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A escola como espelho: a trajetória das alunas do Instituto Profissional Orsina da Fonseca (1930 – 1945) através do arquivo permanente da instituição.
Ms.Teresa Vitória F. Alves1
Resumo: Espaço de “reprodução” de ideologias, a escola traduz a dinâmica da sociedade
na qual se insere, revelando conceitos e ideias da sua estrutura política e social, definidas
a partir da forma pela qual encara a participação cívica do indivíduo nos processos
decisórios. Pesquisadores e professores tais como Ana Maria Monteiro, Circe Bittencourt,
Kátia Abud, Luiz Fernando Cerri, abrem os espaços de discussão do campo histórico para
elementos que compõem o universo escolar e que se relacionam com os aspectos
sociais, políticos, econômicos e culturais. Espaço de memória os arquivos das escolas
revelam a trajetória de pessoas comuns que viveram as transformações da sociedade em
que viviam, além de serem atores sociais dessas mudanças. Não obstante o arquivo
permanente da Escola Municipal Orsina da Fonseca guarda, além das fichas de suas
alunas, toda uma documentação que revela o espaço jovens meninas, os professores e
funcionários, viviam e trabalhavam, deixando para a contemporaneidade depoimentos e
documentos que revelam o cotidiano não apenas da escola como também do Rio de
Janeiro, cidade capital, espaço de transformações. A descoberta dessas fontes, presente
no arquivo da escola, nos faz refletir sobre a necessidade de preservação desse tipo de
acervo. Fora que as suas análises nos permitem compreender o universo escolar como
algo forjado/ construído pela sociedade e que termina por difundir e concretizar seus
projetos políticos e sociais.
Toda sociedade sobrevive à custa de um mínimo de educação que permita aos pais de certo nível social manter nesse nível social os próprios filhos. No início desse século, embora o patriarcado rural já se achasse em desagregação, anova sociedade mercantil emergente que o sucedera guradava ainda os moldes velhos de educação para as profissões liberais, que vinham, de certo modo satisfazendo as suas ambições ainda eivadas do vitorianismo caboclo do tempo da monarquia. Na década de 20 é que começa a ebulição política e social, que deflagra, afinal, na Revolução de 30, e com a qual ingressamos em um período de mudança, mais caracterizadamente representado pelo desenvolvimento da industrialização na vida nacional. (TEIXEIRA, 2011:55).
1 Doutoranda do CEIS 20, Portugal. Professora da Rede Pública da Cidade do Rio de Janeiro e da Faculdade
São Judas Tadeu.
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Os elementos presentes nesse artigo foram detalhadamente pensados
e moldados, da mesma maneira que um artesão, minuciosamente, dispõe um fio
sobre outro, dando forma ao seu pensamento. Como num grande quebra-cabeça,
onde cada peça se encaixa em um determinado local, os dados apresentados aqui
precisaram ser integrados para comporem “a” ou “as” imagens de uma dada
realidade escolar.
O acervo documental que existe nas escolas é visto pelos
pesquisadores como um arquivo histórico, mas é, por muitas vezes descrito como
“arquivo morto” por todos aqueles que estão presentes na comunidade escolar.
Contudo, esses locais guardam inúmeras fontes documentais (escritas,
iconográficas, mobiliários e vestuário), que revelam informações que vão ou não
completar as lacunas existentes sobre a trajetória da instituição e/ou das pessoas
que ali estudaram ou trabalharam. No caso aqui tratado, a análise dos
documentos existentes no “arquivo morto” da Escola Municipal Orsina da
Fonseca, no Rio de Janeiro, nos remete ao passado de um pais onde meninas
órfãs e pobres, os seus professores e os funcionários estavam submetidos às
regras de uma sociedade hierárquica e fechada.
Esses atores sociais passam a ganhar voz e vez no momento em que
encontramos nos arquivos da escola: leis, decretos, regimentos internos,
programas de festividades e de atividades, grades curriculares, fichas de matrícula
de ex-alunas, fichas de ex-professores e funcionários que nos possibilitaram
reconstituir parte daquele passado desconhecido. Assim, passamos a perceber e
a entender que o universo desse “pequeno grupo” era muito mais amplo e
terminava por influenciar não apenas a vida deles como também de outras
pessoas.
Logo, um emaranhado de dados passa a fazer sentido, apesar das
muitas peças isoladas, aparentemente inúteis ou estranhas, que insistem em nos
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desafiar. Álbuns de formatura, fotografias de antigos professores e alunas,
diplomas, boletins, relicários, revistas, postais, enfim todo um acervo que foi
conservado durante décadas, e que possui um valor inestimável.
