lgbt colÔmbia: um destino imperdÍvel

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08. lgbt 08. LGBT Um país aberto à diferença, oferece alternativas para todos COLÔMBIA: UM DESTINO IMPERDÍVEL 08 09 ISSN No. 2711-4333

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Page 1: LGBT COLÔMBIA: UM DESTINO IMPERDÍVEL

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ISSN No. 2711-4333

Page 2: LGBT COLÔMBIA: UM DESTINO IMPERDÍVEL

ÍNDICE

Bogotá entre mulheres — Pág. 04 —

Texto de Andrea Salgado

CAPITAL DIVERSA

Medellín entre homens — Pág. 10 —

Texto de Julio LondoñoFotografias de Santiago Marzola

Colômbia LGBT— Pág. 14 —

A Colômbia é um país diverso. Cidades como Bogotá ou Medellín reúnem no mesmo espaço pes-soas de diferentes origens, religiões, ideias políti-cas, econômicas e orientações sexuais.

A diversidade é a base que permite que as duas metrópoles sejam importantes centros de cultura, política, economia, arte, entretenimento etc., algo que só é possível porque são cidades que sempre se movem sob as ideias de oferecer múltiplas visões, visões compartilhadas, diálogos abertos e espaços nos quais todos se encaixam às diferenças de cada pessoa. São centros urbanos onde qualquer pessoa pode viver a vida sem ter que esconder ou mudar nada sobre si mesma.

A Colômbia evoluiu junto com o mundo ao reconhecer os direitos das comunidades LGBT, e isso fez com que os membros dessas comunidades possam amar a si próprios e a outros com a liber-dade de escolher a maneira e o momento em que eles decidem fazer isso.

Basta pensar em pequenos gestos como esco-lher as roupas com as quais decidimos nos vestir e sair para conquistar o mundo, em gestos sutis como dar as mãos ao parceiro enquanto andamos pela rua, em gestos importantes como sair e come-morar com orgulho as pessoas que somos. Cada um de nós ama à sua maneira e demonstra isso de acordo com o que o coração dita, na Colômbia isso é entendido. Portanto, é um destino turístico ideal

MÓDULO 08

LGBTpara desfrutar dos prazeres que as cidades ofere-cem para mulheres que amam mulheres e para homens que amam homens, assim como pessoas trans.

A partir da cultura, podemos falar de espa-ços para discussão e apreciação do cinema LGBT, como o Clico Rosa, que é um encontro para expan-dir os limites da imagem do querer a nível pessoal e social.

Do ponto de vista da moda, podemos pensar nos designs que enchem as passarelas dos melho-res festivais e nos expositores das lojas mais exclu-sivas, que rompem com um corte de tesoura os modelos pré-estabelecidos entre o que deve ser feminino e o que deve ser masculino, para alcançar apostas vanguardistas no jeito de vestir. Ou pode-mos aproveitar a noite nos melhores bares e disco-tecas, onde a balada não exclui, não segrega, nem é secreta, se trata de um baile e um canto aberto, na qual todos desfrutam da música até o amanhecer e comemoram a diferença juntos.

Um grande número de restaurantes, hotéis e operadores turísticos já se certificaram como Friendly Biz, o esforço para treinamento e certifi-cação continua em toda a Colômbia.

A Colômbia é um destino diverso, aberto a acolher carinhosamente a qualquer pessoa que quiser conhecê-la, independentemente de quem essa pessoa decida beijar todas as manhãs.

APRESENTAÇÃO – 03

Page 3: LGBT COLÔMBIA: UM DESTINO IMPERDÍVEL

08

Bogotá

Texto: Andrea Salgado

A capital colombiana oferece uma ampla gama de experiências culturais e de entretenimento focadas na comunidade LGBT. Uma moradora da capital mostra ao mundo a forma como ela descobriu essa cidade diversa.

L G B T

entreLGBT

Capital diversa

mulheres

Page 4: LGBT COLÔMBIA: UM DESTINO IMPERDÍVEL

06 – LGBT

RECONHECIDO DESTINO PRINCIPALMENTE TAMBÉMpara turismo LGBT turismo urbano por suas praias

e regiões litorâneas

A Colômbia aprecia a diversidade

Medellín

Bogotá

Colômbia: uma alternativa para o turismo LGBT

Programa: passar uma tarde cultural

com amigos.

