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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X A EMERGÊNCIA DO ATIVISMO GORDO NO BRASIL Natália Fonseca de Abreu Rangel Resumo: Este artigo busca resumir as principais considerações que são resultado da pesquisa em andamento de minha dissertação de mestrado em Sociologia Política também sob orientação da professora Marcia da Silva Mazon 1 , intitulada: “O ativismo gordo em campo: política, identidade e construção de significados” e do Trabalho de Conclusão de Licenciatura em Ciências Sociais “Redes da internet como meio educativo sobre gordofobia” defendido por mim sob orientação da professora Mazon em julho de 2017, incluindo trechos idênticos aos que podem ser encontrados em ambas as obras. Assim, o artigo está dividido em duas partes, sendo que na primeira parte explora- se o que é gordofobia e a estigmatização do corpo gordo a partir de análise de conteúdo do site Ego utilizando os conceitos de oposições assimétricas de Feres Junior e estigmatização de Goffman. A segunda parte explora a forma de organização do ativismo gordo brasileiro por meio da internet utilizando os conceitos de desescolarização e teias educacionais Illich e rede Castells. Tem-se por objetivo desta compilação divulgar e ampliar os estudos sobre ativismo gordo e gordofobia no Brasil. Palavras-chave: Gordofobia. Movimento Gordo, biopolítica, feminismos, estigma. O que é gordofobia? Os movimentos sociais, em especial, o movimento feminista a partir das interpretações sociais considerando o machismo e o patriarcado centrais na opressão feminina, passou a problematizar a questão da pressão estética sobre o corpo da mulher, e assim, influenciou na distinção sobre a opressão que sofrem as mulheres gordas. A estigmatização que sofrem as pessoas com corpos gordos é chamada de gordofobia. O conceito de fatphobia (SYKES, 2011; CAHNMAN, 1968; ALLON, 1981) 2 , surge nos Estados Unidos a partir de militantes gordas(os) que passam a questionar e lutar contra a estigmatização para com o grupo de pessoas gordas. 3 Gordofobia tem diversas definições que no cerne apontam as mesmas problemáticas, a seguir sendo definida por uma militante gorda brasileira: Forma de discriminação estruturada e disseminada nos mais variados contextos socioculturais, consistindo na desvalorização, estigmatização e hostilização de 1 Professora Doutora do departamento de Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina. 2 CAHNMAN, Werner. The Stygma of Obesity. Sociological Quaterly, 1968 ALLON, Natalie. Psychological Aspect of Obesity: a Handbook. The Stigma of Overweight in Overweight Everyday Life. Nova York: Van Nostrand Reihold, 1981. 3 Apesar de haver um padrão baseado pelo IMC, sobre o qual me aterei mais adiante, a concepção de “gorda” vai variar conforme o tempo, localidade e cultura.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

A EMERGÊNCIA DO ATIVISMO GORDO NO BRASIL

Natália Fonseca de Abreu Rangel

Resumo: Este artigo busca resumir as principais considerações que são resultado da pesquisa em

andamento de minha dissertação de mestrado em Sociologia Política também sob orientação da

professora Marcia da Silva Mazon1, intitulada: “O ativismo gordo em campo: política, identidade e

construção de significados” e do Trabalho de Conclusão de Licenciatura em Ciências Sociais

“Redes da internet como meio educativo sobre gordofobia” defendido por mim sob orientação da

professora Mazon em julho de 2017, incluindo trechos idênticos aos que podem ser encontrados em

ambas as obras. Assim, o artigo está dividido em duas partes, sendo que na primeira parte explora-

se o que é gordofobia e a estigmatização do corpo gordo a partir de análise de conteúdo do site Ego

utilizando os conceitos de oposições assimétricas de Feres Junior e estigmatização de Goffman. A

segunda parte explora a forma de organização do ativismo gordo brasileiro por meio da internet

utilizando os conceitos de desescolarização e teias educacionais Illich e rede Castells. Tem-se por

objetivo desta compilação divulgar e ampliar os estudos sobre ativismo gordo e gordofobia no

Brasil.

Palavras-chave: Gordofobia. Movimento Gordo, biopolítica, feminismos, estigma.

O que é gordofobia?

