a eficÁcia do plano colÔmbia de combate ao...

67
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ POLIANA RODRIGUES MANFRON A EFICÁCIA DO PLANO COLÔMBIA DE COMBATE AO NARCOTRÁFICO CURITIBA 2017

Upload: duongnguyet

Post on 20-Nov-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

POLIANA RODRIGUES MANFRON

A EFICÁCIA DO PLANO COLÔMBIA DE COMBATE AO

NARCOTRÁFICO

CURITIBA

2017

POLIANA RODRIGUES MANFRON

A EFICÁCIA DO PLANO COLÔMBIA DE COMBATE AO

NARCOTRÁFICO

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Luís Roberto de Oliveira Zagonel.

CURITIBA

2017

POLIANA RODRIGUES MANFRON

A EFICÁCIA DO PLANO COLÔMBIA DE COMBATE AO

NARCOTRÁFICO

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito da Faculdade Tuiuti do

Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de graduada em Direito.

Aprovada em: ….. de …………. de 2017.

____________________________

Prof. Dr. PhD Eduardo de Oliveira Leite Universidade TUIUTI do Paraná

Curso de Direito

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Prof. Luís Roberto de Oliveira Zagonel. (Orientador – Universidade Tuiuti do Paraná)

___________________________________________________ Profº ………………………………………………

(Membro – Universidade Tuiuti do Paraná)

____________________________________________ Profº ………………………………………………..

(Membro – Universidade Tuiuti do Paraná)

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho principalmente a Deus, meu Senhor, que jamais me permitiu caminhar só, e a meu esposo Junior, que tem logrado com êxito provar que, príncipes encantados sim existem, o meu lugar favorito é dentro do seu abraço!

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador Prof. Luís Roberto Zagonel por ser referência de profissional, e jamais omitir-se de seu dom de mestre.

Aos “Paisas” Colombianos, um povo honesto que se doa sem esperar nada em troca, sempre irei honrar o apelido de "brasipaisa", aprendi com os "parces" a definição perfeita de amigo.

A minha mãe Maria Lucia por ensinar-me a dádiva da humildade.

EPÍGRAFE

"Yo creo que todavía no es demasiado tarde para construir una utopía que nos permita compartir la tierra". (Gabriel García Máquez)

RESUMO

A questão do crime organizado, notadamente quando vinculado ao narcotráfico, preocupa todo o cenário mundial, vez que, por um lado, há aqueles que produzem, sendo altamente remunerados, ao passo que, do outro, existem os consumidores, que movimentam e desenvolvem o tráfico de drogas. Assim como no Brasil, no exterior também há normatizações robustas que visam incriminar o tráfico ilícito de entorpecentes, mas que não vem se mostrando suficiente par coibir referida prática. Assim, alguns mecanismos extras legislativos devem ser implementados, com vistas a tentar minimizar este cenário trágico, como ocorreu com o Plano Colômbia, proposto pelos Estados Unidos, cujo escopo era acabar com o narcotráfico na Colômbia, já que é o país que mais produz a coca. Sendo assim, a elaboração do presente trabalho acadêmico se justifica, na medida em que se almeja verificar se o Plano Colômbia se mostrou eficaz no contexto prático, mediante uma análise em obras, artigos científicos, além da pesquisa de campo que foi realizada por esta autora. O trabalho é dividido em cinco capítulos, sendo o primeiro o que dá a introdução a este trabalho; o segundo aborda o crime organizado; o terceiro aborda a criminalização das drogas como forma de combate ao narcotráfico; o quarto apresenta o Plano Colômbia e a sua eficácia no combate ao narcotráfico; o quinto apresenta as considerações finais.

Palavras-chave: Plano Colômbia; narcotráfico; drogas.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 8

2 A QUESTÃO DO CRIME ORGANIZADO.............................................. 9

2.1 CONCEITO DE CRIME ORGANIZADO................................................. 9

2.2 BASE ESTRUTURAL DO CRIME ORGANIZADO E A SUA CORRELAÇÃO COM O NARCOTRÁFICO...........................................

11

2.3 O CRIME ORGANIZADO NO CENÁRIO BRASILEIRO........................ 13

3 A CRIMINALIZAÇÃO DAS DROGAS COMO MEIO DE COMBATER O NARCOTRÁFICO..............................................................................

15

4 O PLANO COLÔMBIA E O NARCOTRÁFICO..................................... 22

4.1 ASPECTOS GERAIS SOBRE O PLANO COLÔMBIA........................... 22

4.2 O PAPEL DA COMUNIDADE INTERNACIONAL NO TRÁFICO DE DROGAS................................................................................................

27

4.3 A EFICÁCIA DO PLANO COLÔMBIA DE COMBATE AO NARCOTRÁFICO...................................................................................

30

5 CONCLUSÃO........................................................................................ 38

REFERÊNCIAS................................................................................................... 40

ANEXOS............................................................................................................. 46

8

1 INTRODUÇÃO

A prática do crime organizado, mais precisamente do narcotráfico, é uma

questão que preocupa o âmbito internacional, vez que existem diversos países que

atuam na comercialização das substâncias entorpecentes, seja cultivando a coca, seja

comprando para o consumo próprio. Muitos países servem apenas para fazer trafegar a

cocaína.

Mundialmente, há uma vasta legislação, com penas severas, que visam coibir o

tráfico de drogas. No Brasil, foi promulgada a Lei 11.343, de 2006, com o intuito de

criminalizar de maneira mais incisiva o crime em comento. Inclusive, a Constituição

Federal erigiu o tráfico ilícito de entorpecentes à qualidade de crimes inafiançáveis, bem

como insuscetíveis de graça ou anistia. Aliado a isso, a Lei 8.072, de 1990, equiparou o

tráfico de drogas aos crimes hediondos.

Todavia, embora haja regramentos jurídicos robustos sobre o tema, não se

pode esquecer que o narcotráfico é um comércio vantajoso e altamente lucrativo, o que

instiga os indivíduos a procederem ao tráfico ilícito de entorpecentes, levando-se em

consideração os ganhos que serão obtidos por esta prática. A título de curiosidade,

citam-se os cartéis de Cali e Mellín, que faturavam de maneira conjunta em torno de

US$ 200 bilhões de dólares por ano.

Pontua-se que a questão do narcotráfico foi inserida na Colômbia em um

momento visto como oportuno, pois o país se encontrava à beira da miserabilidade,

com diversas figuras políticas corruptas no poder, que, após a instituição do

narcotráfico, passaram a proteger seus executores.

Diante de tal situação, fez-se necessária uma atuação mais incisiva, que se deu

com a instituição do Plano Colômbia, que, basicamente, tinha o condão trazer

benefícios para parcela da população que tivesse sido alvo de violência, além de

proteger os camponeses, que muitas vezes eram compelidos a cultivar plantas

consideradas ilícitas.Para a realização do referido plano, fez-se necessário um grande

investimento e, sendo assim, oportuna a elaboração do presente estudo, com vistas a

analisar a sua eficácia, seja mediante a análise de reportagens, seja pela pesquisa de

campo, efetivada por esta autora.

9

2 A QUESTÃO DO CRIME ORGANIZADO

2.1 CONCEITO DE CRIME ORGANIZADO

Inicialmente, insurge-se que a delimitação conceitual acerca do fenômeno do

crime organizado não é algo fácil a se perseguir, razão pela qual Nucci (2013)

esclarece que se faz necessário traçar um horizonte, de modo que seja possível,

através dele, identificar aspectos atrelados a delinquência que tenha sido efetivado de

maneira estruturada.

Nesse contexto, insta dizer que na concepção de Mingardi (1998, p. 82), a

organização criminosa diz respeito a um grupo de pessoas que se une com o

desiderato de promover atividades ilícitas, albergando, assim, um planejamento

adequado para a consecução de suas finalidades, como, por exemplo, a divisão de

trabalho e o lucro. Portanto, o crime organizado diz respeito a um:

Grupo de pessoas voltadas para atividades ilícitas e clandestinas que possui uma hierarquia própria e capaz de planejamento empresarial, que compreende a divisão do trabalho e o planejamento de lucros. Suas atividades se baseiam no uso da violência e da intimidação, tendo como fonte de lucros a venda de mercadorias ou serviços ilícitos, no que é protegido por setores do Estado.

Já Chiavario (2004, p. 28) pondera que as organizações criminosas podem ser

definidas como sendo aquelas:

Organizações capazes de criar uma espécie de anti-ordenamento jurídico com próprias regras, próprios tribunais e, sobretudo, próprios executores de sentenças, mas também, como já dizíamos, de insinuar-se nas fibras mais íntimas das próprias instituições estatais; em uma rede de conivência e solidariedade que se imprimem em inércias difusas quando não em trocas de apoios ativos (e suspeitos, entre os mais inflamados, chegaram também a roçar personalidades já colocadas no vértice do aparelho estatal).

Ressalta-se que o Decreto 5.015, de 2004, que veio à tona com o escopo de

promulgar a "Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado

Transnacional", também denominado como "Convenção de Palermo", trouxe em seu

arcabouço a definição sobre o grupo criminoso organizado, que, nos moldes previstos

10

no artigo 2.º, alínea a, diz respeito ao "[...] grupo estruturado de três ou mais pessoas,

existentes há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer

uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção [...]". Frise-se,

ainda, a necessidade dos agentes terem a intenção de obter vantagens, seja ela

econômica ou material.

O artigo 1.º, § 1.º, da Lei 12.850, de 2013, também contempla a definição do

crime organizado, dispondo, inclusive, acerca de seus requisitos, a saber: a associação

deve ser composta por no mínimo quatro elementos; as tarefas devem ser divididas;

obtenção de vantagem; prática de infrações penais, de cunho transnacional, ou com

pena máxima superior a quatro anos.

§ 1o Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais

pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.

Nesse diapasão, nota-se claramente que a organização criminosa será

composta por pelo menos quatro pessoas, sendo necessário, ainda, que a mesma seja

dotada de estabilidade e, diante disso, está contida em uma quadrilha ou bando.

Todavia, enfatiza-se que nem sempre a quadrilha ou o bando podem ser considerados

uma organização criminosa, de acordo com Paula (2008).

Ademais, não se deve olvidar que existe uma vasta gama de crimes que podem

estar inseridos dentro do âmbito das organizações criminosas e, sendo assim, "[...] não

se pode engessar esse conceito, restringindo-se a esta ou àquela infração penal, pois

elas, as organizações criminosas, detêm incrível poder variante", consoante pondera

Mendroni (2009, p. 18).

Portanto, pode-se afirmar, de maneira exemplificativa, que o tráfico de drogas e

a exploração de jogos de azar são crimes que facilmente estão inseridos dentro de uma

organização criminosa.

De acordo com Queiroz (1998, p. 42/43), "O crime organizado,

induvidosamente, é, na atualidade, um dos mais cruciais problemas brasileiros,

principalmente face à globalização dos meios de comunicação, do fluxo e refluxo de

11

capitais internacionais, e ao avanço da tecnologia [...]".

2.2 BASE ESTRUTURAL DO CRIME ORGANIZADO E A SUA CORRELAÇÃO

COM O NARCOTRÁFICO

Indubitavelmente, o crime organizado traz em seu âmago um esquema

articulado e esquematizado, havendo regras próprias de conduta. De acordo com John

(2014), os escopos da organização são definidos de maneira prévia, de modo que toda

a atuação dos integrantes reste voltada para essa finalidade.

Segundo Gomes e Cervini (1997, p. 95), pode-se vislumbrar facilmente a

incidência de uma organização criminosa nos casos em que subsistir o "[...]

planejamento de tipo empresarial (custos das atividades necessárias, forma de

recrutamento de pessoal, forma de pagamento de pessoal, programação do fluxo de

mercadorias, de caixa de pessoal, planejamento dos itinerários, etc.) [...]".

De acordo com Paola (2009), há manifesta estrutura corporativa nacional, na

qual o trabalho desenvolvido no âmbito da organização é dividido entre os seus

membros, conforme a localidade em que estão inseridos.

Nesse diapasão, Mendroni (2009, p. 34/35) esclarece que a estrutura do crime

organizado alberga, basicamente, quatro níveis de hierarquia, quais sejam: os chefes,

que são aqueles que detém poder aquisitivo e, normalmente, ocupam cargos públicos;

os subchefes, cuja função está atrelada à transmissão de informações e ordens,

quando ausente o chefe; os gerentes, que possuem capacidade de comando; e,

derradeiramente, os aviões, que são aqueles que executam as funções necessárias

para a consecução da finalidade:

Chefes: pessoas que ocupam cargos públicos importantes, que possuem muito dinheiro, posição social privilegiada por qualquer razão etc., o chefe situa-se na posição suprema da organização e subchefes logo abaixo e no mesmo nível; mas, adotando um 'sistema presidencialista', apenas um comandará. Os subchefes existem, basicamente, para transmitir as ordens da chefia para os gerentes e tomar decisões na sua eventual ausência. Gerentes: pessoa de confiança do chefe, com capacidade de comando, a quem aqueles delegam algum poder. Recebem as ordens da cúpula e as repassam aos 'aviões'.

12

Aviões: pessoas com algumas qualificações (por vezes especializadas) para as funções de execução a serem desempenhadas.

Consoante asseveram Masson e Marçal (2015), as funções exercidas no

âmbito do crime organizado são dotadas de divisibilidade, eis que cada um exercerá de

maneira individual cada atividade, não sendo necessário, portanto, que exerçam de

maneira conjunta os mesmos delitos que ensejou a criação da organização criminosa.

Subsiste, ainda, a divisão territorial, que, de acordo com John (2014, p. 12),

cada organização "Possui uma sede onde estará seu centro de comando, que

concentrará as tomadas de decisões. Geralmente a demarcação e o controle dessas

áreas se dá através da força e da intimidação".