Onde: Parque de los Deseos.

Zona norte.

Programa: desfrutar de uma deliciosa

refeição nos melhores restaurantes de

Medellín.

Onde: bairro Laureles.

Zona centro-oeste.

Programa: noite de balada nos bares

emblemáticos da comunidade LGBT.

Onde: ruas Maracaibo e Barbacoas.

Zona centro.

Programa: balada na zona rosa de

Medellín.

Onde: Parque Lleras.

Zona norte.

1.

2.

3.

4.

Programa: festas nas discotecas LGBT

mais icônicas.

Onde: nas proximidades do

bairro Chapinero.

Zona centro e norte.

Programa: experimentar as sobremesas

dos melhores restaurantes.

Onde: Zona G.

Zona norte.

Programa: passar a tarde em

uma sauna.

Onde: nas proximidades do bairro

de Teusaquillo.

Zona centro-leste.

Programa: comprar artesanatos no

mercado de pulgas.

Onde: bairro Usaquén.

Zona norte.

Nos últimos anos, a capital da Colômbia se abriu para todos. Mas nem sempre foi tão fácil encontrar esse espaço. Há pouco mais de vinte anos, quando eu tinha dezoito anos e me apaixonei pela primeira vez por uma mulher, junto com um amigo que tam-bém tinha se apaixonado por um homem, comecei a procurar espaços onde pudéssemos estar próxi-mos a pessoas como nós; nós nos sentíamos como dois barcos flutuando sozinhos em alto mar.

Ainda faltavam muitos anos para que toda uma oferta de experiências focadas na comunidade LGBT fosse desenvolvida; todos à nossa volta, cole-gas da faculdade ou amigos que surgiam no cami-nho, eram heterossexuais ou, pelos menos diziam ser. E configurados a partir do berço em uma mas-culinidade e uma feminilidade definidas em ter-mos exatos e com limites precisos, precisávamos nos ver refletidos em outros como nós para termi-nar de entender quem éramos.

Ele era gay e eu era lésbica; nossas preferên-cias sexuais recém-aceitas nos definiram daquela forma, mas não sabíamos bem o que era aquilo, no que consistia. Gay e lésbica. As duas palavras nos levaram ao bairro Chapinero, o bairro que hoje continua sendo um ícone da comunidade, apesar de que em uma cidade com mais de dez milhões de habitantes, a vida noturna gay existe em todas as localidades.

Devo admitir que meu amigo teve muito mais sucesso do que eu. No final dos anos 90, Chapinero estava cheio de bares gays e havia apenas dois bares para lésbicas. Embora a grande maioria dos bares gays proibiam a entrada de mulheres, meu amigo e eu fomos encontrando espaços onde podíamos ficar juntos.

Por alguns anos e até a chegada do século XXI, eu sempre me perguntava onde estavam as outras, aquelas da minha idade, garotas lésbicas na casa dos vinte, onde elas se reuniam? Como e quem eram elas? O panorama era realmente angustiante. Um casal de namoradas aqui e outro acolá, outras garotas espalhadas entre os grupos de gays, onde a grande maioria eram amigas heterossexuais que os acompanhavam.

Na companhia do meu amigo, comecei a fazer outros amigos e eles gradualmente trouxeram outras amigas, e lá continuei, paciente, de bar em bar, como alguém esperando uma revolução. Um dia, abri os olhos e percebi que ao redor da fogueira de um dos bares que frequentávamos havia tantas

mulheres quanto homens. Era o ano de 2002 e mas-sivamente as garotas da minha geração, o milagre que eu esperava há muito tempo, começaram a sair e curtir a noite. Foi nos bares, naqueles espa-ços dedicados a conversar, paquerar e dançar, que comecei a criar laços que transcendiam a noite, fiz amizades, me apaixonei muitas vezes e tive a sen-sação de que nossa irmandade, nossos romances e namoricos não eram diferentes aos das demais pessoas. A ilusão durava até chegar nos espaços públicos, onde soltávamos nossas mãos e agíamos como amigas, tal qual deveríamos ser. As expres-sões públicas de afeto pela comunidade LGBT em Bogotá estavam vedadas; a forte desaprovação social e o medo nos obrigavam a isso.

