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1 Esse trabalho apresenta os resultados de um projeto do Programa de Iniciação Científica (PIC) sob a orientação do Prof. Dr. Peter Johann Mainka, UEM – DFE/PPE e a co-orientação do Prof. Dr. Cézar de Alencar Arnaut de Toledo, UEM – DFE/PPE. A filosofia política de Martinho Lutero 1 Paulo Henrique Vieira Resumo A importância de Martinho Lutero como pensador reside no fato de ter contribu- ído decisivamente para o desencadeamento da Reforma que quebrou a unidade do cristianismo ocidental. Ao romper a unidade da Igreja Cristã Ocidental, Lutero e seus seguidores buscaram também novos fundamentos para a concepção de Estado, go- verno e poder político, tendo efeitos até nossos dias. Nesse trabalho devem ser investigadas suas posições sobre os fundamentos e os limites do domínio da autori- dade secular, o direito à não-resistência e as relações com os homens fora da Cristan- dade, assuntos extremamente importantes e vinculados à revolta dos camponeses alemães de 1525. Evidentemente que as questões políticas encontradas em Lutero são conseqüências de sua teologia, que era o que norteava seu pensamento. Lutero posicionou-se diretamente sobre a Guerra dos Camponeses em dois textos principais: Exortação à Paz, Resposta aos Doze Artigos dos Camponeses da Suábia e o Aden- do: Contra as Hordas Salteadoras e Assassinas dos Camponeses, a partir dos quais esse trabalho foi elaborado. Resumen La importancia de Martin Lutero como pensador, reside en el hecho de haber contribuido decisivamente para el desencadenamiento de la Reforma que quebró la unidad del cristianismo occidental. Al romper la unidad de la Iglesia Cristiana Occi- dental, Lutero y sus seguidores buscaron también nuevos fundamentos para la con- cepción de Estado, gobierno y poder político teniendo efectos hasta nuestros días. En ese trabajo deben ser investigadas sus posiciones sobre los fundamentos y los límites del dominio de la autoridad secular, el derecho a la no-resistencia y las relaci- ones con los hombres fuera de la Cristiandad, asuntos extremamente importantes y vinculados a la sublevación de los campesinos alemanes de 1525. Evidentemente que

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1 Esse trabalho apresenta os resultados de um projeto do Programa de Iniciação Científica (PIC)sob a orientação do Prof. Dr. Peter Johann Mainka, UEM – DFE/PPE e a co-orientação do Prof.Dr. Cézar de Alencar Arnaut de Toledo, UEM – DFE/PPE.

A filosofia política de Martinho Lutero 1

Paulo Henrique Vieira

Resumo

A importância de Martinho Lutero como pensador reside no fato de ter contribu-ído decisivamente para o desencadeamento da Reforma que quebrou a unidade docristianismo ocidental. Ao romper a unidade da Igreja Cristã Ocidental, Lutero e seusseguidores buscaram também novos fundamentos para a concepção de Estado, go-verno e poder político, tendo efeitos até nossos dias. Nesse trabalho devem serinvestigadas suas posições sobre os fundamentos e os limites do domínio da autori-dade secular, o direito à não-resistência e as relações com os homens fora da Cristan-dade, assuntos extremamente importantes e vinculados à revolta dos camponesesalemães de 1525. Evidentemente que as questões políticas encontradas em Luterosão conseqüências de sua teologia, que era o que norteava seu pensamento. Luteroposicionou-se diretamente sobre a Guerra dos Camponeses em dois textos principais:Exortação à Paz, Resposta aos Doze Artigos dos Camponeses da Suábia e o Aden-do: Contra as Hordas Salteadoras e Assassinas dos Camponeses, a partir dos quaisesse trabalho foi elaborado.

Resumen

La importancia de Martin Lutero como pensador, reside en el hecho de habercontribuido decisivamente para el desencadenamiento de la Reforma que quebró launidad del cristianismo occidental. Al romper la unidad de la Iglesia Cristiana Occi-dental, Lutero y sus seguidores buscaron también nuevos fundamentos para la con-cepción de Estado, gobierno y poder político teniendo efectos hasta nuestros días.En ese trabajo deben ser investigadas sus posiciones sobre los fundamentos y loslímites del dominio de la autoridad secular, el derecho a la no-resistencia y las relaci-ones con los hombres fuera de la Cristiandad, asuntos extremamente importantes yvinculados a la sublevación de los campesinos alemanes de 1525. Evidentemente que

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las cuestiones políticas encontradas en Lutero son consecuencias de su teología,que era lo que norteaba su pensamiento. Lutero se posicionó directamente sobre laGuerra de los Campesinos en dos textos principales: Exhortación a la Paz, Respuestaa los Doce Artículos de los Campesinos de la Suábia y el Adendo: Contra las HordasSalteadoras y Asesinas de los Campesinos, a partir de ellos este trabajo fue elaborado.

Abstract

The importance of Martin Luther as a thinker resides in the fact of his havingcontributed decisively to the unleashing of the Reformation which broke the unity ofwestern Christianity. Breaking the unity of the Western Christian Church, Luther andhis followers also sought new foundations for the concept of State, government andpolitical power which are still affecting our days. In this article their positions on thefoundations and the limits of the dominion of secular authority, the right to non-resistance and the relations with people outside of Christianity, subjects extremelyimportant to and connected with the revolt of the German peasants in 1525, will beinvestigated. Evidently the political issues encountered in Luther are consequencesof his theology, which was what guided his thinking. Luther took a direct stand on thePeasant War in two main texts: Admonition to Peace - a Reply to the Twelve Articlesof the Peasants in Swabia and the Addendum: Against the Robbing and MurderingHordes of Peasants. This article was elaborated based on these texts.

As idéias políticas de Lutero e a Guerrados Camponeses

1 - Introdução

Idade Média para a Idade Moderna,é possível encontrar algumas datasconvencionalmente aceitas pelos his-toriadores para demarcar o início des-ses novos tempos, quais sejam: 1453(queda de Constantinopla e fim daGuerra dos Cem Anos), 1492 (des-coberta da América) e 1517, início

O início do século XVI, períodoque abrange nosso estudo, foi um mo-mento de grandes transformações nahistória da humanidade, e que desen-cadeou novas perspectivas culturais,científicas, econômicas, políticas, ge-ográficas e religiosas. Dentro da his-toriografia que trata da passagem da

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pectativas dos próprios camponeses,que entre outros nomes o citarampara arbitrar sobre a questão. “Quan-to a mim, que também sou conside-rado como um dos que nestes tem-pos interpreta a palavra de Deus aquina terra, mormente porque no segun-do documento me citam e invocamnominalmente4, tenho tanto mais âni-mo e disposição de dar a público mi-nha instrução.”5

Nosso objetivo é, a partir dos pro-nunciamentos que Lutero fez sobredois temas diretamente ligados àguerra camponesa, analisar as idéiaspolíticas que aparecem nesses tex-tos, ou seja, a partir dos escritos queelaborou sobre os teólogos revoluci-onários, sobretudo na figura de To-más Müntzer6, e também sobre o quetrata dos Doze Artigos7. Homem de-terminado e inteligente, Lutero per-sonificava as transformações desseperíodo de grandes inovações, queatingiram os mais diversos ramos doconhecimento humano, no seu caso,a religião e a teologia8.

da Reforma Protestante2, esta últimainiciada por Lutero quando questio-nou o comércio de indulgências, indode encontro à própria teologia católi-ca, ousadia que lhe rendeu muitosproblemas e, é claro, muita notorie-dade.

