a existência ética (marilena chaui)

Upload: maluko2

Post on 11-Jul-2015

3.474 views

Category:

Documents


18 download

TRANSCRIPT

  • 5/11/2018 A exist ncia tica (Marilena Chaui)

    1/6

    UNIDADE8-0 MUNDO DAPRATICA

    A existencia eticaSenso m oral eennsciencia mora lMuitas vezes, tomamos conhecimento de

    movimentos nacionais e internacionais de lutacontra a fome. Ficamos sabendo que, em ou-tros paises e no nos so, milhares de pessoas,sobretudo criancas e velhos, morrem de pe-ruiria e inanicao, Sentimos piedade. Sentimosindignacao diante de tamanha injustica (espe-cialmente quando vemos 0 desperdfcio dosque nao tern fome e vivern na abundancia).Sentimos responsabilidade. Movidos pela so-Iidariedade, participarnos de campanhas con-tra a fome. Nossos sentimentos e nossas acoesexprimem nosso senso moral.Quantas vezes, lev ados par algum impuiso

    incontrolavel ou por alguma emocao forte(medo, orgulho, ambicao, vaidade, covardia),fazemos alguma coisa de que, depois, senti-mos vergonha, remorso, culpa. Gostarfamosde voltar arras no tempo e agir de modo dife-rente. Esses sentimentos tambern exprimemnosso senso moral.Em muitas ocasioes, ficamos contentes e

    emocionados diante de uma pessoa cujas pa-lavras e acoes manifestarn honestidade, hon-radez, espirito de justica, altrufsmo, rnesmoquando tudo isso lhe custa sacriffcios. Senti-mos que ha grandeza e dignidade nessa pes-soa. Temos admiracao por ela e desejamosimita-la. Tais sentimentos e admiracao tam-bern exprirnern nosso senso moral.Nao raras vezes somos tomados pelo hor-

    ror diante da violencia: chacina de seres hu-manos e animals, linchamentos, assassinatosbrutais, estupros, genocfdio, torturas e suplf-cios. Com frequencia, ficamos indignados aosaber que urn inocente foi injustamente

    acusado e condenado, enquanto 0 verdadei-ro culpado permanece impune. Sentimos c6-lera diante do cinismo dos mentirosos, dosque usam outras pessoas como instrumentopara seus interesses e para conseguir vanta-gens a s custas da boa-fe de ourros. Todos es-ses sentimentos tarnbem manifestam nossosenso moral.Vivemos certas situacoes, ou sabemos que

    foram vividas par outros, como situacoes deextrema aflicao e angustia. Assim, por exem-pIo, uma pessoa querida, com uma doencaterminal, esta viva apenas porque seu corpoesta ligado a maquinas que a conservam. Suasdores sao intoleraveis, Inconsciente, geme nosofrimento. Nao seria melhor que descansas-se em paz? Nao seria preferfvel deixa-Ia mor-rer? Podemos des ligar os aparelhos? Ou naotemos 0 direito de faze-lo? Que fazer? Quala a

  • 5/11/2018 A exist ncia tica (Marilena Chaui)

    2/6

    CAPiTULO 4 - A EXISTENCIA ETiCA

    beneficiem seu patrao. Sabe que 0 trabalho lhepermitira sustentar os filhos e pagar 0 trata-mento da esposa. Pode aceitar 0 emprego,mesmo sabendo 0 que sera exigido dele? Oudeve recusa-lo ever os filhos com fome e amulher morrendo?Urn rapaz namora, ha tempos, uma mocade quem gosta muito e e por ela correspondi-do. Conhece uma outra. Apaixona-se perdi-damente e e correspondido. Ama duas mu-lheres e ambas 0 amam. Pode ter dois amo-res simultaneos, ou estara traindo a ambos ea si rnesmo? Deve magoar uma delas e a simesmo, rompendo com uma para ficar coma outra? 0 amor exige uma unica pessoaamada ou pode ser rmiltiplo? Que sentirao asduas mulheres, se ele lhes contar 0 que sepassa? Ou devera mentir para ambas? Quefazer? Se, enquanto esta atormentado pelaindecisao, urn conhecido 0 ve ora com umadas mulheres, ora com a outra e, conhecendouma delas, devera contar a ela 0que viu? Emnome da amizade, deve falar ou calar?Uma mulher ve urn roubo. Ve uma crianca