Fui embora do país por vários anos e, quando voltei em 2009, o panorama estava começando a mudar e foram precisamente as mãos que me avisaram: nas ruas de Bogotá, casais de garotas, casais de garotos saem de mãos dadas. A imagem que à primeira vista poderia parecer insignificante tinha uma grande carga simbólica. Nesse mesmo ano, a Câmara Municipal da cidade aprovou a polí-tica para garantir os direitos do setor e consolidar desenvolvimentos em todas as dependências ins-titucionais. A cidade conservadora de Bogotá teve que incorporar em sua imaginação a existência de uma comunidade que tinha direitos e que, como qualquer outro cidadão, expressava não apenas seus sentimentos, seus afetos, mas também seus desejos de pertencer e de ser plenamente aceito.

Da mesma forma, eu precisava do espaço para isso, não estar reduzida aos bares, mas poder tran-sitar em todos os âmbitos, incluindo a criação artística como veículo de expressão e reafirmação.

Há 11 anos eu moro com minha parceira. A Bogotá que conheci, aquela em que eu tinha que fingir publicamente ser somente amiga das minhas parceiras sentimentais, não existe mais. Demos as mãos, um gesto que durante anos constituiu para nós um ato político, tornou-se tão natural quanto respirar; é agora o nosso jeito de percorrer esse setor da cidade onde vivemos.

Nosso apartamento está localizado no bairro La Macarena, uma vizinhança como poucas que restam em uma cidade tão grande quanto Bogotá, cheia de pequenos restaurantes e locais comerciais (nem sequer temos restaurantes de redes conheci-das), cafés, padarias, mercadinhos, loja de produ-tos naturais e orgânicos, várias galerias de arte e

1. 3.

2. 4.

Page 5: LGBT COLÔMBIA: UM DESTINO IMPERDÍVEL

08 – LGBT BOGOTÁ ENTRE MULHERES – 09

cados com a comunidade LGBT ou com os ativistas que, desde aquele ano davam a cara por nós.

Este ano vi famílias de todas as classes sociais na manifestação e junto a mim, vários dos meus amigos heterossexuais carregavam bandeiras e cantavam discursos em que celebravam a diversi-dade.

Há dois anos é realizado também durante o mês de junho o Festival da Igualdade, um espaço no qual são realizadas atividades culturais e espor-tivas que buscam promover uma cultura cidadã baseada no reconhecimento, garantia e restituição do direito a uma vida livre de violência, de discri-minação com base na identidade de gênero, orien-tação sexual, etc.

Os festivais de cinema e literatura são outros espaços importante de expressão; em 2019, foi rea-lizada a 19ª edição do Ciclo Rosa, um espaço que ocorre anualmente no início de agosto e que, além de uma amostra cinematográfica, realiza encontros de formação e laboratórios de criação, além de per-formances.

A FILBO (Feira Internacional do Livro de Bogotá), um dos eventos literários mais impor-tantes da cidade, trabalha há vários anos em asso-ciação com a Diretoria de Diversidade Sexual da Secretaria de Planejamento, a fim de abrir o espaço e sua programação para a diversidade sexual e de gênero, a partir da perspectiva da expressão artís-tica, cultural, acadêmica, humanística e intelec-tual.

Ano após ano, escritores, acadêmicos e ativis-tas LGBT participam de conversas nas quais ques-tões de gênero são colocadas em cima da mesa com o objetivo de facilitar reflexões a partir da dimen-são artística e em toda a extensão dos espaços da vida pública.

Desde que eu tinha dezoito anos até hoje, Bogotá se tornou uma cidade mais inclusiva; os bares do setor do bairro Chapinero são cada vez mais variados e a grande maioria se caracteriza por ter suas portas abertas a todos os tipos de público. Eles ainda continuam sendo um espaço importante para a interação da comunidade, não são mais uma trincheira, mas sim uma amostra de como na Colômbia a festa é um assunto sério.

