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A Formação de Professores em Nível Normal no Pará 1

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Livro Formação de Professores

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A Formação de Professores em Nível Normal no Pará

1

A Formação de Professores em Nível Normal no Pará

3

A FORMAÇÃO DE

PROFESSORES EM NÍVEL

MÉDIO NORMAL NO PARÁ

Política, motivações e aspirações

profissionais dos alunos

Albêne Lis Monteiro Cely do Socorro Costa Nunes (orga)

Tânia Regina Lobato dos Santos

ReitoraVice-Reitora

Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-GraduaçãoPró-Reitor de Graduação

Pró-Reitora de ExtensãoPró-Reitor de Gestão

CoordenadoraRevisor

Designer Gráfi co

Apoio TécnicoConselho Editorial

Universidade do Estado do ParáMarília Brasil XavierVerônica de Menezes Nascimento NagataCléa Nazaré Carneiro BicharaNeivaldo Oliveira SilvaTânia Regina Lobato dos SantosManoel Maximiano Junior

Josebel Akel FaresNilson Bezerra NetoHudson Maik Campos da SilvaGiselle do Carmo Souza MoraesLaiza Araújo Loureiro (Estagiária)Bruna Toscano GibsonElizabeth TeixeiraHebe Morganne Campos RibeiroIvanilde Apoluceno de OliveiraJofre Jacob da Silva Freitas Joelma Cristina Parente Monteiro AlencarJosebel Akel FaresMaria das Graças da SilvaMarília Brasil XavierNorma Ely Santos BeltrãoTânia Regina Lobato dos Santos

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FOLHA DE ROSTO

A Formação de Professores em Nível Médio Normal no Pará: Polí-tica, motivações e aspirações profissionais dos alunos / Org. Cely do Socorro Costa Nunes, Albêne Lis Monteiro, Tânia Regina Lobato dos Santos.

Belém: EDUEPA, 2008.

198 p.

ISBN: 978-85-88375-34-5

1. EDUCAÇÃO, 2. FORMAÇÃO DE PROFESSORES, 3. POLÍ-TICA EDUCACIONAL. I. Nunes, Cely do Socorro Costa. org. , II. Monteiro, Albêne Lis. III. Santos, Tânia Regina Lobato dos.

CDD 370.7

Apresentação

Este livro socializa os principais resultados da pesqui-sa “O perfil dos alunos do Curso Médio Normal do estado do Pará: motivações e aspirações profissionais” financiada pelo CNPq e UEPA, desenvolvida nos anos de 2005 a 2007.

Na oportunidade desta publicação registramos agrade-cimentos aos bolsistas Rafael Carvalho de Souza e Ozivan Perdigão Santos, respectivamente alunos do Curso de Li-cenciatura Plena em Matemática e Licenciatura em Ciên-cias da Religião do Centro de Ciências Sociais e Educação da Universidade do Estado do Pará; aos alunos do 4° ano do Curso Médio Normal das Escolas Estaduais: Instituto de Educação Estadual do Pará – IEEP (Belém), Luis Nunes de Direito e Joaquim Viana (Ananindeua), Eduardo Ange-lim e José Maria Machado (Barcarena), Bernardino Barros (Abaetetuba), Lameira Bittencourt (Castanhal) e Onezina Barros (Santarém). Igualmente relevante foi o apoio finan-ceiro do CNPq e da UEPA que nos possibilitou, a contento, o desenvolvimento desta pesquisa e a publicação deste livro.

A estrutura do livro segue, em linhas gerais, o relatório da pesquisa que se constituiu em quatro partes. Na primeira parte, dedicamo-nos a uma revisão histórica da formação de professo-res em nível médio no Brasil para situar o debate de sua extin-ção no país e, particularmente, no Pará com a promulgação da LDB 9.394/96. O foco de análise, a partir de documentos oficiais emanados pelos governos federal e estadual, centra-se na polí-tica equivocada de extinção do Curso Médio Normal por parte do governo do estado do Pará cujas consequências contribuíram para deflagrar no cenário formativo local um processo desenfre-ado de universitarização da formação de professores da educação infantil e dos anos iniciais de escolarização sob os mais diferentes formatos pedagógicos.

