a estética e o saber moderno - benedito nunes

7
7/28/2019 A Estética e o Saber Moderno - Benedito Nunes http://slidepdf.com/reader/full/a-estetica-e-o-saber-moderno-benedito-nunes 1/7 e n 00 (J) O J c a...~ .Q ::J c o - -z ~~ (J) - .~ .c w.....J OJ co 'U LO O J r-= (J) 0) LO c 0 2 0 co - ~ ~ 0 . •. . . n 0 " ' l I t ZO 0 . •. . . - 0 OJ = -

Upload: paloma-costa

Post on 03-Apr-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A Estética e o Saber Moderno - Benedito Nunes

7/28/2019 A Estética e o Saber Moderno - Benedito Nunes

http://slidepdf.com/reader/full/a-estetica-e-o-saber-moderno-benedito-nunes 1/7

e n 00(J)

O Jc

a...~.Q

: : J

c o -

-z ~~

(J)-

.~

.cw.....J O J

co

'U

LO

O J

r-=(J)

0)LO

c02

0

co-~

~

0. •. . .

n0" ' l I t

ZO0

. •. . .-

0O J=-

Page 2: A Estética e o Saber Moderno - Benedito Nunes

7/28/2019 A Estética e o Saber Moderno - Benedito Nunes

http://slidepdf.com/reader/full/a-estetica-e-o-saber-moderno-benedito-nunes 2/7

 N° Tombo'S ". ~ S '8

Aquisi<;ao c..

P re< ;o PI ( l l 'tData~& /~/~J

Pro ced .L \V .lJ~p

Serie

Temasvolume 35

Filosofia e literatura

EDITOR 

Fernando Paixao

ASSIST£NCIA EDITORIAL

Mario Vilela

PREPARACAO DE TEXTO

Renato Nicolai

EDICAO DE ARTE (MIOLO)

Divina Rocha Corte

Page 3: A Estética e o Saber Moderno - Benedito Nunes

7/28/2019 A Estética e o Saber Moderno - Benedito Nunes

http://slidepdf.com/reader/full/a-estetica-e-o-saber-moderno-benedito-nunes 3/7

Page 4: A Estética e o Saber Moderno - Benedito Nunes

7/28/2019 A Estética e o Saber Moderno - Benedito Nunes

http://slidepdf.com/reader/full/a-estetica-e-o-saber-moderno-benedito-nunes 4/7

tinc;ao entre logica e estetica consiste no grau de abstrac;ao impli-

cada. A logica concentra sua atenc;aono altamente abstrato e a este-

tica conserva-se tao proxima do concreto quanto 0 permitem as

necessidades do entendimento finito ... Ha 0descobrimento de urn

complexo logico, e tambem a fruic;ao desse complexo quando des-

coberto. E ha a construc;ao de uma composic;ao estetica e a fruic;ao

dessa composic;ao quando composta ... A logica principia com ideias

 primitivas postas conjuntamente. 0 movimento da fruic;ao estetica Ie na direc;ao oposta ... 0 todo precede as partes). 0 todo implica

urn artificio, uma poiesis, uma techne, uma ars humana e divina,

concebida pelos escolasticos medievais e por Leibniz. Em seu

extremo limite, 0estetico e 0artistico se tocam.

 No entanto, em urn de seus estudos sobre Nietzsche ('A von-

tade de potencia enquanto arte') afirma Heidegger que "a grande

arte helenica, a arte do tempo do esplendor, permaneceu sem

reflexao nocional correspondente, a qual nao deveria ter tido

necessariamente 0sentido de uma estetica"4. Nao podemos inter-

 pretar essa afirmativa como uma asserc;ao de carater historico-

empirico sobre a ausencia de diretivas esteticas, de aprec;amentoda beleza por parte de urn Fidias ou de urn Policleto, que a admis-

saD de canones, sobretudo os relativos as proporc;6es ideais nas

representac;oes escultoricas dessa grande arte, bastaria para con-

testar. Por outro lado, 0 pensamento reflexivo foi em busca da I~arte para interroga-Ia. Testemunha-o exemplarmente a visita de