Embora no bairro Chapinero esteja locali-zada a maior discoteca para a comunidade LGBT da América Latina, o setor está repleto de bares de todo os tipos. Pelas portas se escuta salsa, meren-gue, eletrônica, rock, baladas clássicas em espa-

nhol e inglês, reggaeton e champeta.Existem bares especializados em um tipo de

música e público, como os bares de osos, embora o que reine na balada seja o crossover. Muitos dos bares apresentam shows de Drags e cabaré; a noite Drag em Bogotá é legendária e o voguing estão no auge, graças a grupos como Las Tupamaras, que inclusive em 2019 participaram no Salão Nacional de Artistas.

A comunidade LGBT se integrou em Bogotá; a oferta se amplia a restaurantes, bares e discotecas do resto da cidade, da mesma forma que os festivais literários, amostras artísticas e cinematográficas.

Somos uma comunidade diversificada que se resistiu ao isolamento e à discriminação. Ainda há um longo caminho a ser percorrido, mas os esfor-ços de muitos ativistas que trabalharam e conti-nuam trabalhando pelos direitos da comunidade, bem como a atitude das pessoas que pertencem a ela e criaram uma realidade na qual fomos apren-dendo a coexistir em nossas diferenças, de forma aberta.

No “Seminário Cuir: ressignificações comu-nitárias”, organizado em setembro de 2019 pela aliança entre os grupos La Esquina, Red Comu-nitaria Trans, Purple Train Arts e Las Callejeras, para o qual fui convidada a falar sobre o feminismo cyborg de Donna Haraway, a ideia do intercambio como base da comunicação humana assumiu um novo significado para mim.

Imersa como tenho estado desde que voltei a morar em Bogotá nas dinâmicas da comunidade LGBT, não tinha parado para pensar em como as barreiras que historicamente mantiveram a comu-nidade dividida, mudaram desde a raiz graças a iniciativas como essas e como resultado da Política Pública LGBT, em operação há 12 anos. O pano-rama da vida da comunidade em Bogotá mostra espaços cada vez mais diversos, de interação e diá-logo cada vez menos divididos.

A capital cosmopolita da arte, da gastronomia e da excitante vida noturna também é a capital da diversidade. Existem muitas razões para que todos e todas se encontrem em Bogotá.

uma livraria café. Os cerros orientais nos emoldu-ram e sempre, acima de nossas cabeças e se o céu estiver limpo, podemos ver bem a Igreja de Mon-serrate. Nas proximidades fica o mercado munici-pal La Perseverancia, onde fazemos todas as nossas compras, conhecemos a cada um dos vendedores de frutas, flores e legumes, da mesma forma que conhecemos as cozinheiras da praça de alimenta-ção, que são uma referência da culinária tradicio-nal colombiana.

La Candelaria, o centro histórico, fica a quinze minutos a pé onde estão localizados a grande maio-ria dos museus e monumentos históricos e também o lugar onde parece possível que tudo, sem distin-ções e categorias coexista pacificamente, provando que a uniformidade não existe em Bogotá.

A carrera sétima, da rua 21 até a Praça de Bolí-var a rua é só para pedestres e percorrê-la significa encontrar vendedores, indígenas, rappers, roquei-ros, punks, torcedores de futebol, homens estátua, trabalhadores de escritório, estudantes, donas de casa, turistas, músicos, dançarinos de break, dançarinos de tango e salsa, retratistas e pintores que fazem grandes desenhos com giz no cimento, casais de homens, casais de mulheres, famílias de todos os tipos que vivem na cidade. Uma contínua

explosão visual e auditiva sem tréguas que estimulo após estimulo nos faz entender a natureza híbrida desta cidade habitada por pessoas de todo o país.

Vivemos a cidade inteira juntas, embora seria absurdo dizer que em Bogotá (ou em qualquer lugar do mundo) não exista discriminação contra a comunidade LGBT, poderia sim afirmar que aque-les que pertencem a ela pararam de se esconder e esse ato teve repercussões em um aumento do plu-ralismo, do respeito pelas diferenças e de uma forte atividade cultural que cresce ano após ano.

Prova disso é a convocação massiva deste ano para a parada do Orgulho LGBT, realizada todo mês de junho desde 1996 e que mostrou a força que a comunidade vem adquirindo. Três frentes: a Mesa LGBT de Bogotá, a Mesa LGBT e a Rede Comunitá-ria Trans conseguiram reunir pessoas de todos os setores da cidade que caminharam juntas do Par-que Nacional até a Praça de Bolívar.