A segunda parte situa o perfil sócio, econômico e cul-tural dos alunos do Curso Médio Normal, o qual nos reve-la, de fato, que são oriundos das classes economicamente desfavorecidas. Esta condição de classe forma um sujeito constituído de um dado capital cultural, linguístico e social que provavelmente contribuirá para edificar uma determi-nada prática pedagógica, caso aspirem ingressar na carrei-ra docente.

Na terceira e quarta parte debruçamo-nos sobre a per-cepção dos alunos acerca do Curso Médio Normal e suas motivações e aspirações profissionais. Esta parte mostra que os alunos têm plena consciência da finalidade profis-sional do curso (formação de professores), todavia poucos aspiram atuar como docentes e conjecturam a possibilida-de de tão somente trabalhar em uma outra função no cam-po da educação (mas não na docência) se tiverem opor-tunidades. Esta compreensão revela um dilema crucial ao campo da formação de professores e do ingresso na carreira docente: o Curso Médio Normal tem sido compreendido na atualidade como uma primeira instância de formação ini-cial de professores cujo processo se consolida nos curso de licenciaturas, portanto Cursos que podem acolher jovens com genuíno interesse em formar-se como professores. En-tretanto, para grande parte destes alunos a docência não se apresenta como opção profissional vez que a carreira é pouco atrativa e competitiva em termos salariais.

É pois, com alegria que oferecemos a comunidade edu-cacional paraense e aos demais leitores uma obra em que se discute a formação de professores em nível médio no Pará, sem dúvida um assunto que interessa a todos nós professores, formadores de professores, pesquisadores e gestores para refletir e desenvolver esforço no sentido de construir outra cultura de formação de professores da edu-cação básica no Pará.

SUMÁRIO

Introdução 09

Trilha Metodologia 21

1. ASCENSÃO E QUEDA DA ESCOLA NORMAL NO BRASIL E NO PARÁ

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2. O PERFIL SOCIOECONÔMICO CULTURAL DOS ALUNOS DO CURSO MÉDIO NORMAL

61

3. PERCEPÇÃO DOS ALUNOS SOBRE O CURSO MÉDIO NORMAL

111

4. MOTIVAÇÕES E ASPIRAÇÕES PROFISSIONAIS DOS ALUNOS

143

Sumário Executivo 166

Considerações e Recomendações 173

Referências 177

Introdução

A formação de professores no Brasil realizada pela Es-cola Normal1, no âmbito do Ensino Médio, foi objeto de inúmeras pesquisas no decorrer das últimas décadas do sé-culo XX. Entre estas pesquisas, destacamos os estudos rea-lizados por Brzezinski (1987); Lelis (1989); Gonçalves e Pi-menta (1990); Novaes (1992); Oliveira (1994); Cavalcante (1994); Pimenta (1994) entre outros, constituindo-se em um acervo bibliográfico de grande referência nacional pela qualidade e complexidade das análises no momento em que registram a história desta formação.

No Pará, os estudos realizados por ISEP (1989) e Vascon-celos et al (1992), no início da década de 90, dedicaram-se a uma análise desta Escola formativa e identificam os limites e possibilidades desta formação no seu tempo. Curioso que os respectivos estudos realizados de forma concomitante apontavam recomendações opostas e contrárias. Enquan-to Vasconcelos et al (op.cit) recomendavam a expansão e revitalização da Habilitação Magistério2 no estado do Pará tendo em vista a melhoria do processo formativo dos pro-fessores, o ISEP (op. cit) apontava que o investimento em tal revitalização não traria o “salto qualitativo” para este processo e ponderava que este salto somente seria alcança-do se fosse decorrente de processos formativos em cursos de licenciaturas ofertados no âmbito do Ensino Superior.

As análises desenvolvidas por ISEP (op.cit) fundamen-taram a criação, em 1989, do Instituto Superior de Educa-1 Em alguns momentos deste livro, utilizamos a expressão Escola Normal, de forma genérica, como sinônimo do Curso Normal (LDB 4.024/61), Habi-litação Magistério (LDB 5.692/71) e Curso Médio Normal (LDB 9.394/96), advertindo o leitor que tais expressões em seu sentido restrito, carregam o peso de suas histórias, singularidades, limites e potencialidades.2 Movimento instalado no cenário nacional decorrente das orientações do MEC tendo em vista operar mudanças de melhoria na formação de profes-sores e, consequentemente, no quadro da educação brasileira.