No âmago transnacional, Cabette e Nahur (2014, p. 55/56) ensinam que o crime

organizado se manifesta do primeiro ao quinto escalão, senão vejamos:

Esse crime organizado transnacional tem um perfil já bem definido de sua estrutura escalonada, ou seja, manifesta-se como uma "verdadeira pirâmide do crime." Essa estrutura pode ser mais bem visualizada de baixo para cima. No quinto escalão encontra-se a sua base comunitária, de onde recruta mão de obra local para as práticas ilícitas. Nesse mesma localidade, são realizadas muitas ações sociais para aumentar seu poder de controle e influência naquele espaço territorial. No quarto escalão aparecem aqueles que conseguiram estabelecer conexões para fora daquele ambiente mais localizado, estendendo suas ramificações por outros espaços. No terceiro escalão encontram-se aqueles membros que estabelecem contratos com as organizações internacionais e, ainda, com as transnacionais envolvidas na criminalidade organizada. No segundo escalão estão governos e serviços de inteligência, não conhecidos pelo grande público. Por fim, no primeiro escalão, conhecido como "face oculta do crime", encontram-se aqueles cidadãos acima de qualquer suspeita, quais sejam, aqueles que ocupam escritórios luxuosos em centros monetários do mundo, operando no mercado de capitais e controlando vultosas operações financeiras, os quais se consideram homens de negócios bem-sucedidos.

Nesse prisma, urge mencionar que consoante expõe Gomes e Cervini (1997, p.

78), o narcotráfico, hodiernamente, não mais se coaduna com aqueles jovens que

permaneciam em locais obscuros distribuindo mercadorias, eis que, induvidosamente,

levando-se em consideração a alta lucratividade advinda de seu repasse, inúmeros

empresários passaram a comercializá-la:

O narcotráfico atual está cada vez mais diferente daqueles jovens com pulseiras de ouro, cintos largos, anéis brilhantes [...] Tornou-se um executivo,

13

um empresário moderno, que se dedica a um negócio altamente lucrativo. Estão participando ativamente da vida econômica de vários países, assim como da vida política. Marcam presença, principalmente nos processos de privatização, não só para lavar dinheiro como, sobretudo para incorporar-se na vida econômica lítica.

Nesse contexto, pode-se afirmar que as organizações criminosas estão "[...]

robustamente radicadas sobre o território mas já também com estreitas ligações e

ramificações internacionais, ligadas sobretudo aquele narcotráfico, que aqui na América

Latina se sente com uma intensidade ainda mais assustadora", segundo Chiavario

(2004, p. 28).

Diante disso, não há dúvidas de que as organizações criminosas estão

intrinsecamente ligadas à questão do narcotráfico, sendo, atualmente, um campo

organizado e equipado, manipulado por empresários que visam apenas à lucratividade,

em detrimento da paz social, consoante esclarece Silva (2013).

2.3 O CRIME ORGANIZADO NO CENÁRIO BRASILEIRO

Urge mencionar que no Direito Brasileiro, pode-se constatar que "[...] o

antecedente mais remoto da criminalidade organizada seria o movimento chamado

cangaço, atuante no sertão nordestino entre o final do século XIX e o início do século

XX", conforme José (2010, p. 16). Frise-se, assim, que os cangaceiros se organizavam

hierarquicamente, com vistas a saquear e extorquir os demais membros da sociedade.

Notadamente no século XX, ocorreu o surgimento do denominado"jogo do bicho".

Segundo Castro (2014, p. 26), dentro do contexto brasileiro, há duas

organizações criminosas preponderante, quais sejam: o Comando Vermelho e o

Primeiro Comando da Capital. O Comando Vermelho foi criado em 1979, albergando-se

pesos políticos e presos comuns. Além de terem lutado veementemente em face da

ditadura, controlam diversos pontos de drogas no Brasil. Por sua vez, o Primeiro

Comando da Capital, que atua com mais afinco em São Paulo, além das penitenciárias,

na Bolívia e no Paraguai, está intrinsecamente ligado a "[...] assaltos, sequestros, o

narcotráfico, assassinatos e rebeliões".

14

Nesse contexto, José (2010, p. 18) afirma que:

De fato, enquanto na maioria dos países as organizações criminosas surgem baseadas em identidades étnicas ou raciais, ou mesmo em afinidades criadas a partir do grupo social ao qual pertencem seus membros, no Brasil a criminalidade organizada popular tem por elemento agregador a prática anterior de delitos - haja visto que seus membros se conhecem nos estabelecimentos prisionais -, a própria condição dos indivíduos como encarcerados, e, ainda, certa identificação de nível social, haja visto de a maior parte dos presos serem oriundos da camada mais pobre da população.

Aliado a isso, cita-se como figura exemplificativa Fernandinho Beira-Mar, maior

traficante brasileiro, que, "[...] antes de ser preso movimentava aproximadamente 70

milhões de reais por mês com o tráfico internacional de drogas", de acordo com Araújo

e Fonseca (2015, p. 16/17). Indubitavelmente, o tráfico de drogas perfaz o maior

precursor do Comando Vermelho, não se olvidando que o mesmo trouxe diversos

malefícios para a população brasileira, pois aumentou o índice de violência, bem como

o número de armamento.

Hodiernamente, subsistem diversas legislações com o escopo de combater o

crime organizado dentro do cenário brasileiro, como, por exemplo, as Leis 10.271, de

2001 e 11.343, de 2006, que trata do agente infiltrado; as Leis 105, de 2001 e 9.613, de

1998, que dispõe acerca da quebra de sigilo bancário, bem como o fiscal; e, ainda, a

Lei 9.807, de 1999, que estabeleceu o instituto da delação premiada.

O capítulo a seguir aborda sobre a criminalização das drogas como meio de

combater o narcotráfico.

15

3 A CRIMINALIZAÇÃO DAS DROGAS COMO MEIO DE COMBATER O

NARCOTRÁFICO

Prefacialmente, faz-se necessário delimitar conceitualmente a questão da

droga, que, de acordo com Olmo (1990), perfaz uma nomenclatura que carece de uma

definição exata, eis que é imprecisa, posto que de maneira genérica alberga diversas

substâncias que tem o condão de alterar os aspectos psíquicos ou físicos do ser

humano.

O artigo 1.º, parágrafo único, da Lei 11.343, de 2006, também traz a

conceituação sobre a droga, dispondo ser "[...] as substâncias ou os produtos capazes

de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas

atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União".

Insta dizer que o Direito Brasileiro sempre se esforçou para combater o tráfico

de drogas, vez que desde as Ordenações Filipinas a comercialização de substâncias

entorpecentes vem sendo repudiada pelo ordenamento jurídico pátrio. Em apertada

síntese, o Livro V, Título LXXXIX, das Ordenações Filipinas, estabelecia "Que ninguém

tenha em sua casa, não o venda nem outro material venenoso".

O Código Criminal do Império, promulgado em 1830, não fez alusão quanto às

drogas. Diversamente ao referido diploma, o Código Penal de 1890 trouxe a questão da

venda de substâncias venenosas, notadamente em seu artigo 159, estabelecendo que

"Expôr à venda, ou ministrar, substancias venenosas, sem legitima autorização e sem

as formalidades prescriptas nos regulamentos sanitários: Pena – de multa de 200$ a

500$000".

O Código Penal de 1940 também fez alusão acerca do comércio ilícito de

entorpecentes, restando revogado a normatização aplicável à espécie com o advento

da Lei 6.368, de 1976.

Por conseguinte, entrou em vigor a Lei 6.368, de 1976. Em que pese o esforço

hercúleo do legislador na tipificação do tráfico de drogas, restou trazido à tona uma

penalização amena, qual seja, seis meses a dois anos, mais dias-multa, que pouco

representava as verdadeiras consequências trazidas pelo aludido crime.

16

Art. 16. Adquirir, guardar ou trazer consigo, para o uso próprio, substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - Detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de (vinte) a 50 (cinqüenta) dias-multa.

De acordo com Figueiredo, a Lei 10.409, de 2002, não trouxe aspectos

relevantes no que tange o combate ao tráfico de drogas, vez que muitos de seus

dispositivos restaram vetados pelo Presidente da República.

Na seara internacional também foram instituídos diversos diplomas com o

escopo de controlar a questão das drogas no contexto internacional.

Figueiredo (2009) pontua a Convenção Única sobre Entorpecentes (1961), que

fora aprovada em Nova York, que, basicamente, atribuiu aos Estados-membros à

incumbência de propor medidas acerca do tráfico de drogas, além do controlar a sua

comercialização. Pontua-se, ainda, a Convenção das Nações Unidas (1988), que

estabeleceu mecanismos repressivos no que tange o combate às organizações

criminosas.

É importante ressaltar que, hodiernamente, a criminalização das drogas se

encontra insculpida na Lei 11.343, de 2006, perfazendo a mesma uma normatização

penal em branco. De acordo com Nucci (2009), a mesma traz em seu arcabouço

normativo a ingerência de um órgão governamental próprio, que está atrelado ao

Ministério da Saúde, denominado como Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Nesse contexto, oportuno mencionar que a tipicidade do tráfico de drogas vem

descrita no artigo 33, da Lei 11.343, de 2006, nos seguintes termos:

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

Figueiredo (2009) afirma que no Projeto de Lei inicial a pena mínima imposta

para o tráfico de drogas era de três anos. Mas, todavia, o conteúdo legal foi aprovado

mediante a fixação da pena mínima de cinco anos, circunstância que leva a crer que o

legislador objetivou elidir a aplicabilidade de penas alternativas. Ainda, a mencionada

17

autora elenca cada uma das hipóteses previstas no artigo 33, da Lei 11.343, de 2006,

trazendo seus respectivos significados. Veja-se:

a) importar: trazer do exterior;

b) exportar: remeter para o exterior;

c) remeter: enviar para determinado local;

d) preparar: compor para o uso;

e) produzir: criar a substância;

f) fabricar: manufaturar;

g) adquirir: obter de maneira gratuita ou onerosa;

h) vender: alienar;

i) expor à venda: demonstrar;

j) oferecer: tornar disponível;

k) ter em depósito: armazenar;

l) transportar: levar para outro local;

m) trazer consigo: transportar pessoalmente;

n) guardar: tomar conta;

18

o) prescrever: indicar;

p) ministrar: aplicar;

q) entregar: fazer chegar no destinatário; e

r) fornecer: abastecer.

É importante trazer à tona a questão do sujeito ativo e do sujeito passivo. De

acordo com Capez (2015), será sujeito ativo aquele que cometer determinada conduta

que se coaduna ao regramento inserto na lei penal incriminadora, ao passo que o

sujeito passivo será aquele que sofrer as consequências dos atos emanados do agente.

Tem-se, portanto, que o sujeito ativo do tráfico de drogas é aquele descrito no

artigo 33, da Lei 11.343, de 2006, como, por exemplo, o que prepara, importa ou

produz, não se tratando, portanto, de um crime próprio, na medida em que poderá ser

praticado por qualquer pessoa. Por outro lado, o sujeito passivo será a coletividade, vez

que está exposto a um perigo proveniente de uma conduta tipificada na legislação.

De acordo com Olmo (1990, p. 22), "[...] a ilicitude ou licitude de uma substância

está condicionada à conveniência de quem detém o poder e os meios de criminalizá-la".

Aliado a isso, enaltece-se que a Lei 11.343, de 2006, trouxe à baila a

descriminalização da conduta nos casos em que o indivíduo portar a substância

entorpecente para uso próprio. Todavia, poderá ser atribuída ao consumidor

advertência, prestação de serviços à comunidade ou a determinação para que

compareça em curso educativo, conforme artigo 28.

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

19

Nesse diapasão, Figueiredo (2009, p. 36) afirma que:

De um modo geral, nota-se que a doutrina recebe com elogios o traçado normativo diferenciador, sobretudo entre "traficante" e "não traficante", e aplaude o reconhecimento legal de que o usuário não é "somente" um infrator. Porém, a forma como foi redigido o dispositivo tem trazido dificuldades para essa diferenciação na prática da Justiça Penal.

Insta citar que a pena de advertência perfaz uma censura oral, ao passo que à

prestação de serviços à comunidade, se dará de maneira gratuita, trazendo em seu

âmago determinada utilidade social, conforme Bitencourt (2009). Já a medida educativa

irá impor o comparecimento do acusado em determinado programa, com vistas a

recuperá-lo.

No que tange o objeto material, Capez (2015) afirma que o mesmo diz respeito

à pessoa, ou a coisa, no qual irá recair a ação delituosa.

Não se deve olvidar que o objeto material é a droga propriamente dita. De

acordo com o artigo 66, da Lei 11.343, de 2006, "[...] denominam-se drogas as

substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial

[...]".

De maneira diversa, tem-se o objeto jurídico, que é aquele protegido pela lei

penal incriminadora, consoante esclarece Capez (2015).

Induvidosamente, o objeto jurídico a ser tutelado está intrinsecamente ligado a

saúde pública, vez que, de acordo com Capez (2008, p. 701/702), "Quem traz consigo a

droga pode vir a oferecê-la a outrem, e é esse risco social que a lei pune".

Por sua vez, o elemento normativo do tipo está vinculado ao fato do indivíduo

portar drogas "sem autorização", ou nos casos em que, havendo autorização, a mesma

não se coadune com as determinações legislativas ou regulamentares. Sobre o tema,

Nucci (2009, p. 548) assevera que:

A expressão sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar constitui fator vinculado à ilicitude, porém inserido no tipo incriminador torna-se elemento deste e, uma vez que não seja preenchido, transforma o fato em atípico. Portanto, adquirir, guardar, ter em depósito (etc.) drogas, para consumo pessoal, devidamente autorizado, é fato atípico.