As primeiras manifestações que participei no final dos anos 90 foram menos numerosas e pare-ciam ser reservadas apenas para certos setores da sociedade; o mais correto seria dizer que as clas-ses média e alta não participavam da manifestação porque seus preconceitos e estereótipos de classe os levavam a pensar que não queriam ser identifi-

A vida noturna de Bogotá é uma das atrações da cidade. Além de restaurantes de todas as gastronomias, cafés e bares, a festa é vivida intensamente em muitos ritmos. A noite bogotana está aberta para todos e todas.

OBTENHA MAIS INFORMAÇÕES AQUI.

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Page 6: LGBT COLÔMBIA: UM DESTINO IMPERDÍVEL

08Suas flores, pássaros de primavera durante todo o ano, atmosfera festiva e ruas cheias de vida estão transformando a cidade de Medellín no destino LGBT por excelência na Colômbia. A segunda maior cidade da Colômbia foi a primeira em sair do armário.

lgbt

Medellín: inovadora e diversa

Medellínhomens entre

L G B TTexto: Julio Londoño Fotos: Santiago Marzola

Page 7: LGBT COLÔMBIA: UM DESTINO IMPERDÍVEL

012 – LGBT

Medellín é um lugar para florescer. Não é em vão que ostenta o título de Cidade da Eterna Primavera, seu melhor momento chega ao entardecer, quando o calor dos trópicos cede lugar ao fervor de sua vida noturna badalada, o aroma das suas montanhas, o sabor da aguardente e a conversa barulhenta dos seus habitantes os quais são reconhecidos na Colômbia como os melhores conversadores. Os rit-mos cumbia, tango, salsa, eletrônica e a guaracha começam a encher suas ruas, convidando aos mais tímidos a se entregarem à pista de dança.

Sem nada que esconder, o turista gay está inte-ressado em saber que em Medellín há uma rua cheia de histórias e ritmos dedicados exclusivamente às pessoas LGBT –a rua Barbacoas− localizada no centro da cidade, a uma quadra do emblemático Parque Bolívar, atrás da Catedral Metropolitana, tem sido a coluna vertebral do movimento gay em Medellín desde os anos 80.

Sob o asfalto, quando a balada se apaga no bairro Barbacoas, é possível ouvir a vibração das pedras do riacho La Loca que se perde sob a Cate-dral, essa que dividiu a rua em três partes: uma para os bares que habitualmente são frequentados por lésbicas e gays, outro frequentado por mulhe-res trans e a última parte destinada para lojinhas de produtos religiosos e outros de produtos descartá-veis. O eco do riacho La Loca aumenta a cada ano durante o último final de semana de junho, quando a parada do orgulho LGBT (a segunda maior do país) inunda os poucos cem metros do beco.

Embora a manifestação seja realizada regu-larmente desde 1998, a verdade é que Medellín é a cidade que deu o primeiro grito de libertação LGBT na Colômbia. Em meados dos anos 70 o Movimento pela Libertação Homossexual, fundado pelo filó-sofo León Benhur Zuleta quem foi o criador da primeira revista gay colombiana “El Outro” a qual alguns exemplares são mantidos na Biblioteca da Universidade de Antioquia, onde também podem ser encontradas outras joias da literatura homos-sexual local, como “Te quiero mucho pouquinho nada” um romance do artista e escritor Félix Ángel ambientada em Medellín nos anos 70 e o ensaio acadêmico “Raros: história cultural da homosse-xualidade em Medellín” do professor Guillermo Correa, que contextualiza cem anos de experiência homossexual na cidade.

O Movimento pela Libertação Homossexual orgulhava-se de ter 10.000 membros ativos, embora a cifra tenha sido uma mentira piedosa de Zuleta

para incentivar a outras pessoas a sair do armário e coletivizar seus desejos. E ele conseguiu.

Desde então, as diferentes gerações de orga-nizações sociais e avanços legislativos, como casa-mento igualitário e a adoção por parte de casais do mesmo sexo, contribuíram para tornar Medellín uma cidade amigável com o nativo e com o visi-tante LGBT.