Particularmente, nosso estudo selimita, quanto ao tempo, aos anos de1524/1525 e, quanto ao espaço, à re-gião que hoje corresponde à Alema-nha, onde, sob a influência de TomásMüntzer, milhares de camponeses serebelaram em luta armada contrapríncipes e senhores feudais com afinalidade de obterem maior liberda-de e direitos não somente sobre a ter-ra, mas igualmente sobre as flores-tas, a caça e também sobre a esco-lha e a manutenção de seus párocos.Essas reivindicações foram reunidasnum escrito que ficou conhecidocomo Zwölf Artickel (Os Doze Ar-tigos dos Camponeses da Suábia)3,publicado em 1525. Lutero posicio-nou-se sobre a Guerra dos Campo-neses, atendendo ao pedido e às ex-

2 Cf. FRANCO JÚNIOR, 1980, p. 11.3 Os Doze Artigos dos Camponeses encontra-se em original na língua alemã in: BLICKLE, 1993,

p. 24-89. Informações gerais sobre os artigos encontram-se in: Martinho LUTERO, ObrasSelecionadas, v. 6, 1996, p. 280s.

4 Refere-se ao documento dos camponeses intitulado “Ação, ordem e instrução estabelecidas portodas as hordas e grupamentos dos camponeses que se comprometeram mutuamente”, cf. RIETH,1996, p. 307.

5 Martinho LUTERO, Exortação, 1525, p. 307.6 Id., Carta aos Príncipes, 1524, p. 284-299.7 Id., Exortação, 1525, p. 306-329.8 Para vida e obra de Lutero, cf. LIENHARD, 1998, p. 31-42.

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Nação Alemã, Lutero advertiu: “Ago-ra que a Itália está totalmente exau-rida, eles vêm para as terras alemãs,começando com muita cautela. Pres-temos atenção, porém: em pouco tem-po a Alemanha ficará igual à Itália.Já temos alguns cardeais. Os tontosdos alemães não devem entender oque os romanos pretendem com isso,até que não tenham mais um únicobispado, mosteiro, paróquia, feudo,vintém ou centavo.”11 Aqui o interes-se religioso de Lutero se funde aosinteresses econômicos e políticos dealemães, pobres e ricos contra o fis-calismo romano.

Com a publicação de suas tesesna porta da igreja do castelo de Wit-tenberg, Lutero não pretendeu desen-cadear uma divisão da Igreja ou mes-mo um rompimento, mas simples-mente discutir teologicamente o as-sunto. As teses não foram as primei-ras a propor o debate público, muitoembora tenham sido consideradas omarco inicial da Reforma12.

Lutero inquietava-se com o pro-blema da salvação do homem e já nãose satisfazia com a idéia de que, mes-

2.1 - Os primórdios daReforma luterana

Os vícios e abusos que mancha-vam a moral da Igreja desde o fim doséculo XV, e que não podem ser apre-sentados pormenorizadamente nestelugar, não eram novos; antes da Re-forma muitos outros já haviam ques-tionado os dogmas e práticas da Igre-ja. Parece, todavia, que às vésperasda Reforma esses abusos tornaram-se escandalosos e, por alguma razão,constituíram-se obstáculos ao avan-ço de novas forças sociais9. A for-mação das nacionalidades parececomprovar essa idéia. A exploraçãoa que os feudos alemães eram sub-metidos pelo envio dos anates10 paraRoma favorecia os interesses dosestrangeiros italianos em detrimentodos alemães, interesses estes queeram defendidos por muitos represen-tantes dos príncipes e também daIgreja Católica na Alemanha, masespecialmente por Lutero. Por isso,ele tratou desse tema também nosseus escritos programáticos de 1520.No seu escrito À Nobreza Cristã da

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9 Cf. SANTOS, s. d., p. 73.10 Metade da renda do primeiro ano de todos os feudos.11 Martinho LUTERO, À Nobreza, 1520, p. 291.12 Cf. ELTON, 1982, p. 14.

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Para um homem tão intensamen-te preocupado com a salvação, o es-clarecimento sobre a venda deindulgências tornava-se extremamen-te importante. Prometendo absolvi-ção ao pecador em troca de dinheiro,a Igreja iludia seus fiéis fazendo-osacreditar que por esse meio pudes-sem livrar-se da contrição e da peni-tência.

Assim, Lutero atacou as indulgên-cias, não como mais um abuso,mas como qualquer coisa de cen-tral na verdade da religião. Mes-mo assim, as suas teses poderi-am não ter conduzido a mais doque uma obscura disputa acadê-mica. Questionavam, é certo, ospoderes papais, mas duma ma-neira moderada e como ponto departida para o debate. Lutero pu-blicara-as em latim, mas foramimediatamente traduzidas para oalemão e difundidas na escritaimpressa. O interesse que susci-taram foi geral, súbito e inespe-rado.15

Não pretendia uma reforma so-cial ou de contestação dos privilégiosde que gozavam os mais poderosos,como fizeram anteriormente John

13 Martinho LUTERO, Os Militares, 1526, p. 364.14 Martinho LUTERO, À Nobreza, 1520, p. 282.15 ELTON, 1982, p. 17.

mo após a Queda, ele poderia alcan-çar a salvação por suas próprias for-ças. Desesperado, queria assegurar-se de que Deus aceitaria sua alma, massó via em si mesmo o pecado, e emDeus, a justiça infinita que tornava in-frutíferos todos os esforços de arre-pendimento. Compreendeu que a sal-vação ocorria “somente pela fé emJesus Cristo, sem qualquer obra emérito nosso, concedido e dado depresente por pura graça de Deus.”13

Para ele, era possível buscar a salva-ção direta e individualmente, ou seja,sem a participação de intermediários;essa graça só podia ser alcançada pormeio da fé em Deus e em seus ensi-namentos transmitidos por Cristo. Nomomento em que tornou públicas es-sas idéias, Lutero acabou enfraque-cendo as estruturas hierárquicas daIgreja, concebidas até então comomediadoras entre Deus e o homem.A inutilidade dessa hierarquia foi re-forçada também por sua doutrina doSacerdócio Universal; por meio dessadoutrina Lutero pregava a possibilida-de de todo cristão exercer funções depregação e, assim, substituir os cléri-gos. “É por isso que, em caso de ne-cessidade, cada um pode batizar eabsolver. O que não seria possível senão fossemos todos sacerdotes.”14

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Wyclif (1330-1384)16 na Inglaterra,Jan Huss (1369-1415)17 na RepúblicaTcheca e Girolamo Savonarola (1462-1498)18 na Itália. As críticas de Lute-ro referentes à hierarquia e às autori-dades limitavam-se exclusivamente àIgreja. Com a publicação, suas doutri-nas difundiram-se rapidamente atingin-do primeiramente as cidades e, emseguida, também o campo.