20

Veja-se que a necessidade de extirpar a comercialização das drogas dentro do

cenário nacional é tão grande, que a Carta Republicana erigiu a aludida conduta típica

no rol de crimes inafiançáveis, bem como insuscetível de graça ou anistia, conforme se

depreende da leitura do artigo 5.º, inciso XLIII:

XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Tem-se, portanto, que com o advento da Lei 11.343, de 2006, houve a

implementação de uma legislação mais severa acerca do tema. Segundo Figueiredo

(2006), a imposição de normas mais rígidas vem contribuindo sobremaneira com o

aumento da população carcerária, principalmente nos casos em que se abrangem o

tráfico de drogas, levando-se em consideração o grande comércio de substâncias

entorpecentes.

Por outro lado, conforme afirma Zaluar (1999, p. 106), "Com tanto lucro, fica

fácil corromper policiais e, como não há lei para proteger os negócios desse setor da

economia, quaisquer conflitos e disputas são resolvidos pela violência". Ainda, aduz

que o início da ação penal fica a cargo da autoridade policial, eis que os mesmos

estarão incumbidos de apresentar as provas necessárias, mas que, em muitas

ocasiões, tal não ocorre. Induvidosamente, o tráfico de drogas é um fenômeno

altamente lucrativo e, diante disso, em diversas situações, os indivíduos são

corrompidos, lucrando de maneira exorbitante para acobertar a referida prática.

Insta mencionar que na atualidade, o Brasil ocupa a posição de frente no

tocante a política de drogas da América Latina, vez que os demais países do referido

continente possuem uma normatização mais repressiva do que a brasileira, tipificando,

inclusive, a conduta daqueles que são meramente usuários de drogas, o que não

ocorre no Brasil, desde o advento da Lei 11.343, de 2006, conforme Figueiredo (2009).

Consoante expõe Figueiredo (2009, p. 38), o tráfico de drogas no Brasil

funciona de maneira diversa do que ocorre no cenário internacional, eis que aqui não se

produz as substâncias entorpecentes, sendo utilizado apenas como uma rota de

passagem dos países vizinhos. Entretanto, atualmente, subsiste um grande aumento no

21

número de usuário dentro do contexto nacional.

A indústria da droga no Brasil funciona de forma peculiar, visto que o País não é produtor de drogas, mas tradicionalmente é usado como país de trânsito, que se estabeleceu como rota de passagem da cocaína produzida em países vizinhos como o Peru, Bolívia e Colômbia, que são exportadas para os grandes mercados consumidores da América do Norte e Europa. Porém, recentemente, pesquisas demonstraram o aumento do mercado consumidor interno no Brasil, o que leva hoje a ser identificado também como grande mercado consumidor de drogas ilícitas, principalmente de maconha e cocaína.

Além do mais, importante ressaltar que de acordo com Capez (2015, p. 86), "O

tráfico internacional de drogas se distingue do contrabando porque se refere,

especificamente, a um determinado tipo de mercadoria proibida, qual seja, a substância

entorpecente".

Sendo assim, além de um regramento farto e robusto, faz-se necessário a

atuação de profissionais que apliquem o Direito ao caso concreto, afastando-se a

percepção de propina, de modo que, algum dia, o comércio de substâncias ilícitas

possa ser extirpado do cenário mundial.

O capítulo a seguir aborda sobre o Plano Colômbia e o narcotráfico.

22

4 O PLANO COLÔMBIA E O NARCOTRÁFICO

4.1 ASPECTOS GERAIS SOBRE O PLANO COLÔMBIA

É importante mencionar que a Colômbia é um país que está inserido no

noroeste da América do Sul, possuindo uma área de, aproximadamente, 1.138,910 km²

(quilômetros quadrados), com uma população estimada em 40 (quarenta) milhões de

indivíduos. Perfaz, ainda, um dos 9 (nove) países que fazem fronteira com a Região

Amazônica, conforme delimita Santos (2013).

Com o escopo de deixar mais visível o panorama da Colômbia, colaciona-se o

mapa abaixo.

FONTE: Wikipédia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Col%C3%B4mbia>. Acesso em: 12 abr. 2017.

23

Além das qualificações acima transcritas, insta mencionar que a Colômbia é

caracterizada por sua alta produção de coca. Conforme pondera Detofol e Cho (2010),

o consumo de drogas sempre se mostrou comumente, desde os primórdios da

sociedade, mas, sem dúvidas, nas últimas décadas passou a ser consumida com mais

afinco, notadamente nos Estados Unidos e na América, o que acabou ensejando o

surgimento de cartéis mafiosos, mormente na América Latina.

Segundo Borges (s.d.), em meados de 2000, a Colômbia possuía uma vasta

plantação de cocaína, que perfazia em torno de 122,5 mil hectares, o que se vislumbra,

desde logo, manifesto crescimento, na medida em que na década de 1990, havia

"apenas" 40 (quarenta) mil hectares de plantio.

De acordo com Santos (2013, p. 60), "Entre as drogas produzidas e

contrabandeadas na América Latina no final do século XX, a cocaína é, sem dúvida, a

mais lucrativa, principal responsável pelo fortalecimento e enriquecimento dos cartéis

colombianos".

Com o escopode corroborar a alta lucratividade advinda da comercialização das

drogas, importante trazer à tona o entendimento de Lopes (2009, p. 11), citando os

cartéis de Cali e Mellín, que faturavam de maneira conjunta em torno de US$ 200

(duzentos) bilhões de dólares por ano.

Quando ganharam força e fama internacional na década de 1980, os cartéis de Cali e Medellín juntos, produziam 80% da cocaína consumida nos Estados Unidos, faturavam, anualmente, US$200 bilhões e constituíam – de longe – o setor produtivo mais importante da economia colombiana. Baseado em dados de 2004 do Institute of International Economics, a lavagem de dinheiro sujo é responsável pela movimentação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) global.

É importante destacar que o narcotráfico adentrou na Colômbia em um

momento oportuno, eis que, na época, estava dotado de miserabilidade, com

integrantes políticos corruptos, que, após a inserção do tráfico na Colômbia, passaram

a proteger os narcotraficantes. Assim sendo, fez-se necessária uma atuação mais

precisa dos Estados Unidos, com o escopo de dirimir o uso e comercialização das

drogas no referido país, utilizando-se, para tanto, o intitulado Plano Colômbia, conforme

Silva (2013).

Conforme define o sítio eletrônico Histórianet (s.d., p. 1), "O chamado Plano

24

Colômbia é a intervenção dos Estados Unidos na Colômbia, com o pretexto de

combater o narcotráfico no continente [...]". Tal foi implementado em 1998, pelo

presidente, na época, Andrés Pastrana.

Assim sendo, o Plano Colômbia perfaz uma estratégia governamental que visa

a paz, trazendo mais benefícios para àqueles que se mostram menos favorecidos, além

de recuperar a confiança social nos colombianos, conforme Santos (2013, p. 75):

O Plano Colômbia é uma estratégia governamental para a paz, a prosperidade e o fortalecimento institucional. Com ele pretende-se gerar um ambicioso plano de investimentos, por meio de projetos que beneficiem de maneira rápida e eficaz os colombianos menos favorecidos. Busca, também, recuperar a confiança dos colombianos por meio do resgate das normas básicas de convivência social, da promoção da democracia, da justiça, da segurança, da integridade territorial, da geração de condições de trabalho, do respeito aos direitos humanos e da conservação da ordem pública, entre outros aspectos.

Já o Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC) (2002) pondera que o

Plano Colômbia possui 4 (quatro) finalidades diversas, quais sejam: proceder à

recuperação da economia, minimizar a comercialização das drogas, atuar no

fortalecimentos das leis vigentes e, ainda, dispor acerca de condições no que pertine o

processo de negociação.

Consoante Borges (s.d.), o Plano Colômbia possuía uma dupla finalidade, quais

sejam: beneficiar a camada da população que tenha sido vítima de violência, bem como

os camponeses, que cultivavam as plantações consideradas ilícitas, de modo a gerir a

produção de substância entorpecente.

Por sua vez, Detofol e Cho (2010), com supedâneo nas informações prestadas

na vigência do governo de Bill Clinton, esclarecem que o Plano Colômbia consiste em

uma ação diplomática, cuja finalidade é combater o narcotráfico, mediante cooperação

social e econômica atribuídas àquelas áreas rurais que se mostraram mais afetadas

pelo fenômeno, com vistas a desestruturar as Forças Armadas Revolucionárias da

Colômbia (FARC), sendo, ainda, considerado como sendo uma forma de Plano

Marshall.

Nesse sentido, Felipe (2012, p. 1) dispõe que:

No final da década de 1990, a guerrilha colombiana teve um crescimento

25

significativo e se envolveu com o narcotráfico como forma de autofinanciamento. Para alguns analistas, deter as guerrilhas sempre foi um dos objetivos de "fundo" do Plano Colômbia. Para o sociólogo Ricardo Vargas, o esforço e o dinheiro investidos no combate ao narcotráfico no país tiveram como maior objetivo enfraquecer as Farc. Vargas afirma que boa parte dos mais de US$ 7 milhões (R$ 12,8 milhões) investidos pelos EUA no plano foi utilizada para financiar a compra de equipamentos para o Exército, como aeronaves e armamentos.

Por outro lado, no que tange a participação dos Estados Unidos no Plano

Colômbia, há diversas críticas sobre a sua atuação, dispondo que a sua política estava

intrinsecamente ligada a questões bélicas e econômicas, tratando o narcotráfico como

verdadeiro terrorismo, sem se preocupar com o desiderato maior que o plano trazia,

que, na época, era a saúde pública, conforme Oliveira (2014).

Não se pode olvidar que houve um grande investimento no Plano Colômbia,

posto que "[...] era um pacote de 7,5 bilhões de dólares: 4 bilhões advindos do

orçamento colombiano e o restante de outros países e instituições internacionais, dos

quais 1,3 bilhão de dólares inicialmente concedidos pelos EUA", de acordo com Castro

(2009, p. 53).

Rodrigues (s.d.) afirma que, inicialmente, o Plano Colômbia restou instituído por

apenas 7 (sete) membros (Austrália, Reino Unido, Canadá, Sri Lanka, Índia, Nova

Zelândia e Paquistão), mas com o passar dos anos mais de 20 (vinte) nações passou a

contemplá-lo, veja-se quais são elas:

Afeganistão;

Bangladesh;

Mianmar;

Butão;

Coréia do Sul;

26

Fiji;

Filipinas;

Japão;

Índia;

Indonésia;

Irã;

Laos;

Maldivas;

Malásia;

Mongólia;

Nepal;

Nova Zelândia;

Paquistão;

Papua-Nova Guiné;

Singapura;

27

Sri Lanka; e

Paquistão.

De acordo com Castro (2009, p. 54), pode-se afirmar que o Plano Colômbia

restou dividido em três fases:

A estratégia antinarcóticos colombiana dividiu-se em três fases. Primeiro no Sul, nos departamentos de Putumayo e Caquetá - a "Guerra do Sul" -, depois no centro e sudeste, por fim, todo país. A meta era a erradicação de cultivos de coca e papoula até 2005. A erradicação em departamento do Sul foi eficaz em várias localidades, mas gerou descontentamento das sociedades locais com o Governo central, uma vez que a ação desta minava seu ancestral meio de subsistência. O crescimento do apoio à guerrilha foi reflexo desse quadro.

No âmbito nacional, por intermédio da Conferência Ministerial de Defesa das

Américas (2000), o vice-ministro dos Estados Unidos, na época, James Bodner,

salientou a necessidade de executar o intitulado Plano Colômbia, pouco importando se

haveria ou não solidariedade internacional, consoante se extrai do website Hostórianet

(s.d.).

4.2 O PAPEL DA COMUNIDADE INTERNACIONAL NO TRÁFICO DE DROGAS

Não há dúvidas de que as drogas são uma questão de cunho internacional, que

assola várias famílias cotidianamente, eis que grande parte dos indivíduos são usuários

de determinada substância entorpecente e, sendo assim, faz-se necessária uma

atuação conjunta, seja no âmbito nacional, seja no âmbito internacional, com vistas a

extirpar, ou, ao menor, minimizar a comercialização e uso das drogas.

Borda (2011) salienta que o envolvimento da comunidade internacional não

está atrelado a questão da prestação de solidariedade dos países, mas sim ao fato de

que cada um se responsabilize no combate ao narcotráfico, posto que incumbe a toda a

coletividade criar mecanismos com vistas a extirpar a produção e o comércio das

drogas dentro do cenário mundial.

28

Nesse diapasão, insta dizer que "A partir da invasão do Panamá, em dezembro

de 1989, a fim de capturar Manuel Noriega, antigo ex-aliado, o governo de Bush, dos

EUA, iniciaram a política de "tolerância zero" com as drogas, lançando o National Drug

Strategy", conforme Detofol e Cho (2010, p. 1).

Borges (s.d., p. 2) preceitua a imperiosidade do combate ao narcotráfico ser

efetivado mediante cooperação entre os Estados, eis que se trata de um crime que vem

sendo organizado no âmago do cenário internacional, albergando aqueles que

produzem, os que consomem, e os que apenas servem como meio de fazer as

substâncias entorpecentes transitarem.

O combate ao narcotráfico de forma cooperativa entre Estados é importante já que o crime é organizado internacionalmente em uma cadeia produtiva complexa. Essa cadeia é composta por países produtores, consumidores e de trânsito de drogas, os quais em conjunto são mantenedores desse setor ilegal da economia e consequentemente deveriam ser também responsáveis ao seu combate em suas distintas dimensões.