Devido a isso, em 2014 foi incluída na Rede Latino-Americana de Cidades Arco-Íris e em 2019 foi realizado o “Foro Conexía Medellín 2019: Turismo LGBT, uma grande oportunidade de cres-cimento para Medellín e para a Região”, o qual reuniu o governo local, a associação hoteleira e às entidades encarregadas de fortalecer o turismo com o objetivo comum de tornar a cidade um des-tino gay friendly. Medellín é uma cidade onde se vive melhor na parte de fora. Entre os espaços públicos que oferecem uma boa e calorosa aco-lhida à população LGBT se destaca a pracinha Carlos E. Restrepo localizada a oeste da cidade, onde sua atmosfera boêmia e sua oferta de gale-rias de arte e restaurantes quebra o gelo de qual-quer conversa. Ao sul de Medellín, perto do famoso bairro El Poblado, o parque Ciudad del Río oferece 500 metros lineares para recreação ao ar livre, para encontros desprevenidos, ideal para fazer os tradi-cionais piqueniques no domingo.

No centro da cidade, o Parque del Periodista reúne todas as noites a mais variada diversidade cultural de Medellín; desde punks, roqueiros, artistas teatrais até a população LGBT onde todos desfrutam e comemoram a união na diferença. El Parque del Periodista se tornou um ponto de articu-lação para a vida cultural da cidade; sob a sombra de sua antiga árvore seringueira foram surgindo desde organizações sociais até jornais como o Uni-verso Centro que narra as constantes mudanças, os personagens fugazes e a diversidade que habita o centro de Medellín.

A apenas um quarteirão do Parque está o Cen-tro Colombo Americano o qual há 18 anos tem ati-

vado o Ciclo Rosa durante o mês de junho com uma programação de audiovisuais, fóruns acadêmicos, oficinas e exposições dedicadas exclusivamente à diversidade sexual. Essa agenda cultural também foi alimentada pelo Museu de Arte Moderna com exposições e programas acadêmicos como Formas de Libertad, do artista Carlos Motta, que recopilou os marcos do movimento LGBT no âmbito local e mundial; e espaços como La Esquina del Movi-miento, no Museu de Antioquia, uma vitrine que levou a arte dos muros do antigo prédio para as ruas. Nesse lugar, entre as ruas Cundinamarca e Calibío, é comum ver performances que ativam a conversa sobre as sexualidades diversas e o espaço público. Diferentes grupos de arte Drag, dançari-nos, ativistas e artistas encontraram naquele lugar uma possibilidade de expressão para seu trabalho artístico.

Como iniciativas próprias dos setores LGBT, outros espaços de ativação artística surgiram em um híbrido entre o festivo e o estético, como The Gallery At Divas (na parte baixa da rua Barbacoas) e a Casa Centro Cultural que fica a um quarteirão ao sul do Parque Bolívar, na rua Maracaibo, cujas fachadas não os diferenciam dos diferentes bares que os cercam, na parte de dentro escondem espa-ços dedicados à arte, ao corpo e à sexualidade, com exposições regulares de fotografia e pintura, per-formances e vídeo-arte.

O movimento gay em Medellín também é vivido com alegria em outros bairros fora do cen-tro; espaços como o Parque Lleras, localizado no setor exclusivo do bairro El Poblado, ao sul da cidade ou os bares da Avenida 33, que cada vez mais recebem turistas e habitantes LGBT, incentivados pelo circuito Drag que alimentou a natureza polí-tica da festa, junto com outros grupos como Cul-tura Drag Medellín, New Queers On The Block e Drag King Medellín. A febre Drag invadiu Medellín a tal ponto que, em 2019, no teatro Camilo Torres da Universidade de Antioquia, foi realizado o pri-meiro concurso local Under Drag Queer.

