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A FOTOTECA DE PATRICIA BINS - DIFICULDADES NO PROCESSO DE CATALOGAÇÃO Viviane Sampaio 1 Genericamente, poderíamos dizer que a fotografia de hoje não é apenas a devolução mecânica de uma realidade visual. É muito mais do isso. É visão particular através da sensibilidade escoimada e, principalmente, é criação em sentido amplo onde a realidade não raro se torna mero pretexto, veículo comunicativo, passaporte de tudo onde exista parcela enclausurada de beleza. Rubens Teixeira Scavone Anuário Brasileiro de Fotografia (1957) O projeto “Escritoras Patricia Bins e Maria Dinorah: Organização e Catalogação de Acervos”, orientado pela Profa. Dr. Helenita Rosa Franco 2 visa à catalogação das fotografias do acervo Patricia Bins de acordo com o sistema Aleph. As fotografias foram previamente tombadas, higienizadas, indexadas e acondicionadas conforme as orientações de preservação de fotografias. Esse trabalho é desenvolvido no Delfos, Espaço de Documentação e Memória Cultural da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, localizado no 7° andar da Biblioteca Central José Otão desde 2007 - ano em que foram reunidos diversos acervos que se encontravam na Faculdade de Letras. É no projeto mencionado que desenvolvo o exercício de catalogação fotográfica, o qual detém algumas particularidades, às quais serão aqui abordadas com especial ênfase nas dificuldades de manejo, e também nas características do arquivo fotográfico que foram constatadas em minha recente experiência como Bolsista de Iniciação Científica. As coletâneas, arquivos, bens e objetos que dizem respeito à cultura sulina presentes no Delfos são de propriedade da Pontifícia Universidade Católica do Rio 1 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – Rio Grande do Sul – Brasil. 2 A Professora Helenita Rosa Franco é Coordenadora do Projeto “Escritoras Patricia Bins e Maria Dinorah: Organização e Catalogação de Acervos” e Professora da Faculdade de Letras. 1

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A FOTOTECA DE PATRICIA BINS - DIFICULDADES NO PROCESSO DE CATALOGAÇÃO

Viviane Sampaio1

Genericamente, poderíamos dizer que a fotografia de hoje não é apenas a devolução mecânica de uma realidade visual. É muito mais do isso. É visão particular através da sensibilidade escoimada e, principalmente, é criação em sentido amplo onde a realidade não raro se torna mero pretexto, veículo comunicativo, passaporte de tudo onde exista parcela enclausurada de beleza.

Rubens Teixeira ScavoneAnuário Brasileiro de Fotografia (1957)

O projeto “Escritoras Patricia Bins e Maria Dinorah: Organização e Catalogação

de Acervos”, orientado pela Profa. Dr. Helenita Rosa Franco2 visa à catalogação das

fotografias do acervo Patricia Bins de acordo com o sistema Aleph. As fotografias

foram previamente tombadas, higienizadas, indexadas e acondicionadas conforme as

orientações de preservação de fotografias. Esse trabalho é desenvolvido no Delfos,

Espaço de Documentação e Memória Cultural da Pontifícia Universidade Católica do

Rio Grande do Sul, localizado no 7° andar da Biblioteca Central José Otão desde 2007 -

ano em que foram reunidos diversos acervos que se encontravam na Faculdade de

Letras. É no projeto mencionado que desenvolvo o exercício de catalogação fotográfica,

o qual detém algumas particularidades, às quais serão aqui abordadas com especial

ênfase nas dificuldades de manejo, e também nas características do arquivo fotográfico

que foram constatadas em minha recente experiência como Bolsista de Iniciação

Científica.

As coletâneas, arquivos, bens e objetos que dizem respeito à cultura sulina

presentes no Delfos são de propriedade da Pontifícia Universidade Católica do Rio

1 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – Rio Grande do Sul – Brasil.2 A Professora Helenita Rosa Franco é Coordenadora do Projeto “Escritoras Patricia Bins e Maria Dinorah: Organização e Catalogação de Acervos” e Professora da Faculdade de Letras.