Política, motivações e aspirações profissionais dos alunos

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ção do Pará – ISEP, com o Curso de Formação de Professo-res para Pré-escola e 1ª a 4ª série do Ensino Fundamen-tal3, no âmbito do Ensino Superior, inicialmente vinculado a SEDUC/PA. Em 1993, com a criação da Universidade do Estado do Pará - UEPA, o referido Instituto foi extinto e seu Curso passou para a esfera do Centro de Ciências Sociais e Educação – CCSE, da referida instituição universitária4.

Por sua vez, os estudos desenvolvidos por Vasconcelos et al (op.cit) também fundamentaram, à época, a decisão da Secretaria de Estado de Educação - SEDUC/PA em expan-dir e continuar a ofertar a Habilitação Magistério, revitali-zada, face à presença de um grande número de professores não habilitados para o exercício profissional que atuavam na rede de ensino público estadual e às reivindicações de diversos Municípios paraenses que ainda não ofereciam o Ensino de 2° Grau e viam a oferta desta formação, no âm-bito do Ensino Superior, como uma utopia a ser conquista-da a longuíssimo prazo.

Assim, este período foi muito profícuo em termos de pesquisas acerca da Escola Normal no Brasil e no Pará tendo em vista a necessidade de se compreender as alte-rações de conteúdo e forma impostas à formação inicial de professores da educação infantil e dos anos iniciais de escolarização mediante a substituição da Escola Normal (amparada por meio da LDB 4.024/61) pela Habilitação Magistério (decorrente das orientações da LDB 5.692/71). A revogação dessa Lei, com a promulgação desta, entre-tanto, não altera o nível em que esta formação é exigida, 3 Em 2007, o referido Curso foi extinto e a formação de professores para a educação infantil e anos iniciais de escolarização passou a ser feita no Curso de Pedagogia da UEPA sob o argumento de que a formação oferecida por este Curso ampliaria as oportunidades de trabalho dos alunos egressos tanto como professores quanto gestores educacionais.4 Para um estudo detalhado do contexto educacional paraense que deu amparo político e pedagógico à criação do ISEP, consultar NUNES (1995).

A Formação de Professores em Nível Normal no Pará

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continuando a mesma no âmbito do Ensino Médio, de-finida desde a Lei Orgânica do Ensino Normal, por meio do Decreto Lei n° 8.530, de 2 de janeiro de 1946.

Essas pesquisas, nas suas mais diferentes especifici-dades, diversidades e amplitudes, privilegiaram questões acerca da historicidade; aspectos legais; dimensões peda-gógicas e metodológicas; centradas ora nos alunos, ora nos docentes, na profissão professor e na carreira do magisté-rio, entre outras. O registro destes estudos constitui-se em uma cartografia da formação de professores oferecida no âmbito do antigo Ensino de 2° Grau (Habilitação Magis-tério), merecedora de novos olhares se quisermos compre-ender com mais profundidade a sua trajetória, sua trans-formação em Curso Médio Normal, com o advento da LDB 9.394/96, e a extinção deste Curso, pelos poderes públicos, em grande parte dos estados brasileiros, tendo em vista a tendência da universitarização desta formação.

Podemos afirmar, então, que o final do século XX foi tes-temunha da valorização e produção de pesquisas e estudos da Habilitação Magistério como lócus da formação inicial de professores da educação infantil e das séries iniciais de esco-larização5, consolidando-se como objeto de investigação no campo educacional, sem, contudo, percebermos, esta mesma tendência na atualidade, o que nos faz indagar quais moti-vos levaram a retração destes estudos na presente década?6

5 Professores que atuam tanto na Educação Infantil quanto nos anos ini-ciais do Ensino Fundamental.6 Constata-se que nos eventos científicos educacionais de grande expoente no Brasil como: Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino - EN-DIPE, Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação - ANPEd, Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste - EPENN, Congresso Paulista de Formação de Professores realizados nos anos de 2000 a 2007 há poucos registro de trabalhos científicos que tem como ob-jeto de investigação a Escola Normal. Esta mesma tendência também se apresenta nos eventos científicos realizados no estado do Pará.

