a filosofia da libertação frente aos estudos pós-coloniais

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Rev. Direito e Práx., Rio de Janeiro, Vol. 08, N.4, 2017, p. 3232-3254. Enrique Dussel DOI: 10.1590/2179-8966/2017/31230| ISSN: 2179-8966 3232 A Filosofia da Libertação frente aos estudos pós-coloniais, subalternos e a pós-modernidade The Philosophy of Liberation face the post-modernity and post-colonial and subalterns studies Enrique Dussel Universidad Nacional Autónoma de México, Cidade do México, México. Versão original: La Filosofía de la Liberación ante los estudios poscoloniales y subalternos y la Posmodernidad. Cap. 2. da obra: DUSSEL, Enrique. Filosofías del Sur. Descolonización y Transmodernidad. Ediciones Akal: México, 2015, pp. 31-50. Tradução Lucas Fagundes Machado, Universidade do Extremo do Sul Catarinense, Criciúma, SC, Brasil. E. Emiliano Maldonado, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.

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Rev.DireitoePráx.,RiodeJaneiro,Vol.08,N.4,2017,p.3232-3254.EnriqueDusselDOI:10.1590/2179-8966/2017/31230|ISSN:2179-8966

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A Filosofia da Libertação frente aos estudos pós-coloniais,subalternoseapós-modernidadeThe Philosophy of Liberation face the post-modernity and post-colonial andsubalternsstudies

EnriqueDussel

UniversidadNacionalAutónomadeMéxico,CidadedoMéxico,México.

Versãooriginal:LaFilosofíadelaLiberaciónantelosestudiosposcolonialesysubalternosylaPosmodernidad.Cap.2. daobra:DUSSEL,Enrique.FilosofíasdelSur.DescolonizaciónyTransmodernidad.EdicionesAkal:México,2015,pp.31-50.

Tradução

LucasFagundesMachado,UniversidadedoExtremodoSulCatarinense,Criciúma,SC,Brasil.

E.EmilianoMaldonado,UniversidadeFederaldeSantaCatarina,Florianópolis,SC,Brasil.

Rev.DireitoePráx.,RiodeJaneiro,Vol.08,N.4,2017,p.3232-3254.EnriqueDusselDOI:10.1590/2179-8966/2017/31230|ISSN:2179-8966

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I-introdução

Osmarcosteóricosusadoseconstruídosnofinaldosanosnoventa,tantonaAméricaLatina

comoentreoslatino-americanistasnosEstadosUnidos,quesãofilósofos,críticosliterários,

historiadores, sociólogos, antropólogos, etc., foram diversificados e têm adquirido

complexidade, tornando necessário trazer uma topografia das posições para poder

continuar inteirando-se do debate. Assim, têm mudado a tal ponto as perspectivas,

categorias e os planos de profundidade da “localização” dos sujeitos do discurso teórico-

interpretativo e crítico, que já não é fácil iniciar no estudo, e muito menos continuar o

debatesobreolatino-americano.Emmeioatantasárvoresobosquehátemposjáperdeu

suavisibilidade.Oantigo latinoamericanismo, “latinoamericanismo I”, pareceumobjeto

de museu; devendo ser, porém, a referência obrigatória em toda a discussão. Vejamos

rapidamenteaditatopografiadodebate,emconsideraçãoaquetratasomentede“uma”

interpretação,masvalecomoumgrãodeareiaparadartalvezalgodeclarezaàdiscussão.

II - O “Pensamento Latinoamericano”: desde o final da Segunda Guerra europeia-norte

americana

Emmeadosdosanosquarenta,quandochegouaofimaGuerraEuropeia-norteamericana,

umgrupodejovensfilósofostaiscomoLeopoldoZeanoMéxico,ArturoArdaonoUruguai

ouFranciscoRomeronaArgentina,reiniciaramodebatesobreaproblemáticade“Nuestra”

AméricaLatina,comhaviaacontecidonoséculoXIXcomJuanBautistaAlberdi,AndrésBello

ou JoséMartí, ou na primeira parte do século XX, comMariátegui, Vasconcelos, Samuel

Ramos e tantos outros. Frente o “pan-americanismo” norte americano levantava-se uma

interpretação da América Latina que tampouco queria se confundir com o “Ibero-

americanismo”dofranquismoespanhol.

Os membros de uma filosofia acadêmica “institucionalizada” na etapa anterior a

Guerra–naperiodizaçãodeFranciscoRomero–,haviamcomeçadoa travar contatosem

todoocontinentelatino-americano.Tratava-sedeconhecera“história”dopensamentona

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região,esquecidodetantoobservarsomenteàEuropaeaosEstadosUnidos.“Américaenla

historia” de Leopoldo Zea, publicado em 1957, pela editora Fondo de Cultura Económica

(México),éumexemplodestaépoca.

OmarcoteóricodestageraçãosenutriadefilósofostaiscomoHusserl,Heidegger,

OrtegayGasset,Sartre,ouhistoriadorescomoArnoldToynbee.Retornava-seaosheróisda

Emancipação, ao começo do século XIX (não se tentava recuperar a época colonial) para

repensarseuideallibertárioanteumEstadosUnidosdesde1945hegemônicodoOcidente,

nocomeçodaGuerraFria.

Por sua parte, na África, um Placide Tempels publicava, em 1949, La Philosophie

bantoue,naeditoralPrésenceAfricainedeParis.NaÁsiaenaÍndia,maisparticularmente,o

pensamento de Gandhi havia redescoberto um “pensamento hindu” como motor

emancipadordaex-colôniabritânica.

Nestaetapa culminaem tornoa1968, anodegrandesmovimentos intelectuais e

estudantisqueseiniciamcomaRevoluçãoCulturalnaChina,em1966,eabarcamtantoo

maio francês comooprotesto contra aGuerradoVietnãemBerkeley, EstadosUnidos, o

outubroemTlatelolconoMéxicoeoCordobazoargentinoem1969.