A preservação e divulgação dos acervos existentes nas escolas
públicas ou particulares se faz necessário como uma forma de salvaguardar as
“memórias escolares”, importantes objetos de estudos para a História da
Educação. Essa preocupação ganha espaço a partir dos últimos anos da década
de 1980, quando a historiografia propõe uma releitura e uma reescrita da história
da escola.
Diante disso a instituição ESCOLA passa a ser vista como um espaço
de produção e difusão não apenas de saber, mas de regras sociais,
posicionamentos ideológicos e de práticas pedagógicas que passam a definir o
que chamamos de “sociedade da escolarização”2. Segundo a historiadora Maria
João Mogarro (2005: 103 – 116), inúmeras são as “fontes de informação escolar”
e vão de um acervo bibliográfico, fotografias, material pedagógico, mobiliário,
entre outros e que certamente auxiliam os estudos ligados a História da Educação.
O patrimônio escolar não pode ser visto como um conjunto de objetos folclóricos de um passado que se desconhece, mas tem que ser integrado na transformação dos contextos escolares e da relação da docência com a cultura. (FELGUEIRAS, 2005: 98)
2 Segundo a pesquisa de Marcus Aurélio Taborda de Oliveira, entendemos a expressão como a
representação de ritos e rotinas escolares, artefatos como o currículo, a organização dos espaços e tempos de aprender e ensinar, as formas sutis e declaradas de uso do poder, o resultado da escolarização sobre a vida dos indivíduos, todos esses são aspectos marcantes que podem nos ensinar muito sobre o processo de gestão da formação escolar ao longo do tempo. Ver: OLIVEIRA, Marcus Aurélio T. de. “Notas sobre distâncias e proximidades temporais da escolarização do corpo em um “projeto” de exegese moral: teoria crítica e história”. In: Revista Perspectiva, Florianópolis, v. 22, n. Especial, p. 225-245, jul./dez. 2004. http://www.ced.ufsc.br/nucleos/nup/perspectiva.html, acessado em Junho/2016.
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Os arquivos escolares – espaços de memória - não podem ser vistos
como espaços de acúmulos de documentos, mas como uma outra entrada para se
compreender o passado. Muitas das vezes, as instituições escolares identificam
esses locais como espaço de tudo aquilo que não desejam, deixando de valorizar
todas as informações existentes ali.
Instituto Profissional: breve olhar sobre sua trajetória histórica
Entre os anos de 1870 e 1877, foram construídas oito (8) escolas para
meninas e meninos desvalidos.3 Os prédios – ESCOLAS DO IMPERADOR -
foram erguidos em espaços urbanos importantes e, pelas suas proporções
avantajadas, ganharam muito destaque dentro da paisagem da cidade.
Edificados em locais de grande circulação, esses “palácios” tinham uma
estrutura física que se destacava frente ao restante da arquitetura da cidade, pois
essa se baseava em um modelo arquitetônico moderno – e, além de trazer um
espírito de modernidade urbana trouxe, também, a proposta de inovação das
práticas pedagógicas no universo educacional da Corte brasileira. Os chamados
“Palácios Escolares” foram:
(...) projetados para servirem ao ensino público primário, substituindo as escolas isoladas que funcionavam nas freguesias urbanas onde foram erguidos. Separando o espaço privado do mestre, ou seja, separando sua residência da esfera pública, onde
3 Cabe lembrar que as escolas públicas no período imperial eram nomeadas a partir da freguesia e
da igreja católica em que era alocada. Assim, nascem as seguintes escolas denominadas de “Escolas do Imperador”: Escola da freguesia de Sant’Anna (Escola São Sebastião); Escola da freguesia de Nossa Senhora da Glória (Escola José de Alencar); Escola da freguesia de Santa Rita (Escola José Bonifácio); Escola da freguesia de São Cristóvão (Escola Gonçalves Dias); Escola da freguesia de São Francisco Xavier do Engenho Velho (Escola Orsina da Fonseca); Escola da freguesia de São José (Escola São José); Escola da freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Gávea (Escola Luiz Delfino); Escola da freguesia de Sant’Anna (Escola Rivadavia Corrêa). Ver: CENTRO DE REFERÊNCIA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA. Escolas do Imperador. Rio de Janeiro: SME, 2005, p 19.