Socrates ao atelie de Parrasio, registrada por Xenofonte nas

 Mem orab ilia. Analogamente, na Idade Media, a partir do seculo

XII, 0 teologo divisou, como 0 fez Hugues de Saint Victor em seu

 Didasca licum , a luz exterior cognitiva .das artes mecanicas - a

 primeira sendo a arquitetura, mas cujas especies, segundo Rodolfo

Longchamp, saD infinitas. Religiao e arte, como arte e trabalho,se interligaram. Panofsky mostrou-nos que 0 prin cipio da tran spa-rencia da arquitetura medieval no Alto Gotico esta embebido na

manifestatio do pensamento da Alta Escolastica 5. "Ha poucas epo-

cas", sintetiza Malkiel-Jirmounsky, "mostrando tanto interesse

 pelas coisas da arte como este seculo de formac;ao da mentalidade

moderna"6.

Como, pois, interpretar a afirmativa de Heidegger de que

nos Tempos Modernos a arte ingressaria no horizonte da Estetica?

Horizonte e uma palavra hermeneutica de cunho peculiar; hori-

zonte nao e a metafora de principio; significa 0espraiamento de

uma compreensao no modo de antecipac;ao atematica, ou comoobservou Husserl, que utilizou a palavra nesse registro, de urn

saber previa "indeterminado ou imperfeitamente indeterminadoquanto ao seu conteudo ...".

-- Nos Tempos Modernos, a arte passava a ser compreendida,apreciada e avaliada sob as condic;oes de urn saber englobanteacerca de sua natureza e de sua func;ao, como experiencia vivida,

 ja previamente difuso na cultura antes de ser tematizada na forma

de urn discurso teorico, de urn regime especial e especifico de conhe-cimento. A Estetica especificou 0estudo do Belo como 0seu objeto,

e considerou a Arte como campo especial de configurac;ao desse

mesmo objeto, separado de todos os outros - do religioso ou do

sagrado, do mundo pratico e do conhecimento cientifico. A relac;ao

da experiencia vivida, afetiva, com 0Belo, foi 0marco, senao 0cri-

terio, dessa separac;ao, que se tinha historicamente consumado.

"A Estetica e", explica Heidegger no texto antes mencionado,

"a considerac;ao do estado afetivo do homem em sua relac;ao com

o Belo, a considerac;ao do Belo na medida em que este se situanuma relac;ao com 0estado afetivo do homem. 0 Belo nao e nada I

mais do que aquilo que pelo seu aparecer provoca esse estado afe-'

tivO"7. Por sua vez, reparte-se 0Belo em dois dominios, 0da Natu-'

reza e 0da Arte, ambos manifestando-o segundo a mesma relac;ao

afetiva, com a diferenc;a de que 0ultimo manifesta-o no ato de pro-duzi-Io. Essa produc;ao encontra porem 0seu principio na mesma

relac;ao afetiva que 0conhecimento estetico tern por termo. Dai por que a operatividade da' arte, qualificada tecnicamente, em fun-

c;ao de meios instrumentais que a asseguram, envolve a reflexao

estetica e a reforc;a. Enquanto disciplina, 0discurso da Estetica"coloca a obra como objeto para urn sujeito e para considera-Ia

estatui como regra basica a relac;ao sujeito-objeto, notadamente

ao nivel do sentir. A obra torna-se objeto sob a sua face oferecida

a experiencia de quem contempla" 8.

 Nesses topicos, Heidegger sintetiza, como resultado parcialde urn processo de mudanc;a, a emergencia de nova atividade cris-

talizada em meados do seculo XVIII, e "que provocou 0apareci-mento de uma estetica 'funcionalmente independente', disciplina

especializada da Filosofia. Essa atividade tern func;ao particular;

4 Nietzsche I, p. 95.

5 Gothic architecture and scholasticism, p. 43.

6'A psicologia do artista na Idade Media II', Ocidente, p. 45.7  Nietzsche I, p. 92.