    maltrapilha e esfomeada roubar frutas e paesnuma mercearia. Sabe que 0dono da merce-aria esta passando por muitas dificuldades eque 0roubo fara diferenca para ele. Mas tam-bern ve a miseria e a fomeda crianca. Devedenuncia-la, julgando que com isso a crian-ca nao se tornara urn adulto ladrao e 0 pro-prietario da mercearia nao tera prejuizo? Oudevera silenciar, pois a crianca corre 0 riscode receber punicao excessi va, ser levada paraa polfcia, ser jogada novarnente as ruas e,agora, revoltada, passar do furto ao homicf-dio? Que fazer?Situacoes como essas - mais dramaticas

    ou menos dramaticas - surgem sempre emnossas vidas, Nossas dtividas quanta a deci-,a o a tomar nao manifestam nosso senso mo-ral. mas tambern poem a prova nossa cons-ciencia moral, pois exigem que decidamoso que fazer, que justifiquemos para nos mes-mos e para 05 outros as razoes de nossas de-cisoes e que assumamos todas as conseqiien-

    eras deIas, porque somos responsaveis pornossas opcoes.Todos os exemplos mencionados indicam

    que 0 senso moral e a consciencia moral refe-rem-se a valores (justica, honradez, espiritode sacriffcio, integridade, generosidade), asentimentos provocados pelos valores (admi-racao, vergonha, culpa, remorso, contentamen-to, colera, arnor, dtivida, medo) e a decisoesque conduzem a acoes com consequenciaspara nos e para os outros. Embora os conteu-dos dos valores variem, podemos notar queestao referidos a urn valor mais profundo,mesmo que apenas subentendido: 0born ou 0bern. Os sentimentos e as acoes, nascidos deuma opcao enlre 0 born e 0 mau ou entre 0bern e 0 mal, tarnbern estao referidos a algomais profundo e subentendido: nosso desejode afastar a dor e 0 sofrimento e de alcancar afelicidade, seja por ficarmos contentesconosco mesmos, seja por recebermos a apro-vacao dos outros.o senso e a consciencia moral dizem res-peito a valores, sentimentos, intencoes, de-cisoes e acoes referidos ao bern e ao mal e aodesejo de felicidade. Dizem respeito a s rela-coes que mantemos com os outros e, portan-to, nascem e existem como parte de nossavida intersubjetiva.

    JUIZO de fato e de va lo rSe dissermos: "Esta chovendo", estaremos

    enunciando urn acontecimento constatado pornos e 0jufzo proferido e umjuizo de fato, Se,porem, falarmos: "A chuva e boa para as plan-tas" ou "A chuva e bela", estaremos interpre-tan do e avaliando 0 acontecimento. Nessecaso, proferimos urn juizo de valor.Jufzos de fato sao aqueles que dizern 0 que

    as coisas sao, como sao e por que sao. Em nos-sa vida cotidiana, mas tambem na metaffsicae nas ciencias, os jufzos de fato estao presen-tes. Diferenternente deles, os juizos de valor,avaliacoes sobre coisas, pessoas, situacoes e

    335

  • 5/11/2018 A exist ncia tica (Marilena Chaui)

    3/6

    ,~, ' l "~ ~ 1 l: } _ "" ': ' ~H -- -- ,-U _N_ ID _A --=D ""E _ :8 ,--_O =--M _U ,- --N~D _O _D _A_P_ ;__R ,,--A __ _ IC _A ~ ,...,. '_ , _

    .1,0;:.