Política, motivações e aspirações profissionais dos alunos

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Estudos como de Feldens (1989); Silva (1991); Warde (1993); André et al. (1999); André (2001); e Ramalho et al. (ANPEd, 2002) fazem um balanço das pesquisas pro-duzidas nos programas de pós-graduação stricto sensu em educação sobre formação de professores no Brasil para identificar temas recorrentes e silenciados pelas referidas pesquisas7. Mizukami (2003) contribui para a construção deste estado da arte ao demonstrar os referenciais teórico-metodológicos mais recorrentes nas pesquisas cujo enfo-que é a formação dos professores. André (2001, p. 86), ao analisar teses e dissertações defendidas nos programas de pós-graduação em educação no período de 1990 a 1998, destaca que o Curso Médio Normal foi uma temática de es-tudo privilegiada pela comunidade cientifica àquela época. Afirma a autora que:

O exame dos trabalhos sobre o tema da for-mação inicial mostra que há 155 estudos sobre a Escola Normal, correspondendo a 38% do total das pesquisas, seguida pelos estudos sobre licenciatura (23%), formação continuada (17%), identidade profissional docente (10%) e pedagogia (9%). Será que esse conhecimento acumulado sobre Escola Normal já oferece elementos para discutir ou confrontar as políticas vigentes sobre a formação do professor das séries iniciais? (grifos nossos).

Sublinha a autora que nos estudos que analisam a Es-cola Normal o subtema que reúne maior número de tra-balhos diz respeito às disciplinas do curso (60), estudos que avaliam o curso (56) ou focalizam o professor (11) e o aluno (10) do Curso Normal. Nas pesquisas que centram a atenção no aluno da Escola Normal, as questões de repre-

7 Para conhecer os temas recorrentes e silenciados consultar obras dos au-tores referidos.

A Formação de Professores em Nível Normal no Pará

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sentação aparecem com destaque (4), seguidas por ques-tões relativas a: aprendizagem (2), prática dos iniciantes (2), politização e histórias de vida (1).

Entretanto, a pesquisa realizada por Ramalho et al. (2002) constatou que as temáticas mais estudadas por es-tes programas, em 2000, no campo da formação inicial de professores foram: Curso de Pedagogia (17%); Licenciatu-ras (14%); profissão/profissionalização (5%); saberes (4%); ensino de matemática (3%); professor formador (3%); cur-rículo da formação (3%) e pensamento do professor (2%), predominando estudos sobre o Curso de Pedagogia e das Licenciaturas. Ressaltamos que o descritor Escola Normal não aparece no rol das temáticas estudadas provavelmente porque este campo não tem sido privilegiado como objeto de pesquisa nos programas de pós-graduação em educa-ção8 na presente década. Talvez porque, com o advento da LDB 9.394/96 em assegurar a formação inicial de profes-sores da educação infantil e anos iniciais de escolarização também no âmbito do Ensino Superior, estudar a modali-dade normal em nível médio seria algo bizarro, nostálgico ou saudosista. Será?

Pressupomos que deste fato decorre o pouco número de publicações e apresentações de trabalhos científicos que ana-lisam a Escola Normal nesta primeira década do século XXI. A despeito da retração desses estudos atualmente julga-mos importante continuar a investir em estudos acerca da Escola Normal no Brasil e, particularmente, no Pará no sentido de buscar elementos que nos ajudem a compre-

8 A maioria destes programas se situa no eixo sul/sudeste, regiões em que o Curso Médio Normal deixou de ser ofertado pelos estados; a formação de professores para a educação infantil e anos iniciais de escolarização já se realizava no âmbito do Ensino Superior por meio do Curso de Licenciatura em Pedagogia; e grande parte dos professores que atuava no sistema edu-cacional já possuía tal formação.

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ender com mais consistência sua historicidade, identidade e finalidades tendo em vista contribuir para o debate da formação de professores da educação infantil e anos ini-ciais de escolarização no Brasil realizada na modalidade Médio Normal vez que:

a) o art. 62 da LDB 9.394/96 admite como formação mí-nima para o exercício do magistério na Educação Infantil e nas quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, a ofe-recida em nível médio, na modalidade normal, portanto, a referida Lei dá legalidade a esta formação;

b) é a única modalidade de educação profissional em nível médio que a referida Lei reconhece e identifica;

c) é uma oportunidade de acesso a cursos de forma-ção inicial de professores para grande parte dos alunos egressos do Ensino Fundamental que desejam construir-se como professores, sem possibilidade de acesso à educação superior em virtude das desigualdades de oportunidades educacionais no Pará;

d) ainda é necessária em muitas regiões/localidades do Pará devido à ausência e a timidez da oferta do Ensino Su-perior público;

e) ao que tudo indica, esta modalidade está sendo extin-ta de maneira gradativa e arbitrária pelo sistema estadual de ensino sem considerarem as demandas e necessidades formativas locais;

f) em estudos realizados com alunos de cursos de licencia-tura, “o único aspirante ao magistério que ingressa no Ensi-no Superior com opção clara pelo ofício de ensinar é o aluno dos cursos de magistério de primeira a quarta série do Ensino Fundamental” (MELLO apud UNESCO, 2004, p. 35).