III-Modernidade/Pós-ModernidadenaEuropaeEstadosUnidos

Na década de setenta mudou o “ambiente” europeu da filosofia. As revoltas estudantis

esgotaramumacertaesquerdaqueabandona,emparte, a tradiçãomarxista,Castoriadis,

enquantoqueoutrosforamburocratizados,construindoomarxismostandard, incluindoo

clássicoalthusseriano.Deestaformasurgelentamenteumacertacríticaaouniversalismo,

fundacionaloudogmático,desdeposiçõesnão tradicionais.Michel Foucault, protagonista

noNanterrede1968,criticaasposiçõesmetafísicasea-históricasdomarxismostandard,ou

seja,oproletariadocomo“sujeitomessiânico”,ocursonecessárioeprogressivodahistória,

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opodermacroestruturalcomooúnicoexistente,etc.1.NaFrança,GillesDeleuze2,Jacques

Derrida3oJeanFrançoisLyotard,naItáliaGianniVattimo4(composiçõesmuitocontrárias),

se levantam contra a “razão moderna”, buscada sob a categoria de totalidade por

EmmanuelLévinasem1961(emTotalidadeeInfinito,publicadonacoleçãofenomenológica

de Nijhoff Nimega). A obra de Lyotard,A condição pós-moderna,de 1979, publicada por

Minuit, em Paris, é como ummanifesto. Na terceira linha da Introdução nos diz que “o

termoestaemusonocontinenteamericano”,eodefine:

Designaoestadodaculturadepoisdastransformaçõesqueafetaramasregrasdojogodaciência,daliteraturaedasartesapartirdoséculoXIX.Aquisesituamestastransformaçõescomrelaçãoacrisesdosrelatos.5

Desde Heidegger, com sua crítica da subjetividade do sujeito como superação da

ontologia da modernidade6, e ainda mais desde Nietzsche, com sua crítica ao sujeito, a

ordemdevaloresvigentes,averdade,ametafísica,omovimento“pós-moderno”nãosóse

1Ver:M.Foucault,Lesmotsetleschoses,París,Gallimard,1966[ed.Cast.:Laspalabrasylascosas,MéxicoSigloXXI,1986];L’archeólogiedusavoir,París,Gallimard,1969(ed.Cast.:Laarqueologíadelsaber,México,SigloXXI];Histoire de la folie à l’âge classique, Páris, Gallimard, 1972, (trad.Historia de la locura en la época clásica,México,FondodeCulturaEconómica);Surveilleretpunir,París,Gallimard,1975(trad.Vigilarycastigar,México,SigloXXI);Histoiredelasexualité1.LaVolontédesavoir,París,Gallimard,1976(trad.Historiadelasexualidade1. La voluntad de saber,México, Siglo XXI, 1977);Histoire de la sexualité 3. Le souce de soi,París,Gallimard,1984,(trad.Historiadelasexualidade3.Lainquietuddesí,México,SigloXXI,1987),eHistoriadelasexualidad2.El usode losplaceres,México, SigloXXI, 1986.ComentaD. Eribonquepode se verem:Historiade la locura,Foucault mostra que ao excluído não lhe era permitido falar (como crítica à psiquiatria); enquanto que emHistoria de la sexualidad (desde La volutandde saber) o poder prolifera e toma a palavra do excluído comapsicanálise.Suaintençãoétodoumprocessodelibertaçãodosujeitoquepartedanegaçãoorigináriaefundaapossibilidadedeumfalardiferencial.A“ordem”,istoé,osistemadodiscursodisciplinar(repressor)exerceumpoderquelegitimaouproíbe,primeiro;mas,posteriormente,os“quebrados”tomamapalavra.Foucaultéumintelectualdodiferencial;Sartredouniversal.Énecessáriosaberarticulá-los.2Ver:G.Deleuze,NietzscheetlaPhilosophie,París,PUF,1962;Foucault,México,Paidós,1991,ecomF.Guattari,Capitalismeetschizophrénie1.L’Anti-Oediper),París,LeséditionsdeMinuit,1972.3Verassuasobrasjuvenistaiscomo:“Violenceetmétaphysique,essaisurlapenséd’EmmanuelLevinas”,RevuedeMéaphysiqueetdeMorale69/3(1964),pp.322-354;ibid.,pp.425-43;L’écritureetlaDifférence,París,Seuil,1967,yDelaGrammatologie,París,LeséditionsdeMinuit,1967.4 Ver: G. Vattimo, Schleiermacher filosofo dell’interpretazione, Milán, Mursia, 1968, La fine della Modernità,Nichilismo ed ermeneutica nella cultura post-moderna,Mílan, Garzanti, 1985; Le avventure della Differenza,Milán, Garazanti, 1988; El sujeto y la máscara, Barcelona, Península, 1989; Essere, storia e linguaggio inHeidegger,Gênova,Marietti,1989,yCrederedicredere.ÉpossibiliesserecristianinonostantelaChiesa?,Milán,Garzanti,1998.5 J. – F. Lyotard, La condición postmoderna,Madrid, Cátedra, 1989, p. 9. W. Welsch mostra que a origemhistóricadotérminoéanterior(veremUnserepostmoderneModerne,Berlín,AkademieVerlag,1993,p.10).6Ver:E.Dussel,Paraunade-struccióndelahistoriadelaética,Mendonza,SeryTiempo,1974.

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opõemaomarxismostandard,masmostraavertenteuniversalistacomoprópriadoterrore

daviolênciada racionalidademoderna. Frenteaunicidadedo serdominante se levantaa

differance, a multiplicidade, a pluralidade, a fragmentariedade, a desconstrução de todo

macrorelato.

Nos Estados Unidos, a obra posterior de Fredric Jameson, Postmodernism or the

Cultural Logico of Late Capitalism, publicado em 1991 por Duke University, é um novo

momento do processo. Richard Rorty é um cético antifundacionalista, que poderia ser

inscritonatradiçãopós-moderna,mascolateralmente.

NaAméricaLatina,arecepçãodomovimentopós-modernosedáaofinaldosanos

oitenta.NaobradeHermannHerlinghauseMonikaWalter,Posmodernidadenlaperiferia7,

ounaobracompiladaporJohnBeverly,JoséOviedoyMichelAronna,ThePostmodernism

Debate in Latin America8, podem ver-se trabalhos muito recentes; os mais antigos da

metadedosoitenta.Emgeral, significaumageraçãoqueexperimentacerto“desencanto”

própriodofinaldeumaépocanaAméricaLatina(nãosomentedopopulismo,masdetoda

a esperança que despertou a Revolução cubana de 1959, confrontada com a caída do

socialismorealdesde1989).Temumaatitudedeenfrentarpositivamenteahibridezcultural

deumamodernidadeperiféricaque jánãocrêemmudançasutópicas;desejamevadir-se

dos dualismos simplificados de centro-periferia, atraso-progresso, tradição-modernidade,

dominação-libertaçãoetransitarpelapluralidadeheterogênea,fragmentária,diferencial,de

uma cultura transnacional urbana. Agora são os antropólogos sociais9 ou os críticos

literáriososquetemproduzidoumanovainterpretaçãodolatino-americano10.