2.2 - Os camponeses e aReforma luterana

No campo, a situação de penúriaque esmagava os camponeses vinhapiorando a cada ano devido a váriosfatores, dentre os quais podemos ci-tar o elevado crescimento populacio-nal; a migração intensiva; a reativa-ção da instituição da servidão; a limi-tação ao exercício de privilégios ga-rantidos às gerações anteriores e a

16 John Wyclif, teólogo inglês cuja pregação antipapal e anticlerical o levou a julgamento em1377 perante o arcebispo de Canterbury; seus seguidores, porém, incluindo muitos nobres,conseguiram libertá-lo. Em 1381, foi responsabilizado por uma revolta camponesa, embora seusescritos pouco houvessem contribuído para o levante. Seus inimigos encontraram em sua obratrechos considerados comprometedores, perdendo, com isso, o apoio dos nobres. Cf. Enciclopé-dia BARSA, v. 15, 1993, p. 506.

17 Jan Huss, sacerdote tcheco que considerava o Evangelho como a única lei e, assim como Wyclif,não aceitava a supremacia papal. Por isso, Huss pode ser considerado um dos precursores daReforma Protestante; mas, além disso, ele defendeu com veemência os interesses da naçãotcheca. No Concílio de Constança, em 1415, foi condenado à fogueira. Cf. Enciclopédia BARSA,v. 9, 1993, p. 145s.

18 Girolamo Savonarola, pregador dominicano italiano que se tornou conhecido em Florença porseus famosos sermões (sobre a 1 Epístola de São João). Savonarola promoveu mudanças naconstituição, na justiça e na legislação tributária, estabelecendo um regime contra a nobreza,baseado em um rigorismo religioso e moral. Depois que ele perdeu o apoio do povo, foiexecutado publicamente em 1498. Cf. Enciclopédia BARSA, v. 14, 1993, p. 185s.

19 Cf. RIETH, Introdução à Guerra dos Camponeses, 1996, p. 275.

grande elevação da carga tributária.Fatores esses que dificultavam extre-mamente as atividades agrícolas e oatendimento às necessidades básicasdesses agricultores.19 A realidade doscamponeses alemães nesse períodoera insustentável; de um lado a explo-ração, a opressão e a força dos prín-cipes, e do outro o medo e a intimida-ção da Igreja. Impostos, taxas, tudoera feito para que pagassem a contado luxo e dos excessos da nobreza edo clero. Deviam trabalhar a maiorparte do tempo nas terras do senhor ecom o que ganhavam em suas tarefaslivres tinham que pagar o dízimo, oscensos, peitas, o viático, impostos re-gionais e imperiais. Não podiam ca-sar-se, nem morrer, sem que seu se-nhor lhes cobrasse.

A Reforma protestante foi uma“revolta” religiosa que questionou a he-

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mento à hierarquia religiosa pudessese estender também às autoridadesseculares, uma conclusão errônea eseveramente criticada por Lutero.

A Revolta Camponesa foi umaluta contra os abusos econômicos eos privilégios sociais de que gozavauma minoria. Foi constituída em suagrande maioria por agricultores, em-bora tivesse também a participaçãode artistas, religiosos e artesãos, atra-ídos pelo discurso mais radical deTomás Müntzer e de outros teólogosrevolucionários. Os camponeses fun-diram em suas reivindicações interes-ses espirituais e materiais recorren-do ao direito divino para justificar suaspropostas, assim como Lutero fez di-ante da assembléia em Worms. Nãohouve nessa revolta uma estruturacentral para toda a Alemanha, mashavia alguns movimentos organizadossegundo certas regiões. Cada grupotinha as suas próprias reivindicações,adequadas à sua realidade local. OsDoze Artigos do Campesinato daSuábia foi um desses escritos; elesse tornaram as reivindicações maisconhecidas, mais importantes e maisefetivas, reunindo as exigências dosdiferentes grupos de camponeses.

Nesses artigos solicitavam mai-or poder e autoridade para que cadacomunidade pudesse eleger seu pas-tor e, da mesma forma, dispensá-lo;liberdade segundo as Sagradas Es-crituras, pois, diziam, se Cristo sal-

gemonia teológica da Igreja centradaem Roma. Lutero não se submetia,nem aceitava mais passivamente aqui-lo que considerava um engano teoló-gico, ou uma falsa doutrina, mesmo queisso fosse defendido por seus superio-res, incluindo o líder maior da Igreja, opapa. Com sua rebeldia, Lutero en-gendrou na mente popular a possibili-dade de mudar e melhorar a socieda-de, assim como ele o fez no cristianis-mo, embora esses resultados se des-sem além e à revelia das intenções doreformador, que queria unicamenteuma reforma da Igreja, sem maioresconseqüências políticas e sociais.

O enfraquecimento da Igreja de-pois dos ataques dirigidos à sua hie-rarquia sacerdotal e suas possesimobiliárias (catedrais, terras, mostei-ros) foi importante para encorajar ostrabalhadores do campo a se rebelarcontra seus superiores, buscando eli-minar ou pelo menos amenizar suasvicissitudes. A doutrina do Sacerdó-cio Universal dava subsídios para quese eliminassem tanto a Igreja (materi-almente construída) quanto sua hierar-quia (financeiramente conquistada),em favor de uma nova orientação queligava o homem diretamente a Deus,tendo como único intermediário a pa-lavra divina. Como muitos príncipesdetinham altos cargos eclesiásticos emuitos eclesiásticos, enorme riquezaprincipesca, os camponeses foramlevados a acreditar que o questiona-