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deveria praticar seu ofício, e com capacidade para receber aproximadamente 600 alunos, esses “palácios” se apresentavam como expressões de um novo tempo. (LEMOS: 2014: 95-111)
É nesse contexto que a Escola da Freguesia de São Francisco Xavier
do Engenho Velho começa a ser projetada em 1873, pelo arquiteto Francisco
Joaquim Bethencourt da Silva 4, sendo inaugurada no ano de 1877. A proposta
inicial era que a escola, construída com verbas dos cofres públicos e de
particulares, apenas recebesse alunos que residissem na freguesia onde a mesma
estava localizada, principalmente crianças órfãs e filhos e filhas de funcionários
públicos que recebessem soldos baixos. Passados alguns anos esse prédio foi
demolido e em seu lugar uma nova edificação passa a ser erguida. Nasce o
internato do então Instituto Profissional Feminino. A trajetória dessa escola, que
fez parte de uma produção governamental de construção de prédios escolares
destinados ao ensino primário tem início no ano de 1870 e vai se seguir pelos
séculos XX e XXI.
Com o nascimento dessa instituição, o olhar direcionado ao ensino
profissional volta-se para a artes e ofícios que deveria desenvolver nas meninas,
que ali chegavam, aptidões voltadas para as artes domésticas, como também a
necessidade de lhes fornecer as noções básicas para saberem seus deveres
enquanto mulheres, mães e donas de casa, conduzindo-as em uma trajetória
contrária a vida desregrada e repleta de vícios vivenciadas por outras meninas
4 Francisco Joaquim Bethencourt da Silva foi arquiteto de obras públicas, professor, escritor e
jornalista. Aluno de Grandjean de Montigny (1776 - 1850) na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, foi responsável por várias obras na cidade do Rio de Janeiro, entre as quais os pórticos da Santa Casa de Misericórdia e do cemitério São João Batista; o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista e o antigo edifício da Bolsa de Comércio, na rua Primeiro de Março (hoje sede do Centro Cultural do Banco do Brasil - CCBB), o prédio da escola Amaro Cavalcanti e fez o primeiro planejamento do bairro de Vila Isabel. Catedrático de desenho na Escola Central, depois politécnica, ele institui o desenho como a espinha dorsal do ensino do Liceu de Artes e Ofícios, do qual é fundador. Teve no estilo Neoclássico a marca de seu trabalho arquitetônico. Ver: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/instituicao115540/liceu-de-artes-e-oficios-rio-de-janeiro-rj, Acesso: 15/01/2015.
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que habitavam as ruas da cidade capital. Contudo, durante um certo tempo boa
parte dessas meninas só estudariam até o final do curso primário. Apenas
algumas moças, de classes abastadas, eram encaminhadas às escolas normais e
parte dessas meninas pobre e órfãos deveriam ser matriculadas em escolas de
formação profissional onde ministrariam, além das disciplinas do currículo regular,
as matérias de costura e bordado vistas como necessárias para a formação
dessas jovens que atenderiam ao mercado de trabalho.
Instituto Profissional Orsina da Fonseca (1930 – 1945)
A necessidade de ser ter escolas onde houvesse uma formação voltada
à educação laboral passou a ser um fator primordial para o ideário desta nova fase
da República Brasileira. Os conceitos da Escola Nova, defendidos por intelectuais
e políticos no poder, encontram no Instituto Profissional Feminino Orsina da
Fonseca um espaço frutífero de prática para o projeto estruturado a partir dos
anos de 1930.
Ao longo da década de 1930, em decorrência das mudanças na
legislação educacional, o Instituto recebeu várias denominações. Com o secretário
geral de instrução Anísio Teixeira (1932 - 1935), o Instituto passa a se chamar
Escola Técnica Orsina da Fonseca. Dois anos depois (1935) ela volta a atender
como internato e externato e no início dos anos de 1940, a escola ganha um curso
ginasial, nesse momento ela é denominada Internato de Educação Técnico –
Profissional Orsina da Fonseca. Em 1949, novamente ocorre uma mudança surge
a Escola Secundária Geral e Técnica Orsina da Fonseca.
Inúmeras reformas farão esse estabelecimento de ensino passar por
diversas modificações estruturais ao longo de sua história, tanto na parte
pedagógica quanto administrativa e até mesmo arquitetônica. Vai permanecer
enquanto escola feminina até o início dos anos de 1960, quando o prédio
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construído na Primeira República é aos poucos demolido, dando lugar ao que lá
existe até hoje, atendendo aos alunos da Rede Pública Municipal da Cidade do
Rio de Janeiro.