Os movimentos sociais, em especial, o movimento feminista a partir das interpretações

sociais considerando o machismo e o patriarcado centrais na opressão feminina, passou a

problematizar a questão da pressão estética sobre o corpo da mulher, e assim, influenciou na

distinção sobre a opressão que sofrem as mulheres gordas. A estigmatização que sofrem as pessoas

com corpos gordos é chamada de gordofobia. O conceito de fatphobia (SYKES, 2011;

CAHNMAN, 1968; ALLON, 1981)2, surge nos Estados Unidos a partir de militantes gordas(os)

que passam a questionar e lutar contra a estigmatização para com o grupo de pessoas gordas.3

Gordofobia tem diversas definições que no cerne apontam as mesmas problemáticas, a seguir sendo

definida por uma militante gorda brasileira:

Forma de discriminação estruturada e disseminada nos mais variados contextos

socioculturais, consistindo na desvalorização, estigmatização e hostilização de

1 Professora Doutora do departamento de Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina. 2 CAHNMAN, Werner. The Stygma of Obesity. Sociological Quaterly, 1968 ALLON, Natalie. Psychological Aspect

of Obesity: a Handbook. The Stigma of Overweight in Overweight Everyday Life. Nova York: Van Nostrand

Reihold, 1981. 3 Apesar de haver um padrão baseado pelo IMC, sobre o qual me aterei mais adiante, a concepção de “gorda” vai variar

conforme o tempo, localidade e cultura.

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pessoas gordas e seus corpos. As atitudes gordofóbicas geralmente reforçam

estereótipos e impõem situações degradantes com fins segregacionistas; por isso, a

gordofobia está presente não apenas nos tipos mais diretos de discriminação, mas

também nos valores cotidianos das pessoas. (ARRAES, 2014)

A gordofobia aparece geralmente enquanto pauta secundária dentro do movimento

feminista. O termo gordofobia é recente, mas os estudos sobre a gordura corporal já tem pelo menos

50 anos de existência, principalmente dentro dos estudos estadunidenses chamados por sua temática

de fat studies (CAHNMAN, 1968; ALLON, 1981)4, de onde saíram os primeiros estudos sobre o

tema. Hoje em dia, de acordo com Lupton (2013), é possível dividir os estudos sobre gordura

corporal em pelo menos 5 abordagens diferentes:

Anti-obesidade: por meio desse discurso entende-se que a gordura corporal em excesso

relativa ao Índice de Massa Corporal (IMC) é nociva e um assunto de saúde pública em que

deve-se prevenir os/as cidadãos/ãs contra o sobrepeso e a obesidade, entendida enquanto doença

e combatê-la.

Biomédico-crítico: não aceita a ideia de “epidemia da obesidade, entende que ser gordo/a

não necessariamente significa estar doente, estando em risco apenas as pessoas com obesidade

mórbida pelo IMC, atividades físicas regulares são mais importantes para a saúde do que a massa

corporal, gordura corporal é um sintoma e não uma doença, dietas podem ser prejudiciais à

saúde. Dentro dessa perspectiva há estudiosos que acreditam que o discurso anti-obesidade faz

parte de estratégias propositais para fomentar a indústria farmacêutica e outras indústrias

relacionadas ao emagrecimento.

Libertários céticos: entendem que deve haver liberdade de escolha dos indivíduos em

relação à alimentação e atividade física, não devendo o Estado assumir uma postura paternalista

em relação à gordura corporal. Utilizam o discurso biomédico-crítico para endossar a ideia de

liberdade de mercado, em especial de congolomerados de fast food. Dentro dessa perspectiva o

discurso anti-obesidade restringiria a liberdade, sendo esse discurso por vezes referido pelos

libertários céticos como socialista.

Estudos críticos do peso/estudos gordos (fat studies): dentro dessa perspectiva,

pesquisadores sociais levam em consideração o contexto que envolve os estudos médicos,

entendendo que o discurso anti-obesidade não é construído deliberadamente para “enganar” a

população, mas faz parte de um conjunto de interesses e ideias sobre saúde condicionadas por

seu momento sócio-histórico. Dentro desses estudos críticos existem análises psicológicas,

4 Idem nota de rodapé 2.

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históricas, antropológicas, sociológicas, entre outras. Um conceito importante dentro dessa

perspectiva é o conceito de biopoder.