7 H. Herlinghaus y M. Walter, Posmodernidad en la periferia. Enfoques latinoamericanos de la nueva teoríacultural, Berlín, Langer Verlag, 1994; com trabalhos dos editores e de José Joaquín Brunner, Jesús Martín-Barbero,NéstorGarcía Canclini, CarlosMonsiváis, RenatoOrtiz, Borbert Lechner,Nelly Richard, Beatriz Sarlo,HugoAchúgar.8J.Beverlyetal.(eds.),“ThepostmodernismDebateinLatinAmerica”,Boundary2:aninternationaljournalofliteratura and cultura 20/03 (1993); com colaboração dos editores e Xavier Albó, José J. Brunner, FernandoCalderón, EnriqueDussel,MartínHopenhayn,N. Lechner, AníbalQuijano,N. Richard, Carlos Rincón, B. Sarlo,SilvanoSantiago,HernánVidal.9 Em especial N. García Canclini,Culturas híbridas. Estratégias para entrar y salir de lamodernidad,México,Grijalbo,1989.10Ver:R.Follari,Modernidadypostmodernidad:unaópticadesdeAméricaLatina,BuenosAires,REI,1991;S.Arriarán, Filosofia de la postmodernidad. Crítica a laModernidad desde América Latina,México, Faculdad deFilosofia y Letras – UNAM, 1997 e a crítica de R, Mailandi, Dejar la Postmodernidad. La ética ante elirracionalismoactual,BuernoAires,Almagesto,1993.

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PensoqueaobradeSantiagoCastro-Gómezédesumointeresse,jáquerepresenta

umexemplodeumafilosofiapós-modernadesdeAméricaLatina11.Suacríticaéendereçada

contraopensamentoprogressistalatino-americano;contraAdolfoSánchezVásquez12,Franz

Hinkelammert13,PabloGuadarrama,ArturoRoig14,LeopoldoZea15,AugustoSalazarBondy16,

etc.Emtodososcasos–enomeupróprio–suaargumentaçãoésempresemelhante:estes

filósofos (para Castro-Gómez) sob a pretensão de criticar a Modernidade, ao não ter

consciência crítica da “localização” de seu próprio discurso, por não ter possuído as

ferramentas foucaultianas de uma arqueologia epistemológica que houvesse permitido

reconstruirgeneticamenteomarcocategorialmoderno,deumaououtramaneiravoltama

cairnaModernidade(sealgumavezsaíramdela).Falardesujeito,dehistória,adominação,

a dependência externa, as classes sociais oprimidas, do papel das massas populares, de

categoriastaiscomototalidade,exterioridade, libertação,esperança,seriacairnovamente

emummomentoquenãoassumedeformasériao“desencantopolítico”noqualacultura

atual se encontra radicada. Falar então demacro instituições como o Estado, a nação, o

povo,odasnarrativasépicasheroicas seria terperdidoo sentidodomicro,heterogêneo,

plural,híbrido,complexo.Deumamaneirapessoal,entreoutrascríticas,seinscreve:

Ooutrodatotalidadeéopobre,ooprimido,oque,porencontrar-senaexterioridade do sistema, se converte na fonte única de renovaçãoespiritual. Ali na exterioridade, no ethos do povo oprimido, se vivemoutrosvaloresmuitodiferentesaosprevalentesnocentro...ComoqualincorreDusselna segunda redução:adeconverteraospobresemumaespécie de sujeito transcendental, a partir da qual a historia latino-americanaadquiririasentido.Aqui jánosencontramosnasantípodasda

11Ver:S.Castro-Gómez,Críticadelarazónlatinoamericana,Barcelona,PuvillLibros,1996;DiePhilosophiederKalibane. Diskursive Konstrutionen der Barbarei in der lateinamerikanischen Geschichtsphilosophie, Tubinga,FaculdaddeFilosofia(s.f);comE.Mendieta(eds.),Teoríassindisciplina.Latinoamericanismo,poscolonialidadeglobalización en debate,México, Porrúa-Universidad de San Francisco, 1998 (com trabalhos dos editores eWalterMignolo,AlbertoMoreiras,IleanaRodríguez,FernandoCoronil,ErnavonderWalde,NellyRichard,HugoAchúgar).12S.Castro-Gómez,Críticadelarazónlatinoamericana,cit.,p.18.13Ibid.,p.19.14Especialmentenastrêsobrasnomeadaseemmuitoslugares(éoautormaiscriticado).15OmencionadoemrelaçãoaROIG.16S.Castro-Gómez,Críticadelarazónlatinoamericana,cit.,pp.89ss.“SalazarBondypensaqueaesquizofreniapsicológicaéapenasexpressãodeumaalienaçãoeconômica”(ibid.,p.90).Oautorsempretendeasimplificaraposiçãodocontráriodeumaformaumtantosiamesa.

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pós-modernidade, pois o que Dussel procura não é descentralizar aosujeitoiluminista,massubstituí-loporoutrosujeitoabsoluto17.

O que não adverte Castro-Gómez é que Foucault critica certas formas de sujeito,

masvalorizaoutras;criticacertasmaneirasdehistoriardesdeleisapriorinecessárias,mas

revaloriza uma história genético epistemológica. Frequentemente Castro-Gómez cai no

fetichismodas fórmulas,enãoadvertequeénecessáriaumacertacríticadosujeitopara

reconstruir uma visãomais profundadomesmo;que se requer criticar uma simplificação

das causas externas do subdesenvolvimento latino-americano para integrá-lo a uma

interpretação mais compreensiva; que é necessário não descartar as micro-instituições

(esquecidas pelas descriçõesmacro) paramelhor articulá-las asmacro instituições; que o

Poder se constitui de formamútua e relacional entreos sujeito sociais,masnãopor isso

deixadeexistiropoderdoEstadooudeumanaçãohegemônica(comohojeéocasodos

EstadosUnidos).Secriticaumacertaunilateralidadecomoutradesentidocontrário,ese

cai naquilo que se critica. Desde uma crítica panóptica pós-moderna repete a pretensão

universal da Modernidade; ou seja, “a pós-modernidade – nos diz Eduardo Mendieta –

perpetuaa intençãohegemônicadamodernidadeedaCristandadeaonegar-lheaoutros

povosapossibilidadedenomearasuaprópriahistóriaedearticular seuprópriodiscurso

autorreflexivo”18.

NaEuropa,poroutraparte,umcertoracionalismouniversalista,quedesconfiado

irracionalismo fascista (do período nazi alemão), como o de Karl-Otto Apel ou Jünger

Habermas, opina que pelo contrário, do que se trata é de “completar a tarefa da

Modernidade”comoracionalidadecrítico-discursivademocrática.Setratadeumintentode

fundamentararazãocontraoscéticosdotipoRichardRorty.