Centramos a pesquisa em estabelecimentos de ensino público em decorrência do MEC/INEP (2004) afirmar que o setor público historicamente sempre foi o grande detentor

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da formação de professores em nível médio no país, como poderemos constatar a partir das análises a seguir.

Os dados estatísticos evidenciados por Romanelli (1993, p. 163) mostram que a Escola Normal consolidou-se em quase todas as capitais na segunda metade do século XX, chegando, a se ter nos anos de 1949, 540 e, em 1993, 5.572 Escolas Normais, conforme informa o MEC/SEF (1999).

Todavia, o número de alunos matriculados no Curso Médio Normal, decresceu no período de 1989 a 1997, se-gundo os dados estatísticos do MEC/SEF (op. cit). A com-paração dos percentuais estatísticos evidencia que a ma-trícula neste nível de ensino, em 1997 chegou a 826.574, com decréscimo de 1,5% em relação ao ano de 1996, que registrou 839.487 alunos matriculados. O número de es-tabelecimentos de ensino que ofereciam o referido Curso também sofreu um decréscimo de 3,6% no período de 1993 a 1997, principalmente daqueles estabelecimentos priva-dos situados nas capitais brasileiras. De um total de 5.572 estabelecimentos em 1993, registrou-se, em 1997, 5.370 e, em 2002, 2.641(MEC/SEF, op. cit e MEC/INEP, op. cit). O número de estabelecimento de ensino que oferecia a Habi-litação Magistério foi representativo no Brasil no período de 1992 a 1994, por apresentar os maiores índices de cres-cimento da década de 90 do século passado.

O ano de 1997, um ano depois da promulgação da LDB 9.394/96, inaugura, no cenário nacional, a gênese da dimi-nuição e extinção desta Habilitação sob a justificativa do que apregoa o § 4º, do art. 87, no título Das Disposições Transi-tórias – quando estabelece que “Até o fim da Década da Edu-cação somente serão admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço”.

Os dados do Censo Escolar de 2002 (MEC/INEP, op.cit), demonstram que neste ano existiam 2.641 escolas de nível

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Médio Normal no país, das quais 2.050 eram públicas. A grande maioria dessas escolas (englobando as públicas e as privadas) localizava-se na região Nordeste com 1.174 es-tabelecimentos de ensino, atendendo 194.090 alunos, um contingente que representava 53% das matrículas de nível médio no Brasil. A região Norte possuía 281 escolas que oferecia o Curso Médio Normal, sendo 270 públicas e 11 privadas, com um total de 41. 809 alunos matriculados. É a região onde apresentava a segunda menor oferta se com-parada com as demais do Brasil: nordeste (1.174), sudeste (728), sul (296), centro-oeste (162). O estado do Pará pos-suía, em 2000, 32 estabelecimentos de ensino com a oferta do referido Curso somente na capital (IEEP, 2004), estando presente em todos os 143 municípios paraenses por meio da oferta na modalidade regular e pelo Sistema Modular de Ensino - SOME, nas localidades onde não havia professo-res qualificados.

Quando comparamos a oferta do Curso Médio Normal em 1997 desenvolvido por 5.370 estabelecimentos de ensi-no com a de 2002, em que 2.641 ofereciam o referido Curso, constamos a extinção deste em 2.729 escolas em um tempo de cinco (5) anos, o que representa um percentual de mais de 50%. As escolas que abrigavam o referido Curso passa-ram, com a extinção dele, a oferecer somente o Ensino Mé-dio. Portanto, a redução do número de estabelecimentos que oferecem o Curso Médio Normal, quer sejam públicos ou privados, é uma constatação verossímil que se acentuou nos últimos anos da década de 90 até sua extinção no início da década de 2000 em grande parte dos estados brasilieros e, particularmente, no estado do Pará.

