de suas mercadorias.105
Em 1945, com o término da guerra, a Fraternidade do Fole continuou ajudando
financeiramente britânicos e brasileiros até o final da guerra, quando encerrou suas
atividades no Brasil após fechar seu escritório.
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104 Idem. 105 Cf. BRAZIL’S part in the air war. Help for the RAF. Times, 10 apr 1943. Fellowship of the Bellows in
Brazil. Op. Cit.
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