Fora da festa e da agenda cultural, a cidade de Medellín transmite diversidade em outros bairros também. Do Parque El Periodista, é fácil pegar um ônibus para o Morro Pan de Azúcar, um dos oito morros famosos da cidade. Além da vista panorâ-mica, o visitante pode conhecer e conectar-se com o grupo da Mesa LGBT da Comunidade 8 e conhe-cer o projeto da Casa Diversa. Essa organização, declarada em 2017 como o primeiro sujeito de repa-

ração coletiva dos setores LGBT no âmbito do con-flito armado, ampliou as possibilidades de habitar e desfrutar da cidade com seu trabalho comuni-tário e apropriação do espaço público. Nos toures oferecidos pela Mesa LGBT pelos bairros da Comu-nidade 8, além de lembranças aleatórias e anedotas de amor proibido é possível caminhar pelas trilhas naturais que vão da montanha até uma cachoeira secreta na periferia de Medellín.

Em julho, durante a Feira das Flores, que é o festival mais reconhecido da cidade, é mais comum encontrar casais do mesmo sexo em busca de arte-sanato na Pasaje Junín, curtindo os diferentes shows, o Desfile de Silleteros (pessoas que elabo-ram os arranjos de flores que exibem no desfile) e dos eventos que ocorrem durante essa semana. Em 2019, inclusive, a programação da festa incluiu até um Tour Queer Flores e Silletas (arranjos de flo-res) como uma estratégia para reconhecer a diver-sidade sexual da cidade e aumentar a participação da comunidade LGBT na Grande Festa de Medellín.

Para despedir-se das férias com um toque de clima úmido e atividades ao ar livre, ou para uma inesquecível proposta de casamento em lugares fantásticos e mágicos, a opção mais adequada está localizada nos municípios que ficam ao leste do departamento de Antioquia. Nesses municípios a população LGBT há algum tempo vem se organi-zando para reativar o turismo no rios de San Car-los, na pedra de El Peñol e na represa de Guatapé. Este município realizou em dezembro de 2019 sua primeira manifestação do orgulho LGBT a qual foi o gesto para incentivar um turismo mais diversifi-cado e colorido tal qual as fachadas e rodapés das casas tradicionais da cidade, patrimônio urbano e arquitetônico do departamento de Antioquia.

Medellín, uma cidade que antes era marcada pela violência, tráfico de drogas e discriminação, reaparece para dar as boas-vindas aos novos tem-pos de abertura e empatia onde a cada dia mais espaços são conquistados pelos solitários gays que buscam encontrar alguém, por casais de lésbicas aproveitando sua lua de mel, pelas cada vez menos tímidas identidades transexuais e pelos queer que passeiam pelas bulevares e ruazinhas.

Você sabia que na Colômbia o casamento de pessoas do

mesmo sexo foi ratificado em 2016?

OBTENHA MAIS INFORMAÇÕES AQUI.

MEDELLÍN ENTRE HOMENS – 013

Page 8: LGBT COLÔMBIA: UM DESTINO IMPERDÍVEL

014 – LGBT

A Colômbia é um destino amigável com a comuni-dade LGBT; a prova disso são os eventos organiza-dos em cidades como Bogotá, Medellín, Cartagena e Barranquilla, que conseguem integrar a todos com a alegria e festividade dessa incrível comu-nidade. Desde o ano passado, vários hotéis e ope-radoras de turismo que operam na cidade, estão capacitando a todos seus colaboradores com o objetivo de se certificarem como LGBT friendly.

Bogotá

Bogotá dispõe de uma ampla variedade de experiên-cias gastronômicas, culturais, alojamentos e experi-ências de luxo. Além disso, a cidade possui a maior discoteca gay da América Latina, que atrai milhares de turistas de toda a região para desfrutar de uma experiência única através da música e da dança.

PARADA DO ORGULHO LGBTQuando: finais de junho ou princípios de julho Bogotá, assim como centenas de cidades do mundo, realiza a Parada de Stonewall, que marcou

o início da luta para reivindicar os direitos huma-nos da população LGBT. Essa parada consiste em uma manifestação que percorre a carrera sétima do Parque Nacional até a Praça Bolívar, misturando ativismo com alegria, dança e liberdade.

SEMANA PELA IGUALDADE Quando: setembro e outubroDurante esta semana, organizada pela Direto-ria de Diversidade Sexual de Bogotá, o respeito e a tolerância tornam-se eixos centrais para bus-car a redução da discriminação e permitir o livre desenvolvimento das pessoas, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero. Algumas das atividades que podem ser desfrutadas durante esta semana são: shows, jornadas acadê-micas e esportivas e um carnaval de luzes e cores.