Mas, quais razões justificam a extinção de tal Curso pelo poder público no cenário local? Será que a LDB 9.394/96 foi utilizada pelo poder público estadual para fundamentar a

A Formação de Professores em Nível Normal no Pará

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extinção do referido Curso? Esta possibilidade de resposta é analisada pelo MEC/INEP (2004, p.7) conforme podemos observar no excerto a seguir:

Para as escolas que oferecem magistério de nível médio, a série histórica das estatísticas mostra que a tendência de crescimento obser-vada no período de 1991/1996 sofreu uma sig-nificativa inversão no período de 1996/2002, com a redução pela metade do número de escolas e da quantidade de matrículas, efeito este que pode ser atribuído claramente à en-trada em vigor da nova Lei de Diretrizes e Ba-ses da Educação Nacional, que apontava para a progressiva exigência de formação em nível superior para todos os professores.

Estados brasileiros como, por exemplo, São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Goiás e, particularmente, o Pará, extinguiram a oferta do Curso Médio Normal, ancora-dos no § 4º, do art. 87, do título Das Disposições Tran-sitórias, da atual LDB, anteriormente citado. Os referi-dos estados9 desobrigaram-se desta oferta por entende-rem, de maneira equivocada, que a formação certificada por este Curso não seria mais válida a partir do término da Década da Educação (1997-2007) para o ingresso e a permanência dos professores na carreira docente.

Determinados professores e gestores também reprodu-ziram este equívoco como podemos observar no fragmento a seguir, e seu teor, revela que esta questão não foi bem de-batida de forma ampla no cenário educacional brasileiro:

9 Contudo, há registros de estados que voltaram a ofertar tal modalidade mediante pressão social. O Governo Lula, por meio do Decreto n. 6.755, de 29/01/2009, instituiu a Política Nacional de Formação de Profissionais da Educação Básica que reconhece, no art. 5, inciso II, a oferta de atendi-mento das necessidades de formação inicial e continuada nos didferentes níveis e modalidades de ensino, o que pode incidir em novas ofertas de vagas para o Curso Médio Normal no Brasil.

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Os tradicionais cursos normais de nível mé-dio foram apenas admitidos como formação mínima (art. 62), e por um período transitó-rio, até o final da década da educação (ano de 2007) (Título IX, art. 87, parágrafo 4) (TANURI, 2000, p. 61).

Concordamos com a autora quando afirma que o Curso Médio Normal é responsável pela formação mínima exigida por Lei, e não a ideal, mas discordamos quando analisa que esta Lei estipulou um período (transitório) para sua extinção (até o final da Década da Educação). É sempre bom lembrar que o art. 62, da LDB 9.394/96, admite como formação míni-ma para o exercício do magistério na Educação Infantil e nas quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal, portanto, a referi-da Lei dá legalidade a esta formação e a este Curso, sendo, inclusive, a única modalidade de educação profissional em nível médio que reconhece e a identifica.

Esta tendência nacional de extinção do Curso Médio Normal obrigou o MEC/CNE/CEB a pronunciar-se a respei-to do equívoco de interpretação do § 4º, do art. 87 da res-pectiva Lei, conforme demonstra o Parecer n° 03/2003 (p. 2) que transcrevemos:

Por meio desta redação [do referido §] de significado pouco preciso muitas pessoas foram levadas a pensar que após 10 anos da promulgação da Lei o acesso e a perma-nência em funções docentes passassem a ser prerrogativa exclusiva de professores com formação em nível superior. Esta interpreta-ção, apesar de muito difundida, não resiste uma análise da legislação que serve de re-ferência.

Nessa polêmica de retração/extinção de número de es-tabelecimentos e de matrícula no Curso Médio Normal é

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preciso observar a LDB 9.394/96, em seu art. 62, que legal-mente e, com clareza, define o patamar mínimo e o ideal para o exercício da docência das séries iniciais de escolari-zação:

A formação de docentes para atuar na edu-cação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida como formação mínima para o exercício do magistério da Educação Infantil e nas quatro primeiras séries do En-sino Fundamental, a oferecida em nível mé-dio, na modalidade normal.