8 Ibid., p. 93.

Page 5: A Estética e o Saber Moderno - Benedito Nunes

7/28/2019 A Estética e o Saber Moderno - Benedito Nunes

http://slidepdf.com/reader/full/a-estetica-e-o-saber-moderno-benedito-nunes 5/7

sumani, ja dentro do quadro de uma economia capitalista, a epoca

do Iluminismo, quando tambem se operou, ao mesmo tempo que

a codifica~ao das belas-artes, reduzidas por Batteux a urn mesmo

 principio, a formula~iio da ideia geral de arte.

A terceira altera~ao, que aflorou com 0 regime de conheci-

mento da ciencia galileana, decorreu da destrui~ao do Cosmos,

assim denominada por Koyre a destrui~ao da ideia, dominanteda Antiguidade ao Medievo, "de urn mundo de estrutura finita, hie-

rarquicamente ordenado, de urn mundo qualitativamente diferen-

ciado do ponto de vista ontologico". A esse mundo, tambem espa-

cialmente diferenciado entre a materia perecivel da terra e 0

movimento imperecivel dos Ceus, sucedeu urn universo infinito,

sem ordena~ao hierarquica, onde vigem no "espa~o homogeneo e

abstrato da geometria euclidiana" as mesmas leis universais do

movimento. A geometriza~ao do espa~o seguir-se-ia a matematiza-

~ao da Natureza. "Isso implica", comenta 0mesmo Koyre, "0desa-

 parecimento, da perspectiva cientifica, de todas as considera~6es

 baseadas no valor, na perfei~ao, na harmonia, na significa~ao e

no designio" 11.

A Natureza, que depois 0Iluminismo invocou com tanta fre-

qiiencia, de Montesquieu a Voltaire, de Diderot a Rousseau e a

d'Holbach, era tanto 0 padrao do tipo gene rico, ajustado ao uni-

verso newtoniano, quanto a regra do gosto artistico educado da

aristocracia que se generalizou, convertendo-se num modo de con-

sensus gentium - a ideia abstrata de urn senso comum como

 patrimonio racional dos povos, independentemente da diversidade

dos costumes e das diferen~as historicas, consideradas acidentais

e distorcivas da verdadeira essencia humana. Mas 0desenvolvi-

mento epistemologico da ciencia moderna, independentemente des-

sas deriva~6es sociais, ideologicas, nao apelara nem para 0sensocomum nem para 0 consensus gentium enquanto razao pratica.

Valor, perfei~ao, harmonia e designio, arraigados ao etico e ao este-

tico, passariam logo da orbita intelectual para a afetiva. E dentro

desta que vai desenrolar-se, nesse periodo, a reflexao ensaistica

sobre 0Bern e 0Belo, como analise dos sentimentos movida por 

uma inten~ao moral e pedagogica.

Aos sentidos externos, urn Hutcheson, seguindo a tradi~ao

 platonica de Shaftesbury, adiciona 0 feeling, sentido interno (inner/

internal sense) para 0discernimento do Bern, e para a aprecia~ao

nao e nem urn subproduto de outros tipos de atividade, nem urnveiculo mediador das diversas ideologias, nem urn servo da Teola-

gia e da cren~a religiosa, nem mesmo uma articula~ao da conscien-cia comunitaria. E , ao contrario, uma atividade autonoma, inde-

 pendente de todas as outras (...)"9. Ela remonta a atitude condicia-

nada a rela~ao afetiva com 0Belo, rela~ao estetica, correspondente

a uma modalidade de experiencia, tambem qualificada de estetica,

que a arte franquearia por efeito de sua propria forma, e que pos-

sibilita 0 pronunciamento de urn juizo diferenciado de gosto igual-

mente estetico, base principal de urn genero de conhecimento

misto, teorico e pratico ao mesmo tempo - teorico porque estabe-

lecendo as condi~6es mediante as quais esse juizo se efetua, e pra-tico porque capaz de firmar, em conseqiiencia, regras e normas

 para a forma~ao dogosto e para a produ~ao artistica. Tudo isso,

atitude, modalidade de experiencia, juizo de gosto e genero deconhecimento misto, em geral integrando, como filosofia do belo

ou da arte, urn sistema filosofico, em ultima analise metafisica-

mente fundado, constituiria, do ponto de vista heideggeriano,"um

evento que nao resulta imediatamente da propria arte nem dareflexao sobre a arte, mas que concerne antes de tudo a uma

mudan~a da hist6ria em seu conjunto (einen Wandel der gesamtenGeschichte betrifft)" 10. Limitamo-nos a apontar a ordem das alte-

ra~6es historica-culturais que sustentaram' essa mudan~a.