No que tange a relação Brasil-Colômbia, vale ressaltar que embora haja uma

grande fronteira que divide ambos os países, que perfaz, mais ou menos, 1.644 (mil,

seiscentos e sessenta e quatro) quilômetros, subsistem diversas passagens de

cooperação, como, por exemplo, o acordo antidrogas (1981), bem como o ajuste

complementar visando a cooperação judiciária (1991). Todavia, em que pese o esforço

dos governantes, tal não se mostrou frutífera, na medida em que a Colômbia passou a

figurar como maior produtor e, consequentemente, exportador de drogas, ao passo que,

o Brasil, conta com um número demasiadamente grande de usuários, segundo Detofol

e Cho (2010, p. 1).

As iniciativas desses governos se mostraram, no entanto, insuficientes para combater de forma efetiva o tráfico de drogas na região, onde a Colômbia surge como principal centro produtor e exportador de cocaína. O Brasil, por sua vez, com cerca de 990 mil usuários, é o maior mercado consumidor da América do Sul. Ademais, em função do maior número de apreensões nas rotas comumente usadas para transportar a droga para outros países e de mudanças na demanda de mercado, o Brasil passou também a ter papel importante no tráfico – em 2008, 10% do que foi mandado para a Europa por navio partiu de portos brasileiros

Borges (s.d., p. 18) ensina que uma das contribuições mais preciosas no

29

tocante à cooperação internacional adveio da Bolívia, posto que desde a década de

1980, "[...] compreendeu e assumiu que não podia, nem devia, abordar o tema da luta

contra o narcotráfico - fenômeno complexo cuja essência é transnacional e, portanto,

multilateral – como assunto de responsabilidade individual dos chamados países

produtores”. Assim, albergou o fenômeno da responsabilidade compartilhada entre os

países que se mostrassem coniventes com o narcotráfico, além de dispor acerca da

necessidade dos camponeses serem inseridos em outras atividades, com vistas a obter

outra fonte de trabalho, se não o cultivo de drogas.

Isso porque, conforme esclarece Richani (2003, p. 103):

Se somarmos os produtores de coca, os cultivadores de papoula e maconha e os negociantes dos insumos necessários para a transformação da coca em cocaína, o número se aproximará de um milhão de agricultores, pequenos camponeses e trabalhadores agrícolas que dependam total ou parcialmente desses cultivos ilegais.

Assim sendo, vale salientar que a questão do narcotráfico sempre se mostrou

perigoso no âmbito nacional, razão pela qual pondera a necessidade da comunidade

internacional atuar de maneira conjunta, com vistas a implementar uma reforma judicial,

bem como de segurança, mais rígida, conforme Valencia (2005).

De acordo com a Gazeta do Povo (2016, p. 1), o apoio prestado aos Estados

Unidos, no que tange o combate às drogas, mediante a implementação do Plano

Colômbia, perfez um programa considerável, mas, todavia, não serviu para extirpar,

integralmente, o tráfico ilícito de entorpecentes. Em contrapartida, o deslinde da guerra

civil está próximo, mediante a assinatura de acordo de paz entre os guerrilheiros.

Assim, a reportagem conclui que "A única coisa que não mudou foi à posição da

Colômbia como o maior país exportador de cocaína. Depois de diminuírem por vários

anos seguidos, tanto o cultivo de coca quanto a produção da droga têm aumentado

drasticamente [...]", nos últimos anos.

Um método que, quiçá, se mostre de grande valia dentro do cenário

internacional, como forma de ao menos amenizar a prática do narcotráfico é o

policiamento comunitário, que, de acordo com Melo (2009, p. 69), "Em suma, o

policiamento comunitário eleva em muitos decibéis a comunicação entre polícia, demais

30

órgãos públicos e sociedade civil, recaindo as maiores responsabilidades da interação

ao primeiro componente da tríade". Seria, portanto, uma forma de cooperação da

comunidade internacional, mediante um patrulhamento mais intensivo no que tange a

verificação da exportação e/ou importação de drogas.

4.3 A EFICÁCIA DO PLANO COLÔMBIA DE COMBATE AO NARCOTRÁFICO

Se você olhar para a guerra às drogas do ponto de vista puramente econômico, o papel do governo é de proteger o cartel das drogas. (Milton Friedman)

Levando-se em consideração o investimento vultoso empregado no Plano

Colômbia, faz-se necessário analisar se em virtude de sua implementação ocorreu a

minimização do narcotráfico, ou o mesmo se mostrou ineficaz.

Oliveira (2014) pondera que durante os anos de 2002/2006, ocorreu manifesto

retrocesso na execução do Plano Colômbia, vez que durante o presidencialismo de

Álvaro Uribe, subsistia um anseio militarista no que tange o combate ao narcotráfico, o

que acabou acarretando o rompimento de diversos direitos fundamentais, na época,

além de ter surgido uma ideia errônea de segurança pública.

Ademais, Lopes (2009, p. 13) preceitua que o afastamento da autonomia da

Colômbia no que tange o narcotráfico tornou o governo local mais frágil, vez que "[...] a

erradicação forçada dos cultivos (através de fumigações químicas) e a crescente

militarização das operações anti-narcóticos tornam-se um obstáculo claro ao processo

de paz".

Todavia, pode-se afirmar que o Plano Colômbia, embora não tenha atingido

todas as suas finalidades, atuou de maneira significativa na época, vez que por

intermédio da Política de Segurança Democrática, procedeu de maneira a debilitar os

grupos armados considerados como ilegais. Santos (2011, p. 66), explica o tema:

De um modo geral, a Política de Segurança Democrática, nos marcos do Plano Colômbia, fortaleceu o Estado colombiano, que conseguiu modificar a dinâmica do conflito a seu favor, debilitando os grupos armados ilegais (guerrilheiros e

31

paramilitares), sem, no entanto, eliminá-los e por fim ao conflito.

Pode-se extrair do website Phibonaccia (2015), que o Plano Colômbia, além de

ter desestruturado as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), houve o

crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 6.4%, aliado ao fato da taxa de

desemprego ter diminuído, caindo para 15.7%, bem como o percentual do índice de

pobreza, que sofreu declínio de 57.5% para 49.2%.

De acordo com Santos (2011, p. 76/77), tem-se que após a instituição do Plano

Colômbia, vislumbrou-se um novo contexto geográfico do narcotráfico, vez que houve

manifesta minimização do cultivo da coca, notadamente nas áreas nas quais

predominava as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Em

contrapartida, surgiram outros grupos ilegais, notadamente após a desmobilização das

Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC).

[...] após dez anos de Plano Colômbia, há uma nova geografia do narcotráfico no país, marcada pelos seguintes fatos: uma diminuição dos cultivos de coca, principalmente em áreas de antigo domínio das FARC; uma concentração dos cultivos em quatro zonas, as tradicionais do Norte, Sul e Oriente e a nova, e que mais cresceu nos últimos anos, do Pacífico (Cauca, Valle e Choco); a presença, cada vez maior, de grupos ilegais armados nessas zonas, principalmente os reorganizados após a desmobilização das AUC; e o aparecimento de duas novas redes com vocação de cartel, a do Oriente e a dos Confederados.

Conforme narrado por Santos (2011, p. 76), entre 2000/2009, ocorreu à

redução de 58% da área que era destinada ao plantio e cultivo de coca. Portanto,

levando-se em consideração que em 2000 a Colômbia possuía uma média de 163.300

hectares de plantas ilícitas, em 2009 o referido dado foi baixado para 68.000 hectares.

No que se refere ao combate às drogas, dados do Relatório Mundial dobre Drogas (2010), publicado pela Oficina das Nações Unidas contra as Drogas e o Crime (UNODC), indicam uma redução de 58% da superfície dedicada ao cultivo de coca na Colômbia no período 2000-2009. Assim, os plantios de coca teriam passado de 163.300 hectares, em 2000, para 68.000 hectares, em 2009. No ano de 2009, a erradicação manual forçada dos cultivos de coca atingiu 60.544 hectares, e a fumigação aérea alcançou 104.771 hectares. Nesse mesmo ano, a Colômbia cultivou aproximadamente 43% da produção mundial.

Ainda, Santos (2011, p. 76) preceitua que "O potencial de produção de cocaína

32

também caiu, passando de 695 toneladas métricas, em 2000, para 410 toneladas

métricas, em 2009. A apreensão de cocaína alcançou 200 toneladas métricas em

2009".

Todavia, Gombata (2000) afirma que no referido período muitas pessoas foram

mortas em virtude das forças colombianas e a sua atuação no combate ao narcotráfico,

estimando-se aproximadamente 30 (trinta) mil indivíduos, muitos deles inocentes.

Dispõe que, na época, houve uma redução de 50% (cinquenta por cento) na produção

de coca. Entretanto, em 2013 havia 48 (quarenta e oito) mil hectares de plantio,

aumentando sobremaneira em 2014, que passou a perfazer 69 (sessenta e nove) mil

hectares.

Ainda, de acordo com Felipe (2012, p. 1), embora tenha sido reduzido, na

época, o percentual atinente ao plantio, tal não serviu para extirpar de maneira efetiva o

narcotráfico, notadamente na região dos Estados Unidos:

Um dos resultados mais alardeados por americanos e colombianos é a redução de quase 50% na área plantada de coca na Colômbia. Apesar dos altos investimentos americanos, a mais vistosa ação antidrogas no continente não conseguiu interromper o tráfico de narcóticos para os Estados Unidos, onde 95% da cocaína consumida ainda tem origem no país sul-americano. A informação faz parte de um relatório do Departamento de Defesa americano sobre a estratégia internacional de combate aos narcóticos dos EUA, dois anos depois do término oficial do Plano Colômbia.

Inclusive, Fernando Henrique Cardoso questionou se o Plano Colômbia era

dotado de eficácia, vez que embora tenha recebido ajuda financeira e militar desde

2000, a Colômbia ainda continua sendo a maior produtora de coca, consoante

esclarece Sion (2010).

Nesse contexto, de acordo com o sítio eletrônico Phibonaccia (2015), houve

recusa do Departamento de Estado norte-americano a financiar a eleição de Uribe,

levando-se em consideração que o Plano Colômbia possui eficácia duvidosa.

Santos (2010),aduz que embora o Plano Colômbia seja considerado um

instrumento robusto no combate ao narcotráfico, carece a comunidade internacional de

maior envolvimento, principalmente nos aspectos financeiros e fiscalizatórios, cuja

consequência é a inviabilização deste instituto.

33

É importante enfatizar que, com vistas a coibir a guerra civil no país, o

presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, implementou diversos mecanismos,

notadamente com a questão da guerrilha, que é a maior produtora de coca da região,

que utiliza, inclusive, o deslocamento forçado, dispondo da mão de obra dos

denominados campesinos para a prática de tal ato ilícito. Assim, levando em

consideração o acordo de paz celebrado, que findou a guerra civil do país, o referido

presidente ganhou o Prêmio Nobel da Paz, em 2016, conforme se extrai do sítio

eletrônico do G1 (2016).

Ainda, Juan Manuel Santos, salientou que o acordo de paz que fora assinado

com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) enseja esperança,

notadamente para a resolução dos demais conflitos existentes no mundo, conforme

Folha de São Paulo (2016).

Nesse contexto, nota-se claramente que a eficácia do Plano Colômbia se deu

de maneira, diga-se, significativa, apenas em seus primeiros anos, nos quais se

vislumbrou uma queda no que tange o plantio da coca, embora não tenha sido

extirpada de maneira integral.

Entretanto, em que pese ter sido investido grandes montantes no referido plano,

nota-se que atualmente se mostra ineficaz, tendo em vista que os dados acerca da

produção da coca vêm crescendo nos últimos anos, de acordo com a Organização das

Nações Unidas. Conforme a Revista Exame (2016, p. 1), "[...] a produção de cloridrato

de cocaína aumentou 46% no ano passado, somando 646 toneladas em comparação

com 442 em 2014". Por sua vez, o Brasil é considerado o segundo país que mais

consome cocaína.

Saindo do contexto teórico, salienta-se que foi efetivada pesquisa de campo,

ocasião em que esta autora pôde constatar, na prática, se o Plano Colômbia se

mostrou eficaz. Para tanto, foram visitadas diversas cidades.

Inicialmente, pondera-se a cidade de Cúcuta, que faz divisa com a Venezuela.

34

FONTE: CCD. Disponível em: <http://www.cuentasclarasdigital.org/2016/03/colombia-deporto-4-venezolanos-que-fueron-detenidos-en-cucuta/>. Acesso em: 10 abr. 2017.

Neste particular, pôde-se verificar que na referida cidade o Plano Colômbia não

teve muita eficácia. Hugo Chavez concedia asilo político para todos os guerrilheiros.

É, ainda, uma região estratégica e, levando-se em consideração que o agente

que financia as forças paramilitares é o narcotráfico, é mais difícil a ingerência nesta

cidade. Há certa proximidade a Arauca, denominada como "zona roja", que perfaz um

dos ambientes mais perigosos da Colômbia.

Após, visitou-se a cidade de Popayan, considerada um centro histórico, cuja

cidade é muito bonita, patrimônio mundial da Unesco.

35

FONTE: PINTEREST. Disponível em: <https://www.pinterest.com/dituristico/popayan-colombia/>. Acesso em: 10 abr. 2017.

Todavia, pode ser dita como base que doutrina a guerrilha, razão pela qual é

fácil perceber o patrulhamento de helicópteros durante todo o dia. Os guerrilheiros não

escondem a sua identidade, expondo seus ideais e, inclusive, ministram palestras em

bairros.