Anos mais tarde, ainda localizada na Rua São Francisco Xavier, no
bairro da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro, esta escola ainda guardaria em uma
de suas salas, um rico e empoeirado acervo visto por muitos como inútil, mas
entendido por nós historiadores como um grandioso patrimônio cultural, onde se
guarda parcelas significativas da história da educação brasileira.
Revista Colmeia – uma pequena parcela do acervo do IPF Orsina da Fonseca
Sabe-se que a memória de um bairro, de uma cidade ou de uma escola
é pautada nas narrativas deixadas ou feitas pelas mais diferentes gerações que
fazem de determinados acontecimentos os marcos de sua história. Para
identificarmos as pessoas que fazem parte dessas chamadas gerações, tomamos
a idade como ponto central, já que todos os seus membros pertenceram a um
grupo social ideologicamente circunscrito dentro da nação, ou seja, comporão “um
grupo detentor de uma memória coletiva, balizada pelos mesmos episódios,
pontuada pelos mesmos pontos fortes que são aqueles das experiências coletivas
vividas simultaneamente” (GIRARDET, 1983:263). Como esse grupo pertencente
a uma mesma geração, terá uma mentalidade específica construída com base em
acontecimentos comuns e marcantes para seus integrantes.
Guardadas no “arquivo morto” juntamente com inúmeros outros
documentos do Instituto Profissionalizante Feminino Orsina da Fonseca, nos
deparamos com dois exemplares de uma revista intitulada Colmeia. Escrita pelas
alunas da Escola Técnica Secundária Orsina da Fonseca, elas revelam em suas
páginas amarelas as memórias e os ideais dessas jovens meninas, que no ano de
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1935 começam a escrever um pouco sobre o cotidiano de sua escola, além de
darem opiniões – mesmo que bem singelas – sobre a situação do país.
Como dito por elas mesmas em seu primeiro editorial apresentado no
mês de outubro de 1935, a revista não possuía o intuito de ser doutrinária. Ela
tinha como objetivo:
(...) estimular os pendores literários das alunas da Escola Secundária Orsina da Fonseca. Programa simples, como se vê, e que não exige muito esforço de a parte de quem se propoz realiza-lo dentro das modestas possibilidades de uma pequena revista escolar cheia de boas intenções e de boas esperanças. Nas páginas de COLMEIA, espécie de tribuna da opinião das jovens que aqui formam o seu espírito, terá acolhida qualquer trabalho de literatura ou ciência, de história ou arte, que não estejam em desacordo com as idéias fundamentais da educação moderna e respeitem os bons princípios da moral social.5
Já em seu programa de apresentação podemos perceber o quanto as
alunas responsáveis por escolherem os trabalhos, editarem os textos e publicarem
a revista encontram-se preocupadas em manter uma boa relação com a política
educacional desse período.
Ao longo das páginas da revista elas vão, em cada coluna escrita,
descrevendo o cotidiano e as relações estabelecidas dentro da escola. Opinião
sobre os trabalhos desenvolvidos pelas professoras de Geografia e Artes, as
escolhas dos títulos literários e até mesmo os relatos feitos sobre os fatos
ocorridos durantes as aulas, terminam por revelar uma memória já há muito
esquecida.
Mas, ao folhearmos a revista nos deparamos com trechos onde as
moças começam a expor seus pensamentos frente aos símbolos nacionais ou até
5 Ver: “Um programa”, In: Revista Colmeia, 1935, p. 1. Acervo da EMOF.
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mesmo as datas comemorativas. É o que podemos ver nos singelos versos
compostos por uma aluna para o “Dia da Pátria”:
Amemos com ardor a grande terra que tem o lindo nome de Brasil, onde a verdura cobre o campo e a serra, onde é belo o florir primaveril. Amemos esta esplêndida bandeira que é símbolo da força e da grandeza da nossa doce pátria brasileira, esta terra de luz e beleza!6
A exaltação às “Belezas existentes em nossa Pátria” se encontram
presentes nas linhas do verso, mas na verdade ao lermos nas entrelinhas
podemos observar que o pequeno texto, de forma simples, buscou dar destaque a
questão da valorização dos símbolos nacionais, tais como a bandeira da nação.
Dentre os mais diversos assuntos tratados na revista podemos ver o
destaque dado aos trabalhos realizados pelas alunas dentro da escola. Uma forma
de valorização da ideia de construção de moças trabalhadoras e zelosas de seus
afazeres, marca registrada da política educacional e do próprio ideal difundido
pelos seguidores do governo varguista.