17Ibid.,pp.39-40.EsqueceaquiCastro-GómezqueH.Ceruttimecriticouemnomeda“classetrabalhadora”(oproletariado como categoriametafísica, que eu não aceitava dogmaticamente) do althusserianismo, pelo usoindevido do “pobre” e “povo”, que, comomostrarei depois, é exatamente, ummodomuito foucaultiano dedeter-sereflexivamentesobreos“excluídos” (o ‘demente’dosmanicômios,ocriminosodasprisões…”Outros”que vagam na “exterioridade” da visão panóptica da “totalidade” da época clássica francesa). Levinas haviaradicalizadoantescertostemasqueFoucaulttratoudepois.18Em“Modernidad,posmodernidadyposcolonialidad”,naobraqueeditacomS.Castro-Gómez,1998,p.159.

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De maneira que o debate, no Norte, se estabeleceu entre uma pretensão de

racionalidadeuniversalouaafirmaçãodadiferença,danecessidadedanegaçãodosujeito,

adesconstruçãodahistória,doprogresso,osvalores,ametafísica,etc.

IV-Surgimentodediversospensamentoscríticosnaperiferiapós-colonial:aFilosofiada

Libertação19

No seminário “Cross-genealogies and Subaltern Knowledges”, convocado por Walter

Mignolo,naUniversidadedeDukede15a18deoutubrode1998,pudeconhecerascolegas

da Índia Gyan Prakash (Princeton), Dipesh Chakrabarty (Chicago) e Jha Prabhakara (El

Colegio de México), que descreveram como surgiu o movimento denominado Subaltern

Studies,quandoemtornoaoanode1970RanajitGuha20iniciouumatransformaçãoteórica

quedemarxistastandard,pormeiodeumaleiturasituadadeFoucault,começouasairdos

caminhos trilhados do passado inovando enquanto ao estudo da cultura das massas

populares, grupos ou classes subalternas, na Índia. O importante deste movimento, que

depoisseenriquececomaparticipaçãoentreoutrosdeGayatriSpivak21,HomiBhabha22,os

19Ver:E.Dussel,PhilosophyofLiberation,NuevaYork,OrbisBooks, ³1993yTheUndersideofModernity,NewJersey,HumanitiesPress,1996.20Ver:R.GuhayG. Spivak,“On someaspectof theHistoriographyof colonial India”, enSelected SubalternalStudies,NuevaYork,OxfordUniversityPress,1988.Comosepodesuporessacorrentehistoriográficaseopõeamera“historiografiadaÍndia”tradicionalnomundoanglo-saxão.SuadiferençaaestabeleceummétodocríticoinspiradoemKarlMarx,MichelFoucaultouJacquesLacan.NissoasemelhançacomaFilosofiadaLibertaçãosefazevidente.21Verem:G.Spivak,“SubalternStudies:DeconstructingHistoriographyandValue”,emInOtherWorlds.Essaysin Cultural Politics, Nueva York, Methuen, 1987; Outside in the Teaching Machine, Nueva York-Londres,Routledge, 1993; P. William y L. Chrisman (eds.), “Can the Subaltern Speak?”, en Colonial Discourse andPostcolonialThoery:AReader,NuevaYork,ColumbiaUniversityPress,1994,pp.66-111.22Suaobrade1994,Thelocationofculture,Londres-NuevaYork,Routledge,daqualE.Saidescreve:“Hisworkisa landmark in the Exchange between ages, genres and cultures; the colonial, post-colonial, modernist andpostmodern”, se situaemuma fecunda “localização” (location):o “ser-entre”,o“in-betwenn(ness)” superaasdicotomiassemnegá-lasunilateralmente.Trabalhanatensãoenointerstício.Bhabhanãonegaocentronemàperiferia, o gênero nem a classe, a identidade nem a diferença, a totalidade nem a alteridade (se referefrequentementeàs“othernessoftheOther”pensandoexplicitamenteemLevinas),masexploraafecundidadedo “ser-entre”do “border land”da terra,do tempo,das culturas,das vidas, comoum“lugar”privilegiadodelocalizaçãocriadora.Sejasuperadaadualidadeenãocairnasuapuranegação.AFilosofiadaLibertação,semnegar suas intuições originárias pode aprender muito, crescer. Bhabha assume uma negação simplista domarxismo,comomuitospós-modernoslatino-americanosque,semadvertir,caememposiçõesconservadoras,eatéreacionárias.

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nomeados G. Prakash e D. Chakrabarty, e muitos outros, é que todos utilizam a

epistemologiadeFoucaultedeLacan,semdeixarderecorreraMarxesituam-secomoum

movimento intelectual de “compromisso político” junto aos grupos subalternos. Agora

podem abrir-se a problemas de gênero, de cultura, de política e de crítica ao racismo,

porquecontamcomnovosinstrumentosteóricoscríticosdeanálise.

A obra de Edward Said, de 1978,Orientalism.Western Conceptions of theOrient,

publicadoemLondres,sesituaigualmentecomoumatomadadeconsciênciacriticaanteos

estudoseuropeussobreaÁsia.ComrespeitoaÁfrica,aposiçãodeTempelsserácriticada

quasetrêsdecêniosdepoisdesuaapariçãoporPaulinHountondji,queem1977publicasua

obraCritiquedePethnophilophosie,emMaspero,Paris.

Quero com isto sugerir que em toda a periferia (África, Ásia e América Latina),

começaram a surgir movimento críticos que partiam de sua própria realidade regional e

utilizavamemalgunscasosummarxismorenovadocomoreferencialteórico.

Penso que a Filosofia da Libertação na América Latina, que se inicia por volta de

1970(quaseaomesmotempoqueosprimeirostrabalhosdeR.GuhanaÍndia)equeestá

influenciadanãoporFoucault,masporLévinas, seencontramarcadaporummesmotipo

dedescobrimentoquepodemsermalinterpretadossenãosereconstróiconvincentemente

asuasituaçãoorigináriadenascimento,eporissosedistorceasuaperspectiva.AFilosofia

da Libertaçãonunca foi simplesmente “pensamento latino-americano”,nemhistoriografia

deste; foi filosofiacrítica, localizadaautocriticamentenaperiferia,nosgrupossubalternos.