Já em Bogotá, verificou-se que a mesma se mostrou tanto quanto alheia a

questão do narcotráfico, vez que subsiste medidas de segurança periódicas, mais do

que nas outras cidades, levando-se em consideração os atentados que vieram à tona

na época de Pablo Escobar.

Portanto, a segurança se tornou um hábito na aludida cidade.

FONTE: METRO CUADRADO. Disponível em: <http://www.metrocuadrado.com/decoracion/content/bogota-es-la-ciudad-menos-verde-de-colombia>. Acesso em: 10 abr. 2017.

36

Já em Medellin,situada no estado de Antioquia, considerada a cidade mais

bonita e desenvolvida na Colômbia, vencedora do Prêmio Citbank, entre outros de

suma importância, cidade esta na qual o Plano Colômbia se mostrou mais eficaz.

FONTE: El Tiempo. Disponível em: <http://www.eltiempo.com/archivo/documento/CMS-16641403>. Acesso em: 10 abr. 2017.

Contudo, há de se salientar a figura de Juan Pablo Escobar, El Padrino que

“investia” o lucro de sua atividade ilícita para reformar a cidade, construindo bairros, vez

que, conforme salientava,havia manifesta tristeza em passar de manhã pelas ruas e

olhar para as casas de papelão.

Além do mais, verificou-se que com o advento do Plano Colômbia, diversos

"campesinos" não estão mais sendo utilizados como mão de obra no narcotráfico.

Ainda, de acordo com Dias e Silva (2014, p. 1), com o escopo de dar mais

efetividade ao combate ao narcotráfico, o direito colombiano passou a implementar a

instituto da delação premiada. Sendo assim, aqueles que procederem à delação de

maneira espontânea, farão jus a diversos benefícios, como, por exemplo, a liberdade

provisória, bem como a inclusão do programa atinente à proteção à vítima e

testemunhas. Ainda, é importante enfatizar que de maneira diversa do que ocorre no

Direito Brasileiro, não se faz necessário que o delator confesse o crime.

37

O direito colombiano também contemplou a delação premiada na sua legislação, como medidas processuais voltadas para o combate ao tráfico de drogas, procedimento conhecido como direito processual de emergência. De acordo com o Código de Processo Penal colombiano, os acusados que de forma espontânea delatarem os co-partícipes e, além disso, fornecerem provas eficazes, poderão ser beneficiados com liberdade provisória; diminuição da pena; substituição de pena privativa de liberdade; ou ainda a inclusão no programa de proteção às vítimas e testemunhas. Ao contrário do que acontece no direito brasileiro, a confissão não é requisito para que o co-autor seja beneficiado pelo instituto da delação premiada, portanto, existe a possibilidade de o acusado ser premiado apenas pelo fato de denunciar seu comparsa.

Nesse diapasão, Costa (2008, p. 1) ressalta que prescindindo a delação da

confissão do agente, “[...] o Estado deverá provar a culpa deste em juízo, uma vez que,

delatando os comparsas e não confessando, não há como, no momento da delação,

incriminar o delator”.

Pereira (2014, p. 1) também dispõe a respeito do tema, mencionando que a

delação premiada, no âmbito do Direito Colombiano, deve estar pautada em elementos

probatórios eficazes:

A Colômbia regula a delação premiada nos artigos 413 a 418 de seu Código Penal. O artigo 369-A do Código de Processo Penal colombiano estabelece uma série de benefícios àquele que colaborar com a administração da justiça. Deve-se atentar para o fato de que, ao contrário da matéria regulada em outras legislações, a concessão dos benefícios não está condicionada à confissão. Mas não basta ao agente apenas delatar seu comparsa. Essa delação deve estar acompanhada de provas eficazes.

Derradeiramente, pontua-se que outra grande conquista foi a possibilidade de

implementar a extradição dos colombianos que estejam ligados ao narcotráfico. De

acordo com o Estadão (2001, p. 1), "A extradição de cidadãos colombianos foi

estabelecida por iniciativa de Pastrana em 1997, após a aprovação de uma emenda

constitucional. Mas ela apenas é aplicável a crimes cometidos depois da mudança da

Carta". Assim, mesmo que o colombiano seja nato, poderá ser extraditado.

O capítulo a seguir faz as considerações finais do presente trabalho.

38

5 CONCLUSÃO

A questão do crime organizado, atualmente, é mais comum do que se possa

imaginar, sendo constituído por um número de pessoas que se unem, visto que

possuem o mesmo desiderato, qual seja, a prática de determinado ato ilícito. Traz

consigo um sistema articulado e hierarquizado, com regramento próprio.

É comumente a instauração do crime organizado para a implementação do

narcotráfico, vez que é uma atividade altamente lucrativa e, portanto, acaba instigando

os membros da sociedade a se hierarquizarem, fomentando-se, assim, a prática de tal

delito.

No Brasil, pode-se pontuar como organização criminosa, estando ligada ao

tráfico de drogas, o Primeiro Comando da Capital, além de Fernandinho Beira-Mar, que,

antes de ser preso, conseguia movimentar, em média, setenta milhões de reais

mensais, apenas com o tráfico internacional de drogas.

Como meio de reprimir o tráfico de drogas, a Constituição Federal elencou o

mesmo como sendo inafiançável, além de insuscetível de graça ou anistia. Da mesma

forma, a Lei 11.343, de 2006, também dispõe sobre a criminalização do tráfico de

drogas. Todavia, levando-se em conta a alta lucratividade, tais normas não conseguem

coibir a prática.

Nesse passo, tendo em vista que o tráfico de drogas é um problema mundial,

oportuno dispor acerca da maior produtora de coca, qual seja: a Colômbia. De modo a

demonstrar a veracidade de tal informação, pontua-se que em 2000, a plantação de

cocaína era de 122,5 mil hectares. Já em 2004, demonstraram-se os lucros advindos

dos cartéis de Cali e Mellín, que faturaram, conjuntamente, US$ 200 bilhões por anos.

Fez-se necessário, portanto, uma ingerência na Colômbia, que surgiu mediante

iniciativa dos Estados Unidos, que visava amenizar o uso e comercialização das

drogas. Houve, portanto, manifesta intervenção dos Estados Unidos na Colômbia, cujo

instituto ocorreu um grande investimento pecuniário.

Na época em que restou implementado, pôde-se verificar uma minimização

significativa no plantio de coca, visto que entre 2000/2009 houve uma redução de 58%.

Em 2000, havia 163.300 hectares de plantas ilícitas, ao passo que em 2009, apenas

39

68.000 hectares. Entretanto, em 2015, houve um aumento de 46% na produção de

coca.

Por outro lado, insta trazer à tona a pesquisa de campo realizada por esta

autora. Na cidade de Cúcuta, que faz divisa com a Venezuela, o Plano Colômbia não se

mostrou tão eficaz, principalmente pelo fato de Hugo Chavez conceder asilo político aos

guerrilheiros. Por outro lado, pôde-se constatar que em Medellin vislumbra-se a parte

efetiva do Plano Colômbia, sendo considerada, atualmente, uma cidade desenvolvida e

bem estruturada.

Ainda, notou-se que houve manifesta melhora na vida dos campesinos, que

eram utilizados como mão de obra na produção de coca, mas, após a instituição do

Plano Colômbia, tal prática ilícita foi minimizada.

40

REFERÊNCIAS ARAÚJO, Jacques Nogueira de; FONSECA, Vicente. Crime organizado no Brasil: relatos de um policial militar. Disponível em: <http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=24&ved=0ahUKEwiS5paoptTSAhWBEpAKHe6ODKE4FBAWCCkwAw&url=http%3A%2F%2Fwww.unieuro.edu.br%2Fsitenovo%2Frevistas%2FJacques%2520Ara%25C3%25BAjo%2520e%2520Vicente%2520Fonseca%2520(5).pdf&usg=AFQjCNFOBqXCXIt3_DOHkIUcLmkg_QRaCA&sig2=50-X9dw9uVKbW0c7-AXXPg&bvm=bv.149397726,d.Y2I>. Acesso em: 13 mar. 2017. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. BORDA, Sandra. La política multilateral colombiana de drogas durante las dos administraciones Uribe: Hacia el activismo prohibicionista en una era de distensión. In: URIBE, Alejandro Gaviria; LONDOÑO, Daniel Mejía (Comp.). Políticas antidroga en Colombia: éxitos, fracasos y extravíos. Bogotá: Ediciones Uniandes, 2011. BORGES, Fábio. Geopolítica, Plano Colômbia e perspectivas brasileiras de inserção internacional. Disponível em: <http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=4&ved=0ahUKEwiB19ODw_TSAhVIEpAKHbG0DEYQFggsMAM&url=http%3A%2F%2Fwww.santiagodantassp.locaweb.com.br%2Fbr%2Farquivos%2Fnucleos%2Fartigos%2Fborges.pdf&usg=AFQjCNFhDSaOUpqOERjSqZA_u1_Qsj2juA&sig2=nDFukkgoCtRaRQOfjA2WrA>. Acesso em: 26 mar. 2017. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 20 mar. 2017. _____. Decreto nº 847, de 11 de outubro de 1890. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-847-11-outubro-1890-503086-norma-pe.html>. Acesso em: 20 mar. 2017. _____. Decreto nº 5.015, de 12 de março de 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5015.htm>. Acesso em: 13 mar. 2017. _____. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. Acesso em: 20 mar. 2017. _____. Lei nº 6.368, de 21 de outubro de 1976. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6368.htm>. Acesso em: 20 mar. 2017.

_____. Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990. Disponível em:

41

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8072.htm>. Acesso em: 20 mar. 2017.

_____. Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm>. Acesso em: 20 mar. 2017. _____. Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12850.htm>. Acesso em: 13 mar. 2017. CABETTE, Eduardo Luiz Santos; NAHUR, Marcius Tadeu Maciel. Criminalidade organizada & globalização desorganizada: curso completo de acordo com a lei 12.850/13. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2014. CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: legislação penal especial. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

_____. Curso de direito penal: parte geral. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. CASTRO, André Dunham de. A crise na Colômbia: impactos e implicações para o Brasil. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2009. CASTRO, Camila dos Santos de. A prova penal na fase do inquérito policial frente à nova lei do crime organizado (12.850/13). Rio Grande do Sul: Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, 2014. CCD. Colombia deporto 4 venezoelanos que fueron detenidos em Cúcuta. Disponível em: <http://www.cuentasclarasdigital.org/2016/03/colombia-deporto-4-venezolanos-que-fueron-detenidos-en-cucuta/>. Acesso em: 10 abr. 2017. CHIAVARIO, Mario. Direitos humanos, processo penal e criminalidade organizada. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo, n. 5, jan./mar., 2004. COSTA, Marcos Dangelo da. Delação premiada. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/monografia-tcc-tese,delacao-premiada,22109.html>. Acesso em: 16 abr. 2017. DETOFOL, Eduardo; CHO, Paulina. Narcotráfico na América do Sul: histórico e Plano Colômbia, por Eduardo Detofol e Paulina Cho. Disponível em: <https://neiarcadas.wordpress.com/2010/08/17/narcotrafico-america-do-sul/>. Acesso em: 26 mar. 2017. DIÁRIO DAS LEIS. Portal de legislação. Disponível em: <https://www.diariodasleis.com.br/legislacao/federal/209334-livro-v-ordenaues-filipinas-tutulo-lxxxix-que-ninguum-tenha-em-sua-casa-rosalgar-nuo-o-venda-nem-outro-material-venenoso.html>. Acesso em: 20 mar. 2017.

42

DIAS, Pamella Rodrigues; SILVA, Erik Rodrigues da. Origem da delação premiada e suas influências no ordenamento jurídico brasileiro. Disponível em: <https://rafael-paranagua.jusbrasil.com.br/artigos/112140126/origem-da-delacao-premiada-e-suas-influencias-no-ordenamento-juridico-brasileiro>. Acesso em: 16 abr. 2017. EL TIEMPO. Medellín recibió premio ‘Nobel’ em urbanismo. Disponível em: <http://www.eltiempo.com/archivo/documento/CMS-16641403>. Acesso em: 10 abr. 2017. ESTADÃO INTERNACIONAL. Justiça da Colômbia aprova extradição de traficante para os EUA. Disponível em: <http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,justica-da-colombia-aprova-extradicao-de-traficante-para-os-eua,20010823p26196>. Acesso em: 04 abr. 2017. EXAME.COM. Colômbia é principal produtor de cocaína do mundo, diz ONU. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/mundo/onu-confirma-colombia-como-principal-produtor-de-cocaina-do-mundo/>. Acesso em: 27 mar. 2017. FELIPE, Leandra. Plano Colômbia não interrompeu narcotráfico mas 'enfraqueceu as Farc'. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2012/04/120411_plano_colombia_lf.shtml>. Acesso em: 26 mar. 2016. FIGUEIREDO, Luciana Boiteux de. O controle penal sobre as drogas ilícitas: o impacto do proibicionismo sobre o sistema penal e a sociedade. São Paulo: Faculdade de Direito da USP, 2006. _____. Tráfico de drogas e constituição. Rio de Janeiro: Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2009. FOLHA DE S. PAULO. Presidente colombiano recebe Nobel da Paz e pede fim de conflitos. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/12/1840249-presidente-da-colombia-recebe-nobel-da-paz-e-pde-fim-de-conflitos-no-mundo.shtml>. Acesso em: 05 abr. 2017. GAZETA DO POVO. Apoio dos EUA na guerra às drogas ajudou a Colômbia, mas não conteve o tráfico. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/mundo/apoio-dos-euana-guerra-as-drogas-ajudou-a-colombia-mas-nao-conteve-o-trafico-daj8vz0ijbn9beecja769zd4z>. Acesso em: 26 mar. 2017. GOMBATA, Marsílea. Guinada à direita na AL ameaça endurecer o combate às drogas. Disponível em: <https://www.pressreader.com/brazil/valor-econ%C3%B4mico/20161207/281724089175894>. Acesso em: 27 mar. 2017. GOMES, Luiz Flávio; CERVINI, Raúl. Crime organizado: enfoques criminológicos, jurídico (Lei nº 9034/95) e político - criminal. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.

