a fé e esperança dos sertanejo e sertanejas são fortalecidas com a garantia do acesso a água

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A fé e esperança dos sertanejos e sertanejas são fortalecidos com a garantia do acesso a água Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº2024 Juazeiro Ter uma horta, colher seus próprios alimentos, cultivar a alimentação dos animais, são algumas das vontades dos agricultores e agricultoras do Semiárido brasileiro. Dona Zilta Vieira de Oliveira Campina e seu companheiro Marinaldo Vieira Campina compartilham deste desejo, que vem sendo realizado a partir da construção de uma cisterna-enxurrada em sua propriedade. Na década de 1980, dona Zilta casou-se e foi morar no interior de Juazeiro, na Fazenda Mina, onde criou seis filhos junto com seu companheiro. Hoje apenas dois moram perto do casal. Seu Marinaldo trabalha na produção própria de carvão, vendendo na vizinhança e em cidades próximas á sua comunidade e como ajudante de pedreiro, atividades que garantem o sustento da família. Com um tímido sorriso, porém com um perceptível orgulho, Zilta fala que seu esposo também ajuda na constru- ção de cisternas e demais tecnolo- gias na comunidade. É com essa timidez que Zilta relembra como era difícil o acesso à água na propriedade: “pegávamos água na cacimba, na cabeça ou com carrinhos de mão”. A principal fonte de água ficava aproximada- mente três quilômetros da casa da agricultora. Mesmo com essa dificuldade, a vontade de cultivar suas hortaliças era maior, então ela plantava pequenas quantidades de coentro, cebolinhas, em uma bacia e pendurava em locais altos, prática usada para consumir menos água e evitar que animais destruíssem a horta. Depois de muitos anos carregando água, foi implementado na comunidade um poço coletivo, o que permitiu a Zilta encanar água para sua casa. Porém, seu anseio de aumentar a variedade e tamanho da horta ainda não pode ser concretizado, pois a água do sistema coletivo é salobra, sendo usado apenas para o cuidado da casa. Julho/2014

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O casal de agricultores Zilta Vieira de Oliveira Campina e Marinaldo Vieira Campina tem investido no cultivo de hortaliças e na criação de animais de pequeno porte a partir da da implementação da cisterna-enxurruda, para contribuir na alimentação da família e comercializar os produtos derivados da agricultura familiar. Dessa forma,melhorando a qualidade de vida da família

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A fé e esperança dos sertanejos e sertanejas são fortalecidos com a garantia do acesso a água

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº2024

Juazeiro

Ter uma horta, colher seus próprios alimentos, cultivar a alimentação dos animais, são algumas das vontades dos agricultores e agricultoras do Semiárido brasileiro. Dona Zilta Vieira de Oliveira Campina e seu companheiro Marinaldo Vieira Campina compartilham deste desejo, que vem sendo realizado a partir da construção de uma cisterna-enxurrada em sua propriedade. Na década de 1980, dona Zilta casou-se e foi morar no interior de Juazeiro, na Fazenda Mina, onde criou seis filhos junto com seu companheiro. Hoje apenas dois moram perto do casal. Seu Marinaldo trabalha na produção própria de carvão, vendendo na vizinhança e em cidades próximas á sua comunidade e como ajudante de pedreiro, atividades que garantem o sustento da família. Com um tímido sorriso, porém com um perceptível orgulho, Zilta fala que seu esposo também ajuda na constru-ção de cisternas e demais tecnolo-gias na comunidade. É com essa timidez que Zilta relembra como era difícil o acesso à água na propriedade: “pegávamos água na cacimba, na cabeça ou com carrinhos de mão”. A principal fonte de água ficava aproximada-mente três quilômetros da casa da agricultora. Mesmo com essa dificuldade, a vontade de cultivar suas hortaliças era maior, então ela plantava pequenas quantidades de coentro, cebolinhas, em uma bacia e pendurava em locais altos, prática usada para consumir menos água e evitar que animais destruíssem a horta. Depois de muitos anos carregando água, foi implementado na comunidade um poço coletivo, o que permitiu a Zilta encanar água para sua casa. Porém, seu anseio de aumentar a variedade e tamanho da horta ainda não pode ser concretizado, pois a água do sistema coletivo é salobra, sendo usado apenas para o cuidado da casa.

Julho/2014

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

No ano de 2012, a agricultora pode concretizar sua vontade após receber a cisterna-enxurrada, que tem a capacidade de armazenar 52 mil de litros de água. Desde essa conquista a agricultora cultiva abóbora, pimenta de cheiro, coentro, alface e outras hortaliças. “A cisterna melhorou muito a vida aqui, graças a Deus. Melhorou pra plantar meus coentros, capim para dar aos meus bichinhos”, comenta Zilta, que pela segunda vez presenciou a cisterna cheia pela água da chuva. “Encheu que sangrou, derramou água a vontade”, Zilta relata que isso aconteceu durante as chuvas de fevereiro deste ano. Segundo Zilta a tecnologia garantiu a melhoria na alimentação da família, com cultivo de verduras e hortaliças livres de qualquer agrotóxico. A agricultora também cultiva capim e sorgo, que auxiliam na alimentação das cabras e ovelhas da família. Para economizar a água da cisterna, o genro de Zilta criou o sistema de gotejamento, que é ligado duas vezes ao dia para molhar a horta. “Meu genro é muito criativo, e agora ele e minha filha, Valdirene, estão me ajudando no cuidado com a roça, vamos aumentar mais ainda nosso cultivo”, comenta Zilta, que está cheia de esperança de alcançar seu novo desejo: expandir seu plantio e começar a comercializar os

produtos na comunidade e em Curaçá, cidade próxima ao seu sítio. Podendo perceber e vivenciar as melhorias alcançadas com a tecnologia social, Zilta aconselha seus conhecidos a construírem cisternas e a investirem nos canteiros. “Eu falo para Adão (vizinho), tendo cisterna você pode caprichar, plantar suas coisinhas, as verduras para não andar só comprando em Curaçá”, depõe. Em união com a filha Valdirene e o genro, a agricultora começou a criar galinhas para postura, na expectativa de comercializar os ovos junto com as

hortaliças e demais produtos oriundos da agricultura familiar. Com isso, o acesso às tecnologias sociais não facilita apenas o acesso a água, mas traz com ela a esperança, a expectativa de melhores condições de vida para o homem e a mulher do campo, ajuda aos pequenos agricultores e agricultoras a conquistarem novos horizontes.

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