    sao proferidos na moral, nas artes, na politi-ca, na religiao,

    J UIZOS de valor avaliam coisas, pessoas,acoes, experiencias, acontecimentos, senti-mentos, estados de espirito, intencoes e de-cis6es como bons ou rnaus, desejaveis ou in-desejaveis.Os jufzos eticos de valor sao tarnbem

    normativos, isto e , enunciam normas que de-terminam 0 dever ser de nossos sentimentos,nossos atos, nossos comportamentos. Saojufzos que enunciam obrigacoes e avaliam in-tencoes e acoes segundo 0criterio do corretoe do incorreto.Os jufzos eticos de valor nos dizem 0 que

    sao 0bern, 0mal, a felicidade. Os juizos eti-cos normativos nos dizem que sentimentos,intencoes, atos e comportamentos devemoster ou fazer para alcancarmos 0 bern e a Ie-licidade ... Enunciam tambem que atos, sen-timentos, intencoes e comportamentos saocondenaveis ou incorretos do ponto de vis-ta moral.Como se pode observar, senso moral e cons-

    ciencia moral sao inseparaveis da vida cultu-ral, uma vez que esta define para seus mem-bros os valores positives e negatives que de-vern respeitar ou detestar,Qual a origem da diferenca entre os dois ti-

    pos de juizos? A diferenca entre a Natureza ea Cultura. A primeira, como vimos, e consti-tufda por estruturas e processes necessaries,que existem em si e por si mesmos, indepen-dentemente de n6s: a chuva e urn fcn6menometeorol6gico cujas causas e cujos efeitos ne-ccssarios podernos constatar e explicar.Par sua vez, a Cultura nasce da maneira

    como as seres humanos intcrpretam-se a sirnesmos e as suas relacocs com a Natureza,acrescentando-lhe sentidos novas, intervin-do nela, alterando-a atraves do trabalho e datecnica, dando-lhe valores. Dizer que a chu-va e boa para as plantas pressupoc a relacaocultural dos humanos com a Natureza, atra-yes da agricultura. Considerar a chuva belapressupoe uma relacao valorativa dos huma-

    336

    nos com a Natureza, percebida como objetode contemplacao.Freqiientemente, nao notamos a origem cul-

    tural dos valores eticos, do senso moral e daconsciencia moral, porque somos educados(cultivados) para eles e neles, como se fos-scm naturais au faticos, existentes em si e porsi mesmos. Para garantir a manutencao dospadroes morais atraves do tempo e sua conti-nuidade de geracao a geracao, as sociedadestendem a naturaliza-los. A naturalizacao daexistencia moral esconde, portanto, 0mais im-portante da etica: 0 fato de ela ser criacao his-torico-cultural,

    E tica e violenciaQuando acompanhamos a hist6ria das ideias

    eticas, desde a Antiguidade classica (greco-romana) ate nossos dias, podemos perceberque, em seu centro, encontra-se a problemada violencia e dos meios para evita-la, dimi-nul-la, controla-la. Diferentes formacoes so-ciais e culturais instiruiram conjuntos de va-lares eticos como padroes de conduta, de rc-lacoes intersubjetivas e interpessoais, de com-portamentos sociais que pudessem garantir aintegridade ffsica e psfquica de seus membrose a conservacao do grupo social.Evidcnternente, as varias culturas e soc ie-

    dadcs nao definiram e nem definem a vio-lencia da mesma rnaneira, mas, ao contrario,dao-Ihe conteudos diferentes, segundo ostempos c as Iugares. No entanto, malgradoas diferencas, certos aspectos da violenciasao percebidos da mesrna maneira, nas va-rias culturas e sociedades, formando 0 fun-do comum contra 0 qual os valores eticossao erguidos. Fundamentalmente, a violen-cia e percebida como exercicio da forca fl-sica e da coacao psfquica para obrigar al-guern a fazer alguma coisa contraria a si,contraria aos seus interesses e desejos, con-traria ao seu corpo e a sua consciencia, cau-sando-lhe danos profundos e irreparaveis,

  • 5/11/2018 A exist ncia tica (Marilena Chaui)