43

G1. Presidente da Colômbia recebe o Prêmio Nobel da Paz. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2016/12/presidente-da-colombia-recebe-o-premio-nobel-da-paz.html>. Acesso em: 05 abr. 2017. HISTORIANET. Plano Colômbia: mais uma do imperialismo norte-americano. Disponível em: <http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=273>. Acesso em: 26 mar. 2017. INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS. Plano Colômbia: Perspectivas do Parlamento Brasileiro. Brasília: INESC, 2002. JOHN, Lucas. O agente infiltrado à luz do direito processual penal brasileiro. Santa Catarina: Universidade Federal de Santa Catarina, 2014. JOSÉ, Maria Jamile. A infiltração policial como meio de investigação de prova nos delitos relacionados à criminalidade organizada. São Paulo: Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 2010. LOPES, J. C. S. O Plano Colômbia e a Amazônia brasileira: intervenção, militarização e defesa na segunda metade do século XX. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2009. MASSON, Cleber; MARÇAL, Vinícius. Crime organizado. São Paulo: Método, 2015. MELO, Thiago. Policiamento comunitário no Rio de Janeiro: uma estratégia de ampliação do controle social no contexto do neoliberalismo. Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense, 2009. MENDRONI, Marcelo Batlouni. Aspectos gerais e mecanismos legais. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009. METRO CUADRADO. Bogotá es la ciudad menos verde de Colombia. Disponível em: <http://www.metrocuadrado.com/decoracion/content/bogota-es-la-ciudad-menos-verde-de-colombia>. Acesso em: 10 abr. 2017. MINGARDI, Guaracy. O Estado e o crime organizado. São Paulo: IBCCrim, 1998. NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. _____. Organização criminosa: comentários à Lei 12.850, de 02 de agosto de 2013. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. OLIVEIRA, Andressa Somogy de. Do policiamento comunitário ao plano Colômbia: unidades de polícia pacificadora e a construção de um modelo controverso de segurança pública. Salvador, out., n. 3, v. 18, p. 19-38.

44

OLMO, Rosa Del. A face oculta das drogas. Rio de Janeiro: Revan, 1990. PAOLA, Heitor de. Sobre a atual estrutura do crime organizado. Disponível em: <http://www.midiasemmascara.org/artigos/terrorismo/7586--sobre-a-atual-estrutura-do-crime-organizado.html>. Acesso em: 13 mar. 2017. PAULA, Érica Maria Sturion de. Crime organizado. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/4618/Crime-organizado>. Acesso em: 13 mar. 2017. PEREIRA, Jeferson Botelho. Direito penal premial: breves apontamentos sobre delação e colaboração premiada. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/41380/direito-penal-premial-breves-apontamentos-sobre-delacao-e-colaboracao-premiada>. Acesso em: 16 abr. 2017. PHIBONACCIA. Plano Colômbia. Disponível em: <http://phibonaccia.blogspot.com.br/2015/03/plano-colombia.html>. Acesso em: 27 mar. 2017. PINTEREST. Popayan – Colombia. Disponível em: <https://www.pinterest.com/dituristico/popayan-colombia/>. Acesso em: 10 abr. 2017. PORTO, Roberto. Crime organizado e o sistema prisional. São Paulo: Atlas, 2008. RICHANI, Nazih. Sistemas de guerra. Bogotá. Colômbia: Instituto de Estudos Políticos e Relações Internacionais, 2003. RODRIGUES, Pedro Eurico. Plano Colombo. Disponível em: <http://www.infoescola.com/historia/plano-colombo/>. Acesso em: 26 mar. 2017. QUEIROZ, Carlos Alberto Marchi de. Crime organizado no Brasil: comentários à Lei nº 9.034/95: aspectos policiais e judiciários: teoria e prática. São Paulo: Iglu, 1998. SANTOS, Francielly. Plano Colômbia: a influência dos Estados Unidos da América no combate ao narcotráfico na américa latina. Rio Grande do Sul: Universidade de Santa Cruz do Sul, 2013. SANTOS, Marcelo. Passado e presente nas relações Colômbia-Estados Unidos: a estratégia de internacionalização do conflito armado colombiano e as diretrizes da política externa norte-americana. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292010000100004>. Acesso em: 26 mar. 2017. _____. O conflito colombiano e o Plano Colômbia. Roraima: Universidade Federal de Roraima, 2011. SILVA, Daniel Tavares da. Repressão ao narcotráfico, cooperação internacional e

45

crime organizado. Lusíada, n. 7/8, 2013. SION, Vitor Loureiro. FHC questiona eficácia de ações antidrogas do governo colombiano. Disponível em: <http://noticias.bol.uol.com.br/internacional/2010/03/13/fhc-questiona-eficacia-de-acoes-antidrogas-do-governo-colombiano.jhtm>. Acesso em: 27 mar. 2017. VALENCIA, León. Drogas, conflito e os EUA. A Colômbia no início do século. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142005000300010#back25>. Acesso em: 26 mar. 2017. ZALUAR, Alba. Drogas e cidadania: repressão ou redução de risco. São Paulo: Brasiliense, 1999. WIKIPÉDIA. Colômbia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Col%C3%B4mbia>. Acesso em: 12 abr. 2017.

46

ANEXOS

Presidência da República Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990.

Mensagem de veto Texto compilado

Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências.

OPRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1º São considerados hediondos os crimes de latrocínio (art. 157, § 3º, in fine), extorsão qualificada pela morte, (art. 158, § 2º), extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º), estupro (art. 213, caput e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único), atentado violento ao pudor (art. 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único), epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º), envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal, qualificado pela morte (art. 270, combinado com o art. 285), todos do Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940), e de genocídio (arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956), tentados ou consumados. Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: (Redação dada pela Lei nº 8.930, de 1994)(Vide Lei nº 7.210, de 1984) I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV e V); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994) I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV, V e VI); (Redação dada pela Lei nº 13.104, de 2015) I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, incisos I, II, III, IV, V, VI e VII); (Redação dada pela Lei nº 13.142, de 2015) I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)

47

II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994) III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994) IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994) V - estupro (art. 213 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994) V - estupro (art. 213, capute §§ 1o e 2o); (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) VI - atentado violento ao pudor (art. 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994) VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, capute §§ 1o, 2o, 3o e 4o); (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o). (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994) VII-A – (VETADO) (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de 1998) VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998). (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de 1998) VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º). (Incluído pela Lei nº 12.978, de 2014) Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956, tentado ou consumado. (Parágrafo incluído pela Lei nº 8.930, de 1994) Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: (Vide Súmula Vinculante) I - anistia, graça e indulto; II - fiança e liberdade provisória. § 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente em regime fechado. § 2º Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade. § 3º A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de trinta dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade. II - fiança. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007) § 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007) § 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007) § 3o Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007)

48

§ 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade. (Incluído pela Lei nº 11.464, de 2007) Art. 3º A União manterá estabelecimentos penais, de segurança máxima, destinados ao cumprimento de penas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanência em presídios estaduais ponha em risco a ordem ou incolumidade pública. Art. 4º (Vetado). Art. 5º Ao art. 83 do Código Penal é acrescido o seguinte inciso: "Art. 83. .............................................................. ........................................................................ V - cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza." Art. 6º Os arts. 157, § 3º; 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º; 213; 214; 223, caput e seu parágrafo único; 267, caput e 270; caput, todos do Código Penal, passam a vigorar com a seguinte redação: "Art. 157. ............................................................. § 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de cinco a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa. ........................................................................ Art. 159. ............................................................... Pena - reclusão, de oito a quinze anos. § 1º ................................................................. Pena - reclusão, de doze a vinte anos. § 2º ................................................................. Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. § 3º ................................................................. Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. ........................................................................ Art. 213. ............................................................... Pena - reclusão, de seis a dez anos. Art. 214. ............................................................... Pena - reclusão, de seis a dez anos. ........................................................................ Art. 223. ............................................................... Pena - reclusão, de oito a doze anos. Parágrafo único. ........................................................ Pena - reclusão, de doze a vinte e cinco anos. ........................................................................ Art. 267. ............................................................... Pena - reclusão, de dez a quinze anos. ........................................................................ Art. 270. ............................................................... Pena - reclusão, de dez a quinze anos. ......................................................................."

49

Art. 7º Ao art. 159 do Código Penal fica acrescido o seguinte parágrafo: "Art. 159. .............................................................. ........................................................................ § 4º Se o crime é cometido por quadrilha ou bando, o co-autor que denunciá-lo à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços." Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços. Art. 9º As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º,213, caput e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, todos do Código Penal, são acrescidas de metade, respeitado o limite superior de trinta anos de reclusão, estando a vítima em qualquer das hipóteses referidas no art. 224 também do Código Penal. Art. 10. O art. 35 da Lei nº 6.368, de 21 de outubro de 1976, passa a vigorar acrescido de parágrafo único, com a seguinte redação: "Art. 35. ................................................................ Parágrafo único. Os prazos procedimentais deste capítulo serão contados em dobro quando se tratar dos crimes previstos nos arts. 12, 13 e 14." Art. 11. (Vetado). Art. 12. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 13. Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, 25 de julho de 1990; 169º da Independência e 102º da República. ERNANDO COLLOR Bernardo Cabral Este texto não substitui o publicado no DOU de 26.7.1990

50

Presidência da República Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006.

Mensagem de veto Regulamento

Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

TÍTULO I DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1o Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes. Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União. Art. 2o Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente ritualístico-religioso. Parágrafo único. Pode a União autorizar o plantio, a cultura e a colheita dos vegetais referidos no caput deste artigo, exclusivamente para fins medicinais ou científicos, em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização, respeitadas as ressalvas supramencionadas.

TÍTULO II DO SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS

Art. 3o O Sisnad tem a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades relacionadas com:

51

I - a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de drogas; II - a repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas.

CAPÍTULO I DOS PRINCÍPIOS E DOS OBJETIVOS

DO SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS Art. 4o São princípios do Sisnad: I - o respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana, especialmente quanto à sua autonomia e à sua liberdade; II - o respeito à diversidade e às especificidades populacionais existentes; III - a promoção dos valores éticos, culturais e de cidadania do povo brasileiro, reconhecendo-os como fatores de proteção para o uso indevido de drogas e outros comportamentos correlacionados; IV - a promoção de consensos nacionais, de ampla participação social, para o estabelecimento dos fundamentos e estratégias do Sisnad; V - a promoção da responsabilidade compartilhada entre Estado e Sociedade, reconhecendo a importância da participação social nas atividades do Sisnad; VI - o reconhecimento da intersetorialidade dos fatores correlacionados com o uso indevido de drogas, com a sua produção não autorizada e o seu tráfico ilícito; VII - a integração das estratégias nacionais e internacionais de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito; VIII - a articulação com os órgãos do Ministério Público e dos Poderes Legislativo e Judiciário visando à cooperação mútua nas atividades do Sisnad; IX - a adoção de abordagem multidisciplinar que reconheça a interdependência e a natureza complementar das atividades de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas, repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas; X - a observância do equilíbrio entre as atividades de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito, visando a garantir a estabilidade e o bem-estar social; XI - a observância às orientações e normas emanadas do Conselho Nacional Antidrogas - Conad. Art. 5o O Sisnad tem os seguintes objetivos: I - contribuir para a inclusão social do cidadão, visando a torná-lo menos vulnerável a assumir comportamentos de risco para o uso indevido de drogas, seu tráfico ilícito e outros comportamentos correlacionados; II - promover a construção e a socialização do conhecimento sobre drogas no país; III - promover a integração entre as políticas de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao tráfico ilícito e as políticas públicas setoriais dos órgãos do Poder Executivo da União, Distrito Federal, Estados e Municípios; IV - assegurar as condições para a coordenação, a integração e a articulação das atividades de que trata o art. 3o desta Lei.

52

CAPÍTULO II DA COMPOSIÇÃO E DA ORGANIZAÇÃO

DO SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS Art. 6o (VETADO) Art. 7o A organização do Sisnad assegura a orientação central e a execução descentralizada das atividades realizadas em seu âmbito, nas esferas federal, distrital, estadual e municipal e se constitui matéria definida no regulamento desta Lei. Art. 8o (VETADO) CAPÍTULO III (VETADO) Art. 9o (VETADO) Art. 10. (VETADO) Art. 11. (VETADO) Art. 12. (VETADO) Art. 13. (VETADO) Art. 14. (VETADO)

CAPÍTULO IV DA COLETA, ANÁLISE E DISSEMINAÇÃO DE INFORMAÇÕES

SOBRE DROGAS Art. 15. (VETADO) Art. 16. As instituições com atuação nas áreas da atenção à saúde e da assistência social que atendam usuários ou dependentes de drogas devem comunicar ao órgão competente do respectivo sistema municipal de saúde os casos atendidos e os óbitos ocorridos, preservando a identidade das pessoas, conforme orientações emanadas da União. Art. 17. Os dados estatísticos nacionais de repressão ao tráfico ilícito de drogas integrarão sistema de informações do Poder Executivo.