Por outra parte, desde 1976, em alguns casos, se vem proclamando o esgotamento da

Filosofia da Libertação. Muito pelo contrário, parece que foi no final dos anos noventa

quando foi descobrindo e abrindo novos horizontes de profundidade que permitiram um

diálogoSul-Sul,preparatóriodefuturosecriativosdiálogosSul-Norte.

A intuiçãoorigináriadaFilosofiada Libertação, tradição filosófica (adiferençados

outrosmovimentosmais antropológicos, históricos, de crítica literária, que deveriam por

isso articular-se enriquecedoramente) herdeira dos movimentos de 1968, partiu de uma

críticadarazãomoderna,dosujeitocartesianodesdeacríticaontológicadeHeidegger,por

umaparte,oquelhepermitiusustentarumaposiçãocríticaradicaldedimensãoontológico-

fundamental. Por outra parte, se inspirou igualmente na primeira Escola de Frankfurt

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(Horkheimer,Adorno,especialmenteemMarcusedoElhombreunidimensional),oquelhe

ajudou a compreendero sentidopolíticodadita ontologia (incluindo a heideggeriana em

suavinculaçãocomonazismo).Citávamosem1969umtextodeHeideggeremParauma

destruccióndelahistóriadelaética:

O que significa mundo quando falamos de escurecimento mundial? Oescurecimento mundial implica o enfraquecimento do espírito de simesmo, sua dissolução, consumação e falsa interpretação [...] Adimensão predominante é a da extensão e o número [...] Tudo isso seintensificadepoisnaAméricaenaRússia23.

E concluímosdizendoqueénecessáriodizer “umnãoaomundomodernoque já

terminaseuciclo;eumsimaonovohomemquehojeestánotempodesuaconversão,de

suavirada(Quebre/giro)”24.

Masaomesmotempo,foramobrascomoadeFrantzFanon,Loscondenadosdela

Tierra, as que nos situaram. Na Argentina nessemomento as massas populares lutavam

contra a ditaduramilitar deOngania, Levingston e Lanusse. Como filósofos e acadêmicos

assumimos a responsabilidade crítica e teórica no processo25. Sofremos atentados de

bomba, fomos expulsos das universidades e do país, alguém (como Mauricio López) foi

torturadoeassassinado.Odesmonteteóricoiaarticuladocomaprática.Foramelaboradas

categorias críticas frentea subjetividademoderna.Oacessohistóricoera fundamentalna

destruiçãodaModernidade.Erajáumagenealogiadascategoriasmodernas,masdesdeum

horizonte (metrópole/colônia).Situandonossodiscursodentrodosistema-mundo(aoque

nãopuderamacessarFoucault,Derrida,Vattimo,nemmesmoLévinas)descobríamosqueo

“Eu”queassinavadesde1519asreaiscédulasdoreidaEspanha,eimperador,eraomesmo

queo“euconquisto”deHernánCortésnoMéxicoem1521,muitoantesqueo“egocogito”

deDescartesnaAmsterdamde1637.Nãoerasomenteiraossupostosepistemológicosda

idade clássica da França, nos séculos XVII e XVIII; era considerar a toda Modernidade

mundialdesdemaisde500anos.23M.Heidegger,EinführunginDieMetaphysik,Tubinga,MaxNiemeyer,1966,pp.34-35.24E.Dussel,Paraunade-struccióndelahistoriadelaética,cit.,p.126.25 Ver: “Una década argentina (1966 – 1976) y el origen de la Filosofía de la Liberación”, emHistoria de lafilosofíayfilosofíadelaliberación,Bogotá,NuevaAmérica,1994,pp.55-96.

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Hácincoséculoscomeçouaesboçar-seo“mitodaModernidade”26,asuperioridade

europeia sobre as restantes culturasdoorbe.Ginésde Sepúlveda foi certamenteumdos

primeiros grandes ideólogos do “ocidentalismo” (o eurocentrismo da Modernidade), e

Bartolomé de las Casas, desde 1514, o primeiro “contradiscurso” da Modernidade com

sentidoglobal,mundial,centro-periferia.

O“excluído”e“vigiado”nomanicômioeaprisãopanópticaclássicafrancesa,havia

sidoantecipadoemséculospeloíndioexcluídoevigiadonas“reduções”,povosedoutrinas

da América Latina desde o século XVI27. O negro vigiado na senzala junto à Casa Grande

haviasurgidoem1520emSantoDomingo,quandoterminouaexploraçãodoourodosrios

e começava a produção de açúcar. OOutro de Lévinas, que nas minhas obras de 1973,

tendolidocomcuidadojánesseentãoaJacquesDerrida,denominavao“distinto”(porque

a“di-ferença”sedefiniadesdea“Identidade”28),é,deumamaneira“generalizada”ouem

abstrato, o excluído e vigiado de Foucault, como demente recluído no manicômio ou

criminososeparadonaprisão.Verna“exterioridade”umacategoriameramentemodernaé

distorcer o sentido desta categoria levinasiana crítica, que a Filosofia da Libertação

reconstrói não semaoposição aopróprio Lévinas, que somentepensavana Europa, sem

advertir,enapura“responsabilidade”éticapeloOutro,massem“responsabilidade”sobre

oquedeixaráde“terfome”,deestarsemcasa,deserestrangeiro.AFilosofiadaLibertação

se separa de imediato de Lévinas porque deveria pensar criticamente a responsabilidade

acercadavulnerabilidadedoOutro,masnoprocessodareconstruçãodeumanovaordem

(comtodaaambiguidadequeisto implica).Ofilósofodalibertaçãonãoé“representante”

deninguém,nemfalaemnomedeoutros (comosehouvessesido investidodesta função

política), nem realiza uma tarefa para suportar ou negar uma culpabilidade pequeno

26Ver:E.Dussel,1492:ElencubrimientodelOtro,Madrid,NuevaUtopía,1992.27Opanópticopodiaserobservadonosplanosclaros,quadrados, coma igrejaaocentro,dospovos traçadoscom racionalidade renascentista espanhola, mas não por isso menos “disciplinaria” dos corpos e das vidas,regradas hora por hora desde as cinco da madrugada, regras interiorizadas pelo “exame de consciência”jesuítico,um“egocogito”reflexivomuitoanterioraDescartes…nasreduçõessocialistasutópicasdoParaguai,ouentreosmoxosychiquitosemBolívia,oscalifornianosnonortedoMéxico(epartedosEstadosUnidos).28 Édizer, falavadadifférance comodiferença;outraqueamera “diferença”na Indentidade, desde1973emPara una ética de la liberación latinoamericana (t. I, Buenos Aires, Siglo XXI). Depois, desde o México, emFilosofiade laLiberación (México,Edicol,1977), indicorepetidasvezesadiversidadeentre“diferença”e“Dis-tinção”doOutro,ondenoprólogoobservo(em1977,doisanosantesqueLyotard)quesetratadeumafilosofia“pós-moderna”.