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Grande do Sul ou estão sob sua guarda e responsabilidade. Tais materiais, devido à

particularidade, são de representativo valor sob o ponto de vista cultural, acadêmico e

afetivo simbolizando verdadeiras riquezas privilégio do Delfos.

O acervo de Patricia Bins, o qual está direcionado o estudo, foi doado

oficialmente à universidade em 19 de abril de 2009, contudo, desde 2003 estudos e

projetos já vêm sendo desenvolvidos com esses documentos sob a guarda do Centro de

Pesquisas Literárias da Faculdade de Letras. Ele é composto por diversos tipos de

materiais sendo bastante volumoso, e para que possa ser divulgado e disponibilizado a

consultas dos pesquisadores, comunidade científica e público de leitores, é necessária a

conclusão da catalogação fotográfica. Desse modo, é sanado o compromisso assumido

com seus doadores, que inclui não só a preservação dos materiais, como também sua

divulgação, além das possíveis relações entre as obras literárias da escritora e suas

fotografias.

Patricia Doreen Bins foi escritora, artista plástica e jornalista, nasceu no Rio de

Janeiro em 24 de julho de 1928 e faleceu em Porto Alegre no dia 4 de janeiro de 2008.

Era filha de mãe inglesa, Iris Holliday e pai húngaro, Andor Ströh. Em 1940 mudou-se

com a família para Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Formou-se em Belas Artes e

apreciava a História da Arte. Lecionou inglês ainda com 14 anos. Foi responsável pelo

Suplemento Cultural do Correio do Povo de 1968 a 1984. Sua criação literária, de

caráter intimista e auto revelador, rendeu-lhe diversos prêmios. Em 1998 foi patronesse

da 44ª Feira do Livro de Porto Alegre. Sua primeira obra “O Assassinato de Pombos” é

resultado de uma seleção de contos por ela escolhidos. Depois vieram as Trilogias da

Solidão, da Paixão e de Eros. Patricia ainda publicou dois livros infantis e dois volumes

de “Receitas de Criar e Cozinhar”.

Seu acervo no Delfos detém, entre demais documentos, em torno de 1.200

fotografias, às quais já foram objeto do projeto anterior, “Projeto Organização e

Catalogação do Acervo Fotográfico da Escritora Patricia Bins”. Através das fotografias

é possível observar a relação entre sua obra e vida, o que proporciona aspectos

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interessantíssimos para estudos. Elas representam assim, documentos iconográficos

importantes para a área da investigação de memória literária.

As fotografias são documentos que requerem análise detalhada, uma vez que

retratam uma imagem congelada, que teve importância no tempo e espaço da história de

uma vida ou de uma comunidade. Elas têm o poder de fixar, de registrar um

determinado momento para que, posteriormente, a memória o recupere através da

imagem como uma possível breve forma de imortalidade.

É a fotografia um intrigante documento visual cujo conteúdo é a um só tempo revelador de informações e detonador de emoções. Segunda vida perene e imóvel preservando a imagem-miniatura de seu referente: reflexos de existência/ocorrência conservados congelados pelo registro fotográfico.

A iconografia fotográfica, organizada da variada gama de temas antes mencionados, poderia fornecer um amplo painel de informações visuais para a nossa melhor compreensão do passado em seus múltiplos aspectos. (KOSSOY, 2001 p. 28)

A fotografia em sua captura e reprodução do instante não deixa de ser expressão

de verdade, cópia fiel de algo. Devido à aparente objetividade, caráter documental de

evidência testemunhal para o qual a compreensão como fonte histórica elabora a relação

entre imagem e memória. Como aponta SONTAG (2004. p. 33), “A foto é uma fina

fatia de espaço bem como de tempo”. Esse caráter representativo lhe confere como o

mesmo autor afirma um aspecto de signo à espera da desmontagem, ou seja, à espera de

uma interpretação. Nesse contexto, KOSSOY (2001 p. 27), problematiza: “a questão

sempre delicada e subjetiva da interpretação do conteúdo. O que o documento não tem

de explícito iconograficamente”. Remonta a dificuldade de afirmar seguramente, com

caráter de maior aproximação da verdade e realidade o que a fotografia está mostrando.

