a formaÇÃo da lÍngua portuguesa do brasil na fase colonia1

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A FORMAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA DO BRASIL NA FASE COLONIAL 1 Luana Raquel da Silva 2 Depois dos primeiros momentos de colonização (século XVI) do Brasil, vieram alguns outros acontecimentos, como a instalação dos franceses no Rio de Janeiro, a corrida do ouro, a expansão territorial, a fixação de territórios, algumas lutas que visavam a conquista de terras, a expulsão dos jesuítas, a conjuração mineira e, sobretudo, a descoberta de minerais preciosos. Esses fenômenos não contribuíram apenas para o quadro histórico-político, influenciaram também os aspectos da língua que ia se formando no país. A partir do texto de Sílvio Elia, eis algumas considerações sobre as consequências linguísticas que esses feitos trouxeram para a formação do nosso idioma. Um dos fenômenos de relevância para a história brasileira foi o bandeirantismo no centroeste do país, expedição formada por autoridades particulares portuguesas vicentinas (depois denominadas “paulistas”) com o objetivo de caça ao índio para o movimento escravagista. Sobre esse fato, o estudioso aponta que a mais relevante consequência foi o alargamento do território do Brasil. Posteriormente, aconteceu a viagem dos portugueses para o sul do país, lugar praticamente despovoado, onde se defrontaram com os espanhóis. A partir disso, foi necessário elaborar tratados de delimitação geográfica entre os colonizadores – pensemos, assim, que com a demarcação espacial, 1 Resenha do capítulo “Século XVI – fase colonial”, do livro Fundamentos histórico- linguísticos do português do Brasil. ELIA, Sílvio Elia. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003. 2 Acadêmica do sétimo período de Letras, pela Universidade Federal de Rondônia, campus de Vilhena.

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Page 1: A FORMAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA DO BRASIL NA FASE COLONIA1

A FORMAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA DO BRASIL NA FASE COLONIAL1

Luana Raquel da Silva2

Depois dos primeiros momentos de colonização (século XVI) do Brasil, vieram alguns

outros acontecimentos, como a instalação dos franceses no Rio de Janeiro, a corrida do ouro, a

expansão territorial, a fixação de territórios, algumas lutas que visavam a conquista de terras, a

expulsão dos jesuítas, a conjuração mineira e, sobretudo, a descoberta de minerais preciosos.

Esses fenômenos não contribuíram apenas para o quadro histórico-político, influenciaram

também os aspectos da língua que ia se formando no país. A partir do texto de Sílvio Elia, eis

algumas considerações sobre as consequências linguísticas que esses feitos trouxeram para a

formação do nosso idioma.

Um dos fenômenos de relevância para a história brasileira foi o bandeirantismo no

centroeste do país, expedição formada por autoridades particulares portuguesas vicentinas

(depois denominadas “paulistas”) com o objetivo de caça ao índio para o movimento

escravagista. Sobre esse fato, o estudioso aponta que a mais relevante consequência foi o

alargamento do território do Brasil. Posteriormente, aconteceu a viagem dos portugueses para o

sul do país, lugar praticamente despovoado, onde se defrontaram com os espanhóis. A partir

disso, foi necessário elaborar tratados de delimitação geográfica entre os colonizadores –

pensemos, assim, que com a demarcação espacial, a língua também começou a tomar definições

em cada região onde era falada.

No período de fixação do Iluminismo, ideia que mudou as diretrizes científicas e

políticas do mundo no século XVIII, houve no Brasil dois principais fatos que lhe devem as

suas origens: a expulsão dos jesuítas e a conjuração mineira. O primeiro, porque o interesse

político do então governo, sob a influência do marquês de Pombal, teve aversão ao papel de

evangelização dos jesuítas, bem como aos seus modos de aculturação sob os colonizados; esses

atos representavam aos portugueses um empecilho no novo modo de reger o mundo. Daí a sua

expulsão do território conquistado. A consequência direta da expulsão foi a extinção da

organização escolar que os jesuítas desenvolviam, isso foi negativo aos níveis de educação dos

povos, pois não houve uma reação imediata dos portugueses para que essa falta fosse ressarcida.

Somente mais tarde houve uma reação de Pombal: a implantação de novas escolas, porém,

menos humanistas e literárias e mais científicas. Por outro lado, nesse momento se instituiu o

estudo da língua portuguesa ao invés da latina, como era feito pelos jesuítas.

1 Resenha do capítulo “Século XVI – fase colonial”, do livro Fundamentos histórico-linguísticos do português do Brasil. ELIA, Sílvio Elia. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.2 Acadêmica do sétimo período de Letras, pela Universidade Federal de Rondônia, campus de Vilhena.

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O segundo acontecimento oriundo das manifestações que o Iluminismo trouxe foi a

conjuração mineira, fato que abrangeu o descontentamento de um grupo de intelectuais e alguns

dos altos trabalhadores quanto algumas exigências econômicas da Coroa; eles buscavam a livre

produção e comércio, isso porque possuíam ideias filosóficas europeias do “século iluminado”.

No campo da literatura, esses fatos supracitados inferiram no modo de produção

artística. No período em que se fixaram o humanismo e barroco, por exemplo, era defendido

que a verdade teológica deveria ser repensada e passada pelo crivo da mente e da soberania do

homem. No que concerne à língua, tem-se no século XVIII, uma mudança nos estudos

linguísticos e, como consequência, nos procedimentos de ensino. Nesse período a educação

brasileira sofreu (mais) influência europeia, com moldes educacionais franceses e livros

impressos em Portugal; também houve uma mudança do léxico luso-brasileiro, com palavra que

servem às descobertas científicas, como elenca Elias: “átomo, diâmetro, diástole,

transubstanciação etc.”. Um pouco mais tarde, se vê, no período chamado Romantismo,

algumas produções literárias preocupadas com o léxico refletido nas realidades nativas, com

termos que denominavam os aspectos da natureza.

A preocupação com a ortografia da língua também movimentou o espírito de alguns

estudiosos da nossa língua na época: o surgimento da regra que se deveria escrever como se

fala, ideia perpassada pelas conjecturas filosóficas em voga. Felizmente, essa regra “gramatical”

– falha, visto que a fonética é o aspecto da língua mais variável e, portanto, mais impreciso – se

manteve sustentada só até surgirem as primeiras gramáticas da língua, de cunho mais sólido e

específico.