Outra possibilidade de resposta às perguntas ante-riormente formuladas pode estar hipoteticamente vin-culada à falta de capacidade da Escola Normal em refor-mular seu projeto pedagógico no sentido de oportunizar uma formação técnica, política e humana de qualidade social aos professores tendo em vista o exercício profis-sional crítico e reflexivo, bem como, atrair candidatos para o ingresso na carreira docente, revelado pela baixa procura de alunos egressos do Ensino Fundamental ao Curso. Como os discentes que ingressam no Ensino Mé-dio tornaram-se mais jovens, segundo as estatísticas ofi-ciais que analisam a diminuição da distorção idade-série no Brasil e no Pará (INEP, 2002), acredita-se que o Curso Médio Normal se marca pela incapacidade de atrair can-didatos jovens e, sobretudo, talentosos a uma profissão pouco sedutora, não competitiva em termos salariais, desvalorizada social e profissionalmente10. Sem deman-da, os gestores máximos da educação, diminuíram o nú-

10 TANURI (2000) analisa que a falta de interesse da população pela pro-fissão docente devido aos baixos salários e desprestígio social é histórica e se perpetua desde o Brasil Colônia, Império e primórdios da República. Acrescentamos que tal fato ainda está presente na sociedade brasileira.

Política, motivações e aspirações profissionais dos alunos

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mero de turmas, turnos e de escolas que oferecem tal Curso a ponto de extingui-lo.

Partimos da hipótese de que o poder público educacio-nal do estado do Pará se amparou no § 4º, do art. 87, para justificar extinção do Curso Médio Normal. De fato, com a promulgação da LDB 9.394/96 e a instalação da Década de Educação – 1997-2007, inaugura-se, no cenário nacional e paraense, a gênese da extinção do referido Curso. Todavia, o teor do referido parágrafo levanta alguns questionamentos:

é somente durante a vigência de tal Década que a • formação de professores em nível superior é exigida para admissão do professor no sistema de ensino brasileiro? ao final desta Década poderão ser admitidos, tanto • professores formados no nível médio quanto no superior (art. 62 da referida LDB)?a partir desta década não será mais exigido dos professores • que estes tenham tão somente a formação em nível superior para serem admitidos na carreira docente?

Ao analisarmos o mencionado parágrafo é possível in-ferir que o impedimento de admitir professores formados em nível médio expirou-se em 2007 e, a partir desta data, poderão ser admitidos professores formados independente do nível de escolarização (médio ou superior).

Desta forma, ao tomarmos como referência os diferen-tes níveis de industrialização e desenvolvimento econômi-co-social e educacional do estado do Pará, questionamos: quem são os alunos que buscam o Curso Médio Normal? O que os motivam a optar pelo magistério como carreira pro-fissional? Quais motivações e aspirações destes em relação ao Curso e a profissão docente?

A Formação de Professores em Nível Normal no Pará

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Trilha Metodológica

Este estudo foi orientado pelas seguintes questões: quais razões justificam a extinção do Curso Médio Normal pelo poder público no estado do Pará? Qual o perfil socioe-conômico e cultural dos alunos deste Curso? Que motivos justificam o ingresso destes no referido Curso e quais aspi-rações possuem em relação a profissão docente?

Por isso, este livro se estrutura por meio de um estu-do com três amplitudes: 1) realizar um estudo do Curso Médio Normal do estado do Pará a partir de documentos oficiais produzidos pelo poder público federal e estadual, objetivando identificar as razões que justificaram a sua ex-tinção; 2) analisar o perfil socioeconômico e cultural dos alunos buscando revelar as condições de vida material destes; 3) delimitar a gênese da identidade profissional do professor, ao identificar os motivos que levaram os alunos a matricularem-se no Curso Médio Normal da rede pública do estado do Pará, bem como, as motivações e aspirações pofissionais destes.

Para tal, analisamos os seguintes documentos oficiais produzidos pelo poder público federal e estadual no que diz respeito ao Ensino Médio Normal:

LDB 9.394/96, institui as Diretrizes e Bases da 1. Educação Nacional;Resolução CNE/CEB n° 03, de 8 de outubro de 1997, 2. fixa Diretrizes para os novos Planos de Carreira e de Remuneração para o Magistério dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Parecer CNE/CEB n° 01, de 29 de janeiro de 1999, 3. fundamenta as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Docentes da Educação Infantil e dos anos Iniciais de Ensino Fundamental, em nível médio, na modalidade normal;