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vou com seu sangue tanto nobresquanto humildes, assim eles deviamser igualmente livres como os nobreso eram; direito à caça e à pesca; de-volução das florestas que estivessemnas mãos de leigos ou religiosos quenão as adquiriram legalmente; umexame mais cuidadoso da sobrecar-ga de trabalho que pesava sobre ocamponês, que eles tomassem porbase os serviços prestados pelas ge-rações passadas; cumprimento porparte dos senhores daquilo que haviasido estabelecido inicialmente entreambas as partes, que, se precisassemde serviços suplementares, então re-munerassem devidamente os traba-lhadores; fixação de uma taxa justade arrendamento; devolução para aaldeia de campos e pastagens adqui-ridos fraudulentamente; abolição dochamado “caso de morte”, em quese apoderavam descaradamente dosbens pertencentes a viúvas e órfãos.Ao final dessas reivindicações con-cluíram que, a não ser que se pro-vassem serem elas contrárias à pa-lavra de Deus, não abririam mão de-las. Esses artigos soaram como umgrande alerta e uma forte ameaça àordem social estabelecida.20

2.3 - Martinho Lutero e oespírito revoltoso

Enquanto a Igreja tinha razõespara estar horrorizada com o ra-dicalismo da ruptura de Lutero oude Zuínglio com a tradição e aautoridade, em breve se tornou,porém, evidente que estes refor-madores eram, em muitos aspec-tos, bastante conservadores.21

Antes dos confrontos de 1525 Lu-tero já denunciava uma facção depregadores mais radicais que questi-onavam a fundamentação teológicae as conseqüências práticas dos pri-vilégios senhoriais. Sobre esses pre-gadores, Lutero redigiu uma carta aospríncipes da Saxônia22, Frederico III(1463-1525), o Sábio, Príncipe Elei-tor da Saxônia, governante territorialde Lutero, e João, o Constante (1468-1532), irmão de Frederico, alertando-os para os perigos desse espírito re-voltoso presente em todos aquelesque compartilhavam das idéias revo-lucionárias de pregadores como To-más Müntzer, seu maior inimigo.

Tomás Müntzer23 nasceu prova-velmente em Stolberg no ano de 1490;

20 Cf. a tradução dos doze artigos in: LANGENBUCHER, 1972, p. 14-16.21 ELTON, 1982, p. 69.22 Martinho LUTERO, Carta aos Príncipes, 1524.23 Para vida e obra de Tomás Müntzer consultar: Ernst BLOCH, Thomas Münzer, teólogo da

Revolução, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1973.

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aqueles que se aventuravam a ensi-nar as Escrituras sem tê-las experi-mentado intimamente, e isso valia nãosó para os membros da Igreja, mastambém para Lutero. “Existiram mui-tos patifes, ansiosos por prestígio, quejogaram ao pobre povinho os textospapais da Bíblia, como se costumajogar pão aos cachorros, sem que vi-essem acompanhados da experiênciainterior.”25 Conseqüentemente ne-nhum cristão podia ter a certeza desua salvação porque desconheciama possibilidade de receber intimamen-te a palavra viva de Deus e identifi-car o que é Bíblia e o que é Babel26,ou seja, o que é verdadeiro ou falso,bom ou ruim. Para Müntzer, a pala-vra em si não podia ser o único com-provante da fé cristã, sobretudo por-que foi monopólio exclusivo dos ho-mens da Igreja por muitos séculos,que, como já foi dito, nem sempre es-tavam imbuídos dos verdadeiros in-teresses do cristianismo, o que tor-nava duvidosa sua autenticidade pelapossibilidade real de adulteração oufalsificação. “Não podiam também termentido aqueles que os escrevem?Como se pode ter certeza se é ver-dade o que está escrito?”27

Desse modo, o que era essencial

em 1514 foi ordenado sacerdote, ten-do concluído seus estudos em Frank-furt no ano de 1516. Müntzer aderiuinicialmente ao luteranismo, mas logopercebeu enormes diferenças entreseu pensamento e o de Lutero. Em-bora concordassem sobre a inutilida-de da hierarquia existente na Igreja,não se afinavam nos principais pon-tos de suas doutrinas. A verdadeirafé, para Lutero, baseava-se na cren-ça nos ensinamentos de Deus encon-trados exclusivamente na Bíblia; paraMüntzer, entretanto, ela nascia daexperiência interior de Deus no serhumano.

Onde, porém, a semente cai emsolo fértil; isto quer dizer nos co-rações que estão cheios do te-mor do senhor, torna-se então opapel e o pergaminho onde Deusescreve, não com tinta, mas comseu dedo vivo; esses corações sãoa verdadeira Sagrada Escrituraque, então, é testemunhada bempela Bíblia visível.24

Se em Lutero o anticlericalismocriticava uma hierarquia desnecessá-ria para a salvação humana, emMüntzer essa crítica abrangia todos

24 MÜNTZER, Manifesto, 1521, p. 175.25 Id., ibid., p. 179.26 Cf. ibid., p. 181.27 Ibid., p. 182.

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para Lutero, para Müntzer podia serperfeitamente dispensável, pois a fénas Escrituras, como meio de salva-ção (justificação pela fé) pregado porLutero, não podia ser comprovada.Primeiro pela incerteza da veracida-de dos textos sagrados, e depois pelosimples fato de crer que o homem,segundo Müntzer, não podia ser sal-vo. “Dever-se-ia jogar fora uma taljustificação, junto com os patifes, eos que tentam escapar dessa manei-ra deveriam ser lançados às profun-dezas do inferno, pois essa supostajustificação é mais tola que a própriatolice.”28

Outra grande diferença entreesses dois teólogos diz respeito aoconceito de autoridade e se originoude suas diferentes concepções de pa-raíso. Para Lutero, que acreditavanum paraíso extra-humano, isto é,num paraíso além da vida física, ascondições materiais e sociais poucoimportavam, daí porque a submissãopacífica perante as autoridades. ParaMüntzer, que pregava a possibilidadede um reino de bem-aventurançasaqui e agora, a autoridade não se ves-tia desse caráter “sagrado” encon-trado em Lutero, sua posição era de-lineada por uma análise mais prática.Caso essas autoridades não agissem

de acordo com o que se esperava deum cristão, a própria comunidade to-maria para si o poder e os arrancariade seus cargos. “Toda uma comuni-dade possui o poder da espada bemcomo também a chave da destituição,e a partir de textos (Dn 7.27, Ap 6.15,Rm 13.1, 1 Sm 8.7) que os príncipesnão são senhores, porém servos daespada. Não devem agir como lheapraz (Dt 17.18s), mas devem agircorretamente.”29 Em Müntzer, o in-citamento a ações mais efetivas par-tia de sua concepção de paraíso, re-sultado de conquistas e lutas empre-endidas pelos fiéis impulsionados porsuas transformações internas, a par-tir dos quais se edificaria o reino deDeus na terra.