Saber captar e reproduzir com palavras o que é observado expressa sinteticamente as

dificuldades presentes na catalogação de fotografias.

Apesar de tão reveladora, a fotografia ainda não adquiriu o status de documento

dentro de um acervo ou museu, como o que é o documento escrito, manuscrito ou

impresso. Muitas vezes, serve apenas como decoração ou ilustração, não sendo ainda

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utilizada como objeto de pesquisa. Essa desconfiança e restrições que sofre devem ser

repensadas principalmente quando remontamos à “Revolução Documental” de que nos

fala KOSSOY, (2001, p. 19) ao citar Ch. Samaron “Não há história sem documentos.

[...] há que tomar a palavra ‘documento’ no sentido mais amplo, documento escrito,

ilustrado, transmitido pelo som, a imagem, ou de qualquer outra maneira”.

A fotografia desconhece barreiras e não é preciso ser alfabetizado para

compreendê-la. Ela reside no caráter da emoção, da imaginação detendo segredos,

ideologias e fixando memória.

A fotografia é a linguagem da imagem, a mais recente versão da mais antiga forma de comunicação gráfica. Diferente da palavra falada ou escrita, a fotografia é uma forma de comunicação que não conhece barreiras lingüísticas ou geográficas de nenhuma classe, fato que em meu entender, aumenta o significado de qualquer fotografia, e ao mesmo tempo incrementa a responsabilidade do fotógrafo. (PETER,1999 p. 13)

Para melhor compreensão da catalogação, as Fig. 1, 2, 3 e 4 respectivamente

imagem de um álbum aberto, foto de Patricia com dois contatos aglutinados e duas

fotografias avulsas, modelos fotográficos que são trabalhados podem ser visualizados

abaixo. Esses são alguns exemplos dos arquivos encontrados e que cada um terá

particularidades na catalogação.

Figura 1

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A Fig. 1 pertence ao Álbum 01, identificação APB FA1 e número da ordem da

fotografia – Acervo Patricia Bins, foto do álbum 01 e número da foto relacionada à sua

ordem no álbum. Contém fotografias de um dos álbuns da Sra. Iris Holliday, mãe de

Patricia Bins. Nas páginas abertas aparecem um carro da época, um bebê de colo e

provavelmente uma das tias de Patricia com seus primos. Nesse caso, por se tratar de

fotos que vem de longa data a exata identificação vai os poucos se perdendo com os

anos e a deterioração do documento, o que exigirá maior cuidado com seu manuseio

para a identificação do registro feito a lápis.

Na Fig. 1 as dificuldades de catalogação que se sobressaem e estão relacionadas

com a data que foi tirada a foto, o nome das pessoas fotografadas e a mais apropriada

descrição - resumo. As demais informações: tomada - interna/externa, procedência -

amador/profissional, coloração - color (colorida) ou p&b (preto e branco), dimensões,

descrição física – uma foto, estado do item – bom, irregular... São facilmente

estabelecidas já na primeira análise.

A Fig. 2 é a fotografia de possível titulação: “Sessão de autógrafos no

lançamento da obra Antes que o Amor Acabe” e mais dois contatos – reproduções, em

tamanho reduzido, do filme fotográfico. Essas são três imagens em um só quadro,

interpretando-se uma fotografia com apenas um número de registro.

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Figura 2

No caso da Fig. 3, “Patricia Bins na praia de Torres com seu cão” e na Fig. 4

temos fotografias avulsas como é encontrado em supremacia no acervo.

Figura 3

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Figura 4

O processo de catalogação é minucioso, requer atenção, paciência,

conhecimentos gerais e até certa inspiração. O trabalho de catalogação fotográfica no

Delfos começa com a compreensão do funcionamento do software Aleph, o qual possui

planilhas de inserção de dados referente aos materiais pertencentes a cada acervo. As

planilhas são preenchidas considerando-se inicialmente três bases. A primeira planilha é

a que identifica qual espaço, biblioteca, o documento pertencerá. Como se pode ver na

Fig. 5, as fotografias, objeto do estudo em questão, por constituírem parte do acervo de

Patricia Bins e necessitarem cuidado especial, só poderão ter o acesso local da

biblioteca estando na base (PUC02), ou seja, no Catálogo do Delfos.