Ativismo gordo: os/as ativistas gordos/as buscam desafiar as ideias negativas e

estigmatizadoras voltadas às pessoas como a associação de gordura com feiúra e doença, bem

como melhorar a acessibilidade a espaços físicos para pessoas gordas buscando melhorar a

qualidade de vida das dessas pessoas, acabar com o preconceito e incentivar a convivência com

as diferenças das pessoas.

Um dos marcos do ativismo gordo estadunidense foi a criação da NAAFA – National

Association to Advance Fat Acceptance (Associação Nacional para o avanço da aceitação da

gordura/dos(as) gordos(as)) em 1969. Com influência dessa associação, o primeiro documento a

esclarecer as pautas do ativismo gordo foi o “Fat liberation manifesto” escrito pelas ativistas gordas

feministas radicais Judy Freespirit e Aldebaran, integrantes do Fat Underground5, em novembro de

1973. Essas movimentações políticas buscaram ir principalmente contra o discurso médico

dominante, impulsionando a crítica à patologização das pessoas gordas, a luta pela acessibilidade

dos espaços e enfatizando o papel do capitalismo a partir da interpretação de que esse sistema

corrobora para a opressão das pessoas gordas. Para entendimento da pauta do ativismo gordo neste

momento e localidade, transcrevo a tradução do Manifesto de Liberação das pessoas gordas:

1. Acreditamos que as pessoas gordas têm todo o direito ao respeito e ao reconhecimento

humanos.

2. Estamos zangadas com o mau tratamento devido a interesses comerciais e sexistas.

Esses têm explorado nossos corpos como objetos do ridículo, criando assim um

mercado imensamente lucrativo que vive de vender a falsa promessa que esse

ridículo pode ser evitado ou aliviado.

3. Vemos nossa luta como aliada de outros grupos oprimidos contra classismo, racismo,

sexismo, preconceito etário (ageism), exploração financeira, imperialismo, e outros.

4. Exigimos direitos iguais para pessoas gordas em todos os aspectos da vida, conforme

prometido pela Constituição dos EUA. Exigimos igual acesso a bens e serviços na

esfera pública, e um fim à discriminação contra nós nas áreas de emprego, educação,

instalações públicas, e serviços de saúde.

5 O Fat Underground foi um movimento de mulheres gordas estadunidenses com perspectiva feminista radical. Alguns

de seus princípios eram que os/as médicos/as são inimigos/as e que a indústria do emagrecimento era genocida.

Manteve-se em atividade durante os anos 70. Disponível em:

http://www.radiancemagazine.com/issues/1998/winter_98/fat_underground.html Acesso em maio de 2017.

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5. Destacamos como nosso principal inimigo a assim chamada indústria de “redução”.

Esta inclui clubes de dieta, spas, médicos de dieta, livros de dieta, comida de dieta,

suplementos de comida, procedimentos cirúrgicos, inibidores de apetite, drogas e

equipamentos de redução. Exigimos que essa indústria se responsabilize pelas suas

promessas falsas, reconheça que seus produtos são perigosos à saúde pública, e

publique estudos de longo prazo provando qualquer eficácia estatística dos seus

produtos. Fazemos essa exigência sabendo que mais de 99% de todos os programas de

perda de peso, quando avaliados num período superior a cinco anos, fracassam

totalmente, e também sabendo dos perigos extremos e comprovados de mudanças

frequentes no peso [o efeito sanfona].

6. Nós repudiamos a “ciência” mistificada que falsamente afirma que não somos

saudáveis. Isso tem criado e mantido discriminação contra nós, em conluio com os

interesses financeiros das empresas de seguro, da indústria da moda, das indústrias de

redução, das indústrias de comida e medicamentos, e das instituições médicas e

psiquiátricas.

7. Recusamos ser subjugadas aos interesses de nossos inimigos. Queremos retomar o

poder sobre nossos corpos e nossas vidas. Estamos comprometidas a buscar esses

objetivos juntas.6

Nota-se no manifesto aspectos políticos levantados pelas mulheres gordas influenciado pelos

ideais desenvolvidos pelos direitos humanos, feminismo e anticapitalismo. Apesar de ser um marco,

o ativismo gordo feminista não é o único e desenvolve diferentes formas de conceber a luta

antigordofóbica pelo mundo (LUPTON, 2013).