“Para ele, quando ocorre a con-versão interna, provocada por Deusdiretamente no indivíduo, tem queocorrer também a conversão exter-na. À revolução no indivíduo, que é amudança provocada por Deus nele,quando fala a ele diretamente peloEspírito, corresponde a revolução, amudança na sociedade, na Igreja.”30

Por isso, condenou Lutero quandoeste saiu em defesa das autoridadesque impediam a realização do reinode Deus na terra. “É um arauto, quermerecer gratidão com o derrama-

28 Ibid.29 MÜNTZER, Pronunciamento, 1524, p. 212.30 DREHER, A Crise, 1996, p. 92.

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mento de sangue do povo, e em tro-ca de riqueza temporal, que Deus,entretanto, não ordenou como suaintenção.”31

As divergências teológicas quese chocavam entre esses dois religi-osos tornavam impossíveis quaisquertentativas de conciliação. Para Münt-zer, o doutor mentiroso e vida man-sa havia se aliado às autoridades ese acovardado diante das injustiças,não levando às últimas conseqüênci-as sua doutrina reformatória. ParaLutero, esse discípulo do diabo efalso profeta queria apenas promo-ver desordem e tumulto com açõesviolentas e falsas doutrinas. Por isso,Lutero se dirigiu aos príncipes adver-tindo-os da ameaça representada porgente como Müntzer, que havia setornado popular por suas pregaçõesem Allstedt, ganhando a simpatia dosmenos favorecidos. O próprio Lute-ro falou de sua intenção ao redigiresta carta: “Escrevi esta carta a V.A. P. [Vossa Altíssima Potestade] tãosomente porque ouvi e também de-duzi de sua publicação que esse es-pírito (Müntzer) não irá contentar-secom palavras, mas pretende usar aforça e se opor à autoridade com vi-

31 MÜNTZER, Pronunciamento, 1524, p. 212.32 Martinho LUTERO: Carta aos Príncipes, 1524, p. 290.33 Id., ibid., p. 292.34 Ibid., p. 295.35 Ibid., p. 296.

olência, e organizar para tanto umaverdadeira rebelião.”32 Nesta carta,Lutero se vale da ironia e do despre-zo para subestimar a coragem e a in-teligência dos adversários. “Aindaque tivesse sabido haver tantos dia-bos me visando quantas telhas há nostelhados de Worms, assim mesmo euteria cavalgado para lá, e isso apesarde não ter ouvido vozes celestes nemdos talentos e obras de Deus, nemdo espírito de Allstedt,”33 apresentan-do-se como o verdadeiro represen-tante do cristianismo. “Nós ensina-mos e confessamos que o espírito quepregamos e proclamamos traz os fru-tos a que S. Paulo se refere em Gl5.22, tais como: amor, alegria, paz,paciência, bondade, fidelidade, man-sidão, domínio próprio.”34 Aconselhouos príncipes para que não se opuses-sem ao ministério da palavra. “É aluta espiritual que arranca os cora-ções e as almas do poder do diabo.”35

Entretanto, se além das palavras oscamponeses quisessem usar da vio-lência, então os príncipes deveriamimpedi-los, pois era para isso que aautoridade lhes havia sido concedida.

Para Müntzer, estava claro queos problemas do campo tinham sua

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origem na opressão e na ganância dosnobres, que durante séculos explora-ram o pobre homem do campo.

Observe, a causa fundamental dausura, da ladroagem e do bandi-tismo são os nossos senhores epríncipes. Eles tomam todas ascriaturas como propriedade: ospeixes no mar, as aves no céu,as plantas na terra, tudo precisaser deles (Is 5.8)36. A esse res-peito fazem proclamar entre ospobres o mandamento de Deuse falam: “Deus ordenou: Não fur-tarás.” Isso, porém, não se apli-ca a eles. Obrigam todos os ho-mens, arrancam a pele e rapamo pobre lavrador, o trabalhadormanual e tudo o que vive (Mq3.2s)37, mas se alguém furta amínima coisa, tem de ser enfor-cado. Vem então o Doutor Men-tiroso e ainda diz: Amém.38

Ciente do grave problema que en-volvia a questão camponesa, Müntzerpropôs ações de represália contra no-bres e senhores, reconhecendo que de

36 Is 5.8: “Ai de vós, os que ajuntais casa com casa e ides acrescentando campo a campo, até chegarao fim de todo o terreno! Porventura haveis de habitar sós no meio da terra?”.

37 Mq 3.2s: “E, não obstante isso, vós aborreceis o bem e amais o mal; arrancais violentamente apele (ao povo) e a carne de cima de seus ossos? Comeram a carne do meu povo, arrancaram-lhea pele, quebraram-lhe os ossos, partiram-no como para fazer cozer num caldeirão, como carneque se quer fazer ferver dentro de uma panela. Um dia clamarão ao Senhor, o qual não os ouviráe lhes esconderá a sua face naquele tempo, como merecer a iniqüidade das suas ações.”

38 MÜNTZER, Pronunciamento, 1524, p. 212.

outro modo nada conseguiriam; paraele, algo precisava ser feito, e sem de-mora, mesmo que para isso fosse ne-cessário empunhar as armas e decla-rar a guerra.

2.4 - Martinho Lutero e aGuerra dos Camponeses

Em 1524/1525, no entanto, nadahavia mudado nas regiões agrárias daAlemanha, e a desilusão dos campo-neses frente a uma melhora em suascondições sociais convencia-os cadadia mais de que a solução só seriapossível pelo uso da força, como pre-gava Müntzer, numa sublevação con-tra a nobreza. Lutero percebeu a gra-vidade do momento e redigiu o textoExortação à Paz para, em respostaaos Doze Artigos dos camponeses,posicionar-se em primeiro lugar noque diz respeito aos erros teológicosque inspiravam essas ameaças, edepois também porque “se prontifi-cam a aceitar, de bom grado, melhorinformação, caso houver carência enecessidade, e de se deixarem ins-truir, desde que isso aconteça atra-vés de citações bíblicas claras, evi-

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dentes e incontestáveis.”39 Era umatentativa de convencer os campone-ses a não levantarem as armas e as-sim evitar as mortes no campo de ba-talha e a completa devastação dos ter-ritórios alemães, o que seria extre-mamente danoso para a região, por-que “onde esse derramamento desangue começar, dificilmente haveráum fim, a não ser que antes se tenhadestruído tudo.”40 Por essas razõesLutero esperava dar um bom enca-minhamento em direção a uma solu-ção pacífica, acreditando-se compe-tente e revestido de autoridade parainstruir quando o assunto era ou en-volvia os textos sagrados.

Outra preocupação de Lutero foia de esclarecer que não concordavacom as reivindicações dos campone-ses e muito menos com a sua formade ação. Advertiu que se “esse casoresultar em infortúnio ou desastre,isso não seja atribuído e imputado amim perante Deus e o mundo por tersilenciado,”41 reforçando a idéia deque não tinha envolvimento direto comos camponeses e suas exigências,porque ensinava apenas obediênciae respeito para com as autoridades.