A primeira altera¢o da qual nos aproximou 0clima do Renas-

cimento e a conquista da individualidade artistica, de encontro a

desarticula~ao das corpora~6es de oficios do Medievo. Apoiados

no ensino das artes liberais, tradi~ao corrente que tambem vinha

do Medievo, os artistas do Renascimento, nao completamente eman-

cipados do status de artesaos, reivindicaram para si, senao 0titulo

de filosofos, uma posi~ao de saber universal, que aproximou 0 pin-tor do homem de ciencia, ao mesmo tempo urn analista do Belo

- como foi Alberti - e urn pesquisador das formas naturais susce-

 _~~, tiveis de medida - como foi Leonardo da Vinci - capaz de ligar  0

rt-'llJ verum e 0£uj~hrum numa mesma representa~ao.

Acom~hando 0desenvolvimento das artes mecanicas, em

conexao como 0surto da ciencia galileana da Natureza no seculo

XVII, essa conquista reclamou a autonomia da propria arte, depois

consolidada pela diferencia~ao da experiencia estetica, que se con-

9 Ferenc Feher  & Agnes Heller, 'La necessite et j'irreformabilite de j'esthetique', in

 Essais sur les formes et leurs significations, p. 220.10 Nietzsche I, p. 98-9.

Page 6: A Estética e o Saber Moderno - Benedito Nunes

7/28/2019 A Estética e o Saber Moderno - Benedito Nunes

http://slidepdf.com/reader/full/a-estetica-e-o-saber-moderno-benedito-nunes 6/7

do Belo, 0gosto (discerning taste), que Hume consideraria capaci-dade de julgar, segundo uma regra de concilia~ao dos sentimentosdiversos dos homens, quando, acrescentou Burke, 0espirito e afe-tado pelas obras da imagina~ao ou das Belas-Artes, denomina~aoque a Enciclopedia consagrou. 0 prazer moderado, as emo~6es

que derivam das Belas-Artes - tambem proporcionados pelos

espetlkulos da Natureza - seriam estados afetivos moral e social-mente uteis. Nao havia Shaftesbury reconhecido a mutua corres- pondencia entreartes e virtudes, aproximando os virtuoses dos vir-tuosos? 0 efeito pedagogico da sensibilidade ao belo natural e artis-

tico - que Kant reconheceria em sua Critica do jUlZO- podeestender-se a esfera politic a depois que Hume apontou a rela~aodireta do cultivo das artes e das ciencias com 0governo livre con-sagrada pelo Iluminismo.

E por obra desse ensaismo critico que se dara a muta~aointerna da qual nos fala Cassirer, pondo fim a doutrina da ratiodominante - muta~ao interna do conceito mesmo de natureza,numa "reviravolta semantica caracteristica" 12. A Natureza nao e

mais a natura rerum, mas a natureza do homem, na qual deve bus-car-se 0fundamento do Belo.<Em nome dessa Natureza, a propriaRazao e chamada a justificar-se diante da forma do sentimento,

da sensa~ao e da imagina~ao. Seria a dire~ao peculiar ao pensa-mento estetico moderno: abranger, numa nova sintese, a razao eo sentimento, a logica das ideias e a frui~ao do bela, 0 belo natu-ral e 0 belo artistico, a arte e a Natureza.