O termo gordofobia vem sendo utilizado e ampliado no Brasil por ativistas gordas/os há pelo

menos 7 anos. A gordura é uma característica que varia de acordo com a época e espaço em que

vivemos e especificamente na sociedade ocidental moderna em que vivemos atualmente, ser uma

pessoa gorda tornou-se um estigma a ser carregado e combatido (LUPTON, 2013).

Ativismo gordo e feminismos

Os movimentos sociais, em especial, o movimento feminista a partir das interpretações

sociais considerando o machismo e o patriarcado centrais na opressão feminina, passou a

problematizar a questão da pressão estética sobre o corpo da mulher, e assim, influenciou na

distinção sobre a opressão que sofrem as mulheres gordas. Gordofobia tem diversas definições que

6 Tradução de Lola Aronovich disponível em: http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2012/04/manifesto-da-

libertacao-das-gordas.html Texto postado originalmente em 3 de abril de 2012. Acesso em: 14/05/2017

Original disponível em: http://laurietobyedison.com/body-impolitic-blog/tag/fat-liberation-manifesto/ acesso em:

14/05/2017

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no cerne apontam as mesmas problemáticas, a seguir sendo definida por uma militante gorda

brasileira:

Forma de discriminação estruturada e disseminada nos mais variados contextos

socioculturais, consistindo na desvalorização, estigmatização e hostilização de

pessoas gordas e seus corpos. As atitudes gordofóbicas geralmente reforçam

estereótipos e impõem situações degradantes com fins segregacionistas; por isso, a

gordofobia está presente não apenas nos tipos mais diretos de discriminação, mas

também nos valores cotidianos das pessoas. (ARRAES, 2014)

A gordofobia aparece geralmente enquanto pauta secundária dentro do movimento

feminista. O momento atual, que influencia na consolidação da luta contra a gordofobia, pode ser

reconhecido como o que a autora Sonia E. Alvarez classificou como o terceiro momento7 da

trajetória feminista latinoamericana, o “sidestreaming”, definido como “o fluxo horizontal dos

discursos e práticas de feminismos plurais para os mais diversos setores paralelos na sociedade

civil, e a resultante multiplicação de campos feministas. ” (ALVAREZ, 2014, p. 17).

As feministas nesse momento se inserem em campos interseccionais em seus estudos,

buscando não anular uma opressão por outra, como ocorreu por muito tempo dentre movimentos de

esquerda, e sim cruzá-las, reconhecê-las e pensar em táticas de luta contra essas opressões de

maneira diferenciada. Então, por exemplo, em concomitância à opressão entre classes, há em outro

nível a opressão da mulher, e em outro nível a opressão da mulher negra, em outro nível a opressão

da mulher gorda, e assim por diante. O aumento de sua relevância dentro dos feminismos é recente

e não-consolidado, aparecendo a necessidade de autonomização de um ativismo gordo.

A ideia de intereseccionalidade é corroborada por outros movimentos políticos e sociais

identitários como LGBTQAI8 e negro, entre outros movimentos que focam em identidades

específicas, levantando problemáticas com lugar de fala, representatividade e protagonismo, sendo

entendidos como movimentos pós-modernos por tratarem das questões fragmentárias da identidade

(HALL, 2000; SILVEIRA, 2014). Esses movimentos característicos da pós-modernidade (HALL,

2000) parecem a princípio terem interface em relação às pautas levantadas pelas/os ativistas

gordas/os, não se limitando a questão gorda ao domínio feminista. A possibilidade de um indivíduo

militar em diferentes frentes em relação à afirmação de suas múltiplas identidades contribui para a

relação baseada na intersecção e entre grupos defensores dos direitos humanos.

7 O primeiro momento é o “centramento” em que o feminismo está no singular e o segundo momento é o de

“mainstreaming” e de “descentramento” em que ocorre a pluralização dos feminismos e do gênero. (ALVAREZ, 2014). 8 Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer, Assexuais e Intersexuais.

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A gordofobia tem especificidades que a diferenciam da pressão estética generalizada sobre

as mulheres: pessoas gordas sofrem no transporte público ao passar pela catraca, ao sentar no

assento demasiado pequeno (em ônibus, aviões, restaurantes, cinemas), sofrem para encontrar

roupas de seu tamanho nas lojas, sofrem de olhares de valor de juízo quando se alimentam

publicamente. Sendo assim, é constante no cotidiano das pessoas gordas a não aceitação e

encontram frequentemente dificuldade de ocupações em espaços públicos. O adjetivo “gorda”

geralmente soa como ofensa e como uma qualidade altamente indesejável, diferentemente de

“magra”.