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burguesa. O filósofo crítico latino-americano, como concebe a Filosofia da Libertação,

assume a responsabilidade de lutar pelo Outro; a vítima, a mulher oprimida do

patriarcalismo, as gerações futuras aos que deixaremos uma Terra destruída, etc. Assim,

todosostiposdealteridadepossíveldesdesuaconsciênciaéticasituada;adequalquerser

humanoscom“sensibilidade”éticaquesaibaindignar-sefrenteàinjustiçaquesofrealgum

Outro.

“Localizar” (no sentido de Homi Bhabha) o discurso foi sempre a obsessão da

Filosofiada Libertação.Pretendia situar-senaperiferiado sistema-mundo,desdeas raças

dominadas, desde amulher naordemmachista, desde a criançano sistemadeeducação

bancário, desde amiséria29, etc. Claro é que os instrumentos teóricos devem aos poucos

serem aperfeiçoados, e para isso a contribuição teórica pós-moderna deve subsumir-se.

Mas a Filosofia da Libertação igualmente subsumiu as categorias deMarx, de Freud, da

hermenêutica de Ricoeur, da Ética discursiva, e de os movimentos do pensamento que

possamcontribuircategoriasquesãonecessáriasemboranãosuficientesparaumdiscurso

quejustifiqueapráxisdelibertação.

Sim é verdade que há uma história hegeliana, “grande relato” encoberto e

eurocêntrico30, mas não é sustentável que as vítimas necessitem somente micro relatos

fragmentários.Pelocontrário,RigobertaMenchú,oExércitoZapatista,osafro-americanos,

os hispanos nos Estados Unidos, as feministas, os marginais, a classe trabalhadora no

capitalismo transnacional que se globaliza, etc., necessitam uma narrativa histórica que

reconstruasuamemória,nosentidodesuaslutas.As“lutasporreconhecimento”dosnovos

direitos (falando como Axel Honneth) necessitam da organização, da esperança, da

narrativaépicaqueabrehorizontes.Adesesperançatemseusentidodurantealgumtempo,

masaesperançadavidahumana,desuaprodução,reproduçãoedesenvolvimentoéuma

vontadedeviver,dequejáSchopenhauersedeclaroucontrário,emboranuncaNietzsche.

RichardRortynãonecessitanadadisso,massimasmilharesdevítimas,porserempobres,

dofuracãoMitchnoCaribeeCentro-américa.

29HernannCohenescreviaqueométodoônticoiniciasuatarefaassumindoaposiçãodomiserável.30Ver:E.Dussel,1492:ElencubrimientodelOtro,cit.,cap.1.

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O dualismo simplista de centro-periferia, desenvolvido-subdesenvolvido,

dependência-libertação,classesexploradoras-classesexploradas,todososníveisdegênero,

cultura, raça na bipolaridade dominador-dominado, civilização-barbárie, fundamento-

fundado, princípios universais-incerteza, totalidade-exterioridade, enquanto superficial ou

reduzidamenteutilizados,deve ser superado.Porémsuperado (enquanto subsumido)não

quer dizer que se pode “decretar” sua inexistência, inutilidadeepistêmica, total negação.

Pelo contrário, a desconstrução Derridiana supõe que o texto pode ser lido desde uma

totalidadede sentido vigenteoudesde a exterioridadedoOutro (o qual permiteuma tal

desconstrução).Estascategoriasdialéticasduaisdevemsersituadasemníveisconcretosde

maiorcomplexidade,articuladascomoutrascategoriasquelhessirvamdemediaçãoemum

nívelmicro.Noentanto,suporquenãohádominadoresnemdominados,nemcentronem

periferia,écairemumpensamentoreacionárioouperigosamenteutópico.Otempochegou

na América Latina de passar a posições de maior complexidade, sem fetichismo ou

terrorismo linguístico que declaram superadas, antigas, obsoletas ou sem validez as

posições que usam outra nomenclatura que a desejada pelo expositor. A luta de classes

nunca poderá ser superada, mas não é a única luta, há outras (a luta da mulher, os

ecologistas,asraçasdiscriminadas,asnaçõesdependentes)eemcertasconjunturas,outras

lutassãomaispromissorasecomumasignificaçãopolíticamaior.Seoproletariadonãoé

um “sujeitometafísico”para toda a eternidade, não significapor issoquenãoénenhum

sujeito coletivo, intersubjetivo, que apareça e possa desaparecer em certas idades

históricas.Esquecer-sedesuaexistênciaéigualmenteumgraveerro.

V-Osestudoslatino-americanosnosEstadosUnidos

Nosúltimostrêsdecênios,empartepeladiásporadevidaasditadurasmilitareseemparte

pela pobreza da sociedade latino-americana ocasionada pela exploração do capitalismo

tardiotransnacional,muitosintelectuaislatino-americanos–emuitosoutrosjánosEstados

Unidos integrados como “hispanos” – renovaram completamente os marcos teóricos

interpretativos no âmbito dos Estudos latino-americanos (cabe destacar que a Latin

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AmericanStudiesAssociation foi fundadaem1963),especialmentenacrítica literária,que

tomouarelevânciado“pensamento latino-americano”,emmãodosfilósofosnopassado.

Istofoidevido,entreoutrasrazões,aqueumacertaesquerdamarxistanorte-americanafoi

expulsa dos departamentos de filosofia e se fez presente nos departamentos de crítica

literária, literatura comparada ou línguas romances (em especial o francês); o que deu a

estesestudosumvooteóriconuncaantesalcançado(nemnosEstadoUnidos,tampoucona

Europa).Apreponderâncianousodefilósofosfranceses(Sartre,Foucault,Derrida,Lyotard,

Baudrillard,etc.)seexplicaigualmenteporqueédesdeosdepartamentosdelínguafrancesa

(enãoa inglesa31,maistradicionalesobocontroledeumpensamentomaisconservador)

queditomovimentoiniciaseustrabalhos.

SeagregamosaistoqueosCulturalStudies,especialnoReinoUnido(pensa-seem

Stuart Hall, de origem jamaicano), também contaram com os aportes da diáspora latino-

americana (como no caso de Ernesto Laclau, por exemplo), poderia entender-se que o

panoramafoiampliando-se.