Essa sintese, de que a Estetica de Baumgarten constitui,enquanto aisthetikes episteme, 0modelo conspicuo, e uma sintesecognitiva. Teoriada sensibilidade, do conhecimento sensivel, menos

a titulo de conhecimento comuso e obscuro do que a titulo de conhe-

cimento do que e comuso e obscuro, a disciplina do Belo, 0discursoconceptualmente organizado, em cujo horizonte a arte ingressoucomo experiencia vivida, ingressaria, por sua vez, no horizonte doSaber modemo, em contraste com a ratio cientifica, e tambem, nao

excepcionalmente em conflito com a ratio filosofica, sistematica,como ciencia de ex~, visando aquilo mesmo que escapa a gene-ralidade do conceito, pela retaguarda antropologica desse mesmoSaber, ou seja, atraves da disposi~ao afetiva, que liga 0homem aurn mundo sempre qualitativamente diferenciado.

Ciencia de exce{:iioque se destina a conhecer  0que e qualita-tivo, e que jamais pode dissociar-se do valor, conhecimento do sin-

,gular como singular, a Estetica situa-se aq~em da ge~eralidade

do teorico. Nessas condi~6es, ela e tambem conheclmento. deintermedia~ao entre a ciencia da Natureza, apoiad~ nos ~~nceltosdo Entendimento, e 0saber moral escudado na razao prattca, por 

for~a do interesse espiritual do Belo.

Mas foi sob 0foco dessa intermedia~ao que a Critica do jUlZofirmou 0objeto da Estetica como Critica e ?~Ocomo Cienc_ia:"~aoexiste ciencia do Belo mas somente uma cnttca do Belo, nao eXIste

ciencia do Belo mas somente Belas-Artes". Entretanto, na Criticado jUlZO,Kant fundamenta 0Belo como objeto de juizo de gosto

estetico no mesmo sujeito transcendental que garante 0acordo, a

harmonia das faculdades de conhecimento. Eis 0 prim eiro para -doxo da Estetica: dada a rela~ao que se estabelece com a beleza e

com a arte, ela quer estabelecer, como senso comum, 0que e juizo

individual, quando a arte separada das demais atividades perdera

o apoio numa concep~ao do mundo coesiva.

o que e e 0que nao e arte independe dessa rela~ao afeti~a,

 posto que Kant estabelece urn corte entre 0 juizo de gosto e 0 pnn-cipio da arte, que se desloca para a cap~~idade produt~va,d? genio.o consenso buscado nao depende da CntIca, mas da Hlstona, atra-

v.esda qual 0Belo se realiza.

Daqui partiria a solu~ao hegeliana: a Estetica e filosofia da

arte enquanto recapitula~ao da historia do espirito humano. E

estamos diante do segundo paradoxa: para compreender a arte d,e

 periodos precedentes, e necessario formular juizos de duplo cont~u-

do - 0conteudo do objeto e 0conteudo de verdade, segundo a dIS-

tin~ao de Walter Benjamin. Ciencia de exce~ao ou. ciencia nula, a

Estetica transfere 0conteudo de verdade de seu obJeto para outras

ciencias humanas, e sera, por isso, para aproveitarmos umaexpressao de Michel' Foucault, ~m~ ~iencia e~ra~.t;, ~ra de portehistorico, ora psicologico ou socIOlogICO,ora hngUlstIcO.

Enfim, 0terceiro paradoxa: a Estetica faz da arte ob~eto de

conhecimento, e, no entanto, a arte e uma forma de conhecImento

que nao e conhecimento do objeto. "Esse paradoxo", ~ome~taAdorno, "e tambem 0 da experiencia artistica. Seu medlum e 0

carater evidente do incompreensivel" 13. Mas, por outro lado, a

Estetica contribui para 0devir das obras, que assimila, como di~

o proprio Adorno, a interpreta~ao, 0 cO,me~tario,e.a critica. Cons1-

dere-se, ainda, que ha urn devlr da propna EstetIca, dependendo

Page 7: A Estética e o Saber Moderno - Benedito Nunes

7/28/2019 A Estética e o Saber Moderno - Benedito Nunes

http://slidepdf.com/reader/full/a-estetica-e-o-saber-moderno-benedito-nunes 7/7

do destino das artes, de modo que se pode dizer agora, contradi-zendo nossa afirmativa inicial, que a Estetica ingressaria no hori-

zonte da arte. Esses paradoxos mostram-nos a indigencia conge-

nita da disciplina do Belo, proveniente da abstra~ao que the deu

suporte teorico: 0isolamento da experiencia estetica, pura, intem- poral, desligando a arte dos valores nao-esteticos.