Como qualquer um, terão queconcordar que ensinei sem omenor alarde e que lutei brava-mente contra a idéia da rebeliãoe que instrui com muito empenhoos súditos para obediência e res-peito até para com as autorida-des tirânicas e loucas. Portanto,essa rebelião não tem sua origemem mim.42

A Exortação à Paz foi divididaem três partes: a primeira parte foidirigida aos príncipes e senhores, asegunda ao campesinato e a terceirafoi direcionada para ambos, príncipese camponeses.

Inicialmente, Lutero acusou ospríncipes de serem a causa da rebe-lião: “na administração pública outracoisa não fazem do que maltratar eexplorar, para alimentar seu luxo e suaarrogância, até que o pobre homemdo povo não queira nem possa maisagüentar.”43 Essa revolta campone-sa demonstrou claramente para Lu-tero o descontentamento e a desa-provação de Deus para com as auto-ridades, assim, pois, permitindo umlevante nessas proporções, que colo-cava em risco toda a sociedade. Lu-

39 Martinho LUTERO, Exortação à Paz, 1525, p. 307.40 Id., ibid., p. 328.41 Ibid., p. 307.42 Ibid., p. 309.43 Ibid., p. 308.

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tero admitiu ainda que muitas das rei-vindicações camponesas, feitas emforma de artigos, eram justas e legíti-mas, e não só o primeiro artigo quepede liberdade para ouvir o evange-lho e escolher um pastor, mas tam-bém os outros “que falam dos grava-mes físicos, tais como a taxação so-bre o espólio e tributos, certamentetambém são procedentes e justos.”44

Os argumentos que usou para defen-der aqui a causa camponesa e con-denar os príncipes não devem ser vis-tos, entretanto, de forma conclusiva,ou seja, como se defendesse comple-tamente esse movimento. Uma coi-sa era admitir a difícil condição des-ses homens e o mau uso da autorida-de pelos senhores; outra coisa bemdiferente era usar desses pressupos-tos para iniciarem uma revolta. Lu-tero aconselhou que os príncipes di-minuíssem os gastos com o luxo, acomilança e os desperdícios, dessaforma teriam o que precisavam semque o pobre homem fosse esmagadopelo trabalho ou pelos tributos; se nãoquiserem fazer isso de modo inteli-gente e amigável, então: “terão quefazê-lo sob a ação da violência e dadestruição”45.

A segunda parte, dirigida ao cam-

pesinato, é muito mais extensa e tam-bém muito mais rigorosa no julgamen-to feito por Lutero. As advertênciase os conselhos eram para que os cam-poneses evitassem o conflito, pois nãolutavam por boa causa. Condenou-os também por usarem indevidamentea Palavra de Deus e o Direito Cris-tão para legitimar suas ambições, apro-priando-se falsamente dos textos sa-grados; embora ele tenha utilizadodesses recursos diante da assembléiaem Worms, não permitiu que os cam-poneses também o fizessem. Alertou-os para a existência de falsos profe-tas infiltrados no meio deles, que comsuas doutrinas estariam levando oscamponeses à perdição de corpo ede alma. Primeiro porque evocavamo nome de Deus em vão e se diziamum grupamento cristão, segundo por-que queriam fazer justiça com as pró-prias mãos, atitude condenável paraum cristão, que deve se preocuparcom a alma e não com o corpo, como céu e não com a terra. “O fato de aautoridade ser perversa e injusta nãojustifica desordem ou tumulto,”46 pois“quem revida está errado”47.

É verdade que as autoridades co-metem injustiça, barrando o

44 Ibid., p. 311.45 Ibid., p. 309.46 Ibid.47 Ibid., p. 314.

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Evangelho e oprimindo a vocêsquanto aos bens temporais. In-justiça maior, porém cometemvocês ao não apenas resistiremà palavra de Deus, mas tambéma pisoteiam, interferindo no exer-cício de seu poder e direito, colo-cando-se, inclusive, acima dele.48

Para Lutero, nada justificava de-sordem, tumulto, revolução ou guer-ra; a submissão incondicional às au-toridades é dever de todos os homens,cristãos ou não.

A autoridade lhes tira injusta-mente seus bens; isso é um as-pecto. Por sua vez, vocês tiramdela o poder, no que consiste tudoo que possui, corpo e vida. Porisso vocês são assaltantes muitopiores do que eles, e pretendemcoisa pior do que as autoridadesfizeram.49

O peso das obrigações cristãs eramuito mais insuportável e pesado paraos camponeses do que para seus se-nhores. Lutero exigia que a condutaevangélica estivesse acima de qual-quer preocupação terrena. Já para ospríncipes, sua função política era maisimportante e de certa forma pairava

48 Ibid., p. 315.49 Ibid., p. 315.50 Ibid., p. 320.51 Ibid., p. 328.

acima das obrigações morais, daí por-que os trechos bíblicos aplicados aoscamponeses não foram os mesmosusados para as autoridades.

Lutero percebeu que o radicalis-mo camponês podia prejudicar seuprograma de reforma; reconhecia oscamponeses como seguidores do di-abo e por isso tinha-os como seus ini-migos, porque, sendo ele um dos quenestes tempos interpretava a Palavrade Deus aqui na terra, e como a idéiade rebelião era diametralmente opos-ta à sua, concluiu que só podiam es-tar sob o comando do diabo.

Pois estou vendo perfeitamenteque o diabo, que até agora nãoconseguiu eliminar-me através dopapa, agora quer destruir e de-vorar-me através dos profetassanguinários e assassinos e dosespíritos rebeldes que há entrevocês.50

Na terceira parte, que dirigiu tan-to a príncipes quanto a camponeses,Lutero sentencia que “Deus é contraambos, tiranos e rebeldes, por isso osjoga uns contra os outros para queambos pereçam miseravelmente e secumpra nos descrentes sua ira e seujuízo.”51 Aos príncipes e senhores

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pediu para que cedessem em sua ti-rania e opressão, e aos rebeldes paraque eliminassem alguns dos seus ar-tigos que iam longe e alto demais.Deus condenava os príncipes porqueexploravam impiedosamente os cam-poneses, mas era também contra oscamponeses por não suportarem re-signadamente seu sofrimento e suacondição de subalternos.

Suas advertências, entretanto,foram insuficientes para esfriar osânimos dos camponeses, que inicia-ram os combates antes mesmo queLutero pudesse vir a público mani-festar seu julgamento. Irritado, umasemana após ter escrito A Exorta-ção à Paz e percebendo que em al-guns locais os confrontos já haviaminiciado, começou a escrever umadendo intitulado Contra as HordasSalteadoras e Assassinas dos Cam-poneses, que, ao contrário do primei-ro, sugere ações mais enérgicas e derepresália à violência praticada pelosrevoltosos. Era uma exortação à açãode caráter salvador empreendida ago-ra não só pelas autoridades compe-tentes, mas por qualquer um que pu-desse impedir os camponeses, con-tradizendo suas próprias palavras52,quando aconselha: “Pois sobre qual-

52 Martinho LUTERO, Contra as Hordas, 1525, p. 318. “É preciso também ter o direito e o poderinstituído por Deus para usar a espada e castigar a injustiça.”