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Figura 5

Em se tratando de fotografias, após identificar a base referente ao catálogo

Delfos será indicado o acervo que pertence o material: em síntese, se tem: APB (Acervo

Patricia Bins) e tipo de material catalogado que é fotografia.

A inserção de dados no sistema, e a atribuição de informações de identificação

das fotografias representam um desafio a cada nova foto a ser catalogada. Esse aspecto

se confirma devido à complexidade de leitura de tal registro que está relacionado à sua

própria história.

Toda fotografia tem atrás de si uma história. Se, enquanto documento, ela é um instrumento de fixação de memória e, neste sentido, mostram-se como eram os objetos, os rostos, as ruas, o mundo, ao mesmo tempo, enquanto representação, ela nos faz imaginar os segredos implícitos, os enigmas que esconde, o não manifesto, a emoção e a ideologia do fotógrafo (KOSSOY, 2007. p. 157)

A catalogação propriamente dita consta na inserção de dados no sistema Aleph,

o qual se tem uma das telas ilustrada na Fig. 6. O trabalho de catalogação possui

algumas particularidades. Para que se possa criar um bom catálogo deve-se considerar,

por exemplo, se a foto é avulsa, se está em álbum e assim se apresentam distintos

processos de catalogação. As fotografias podem ser repetidas e conterem contatos entre

outras particularidades. Essas peculiaridades servem para demonstrar a complexidade de

esquematização do Aleph. O sistema referido é somente aos poucos sendo revelando,

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uma vez que sua assimilação plena e instantânea não é possível devido aos seus

inúmeros detalhes e sistemática de trabalho dentro do Delfos.

É na tela da Fig. 6 que o catalogador introduzirá os dados, criando assim a

ficha de cada fotografia. Indicar-se-á qual o número da foto, título, resumo (espécie de

descrição), data, tomada, identificação de pessoas, entre outros, e o sistema criará um

número para esse registro.

Desse modo, quando for acessado o catálogo on-line da biblioteca no

direcionamento Delfos, como se pode ver na Fig. 7 e concluído todo trabalho de

catalogação se terá acesso às fotografias digitalizadas e descritas com as informações a

elas referentes, às quais foram registradas no sistema.

Figura 6

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Figura 7

Trabalhar com a fototeca de uma pessoa requer o conhecimento mínimo desta e

para tanto, se tratando de um escritor, relacionar, sobretudo, às obras e aspectos da vida.

O projeto de pesquisa do qual faço parte - “Escritoras Patricia Bins e Maria Dinorah:

Organização e Catalogação de Acervos” trata no momento em que se encontra do de

Patricia Bins. Infelizmente minha inserção tardia no projeto não oportunizou tempo

necessário para tal conhecimento e devida elaboração da descrição do

testemunho/fotografia, somando-se a mais uma dificuldade, especialmente no que diz

respeito ao momento da identificação de pessoas.

Toda fotografia é um testemunho segundo um filtro cultural, ao mesmo tempo que é uma criação a partir de um visível fotográfico. Toda fotografia representa o testemunho de uma criação. Por outro lado, ela representará sempre a criação de um testemunho. (KOSSY, 2001, p. 50)

A descrição desse testemunho, ou melhor, desse duplo testemunho, pois a

fotografia nos mostra, além da cena congelada, a aproximação de seu autor exige

pesquisa para que a melhor interpretação dessa espécie representativa possa ser

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estabelecida. Com o intuito de indicar devidamente a data, local ou evento, por exemplo

- itens imprescindíveis presentes na ficha de catalogação – teremos que observar mais

atentamente os detalhes de uma roupa, as companhias e o cenário em determinado

evento. Tudo isso para a melhor compreensão do mini mundo reproduzido, ou seja, da

fotografia o que é abaixo explicitado por Sontag.