TÍTULO III DAS ATIVIDADES DE PREVENÇÃO DO USO INDEVIDO, ATENÇÃO E REINSERÇÃO SOCIAL DE USUÁRIOS E DEPENDENTES DE DROGAS

CAPÍTULO I DA PREVENÇÃO

Art. 18. Constituem atividades de prevenção do uso indevido de drogas, para efeito desta Lei, aquelas direcionadas para a redução dos fatores de vulnerabilidade e risco e para a promoção e o fortalecimento dos fatores de proteção. Art. 19. As atividades de prevenção do uso indevido de drogas devem observar os seguintes princípios e diretrizes: I - o reconhecimento do uso indevido de drogas como fator de interferência na qualidade de vida do indivíduo e na sua relação com a comunidade à qual pertence; II - a adoção de conceitos objetivos e de fundamentação científica como forma de orientar as ações dos serviços públicos comunitários e privados e de evitar preconceitos e estigmatização das pessoas e dos serviços que as atendam;

53

III - o fortalecimento da autonomia e da responsabilidade individual em relação ao uso indevido de drogas; IV - o compartilhamento de responsabilidades e a colaboração mútua com as instituições do setor privado e com os diversos segmentos sociais, incluindo usuários e dependentes de drogas e respectivos familiares, por meio do estabelecimento de parcerias; V - a adoção de estratégias preventivas diferenciadas e adequadas às especificidades socioculturais das diversas populações, bem como das diferentes drogas utilizadas; VI - o reconhecimento do “não-uso”, do “retardamento do uso” e da redução de riscos como resultados desejáveis das atividades de natureza preventiva, quando da definição dos objetivos a serem alcançados; VII - o tratamento especial dirigido às parcelas mais vulneráveis da população, levando em consideração as suas necessidades específicas; VIII - a articulação entre os serviços e organizações que atuam em atividades de prevenção do uso indevido de drogas e a rede de atenção a usuários e dependentes de drogas e respectivos familiares; IX - o investimento em alternativas esportivas, culturais, artísticas, profissionais, entre outras, como forma de inclusão social e de melhoria da qualidade de vida; X - o estabelecimento de políticas de formação continuada na área da prevenção do uso indevido de drogas para profissionais de educação nos 3 (três) níveis de ensino; XI - a implantação de projetos pedagógicos de prevenção do uso indevido de drogas, nas instituições de ensino público e privado, alinhados às Diretrizes Curriculares Nacionais e aos conhecimentos relacionados a drogas; XII - a observância das orientações e normas emanadas do Conad; XIII - o alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle social de políticas setoriais específicas. Parágrafo único. As atividades de prevenção do uso indevido de drogas dirigidas à criança e ao adolescente deverão estar em consonância com as diretrizes emanadas pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - Conanda.

CAPÍTULO II DAS ATIVIDADES DE ATENÇÃO E DE REINSERÇÃO SOCIAL

DE USUÁRIOS OU DEPENDENTES DE DROGAS Art. 20. Constituem atividades de atenção ao usuário e dependente de drogas e respectivos familiares, para efeito desta Lei, aquelas que visem à melhoria da qualidade de vida e à redução dos riscos e dos danos associados ao uso de drogas. Art. 21. Constituem atividades de reinserção social do usuário ou do dependente de drogas e respectivos familiares, para efeito desta Lei, aquelas direcionadas para sua integração ou reintegração em redes sociais. Art. 22. As atividades de atenção e as de reinserção social do usuário e do dependente de drogas e respectivos familiares devem observar os seguintes princípios e diretrizes: I - respeito ao usuário e ao dependente de drogas, independentemente de quaisquer condições, observados os direitos fundamentais da pessoa humana, os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde e da Política Nacional de Assistência Social;

54

II - a adoção de estratégias diferenciadas de atenção e reinserção social do usuário e do dependente de drogas e respectivos familiares que considerem as suas peculiaridades socioculturais; III - definição de projeto terapêutico individualizado, orientado para a inclusão social e para a redução de riscos e de danos sociais e à saúde; IV - atenção ao usuário ou dependente de drogas e aos respectivos familiares, sempre que possível, de forma multidisciplinar e por equipes multiprofissionais; V - observância das orientações e normas emanadas do Conad; VI - o alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle social de políticas setoriais específicas. Art. 23. As redes dos serviços de saúde da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios desenvolverão programas de atenção ao usuário e ao dependente de drogas, respeitadas as diretrizes do Ministério da Saúde e os princípios explicitados no art. 22 desta Lei, obrigatória a previsão orçamentária adequada. Art. 24. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão conceder benefícios às instituições privadas que desenvolverem programas de reinserção no mercado de trabalho, do usuário e do dependente de drogas encaminhados por órgão oficial. Art. 25. As instituições da sociedade civil, sem fins lucrativos, com atuação nas áreas da atenção à saúde e da assistência social, que atendam usuários ou dependentes de drogas poderão receber recursos do Funad, condicionados à sua disponibilidade orçamentária e financeira. Art. 26. O usuário e o dependente de drogas que, em razão da prática de infração penal, estiverem cumprindo pena privativa de liberdade ou submetidos a medida de segurança, têm garantidos os serviços de atenção à sua saúde, definidos pelo respectivo sistema penitenciário.

CAPÍTULO III DOS CRIMES E DAS PENAS

Art. 27. As penas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo, ouvidos o Ministério Público e o defensor. Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. § 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica. § 2o Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente.

55

§ 3o As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses. § 4o Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses. § 5o A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas comunitários, entidades educacionais ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de drogas. § 6o Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a: I - admoestação verbal; II - multa. § 7o O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do infrator, gratuitamente, estabelecimento de saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamento especializado. Art. 29. Na imposição da medida educativa a que se refere o inciso II do § 6o do art. 28, o juiz, atendendo à reprovabilidade da conduta, fixará o número de dias-multa, em quantidade nunca inferior a 40 (quarenta) nem superior a 100 (cem), atribuindo depois a cada um, segundo a capacidade econômica do agente, o valor de um trinta avos até 3 (três) vezes o valor do maior salário mínimo. Parágrafo único. Os valores decorrentes da imposição da multa a que se refere o § 6o do art. 28 serão creditados à conta do Fundo Nacional Antidrogas. Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das penas, observado, no tocante à interrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal.

TÍTULO IV DA REPRESSÃO À PRODUÇÃO NÃO AUTORIZADA

E AO TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 31. É indispensável a licença prévia da autoridade competente para produzir, extrair, fabricar, transformar, preparar, possuir, manter em depósito, importar, exportar, reexportar, remeter, transportar, expor, oferecer, vender, comprar, trocar, ceder ou adquirir, para qualquer fim, drogas ou matéria-prima destinada à sua preparação, observadas as demais exigências legais. Art. 32. As plantações ilícitas serão imediatamente destruídas pelas autoridades de polícia judiciária, que recolherão quantidade suficiente para exame pericial, de tudo lavrando auto de levantamento das condições encontradas, com a delimitação do local, asseguradas as medidas necessárias para a preservação da prova. § 1o A destruição de drogas far-se-á por incineração, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, guardando-se as amostras necessárias à preservação da prova. § 2o A incineração prevista no § 1o deste artigo será precedida de autorização judicial, ouvido o Ministério Público, e executada pela autoridade de polícia judiciária competente, na presença de representante do Ministério Público e da autoridade

56

sanitária competente, mediante auto circunstanciado e após a perícia realizada no local da incineração. Art. 32. As plantações ilícitas serão imediatamente destruídas pelo delegado de polícia na forma do art. 50-A, que recolherá quantidade suficiente para exame pericial, de tudo lavrando auto de levantamento das condições encontradas, com a delimitação do local, asseguradas as medidas necessárias para a preservação da prova. (Redação dada pela Lei nº 12.961, de 2014) § 1o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.961, de 2014) § 2o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.961, de 2014) § 3o Em caso de ser utilizada a queimada para destruir a plantação, observar-se-á, além das cautelas necessárias à proteção ao meio ambiente, o disposto no Decreto no 2.661, de 8 de julho de 1998, no que couber, dispensada a autorização prévia do órgão próprio do Sistema Nacional do Meio Ambiente - Sisnama. § 4o As glebas cultivadas com plantações ilícitas serão expropriadas, conforme o disposto no art. 243 da Constituição Federal, de acordo com a legislação em vigor.

CAPÍTULO II DOS CRIMES

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. § 1o Nas mesmas penas incorre quem: I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas; III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. § 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: (Vide ADI nº 4.274) Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa. § 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28. § 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de

57

direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. (Vide Resolução nº 5, de 2012) Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa. Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei. Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa. Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa. Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) dias-multa. Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da categoria profissional a que pertença o agente. Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão do veículo, cassação da habilitação respectiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade aplicada, e pagamento de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) dias-multa. Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas cumulativamente com as demais, serão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias-multa, se o veículo referido no caput deste artigo for de transporte coletivo de passageiros. Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito;

58

II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância; III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos; IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva; V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal; VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação; VII - o agente financiar ou custear a prática do crime. Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços. Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente. Art. 43. Na fixação da multa a que se referem os arts. 33 a 39 desta Lei, o juiz, atendendo ao que dispõe o art. 42 desta Lei, determinará o número de dias-multa, atribuindo a cada um, segundo as condições econômicas dos acusados, valor não inferior a um trinta avos nem superior a 5 (cinco) vezes o maior salário-mínimo. Parágrafo único. As multas, que em caso de concurso de crimes serão impostas sempre cumulativamente, podem ser aumentadas até o décuplo se, em virtude da situação econômica do acusado, considerá-las o juiz ineficazes, ainda que aplicadas no máximo. Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos. Parágrafo único. Nos crimes previstos no caput deste artigo, dar-se-á o livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente específico. Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este apresentava, à época do fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico adequado.

59

Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se, por força das circunstâncias previstas no art. 45 desta Lei, o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Art. 47. Na sentença condenatória, o juiz, com base em avaliação que ateste a necessidade de encaminhamento do agente para tratamento, realizada por profissional de saúde com competência específica na forma da lei, determinará que a tal se proceda, observado o disposto no art. 26 desta Lei.

CAPÍTULO III DO PROCEDIMENTO PENAL

Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste Título rege-se pelo disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal. § 1o O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei, salvo se houver concurso com os crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e julgado na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais. § 2o Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames e perícias necessários. § 3o Se ausente a autoridade judicial, as providências previstas no § 2o deste artigo serão tomadas de imediato pela autoridade policial, no local em que se encontrar, vedada a detenção do agente. § 4o Concluídos os procedimentos de que trata o § 2o deste artigo, o agente será submetido a exame de corpo de delito, se o requerer ou se a autoridade de polícia judiciária entender conveniente, e em seguida liberado. § 5o Para os fins do disposto no art. 76 da Lei no 9.099, de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena prevista no art. 28 desta Lei, a ser especificada na proposta. Art. 49. Tratando-se de condutas tipificadas nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o juiz, sempre que as circunstâncias o recomendem, empregará os instrumentos protetivos de colaboradores e testemunhas previstos na Lei no 9.807, de 13 de julho de 1999.

Seção I Da Investigação

Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária fará, imediatamente, comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual será dada vista ao órgão do Ministério Público, em 24 (vinte e quatro) horas. § 1o Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea.

60

§ 2o O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1o deste artigo não ficará impedido de participar da elaboração do laudo definitivo. § 3o Recebida cópia do auto de prisão em flagrante, o juiz, no prazo de 10 (dez) dias, certificará a regularidade formal do laudo de constatação e determinará a destruição das drogas apreendidas, guardando-se amostra necessária à realização do laudo definitivo. (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014) § 4o A destruição das drogas será executada pelo delegado de polícia competente no prazo de 15 (quinze) dias na presença do Ministério Público e da autoridade sanitária. (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014) § 5o O local será vistoriado antes e depois de efetivada a destruição das drogas referida no § 3o, sendo lavrado auto circunstanciado pelo delegado de polícia, certificando-se neste a destruição total delas. (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014) Art. 50-A. A destruição de drogas apreendidas sem a ocorrência de prisão em flagrante será feita por incineração, no prazo máximo de 30 (trinta) dias contado da data da apreensão, guardando-se amostra necessária à realização do laudo definitivo, aplicando-se, no que couber, o procedimento dos §§ 3o a 5o do art. 50. (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014) Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto. Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária. Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de polícia judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo: I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente; ou II - requererá sua devolução para a realização de diligências necessárias. Parágrafo único. A remessa dos autos far-se-á sem prejuízo de diligências complementares: I - necessárias ou úteis à plena elucidação do fato, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamento; II - necessárias ou úteis à indicação dos bens, direitos e valores de que seja titular o agente, ou que figurem em seu nome, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamento. Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios: I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes; II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível.

61

Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será concedida desde que sejam conhecidos o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou de colaboradores.

Seção II Da Instrução Criminal

Art. 54. Recebidos em juízo os autos do inquérito policial, de Comissão Parlamentar de Inquérito ou peças de informação, dar-se-á vista ao Ministério Público para, no prazo de 10 (dez) dias, adotar uma das seguintes providências: I - requerer o arquivamento; II - requisitar as diligências que entender necessárias; III - oferecer denúncia, arrolar até 5 (cinco) testemunhas e requerer as demais provas que entender pertinentes. Art. 55. Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a notificação do acusado para oferecer defesa prévia, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. § 1o Na resposta, consistente em defesa preliminar e exceções, o acusado poderá argüir preliminares e invocar todas as razões de defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas que pretende produzir e, até o número de 5 (cinco), arrolar testemunhas. § 2o As exceções serão processadas em apartado, nos termos dos arts. 95 a 113 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal. § 3o Se a resposta não for apresentada no prazo, o juiz nomeará defensor para oferecê-la em 10 (dez) dias, concedendo-lhe vista dos autos no ato de nomeação. § 4o Apresentada a defesa, o juiz decidirá em 5 (cinco) dias. § 5o Se entender imprescindível, o juiz, no prazo máximo de 10 (dez) dias, determinará a apresentação do preso, realização de diligências, exames e perícias. Art. 56. Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, ordenará a citação pessoal do acusado, a intimação do Ministério Público, do assistente, se for o caso, e requisitará os laudos periciais. § 1o Tratando-se de condutas tipificadas como infração do disposto nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o juiz, ao receber a denúncia, poderá decretar o afastamento cautelar do denunciado de suas atividades, se for funcionário público, comunicando ao órgão respectivo. § 2o A audiência a que se refere o caput deste artigo será realizada dentro dos 30 (trinta) dias seguintes ao recebimento da denúncia, salvo se determinada a realização de avaliação para atestar dependência de drogas, quando se realizará em 90 (noventa) dias. Art. 57. Na audiência de instrução e julgamento, após o interrogatório do acusado e a inquirição das testemunhas, será dada a palavra, sucessivamente, ao representante do Ministério Público e ao defensor do acusado, para sustentação oral, pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a critério do juiz. Parágrafo único. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se restou algum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas correspondentes se o entender pertinente e relevante. Art. 58. Encerrados os debates, proferirá o juiz sentença de imediato, ou o fará em 10 (dez) dias, ordenando que os autos para isso lhe sejam conclusos.