Halloween FestQuando: finais de outubro ou princípios de novembro Bogotá coloca sua diversidade para brilhar no maior desfile de fantasias realizado no país. Durante uma semana, artistas colombianos e

internacionais de música eletrônica oferecem uma ampla variedade de festas inesquecíveis onde a criatividade e a alegria são um requisito para poder fazer parte deste festival.

Barranquilla

Participe do Carnaval de Barranquilla em fevereiro para cair na folia em uma festa cheia de cores que só o Caribe colombiano tem e aproveite a oportu-nidade para viver a Guacherna Gay para se contagiar com a alegria da comunidade LGBT na “La are-nosa” como também é conhecida a cidade de Bar-ranquilla.

La Guacherna GayQuando: entre fevereiro e março Este evento é realizado no âmbito do Carnaval de Barranquilla, o qual é realizado 4 dias antes da quarta-feira de cinzas (entre o final de fevereiro e o início de março). Desfrute de um desfile cheio de folclore e “sabor” que somente os habitantes do Caribe colombiano podem oferecer. A Liberdade de expressão e a rejeição à discriminação são os pila-res desta grande festa.

Cartagena

Em só um lugar, Cartagena oferece a possibili-dade de voltar no tempo através da história onde é possível desfrutar de gastronomia do mais alto nível, fazer compras em um lugar onde se vive uma experiência única entre o artesanal e o moderno, aproveitar a vida noturna do Caribe e visitar praias paradisíacas para relaxar a poucos quilômetros da cidade.

Rumours FestivalQuando: final de julho Desfrute de um festival repleto do melhor que há em música eletrônica nacional e internacional. Durante o festival Rumours, Cartagena se trans-forma no cenário ideal para misturar diversão com uma experiência cultural única na cidade histó-rica.

Cartagena PrideQuando: terceira semana de julho Com uma programação cultural, acadêmica, espor-tiva, musical e de festas que dura a semana inteira, este evento busca visibilizar e apoderar à comuni-dade LGBT da cidade.

Medellín

A capital de Antioquia faz parte da Rede Latino--Americana de Cidades Arco-Íris. Estas são algumas das experiências que podem ser vividas na cidade.

Graffiti Tour Comuna 13 MedellínGraffiti Tour acompanhado por um guia local e com ênfase nos artistas LGBT.

EXPERIÊNCIAS CULINÁRIAS Aulas de culinária típica paisa e visita ao Mercado Municipal Minorista na companhia de um chef LGBT.

VISITA A UMA FAZENDA DE CAFÉ Tour em uma fazenda de café localizada nos arre-dores de Medellín. Cata de café e familiarização com o processo de colheita do grão.

Pub Crawl LGBT MedellínTour noturno em bares, restaurantes e discotecas LGBT.

MISCELÂNEA

Outras experiências de turismo LGBT

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Outras experiências de turismo LGBT – 015

Outras experiências LGBT em Bogotá

Bogotá HistóricaTour diurno do Centro de Bogotá, Monserrate e La Candelaria acompanhado por guias LGBT.

Community Outing : Graffiti Tour BogotáTour no centro de Bogotá de Grafites acompanhado por guia LGBT.

Pub Crawl LGBT BogotáTour noturno em bares, restaurantes e discotecas LGBT, que inclui apresentações de grupos Drag e uma visita ao Clube Theatron.

Saída ao Clube TheatronExperiência no Theatron, o maior clube LGBT da América-latina.

Aulas de Salsa “Same Gender”Aulas especializadas em salsa para casais do mesmo gênero.

Visita ChapineroTour guiado no bairro Chapinero, o maior bairro LGBT friendly de Bogotá, com visita em algumas das entidades relacionadas com temas LGBT e com o acompanhamento de um guia especializado.

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016 – LGBT

A Colômbia é um país diverso o qual evoluiu junto com o resto do mundo quando passou a reconhecer os direitos das

comunidades LGBT e a defender seu jeito de ver o mundo. Isso fez com que os membros dessa comunidade possam amar a si próprios e amar a outros com liberdade e orgulho; possam

desfrutar de cada uma das atrações culturais, gastronômicas e entretenimento que as cidades oferecem.

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