Delineiam-se, neste artigo, as percepções da gordofobia a partir das mulheres, embora a

gordofobia atinja igualmente os homens, porém de maneira diferenciada já que os homens não

sofrem com a vigilância sobre seus corpos da mesma maneira que as mulheres. O machismo e a

construção patriarcal da sociedade são os pilares da dominação masculina. A organização de uma

coletividade reivindicando o fim da gordofobia parte principalmente das mulheres envolvidas nesse

tipo de opressão.

Estigmatização das mulheres gordas

Foram estudados os usos da palavra “gorda” em um tabloide on-line de fofoca brasileiro,

buscando compreender o uso de diferentes representações sociais relacionadas ao corpo da mulher

mobilizadas por variados discursos em relação (de profissionais da saúde, de mulheres gordas e de

pessoas não gordas).

A ferramenta de busca por palavras-chave no site atinge o máximo de 400 matérias por

pesquisa. Para “gorda” foi atingido esse limite. Para “gordo” foram encontradas 358 ocorrências (ou

seja, não atinge o limite). Foram analisadas 200 matérias em que a palavra gorda aparece no site.

No site não são identificados(as) a maioria dos(as) autores(as) das matérias.

Para auxiliar na análise de conteúdo utilizo o conceito de oposições assimétricas, de Feres

Junior (2004), que o utilizou a analisar o desprezo principalmente do povo estadunidense pelos

povos hispano-americanos:

Devemos notar eu estas primeiras manifestações de desprezo pelos hispanoamericanos já

eram construídas na forma de oposições assimétricas. Cada uma das características

negativas atribuídas a eles, dominados por clérigos (católico), indolentes, ignorantes,

supersticiosos, incapazes de se esforças e desprovidos de iniciativa, correspondem

univocamente a uma característica positiva da auto-imagem americana: protestante

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(portanto, anticatólico), trabalhador, educado, racional, industrioso e provido de espírito de

iniciativa. Dado eu esses adjetivos pejorativos descrevem estilos de vida, hábitos e

costumes, eles podem ser agrupados sob a denominação de oposições culturais

assimétricas. (p. 58 e 59)

Enquanto as formas de oposições assimétricas, que Feres Junior estuda, tem um forte

aspecto territorial, proponho o uso das mesmas entre grupos diferentes, que convivem no mesmo

território: pessoas gordas e pessoas não-gordas. Sobre o par contraconceitual Feres Junior (2004)

inspira-se em Koselleck que vai dizer que: “é baseado semanticamente no contraste consciente de

um nome específico com uma classificação genérica” (FERES JUNIOR, 2004, p. 77) Essa forma de

oposições assimétricas traz conceitos e contraconceitos de ordem moral e física, demarcando como

colocado pelo autor: os estilos de vida.

Tabela 1: Oposições assimétricas encontradas nas matérias do site Ego em relação às mulheres gordas

Conceito Contraconceito Conceito Contraconceito

Melhor Pior Motivada Desmotivada

Feliz Infeliz-depressiva Preocupada (com saúde e beleza)

Relaxada

Definida Indefinida Higiênica Nojenta

Sonho Pesadelo Ótimo Péssimo

Com valor Sem valor Orgulho Pena-vergonha

Difícil Fácil Saudável Doente

Ativa Preguiçosa Bonita Feia

Controlada Descontrolada Normal Anormal

Os conceitos e contraconceitos demonstram o conjunto de valores e características atribuídas

às mulheres gordas resultando em um processo de estigmatização.

De acordo com Goffman (1988), atores estigmatizados são aqueles que não correspondem às

expectativas de normalidade que adquirimos por meio das representações coletivas da normalidade.

Esses atores exibem atributos depreciativos e assim “deixamos de considerá-lo criatura comum e

total, reduzindo-a a uma pessoa estragada e diminuída" (GOFFMAN, 1988, p. 12). Por meio desse

estigma haveria a desumanização desse ator social.