    4/6

    r' _____ c'--A--"p_ci_c_TULO - A EXISTENCIA ETICAcomo a morte, a loucura, a auto-agressao oua agressao aos outros,Quando uma cultura e uma sociedade defi-

    nern 0 que entendem por mal, crime e vicio,circunscrevem aquilo que julgam violenciacontra urn indivtduo au contra 0 grupo. Sirnul-taneamente, erguem os valorcs positives - 0bern e a virtude - como barreiras eticas con-tra a violencia.Em nossa cultura, a violencia e entendida

    como 0 usa da forca ffsica e do constrangi-mento psiquico para obrigar alguern a agirde modo contrario a sua natureza e ao seuser, A violencia e violacao da intcgridade ff-sica e psfquica, da dignidade humana de al-guern. Eis POf que 0 assassinato, a tortura, ainjustica, a mentira, 0 estupro, a cahinia, ama-fe, 0 roubo sao considerados violencia,imoralidade e crime.Considerando que a humanidade dos hu-manos reside no fato de scrcm racionais, do-tados de vontade livre, de capacidadc para acomunicacao e para a vida em sociedade, decapacidade para interagir com a Natureza ecom 0 tempo, nossa cultura c sociedade nosdefinern como sujcitos do conhecimento eda acao, Iocalizando a violencia em tudoaquilo que reduz um sujeito a condicao deobjeto. Do ponto de vista etico, sornos pes-soas e nao podemos ser tratados como coi-sas. Os vaIores eticos se ofcrecem, portanto,como cxpressao c garantia de nossa condi-(,,'aode sujeitos, proibindo moralmente 0 quenos transformem em coisa usada e rnanipu-Jada por outros,A etica e normativa cxatamente por isso,

    suas normas visando impor limites e contro-les ao risco perrnanente da violencia,

    Os const itu intesd o c am po eticoPara que haja conduta etica e preciso queevista 0 agente consciente, isto e , aquele que

    conhece a diferenca entre bem e mal, certo e

    errado, perrnitido e proibido, virtudc e vicio.A consciencia moral nao s o conhece tais di-ferencas, mas tambem reconhece-se como ca-paz de julgar 0 valor dos atos e das condutase de agir em conformidade com os valoresmorais, sendo por isso responsavel por suasacoes e seus sentimentos e pclas consequen-cias do que faz e sente. Conscicncia c res-ponsabilidade sao condicoes indispensaveisda vida etica.A consciencia moral manifcsta-sc, antes de

    tudo, na capacidade para deliberar diante dealternativas possfvcis, decidindo e escolhen-do uma delas antes de lancar-se na acao. Tema capacidade para aval iar e pesar as moti va-

  • 5/11/2018 A exist ncia tica (Marilena Chaui)

    5/6

    conformidade com a consciencia) e de capa-cidade para deliberar e decidir entre varias al-ternativas possfveis; ser responsavel, isto e , reconhecer-se comoautor da acao, avaliar as efeitos e consequen-cias dela sobre si e sobre os outros, assumi-labern como as suas consequencias, responden-do pOI elas: ser livre, isto e, ser capaz de oferecer-secomo causa interna de seus sentimentos ati-tudes e acoes, par nao estar submetido a po-deres externos que 0 forcem eo constranjama sentir, a quercr e a fazer alguma coisa. Aliberdade nao e tanto 0 poder para escolherentre varies possiveis, mas 0 poder paraautodeterrninar-se, dando a si mesmo as re-gras de conduta.Ocampo etico e, portanto, constituido pOI

    dois palos internarncnte relacionados: 0 agenteou sujeito moral e os valores morais ou virtu-des eticas.Do ponto de vista do agente ou sujeito mo-

    ral, a etica faz uma exigencia essencial, qualseja, a diferenca entre passividade e ativida-de. Passivo e aqueJe que se deixa governar earrastar por seus impulses, inclinacoes e pai-xoes, pelas circunstancias, peJa boa ou rnasorte, pela opiniao alheia, pelo medo dos ou-tros, pel a vontade de um outro, nao exercen-do sua propria consciencia, vontade, f iber-dade e responsabilidade.Ao contrario, e ativo ou virtuoso aquele que

    controla interiormente scus impulsos, suas in-clinacoes e suas paixoes, discute consigo mes-rno e com os outros a senti do dos valores edos fins estabelecidos, indaga se devem ecomo devem scr respeitados ou transgredidospar outros valores e fins superiores aos exis-tentes, avalia sua capacidade para dar a simesmo as rcgras de conduta, consulta sua ra-zao e sua vontade antes de agir, tern conside-racao pelos outros sem subordinar-se nem sub-._--------_---------