O que está escrito sobre uma pessoa ou um fato é declaradamente, uma interpretação, do mesmo modo que as manifestações visuais feitas à mão, como pinturas e desenhos. Imagens fotográficas não parecem manifestações a respeito do mundo, mas sim pedaços dele, miniaturas da realidade que qualquer um pode fazer ou adquirir (SONTAG, 2004. p. 14).

Retomando o projeto “Escritoras Patricia Bins e Maria Dinorah: Organização e

Catalogação de Acervos”, além do acervo de Patricia Bins, o de Maria Dinorah Luz do

Prado, poetisa, autora de literatura infantil e jornalista, também diz respeito a esse

trabalho cujo foco é organizar e catalogar. O dia de sua doação foi 13 de julho de 2009,

com documentos inéditos, manuscritos, cartas e fotos. Entre as raridades estão esboços e

notas manuscritos em cadernos, fortuna crítica - com comentários, fotos e artigos

resultantes de suas obras.

Maria Dinorah nasceu e faleceu em Porto Alegre, é autora de mais de cem livros

e vários de seus textos viraram peças de teatro. Recebeu diversas homenagens, títulos e

prêmios. O acervo de Dinorah sortirá ainda bastante trabalho especialmente no que se

diz respeito ao seu tombamento que recentemente teve início e o qual ainda não tive

contato.

Após intenso contato com as fotografias é possível constatar, como afirma

Kossoy, que seu fascínio reside na possibilidade que oferece à pesquisa, à descoberta e

às múltiplas interpretações que os aspectos dela farão ao longo da História. Realçando

sua natureza complexa de documento fechado, ou seja, definido, delimitado pelas

margens de sua superfície fotográfica, desse modo é um inventário de informações que

confere o grau de representação aberta, indefinida, real, contudo imaginária. Plena de

segredos, a fotografia segue sua trajetória mostrando e encobrindo sua razão de ser no

mundo.

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Nesse sentido e com um viés mais poético de análise da fotografia, Kossoy

aponta um caráter duplo - espelhado do real e da representação que a fotografia detém

em seu inventário de informações sobre o momento passado.

Terminam as imagens, findam as cartas e nos tornamos memória para os outros. Resta a ausência que deixamos, os objetos, os livros, os papéis intermináveis e, por vezes, fotografias. Imagens que escondem significados perdidos, rememorações secretas, representações que um dia despertaram emoções, agora devassadas por olhos estranhos: iconografias efêmeras, realidades sem vida, prestes a serem destruídas, castelos de cartas, castelos de areia, que se mesclam à poeira dos séculos. A imagem da foto, promessa de perenidade, é agora a imagem do espelho, que se dissipa. Espelhos que guardam memórias. (KOSSOY, 2007 p. 163)

É uma verdade afirmar que as fotografias que compõem um acervo são parte

intrínseca do processo de criação, de representação da realidade em um determinado

momento. Como exemplo, temos o registro da sessão de autógrafos do lançamento de

uma obra será como tal, um documento dentro do processo, um pedacinho ilustrado da

caminhada de vida da autora.

As fotografias figurarão sempre como uma fonte documental complexa e

inesgotável, proporcionando conexões não somente com o fotógrafo ou com a pessoa

fotografada, mas com o tempo, o espaço e com aqueles que vivenciaram, presenciaram

ou ouviram falar desse momento. É, portanto memorável o seu impacto na dispersão

cultural, social, econômica, política, estética, religiosa, as características desse registro

indubitavelmente informativo e de conhecimento.

Referências

PETER, Jorge; MONTEIRO DA SILVA, Verônica. Cadernos do mestre Peter: um curso de fotografia na sua essência. Rio de Janeiro: Mauad, 1999.

SONTAG, Susan. Sobre fotografia. Tradução de Rubens Figueiredo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

KOSSOY, Boris. Fotografia & História. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.

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KOSSOY, Boris. Os tempos da fotografia: o efêmero e o perpétuo. São Paulo: Ateliê Editorial, 2007.

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