53 Id., ibid., p. 332.

quer elemento que subverte a ordempública qualquer pessoa é tanto su-premo juiz e carrasco; é como sehouvesse um princípio de incêndio:quem primeiro conseguir apagá-lo éo melhor.”53

Destacam-se do posicionamen-to de Lutero duas questões de ordempolítica que são importantes e signifi-cativas dentro de sua filosofia políti-ca: a da autoridade secular, extraída,sobretudo, do capítulo 13 da Carta deSão Paulo aos Romanos, e a do di-reito à não-resistência, baseado nasidéias de resignação à vontade divi-na com promessas de um paraísoextrafísico.

2.5 - Autoridade secular

Cada qual seja submisso às au-toridades constituídas. Porquenão há autoridade que não venhade Deus, e as que existem foraminstituídas por Deus. Assim,aquele que resiste à autoridade,opõe-se à ordem estabelecida porDeus, e os que a ela se opõematraem sobre si a condenação(Rm 131-2.).Servos, sede obedientes aos se-nhores com todo o respeito, não

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rara55 sobre a terra, ou seja, ummundo constituído em sua maior par-te de pessoas desregradas, injustas einsubmissas e que, se deixadas intei-ramente livres ou sem qualquer con-trole, destruiriam a paz e a ordemsocial. Foi a partir dessa premissa queLutero saiu em defesa das autorida-des; mesmo que elas não cumpris-sem verdadeiramente o seu papel,como ele mesmo admitiu, era um malmenor diante da possibilidade do caose da completa desordem. E mesmoque o próprio Deus quisesse castigá-los, porque: “Não são os campone-ses, senhores, que se levantam con-tra vocês, é Deus mesmo, para vin-gar sua insânia”,56 não teria comoagir, pois seu agir no mundo depen-dia desses homens, o que os coloca-va, segundo essa opinião, acima dobem e do mal. A substituição dessestiranos não podia ser justificada porqualquer argumentação camponesaou por qualquer vontade humana, in-capaz de mudar ou anular os desígni-os de Deus, a ninguém cabia o ques-tionamento desses privilégios, poisseu poder derivava de uma necessi-dade divina, chegando Lutero mes-mo a admitir que “o reino secular nãopode subsistir onde não houver desi-

só aos bons e moderados, mastambém aos de caráter difícil (1Pe 2.18).Quem lança mão da espada, àespada perecerá (Mt 26.52).

A função da autoridade secular,na perspectiva de Lutero, seria cui-dar da manutenção da ordem públi-ca, conforme ensinam os trechos aci-ma; por isso lembrava às autorida-des do seu poder para preservar apaz e castigar os perturbadores, mes-mo que para isso fosse necessário ouso da força, pois somente a ela erapermitido usar da espada, segundo otexto sagrado; “aqui precisamos en-tender que não basta que alguém nosfaça injustiça, enquanto defendemosuma boa causa e o direito está donosso lado. É preciso também ter odireito e o poder instituído por Deuspara usar a espada e castigar a injus-tiça.”54 Lutero utilizou repetidas ve-zes esses capítulos para embasar nasEscrituras a defesa das autoridades.Ele acreditava que a necessidade di-vina legitimava o poder e as açõesque correspondiam às expectativas deordem e paz, de um mundo formado,sobretudo, por não-cristãos. Porqueo verdadeiro cristão era uma ave

54 Ibid., p. 318.55 Id., Exortação à Paz, 1525, p. 317. “Caros irmãos, os cristãos não existem em tão grande

número que tantos se possam juntar num só grupo. O cristão é uma ave rara.”56 Ibid., p. 309.

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gualdade das pessoas, de sorte quealguns são livres, outros estão pre-sos, uns são senhores, outros, subal-ternos, etc.”57 Toda a teoria políticade Lutero desdobrou-se desse prin-cípio de desigualdade, como sendoalgo natural, e desse conceito de au-toridade. Como conseqüência, pioresdo que injustiças e arbitrariedadespraticadas pelas autoridades eram arevolta e o questionamento a esse po-der, sem o qual apenas o mal e a des-truição governariam. Embora impon-do alguns limites às autoridades se-culares, que, segundo ele, eram in-competentes para arbitrar sobre asquestões espirituais nos assuntos deordem física, sua função era, atravésda espada, solucioná-los, inclusivepelo uso da força, se necessário, paraa permanência da justiça e da ordem.Foi o que aconselhou aos príncipesquanto às hordas salteadoras e as-sassinas dos camponeses. A conse-qüência direta dessas idéias é o con-ceito de não-resistência.

2.6 - Direito de não-resistência

Eu, porém, vos digo: Não resis-tais ao mau. Se alguém te ferir aface direita, oferece-lhe tambéma outra (Mt 5.39).

Eu, porém, vos digo: Amai vossosinimigos, fazei bem aos que vosodeiam, orai pelos que vos mal-tratam e perseguem (Mt 5.44).Não vos vingueis uns aos outros,caríssimos, mas deixai agir a irade Deus, porque está escrito: Amim a vingança; a mim exercera justiça, diz o Senhor (Rm12.19).

A pregação dirigida aos campo-neses estava repleta de passagensque sugeriam resignação, necessida-de de sofrimento e desprendimentodos bens terrenos, deveres exclusi-vos para homens sem posses e cam-poneses pobres, uma vez que não seestendiam aos príncipes e senhores.Para Lutero, ao povo restavam ape-nas a resignação e a obediência aessas autoridades. Escrevia ele aoscristãos (camponeses): “Não sãocristãos aqueles que, além da pala-vra, querem usar a violência e quenão estão dispostos a sofrer tudo, ain-da que se digam possuídos de dezEspíritos Santos.”58 O problema é queessa mesma violência proibida paraos cristãos podia ser usada em outraocasião pelas autoridades, não quan-do lutavam, como os camponeses, pormelhores condições de vida e menos

57 Ibid., p. 326.58 Id., Carta aos Príncipes, 1524, p. 299.

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exploração, mas quando corriam pe-rigo em seus privilégios ou estava emdiscussão sua autoridade. O únicodireito do cristão (leia-se campone-ses) seria o de:

Não resistir à injustiça, nem lan-çar mão da espada, não se de-fender, não se vingar, mas entre-gar vida e bens, para que roubequem quiser, já que nos bastanosso SENHOR, que não nosabandonará, conforme prometeu.Sofrer e sofrer! Cruz e cruz! –esse é o direito dos cristãos e ne-nhum outro.59