Menos e mais do que ciencia, no sentido de episteme, a Este-

tica e Hermeneutica. E como Hermeneutica, ela recai no espa~o

reflexivo de confronto e de aproxima~ao com a experiencia histo-rica e cientifica. Dessa forma, irremediavelmente filosofica, a Este-

tica nao pode interpretar a arte, sem interpretar-se de acordo com

os pressupostos que the fomece 0todo da cultura de que faz parte.

F E N O M E N O L O G IA E

E X P E R I E N C I A E S T E T I C A

Bibliografia

ADORNO,Theodor. Autour de La theorie esthetique: Paralipomena - Intro-

duction premiere. Paris, Klinksieck, 1976.

CASSIRER, Ernst. La philosophie des lumieres. Paris, Fayard, 1966.

FEHER, Ferenc & HELLER, Agnes. Essais sur les formes et leurs significa-

tions. Paris, Denoel Gonthier, 1981.

HARTMANN,Nicolai. Aesthetik. Berlin, Walter de Gruyter, 1953.

HElDEGGER, Martin. Holzweg. Frankfurt, Vittorio Klostermann, 1972.

- -. N ietz sch e I . Stuttgart , Neske, 1961.

KOYRE, Alexandre. Estudos de hist6ria do pensamento cienti fico. Rio de

Janeiro-Brasilia, Forense Universitaria-UnB, 1982.

 La Som me Theo logiq ue de Sain t-Th oma s (Fran~ais-Latin), par M . l'Abbe

Drioux. Paris, Librairie d'Eugene Belin, 1885.

MALKIEL-JIRMOUNSKY,Myron. 'A psicologia do artista na Idade Media II',

Ocidente - Revista Portuguesa Mensal, Lisboa, n. 334, fey. 1966, v. LXX.

 p.45 -51 .

PANOFSKY, Erwin. Gothic architecture and scholasticism. Cleveland-New

York, Meridian Books, 1968.

WHITEHEAD,Alfred North. Modes of thought. New York, Macmillan, 1957.

Gra~as a intencionalidade da consciencia que tomou por 

 base, a fenomenologia husserliana, como metodo descritivo das

vivencias e de seus objetos, ligados entre si de maneira essencial,

reabriu a dimensao ontologica da experiencia estetica. Patente nas

esteticas de cunho fenomenologico, a geral de Nicolai Hartmann e

a de Roman Ingarden, restrita a obra liteniria, essa reabertura, que

se pode divisar em certas am'llises de Husserl, adquiriu particular 

relevancia nas concep~6es de Sartre e de Merleau-Ponty. Ambas,

respeitada a diferen~a que se vera depois, integram a experienciaestetica a estrutura da subjetividade humana, e real~am, sobretudo

a de Merleau-Ponty, 0 papel que as obras de arte, particularmente

as literarias e pictoricas, desempenham no desvendamento do real.

Em conhecida passagem de Ideias I, Husserl mostrou, anali-

sando a gravura de Durer, 0 cavaleiro, a morte e ° diabo, que a

experiencia estetica introduz, como ato, uma modifica~ao de neu-

tralidade na percep~ao real: "Que distinguimos nos? Primeira-

mente a percep~a.o normal cujo correlato e a coisa 'placa gravada',

a placa que esta aqui na moldura. Em segundo lugar, temos ~ cons-ciencia perceptiva na qual aparecem, em tra~os negros, as flguras

incolores: 'cavaleiro e cavalo', 'morte' e 'diabo'. Nao e para elas,enquanto objetos, que estamos voltados na contempla~ao es~etica;

dirigimo-nos para as realidades figuradas 'em imagem', malS pre-