Os Subalternal Studies procedentes da Índia, o pensamento e a filosofia africana

afro-americana e afro-caribenha, em pleno desenvolvimento, permitiram discutir a

inovadorahipótesedeumarazãopós-colonialoupostcolonialreason32,quesurgiunaÁsiae

naÁfricadepoisdaemancipaçãodenaçõesdeditoscontinentesapartirdasegundaguerra

Europa do século XX. Logo, adverte-se que o antigo pensamento latino-americano e a

FilosofiadaLibertaçãohaviamjáabordadoquestõesqueagorasediscutemnaÁfricaena

Ásia. Um estudo subalterno latino-americano (Latin American Subalternal Studies) se

sobrepõeamuitos temas já tratadospela tradição filosófica latino-americana iniciadanos

sessenta,eaparentementeesquecida(emparteporqueosespecialistasemcríticaliterária

nãoforamprotagonistasdasdiscussõesfilosóficasnaquelaépoca).

Dai que um Alberto Moreira mostra a necessidade da crítica do primeiro latino-

americanismo (tanto dos estudos latino-americanos nos Estados Unidos como do

31SomentequandoemtornoaoinglêsdoCommonwealthcomeçamaexporospensamentosasiáticos,africanoecaribenhos,opanoramamudaráradicalmente,emumalinhamuitosemelhanteàFilosofiadaLibertação.32VerB.Moore-Gilbert,PostcolonialTheory.Contexts,Pratices,Politics.Londres:Verso,1997.Comexcelentesdescrições mostra agora a presença do pensamento crítico da periferia pós-colonial nos departamentos deliteraturainglesanosEstadosUnidos.OCommonwealthsefazpresente.

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pensamentolatino-americanodaAméricaLatina)edoneolatino-americanismo.Atarefade

um segundo latino-americanismo seria “produzir um aparelho antirrepresentacional,

anticonceitual, cuja principal função seria a de entorpecer o progresso tendencial da

representação epistêmica à sua total clausura”33, omeramente global, de uma sociedade

ondeodisciplináriohaviadeixadolugaraocontroleanti-diferencial.

Frente aodescobrimentoda interpretaçãodo “orientalismo”,nos termosde Said,

descobre-seposteriormentedeumcerto“ocidentalismo”(aauto-compreensãomodernada

Europamesma),eporissosefalacomRobertoFernándezRetamarouFernandoCoronilde

“pós-ocidentalismo”:

Ocidentalismoé,portanto,umaexpressãoquedenotaarelaçãoentreasrepresentaçõesocidentais dasdiferenças culturais eodomíniomundialpelo ocidente. Enfrentar o ocidentalismo significa desestabilizar suasrepresentações,queproduzemconcepçõespolarizadasehierárquicasdoocidenteedosdemais34.

Opós-ocidental deCoronil é comoa transmodernidadequepropomosemoutros

trabalhos.Opós-modernoéaindaeuropeu,ocidental.Opós-ocidentaloutransmodernovai

além da Modernidade (e da pós-modernidade), e se encontra melhor articulado com a

situação latino-americana, cuja “ocidentalização” é maior que na África e na Ásia, e sua

emancipação–porissoo“pós-colonialismo”nãocabeadequadamente35.

33VerE.MendietayS.Castro-Gómez(coords.),“Fragmentosglobales: latinoamericanismodesegundoorden”,em:Teoríassindisciplinas.Latinoamericanismo,poscolonialidadyglobalizacióndeldebate.Porrúa:México,pp.59-83.O“latino-americanismonorte-americano”quesepraticanos“estudosdeárea”dasuniversidadesdessepaíscontacomaimigraçãomassivadeintelectuaisdaAméricaLatina,emestadohíbridoeinevitavelmenteumtanto desrraigados. Mas é possível a solidariedade: “A política de solidariedade, assim entendida, deve serconcebidacomoumarespostacontra-hegemônicaàglobalizaçãoecomoumaaberturaaoplanodomessiâniconomundo global” (ibid., p. 70). A única questão de fundo seria perguntar se a pobreza e a dominação dasgrandesmassasdasnaçõesperiféricasnãoassituamemmuitosníveiscomodefatoexcluídosdoprocessodeglobalização.Quer dizer, não parece tão evidente que “a sociedade civil não pode se entender hoje fora dascondiçõesglobais,econômicasetecnológicas”(ibid.,p.71).34Traduçãolivredoinglês:“Occidentalismisthustheexpression.OfaconstitutiverelationshipbetweenWesternrepresentations of cultural difference and worldwideWestern dominance. Challenging Occidentalism requiresthatitbeunsettledasamodeofrepresentationthatproducespolarizedandhierarchicalconceptionsofthewestanditsothers”.F.Coronil.TheMagicalState.Nature,MoneyandModernityinVenezuela.UniversityofChicagoPress:Chicago,1977,pp.14-15.35W.Mignolo,em“Posoccidentalismo:elargumentodesdeAméricaLatina”(nolivroeditadoporF.Mendieta-S.Castro-Gómez,pp.31-58),desenvolveoargumento.

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VI–Reflexõesfinais

Oquefoidito,comopoderáobservar-se,foiintuídoempartejápelaFilosofiadaLibertação

desde o início e, em último caso, tem possibilidade de apreendê-lo, de integrá-lo,

reconstruí-lo,emseuprópriodiscurso.Porém,ecomrespeitoatodasestasnovaspropostas

epistêmicas,tantonoscentrosdeestudosdaAméricaLatinacomodosEstadosUnidosou

Europa,aFilosofiadaLibertaçãosegueguardandoumaposiçãoprópria.Emprimeirolugar,

setratadeumafilosofiaquepodeentraremdiálogocomacríticaliteráriaeassimilarmuito

dela(edetodososmovimentosnomeados,dospós-moderno,SubalternalStudies,Cultural

Studies, postcolonia reason,metacrítica do latino-americanismo como de Moreira, etc.).

Enquanto filosofia crítica, lhe cabeuma funçãobemespecífica: deveria estudarnomarco

teóricomaisabstrato, geral, filosóficoda literaturadenominada“de testemunho” (prefiro

chamá-laépica,comoexpressãocriadoradosnovosmovimentossociaisque irrompemna

sociedadecivilcontemporânea).Emterceiro lugar,deveriaanalisare fundarométodo,as

categorias, o discurso mesmo teórico de todos estes movimentos críticos que, de fato,

havendo se inspirado em Foucault, Lyotard, Baudrillard, Derrida, etc., devem ser

“reconstruídos” desde um horizonte mundial, já que, em geral, pensam de forma

eurocêntrica,eapartirdemuitasexigênciashojeinevitáveis,taiscomoacompreensãodo

diálogo(sehouver)interculturalnaestruturadeumsistemaqueseglobaliza.Globalização-

exclusão(novaaporiaquenãodevesimplificar-sedemodofetichista)marcaaproblemática

dasoutrasdimensões.