    338

    mcter-se cegamente a eles, responde pelo quefaz, julga suas proprias intencoes e recusa aviolencia contra si e contra as oulros. Numapalavra, e au tOnomo* .Do ponto de vista dos valores, a etica expri-

    me a maneira como a cultura e a sociedadedefinem para si mesmas 0 que julgam ser aviolencia e 0 crime, 0 mal e 0 vfcio e, comocontrapartida, 0 que consideram ser 0 bern e avirtude. Por realizar-se como relacao intersub-jetiva e social, a etica nao e alheia ou indife-rente as condicoes historicas e politicas, eco-n6micas e culturais da ac;:aomoral.Consequentementc, embora toda etica seja

    universal do ponto de vista da sociedade quea institui (universal porque seus valores saoobrigatorios para todos os seus mernbros),esta em relacao com a tempo e a Historia,transformando-se para responder a exigen-cias novas da sociedade e da Cultura, poissornos seres historicos e culturais e nos saacao se desenrola no tempo.Alem do sujeito ou pessoa moral e dos va-

    lores ou fins morais, a campo etico e aindaconstituido par urn outro elernento: as meiospara que 0 sujeito realize os fins.Costuma-se dizer que os fins justificam os

    meios, de modo que, para alcancar um fim le-gttirno, todos os meios disponiveis sao vali-dos. No caso da etica, porem, essa afirmacaodeixa de ser 6bvia.Suponhamos uma sociedade que cons ide-

    re urn valor e um fim moral a lealdade entreseus membros, baseada na confianca rectpro-ca. 1550 significa que a mentira, a inveja, a

    *A palavra autenomo vern do grego: autos (cu mesrno, simesmo) e nomos (lei, norma, regra). Aquele que tern 0poder para dar a si mesrno a regra. a norma, a lei e auto-1I0mo e goza de autonomia ou liberdadc. Autonomia sig-nifica aurodcterrninacao. Quem nao tern a capacidade ra-cional para a autonomia is heteronomo. Hcteronomo verndo grego: he/era (outro) c 110111OS; recebcr de um Dutro anorma. a rcgra OU a le i.

  • 5/11/2018 A exist ncia tica (Marilena Chaui)

    6/6

    . C ,--A _:.:p_ c_ iT UL O 5 - A F IL OSO FJA M ._::O :_:_R .:_ ::A ::_ ::L :........_---+ '---'_

    adulacao, a ma-fe, a crueldade e 0medo de-verao estar exclufdos da vida moral e acoesque as empreguem como meios para a1can-car a fim sertlo imorais.No entanto, poderia acontecer que para for-

    car alguem a lealdade seria preciso faze-lo sen-tir medo da punicao pela deslealdade, au se-ria preciso mentir-lhe para que nao perdessc aconfianca em certas pcssoas e continuasse leala elas. Nesses casos, 0 firn - a lealdade -nao justificaria as meios - medo c mentira?A resposta etica c : n30. Por que? Porque es-ses meios desrespeitam a consciencia e a li-berdade da pessoa moral, que agiria por coa-9ao extern a e nao par reconhecirnento inte-rior e verdadeiro do fim etico.No caso da etica, portanto, nem todos os

    meios sao j ustificaveis, mas apenas aquelesque estao de acordo com os fins da propriaacao, Em outras palavras, fins eticos exigemmeios eticos.A relacao entre meios e fins pressup6e que

    a pessoa moral nao cxistc como um fato dado,mas e instaurada pela vida intersubjetiva e so-cial, precisando ser educada para os valoresmarais e para as virtudes.Poderfamos indagar se a educacao etica nao

    seria uma violencia, Em primciro lugarpor-que se tal educacao visa a transformar-nos depassives em ativos, poderfamos perguntar senossa natureza nao seria essencialmente pas-sional e, portanto, forcar-nos a racionalidadeativa nao seria um ato de violencia contra anossa natureza espontanea? Em segundo lu-gar. porque se a tal educacao visa a colocar-nos em harmonia c em acordo com os valoresde nossa sociedade, poderfamos indagar seisso nao nos faria submetidos a um poder ex-terno a nossa consciencia, 0 poder da moral.....iaL Para responder a essas questoes preci-',illl