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O site Ego, enquanto concentrador de notícias de fofoca, mostra-se o ambiente ideal para a

propagação de um ideário conforme com a gordofobia, uma vez que por meio das notícias as

pessoas buscam distanciar-se da carga simbólica negativa que representa o “ser gorda”, por meio da

relação de poder em que se estabelecem as pessoas gordas expostas nas notícias e os/as

comentaristas (frequentemente sob o anonimato), seja este poder estabelecido em caráter de

distinção ou pela mobilização do discurso médico reforçando a ideia de doença relacionada às

pessoas gordas. Assim, há a predominância do julgamento moral das pessoas gordas (outsiders)

pelos/as consumidores/as das notícias relacionadas ao corpo gordo.

A conexão entre internet e militância gorda

Levanto aqui alguns dados conclusivos do Trabalho de Conclusão de Licenciatura defendido

por mim sob orientação da professora Marcia da Silva Mazon “Redes da internet como meio

educativo sobre gordofobia” em 2017. Estes dados apontam para configurações importantes na

organização da militância gorda brasileira a partir de mulheres autoras de páginas virtuais anti-

gordofóbicas ou relacionadas ao movimento gordo9. Estre trabalho teve como base teórica os

conceitos de rede de Manuel Castells (2013) e o conceito de desescolarização de Ivan Illich

(1985)10.

Um dos aspectos mais relevantes é o entendimento da internet como essencial para o

desenvolvimento da militância gorda de acordo com as mulheres entrevistadas como podemos ver

nos trechos destacados a seguir.

Como funciona a troca de informações com outras mulheres gordas? Na internet?

Pessoalmente? Por meio de reuniões?

9 Blog: Gordativismo (Bianca Reis)

Comunidade em rede social: - Coletivo Anti-Gordofobia/Página Voz das Gordas (Renata Gomes)

- Precisamos falar de gordofobia (Thais Malaquias Rufino)

Página em rede social: Não sou exposição (Paola Altheia)

Coletivo Gordas Livres (Jamile Rosângela Santos)

Beleza sem tamanho

Sites: Lugar de mulher

Gorda e sapatão (Jéssica Ipólito)

Revista on-line: Questão de gênero Fórum (Jarid Arraes)

10 A ideia de desescolarização remete ao fim da educação por meio das instituições, de forma que Illich (1985) via essa

como a única alternativa para retomada de uma educação imaginativa e crítica que não funcionasse como reprodutora

da sociedade de consumo.

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Blog Beleza Sem Tamanho: Somente virtual, nunca tive um encontro presencial que fosse

possível debater o tema. Eu moro bem afastada de todo mundo em uma cidade de 25mil

hab, onde não tem muita militância em nenhuma área.

Quais são as vantagens da internet na militância gorda?

Coletivo Gordas Livres: Nossa, todas as possíveis, sem a internet nós não estaríamos nesse

nível de evolução do ativismo gordo não, e olha que ainda estamos muito verdes, mas se

não houvesse a internet o ativismo gordo não existiria, digo isso porque antes da internet,

não nos encontrávamos, são tínhamos coragem de falar com outros gordos, nem queríamos

nos ver um perto do outro, por vergonha de sermos dois gordos num mesmo espaço, rs,

ouso dizer que a internet salvou o gordo das trevas, só assim conseguimos formar grupos e

falar sobre como era nossas vidas, porque por trás da tela ninguém iria te julgar, ninguém

iria ver grupos de gordos reunidos, era menos assustador poder falar. foi através desse

inicio sombrio que tivemos forças para tirar fotos, ir as ruas, nos unir de fato.

Há espaço para diferentes estratégias, seja a de reafirmação identitária do grupo de mulheres

gordas ou de informação para as pessoas não-gordas sobre a causa gorda.

As redes vão se formando conforme as pessoas vão se conectando por meio de curtidas e

compartilhamentos. Nota-se que não se busca a desconstrução das pré-concepções de todas as

pessoas que visitam as páginas, tratando-se com mais cuidado àquelas/es que tem uma pré-

disposição a escutar e buscar entender os conteúdos.

A internet também proporciona a rapidez em comentar assuntos ocorridos recentemente, ou

seja, existem múltiplos “direitos de resposta” ao colocar-se uma réplica a um conteúdo considerado

gordofóbico na mesma semana, no mesmo dia e às vezes em questão de poucas horas.