Cabe, ainda fazer algumas reflexões sobreoantifundacionalismo,porexemplodo

tipo rortyano, aceitado por muitos pós-modernos. Não se trata de uma mera defesa da

razãopelarazãomesma.Setratadadefesadasvítimasdossistemaspresentes,dadefesa

davidahumanaemriscodesuicídiocoletivo.Acríticada“razãomoderna”nãopermiteà

FilosofiadaLibertaçãoconfundir-secomacríticadarazãocomotal,ecomrespeitoaseus

tiposouexercíciosderacionalidade.Muitopelocontrário,acríticadarazãomodernasefaz

emnomedeumaracionalidadediferencial(arazãoexercidapelosmovimentosfeministas,

ecologistas, culturais e étnicos, da classe trabalhadora, das nações periféricas, etc.) e

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universal (como a razão prático-material, discursiva, estratégica, instrumental, crítica,

etc.)36.Aafirmaçãoeemancipaçãodadiferença,ediferençanauniversalidade.

Damesmamaneira,ogrupodepensadoresanti-fundacionalistaopõeosprincípios

universaisàs incertezasou falibilidadesprópriasda finitudehumana,oquepareceabriro

campode lutapelahegemonia indizívelapriori37.A Filosofiada Libertaçãopode,por sua

parte, afirmar a incerteza da pretensão de bondade (ou justiça) do ato humano,

conhecendo a falibilidade e indecidibilidade inevitavelmente prática, mas podendo ao

mesmotempodescreverascondiçõesuniversaisouosprincípioséticosdeditaaçãoética

ou política. Universalidade e incerteza permitem, exatamente, descobrir a inevitabilidade

das vítimas, e desde elas que se origina o pensamento crítico e libertador propriamente

dito.

Opino por tudo isso que a Filosofia da Libertação tem recursos teóricos para

afrontar os desafios presentes e poder assim subsumir à herança do pensamento latino-

americano dos anos quarenta e cinquenta, dentro da evolução que se cumpriu

originariamentenos sessentae setenta,que lhepreparouparaentrarnosnovosdiálogos

fecundo e criativos, como em um processo crítico de retroalimentação nos oitenta e

noventa. Com Imre Lakatos diríamos que um programa de pesquisa (como a Filosofia da

Libertação)mostra ser progressista se pode subsumir antigos e novos desafios. O núcleo

firmedaFilosofiadaLibertação,suaÉticadaLibertação, foicriticadoparcialmente (porH.

Cerutti, O. Schutte, K.-O. Apel e outros),mas, opino, foi respondido como totalidade até

agoracriativamente.

Contudo,oséculoXXInoscolocatarefasurgentes.Desdemaisdevinteanos(desde

1976nocasodeCeruttieoutroscolegas),sevemproclamandooesgotamentodaFilosofia

daLibertação.Parece,aocontrário,quesomentenocomeçodosanos2000vaidescobrindo

e abrenovoshorizontes deprofundidadequepermitemdiálogos Sul-Sul, preparatóriode

futuros e criativos diálogos Sul-Norte, ou seja, de África, Ásia, América Latina e Europa

Oriental,incluindoasminoriasdo“centro”.Ademais,odiálogotransversaldasdiferenças;a

36Vertudo issoem:E.Dussel.Éticade laLiberaciónen laedadde laglobalizaciónyexclusión.Madrid:Rotta,1998.37Éaposiçãodeb.

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possibilidade de articular o pensar crítico dos movimentos feministas, ecologistas,

antidiscriminaçãoentre as raças, dospovosouétnicasoriginárias, das culturas agredidas,

dos marginais, dos imigrantes dos países pobres, das crianças, da terceira idade, sem

esqueceraclassetrabalhadoraecampesina,ospovosdoantigoTerceiroMundo,asnações

periféricas empobrecidas...as “vitimas” (usando a denominação de Walter Benjamin) da

Modernidade, da colonização e do capitalismo transnacional e tardio. A Filosofia da

Libertaçãobuscaanalisaredefinirametalinguagemfilosóficadestesmovimentos.

PensoqueaFilosofiadaLibertaçãonasceunesteambientecrítico,eporissopensou

desdesuaorigemestesproblemascomosrecursosteóricosemmãoseemsuaépoca,em

sua “localização” histórica. Meta-categorias como “totalidade” e “exterioridade” seguem

tendo vigência, como referências abstratas e globais que devem ser medidas pelas

microestruturas do Poder, o qual se encontra disseminado em todos os níveis e de que

ninguémpodedeclarar-seinocente.

A Filosofia da Libertação, ao final dos anos sessenta foi já uma Filosofia pós-

moderna desde a periferia mundial, como superação da ontologia (a Überwisndung)

inspiradanamisérialatino-americanaeaalteridadelevinasiana.Foicriticadapelomarxismo

standard, pelo populismo irracionalista, pelo conservadorismo, o liberalismo, a filosofia

repetitiva(analítica,hermenêutica,acadêmica,etc.)ehojeporjovenspós-modernoslatino-

americanos (eurocêntricos?)que talveznão tenhamdescobertonaFilosofiada Libertação

um movimento pós-moderno avant la lettre, na realidade transmoderno, que aprecia a

crítica pós-modernamas descentraliza desde a periferiamundial e a reconstrói desde as

exigênciaspolíticasdosgrupossubalternos.

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SobreoautorEnriqueDusselProfessor no Departamento de Filosofia da Universidad Autónoma Metropolitana (UAM,Iztapalapa,CidadedoMéxico),enoColégiodeFilosofiadaFaculdadedeFilosofiaeLetrasda Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM). Doutor em Filosofia pelaUniversidad Complutense deMadrid, Doutor em história na Sorbonne de Paris. Obteve oDoutoradoHonoris Causa em Freiburg (Suíça); naUniversidad de SanAndrés (Bolívia); naUniversidad de Buenos Aires (Argentina); na Universidad de Santo Tomás de Aquino(Colômbia); naUniversidad Nacional de General SanMartín (Argentina) e naUniversidadNacional(CostaRica).Co-fundadordomovimentoFilosofiadaLibertação.FoiReitorinterino(2013-2014) da Universidad Nacional Autónoma de la Ciudad de México. TrabalhaespecialmentenocampodaÉticaedaFilosofiaPolítica.E-mail:[email protected]