Podemos e devemos destacar, ainda, uma coluna intitulada “No clube
Medeiros e Albuquerque”, onde encontramos uma página toda destinada a um
texto intitulado “Oração à Pátria”. Já nas primeiras linhas do texto uma aluna
conclama: “Minhas colegas. A nós, à nossa mocidade, ao nosso entusiasmo, está
confiado o progresso de nossa pátria e a glória do futuro”.7 Frente a essa
afirmação identificamos, ao longo do texto frases e ideias que asseguram e
instituem a essas jovens o papel de alicerces de um país que precisa de
6 Ver: “Versos feitos no ‘Dia da Pátria’”, In: Revista Colmeia, 1935, p. 8. Acervo da EMOF.
7 Ver: “No clube Mediros e Albuquerque”, In: Revista Colmeia, 1935, p. 05. Acervo da EMOF.
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trabalhadores e trabalhadoras conscientes de seu papel social. Retratando bem as
ideias que posteriormente seriam disseminadas pelo Estado Novo Varguista
Numa outra coluna, “Pensando na Pátria”, uma aluna do curso de
extensão define o sentido de “Pátria” através da exaltação dos vultos nacionais,
como por exemplo o estudo biográfico de José Bonifácio. Além disto, destaca a
“responsabilidade que temos frente à formação de uma Pátria mais justa e
cidadã”.8
Finalizando esse primeiro número da Revista Colmeia, nos deparamos
com um artigo que fala sobre a importância das comemorações do 07 de
setembro. Nele uma aluna aborda a questão da união da pátria a partir da
comemoração a “data máxima da História da Terra Brasileira”.9 Ao longo do texto
ela faz toda uma exaltação as belezas naturais do Brasil. E aproveita para
destacar a palavra Pátria, onde ressalta seu significado e destaca também os
verdadeiros ideais cívicos necessários à sua construção de forma sólida e voltada
para a modernidade.
Os símbolos cívicos presentes nos textos escritos e publicados pelas
alunas na Revista Colmeia dão ao leitor de hoje uma visão de como o Estado
através da escola forja um modelo de cidadão voltado ao mundo do trabalho e
atrelado aos ideais difundidos pelo governo varguista.
Conclusão:
O contato inicial com os documentos que marcam a trajetória do único
Instituto Profissionalizante Feminino construído na cidade do Rio de Janeiro ainda
no século XIX, é importante para compreender a instituição através dos seus
próprios documentos, mas extremamente relevante no momento que conseguindo
8 Ver: “Pensando a pátria”, In: Revista Colmeia, 1935, p.11. Acervo da EMOF
9 Ver: “O 7 de setembro”, In: Revista Colmeia, 1935, p. 10. Acervo da EMOF.
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problematizar as informações transmitidas por eles e, assim, construir um trabalho
científico e significativo para a História da Educação.
Isso foi possível no momento que os paradigmas trazidos pela História
Cultural que nos permitiu interligar aspectos do geral ao particular e assim,
identificar as singularidades dos objetos analisados, transformado as instituições
escolares em espaços em espaços de informações importantes para sua
compreensão como, também, para perceber aspectos da sociedade onde elas se
encontram inseridas
É na escola que se constrói a noção de pertencimento a um (a)
lugar/Nação. O papel de cidadão passa a ser definido pelos padrões que lhe são
impostos a partir da formação escolar mais básica. Assim sendo, recuperando a
noção de aparelho reprodutor da ideologia, controlar o sistema educacional
significa ter o controle da produção de novos cidadãos que podem ser ou não
favoráveis ou maleáveis aos mecanismos existentes e às regras impostos pelo
poder.
Em suma, a análise do sistema de ensino oferece as condições
necessárias para que possamos compreender a forma pela qual o Estado
reproduz e pretende perpetuar os seus valores, espelhados nas ideias de
Cidadania, Nação e na suposta noção de uma “Pátria”, forjada a partir de valores
físicos, como o país, humanos, como a sociedade, mas, sobretudo morais, sendo
estes os que postula ser o defensor.
A escuridão do quadro-negro era povoada por estampas. Essas estampas, muitas vezes penduradas em cavaletes, tornaram-se recursos pedagógicos indispensável para a aprendizagem da redação e multiplicaram-se nas escolas primárias dos grandes centros urbanos brasileiros no final da década de 20 e nas décadas seguintes. Estampas que a princípio eram importadas e ainda fazem renascer as memórias da infância em linguagem poética. (NUNES, 2011:371)
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Por várias vezes podemos perceber que dentro da sala de aula, nas
paredes da escola, nas estantes da biblioteca ou até em pequenos textos escritos
pelas alunas enxergamos um pouco da vida/ cotidiano de jovens moças.
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13
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