As páginas atingem números cada vez maiores de leitoras/es. Apesar da dispersão da

informação, nota-se continuidade nos temas por meio de compartilhamentos e curtidas, formando a

rede das mulheres gordas. Nota-se dois tipos de interação diferentes: a catártica, com ênfase na

reafirmação da identidade grupal e a didática, com ênfase na construção de conhecimento sobre os

corpos gordos.

Os temas que perpassam a opressão gordofóbica se repetem e se replicam nas páginas de

ativistas gordas. Cria-se uma rede de compartilhamento e de produção de conteúdo de forma de

que, por exemplo, a distinção entre pressão estética e gordofobia tenha pelo menos 10 textos

produzidos por ativistas gordas, refinando-se e aprofundando-se a análise por meio do

compartilhamento entre as mulheres gordas e seguidoras das páginas.

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Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Isso ocorre com diversos temas como na distinção entre bullying e opressão estética, na

explicação de atitudes gordofóbicas, na discussão sobre acessibilidade de pessoas gordas a espaços

e serviços públicos, entre outras temáticas centrais na discussão sobre gordofobia.

A identidade é pautada pelo que se é, tanto pelo que não se é. A luta contra a gordofobia une

as mulheres gordas ao mesmo tempo em que cria entre elas a identificação por partilharem de

problemas e dificuldades semelhantes. O compartilhamento de imagens de mulheres gordas em

situações em que antes sentiriam vergonha (como, por exemplo, usando um biquíni na praia, num

relacionamento amoroso afetivo, no transporte público, entre outras situações), recai na discussão

sobre autoestima da mulher gorda sem associar magreza à saúde, fortalecendo a discussão ampliada

sobre saúde.

Há a criação de encontros presenciais, proporcionados pelo contato de mulheres gordas a

partir das redes sociais na internet. Existe a criação de rodas de conversa sobre o tema,

estabelecendo redes mais volúveis e a criação de redes a partir do mercado plus size (principalmente

em feiras de moda em que se encontram comerciantes e compradoras gordas, geralmente havendo

nessas feiras debates sobre ativismo e gordofobia), sendo estas redes mais duradouras, contínuas e

sólidas.

Existem dois tipos de ativismo encontrados: o ciberativismo (como a postagem de textos

sobre a temática gorda, como a reivindicação on-line a alguma marca que cometeu gordofobia em

qualquer divulgação publicitária, a postagem de fotos de mulheres gordas em posições de poder e

de beleza, entre outros); e o ativismo presencial. O ciberativismo e as redes da internet se mostram

mais duradouras e contínuas do que os encontros presenciais. As vantagens da internet para a

organização das mulheres gordas bem como para a construção do conhecimento sobre os corpos

gordos são: acesso à informação, possibilidade de trocar informações em tempo real, possibilidade

de dialogar com pessoas de outros lugares do mundo e do Brasil, possibilidade de criação de

diferentes ambientes virtuais de acordo com o propósito (blog, site, grupo on-line, página virtual,

canal de vídeo, etc.), possibilidade de passar informação por meio de diferentes recursos didáticos.

Encontros presenciais de mulheres gordas podem ou não culminar em ações políticas

contestatórias presenciais ou escritas, existindo iniciativas como o “Vai ter gorda na praia”, que se

trata do encontro de mulheres gordas de biquíni nas praias no período do verão (tendo acontecido

em Florianópolis, Salvador, Recife e no Rio de Janeiro) bem como rodas de conversa públicas para

informar o público em geral. Ação política, como a ocupação de mulheres gordas na praia, vem

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tendo repercussão da mídia nacional como de alguns dos principais canais televisivos brasileiros

Rede Globo, Band e Record.

O ativismo gordo no Brasil a partir do estudo de caso desse trabalho, percebe-se a partir de

influência feminista apesar de essa não ser uma característica essencial para o engajamento das

mulheres gordas. As produtoras de conteúdo para mulheres gordas possuem nível de escolaridade

alto (de no mínimo ensino superior incompleto), o que pode auxiliar na forma como se expressam e

redigem seus textos.