Segundo os camponeses, que lu-tavam pelo estabelecimento de umajustiça social, todo aquele que abu-sasse de seu poder pelo uso da forçapara fazer valer seus interesses nãopodia evidentemente continuar no co-mando, daí sua revolta. Lutero diver-giu desse pensamento porque, ao con-trário daqueles, tinha nos príncipes,senão o bem sem mescla, pelo me-nos o mal necessário. O que era au-toridade para Martinho Lutero, segun-do sua visão, não o era para os cam-poneses conforme a aplicação dadaa esse poder. Lutero observou aindaque nada podiam fazer, a não ser de-sistir de lutar em causa própria por

justiça e liberdade, outro argumentoinaceitável para os camponeses, pois,se não podiam lutar em causa pró-pria, a quem recorrer se seus tiranoseram as próprias autoridades? ParaLutero, a ninguém, porque a maiorautoridade terrena (palavra de Deus),aliás, única autoridade acima dessespoderosos, não versava sobre assun-tos dessa ordem, ou seja, políticos.Nas poucas passagens em que falade autoridade, o Evangelho simples-mente justifica a sua existência e asua necessidade.

Acontece que o Evangelho nãose envolve com assuntos secula-res, mas fala da vida no mundocomo sujeita a sofrimentos, injus-tiça, cruz, paciência e desprendi-mento de bens e vida temporais.Como poderia o Evangelho com-binar com vocês, se procuramapenas fachadas para seu movi-mento não-evangélico e acristão,sem se darem conta que com issozombam do santo Evangelho deCristo, fazendo dele um pretex-to? Portanto, vocês têm que to-mar uma atitude diferente nocaso; ou desistem de tudo e sesubmetem ao sofrimento de in-justiça, se quiserem ser cristãos;ou, se quiserem continuar com o

59 Id., Exortação à Paz, 1525, p. 317.

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movimento, achem um nome di-ferente e não pretendam ser cha-mados e considerados cristãos.

Aqui não há meio termo nemoutra escolha.60

to Lutero pensava numa completaespiritualização da Igreja, Maquiavelalmejava uma maior laicização do Es-tado.

Lutero escreveu sobre a Guerrados Camponeses e sobre o espíritorevoltoso valendo-se de concepçõesteológicas surgidas a partir de suainterpretação bíblica. Utilizou-se dealgumas passagens deliberadamenteescolhidas para justificar sua conivên-cia e seu apoio aos nobres. A partirde um livro considerado sagrado, deonde se extraem ensinamentos quesão a fonte para muitas religiões,Lutero conseguiu defender ações vi-olentas e repressivas por parte depríncipes e senhores comprometidoscom a miséria e o sofrimento dos cam-poneses, que culminaram na chacinade 1525. “Por isso não há porque he-sitar aqui. Não cabem também paci-ência e misericórdia. Aqui é hora deespada e de ira, e não hora de mise-ricórdia.”62 É preciso lembrar aindaque suas idéias não influenciaram nas

As idéias políticas que emergemdos textos de Lutero sobre a Guerrados Camponeses nos dão a entenderuma política absolutista principesca ouregionalizada, de ordenação divina e,portanto, inquestionável. É claro que,se por um lado não acompanhou amodernidade emergente que a arte,a política, a economia desenvolviamnesse período, por outro, acabou con-tribuindo para uma modernização domundo, discutindo uma definição maisclara entre aquilo que pertencia aoreligioso ou ao secular, ao espiritualou ao material, à Igreja ou ao Estado,ambos amalgamados numa relaçãode parasitismo mútuo que impedia eprejudicava a criação de um Estadolaico moderno e uma religião verda-deiramente cristã, nos moldes da an-tiga Igreja do cristianismo primitivo.Maquiavel também discutiu sobre opapel do Estado.61 Embora tenhamescrito sobre suas funções e seus li-mites, o fizeram com objetivos dia-metralmente opostos, ou seja, enquan-

3 - Considerações finais

60 Ibid., p. 323.61 Cf. MAQUIAVEL, O Príncipe, 1999.62 Martinho LUTERO, Exortação à Paz, 1525, p. 335.

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interesses próprios e obscuros, so-mente a sua consciência poderá res-ponder a essas perguntas. As limita-ções inerentes ao ser humano impe-dem que se possua com propriedadeo conhecimento de todos os ramosda ciência e do saber, e Lutero nãofugiria a essa regra, decepcionandoinvoluntariamente aqueles que o vi-ram, ou o vêem, como um enviadodivino ou profeta infalível, apto a so-lucionar ou capaz de esclarecer todae qualquer polêmica. Suas especula-ções teológicas já avançadas para oefervescente século XVI contribuí-ram para a consolidação do pensa-mento moderno e por isso ele tevegrandes méritos, sendo reconhecidoainda em nossos dias. Entretanto, nãoexijamos dele mais do que podemosexigir de um determinado e corajosoteólogo daquele século. O impacto desua mensagem ultrapassou os limitesdo espaço e do tempo, o que lhe ga-rante figurar entre os grandes nomesda humanidade; contudo, sua vida,suas ações e suas palavras demons-tram que não foi um homem nem in-falível e perfeito, nem tolo e ignoran-te, foi simplesmente Lutero, de pos-se de todos os seus desejos, medos einteresses.

decisões tomadas por nobres e ple-beus nos violentos acontecimentos demaio de 1525 na Turíngia, mas foramsuficientes “para que o reformadorse tornasse alvo de duras críticas, sejada parte de opositores, seja da partede simpatizantes da Reforma.”63 La-mentavelmente, o pensamento políti-co de Lutero serviu apenas para le-gitimar a exploração exercida poruma pequena parcela da sociedadealemã do século XVI, que, aliás, mes-mo beneficiada por esses escritos,ignorou seus conselhos, advertênciasou ameaças, e com a guerra e o san-gue promoveu o grande flagelo quemanchou violentamente a história daAlemanha naquele século, extermi-nando dezenas de milhares de cam-poneses. Varia de 70.000 a quase100.000 o número de mortos nessesconfrontos.

Evidentemente que a partir dasidéias políticas de Lutero extraídasdos seus escritos sobre a Guerra dosCamponeses e sobre os teólogos re-volucionários deve-se considerar suacondição de teólogo e homem muitomais preocupado com a salvação daalma do que com o bem-estar físicodo corpo. Se seus argumentos surgi-ram do desenvolvimento natural de suateologia ou se são conseqüências de

63 Ricardo W. RIETH, Introdução à Carta Aberta, 1996, p. 340.

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SKINNER, Quentin. As Fundações do Pensamento Político Moderno. São Paulo:Companhia das Letras, 1996.

Paulo Henrique VieiraUniversidade Estadual de Maringá

Programa de Pós-Graduação em EducaçãoAv. Colombo, 5790 – Bloco G34 – Sala 101

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