Política, motivações e aspirações profissionais dos alunos

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Resolução CEB/CNE n° 02, de 19 de abril de 1999, 4. institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Docentes da Educação Infantil e dos Anos Iniciais de Ensino Fundamental, em Nível Médio, na Modalidade Normal;Lei n° 10.172/2001, cria o Plano Nacional de 5. Educação;Resolução CNE/CEB n° 01, de 20 de agosto de 2003, 6. dispõe sobre os direitos dos profissionais da educação com formação em nível médio, na Modalidade Normal, em relação à prerrogativa do exercício da docência, em vista do disposto na Lei 9.394/96;Parecer do CNE/CEB n° 01/2003, consulta sobre 7. formação de profissionais para Educação Básica;Parecer do CNE/CEB nº 03/2003, consulta tendo 8. em vista a situação formativa dos professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental e da Educação Infantil;Resolução do CEE/Pa nº. 271, de 02 de maio de 2000, 9. dispõe sobre o funcionamento do Curso Normal em nível médio, destinado à formação de professores para Educação Infantil e para as quatro séries iniciais do Ensino Fundamental, no sistema de Ensino do estado do Pará;Ofício Circular nº. 05/2003 DEME-SEDUC, dispõe 10. sobre a desativação gradativa do Curso Normal no estado do Pará;Revitalização do Curso Ensino Médio Normal: O 11. IEEP como espaço de construção e reconstrução de conhecimento na formação de professores do estado do Pará.

Este conjunto de documentos nos possibilitou perceber o debate instalado nas instituições educativas brasileira e

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paraense acerca do nível que se realiza a formação dos pro-fessores da educação infantil e anos iniciais de escolariza-ção, instituído a partir do confronto do art. 62 com o § 4°, do art. 82 da LDB atual, bem como, nos dá visibilidade às intenções das referidas instituições e dos sujeitos formula-dores destes documentos. O trabalho de campo foi realiza-do no ano de 2006 e teve como contexto de estudo o Curso Médio Normal no estado do Pará, configurando-se a partir da seguinte abrangência:

QUADRO 1

Mesorre-gião

Municípios Escolas

de t

urm

as

de 4

º sé

rie

de

alu

nos

pe

squ

isad

os

Metropo-litana de

Belém

Belém

Ananindeua

Barcarena

Castanhal

Instituto de Educação Estadual do Pará-IEEPLuis Nunes de DireitoJoaquim VianaEduardo AngelimJosé Maria MachadoLameira Bittencourt

05

02 01 01 02 01

112

4115133923

Nordeste Paraense

Abaetetuba Bernardino Barros 01 43

Baixo Amazonas

Santarém Onezina Barros 02 122

TOTAL 06 08 15 408

Estes municípios foram selecionados porque a época apresentavam maior densidade demográfica e razoável de-senvolvimento econômico, ainda ofertavam o Curso Médio Normal com um número significativo de alunos matricula-dos. Definidos os municípios e as escolas que fariam parte da pesquisa optamos por trabalhar com a totalidade dos

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alunos matriculados no último ano do Curso Médio Nor-mal (4º ano) como sujeitos da pesquisa por pressupormos que os mesmos já poderiam ter construído certa identidade profissional. A participação deles ocorreu por adesão vo-luntária. Os dados empíricos foram construídos por meio de questionários elaborados com perguntas abertas e fe-chadas. A aplicação dos questionários, depois de pré-testa-dos, foi realizada pelas pesquisadoras in loco.

Os dados documentais e empíricos foram organizados e analisados segundo os eixos temáticos: política de extinção do Curso Médio Normal no estado do Pará, perfil socioeco-nômico cultural dos alunos, percepções dos alunos sobre a qualidade do Curso e motivações e aspirações profissionais destes. Os resultados são apresentados por meio de tabelas e depoimentos escritos. A análise dos dados pautou-se no método dialético.

Título A Formação de Professores em Nível Médio Normal no Pará: Política, motivações e aspirações profi ssionais dos alunos

Organizadores Cely do Socorro Costa Nunes

Revisão Nilson Bezerra Neto

Editoração Gráfi ca e Criação de Capa Hudson Maik Campos da Silva

Formato 15 x 21 cm

Tipologia Latin725 BT 9,5/11/12

Papel Cartão triplex 250 g/m2 (capa)

Pólen 90 g/m2 (miolo)

Páginas 184

Tiragem 500 und.

Impressão e acabamento Gráfi ca Marques

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