62

§ 1o Ao proferir sentença, o juiz, não tendo havido controvérsia, no curso do processo, sobre a natureza ou quantidade da substância ou do produto, ou sobre a regularidade do respectivo laudo, determinará que se proceda na forma do art. 32, § 1o, desta Lei, preservando-se, para eventual contraprova, a fração que fixar. (Revogado pela Lei nº 12.961, de 2014) § 2o Igual procedimento poderá adotar o juiz, em decisão motivada e, ouvido o Ministério Público, quando a quantidade ou valor da substância ou do produto o indicar, precedendo a medida a elaboração e juntada aos autos do laudo toxicológico. (Revogado pela Lei nº 12.961, de 2014) Art. 59. Nos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o réu não poderá apelar sem recolher-se à prisão, salvo se for primário e de bons antecedentes, assim reconhecido na sentença condenatória.

CAPÍTULO IV DA APREENSÃO, ARRECADAÇÃO E DESTINAÇÃO DE BENS DO ACUSADO

Art. 60. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade de polícia judiciária, ouvido o Ministério Público, havendo indícios suficientes, poderá decretar, no curso do inquérito ou da ação penal, a apreensão e outras medidas assecuratórias relacionadas aos bens móveis e imóveis ou valores consistentes em produtos dos crimes previstos nesta Lei, ou que constituam proveito auferido com sua prática, procedendo-se na forma dos arts. 125 a 144 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal. § 1o Decretadas quaisquer das medidas previstas neste artigo, o juiz facultará ao acusado que, no prazo de 5 (cinco) dias, apresente ou requeira a produção de provas acerca da origem lícita do produto, bem ou valor objeto da decisão. § 2o Provada a origem lícita do produto, bem ou valor, o juiz decidirá pela sua liberação. § 3o Nenhum pedido de restituição será conhecido sem o comparecimento pessoal do acusado, podendo o juiz determinar a prática de atos necessários à conservação de bens, direitos ou valores. § 4o A ordem de apreensão ou seqüestro de bens, direitos ou valores poderá ser suspensa pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando a sua execução imediata possa comprometer as investigações. Art. 61. Não havendo prejuízo para a produção da prova dos fatos e comprovado o interesse público ou social, ressalvado o disposto no art. 62 desta Lei, mediante autorização do juízo competente, ouvido o Ministério Público e cientificada a Senad, os bens apreendidos poderão ser utilizados pelos órgãos ou pelas entidades que atuam na prevenção do uso indevido, na atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e na repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, exclusivamente no interesse dessas atividades. Parágrafo único. Recaindo a autorização sobre veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou ao equivalente órgão de registro e controle a expedição de certificado provisório de registro e licenciamento, em favor da instituição à qual tenha deferido o uso, ficando esta livre do pagamento de multas, encargos e tributos anteriores, até o trânsito em julgado da decisão que decretar o seu perdimento em favor da União.

63

Art. 62. Os veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios de transporte, os maquinários, utensílios, instrumentos e objetos de qualquer natureza, utilizados para a prática dos crimes definidos nesta Lei, após a sua regular apreensão, ficarão sob custódia da autoridade de polícia judiciária, excetuadas as armas, que serão recolhidas na forma de legislação específica. § 1o Comprovado o interesse público na utilização de qualquer dos bens mencionados neste artigo, a autoridade de polícia judiciária poderá deles fazer uso, sob sua responsabilidade e com o objetivo de sua conservação, mediante autorização judicial, ouvido o Ministério Público. § 2o Feita a apreensão a que se refere o caput deste artigo, e tendo recaído sobre dinheiro ou cheques emitidos como ordem de pagamento, a autoridade de polícia judiciária que presidir o inquérito deverá, de imediato, requerer ao juízo competente a intimação do Ministério Público. § 3o Intimado, o Ministério Público deverá requerer ao juízo, em caráter cautelar, a conversão do numerário apreendido em moeda nacional, se for o caso, a compensação dos cheques emitidos após a instrução do inquérito, com cópias autênticas dos respectivos títulos, e o depósito das correspondentes quantias em conta judicial, juntando-se aos autos o recibo. § 4o Após a instauração da competente ação penal, o Ministério Público, mediante petição autônoma, requererá ao juízo competente que, em caráter cautelar, proceda à alienação dos bens apreendidos, excetuados aqueles que a União, por intermédio da Senad, indicar para serem colocados sob uso e custódia da autoridade de polícia judiciária, de órgãos de inteligência ou militares, envolvidos nas ações de prevenção ao uso indevido de drogas e operações de repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, exclusivamente no interesse dessas atividades. § 5o Excluídos os bens que se houver indicado para os fins previstos no § 4o deste artigo, o requerimento de alienação deverá conter a relação de todos os demais bens apreendidos, com a descrição e a especificação de cada um deles, e informações sobre quem os tem sob custódia e o local onde se encontram. § 6o Requerida a alienação dos bens, a respectiva petição será autuada em apartado, cujos autos terão tramitação autônoma em relação aos da ação penal principal. § 7o Autuado o requerimento de alienação, os autos serão conclusos ao juiz, que, verificada a presença de nexo de instrumentalidade entre o delito e os objetos utilizados para a sua prática e risco de perda de valor econômico pelo decurso do tempo, determinará a avaliação dos bens relacionados, cientificará a Senad e intimará a União, o Ministério Público e o interessado, este, se for o caso, por edital com prazo de 5 (cinco) dias. § 8o Feita a avaliação e dirimidas eventuais divergências sobre o respectivo laudo, o juiz, por sentença, homologará o valor atribuído aos bens e determinará sejam alienados em leilão. § 9o Realizado o leilão, permanecerá depositada em conta judicial a quantia apurada, até o final da ação penal respectiva, quando será transferida ao Funad, juntamente com os valores de que trata o § 3o deste artigo. § 10. Terão apenas efeito devolutivo os recursos interpostos contra as decisões proferidas no curso do procedimento previsto neste artigo. § 11. Quanto aos bens indicados na forma do § 4o deste artigo, recaindo a autorização sobre veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou

64

ao equivalente órgão de registro e controle a expedição de certificado provisório de registro e licenciamento, em favor da autoridade de polícia judiciária ou órgão aos quais tenha deferido o uso, ficando estes livres do pagamento de multas, encargos e tributos anteriores, até o trânsito em julgado da decisão que decretar o seu perdimento em favor da União. Art. 63. Ao proferir a sentença de mérito, o juiz decidirá sobre o perdimento do produto, bem ou valor apreendido, seqüestrado ou declarado indisponível. § 1o Os valores apreendidos em decorrência dos crimes tipificados nesta Lei e que não forem objeto de tutela cautelar, após decretado o seu perdimento em favor da União, serão revertidos diretamente ao Funad. § 2o Compete à Senad a alienação dos bens apreendidos e não leiloados em caráter cautelar, cujo perdimento já tenha sido decretado em favor da União. § 3o A Senad poderá firmar convênios de cooperação, a fim de dar imediato cumprimento ao estabelecido no § 2o deste artigo. § 4o Transitada em julgado a sentença condenatória, o juiz do processo, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, remeterá à Senad relação dos bens, direitos e valores declarados perdidos em favor da União, indicando, quanto aos bens, o local em que se encontram e a entidade ou o órgão em cujo poder estejam, para os fins de sua destinação nos termos da legislação vigente. Art. 64. A União, por intermédio da Senad, poderá firmar convênio com os Estados, com o Distrito Federal e com organismos orientados para a prevenção do uso indevido de drogas, a atenção e a reinserção social de usuários ou dependentes e a atuação na repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, com vistas na liberação de equipamentos e de recursos por ela arrecadados, para a implantação e execução de programas relacionados à questão das drogas.

TÍTULO V DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

Art. 65. De conformidade com os princípios da não-intervenção em assuntos internos, da igualdade jurídica e do respeito à integridade territorial dos Estados e às leis e aos regulamentos nacionais em vigor, e observado o espírito das Convenções das Nações Unidas e outros instrumentos jurídicos internacionais relacionados à questão das drogas, de que o Brasil é parte, o governo brasileiro prestará, quando solicitado, cooperação a outros países e organismos internacionais e, quando necessário, deles solicitará a colaboração, nas áreas de: I - intercâmbio de informações sobre legislações, experiências, projetos e programas voltados para atividades de prevenção do uso indevido, de atenção e de reinserção social de usuários e dependentes de drogas; II - intercâmbio de inteligência policial sobre produção e tráfico de drogas e delitos conexos, em especial o tráfico de armas, a lavagem de dinheiro e o desvio de precursores químicos; III - intercâmbio de informações policiais e judiciais sobre produtores e traficantes de drogas e seus precursores químicos.

TÍTULO VI DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

65

Art. 66. Para fins do disposto no parágrafo único do art. 1o desta Lei, até que seja atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS no 344, de 12 de maio de 1998. Art. 67. A liberação dos recursos previstos na Lei no 7.560, de 19 de dezembro de 1986, em favor de Estados e do Distrito Federal, dependerá de sua adesão e respeito às diretrizes básicas contidas nos convênios firmados e do fornecimento de dados necessários à atualização do sistema previsto no art. 17 desta Lei, pelas respectivas polícias judiciárias. Art. 68. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão criar estímulos fiscais e outros, destinados às pessoas físicas e jurídicas que colaborem na prevenção do uso indevido de drogas, atenção e reinserção social de usuários e dependentes e na repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas. Art. 69. No caso de falência ou liquidação extrajudicial de empresas ou estabelecimentos hospitalares, de pesquisa, de ensino, ou congêneres, assim como nos serviços de saúde que produzirem, venderem, adquirirem, consumirem, prescreverem ou fornecerem drogas ou de qualquer outro em que existam essas substâncias ou produtos, incumbe ao juízo perante o qual tramite o feito: I - determinar, imediatamente à ciência da falência ou liquidação, sejam lacradas suas instalações; II - ordenar à autoridade sanitária competente a urgente adoção das medidas necessárias ao recebimento e guarda, em depósito, das drogas arrecadadas; III - dar ciência ao órgão do Ministério Público, para acompanhar o feito. § 1o Da licitação para alienação de substâncias ou produtos não proscritos referidos no inciso II do caput deste artigo, só podem participar pessoas jurídicas regularmente habilitadas na área de saúde ou de pesquisa científica que comprovem a destinação lícita a ser dada ao produto a ser arrematado. § 2o Ressalvada a hipótese de que trata o § 3o deste artigo, o produto não arrematado será, ato contínuo à hasta pública, destruído pela autoridade sanitária, na presença dos Conselhos Estaduais sobre Drogas e do Ministério Público. § 3o Figurando entre o praceado e não arrematadas especialidades farmacêuticas em condições de emprego terapêutico, ficarão elas depositadas sob a guarda do Ministério da Saúde, que as destinará à rede pública de saúde. Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracterizado ilícito transnacional, são da competência da Justiça Federal. Parágrafo único. Os crimes praticados nos Municípios que não sejam sede de vara federal serão processados e julgados na vara federal da circunscrição respectiva. Art. 71. (VETADO) Art. 72. Sempre que conveniente ou necessário, o juiz, de ofício, mediante representação da autoridade de polícia judiciária, ou a requerimento do Ministério Público, determinará que se proceda, nos limites de sua jurisdição e na forma prevista no § 1o do art. 32 desta Lei, à destruição de drogas em processos já encerrados. Art. 72. Encerrado o processo penal ou arquivado o inquérito policial, o juiz, de ofício, mediante representação do delegado de polícia ou a requerimento do Ministério Público, determinará a destruição das amostras guardadas para contraprova, certificando isso nos autos. (Redação dada pela Lei nº 12.961, de 2014)

66

Art. 73. A União poderá celebrar convênios com os Estados visando à prevenção e repressão do tráfico ilícito e do uso indevido de drogas. Art. 73. A União poderá estabelecer convênios com os Estados e o com o Distrito Federal, visando à prevenção e repressão do tráfico ilícito e do uso indevido de drogas, e com os Municípios, com o objetivo de prevenir o uso indevido delas e de possibilitar a atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas. (Redação dada pela Lei nº 12.219, de 2010) Art. 74. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias após a sua publicação. Art. 75. Revogam-se a Lei no 6.368, de 21 de outubro de 1976, e a Lei no 10.409, de 11 de janeiro de 2002. Brasília, 23 de agosto de 2006; 185o da Independência e 118o da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Márcio Thomaz Bastos Guido Mantega Jorge Armando Felix Este texto não substitui o publicado no DOU de 24.8.2006