A autonomia na criação, tanto de conteúdo como de ativismo, se dá pelo meio da criação de

redes imprevisíveis e progressivas. A ausência de controle institucional e a espontaneidade do

ativismo gerado por meio dessas redes faz com que essa ideia remeta à desescolarização do

conhecimento e do saber, tal como sugere Illich (1985), proporcionada pela internet (mesmo que

haja conhecimento acadêmico que por vezes é utilizado por algumas ativistas). A desescolarização

do saber é mais contundente no questionamento ao discurso dominante sobre pessoa gorda e saúde

e na afirmação da identidade gorda, há um processo educativo identitário no que concerne à

redescoberta do que é ser gorda a partir de um processo autodidata. A legitimação do conhecimento

sobre gordofobia se dá pelo próprio reconhecimento das gordas sobre as temáticas, selecionando-se

assim as que possuem maior ressonância de forma espontânea, ampliando-as e as aprofundando.

A organização do ativismo gordo corresponde aos principais aspectos dos movimentos

sociais contemporâneos levantados por Castells (2013) sendo estes: indignação, horizontalidade das

redes (principalmente a partir de sua ampliação por meio da internet), são ao mesmo tempo locais e

globais, contam com grande poder das imagens para a disseminação de ideias favoráveis e

contrárias a eles, são “profundamente autorreflexivos” (CASTELLS, 2013, p. 167) e não são

necessariamente violentos por princípio.

A potencialidade de transformação social a partir das novas tecnologias, estabelecendo a

constituição de uma sociedade em rede, ampliando-se a partir das inúmeras configurações sociais

possíveis a partir das identidades sociais e culturais, constitui, um novo tipo de “organização social

num plano geral” (CASTELLS, 1999, p. 17). São vários os tipos de ativismos possíveis, desde a

contestação de regimes políticos inteiros até a ressignificação identitária, como no caso do

engendramento do ativismo das mulheres gordas, influenciando nas políticas públicas de saúde,

acessibilidade e educação.

A militância anti-gordofóbica trata-se de um processo de desescolarização do saber sobre

saúde relacionado aos corpos e de desescolarização dos próprios corpos. Apesar de não ser contra o

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saber institucionalizado, demonstra uma alternativa e a necessidade de uma outra relação entre os

saberes escolarizados e os movimentos sociais que já vem sendo estabelecida há mais tempo entre

teorias étnico-raciais acadêmicas e o movimento negro.

Referências

ALVAREZ, Sonia E. Para além da sociedade civil: reflexões sobre o campo feminista. Cadernos

Pagu, Campinas, n. 43, janeiro-junho de 2014. Pps. 13-56. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/cpa/n43/0104-8333-cpa-43-0013.pdf Acesso em 8 de janeiro de 2017.

ARRAES, Jarid. Gordofobia como questão política e feminista. 2014. Disponível em

http://revistaforum.com.br/digital/163/gordofobia-como-questao-politica-e-feminista/ Acesso em 4

de janeiro de 2017.

CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. 1.

ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

FERES JÚNIOR, João. A história do conceito de Latin America nos Estados Unidos. Bauru:

EDUSC, 2004.

GOFFMAN, Erving. Estigma: Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada. 4. ed. Rio de

Janeiro: LTC Editora, 1988.

ILLICH, Ivan. Sociedade sem escolas. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 1985.

LUPTON, Deborah. Fat. [Shortcuts Series]. 1. ed. London: Routledge, 2013.

The emergence of fat activism in Brazil

Abstract: This article seeks to summarize the main considerations that are the result of the ongoing

research of my Master's thesis in Political Sociology also under the guidance of Professor Marcia da

Silva Mazon, entitled: "Fat activism in the field: politics, identity and meaning construction" and of

the final course assignment in Social Sciences "Internet networks as an educational medium about

fatphobia" defended by me under the guidance of Professor Mazon in July 2017, including excerpts

identical to those that can be found in both works. Thus, the article is divided into two parts, in

which the first part explores what is fatphobia and the stigmatization of the fat body from content

analysis of the Ego site using the concepts of asymmetric oppositions of Feres Junior and

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stigmatization of Goffman. The second part explores the form of organization of the Brazilian fat

activism through the internet using the concepts of deschooling and educational webs by Illich and

Castells’ network. The purpose of this compilation is to disseminate and expand studies on fat

activism and fatphobia in Brazil.

Keywords: Fatphobia, Fat Movement, biopolitics, feminisms, stigma.